Renergy #2

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Somos a terra do Sol? M A I S N E S TA E D I Ç ÃO : : : E s p e c i a l i st a s e i nve st ido re s a n a l i s a m o p ote n c i a l s o l a r b ra s i l e i ro

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O e co no m i st a Je a n-Pau l P rate s e m

e nt rev i s t a s o b re p o l ít i c a e n e rgé t i ca

A e colog i a e nco nt ra a a r te




índice Como navegar pelo conteúdo Localize os temas do seu interesse através dos ícones abaixo relacionados:

Eco A relação direta do homem com o meio ambiente

Energia Entrevistas, eficiência energética e energias alternativas e renováveis

Sustentável Ações que colaboram com o desenvolvimento sustentável

“entre vista

JEAN-PAUL PRATES Às vésperas dos leilões da EPE, o advogado, economista e especialista em fontes alternativas discute a atual matriz energética brasileira. Prates fala sobre produção e fornecimento de energia, pré-sal, microgeração, apagão e aquecimento global

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Um alemão beneficia famílias rurais com projeto ecológico pioneiro e uso de energia solar

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Novas tecnologias para quem considera instalar pequenos aerogeradores no quintal de casa 8 Programa de etiquetagem avalia edificações em eficiência de energia e consumo racional de água 12 Carros elétricos começam a circular por algumas cidades brasileiras 16 Cingapura 2030: crescimento eficiente, limpo e verde desta cidade-estado asiática 20

Especialistas discutem como a energia solar pode ser a próxima fonte na matriz energética

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O secretário do MME, Altino Ventura, debate sobre a viabilidade da solar e outras fontes 54 Projeto pretende transformar milhões de litros de óleo das cozinhas do McDonald’s em biodiesel 62 Pequenas alterações otimizam o desempenho de aerogeradores para o setor eólico nacional 64 Evento All About Energy consolida mercado de fontes alternativas no Nordeste e no Brasil 68

A arte como forma de questionamento do consumo e de discussão sobre sustentabilidade

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Reduzir, reutilizar e reciclar o lixo eletrônico, que corresponde a 40 milhões de toneladas por ano 84 Guia prático de como colocar em prática o conceito de eficiência energética em casa 85 Livros, sites, filmes e produtos ligados a energias renováveis e sustentabilidade 88 O ilustrador Wendel Alves inspira-se em energia solar na nossa seção “O Último Apaga a Luz” 90


editorial

Em clima de expectativa reparamos esta edição com as expectivas dos leilões. E sabemos da importância dos mesmos para o equilíbrio do setor, para a oferta e demanda de energia e, principalmente, para mudanças na matriz energética. Esta edição foi fechada semanas antes do martelo ser batido. No entanto, conseguimos acompanhar a conclusão dos processos de habilitação pela Empresa de Pesquisa Energética para os leilões de Reserva e A-3. Para o primeiro, 366 usinas obtiveram habilitação, somando 10.745 MW de potência instalada. Já para o A-3, 368 empreendimentos foram habilitados, totalizando 10.415 MW. O leilão - e algumas de suas implicações - foi o ponto de partida para uma entrevista com Jean-Paul Prates, responsável por um novo centro de referência em aproveitamento sustentável dos recursos naturais e energético. Além de debater sobre a atual matriz brasileira, Prates conversou sobre políticas públicas, microgeração, pré-sal, aquecimento global e apagão. Também deu sua opinião sobre nosso potencial solar, tema de capa desta edição. Especialistas, acadêmicos e investidores discutem a possibilidade da energia solar tornar-se a próxima fonte de importância a ser inserida na matriz energética. Ainda que avancemos cada vez mais rápido em projetos e pesquisas acadêmicas e com a construção de uma usina solar, no semiárido nordestino, as críticas ficam em torno da falha em atrair novos e potenciais investidores. O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, do MME, Altino Ventura, foi categórico em afirmar, em entrevista, que a fonte solar ainda não é viável comercialmente. Propostas artísticas que dialogam com as preocupações ambientais são o destaque da nossa área de sustentabilidade. Em ecologia, ideias que fazem a diferença em pequenas comunidades rurais ou que podem ser levadas, quase que nas costas, mundo afora. No próximo número, um dossiê irá tratar sobre os resultados e as perspectivas dos vencedores dos leilões. Boa leitura, e não se esqueça de reciclar esta revista. Passe-a adiante para um novo leitor.

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Preparamos esta edição com as expectativas dos leilões. E sabemos da importância dos mesmos para o equilíbrio do setor

expediente DIREÇÃO GERAL

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joana@renergybrasil.com.br

Mário Acioli

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Gerardo Junior

Estalo! Comunicação + Design REVISÃO

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Gustavo Rodrigues

gustavo@renergybrasil.com.br COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Carlos Faria e Gustavo Fernandes (artigos) e Wendel Alves - Coletivo Base (ilustração) DEPARTAMENTO COMERCIAL Meiry Benevides (85) 3023 2002 comercial@renergybrasil.com.br IMPRESSÃO Gráfica Santa Marta TIRAGEM 10 mil exemplares RENERGY BRASIL EDITORA Ltda. Rua Senador Virgílio Távora, 1701 sala 1404 - Aldeota CEP 60170-251 Fortaleza CE Brasil www.renergybrasil.com.br JORNALISTA RESPONSÁVEL Ana Naddaf MTB CE01131 CAPA Max Uchôa Estalo! Comunicação + Design Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos ou ilustrações, por qualquer meio, sem a prévia autorização.


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morar

Ventos de casa Alta demanda por fornecimento de energia e os impactos para o meio ambiente são algumas das preocupações para quem considera instalar pequenos aerogeradores no quintal consumo de energia elétrica nas residências do Brasil segue em forte expansão, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Totalizando 8.663 GWh em junho último, apontou crescimento de 9,5% frente a igual mês do ano passado. O resultado do primeiro semestre foi de 53.831 GWh, o que significa expansão de 8,1%. O crescimento está acima da média entre todos os setores (o que inclui indústria e comércio). O número de novas ligações em 12 meses atingiu a expressiva marca de 2 milhões de consumidores (média mensal de 166 mil). O consumo médio por domicílio (base 12 meses) foi de 155,8 kWh, correspondendo a aumento de 3,9% em comparação ao mesmo período de 2009. Diante deste resultado, o consumidor pode se preocupar com os rumos da alta demanda por fornecimento de energia e os impactos para o meio ambiente. Uma opção para prover energia

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na própria casa é instalar turbinas eólicas no quintal, por exemplo. O aerogerador em casa vai diminuir a conta de energia, que funcionaria como um sistema paralelo à rede. Assim, o usuário pode deixar de usar a energia proveniente da rede nos momentos que o vento está alto, além de atender a demanda de energia e não a de potência. É preciso considerar o valor do equipamento, de sua instalação e a manutenção e o custo de um banco de baterias para acumular energia e utilizá-la quando não houver vento ou este estiver muito baixo, o consumo próprio de energia e o valor pago a cada mês para uma escolha que compense financeiramente. Este planejamento também varia por estado, pois cada um tem diferente tarifa de energia elétrica. Dependendo do porte do sistema, esta solução só é econo­ micamente viável nos casos em que o fornecimento elétrico no local é inexistente e a rede se


encontra distante, o que exigiria um custo de expansão da rede superior ao do sistema eólico. Em outros casos, deve-se levar em consi­deração outros benefícios, como a questão ambiental. Entre os fornecedores de aerogerador, dois exemplos são a Revolutionair e a Quietrevolution. A primeira é projetada pelo designer de objetos Philippe Starck, que resolveu usar sua criatividade para desenvolver objetos funcionais capazes de transformar nossa vida. A turbina fornece mais de 1600 kWh por ano. O valor varia de 2500 a 3500 euros (o equivalente a R$ 5.500 a R$ 7.700) e é considerada fácil de usar. Neste caso, o equipamento é recomendado para quem consome até 133,33 kwh por mês, que é um valor abaixo da média nacional. Daí, é só dividir o valor do investimento pelo que se paga mensalmente à companhia energética para ter uma ideia de quanto tempo vai ter um retorno desta aplicação. A Quitrevolution oferece um aero­ gerador mais robusto com capacidade de geração de 7.500 kwh

por ano. Este custa 25 mil euros. Vale salientar que, diferentemente de outros países, não existem regras no Brasil que obriguem a concessionária a comprar o excedente de energia do consumidor. Logo, quando tem vento, se a demanda for inferior à produção, a energia produzida a mais será disponibilizada à rede de graça. Do contrário, se em algum momento o vento for baixo, toda a energia utilizada da rede será paga. A capacidade declarada de produção de energia pode ser de fato muito menor que a consu­ mida. Uma solução é a utilização de banco de baterias, mas aumenta muito os custos de equipamentos e exige manutenções mais rotineiras, com troca das baterias, em média de 24 a 36 meses. Neste cenário, o usuário deve ter em mente que, com as regras atuais do País, este tipo de solução só é viável quando a rede está muito longe do local de consumo. Entretanto, se ou­tros aspectos forem levados em conta, como o apelo ambiental, a aplicação destes equipamentos é recomendada.

Imagens: Pramac / divulgação

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Para saber mais sobre Mais informações dos produtos: www.quietrevolution.co.uk e www.revolutionair-pramac.com


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olhar

Campanhas responsáveis Entidade organiza e promove mensagens publicitárias sobre sustentabilidade, desenvolvimento equitativo e responsabilidade social “Racket”. Anúncio da Agência Forchets da Itália para a Legambiente/ ACT-Responsible

enunciar o excessivo uso de plásticos e papéis, que causam poluição e desmatamento florestal. Incentivar o uso de camisinhas, a doação de recursos para crianças africanas. Combater o racismo contra gays e negros. Defender a tolerância religiosa. Entre outros temas humanitários e ambientais, a ONG suíça ACT (Advertising Community Together) reúne peças publicitárias de caráter educativo sobre diversos assuntos que inspiram cuidados com o planeta e com o ser humano. São anúncios de 140 agências de mais de 40 países com conteúdos impactantes, imagens fortes, algumas bem humoradas, outras perturbadoras. Uma galeria online dispõe de cerca de 25 mil peças desde 2001, quando a ONG foi fundada. A ideia de criar a entidade era organizar, promover e inspirar uma comunicação responsável sobre sustentabilidade, desenvolvimento equitativo e responsabilidade social. A ACT mostra como os publicitários de todos os continentes podem usar sua criatividade a fim

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de enviar significativas mensagens sobre os temas atuais. O trabalho da ONG pode ser visto em exposições que correm o mundo todo, na galeria digital na web e em conferências. A exposição já passou este ano por Moscou, na Rússia; Paris, na França e por Londres, na Inglaterra. Ano passado, esteve na Suíça, Estados Unidos, Albânia, Eslovênia, Coréia, Suécia,

Itália e Holanda. As agências de publicidade podem enviar seus anúncios pelo site e, assim, contribuir com a galeria virtual.

Para saber mais sobre A galeria online está disponível no site www.act-responsible.org


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preservar

Compromisso com a Biodiversidade A ONU definiu 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade. Como parte do esforço coletivo para a preservação das espécies, o Japão sedia em outubro a COP10, que avaliará se os países tem feito sua parte O evento pretende discutir assuntos relevantes, como a ocupação desordenada de áreas naturais, a caça e comércio ilegal de espécies e a poluição das águas de rios e mares, entre outros problemas que ameaçam a existência de milhares de espécies em todo o mundo. Inúmeras espécies animais e vegetais têm sumido sem que sequer tenham sido conhecidas ou catalogadas. A COP10 vai também avaliar o desempenho dos países membros no cumprimento do acordo de

conservação ambiental, assinado em 2002, durante a COP6, na Holanda. A partir do mapeamento do que já foi feito desde a assinatura do documento, a intenção é definir metas para um novo acordo, intensificando o compromisso de conservação da biodiversidade, a promoção do uso sustentável dos recursos naturais e a distribuição justa dos benefícios obtidos. Espera-se que o Brasil, que possui cerca de 25% da biodiversidade mundial, tenha um papel fundamental nas negociações. SXC.hu

hamar atenção para a importância da biodiversidade para nossa qualidade de vida e mostrar que sua proteção requer participação coletiva. Este é o propósito da Organização das Nações Unidas (ONU), ao instituir 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade. Como parte desse esforço, em outubro, acontecerá no Japão, na cidade de Nagoya, a décima edição da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, a COP10.

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Etiquetando energia Assim como em eletrodomésticos, Eletrobras e Inmetro criam um programa de etiquetagem que avalia edificações tanto em eficiência de energia como no consumo racional de água

m pouco mais de um ano, 10 construções brasileiras já exibem a Etiqueta de Eficiência Energética em Edificações e cerca de 50 estão sendo avaliadas. "A adesão aumenta a cada dia, como ferramenta para economia de energia por grandes contratantes e pelo poder público", conta Solange Nogueira, gerente da Divisão de Eficiência Energética

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em Edificações da Eletrobras e responsável pelo Procel Edifica. Inicialmente implantada de forma gradual e voluntária, a ideia é que a etiquetagem passe a ser obrigatória. A etiqueta foi lançada em julho de 2009, pela Eletrobras em parceria com o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inme­­

tro), como parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem. Para recebê-las, as edificações são avaliadas em três níveis de eficiência: envoltória, sistema de iluminação e sistema de condicionamento de ar. O objetivo é diminuir o ganho de calor pela envoltória do edifício, ao mesmo tempo que aproveita melhor a iluminação e ventilação natural

Ilustração: Gerardo Júnior

consumir


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e incentiva o consumo racional de água, sem prejudicar a rotina dos frequentadores. Assim como os eletrodomésticos que fazem parte deste programa, os projetos de arquitetura são analisados e recebem etiquetas com graduações de “A” a “E”, conforme o consumo de energia, sendo “A” o mais eficiente. A economia de eletricidade conseguida por meio da arquitetura bioclimática pode chegar a 30% em edificações já existentes e 50% em prédios novos. Apesar de a inspeção ser designada ao laboratório de Eficiência Energética em Edificações, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, prédios de qualquer estado do país podem ser avaliados e receber a etiqueta - simbolizada por uma placa de aço em tamanho A4. Por enquanto, a regulamentação vale para edifícios comer­ ciais, de serviços e públicos e com metragem superior a 500 metros quadrados. Hoje, essas edificações são responsáveis por cerca de 45% do consumo de energia elétrica no Brasil, principalmente em decorrência da iluminação artificial e climatização de ambientes. No entanto, segundo Solange Nogueira, há uma previsão de que a etiqueta

para edifícios residenciais seja lançada em novembro, com ava­ liações a partir de 2011. Ela acredita que os resultados no Brasil irão melhorar, pois há a possibilidade de que a etiqueta seja usada como parâmetro para a construção de novos prédios públicos e no programa Pró Copa Turismo, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que concede melhores condições de financiamento para empreendimentos de meios de hospedagem que estejam classificados como etiqueta geral “A”. A etiquetagem, que avalia a eficiência energética de edificações, é comum em ou­ tros países, sendo adotada nos

Estados Unidos, Japão, Austrália e praticamente toda a Comunidade Européia. Em vários desses locais há inclusive uma grande participação da iniciativa privada para desenvolver soluções que busquem a sustentabilidade e a eficiência energética. Em Portugal, por exemplo, a GreenWatt começou suas atividades em 2008 e reúne as competências de cinco empresas (Megajoule, Guiatel, Grupo Gesfinu, Petra Vaquero e Grupo Completo & Faria), que trabalham juntas em conceitos, materiais, equipamentos e inovações tecnológicas. Na avaliação de Solange Nogueira, apesar do avanço com a etiquetagem, ainda há barreiras a vencer no Brasil. Os problemas começam nas fases de projeto e continuam na construtiva. É preciso mais investimento na formação e reciclagem profissional para aproveitar melhor os recursos naturais e evitar o desperdício. Além disso, ela destaca a necessidade de incentivos para materiais e projetos eficientes e uma revisão nos códigos de obras. “Eles são ultrapassados. Não consideram e muitas vezes até dificultam questões de eficiência energética”, conclui.


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comer

Churrasco verde Para não contribuir com o consumo de carvão vegetal sem abrir mão do churrasco, uma boa opção é o briquete, resultado da prensa de restos de madeira im de semana chega, amigos combinam o churrasco e uma pergunta fica na cabeça: como fazer para não aumentar a derrubada de árvores para produção de carvão? Uma preocupação pertinente, já que o Brasil consome, por ano, 3,5 milhões de toneladas de carvão da Amazônia somente para abastecer o setor siderúrgico, segundo levantamento da Universidade Federal do Pará (UF-

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PA). Mais da metade, segundo o levantamento, sai de forma ilegal da Amazônia. Para não ser mais uma pequena contribuição nessa devastação, o cidadão que não quer abrir mão de celebrar a vida com os amigos ao redor de um churrasco pode optar pelo briquete. Semelhante ao carvão, o briquete é o resultado da prensa de restos de madeira. Pega-se o farelo que fica sob as mesas de

serraria e forma-se um cilindro com um diâmetro de cerca de 63-103mm e um comprimento de cerca de 40-400mm. A chamada lenha ecológica é um biocombustível que gera energia térmica e pode substituir a lenha tradicional sem precisar trocar fornos ou caldeiras. E ainda tem a vantagem de reduzir o volume de gases poluentes como o enxofre, fósforo e fumos. Muitas serrarias já adotam a © Stefan Redel | Dreamstime.com


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prática de compactar os restos das madeiras para fazer briquetes. Geralmente fornecem para restaurantes e pizzarias, mas também vendem no varejo para quem deseja fazer aquele churrasco em casa. E nem sai mais caro. Podese encontrar briquetes sendo vendidos de R$ 200 a R$ 300 a tonelada. Haja carne pra assar! O preço em relação ao carvão vegetal pode ser mais ou menos atrativo. Depende do tipo de briquete que se compre, porque quanto mais concentrado, mais energia produz diminuindo os custos.

Hora de fazer o churrasco Carnes e facas a postos, hora de acender o briquete. Diferente do que se possa imaginar, substituir o carvão por briquete não altera em nada a dinâmica - muito menos o gosto - do churrasco. Na verdade, há até muitas vantagens nessa substituição: rapidez (poder calorífico maior que o do carvão vegetal), não produz labareda, queima por mais tempo e mantém a temperatura uniforme e não emite fumaça nem odores desagradáveis. Os briquetes são colocados em forma de pilha na churrasqueira. Colocado o acendedor no centro da pilha, logo todas as peças estarão queimando. Cerca de 15 minutos após acender, os briquetes se transformam em brasas. A partir daí pode por a carne na grelha. Só tome cuidado para não salgar demais.


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dirigir

Carro na tomada Silencioso, não emite gás poluente e tem todas as vantagens de um veículo urbano. Os carros elétricos, que já fazem parte dos investimentos do governo brasileiro, começam a circular por algumas cidades do país e olho nos problemas ambientais e na oportunidade econômica, o governo brasileiro pretende investir em carros elétricos. Dos R$ 600 milhões para projetos de inovação tecnológica anunciados em julho, uma parte ainda não definida será para pesquisas na área, que também não teve suas diretrizes de financiamento divulgadas. Segundo o ministro de Ciências e Tecnologia, Sérgio Rezende, serão contem-

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plados partes, peças e projetos, incentivando fabricantes a desenvolverem baterias para esse tipo de veículo. Este pode ser o primeiro passo para a criação de uma grande montadora nacional. Em um artigo recente, o presidente do Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu que a proliferação de veículos elétricos pode ser uma oportunidade para a produção local e a entrada de outros players na indústria automotiva mundial. Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), 19 empresas desenvolvem e/ou fabricam veículos elétricos de diversos tipos, portes e aplicações no Brasil. O maior leque de produtos é o da potiguar Evetech, com 22 modelos, entre carros, motos e bicicletas, inclusive para portadores de necessidades especiais. A empresa

comemora a revenda para nove estados e negocia com outros cinco. Além disso, deve lançar um carro de golfe elétrico até o fim do ano. Mesmo com resultados positivos, Geraldo Arruda, diretor da Evetech, reconhece que os veículos elétricos ainda encontram dificuldades para se tornarem mais populares, principalmente em relação a incentivos fiscais e desenvolvimento de projetos. “O carro elétrico surgiu bem antes do desenvolvimento do carro movido à combustão, mas em razão da ‘corrida pelo petróleo’, algo que atraía bastante o interesse político e econômico, freou-se o desenvolvimento do carro elétrico”, comenta. A intenção do governo vai ao encontro da necessidade de meios de transporte mais limpos e sustentáveis. Com o desenvolvimento de baterias mais eficientes, menos pesadas e mais baratas, espera-se que


o produto seja mais difundido. Por enquanto, o veículo elétrico é indicado apenas para o uso nas cidades, devido a sua autonomia, entre 50 e 100 quilômetros, e à velocidade limitada - no caso do Reva, de fabricação indiana, por exemplo, o máximo é 80 km/h. “Mas é silencioso, não emite gás poluente e tem todas as vantagens de um veículo urbano”, destaca o engenheiro Odailton Arruda, com a experiência de quem utiliza um carro desses diariamente no trabalho. O Reva é completamente movido a energia elétrica, graças a bate-

rias recarregáveis com duração de oito horas. Algumas marcas, porém, já possuem autonomia e desempenho mais satisfatórios. Além de Odailton, outras pessoas na empresa onde ele trabalha também circulam em veículos elétricos. Hoje, são três Revas na Coelce, a companhia energética do Ceará. Além de estimular o uso, a idéia é estudar o carro para que, futuramente, quando eles estiverem mais populares, sejam instalados postes de carregamento em autopostos. “Acredito que seja uma realidade próxima. As pesquisas estão avançadas e o governo tem

trabalhado nisso”, diz. Na Europa, Paris sai na frente na corrida pela conscientização dos consumidores. A partir do ano que vem, a Prefeitura pretende oferecer uma frota de carros elétricos para aluguel. O projeto Autolib irá distribuí-los em alguns pontos da cidade, onde os motoristas poderão retirá-los mediante o uso de um cartão. Espera-se que pelas características do veículo não se repita o que aconteceu com as bicicletas oferecidas pela administração parisiense em 2007: boa parte foi roubada ou destruída por vândalos.

Imagens: SXC.hu e Reva / Montagem: Gerardo Júnior

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Pedalada elétrica De mobilidade rápida e limpa, a bicicleta elétrica começa a ganhar adeptos no Brasil. Ações como a do projeto Bike Tour Elétrica tentam influenciar a prática do uso e baratear o produto opulares em países como China, Índia e Japão, as bicicletas elétricas aos poucos vão ganhando as ruas de outros países. Apesar de mais caras do que os modelos tradicionais, elas ganham em agilidade e exigem menos esforço do condutor. “Se você estiver numa subida, por exemplo, não irá molhar a camisa de suor”, comenta o ambientalista Haroldo Mota, que esteve no All About Energy, em Fortaleza, com sua bicicleta elétrica, e divulgou as vantagens desse meio de mobilidade rápida e limpa. A ação fez parte do projeto Bike Tour Elétrica, iniciado pela ONG Baobá, de Natal, este ano. No Dia do Planeta Terra, 22 de abril, Haroldo Mota conduziu a primeira volta de bicicleta elétrica do Rio Grande do Norte, com a participação de outros ciclistas que se uniram a ele no trajeto. A autonomia da bicicleta surpreendeu. A previsão inicial era rodar 680 quilômetros, a partir do Parque das Dunas até a capital do estado, mas o percurso acabou ampliado em 50 quilômetros. A Bike Tour Elétrica é um

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desdobramento do Mobilize-se de Bicicleta, programação realizada sempre em setembro, mês em que se comemoram o Dia da Árvore e o Dia Mundial sem Carro. A idéia é convidar a uma reflexão sobre os nossos impactos ao meio ambiente, provocados principalmente pela emissão de gases dos motores automotivos. “Queremos chamar a atenção da sociedade para a necessidade de investimentos públicos em transportes com eficiência ener­ gética e na construção de ciclovias”, destaca o ambientalista. Na Europa e nos Estados Unidos, as pessoas já começam a utilizar as bicicletas elétricas e devem influenciar a prática em outros países. Haroldo Mota espera que o Brasil também siga a tendência, contribuindo para baratear o produto por aqui. Vale lembrar que, mesmo com preços “salgados” na hora da compra, a bicicleta elétrica pode representar economia a longo prazo. Para recarregar a bicicleta (cuja autonomia é de 50 quilômetros na cidade e de 80 quilômetros na estrada), gasta-se cerca de R$ 0,30 com o custo da eletricidade.

ONG Baobá / divulgação

exercitar


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ajudar

Morro colorido Artistas holandeses levam cores e autoestima às favelas do Rio de Janeiro num trabalho de recuperação de fachadas de casas Foto: divulgação

iniciativa de dois holandeses transformou o visual de favelas do Rio de Janeiro, e elevou a autoestima de moradores. Os artistas plásticos Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn recuperaram e coloriram as fachadas de casas em parceria com os habitantes. A população que se engajou no projeto Favela Painting ganhou capacitação e renda. O trabalho começou em 2006. Os esforços também renderam dois murais pintados na Vila Cruzeiro, uma grande favela carioca. O trabalho recebeu atenção da imprensa internacional. Espaços abandonados pelo poder público, com numerosos casos de violência, se tornaram pontos de orgulho da comunidade

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local. Além das casas, o projeto coloriu a Praça Cantão, em Santa Marta. A recente fase desta proposta se chama “O Morro”, que vai transformar as fachadas de 34 casas (cerca de 7.000 metros quadrados). Os moradores envolvidos recebem um pequeno salário e aulas no processo de produção. O plano é concluir a pintura do morro inteiro. O Favela Painting é apoiado pela Fundação Firmeza e conta com a parceria da empresa holandesa Dutch AkzoNobel e da brasileira Tintas Coral. A dupla de artistas é conhecida como Haas&Hahn. A ideia de trabalhar neste projeto no Brasil surgiu em 2005, quando

eles filmavam um documentário sobre hip hop nas favelas do Rio e São Paulo para a MTV. Foi nesta temporada que eles decidiram transformar lugares sem esperança por meio da arte. A lição que este trabalho pretende transmitir é a capacidade de um trabalho voluntário em renovar a auto estima, elevar a valorização de comunidades carentes e mudar o cenário urbano pela arte.

Para saber mais sobre Para conhecer melhor este trabalho e para quem quiser apoiar esta iniciativa, mais informações no site www.favelapainting.com


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cidade renovável BIODIVERSIDADE URBANA

Cingapura

2030

O desenvolvimento sustentável e econômico da cidade estado asiática tem sido acompanhado por ações que visam um crescimento de forma eficiente, limpo e verde, com objetivos chave para os próximos 20 anos


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SXC.hu

Cingapura

ingapura, cidade-estado do Sudeste Asiático de cinco milhões de habitantes e em um fuso de oito horas à frente do Brasil, é considerada a décima cidade entre as mais caras do mundo. Após ter alcançado a independência da Grã Bretanha, na década de 1960, o padrão de vida de Cingapura cresceu de forma acelerada. O investimento estrangeiro direto e o incentivo do Estado para a industrialização criaram uma economia moderna, centrada na indústria, educação e planejamento urbano. Enquanto nação, é considerada a quinta mais rica do mundo em termos do PIB per capita. No primeiro trimestre deste ano, sua riqueza interna aumentou 26%, em comparação com igual período do ano passado. O sucesso econômico tem sido acompanhado por ações que sustentam o crescimento de acordo com as questões ambientais e sociais. O desenvolvimento sustentável de Cingapura significa que a cidade cresce de forma eficiente (menos recursos e gastos), limpa (sem poluir o meio ambiente) e verde (preservando a natureza). Esta é a proposta do governo local para dei­xar um ambiente rico e saudável para as gerações futuras.

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As ações passam pelos próprios cidadãos, empresas e governo. As pessoas são estimuladas a economizar energia elétrica e água, produzir menos lixo e escolher meios menos poluidores ao viajar. Assim, elas economizam dinheiro e protegem o meio ambiente. A iniciativa privada é convocada a reduzir também no uso de energia e água, além de embalagens e enfardamentos desnecessários. A administração pública propõe o debate e serviços mais eficientes para a população promover a consciência ambiental. Toda essa atuação deve-se às fontes naturais severamente limitadas. Com uma pequena área e alta densidade populacional, cada metro quadrado é importante para a preservação das riquezas naturais aliada ao crescimento econômico. O estímulo governamental é dado por meio de prêmios concedidos às empresas com melhores práticas, e de programas de relacionamento e benefícios. Em janeiro de 2008, foi estabelecido o Comitê Interministerial para o Desenvolvimento Sustentável, que tem como finalidade formular estratégias em um contexto de novos desafios locais e globais. O trabalho do comitê entende que o


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cidade renovável BIODIVERSIDADE URBANA desenvolvimento sustentável é um processo a longo prazo, por isso, identificou objetivos chave para os próximos 20 anos, que devem guiar o país até 2030. Para alcançar os resultados, alguns objetivos foram estabelecidos para 2020. Um dos planejamentos de Cingapura, liderado pela JTC Corporation, é a construção do CleanTech Park (CTP), o primeiro parque de econegócios para empresas de tecnologia e de soluções urbanas. A ideia é também atrair organizações que oferecem produtos e serviços ecologicamente corretos. O complexo vai se situar ao lado da Universidade Tecnológica de Nanyang, a fim de integrar a academia ao mercado e à indústria. A construção

ocorrerá em três fases pelos próximos 20 anos. A primeira começou em julho deste ano e vai até 2018. A fase dois se desenvolverá entre 2019 e 2025, restando a terceira fase, a ser concluída até 2030. O CTP vai abrigar uma população de 20 mil trabalhadores quando estiver totalmente finalizada. Publicações locais orientam as empresas a implementarem ações verdes e educando os consumidores a optarem por produtos de eficiência energética. A Green Business Times, por exemplo, é um website que orienta as organizações a incorporarem ações que reduzem impactos ao meio ambiente. O site é mantido pelo engenheiro ambiental Eugene Tay.

Os fabricantes concentram sua comunicação em temas de preservação ambiental. Um exemplo é a Panasonic, que alcançou os objetivos de idéias-eco em junho último, um ano após tê-los lançados: 80% do total das vendas são produtos ecologicamente corretos (eficiência em energia e uso de água, longa duração), reduziu em 240 mil toneladas a emissão de CO2 nos últimos três anos, criou um modelo de fábrica para promover uma produção limpa e levou o ideal ecológico para seus parceiros. Outro exemplo é da Siemens, que inaugurou a Cidade do Futuro em Cingapura, em março de 2009. O local apresenta aos visitantes soluções para um futuro sustentável. CleanTech Park / Divulgação


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rg verde PERFIL

Um alemão no sertão Por conta de um pioneiro projeto de eletrificação de comunidades rurais com o uso de energia solar, Jörgdieter Anhalt trocou a Alemanha pelo Ceará. A experiência que mudou sua vida e dos habitantes destas localidades o fez fundar o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis, que há 15 anos beneficia famílias cearenses


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1. Fogão EcoEficiente: A partir da queima eficiente da lenha, este fogão reduz o consumo de biomassa e livra as famílias das doenças causadas pela fumaça no ambiente doméstico. 2. Desidratador Solar: Com o aproveitamento do calor do sol, desidrata frutas sem o uso de combustível 3. Um curso de capacitação em manutenção de sistemas de energia solar foi oferecido para índios na floresta amazônica.

alemão Jörgdieter Anhalt - pode chamar de Jorge - trocou as quatro estações bem definidas da Europa pelo quente ou frio do Brasil há cerca de 30 anos. Nos últimos 15 anos, ele convive com o clima de sol ou chuva do Ceará. Tudo começou quando o engenheiro mecânico do Instituto Nuclear de Aachen veio fazer um intercâmbio no departamento de Física da Universidade de São Paulo, onde se engajou em projetos de energia solar para aquecimento de água, no começo dos anos 80. O próximo passo foi conseguir o visto permanente no Brasil como especialista em energia solar. Depois, ligou-se ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em 1987, Jorge retornou à Alemanha. A situação da economia brasileira desestimulou sua permanência aqui. “A inflação estava muito alta”, recorda. No início da década de 90, Jorge retornou. Desta vez, para Fortaleza. A oportunidade que o trazia de volta ao

O

País ocorreu por meio de uma parceria entre a Companhia Energética do Ceará (Coelce) e a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GTZ), que lançou, em 1993, um pioneiro projeto de eletrificação de comunidades rurais com o uso de energia solar. Durante três anos, 1.500 famílias de 15 comunidades foram beneficiadas. A partir desta experiência, que reuniu profissionais de áreas tecnológica e sócio ambiental, surgiu a idéia de fundar o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (Ider), o que aconteceu em 26 de dezembro de 1995. Em poucos meses, o Ider iniciava programas com instituições brasileiras e do exterior, como Banco do Nordeste (BNB), GTZ, Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), prefeituras, Go­verno do Estado do Ceará, Mi­ nistério da Ciência e da Tecnologia,

Instituto Winrock, Carl Duisberg Gesellschoaff e AT&C, dentre outros. Além da eletrificação rural, as ações envolviam treinamento de técnicos e consultorias para implantação de projetos de energias renováveis. Em 2000, o Ider foi selecionado pela Authentic Adventure, da empresa francesa Elf, para um projeto de eletrificação de uma escola rural em Viçosa do Ceará, beneficiando 42 famílias. Os resultados foram elogiados por um júri internacional. A segunda etapa beneficiou mais duas escolas do sertão cearense. Três anos depois, o Ider avançou para a Amazônia. Um curso de capacitação em manutenção de sistemas de energia solar foi oferecido para índios na floresta amazônica. Eles aprenderam a fazer reparos nos equipamentos, evitando longas viagens de técnicos especializados. O projeto contou com a parceria da BP Solar, Comissão Pró Yanomami e USAID Brasil.

Fotos: divulgação

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rg verde PERFIL A cooperação com a USAID segue até hoje com programas que possibilitaram o desenvolvimento e aplicação de diversas tecnologias apropriadas de energias renováveis, além da promoção de políticas públicas e capacitação de pessoas. Outro projeto foi a capacitação de jovens de baixa renda para o mercado de trabalho. O curso de Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável, realizado com apoio dos então Cefet/CE, Cefet/RN, Wobben e USAID, mudou a vida de 225 jovens das periferias de Fortaleza e Natal. O resultado foi 60% dos alunos com emprego e um quarto continuou os estudos em instituições de nível superior. Entre outros programas do Ider, está o de biodigestores. A disseminação deste equipamento promove o beneficiamento de leite e a produção de fertilizantes. Os

desidratadores solares fazem parte de outro projeto na praia das Fleicheiras, que envolve a comunidade em um trabalho para secar algas marinhas. A partir de 2007, o Ider começou a disseminação de fogões ecoeficientes, um modelo aprimorado dos tradicionais fogões a lenha, que tem a vantagem de livrar as famílias da fumaça dentro de casa e reduz o consumo de lenha. Com o apoio de organizações internacionais e do Governo do Ceará, só com essa iniciativa o Ider já beneficiou 13 mil famílias, em 45 municípios do Estado. Até o fim deste ano, outras 13,5 mil famílias receberão o fogão eficiente. Os recursos para este projeto são desembolsados via Fundo de Combate à Pobreza (Fecop). A frente do Ider, Jorge, aos 65 anos, comanda uma equipe multidisciplinar com 13 profissionais. “É

importante integrar tecnologia ao conhecimento da comunidade”, explica, sobre o grupo formado por engenheiros, sociólogos, psicólogos, zootécnicos e assistentes de comunicação. Para além do trabalho, Jorge gosta de pilotar moto pelo interior na companhia da filha. “Não gosto de estrada”. É adepto do silêncio. Evita festas e ambientes barulhentos, mas sabe apreciar um bailado do forró de antigamente. Lamenta não presenciar a mudança das estações do ano, possível na Alemanha. Do Ceará, traz o bronze que avermelha a pele típica dos europeus. Fala com um sotaque ainda forte, mas cheio de gírias. Mora numa casa afastada de bairros adensados, mas convive com vizinhos em eventos comunitários. Principalmente, na luta pela preservação do meio ambiente.



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personagem ENTREVISTA

JEAN-PAUL PRATES

Matriz limpa, mas com nuclear e petróleo Responsável por um novo centro de referência em aproveitamento sustentável dos recursos naturais e energéticos, o especialista Jean-Paul Prates debate sobre a matriz brasileira. Às vésperas dos resultados dos leilões da EPE, Prates discute sobre produção e fornecimento de energia, pré-sal, microgeração, apagão e aquecimento global. E ainda faz críticas às recentes políticas energéticas por Carol de Castro


Rodrigo Sena / Tribuna do Norte

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personagem ENTREVISTA

JEAN-PAUL PRATES

Brasil precisa manter atenção quanto a preservar a sua matriz energética como uma das mais limpas do mundo”, defende o advogado e economista JeanPaul Prates. Seu mais recente posto é sinônimo maior desta defesa. Atualmente, é diretor geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), núcleo de referência voltado para a concepção, discussão e implementação de estratégias e projetos relativos ao aproveitamento sustentável dos recursos naturais e energéticos na região Nordeste. Com mais de 15 anos de experiência nas áreas de consultoria em petróleo e fontes alternativas, Prates foi também secretário de Energia e Assuntos Internacionais, uma pasta extraordinária, criada no Rio Grande do Norte, para integrar ações em energia renovável e incentivar parcerias para regulação da política energética. Prates é defensor de uma matriz limpa, mas também da exploração do petróleo da camada pré-sal. Concorda com a inserção da energia nuclear no modelo energético brasileiro, para a indústria deste setor não ficar de fora do País. Para o especialista, os leilões da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão,

a princípio, no caminho para diversificar a matriz energética do Brasil e elevar a participação de fontes renováveis. Mas não se configuram desta maneira para médio e longo prazos. Faz críticas às políticas adotadas para planejamento de longo prazo para o desenvolvimento da indústria da energia. E convoca o debate público para livrar o Brasil da "tradição extrativista e de governos limitados em incentivos à produção e pesquisa".

internamente, foi mostrar que o Governo do Estado pode, sim, fazer política energética - apesar de este ser um setor amplamente federalizado, em termos de legislação e regulação. Atuar em gestão energética na seara estadual parecia algo estéril até alguns anos. Meu colega Wagner Victer abriu o caminho, como secretário de Energia no Rio, há alguns anos. Agora, pretendo continuar este trabalho à frente do Centro de Estratégias em

A maior contribuição foi mostrar que o Governo do Estado pode, sim, fazer política energética apesar de este ser um setor amplamente federalizado, em termos de legislação e regulação

Nesta entrevista, Prates ainda discute sobre produção e fornecimento de energia, microgeração, apagão e aquecimento global. Renergy - O senhor foi secretário de Energia no Rio Grande do Norte. Qual a principal contribuição da sua gestão para esta pasta? Jean-Paul Prates - Tivemos muitas realizações concretas importantes: a finalização do longo processo de viabilização da Termoaçu, a conquista da Refinaria Clara Camarão, a liderança em projetos eólicos vencedores no leilão do ano passado e a conquista da autossuficiência em capacidade instalada para geração de energia para o Rio Grande do Norte. Mas acho que a maior contribuição,

Recursos Naturais e Energia (Cerne), que é uma iniciativa empresarial importante, no sentido de buscar consenso e objetividade nas pretensões setoriais relacionadas a recursos naturais e energia para a região, e consolidar as conquistas já alcançadas. É o primeiro think tank setorial do Nordeste. R - O que o Brasil precisa do próximo presidente para melhor aproveitamento das energias renováveis? E o Nordeste, de seus futuros governadores? JPP - Creio que o Brasil precisa manter atenção quanto a preservar a sua matriz energética como uma das mais limpas do mundo, mesmo levando em conta a boa novidade, que é o petróleo do pré-sal, e a enorme


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fontes renováveis como a eólica. Aparentemente, estas duas coisas poderiam ser opostas, mas uma visão minimamente sensata do mundo moderno nos obriga a pensar diferente. Conciliar o acesso universal dos cidadãos à energia, com tarifas módicas e incentivos às fontes alternativas, é um desafio que todo gestor público desta área terá que enfrentar, mais cedo ou mais tarde. Fazer demagogia com áreas estratégicas como o

as emissões de carbono e o desdém pelas fontes alternativas. R - Por que investir em energia solar no Brasil e quais os caminhos para o desenvolvimento da geração desta energia? Esbarra no custo? Na falta de incentivo? Qual o seu diagnóstico para este setor e as tendências? JPP - Acima de tudo, é notório que o potencial de aproveitamento da energia solar no Brasil é grande, devido à insolação alta que o nosso território apresenta.

num modelo de programa de nacionalização da fabricação de equipamentos e ancilares, nos moldes do PROMINP. Outro assunto que certamente terá que ser aprofundado é o aproveitamento do nosso potencial eólico offshore, que é muito importante que seja feito de forma organizada e regulada (como no petróleo). R - Como o senhor avalia a política da atual gestão federal para o setor energético - produção e fornecimento? JPP - O Governo Lula teve dois grandes méritos: o primeiro foi privilegiar a modicidade tarifária e o acesso democrático à energia, no modelo elétrico nacional; e o segundo foi o de ousar dar passos iniciais quanto a

setor energético sempre dá em problemas. O Governo Lula não caiu na tentação chavista, por exemplo. A Venezuela e a Bolívia são países exportadores de fontes energéticas (o petróleo e o gás, respectivamente), mas que não conseguiram ainda universalizar os benefícios disso para suas sociedades e muito menos imaginar formas de diversificação da sua matriz energética para o futuro. O Brasil, mesmo tendo conquistado a autossuficiência em petróleo e, ainda por cima, tendo encontrado enormes reservas de hidrocarbonetos no pré-sal, mesmo assim não deixou de incentivar as fontes renováveis. E não caiu na falácia do "preço interno" para o petróleo, o que faria disparar o seu consumo,

Dentre as três formas de aproveitamento de energia solar mais aplicadas, a do aquecimento de água em uso doméstico ou comercial já se encontra largamente difundida no Brasil. Em maior escala, e para geração de energia em geral, a tecnologia de concentração solar ainda apresenta certos desafios tecnológicos e logísticos, a meu ver inteiramente superáveis, a depender da microlocalização dos projetos. No caso da energia fotovoltaica, o grande embate ainda é com o custo dos painéis. Mas tanto em uma como em outra frente, a viabilização da energia solar dependerá necessariamente de três grandes fatores. R - E quais seriam estes fatores? JPP - O primeiro deles é uma

Alex Régis / Tribuna do Norte

responsabilidade que teremos ao dispor dele. Em relação à energia eólica, em específico, creio que é urgente a discussão de uma lei federal que venha a reger o setor, diminuindo as inseguranças jurídicas quanto a aspectos do acesso às áreas e às linhas de transmissão, bem como criando uma sistemática mais organizada e eficiente quanto às incidências de royalties dos proprietários de terra e tributação direta e indireta. Também precisamos pensar


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personagem JEAN-PAUL PRATES

política industrial que busque a convergência entre geração de empregos, aproveitamento de recursos naturais, crescimento de produção interna. Precisamos estimular esse debate sobre produzir tecnologia nacional e incentivá-la, se necessário com subsídios, para que venha a ser aplicada com sucesso no aproveitamento de nossos recursos naturais e energéticos. O segundo é o planejamento energético de longo prazo. Enquanto europeus e americanos olham para o horizonte de 2050, ainda praticamos planos plurianuais de no máximo 10 anos. Além disso, nossos governantes ainda tentam escamotear os custos de tecnologias aparentemente mais baratas, mas que se mostram mais caras quando se agregam as externalidades e os custos de infraestrutura. É o caso de alguns investimentos em projetos hídricos, mesmo que lá na distante Amazônia, completamente fora do grid de transmissão existente. É claro que sou consciente da escala e urgência de projetos como Belo Monte, mas sou contra esconderem seus reais custos para a sociedade, e associarem a ele uma tarifa que parecerá mais baixa que as da solar e eólica, mas que na verdade não serão. Investimentos como este certamente são mais caros para o país do que subsidiar a viabilização de projetos solares ou consolidar, de forma sustentável, os parques eólicos. O honesto é dizer: precisamos de Belo Monte e precisamos também das eólicas e de viabilizar urgentemente a energia solar no Brasil. E o custo para isso é o mesmo, por MW.

SXC.hu

ENTREVISTA

R - E o terceiro grande fator? JPP - O terceiro fator é a falta de pragmatismo da sociedade. Imagine o impulso que ganha uma economia incentivada pela geração distribuída, subsidiada pelo governo, apoiada por instituições financeiras e garantida por pesquisadores. A geração distribuída é certamente a maneira mais barata de gerar energia para um país. Isso já foi descoberto mundo afora, há mais de meio século. Nos EUA, temos um Brasil inteiro em geração distribuída. São mais de 90 GW de potência instalada. R - O que falta no Brasil para atrair investimentos em energia solar? JPP - Acho que falta o mesmo que faltou, ou ainda falta, em outros lugares: a prova de competitividade comercial em grande escala. Precisamos enfrentar o desafio de torná-la tarifariamente próxima das demais fontes, e precisamos também consolidar um parque industrial para painéis e equipamentos. R - E na microgeração? JPP - Na microgeração, falta regularmos e implementarmos o smartgrid, um assunto que não deveria mais causar temor às distribuidoras de energia estaduais, pois trata-se de uma realidade que, se não for enfrentada com inteligência, representará inexoravelmente um mercado paralelo muito em breve. É aquela máxima de "se não pode com eles, junte-se a eles". Não haverá como escapar, em alguns anos, de dar ao consumidor final o direito de produzir sua própria energia e devolver, vendendo, os eventuais excedentes ao grid.


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Na microgeração, falta regularmos e implementarmos o smartgrid, um assunto que não deveria mais causar temor às distribuidoras de energia estaduais

Arquivo pessoal

Isto é democrático, eficiente e moderno. R - Por que o Brasil não se espelha em Portugal e Espanha e faz acordos bilaterais de investimento em solar? JPP - Aqui no Rio Grande do Norte, eu promovi a assinatura de acordos deste tipo, para troca de experiências e cooperação tecnológica. Um deles foi assinado entre o Estado do Rio Grande do Norte e o Departamento de Navarra (Espanha), onde fica localizado o maior centro de pesquisas em energias renováveis daquele país. Aliás, como Natal também sedia o congênere brasileiro (o CTGasER), levamos a esta entidade a oportunidade de firmar também um acordo de cooperação técnica com o CENER (Espanha). Agora, no CERNE, temos procurado encontrar experiências bem sucedidas através das empresas mantenedoras que possuem projetos nesta área, como por exemplo a Abengoa, a Martifer, a EdP e a Iberdrola. E vamos evoluir mais com relação à troca de experiências e projetos piloto. Vamos também trabalhar muito próximos com o CTGas-ER e a Petrobras nos projetos de laboratórios e plantas piloto, respectivamente. R - O Brasil ainda corre risco de apagão no setor elétrico? O que foi ou é feito para reverter esta situação? JPP - A melhor resposta que um governante sério pode dar a esta pergunta tradicional é: "De nossa parte, fazemos tudo para manter este risco próximo de zero". Isso porque eu acho que qualquer país corre este risco,

mas tem que ser sempre um risco controlado. Ocorre que, por mais que se planeje a oferta energética, as forças de demanda podem surpreender - e são sempre externas ao setor. Então, quem diz que tem tudo isso sob controle suficiente para garantir risco zero, está arriscando sua palavra. Um gestor público desta área pode, isto sim, manter um nível de conforto de oferta energética - tanto firme quanto de reserva - suficiente para minimizar este risco ao máximo. É o que o Governo Federal tem conseguido fazer, demonstrando claramente ao mercado que tem propiciado as condições para que a oferta de energia seja real e acessível. R - Qual a contribuição que as energias renováveis podem trazer para o fornecimento/ consumo de energia elétrica, em relação a custo e demanda? JPP - Num momento inicial, pensava-se que a inserção das fontes renováveis viesse a encarecer a tarifa média nacional, em virtude das alegadas inviabilidades aos preços então praticados. Ocorre que há um movimento inverso e convergente: o consumidor médio brasileiro depende cada vez mais de energia. Portanto, estaria disposto a pagar mais por este consumo. E, por outro lado, as energias renováveis tem se beneficiado de evoluções tecnológicas e operacionais para tornarem-se mais viáveis ao investimento e ao consumo regular. A partir disso, a combinação das fontes convencionais com as renováveis trará também uma vantagem logística, pois normalmente as áreas


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personagem JEAN-PAUL PRATES

de maior potencial de aproveitamento de fontes alternativas encontram-se em locais e sazonalidades opostas às fontes convencionais. Isso facilita os swaps de MW e o aproveitamento das sinergias e complementaridades. Note que nunca direi que as renováveis podem, no curto prazo, substituir as tradicionais. Mas com certeza, com um pouco de empenho, poderemos ainda ao longo de nossas vidas, legar aos nossos filhos e netos um mundo menos tenso a respeito do preço do petróleo e das guerras em países estratégicos para a geopolítica das fontes energéticas convencionais. R - O Brasil tem mão de obra para atuar nos projetos de usinas solares e eólica? JPP - Não em número e especialização suficientes. Mas essa é uma realidade boa de se enfrentar. Como secretário de Energia do RN, participei ativamente da decisão de expandir e transformar o então Centro Nacional de Tecnologia do Gás (CTGas), sediado em Natal, em Centro Nacional de Tecnologia de Gás e Energias Renováveis (CTGas-ER). A entidade, que é uma parceria de alto nível e modelo mais do que bem sucedido entre o SENAI e Petrobras, já se consolida como o centro de excelência nacional para energias renováveis, e já forma profissionais especializados nos seus variados segmentos: eólico, solar, geotérmico etc. Isso é apenas o começo. Teremos muito a realizar, a reboque de uma política industrial de longo prazo. R - Qual a participação do Brasil no aquecimento global?

O que precisamos é aproveitar este cenário favorável para trabalhar em conjunto - indústria, operadores, governos e consumidores - em prol de uma competividade efetiva e sustentável Arquivo pessoal

ENTREVISTA

O que tem sido feito no Brasil para mitigar seus efeitos? E no mundo? JPP - Nos últimos anos, o Brasil tem se mostrado um protagonista de alto nível a este respeito, apresentando uma redução expressiva do desmatamento, uma matriz energética limpa e compromissos numéricos com a redução de emissões futuras. Temos ainda as nossas metas de eficiência energética, que poderão gerar uma economia de 106 mil GWh até 2030, o que representa a não emissão de cerca de 30 milhões de toneladas de CO2. Até mesmo as nossas termelétricas a óleo combustível e carvão mineral deverão investir em projetos de recuperação florestal, para mitigar parte das emissões geradas ao longo da vida útil do empreendimento. O país tem um Plano Nacional sobre Mudanças do Clima e tem cacife e moral para discutir o assunto em nível global. Foi uma pena que a COP15 não tenha atingido seus objetivos de levar a uma fase de detalhamento e implementação do redirecionamento da economia mundial. R - E no mundo? JPP - Quando os países em vias de desenvolvimento assumem compromissos numéricos com a mudança das suas trajetórias de emissão, estão demonstrando que de fato querem crescer em um novo modelo, rumo a uma economia verde. Mas, para seguir um modelo inovador com tecnologias limpas, é preciso investimento. Infelizmente a questão do financiamento de projetos nas negociações do clima ainda está muito aquém do necessário. Esta


arquitetura financeira é difícil porque depende da compreensão de que não se trata de doações ou investimentos a fundo perdido, e sim de cooperação internacional e respeito à responsabilidade comum de mudar padrões de crescimento, que nos foram incutidos pelas mesmas nações que hoje, por vezes, nos acusam de leniência ou ofensividade ambiental. R - Os leilões da EPE estão no caminho para diversificar a matriz energética do Brasil e elevar a participação de fontes renováveis? JPP - Num momento inicial, sim. No médio e longo prazos, não. A energia eólica, por exemplo, participou de leilões de energia de reserva. Mas, quando Rio Madeira, Belo Monte e Angra 3 entrarem em operação, não haverá mais necessidade de leilões de reserva. Então o que precisamos é aproveitar este cenário favorável para trabalhar em conjunto - indústria, operadores, governos e consumidores - em prol de uma competividade efetiva e sustentável em relação às demais fontes. Isso tornará viável a participação das eólicas - e, futuramente, até das solares - em leilões não específicos e não de reserva. E até mesmo a consolidação destas matrizes no mercado livre. É preciso chegarmos a um momento em que consumidores queiram comprar energia eólica ou solar em detrimento de outras, por exemplo. Mas para isso, a diferença tarifária não pode ser imensa. Vamos chegar lá. Com certeza. R - O que mais precisa ser feito,

ABEEólica / divulgação

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em forma de política pública, para alcançar esta finalidade? JPP - Incentivar e desenvolver tecnologia e trabalho nacional nestes segmentos. Somente isso nos dará alavancagem para confrontar as fontes convencionais, com vantagens do ponto de vista ambiental e de desenvolvimento regional. R - Como o senhor vê uma solução para a atuação do Ministério Público que vem proibindo obras de projetos eólicos no Ceará? JPP - Sem desprezar as eventuais consequências sofridas por alguns projetos em específico, eu acho que as ações movidas contra as usinas eólicas no Ceará, através do Ministério Público do Estado (MPE) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), tiveram um caráter pedagógico para ambos os lados. Em sua maioria, os impasses derivaram principalmente de uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), datada de 2001 - época do apagão energético - pela qual os empreendimentos eólicos foram considerados de baixo impacto ambiental e, portanto, passíveis de licenciamento contra apresentação de Relatório Ambiental Simplificado (RAS). R - Acontecerá o mesmo em futuros licenciamentos? JPP - Acho que o setor não terá como fugir, quanto a futuros licenciamentos, do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima). Uma vez que a tendência será que as autoridades ambientais estaduais passem a considerar insuficiente


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personagem ENTREVISTA

JEAN-PAUL PRATES

o RAS. É uma espécie de "solução de compromisso" que se terá que acatar. O número de projetos tem crescido muito. As áreas mais rentáveis são naturalmente disputadas e sua sensibilidade ambiental é digna, sim, de aprofundamento e cautela. A este respeito, outra resolução, esta de 2006, que permite os empreendimentos de utilidade pública instalados em APPs, também deverá ser melhor especificada, pois ainda gera várias batalhas judiciais e contestações. R - E o que precisa ser feito para não haver grandes embates? JPP - É preciso que o outro lado também aprimore e consolide os seus conhecimentos a respeito do setor eólico. E por que não adiantar o solar também? Os órgãos ambientais estaduais devem ter equipes preparadas, com conhecimento e experiência específicos, para realizar licenciamentos responsáveis que não esbarrem em meros preconceitos, falácias técnicas e muito menos na corrupção. Não há que se ter vergonha de falar neste tema. Vergonha é praticá-la, passiva ou ativamente. A autoridade que tem os órgãos licenciadores, tanto ambientais quanto patrimoniais ou operacionais, deve ser igualmente fiscalizada e denunciada pelos empreendedores quando ocorrer abuso ou achaque. Afinal, detêm um poder imenso: que é o de paralizar uma obra cara, atrasar ou impedir um empreendimento rentável. Isso gera tentações proporcionais aos valores dos investimentos. R - E qual seria a solução? JPP - Quando se criam equipes técnicas formadas e equipadas

devidamente para trabalhar com estes projetos, e não grupos de apaniguados políticos, o risco dos processos de licenciamento debandarem para a seara subjetiva diminui. Com isso, teríamos equipes que conheceriam os projetos tanto do ponto de vista técnico econômico quanto ambientalmente, tornando as análises bem mais realistas e racionais. Como seria de se esperar, esbarramos em algumas resistências de ordem emine-

eólica, solar e biomassa. Se for gerenciada adequadamente, a energia nuclear é uma energia muito limpa, não emite nenhum gás poluente para a atmosfera, utiliza em sua construção um número reduzido de materiais por kWh, até mesmo se comparada com a energia solar e eólica, produz pequena quantidade de rejeitos, totalmente confinados, e não contribui para o efeito estufa, pois não emite dióxido de carbono (CO2), ao contrário do

A Petrobras acabou privilegiando as bacias de Santos e do Espírito Santo no pré-sal offshore. Surgiu aí um Pré-Sal com maiúsculas, a que nos referimos como o grande e novo manancial petrolífero brasileiro

nentemente política. Mas creio que plantamos uma boa semente para que um futuro governo o implante, em 2011, seja quem for o vencedor das eleições. R - O que o senhor acha da energia nuclear? JPP - Talvez eu surpreenda ao dizer que sou a favor do desenvolvimento da energia nuclear pelo Brasil. Sou. E sou, porque creio que o Brasil não pode ficar de fora de nenhum ciclo industrial importante ou estratégico, e a energia nuclear é um deles. Um dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), apresentado em 2007, aponta a energia nuclear como alternativa concreta aos combustíveis fósseis, ao lado de fontes como

carvão, petróleo e gás. R - E quanto a riscos de acidentes nucleares? JPP - É claro que esta fonte energética provoca muito debate devido ao potencial de dano demonstrado em acidentes trágicos do passado recente, mas é vítima de muita desinformação também. A retomada do Programa Nuclear Brasileiro, a meu ver acertada, fez recrudescer o movimento antinuclear. O que também é compreensível. Daí a necessidade em investimentos cada vez maiores para esclarecer o público sobre estas atividades e, principalmente, no atendimento de todos os requisitos de segurança e minimização dos impactos ao meio ambiente da região afetada. O


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histórico diferentes da área mais promissora, que é a localizada entre Santa Catarina e Espírito Santo. Mas pré-sal por pré-sal, existe sim. É bom lembrar que o petróleo do Recôncavo Baiano, descoberto nos anos 40, foi gerado e acumulou-se, em boa parte, nos sedimentos de um desses lagos intracontinentais, portanto, pré-sal. Em Sergipe e em Alagoas, muitos campos terrestres produzem da camada

para afrontar a elevada profundidade (tanto da lâmina d'água quanto dos objetivos finais dos poços), a grande espessura da camada de sal, a alta pressão e temperatura e a distância da costa. Por isso, a busca por formações semelhantes em outras partes do Brasil é uma medida naturalmente interessante. R - Quem foi Clara Camarão, cujo nome foi dado à refinaria do Rio Grande do Norte?

ser motivo de críticas por parte de ambientalistas e movimentos sociais locais. Por outro lado, sabe-se que o risco de acidentes nucleares foi atualmente reduzido para um nível de probabilidade muito baixo e que é relativamente pequeno o volume dos resíduos produzidos, o que os torna facilmente monitoráveis e controláveis. R - O senhor acredita que a camada pré-sal se estende ainda mais pelo Nordeste? JPP - Este é um assunto para os geólogos e geofísicos especializados no tema. Mas o que ouço de amigos e colegas que trabalham atualmente no Pré-Sal é que a formação das bacias de Barreirinhas, no Ceará, e de Sergipe-Alagoas, tem origem e

pré-sal, como ocorre no campo de Carmópolis (SE), desde os anos 60. Na porção terrestre da bacia do Espírito Santo, existem várias jazidas em que o petróleo é extraído do pré-sal há décadas. Por achar que boa parte do petróleo de Campos migrou para os reservatórios pós sal a partir de sedimentos situados abaixo da camada de sal, a Petrobras acabou privilegiando as bacias de Santos e do Espírito Santo no pré-sal offshore. Surgiu aí um Pré-Sal com maiúsculas, a que nos referimos como o grande e novo manancial petrolífero brasileiro. Mas, tecnicamente, ele é uma espécie de um gênero bem conhecido. Este novo e gigantesco pré-sal representa também um enorme desafio tecnológico

JPP - Clara Camarão foi a primeira mulher brasileira reconhecida oficialmente como heroína nacional. Mulher de Felipe Camarão, foi a índia que liderou um grupo de nativas na luta contra os holandeses durante a colonização. A sugestão foi dada pessoalmente, à época da sua oficialização, pela governadora Wilma de Faria, que também é conhecida como "a Guerreira". Clara Camarão comandou um batalhão feminino que teve atuação decisiva na batalha ocorrida na cidade de Porto Calvo, em 1637. A Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC), como ficou oficialmente batizada, é a primeira refinaria da Petrobras que recebeu nome de uma mulher.

SXC.hu

setor nuclear gera polêmicas ambientais da primeira à última atividade econômica por que passa: o recente transbordamento de líquido radioativo numa bacia de decantação de urânio em Caetités (BA) gerou muita discussão em torno da transparência quanto aos licenciamentos concedidos ao INB e, apesar das vistorias aprobatórias da Agência Internacional de Energia Atômica, continua a




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capa Š Almir1968 | Dreamstime.com

potencial solar

A tecnologia fotovoltaica ĂŠ a mais utilizada no mundo


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A TERRA

DO SOL? A energia solar pode ser a próxima fonte de importância a ser inserida na matriz energética nacional. Apesar do avanço em pesquisas acadêmicas e projetos pilotos, não há regulamentação, falta incentivo governamental, sistemas consorciados ou financiamento competitivo para atrair potenciais investidores por Carol de Castro


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capa potencial solar ocalizada na região dos Inhamuns, no semi-árido nordestino, a cidade cearense Tauá, distante 337 quilômetros de Fortaleza, terá parte de sua paisagem modificada. O município vê uma usina solar ser erguida pela MPX, empresa do grupo EBX de Eike Batista. “O projeto da usina solar de Tauá é pioneiro e tem porte sem similar no Brasil”, explica o diretor de Implantação e Operação da MPX, Marcus Temke. “A primeira etapa com 1 MWp (megawatt pico) servirá como plataforma para uma expansão futura, que irá brevemente até 5 MWp e tem capacidade de ir

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Energia Elétrica (Aneel), que é a usina solar localizada em Araras, em Rondônia. Estima-se que, hoje, a geração de energia solar fotovoltaica no País tem uma capacidade instalada de aproximadamente 18 MWp, em mais de 50 pequenas usinas, sendo sua maioria localizadas em centros de pesquisas, universidades e em empresas do setor elétrico. Entretanto esta capacidade ainda é uma parcela irrisória, se considerarmos que a atual capacidade de geração de energia elétrica do País é de 109.800 MWp de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

pa, Estados Unidos e Japão. Sem uma tarifa incentivada, como ocorreu com a eólica e ocorre com as térmicas, principalmente no Norte do País, fica difícil atrair potenciais investidores. Apenas para ter uma idéia, quando se olha os planos de investimento da EPE, não existe nada planejado para solar. É necessário que o Brasil pense em energia solar como uma aplicação em sua matriz energética”, completa. Segundo Granadeiro, a esperança para o setor de energia solar está no Projeto de Lei 630, já aprovado em comissão especial na Câmara dos Deputados, que

É necessário que sejam estabelecidas políticas e condições regulatórias que viabilizem os investimentos necessários, em condições de igualdade com as demais tecnologias de geração atualmente empregadas até 50 MWp”. Painéis fotovoltaicos aproveitam os altos níveis de insolação e radiação, ocupando o cenário isolado e deserto de Tauá por equipamento para transformação de energia solar em elétrica. O primeiro empreendimento de energia solar da MPX Solar recebe investimento de R$ 10 milhões e deve estar concluído ainda em 2010. A primeira usina solar brasileira será interligada ao sistema elétrico da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). O equipamento vai ampliar a participação da fonte solar na matriz energética brasileira. No Brasil, ainda há uma dificuldade de ter números representativos do real mercado solar. Por exemplo, apenas um projeto é outorgado pela Agência Nacional de

O desenvolvimento da matriz solar ainda depende de incentivo governamental. De acordo com Tamke, para a usina de Tauá alcançar a potência de 50 MWp, “é necessário que sejam estabelecidas políticas e condições regulatórias que viabilizem os investimentos necessários, em condições de igualdade com as demais tecnologias de geração atualmente empregadas”. O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Energia Renovável (ABEER), Antônio Granadeiro reforça este discurso. “A energia solar ainda é muito pouca utilizada no Brasil”, afirma. “É um mercado de pouco mais de 1 MWp. Todos os sistemas são isolados, como o Luz para Todos. Não existem tarifas incentivadas como na Euro-

se encontra em análise na mesa diretora. “Com este PL aprovado pelo Congresso, o Brasil entrará no mercado de energia solar com grande potencial. Este projeto de lei prevê a instalação de 100 MWp por ano, nos próximos 10 anos, a partir de 2011. Ainda estabelece uma tarifa diferenciada da ordem de 450% o valor do VR”, explica. Os principais argumentos para se investir em energia solar no Brasil, segundo o presidente da ABEER, são ambientais e econômicos. “A energia solar é uma energia limpa, sem poluição para a natureza. É uma energia abundante. Pode ser gerada no local do consumo, evitando perdas de transmissão. Permite que se economize água nos reservatórios das hidroelétricas para ser usada no período de es-


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O VR (Valor Anual de Referência) é utilizado na valoração das penalidades por Insuficiência de Lastro para Venda de Energia Elétrica e Insuficiência de Cobertura de Consumo. O VR 2010 é de R$ 145,41, conforme Ofício nº 012/2010-SEM/Aneel, de 14 de janeiro de 2010, enviado à CCEE.


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capa potencial solar tiagem. Ao contrário das térmicas emergenciais, que temos que pagar mesmo quando não geram energia, pois o sistema totalmente a base de hidroeletricidade não é 100% confiável”. O cenário internacional mostra que a energia solar, a partir de painéis fotovoltaicos, continua sendo o setor que mais apresentou crescimento. Somente em 2008, o parque gerador mundial teve um incremento de cerca de 70%, atingindo 15,8 GWp, o que equivale a pouco mais de uma usina de Itaipu. Segundo dados do Worldwatch Institute, a capacidade mundial instalada, no final de 2009, já era de, aproximadamente, 21 GWp. Granadeiro acredita que o incentivo não está relacionado apenas aos recursos financeiro. “A questão não é investimento. Falta no Brasil uma política pública para atrair o investidor. Hoje, a eólica já conta com investidores nacionais e estrangeiros, pois existe uma política estabelecida, uma regulamentação tarifária que remunera o investimento. Solar ainda não possui isto. Alguns ministros e candidatos ainda pensam que energia solar é coisa de país rico. Com exceção da Mariana Silva, quem mais falou de energia renovável em seus programas de governo”. De acordo Granadeiro, falta uma política energética que trate seriamente da energia solar. “Falta uma decisão de governo que insira esta energia na matriz energética brasileira. O Brasil foi o primeiro País em desenvolvimento a ter uma indústria solar no início da década de 1980. Hoje importa-se módulos da Argentina”, dispara. Além da usina solar da MPX, há outra em fase de desenvolvi-

mento e próxima de entrar em operação. Esta tem base acadêmica. O professor da Universidade de São Paulo (USP), Celso Oliveira, coordenador do grupo de pesquisa em Eficiência Energética e Simulação de Processos, garante que projetos de pesquisa estão na fase de operacionalização do piloto e também pré-comercial. Trata-se de investigações científicas do Grupo de Pesquisa em Eficiência Energética e Simulação de Processos (Green) que ele coordena. “Estamos em fase adiantada para a construção de uma planta no Rio Grande do Norte e temos contato com alguns grupos que tem interesse em investir no Brasil, como a Solinova que mantém um projeto com a Agência Aero Espacial Alemã (DLR). Ele destaca, porém, que ainda existem “muitas indefinições”, sem um marco legal para o setor. O presidente da Abeer certifica que o aproveitamento da iluminação natural e do calor esbarra na ausência de estímulo público. Assim, a iniciativa privada concentra seus esforços e investimentos em outros países, entrando no Brasil com a comercialização de painéis para sistemas isolados ou para o consumo de energia de grandes empresas, como hotéis e shopping centers. Sem fabricar as placas fotovoltaicas, o Brasil importa de marcas como Kyocera, Sharp, Siemens, Sanyo e SS Solar. Há, no entanto, uma expectativa quanto à participação do País na geração de energia solar por conta da potencialidade desta fonte e por abrigar a maior reserva de quartzo do mundo, de onde se extrai o silício, usado nas células solares.


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Energia através do Sol A energia solar é encontrada indiretamente em quase todas as fontes de energia - hidráulica, biomassa, eólica, combustíveis fósseis e energia dos oceanos. Afinal, o que é energia solar? É o aproveitamento de uma parcela da energia de radiação recebida pela Terra do Sol, que utilizamos para transformar em calor ou eletricidade com fins úteis à humanidade. Três grandes grupos de tecnologias se enquadram nesta definição: painéis para aquecimento de água e ar (com o uso de coletores solares térmicos), painéis fotovoltaicos, e sistemas de energia solar concentrada ou energia solar de alta temperatura. Cada sistema tem diferentes características, usos e custos, sendo o estudo de cada um de seus parâmetros alvo de pesquisas científicas em várias instituições do Brasil e do estrangeiro. A geração de energia elétrica através de energia solar dá-se, apenas, por dois processos: direto, através das células fotovoltaicas (PV), e indireto, através de concentradores solares (CSP). Sendo a mais comum o uso de painéis fotovoltaicos. A tecnologia fotovoltaica foi desenvolvida primeiramente para uso espacial como fonte de energia para satélites espaciais e, ao longo do tempo (e com o domínio da tecnologia e seu ba-

rateamento), foi sendo utilizada em grande escala, principalmente pelos países da Europa. Estes painéis são compostos por várias células de silício (na maioria), que após um complicado processo industrial produz eletricidade quando exposto ao sol. As células solares possuem uma grande quantidade de elétrons livres que, ao serem excitados pela incidência de radiação solar, “liberam” esses elétrons gerando corrente elétrica. O custo de uma instalação fotovoltaica no Brasil é de aproximadamente R$ 26.000/ KWp, segundo a Solar Brasil, uma das pioneiras no mercado solar fotovoltaico e distribuidores da empresa Kyocera.

Energia solar fotovoltaica é obtida através da conversão direta da radiação solar em eletricidade de corrente contínua 12VCC.

Fonte: professor Luiz Guilherme Meire de Souza, da UFRN; professor Celso Oliveira, da USP, e Otacilio Leandro de Menezes Neto, do INPE.


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Pouco incentivo, enorme potencial O Brasil ainda tem que aprender a lição de outras nações. Alemanha e Espanha, por exemplo, com clima temperado, territórios muito menores e vários meses cobertos de neve, produzem mais energia solar do que o Brasil. A Alemanha é pioneira na Europa no incentivo ao uso da energia solar, com um programa federal que subsidia a produção. No final de 2009, a solar fotovoltaica possuía uma capacidade instalada de 8.877 MWp; atendendo a demanda de, aproximadamente, 1,1% da energia elétrica consumida no País. Sem contar com mais 7.766 MW de solar térmica. Além disso, emprega, direta e indiretamente, mais de 79 mil pessoas. Vale salientar, que o nível médio de irradiação solar é praticamente a metade do observado em algumas regiões brasileiras. No Brasil, o uso da energia solar ainda se resume, em grande parte, a aquecedores para água de chuveiro. O uso de sistemas fotovoltaicos para produção de eletricidade é considerado bastante limitado. Mas o potencial é enorme. Segundo o Greenpeace, o Brasil tem um potencial nessa área duas vezes maior do que a Alemanha, que é o maior produtor de energia solar do mundo. Segundo o Atlas Solarimétrico, se apenas 5% de toda esta energia fosse aproveitada, toda a demanda brasileira por eletricidade poderia ser atendida. Do litoral leste do Ceará até o norte de Pernambuco, passando pelo oeste do Rio Grande do Norte

e por mais da metade da Paraíba, estende-se uma faixa que recebe, em média, 8 horas diárias de insolação, segundo o Atlas de Energia Elétrica do Brasil. Este índice também se aplica a uma área que vai do Centro do Piauí e atravessa a Bahia. Em relação à radiação solar diária, a média anual é de 20 MJ/m² numa porção que vai do sul do Rio Grande do Norte, percorre grande parte da Paraíba e termina no norte do interior de Pernambuco. E de 18 MJ/m² em todo o Mato

Grosso do Sul até o Rio Grande do Norte, o que insere toda a Bahia, Piauí, Ceará, Sergipe, Alagoas e restante do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Esse indicador varia de 6 a 24 Mj/m², e está relacionado a médias diárias de insolação de 3 a 10 horas, respectivamente. Estes dados são provenientes do Atlas Solarimétrico do Brasil, e constam de estudos elaboradores pela ANEEL. Estes estados, com destaque para o Nordeste brasileiro, apre-


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A principal condição de se aproveitar a energia solar é a presença de radiação solar na quantidade e qualidade adequada ao uso que se quer dar a ela. sentam também outras condições para abrigar projetos de energia solar, como a baixa nebulosidade e a latitude. Estes fatores indicam as condições solarimétricas. O professor da USP especifica: “A principal condição de se aproveitar a energia solar é a presença

de radiação solar na quantidade e qualidade adequada ao uso que se quer dar a ela. Assim, por exemplo, os painéis fotovoltaicos (que transformam diretamente energia luminosa em eletricidade) são usados em satélites espaciais bem como em regiões da Amazônia.

Desta forma, fica fácil ver que as condições do uso final (aquecimento ou eletricidade, ou ambos) determinam a tecnologia a ser utilizada e esta permitirá estudar sua viabilidade técnica e econômica para a localização que se pretenda instalar”. Para o físico Otacílio Leandro de Menezes Neto, doutorando em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), praticamente em qualquer região do País pode-se usar painéis fotovoltaicos para geração de eletricidade. “É o caso de algumas comunidades isoladas na Amazônia”, cita. “Entretanto, regiões desérticas ou áridas são ideais para a construção de grandes plantas fotovoltaicas, devido a pouca presença de nuvens. O fator que mais influência a produção de energia (via conversão fotovoltaica) é a presença de nuvens. As nuvens, principalmente as profundas ou de chuva, atuam como refletores e absorvedores da radiação que chega do Sol, impedindo que a radiação chegue de forma direta, ou seja, sem nenhuma interferência”. Outro fator, diz o físico, que favorece a quantidade de energia solar incidente é a latitude. “Quanto mais perto da linha do Equador melhor, pois os raios solares irão incidir quase que perpendicularmente. Nas regiões equatoriais a duração do dia quase não varia, fazendo com que o número de horas com sol seja mais ou menos o mesmo ao longo do ano”.


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capa potencial solar

Uma tecnologia para cada região Celso Oliveira, professor da USP, ressalta a escolha da tecnologia por região. “Painéis para aquecimento de água podem ser encontrados desde o Sul ao Nordeste do País, o mesmo ocorrendo com painéis fotovoltaicos”, exemplifica. “Já para tecnologia de concentração solar (CSP), o parâmetro mais crítico é a existência de boas condições de radiação solar direta, sendo neste caso as regiões Nordeste e Centro do País as mais privilegiadas por terem menos dias nublados”. No Nordeste brasileiro, o professor Luiz Guilherme Meire de Souza da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde é chefe do Laboratório de Máquinas Hidráulicas e Energia Solar, aponta o Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba como os melhores locais para projeto de energia solar. De acordo com ele, a região conta com baixo índice pluviométrico na maior parte do ano, significativo número de horas de sol visível, maior intensidade de radiação solar, baixa nebulosidade e clima quente. Otacílio emenda: “No Brasil, as regiões do interior do Nordeste são bem favoráveis ao uso da energia solar, por ser climatologicamente favorável (pouca chuva e consequentemente poucas nuvens) e ainda ser uma região carente de infra-estrutura básica. A infra-estrutura local também deve ser levada em conta, pois o transporte de energia elétrica ao longo

de grandes distâncias por meio de fios de alta tensão causa muitas perdas devido ao chamado efeito Joule, onde a energia elétrica é dissipada na forma de calor”. Para falar de outros países, o físico aponta o sudeste dos Estados Unidos, o norte do Chile e do continente africano, regiões entre a Arábia Saudita, Oman e Yemen, parte da China e noroeste da Austrália como lugares atrativos para geração de energia solar. Ele também faz a comparação com outros países em relação às maiores plantas fotovoltaicas instaladas no mundo. Em um ranking que mostra as 50 maiores plantas, em primeiro lugar está a usina de Olmedilla, na cidade espanhola de Castilla, com 60 MW de potência de pico, 270 mil painéis e 85 GWh gerados por ano. E, na sequên­ cia, dois empreendimentos na Alemanha, o Strasskirchen com 54MWp e o Turnow-Preilack, com 53MWp. Ainda na Espanha, está a planta Puertollano, também em Castilla, com 50 MW de potência de pico instalada por 400 módulos e produzindo energia para 39 mil residências. Portugal entra nesta lista com a usina Moura, em Alentejo, com 46MW de potência de pico instalada. Diante destes números, revelase que a tecnologia fotovoltaica é a mais utilizada no mundo, não sendo diferente no Brasil. Em segundo lugar aparece a geração por concentração solar. De acordo com o professor Luiz Guilherme, o

que favoreceu a escolha preferencial por estes modelos foi o apelo ambiental, apesar de ambos ainda apresentarem uma eficiência muito menor que a energia elétrica gerada por fonte hidráulica. “Mas, devido aos países desenvolvidos, em sua maioria, não apresentarem potencial hídrico para essa via de geração, utilizando energias baseadas em combustíveis fósseis, essas opções de transformação da energia solar em elétrica têm sido buscadas como forma de minimização dos graves problemas ambientais gerados pelas fontes convencionais fósseis”, explica Celso Oliveira acrescenta que os sistemas mais utilizados são os aquecedores domésticos de água, sendo cada vez mais comuns nas cidades brasileiras e em vários paí­ ses. “A aplicação de sistemas fotovoltaicos também tem crescido muito”, completa. Ele lembra os pequenos sistemas em aparelhos do cotidiano como calculadoras sendo as mais comuns. Sobre o fotovoltaico, ele destaca que seu uso para geração de eletricidade a fim de suprir necessidades residenciais ou geração em grande escala é estimulado em poucos países, como Espanha, Alemanha ou EUA. Já sistemas de concentração são ainda poucos utilizados, pois sua aplicação é para geração elétrica de médio e grande porte. As usinas solares de concentração podem ser encontradas na Espanha e no Estados Unidos, principalmente.


A força do Sol no mundo Os pontos pretos indicam as regiões mais favoráveis para instalação de plantas com painéis fotovoltaicos, que transformam diretamente energia luminosa em eletricidade. Ainda no mapa, os números indicam a potência de pico dos principais parques solares do mundo

1

60 MW Parque Fotovoltaico Olmedilla, Espanha (270 000 módulos e 85 GWh/ano) 4

2

54 MW Parque Solar Strasskirchen, Alemanha

50 MW Parque Fotovoltaico Puertollano, Espanha (400 000 módulos para o consumo de 39 000 lares)

25 MW Arcadia, Estados Unidos

5

50

100

150

53 MW Parque Fotovoltaico Turnow-Preilack, Alemanha

46 MW Usina Fotovoltaica Moura, Portugal

24 MW Montalto di Castro, Itália 23.4 MW Sarnia, Canadá

0

3

24 MW Sinan, Coréia do Sul 20 MW Xuzhou City, China

200

250

300

350

W/m2

Σ

= 18TWe

Infográfico: Gerardo Júnior sob imagem de Matthias Loster

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capa potencial solar

Alternativas em solar Algumas residências do Brasil já trocaram o chuveiro elétrico por aquecedor solar. Entretanto, atualmente, cerca de 67% dos lares brasileiros ainda possuem chuveiro elétrico (aumentando para mais de 90% nas regiões Sul e Sudeste). Essa demanda consome aproximadamente 8% de toda a eletricidade produzida no País. Isso porque este tipo de chuveiro é responsável por entre 18% a 25% do pico de demanda do sistema elétrico. Em uma residência, o uso de aquecimento elétrico de água pode representar mais de 30% da conta de energia. As vantagens do uso de aquecedores solares estão na redução do consumo no pico de demanda do sistema elétrico (das 18 às 21 horas), do investimento em sistemas de distribuição e na oferta de eletricidade, aumento da qualidade da energia elétrica fornecida, diminuição da poluição local gerada por termoelétricas, dos impactos ambientais da instalação de hidrelétricas e da emissão de gases estufa (mesmo em matrizes energéticas relativamente limpas, como a brasileira). São em geral produzidos por empresas de pequeno e médio porte e geram mais emprego por unidade de energia que fontes convencionais centralizadas. Uma das principais barreiras aos aquecedores solares é ainda o alto custo de instalação. Uma casa de classe média (com 3 moradores, por exemplo) te-

ria um gasto aproximado de R$ 3.000,00 para instalar um sistema de aquecimento solar. No entanto, bancos já estão proporcionando linhas de crédito para este tipo de instalação. Outras barreiras seriam as dificuldades no financiamento, a prevalência de outras tecnologias (chuveiros e aquecedores a gás), o desinteresse do setor elétrico (desverticalização), os códigos de obra municipais pouco amigáveis e o relativo desconhecimento da tecnologia. Aquecedores solares no mundo

País

m2 /100 habitantes

Israel

67,1

Áustria

17,5

Japão

7,9

Alemanha

5,1

China

3,2

Brasil

1,2

EUA

0,1

Fontes: Vitae Civilis e International Energy Agency

No mundo, há um aumento significativo do aproveitamento da energia solar. No Brasil, ainda é preciso um investimento muito maior, deixar de ser apenas marketing político. Falta prioridade para uso da energia solar


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A escolha da tecnologia Uma determinada tecnologia é escolhida, segundo o professor da USP, pela necessidade final, que pode ser aquecimento ou geração de eletricidade ou ainda as duas na chamada cogeração. O segundo passo é a análise econômica do sistema. “Os painéis planos para aquecimento de água nas residências estão se disseminando no Brasil devido à queda no custo de produção e é um sistema que está se consolidando na certificação de equipamentos e instaladores. A tecnologia está trazendo confiabilidade para o consumidor e contribuindo para redução do consumo de eletricidade ao retirar o chuveiro elétrico do sistema”, compara. Segundo Oliveira, a tecnologia fotovoltaica é atualmente muito aplicada a sistemas isolados (consumidores não conectados a rede elétrica convencional). Seu uso ficou, por exemplo, em rodovias onde diversos pontos com centrais de comunicação são alimentados por sistemas fotovoltaicos. “Já a energia solar de alta temperatura ainda não tem aplicações práticas no Brasil devido à falta de um política pública para o setor, mas num futuro muito próximo o Brasil irá fazer uso desta tecnologia”, opina. Otacílio concorda que o sistema de conversão fotovoltaico é o mais utilizado, mas ressalta que embora outros sistemas como torre solar começam a se tornar viáveis, com uma unidade já construída na Espanha. Para o físico, a desvantagem desses sistemas é o custo associado que ainda é muito grande se comparado com o custo da energia hidroelétrica, por exemplo. “Falta produção em larga escala a fim de baixar os custos para

produção dos painéis fotovoltaicos”. Luiz Guilherme segue posicionamento semelhante. “No mundo, há um aumento significativo do aproveitamento da energia solar. No Brasil, ainda é preciso um investimento muito maior, deixar de ser apenas marketing político. Falta prioridade para uso da energia solar”. Oliveira defende que, para inserção da energia solar no sistema brasileiro, é necessária uma política pública de incentivos a exemplo do que ocorreu com a fonte eólica no Programa de Incentivo as Fontes Alternativas (Proinfa). “Acredito que o investimento em sistemas fotovoltaicos está fortemente condicionado a existência no País de fabricantes de painéis e células, o que ocorrerá a partir de um marco regulatório adequado ao setor. Já para sistemas de alta temperatura, acredito que o processo de desenvolvimento e absorção da tecnologia pela indústria nacional deve ser mais simplificado já que a maioria dos componentes pode ser fabricada no parque industrial brasileiro. O problema é a necessidade de investimentos elevados para uma tecnologia ainda desconhecida no País. Assim, iniciativas de plantas piloto serão uma etapa fundamental para sua efetiva aplicação”. Os três estudiosos são unânimes ao confirmar que a questão climática influi na montagem dos sistemas. “As mudanças climáticas são o principal ponto do incentivo a introdução em maior escala da energia solar tendo em vista que todas as tecnologias abordadas são de baixa emissão, gerando eletricidade e calor de forma limpa e sem emissão de gases de efeito estufa”, explica Celso Oliveira.


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capa potencial solar

Fazendo as contas O professor da UFRN afirma que nos Estados Unidos o custo médio do KWh gerado por células fotovoltaicas é de 16 centavos de dólar e através de concentradores 18 centavos de dólar, enquanto que por energias convencionais é de seis centavos de dólar. O pesquisador da USP tenta explicar os cálculos para a realidade brasileira. “Para as tecnologias de geração de eletricidade este custo é muito variável, pois o kWh gerado dependerá da radiação recebida, porém pode dizer que por enquanto este custo ainda é elevado para a maioria dos sistemas. O sistema de energia solar concentrada leva a vantagem de poder diluir este custo com a produção de calor em cogeração. Pode-se falar em números gerais da ordem de R$ 240 a R$ 350 por kW, porém deve-se levar este número com muito cuidado analisando a competitividade do local da instalação”. Para Oliveira, os benefícios econômicos apresentados pelos sistemas solares ainda são questão de estudo. “Os de alta temperatura, por exemplo, podem ter como produtos a eletricidade, calor e frio (por schiller de absorção e créditos carbono, certificados ou não). O sistema é positivo do ponto de vista econômico, ambiental e social, já que toda a cadeia pode ser geradora de empregos e renda”. O físico do Inpe revela outro lado para esta conta. “Apesar do alto custo inicial para instalação de um sistema fotovoltaico, este

apresenta uma vida útil de mais de 20 anos, com baixa manutenção”, afirma Otacílio. No Brasil, o mercado voltado para a produção de energia a partir da radiação solar está concentrado no aquecimento de água para residências. Diretamente não gera energia, mas pode economizar muito. Boa parte do consumo brasileiro de energia está relacionado a aquecimento de água. Segundo Luiz Guilherme, no que diz respeito às tecnologias para geração de energia elétrica, não existe mercado consolidado no País. Oliveira diz que é fácil constatar que as principais formas de aproveitamento da energia solar encontram-se em diferentes estágios de desenvolvimento em nossa realidade. “Para o aquecimento de água em uso doméstico, se encontra em fase avançada de consolidação, com vários fabricantes de equipamentos alinhados e metodologias de certifica-

do desafio da constituição de um marco regulatório e da consolidação da cadeia de base industrial nacional para assumir seu papel como fonte de geração de eletricidade capaz de contribuir de forma mais concreta na diversificação da matriz energética brasileira. “A tecnologia de concentração solar necessita fortemente de financiamento em pesquisa e desenvolvimento, incluindo a instalação de plantas piloto para demonstração do potencial real em condições de ambiente e de mercado energético nacional”, opina Oliveira. Enquanto outros países apresentam projetos robustos, o Brasil desenvolve lentamente a cadeia produtiva da geração de energia solar e concentra os maiores esforços na pesquisa acadêmica. Só o laboratório de energia solar da UFRN já apresentou mais de 20 dissertações de mestrado e algumas teses de doutorado na área social. São fogões e fornos sola-

Apesar do alto custo inicial para instalação de um sistema fotovoltaico, este apresenta uma vida útil de mais de 20 anos, com baixa manutenção

ção já definidas”. Já o aproveitamento de sistemas fotovoltaicos, que possui várias aplicações no País, com destaque para os esforços no campo, ainda se encontra diante

res, sistemas para aquecimento de água, destiladores solares, secadores solares, concentradores solares e outras. São mais de uma centena de trabalhos publicados e todos esses estudos estão à dis-


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posição da comunidade para que o repasse de tecnologia possa ser operacionalizado. “As viabilidades de tais projetos já foram demonstradas e outros estão em processo de levantamento de desempenho. O que falta é investimento em áreas capazes de minimizar a emissão de poluentes e a energia solar térmica é uma alternativa capaz de propiciar um desenvolvimento auto-sustentável. Temos uma experiência de 30 anos na área de energias renováveis”, explica o professor Luiz Guilherme. O professor da USP revela igual cenário. “No Brasil, várias iniciativas estão sendo tomadas para geração de eletricidade por meio de painéis fotovoltaicos e plantas piloto de concentração.

Porém, pela ausência de um ambiente de negócios mais seguro, ainda não se pode falar de um direcionamento do mercado para grandes centrais. No entanto, os sistemas fotovoltaicos têm um mercado já consolidado para sistemas isolados”. Oliveira diz que todas as tecnologias de energia solar são objeto de estudo no País com grupos de destaque em várias regiões. Vale citar o Centro de Referência em Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito (Cresesb/ Eletrobras) o qual, no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), mantém uma casa solar e várias soluções de uso de energia solar podem ser vistas. Sistemas de geração de maior porte ainda carecem de centros

de demonstração. O Grupo de Pesquisa em Eficiência Energética e Simulação de Processos tem trabalhado com a Solinova e parceiros internacionais para construir as primeiras plantas piloto de concentração solar do Brasil. É nesta fase de pesquisas acadêmicas e projetos pilotos que o Brasil desenvolve sua produção de energia solar. Os três pesquisadores apostam no crescimento. Luiz Guilherme diz que a perspectiva é de que os governos passem a implementar grandes usinas solares uma vez que é imprescindível a mudança das formas de energia para as energias ecologicamente sustentáveis. Otacílio diz que é difícil fazer projeções a longo prazo, mas acredita que investimentos nessa área cresçam bastante e que toda a sociedade passe a usar cada vez mais fontes renováveis e não desperdicem energia. Celso Oliveira projeta que a energia solar deve ser a próxima fonte de importância a ser inserida na matriz energética nacional. “Atrevo-me a dizer que nos próximos 20 anos, a energia solar pode chegar a responder por 2% do total da energia gerada no País”, prevê. “Os sistemas de geração fotovoltaica a partir de algas ou sistemas de concentração com uso consorciado de biomassa me parecem os principais modelos de futuro por promoverem um melhor rendimento em relação à área e ao aproveitamento racional dos recursos locais”.


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especialista ENTREVISTA

ALTINO VENTURA

“Solar ainda não é alternativa comercial” O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, fala sobre o planejamento energético adotado pelo Brasil, onde a fonte solar ainda não é vista como viável na matriz


Ministério de Minas e Energia / divulgação

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ltino Ventura Filho, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, do Ministério de Minas e Energia, foi diretor técnico de Itaipu Binacional e presidente da Eletrobrás. Formado em Engenharia Elétrica, é defensor da exploração dos rios para gerar energia por hidrelétricas. Afasta a geração por energia solar, a princípio, porque não há viabilidade comercial atualmente. Nesse sentido, o caminho do setor solar ainda depende de projetos pilotos e pesquisas. Esse posicionamento deve-se ao planejamento energético adotado pelo Brasil, que passa por políticas e diretrizes de longo prazo e pelo programa de obras. O Brasil será, de acordo com a previsão, um canteiro de obras para a área de energia, com destaque para hidrelétricas, eólica e biomassa. Todos os encaminhamentos governamentais estão voltados para a diversificação da matriz energética, valorizando a participação das fontes renováveis. Petróleo e derivados, carvão e gás possuem espaço na planilha de investimentos, além da energia nuclear, que é considerada limpa, mas encontra oposição por conta do risco de contaminação, em caso de acidente. Altino explica ainda o processo de licenciamento ambiental e o exemplo que o Brasil dá ao mundo em geração de energia. Renergy - O que o Brasil está fazendo para atrair investidores à energia solar? Altino Ventura - A conversão de energia solar em energia elétrica passa por dois caminhos distintos, um, pelas células foto-

A

voltaicas e outro, que quem está na frente é a Espanha, que são as tecnologias parabólica e torre central. Essas não são competitivas com outras opções para o caso brasileiro. A célula fotovoltaica tem um custo de energia superior ao que pode ser produzido com hidráulica, eólica, nuclear. A ordem de grandeza dessa usina é duas a três vezes mais cara que outras que o país tem. Entrar comercialmente depende de uma política tarifária. O ministério desenvolveu um grupo de geração fotovoltaico, que chegou

Aproveitar calor em energia elétrica está longe de ser competitivo. à conclusão de que o custo é elevado. Fazer experiência piloto, colocar junto aos consumidores, integrar na rede de comercialização. E quando não está usando a energia produzida, como vai vender? Teria que organizar institucionalmente. Precisa de mais instalação, testar numa experiência piloto. A energia solar tem sido usada em áreas isoladas, pequenas comunidades, como a experiência do “Luz Para Todos”. Para crescer, é importante que os preços caiam, uma redução grande de custo, expectativa, espaço que terá ampla possibilidade de usar. A indústria de equipamentos no Brasil é um ponto fundamental. Aproveitar calor em energia elétrica está longe

de ser competitivo. Energia solar tem seu espaço em aquecimento doméstico para baixas temperaturas. Uma solução competitiva tem que ter mercado. Transformar energia solar em energia elétrica não é competitivo porque temos outras opções. R - O objetivo do Plano Decenal, como se comenta no mercado, é trabalhar com um percentual de 30% de fontes renováveis? AV - Esta é uma informação equivocada. No PDE 2010-2019, a oferta interna na matriz total, a parcela de fontes renováveis, em 2010, é de 47,2%. Passa para 48,4% em 2019, aproximando-se da ordem de 50%, metade da energia total. Na matriz de energia elétrica, as fontes renováveis alcançaram 90% em 2009, mas este percentual cai para 86% em 2019. A pequena redução resulta da política de diversificação da matriz, com biomassa, eólica, complementações de térmicas, nuclear, gás natural e derivados de petróleo. A redução é absorvível. No mundo, para se ter ideia, matriz de energia global, utiliza 13% de fontes renováveis e 18% para energia elétrica. R - Qual a prioridade do PDE? Qual a perspectiva para os próximos 10, 20 anos para a matriz energética do Brasil? AV - Planejamento do setor energético se desenvolve em duas vertentes distintas. O planejamento estratégico de longo prazo, que visa identificar o cenário econômico e como o país vai atender a isso: fontes, exportação e importação. Elabora as políticas energéticas, diretrizes para


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especialista ENTREVISTA

ALTINO VENTURA

desenvolver o sistema energético, define programas, como o nuclear e o de biocombustível. É feito a cada 3 anos, à medida que mude o contexto. Outra vertente são os programas de obras, um trabalho anual sobre as hidrelétricas, térmicas, gasodutos, refinarias. Com isso, realizamos os leilões de energia. O importante é o planejamento prever expansão considerando as diretrizes, riscos do sistema e como avançar. Para 10, 20 anos, um horizonte de 2030, a política estabelece que a matriz energética tenha evolução levando em consideração a competitividade da fonte, características regionais. Primeiro, a matriz de energia continua com a participação de fontes renováveis. O petróleo, que hoje tem uma participação de 36%, deve passar para 22% em 2030. Também deve haver redução na participação de lenha e carvão vegetal de 11% para 5,5%, de derivados da cana de 17% para 19%. Para a energia elétrica, cuja política é de diversificar fontes, deve sofrer uma redução na hidreletricidade, que é predominante no país. Esta cai para 70%. Haverá crescimento da biomassa, gás natural, pequena elevação da nuclear com entrada de Angra III. Uma pequena redução da parte renovável por conta da diversificação da matriz, mas continua limpa, com prioridade de fontes renováveis, baseada na hidreletricidade, biomassa, eólica e PCHs. R - Os licenciamentos ambientais são entraves para o andamento de projetos hídricos e eólicos? O que deve ser feito neste sentido?

AV - Todo projeto de energia tem algum impacto ambiental, uns mais, outros menos. Nossa legislação é das mais rígidas que o mundo tem. O Brasil tem ecossistemas de grande valor, como o Pantanal, a Amazônia, os parque florestais, as reservas indígenas. O objetivo é preservar o meio ambiente. A eólica, por exemplo,

O Brasil é exemplo de ser o maior laboratório de energia do planeta tem impacto visual. O licenciamento passa pelas licenças prévia, de instalação e de operação. Esse licenciamento segue um processo de discussão com a sociedade, por meio de audiência pública. Leva um tempo compatível com exigências ambientais. Já o estudo de um empreendimento de hidreletricidade toma um certo tempo com segurança, enquanto estudo de impacto ambiental leva tempo maior que a engenharia. Não podemos dizer que é um entrave. Tem que ser cumprido. Pode levar um tempo maior que o setor energético precisa, mas precisa ser adotado e deve ser feito antes da decisão de construção. R - Em que fase está o Plano Nacional de Eficiência Energética? AV - É o primeiro do Brasil. Está em fase de detalhamento de ação para transformar em programa para ser implementado. Vem sendo discutido no PDE, como

o Procel, programa de governo voltado para a conservação de energia elétrica. R - Por que o Leilão de Fontes Alternativas não contempla energia solar? AV - Porque não é competitiva, não é uma alternativa comercial. R - Os leilões da EPE estão no caminho para diversificar a matriz energética do Brasil e elevar a participação de fontes renováveis? AV - Sim. São leilões variados, resultam das políticas baseadas no plano de energia, aprovadas no conselho nacional de política energética. É o resultado de fontes que se tornam competitivas e desenvolvem-se de forma sustentável. Caminha para diversificar a matriz brasileira. R - Além dos leilões, o que mais precisa ser feito, de forma governamental, para alcançar a diversificação da matriz energética do Brasil e elevar a participação de fontes alternativas? AV - Desenvolver projetos de pesquisa na área de solar, que pode se tornar uma fonte interessante. Incentivar a evolução tecnológica na área de eólica, atraindo vários fabricantes. Avançar na energia de biomassa, com investimento privado para dar mais eficiência e que tenha participação importante. Continuar a fazer estudos nas hidrelétricas, que tem potencial para se desenvolver. Nos próximos 20 anos, as novas hidrelétricas terão potencial de 80 mil MW. Isso com a construção da usina do rio Madeira e a de Belo Monte, que está decidida.


R - Belo Monte será a última usina na Amazônia? AV - Será a única no rio Xingu. A primeira no rio Madeira está em construção. O próximo passo é a usina da bacia do Tapajós, com previsão de desenvolvimento da usina no alto do Tapajós. No complexo São Luís, serão sete usinas hidrelétricas. A primeira já faz parte do Plano Decenal. O impacto é reduzido porque serão pequenas áreas inundadas. São usinas de plataforma, com preservação ambiental, cercadas por um parque nacional. R - Qual o exemplo que o Brasil tem dado para o mundo em relação à geração de energia limpa? AV - O programa do etanol, que começou a se desenvolver em meados da década de 1970, é o único de grande porte em combustível líquido renovável, não oriundo de petróleo. É um programa bem sucedido. É a segunda fonte do balanço energético. Em primeiro, está o petróleo. Além do etanol, o bagaço e palha queimados para gerar calor e projetos eficientes de cogeração. O potencial das fontes alternativas com hidrelétricas, biomassa, eólica. O leilão de reserva consolida esta alternativa. A longo prazo, a opção solar, dependendo da evolução de custo. O programa nuclear, com Angra III. As térmicas, com geração a partir de gás natural e carvão mineral. O Brasil é exemplo de ser o maior laboratório de energia do planeta, em tempos de problemas com as mudanças climáticas.


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na prática

Aquecedores Solares: um mercado em expansão O engenheiro e mestre em Gestão e Auditoria Ambiental, Carlos Faria, explica neste artigo como os aquecedores solares, uma tecnologia quase que inteiramente brasileira e que vem se integrando a políticas públicas e ações individuais, representam uma das boas alternativas para que a energia solar se torne um pilar na matriz energética por Carlos Faria


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energia solar vive um momento importante em todo o mundo e caminha em direção a sua maturidade. No Brasil, diversas políticas nacionais, estaduais e municipais vem evoluindo no sentido de ampliar a participação da energia solar na matriz energética. Podemos destacar o uso dos aquecedores solares de água, hoje tecnologia quase que inteiramente brasileira, presente no mercado há mais de 40 anos, e que vem se integrando às políticas públicas e às ações individuais e coletivas de líderes, construtores , arquitetos e da cadeia produtiva da energia solar. O mercado brasileiro de aquecedores solares vem crescendo nos últimos anos. Os números estimados apontam para uma área coletora total instalada de 5,2 milhões de metros quadrados de coletores solares, que atendem a aproximadamente 850 mil domicílios brasileiros. Este número, entretanto, é ainda muito pequeno e sinaliza para o real potencial do mercado brasileiro e exige um compromisso de nossos líderes com a formatação de políticas públicas eficientes que realmente incentivem o uso da energia solar. O País é hoje um dos poucos a contar com estrutura de dois la-

A

boratórios equipados com simuladores para ensaiar os produtos solares. Em 2010, os laboratórios, Green Solar, localizado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT-SP) estão passando por importantes reestruturações e deverão operar em carga plena a partir de 2011, atendendo às crescentes demandas do mercado. O programa Qualisol Brasil, do INMETRO, vem trabalhando no desenvolvimento de parâmetros para etiquetagem de fornecedores de sistemas de aquecimento solar A Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações (ABRINSTAL) vem trabalhando em um programa para avaliação da conformidade das instalações de aquecimento solar, através do Selo Sol. Nos últimos cinco anos, as normas brasileiras evoluíram junto com o programa de etiquetagem. A NBR 15569, publicada em 2008, estabelece as diretivas básicas de projeto, instalação e manutenção de sistemas de aquecimento solar. A NBR 15547, que deve entrar em vigor no início de 2011, aumentará ainda mais as exigências de qualidade dos produtos fabricados ou importados para o Brasil, estando compatível

com as normas internacionais. A expectativa é que as normas brasileiras continuem evoluindo dentro da CB55 da ABNT, com a conclusão da revisão das normas de ensaios de reservatórios térmicos e de sistemas de aquecimento solar de piscina. Além dos programas de qualidade, a formação de novos profissionais no mercado vem acontecendo através de diversas iniciativas, como a que une o Instituto Ekos, Studio Equinocio, GTZ e Procobre. Estes órgãos estão organizando cursos de capacitação na formação básica de projetistas de sistemas de aquecimento solar e novas publicações e cursos intermediários e avançados vem sendo desenvolvidos para atender a demanda de novos profissionais para o setor. Diferentes políticas públicas de incentivo ao uso dos aquecedores solares vêm se estabelecendo no Brasil. Desde 1998, os aquecedores solares são isentos de ICMS e IPI, incentivo importantíssimo para continuidade do desenvolvimento da tecnologia no país. Seguindo uma tendência mundial, várias cidades do Brasil, nos últimos cinco anos, adotaram legislações modernas que tornam obrigatório o uso dos aquecedores solares nas novas edificações.


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na prática

O aquecimento solar - que já é obrigatório em países como Espanha, Israel, Portugal, Uruguai, cidades da Itália, Alemanha, China, México e outros - também tornou-se obrigatório no Brasil, em cidades como São Paulo, Natal, Ribeirão Preto e Jundiaí. No Estado do Rio de Janeiro, os aquecedores solares são obrigatórios em todas as novas edificações públicas. Em dezenas de cidades brasileiras, projetos de leis solares tramitam nas diferentes esferas legislativas. Diante do cenário de sediar a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas em 2016, espera-se que em todas as cidades que serão sede da Copa, as lideranças municipais passem a exigir o aquecedor solar como padrão em todas as novas edificações residenciais, comerciais e industriais e que, nas Olimpíadas, o uso da energia solar seja também uma exigência legal. Nos últimos dez anos, cabe destacar o desenvolvimento dos aquecedores solares e suas aplicações em habitações de interesse social. São milhares de domicílios brasileiros construídos nos programas habitacionais que já contemplam a tecnologia. A solução do aquecedor solar acoplada a chuveiros mais “inteligentes” ganha espaço no mercado, buscando atuar na conscientização da sociedade sobre o uso racional de energia e água, contribuindo eficazmente para o crescimento do país. Em portaria editada pelo Ministério das Cidades, em fevereiro deste ano, os aquecedores solares passaram a compor, em algumas regiões do país, os termos de referência para as casas

construídas no programa “Minha Casa, Minha Vida”. E há a perspectiva de que o aquecedor solar se torne uma tecnologia padrão nas habitações construídas pelo governo a partir de 2011. A previsão é de que, somente neste ano, 40 mil habitações construídas pelo programa adotem os aquecedores solares, meta bem tímida perto das 400 mil casas projetadas para 2010. Apesar disso, a experiência tem proporcionado várias mudanças e evolu-

A previsão é de que, somente neste ano, 40 mil habitações construídas pelo programa adotem os aquecedores solares ções no mercado brasileiro, com o ganho de escala. A instalação de 80 mil metros quadrados de coletores solares em habitações de interesse social traz inúmeros benefícios para a sociedade. Os moradores reduzem suas contas de energia entre 30 e 40%, o que significa um real aumento de renda. Em algumas regiões do Brasil, a economia proporcionada pelos aquecedores solares representa um aumento de renda de mais de R$ 50,00 reais por mês, valor muito significativo para famílias que ganham entre um e dois salários mínimos. Além do evidente benefício para as famílias, os sistemas de aquecimento instalados no programa permitirrão uma redução da demanda de energia no país equiva-

lente à uma usina de 20 MW. Os benefícios são muitos. Proporciona uma economia para os cofres públicos em investimentos da ordem de 60 milhões de reais. Evita o alagamento de uma área de 4,5 milhões de metros quadrados para geração de energia elétrica. Reduz a emissão anual de mais de 2500 toneladas de CO2 na atmosfera do planeta. Além de gerar 2100 novos empregos verdes. O sinal do governo federal de tornar obrigatório o uso dos aquecedores solares em todas as edificações financiadas pelo governo sinaliza um cenário positivo que deve ser tratado com cuidado por todo o mercado, para que a energia solar se torne um pilar fundamental para o desenvolvimento do país. Com a continuidade das políticas públicas, associadas a uma educação da sociedade para a energia solar renovável e limpa, o Brasil continuará fazendo parte dos países que tem em sua matriz uma energia limpa, barata, renovável, que gera empregos e contribui para crescimento econômico, intimamente associado ao desenvolvimento ambiental sustentável. Carlos Faria é engenheiro mecatrônico, mestre em Gestão e Auditoria Ambiental com aplicação de Energias Renováveis pela Universidade de Leon, na Espanha. É presidente do Studio Equinocio / Solar Energy. É consultor da GTZ Agência de Cooperação Alemã, consultor da COELBA, grupo Neoenergia, e membro do Brasil na Sociedade Internacional de Energia Solar. Observador do Brasil em tarefas da Agência Internacional de Energia (IEA).


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novas tecnologias

Eletricidade do barulho Um novo aparelho, batizado de Green Noise, capta fortes ondas sonoras, como as produzidas pelas turbinas de aviões, e as converte em energia elétrica Imagens: Hung-Uei Jou / divulgação

uem poderia imaginar que poluição sonora poderia servir para algo, especialmente servir como base para produzir eletricidade? O designer japonês HungUei Jou desenvolveu o Green Noise, um conceito que promete gerar energia limpa a partir de fortes ondas sonoras. O aparelho, que ainda está na fase de protótipo, é uma espécie de alto falante cônico que capta som e o transforma em energia elétrica. A eletricidade produzida pode iluminar tanto o próprio equipamento como pode ser

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armazenada e canalizada para tomadas, servindo para gerar energia para outros eletroeletrônicos. A estrutura modular fica em uma base de fácil manutenção. Um visor indica a quantidade de ruído capturado e de energia convertida. Além disso, foi desenhado para suportar todo tipo de clima. A ideia do designer é testar a nova tecnologia em aeroportos, mais especificamente nas pistas. O atual sistema de iluminação, utilizado quase em todo mundo, gasta muita energia elétrica, já que todo avião necessita de luzes

para aterrissagens e decolagens. Por questão de segurança, os sinalizadores ficam 24 horas ligados. Segundo Hung-Uei, aeroportos são um dos locais mais barulhentos do mundo, e o ruído produzido pelas turbinas de um avião pode chegar até 120 decibéis. Como o aparelho é capaz de captar estas fortes ondas sonoras, estes decibéis seriam mais do que suficientes para produzir eletricidade. Essa energia armazenada poderia iluminar o aparelho e este servir como ponto de iluminação nas pistas.


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“Mc”Biodiesel Um projeto pretende transformar mais de três milhões de litros de óleo das cozinhas do McDonald’s em biodiesel. Além de contribuir para a melhoria da qualidade do ar, a iniciativa pode reduzir em até 40% a necessidade de compra de diesel da companhia

Ilustração: Gerardo Júnior

eficiência energética


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biodiesel tem funcionado como coadjuvante na redução de emissões de gases efeito estufa, principalmente quando usado no transporte público. Algumas iniciativas privadas agora surgem para também contribuir para a me­ lhoria da qualidade do ar. É o caso do projeto que usa o óleo de cozinha utilizado na fritura de batatas e empanados da rede McDonald’s. Os três milhões de litros de óleo, que antes eram reciclados e encaminhados à fabricação de sabão, começam a ser transformados em biodiesel e serão reutilizados pela própria empresa nos caminhões de sua frota de distribuição de produtos alimentícios. “Baseado no nosso consu­ mo, nós poderíamos reduzir a emissão desses gases (estufa) em aproximadamente 26%, ao mesmo tempo em que conse­

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guiríamos obter o biodiesel com um custo abaixo ao do óleo diesel vendido no mercado”, explica José Augusto Rodrigues dos Santos, diretor da Martin-Brower, responsável pela logística e distribuição da rede. O resíduo do óleo de fritura produzido pelas lanchonetes, quando o programa for estendido para toda a rede, será suficiente para produzir até dois milhões de litros de biodiesel por ano. Redu­ zindo assim o equivalente a 40% da necessidade de compra de diesel que a frota consome. O programa nacional, que poderá ser adotado pela matriz nos Estados Unidos, é resultado de cerca de três anos de pesquisa. O projeto foi comandado pela Martin-Brower e pela dona das franquias na América Latina, a Arcos Dourados. E ainda envolve nove parcerias, entre elas, a Shell e a Volkswagen.

Atualmente, ainda em caráter experimental, o projeto utiliza-se do óleo produzido em 20 restaurantes de São Paulo e transforma entre dois e três mil litros de biodiesel por mês. A frota em teste é composta por quatro veículos, que rodam com o B20 (20% de biodiesel e 80% de óleo mineral) ou com B100 (onde se utiliza 100% de biodiesel). A expectativa é de que o programa seja adotado em todas as 585 lojas da rede brasileira até o próximo ano. O passo seguinte seria ter, no próprio centro de distribuição, uma usina de conversão de óleo de fritura em biodiesel, não precisando mais produzi-lo externamente, como acontece hoje. Sendo assim, segundo Santos, fechar definitivamente o ciclo: entrega, retirada do óleo, transformação de óleo em biodiesel e utilização, voltando novamente à entrega.

Biodiesel vindo da sua cozinha Segundo recente levantamento feito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a pedido da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), mais de 50 milhões de litros de óleo de cozinha são jogados, anualmente, na rede de esgoto. Este velho hábito, que equivale a 93% do total de óleo usado somente na região metropolitana de Fortaleza, gera constantes problemas no sistema de esgoto, como obstruções da tubulação, além de aumentar o risco de poluição de cursos de água. O projeto pretende aproveitar o óleo de cozinha como matéria prima na geração de biocombustível alternativo. O óleo

residual seria separado por filtragem e misturado a óleos provenientes da agricultura familiar. Segundo o estudo, seria possível obter até 4,7 milhões de litros de óleo por mês que, se vendido, poderia movimentar até R$ 9 milhões por ano. Todo o processo poderia ser feito na Usina de Biodiesel de Quixadá, cidade a 167km de Fortaleza, que pode processar até 108 milhões de litros de biodiesel por ano, mas trabalha com capacidade ociosa exatamente por falta de matéria prima. Está sendo estudado o esquema de coleta, que pretende envolver políticas de parceria e responsabilidade social.


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Aerogeradores para ventos brasileiros Em vez de adaptar, empresas pensam em criar um aerogerador específico para as usinas instaladas no Brasil. Será que isso é viável?

Ilustração: Gerardo Júnior

eólica


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stá mais do que comprovado que algumas regiões do Brasil possuem condições singulares de vento. Muito além dos altos valores de velocidade média anual, são observadas outras características que propiciam grandes vantagens ao desempenho operacional dos aerogeradores, como a unidirecionalidade dos ventos, os baixos níveis de turbulência e dos gradientes verticais observados no litoral. E estas vantagens podem ser potencializadas com algumas adaptações aos projetos construtivos destas máquinas. Mas até onde estas adaptações são viáveis? O mercado brasileiro já está suficientemente consolidado para justificar estes investimentos por parte dos fabricantes? “Algumas adaptações podem custar alguns milhões de reais, pois, além das pesquisas e dos projetos de engenharia, faz-se necessário testar e certificar o novo projeto de máquina”, comenta o engenheiro Henrique Rodrigues, gerente comercial da consultoria BRASELCO. Além disso, Rodrigues enfatiza que para realizar estas melhorias ao projeto da máquina, é necessário também adaptar a linha de produção. Uma vez que a maio-

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ria dos fabricantes atua de forma descentralizada, com unidades fabris de componentes espalhadas por vários países, geralmente as “linhas de produção deverão fornecer para todo o mundo, dificultando ainda mais as grandes alterações de projeto”. Apesar do potencial brasileiro de energia eólica, as usinas ainda precisam recorrer aos equipamentos importados, cujos projetos levam em conta as particularidades dos regimes de vento típicos europeus, com características diferentes das observadas nos principais mercados eólicos no Brasil. “Até as normas internacionais, nomeadamente a IEC 61.400-1, que definem os aspectos construtivos e de projetos dos aerogeradores, não contemplam as nossas condições de vento. A priori, o que deveria ser excepcionalidade às normas, é regra no Brasil. E fazer uma máquina para o Brasil, implica em limitar a sua aplicação ao Brasil e às excepcionalidades mundiais”, enfatiza o engenheiro. “Estes altos custos deverão ser diluídos com as vendas das máquinas e o Brasil ainda não tem um mercado aquecido o suficiente para justificar estes investimentos.

Mas estamos falando das grandes adaptações, como nos perfis aerodinâmicos das pás e estruturas mecânicas dos grandes componentes. As pequenas adaptações tem um campo vasto à frente”, pondera Rodrigues. E são estas pequenas adap­tações que hoje podem fazer o diferencial, pois otimizam o desempenho dos equipamentos. Aproveitando, por exemplo, os baixos níveis de turbulências e os pequenos carregamentos extremos, encontrados nos sítios do litoral, é possível a utilização de anel extensor (anel de ferro de 1 a 2 m) na raiz das pás do aero­gerador, provocando o aumento da velocidade ao longo do perfil das pás, e consequentemente a produção de energia. Um bom exemplo disso vem da Wobben Windpower, subsidiária da fabricante alemã Enercon, com seu sistema de resfriamento forçado do sistema de controle e a melhoria das pás, com o maior aproveitamento aerodinâmico próximo a sua raiz (conta a lenda que é baseado na barbatana de um tubarão visto pelo proprietário da Enercon). Outro bom exemplo vem da fabricante argentina IMPSA. Na sua unidade fabril de Suape,


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eólica

Pernambuco, está em desenvolvimento um projeto de pesquisa para um conceito de aerogerador que leva em consideração aspectos específicos da climatologia brasileira. Esta é a meta da empresa para os próximos meses. O projeto está em andamento, sendo prevista a construção de dois protótipos ainda este ano, e a certificação para o final de 2011. A pesquisa é financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), vinculada ao Ministério de Ciências e Tecnologia, que está investindo R$ 100 milhões na ideia, mais um aporte de R$ 10 milhões a fundo perdido. “O produto já está sendo oferecido a alguns clientes, considerando que será possível o seu fornecimento para atender ao prazo do leilão de agosto, o que prevê a entrada em funcionamento até setembro de 2013”, comenta Carolina Caheté, engenheira da IMPSA. Caheté antecipou alguns detalhes do equipamento em palestra proferida no All About Energy, evento sobre energias renováveis realizado em julho, na cidade de Fortaleza. “O protótipo deverá suportar uma média a­nual de ventos de até 12,5 m/s. O aerogerador possuirá rotor de 100 metros de diâmetro, potência nominal de 2 MW e tecnologia Unipower. Embora cada um desses componentes represente um custo a mais, acreditamos que o retorno compense, pois as mudanças resultarão em maior eficiência. É um aerogerador que atende os requisitos das normas internacionais e também dos parques eólicos em desenvolvimento”, explica a engenheira. Entre os aspectos que estão

sendo observados estão a curva de distribuição de ocorrências do vento, a massa específica e a temperatura do ar. “Aqui a tempe­ ratura é muito elevada e interfere no rendimento e resfriamento da máquina”, comentou Caheté. De acordo com os executivos da empresa, os resultados calculados indicam que este deve se tornar um produto mais competitivo no mercado mundial. O foco principal, no entanto, não poderia deixar de ser o Brasil. “Esperamos ampliar a nossa participação no mercado brasileiro para algo

A viabilidade destas grandes adaptações dependerá do aumento do mercado brasileiro próximo de 25%. Além do me­ lhor rendimento, a IWP100 terá um elevado conteúdo brasileiro, o que garantirá a manutenção a longo prazo”. Em decorrência de um regime eólico singular e favorável, além de uma política fiscal agressiva e disponibilidade de fonte de financiamento diferenciado, a região Nordeste se destaca como o maior pólo de investimentos em energia eólica do País, com expectativa de movimentar, pelo menos, R$ 8 bilhões nos próximos três anos. Somente no Ceará, no âmbito do PROINFA, já foram implantados 14 parques eólicos, cuja capacidade instalada é de mais de 500 MW. No Leilão de Reserva, de dezembro passado, foram contratados mais 21 pro-

jetos para o estado, o que representará um incremento de mais 547 MW. Além do Ceará, todos os outros estados do Nordeste possuem projetos eólicos em desenvolvimento, e alguns já possuem usinas em operação. De acordo com a lista dos projetos habilitados para os Leilões de Reserva e de Fontes Alternativas, em agosto de 2010, o restante dos estados da região também terão projetos eólicos. De acordo com o atual mapa eólico do país, elaborado em 2001, a região concentra mais da metade do potencial nacional, estimado em 143.000 MW - o equivalente a mais de dez usinas de Itaipu. É exatamente nesta região que o vento apresenta características mais singulares. Desta forma, faz-se necessário, antes mesmo de propor as adaptações às máquinas, “investimentos em pesquisas para se conhecer bem o comportamento da fonte. Sem isso, não saberemos em que e até onde podemos adaptar”, acrescenta o engenheiro da BRASELCO. Ainda sem resposta concreta, a viabilidade destas grandes adaptações dependerá do aumento do mercado brasileiro, que promoverá a vinda de fabricantes para o País e justificará os investimento necessários. Para além da vontade dos investidores, que se mostraram inte­ressados, conforme números de projetos cadas­ trados nos leilões de reserva, se faz necessário uma política de incentivo a fonte clara, segura e planejada por parte do governo. Sem isso, “não tem mercado e, consequentemente, não tem máquina brasileira”, finaliza Rodrigues.



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cobertura ALL ABOUT ENERGY

Tudo sobre renovável Encontro reuniu importantes atores do desenvolvimento de soluções alternativas para energia. Entre feira, palestras e rodadas de negócio, o All About Energy consolida mercado de fontes renováveis em exponencial crescimento, sendo a eólica um dos focos desta edição


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inco mil metros quadrados, 75 estandes e cerca de 3.500 pessoas. Tudo isso trabalhando em prol da geração de energia limpa no mundo. O All About Energy 2010, encontro internacional de energias renováveis, reuniu os mais importantes atores do desenvolvimento de soluções não poluentes para a energia no mundo. O Centro de Convenções do Ceará cedeu espaço para as idéias e os negócios de empresas do porte de Wobben Wind Power, Impsa, Furlander, Acciona, Braener, Vestas e Martifer. Apesar de desconhecidas do grande público, estas marcas estão presentes, direta ou indiretamente, no Brasil. Em especial, no Nordeste. Não à toa, o maior encontro do setor no País foi realizado em Fortaleza. A região Nordeste é privilegiada para a geração de energias limpas e alternativas. O estado do Ceará se destaca ao possuir nada menos que 21 usinas de energia eólica, das quais 15 estão em pleno funcionamento, duas em construção e quatro aguardam liberação das atividades. O estado do Ceará se destaca ao possuir 16 projetos eólicos em operação, 1 em construção e mais 21, ganhadores do último leilão de reserva, que deverão entrar em operação em 2012. Outro viés discutido nas dezenas de palestras realizadas pelo All About Energy 2010 foi a energia solar. Segundo a organizadora do evento, Joana Ferreira, um grande impulso para o segmento é o desenvolvimento do Pró-Solar, programa que visa estimular o aproveitamento do Sol para substituir as fontes mais agressivas. Para isso, o Estado aquece o setor ao criar um fundo de investimentos para a produção: o Fundo de Incentivo à

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Energia Solar (Fies). Somadas todas as fontes, o Brasil é hoje o maior mercado mundial de energias renováveis. A informação consta de um relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O resultado é fruto de investimento no setor e, principalmente, das condições naturais do País. O clima tropical e as características geográficas do Brasil fazem com que o país possua os melhores e maiores recursos para uma matriz energética menos agressiva para o meio ambiente. Nada mais natural que o Brasil tenha atraído mais de 90% dos novos investimentos do setor na América Latina. Segundo Armando Abreu, em-

presário do setor e presidente do evento internacional, esse resultado do Brasil foi construído a partir do esforço, da iniciativa e da discussão de diversas empresas do setor que apostaram na geração de energia limpa. “O All About Energy 2010 é a continuação de vários eventos que vem acontecendo ao longo dos últimos cincos anos e que valorizam o setor”, afirmou, na abertura. De acordo com Joana Ferreira, a matriz eólica foi um dos focos da edição deste ano do evento. Além das palestras e rodadas de negócio, o encontro permitiu que fossem feitas apresentações de trabalhos científicos. “Ao incrementar o desenvolvimento econômico e a liderança

Números do evento

3.500

Pessoas, entre congressistas e visitantes, participaram do evento

5.000m2

foi o tamanho total da feira

75

expositores entre investidores, empresas e fabricantes nacionais e internacionais, agências financeiras e indústria de componentes.

143

palestrantes

44

empresas participantes na rodada de negócios


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cobertura do Ceará, o All About Energy 2010 consolida o Estado num mercado em exponencial crescimento no Brasil”, afirma Joana Ferreira. Para o consultor Adão Linhares, que trabalhou no Governo do Ceará durante a atração e instalação de parques eólicos, o encontro internacional coloca o Ceará no circuito internacional das discussões do setor. E colocou. Entre os expositores estavam presentes as fabricantes de aerogeradores Wobben, Vestas e Fuhrländer; além das empresas Martifer, Braselco, Tome e Makro. O All About Energy levou ao Ceará o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Ricardo Maya Simões, que aproveitou a presença dos principais investidores do mundo para alertar que a continuidade do progresso da energia renovável está vinculada à oferta disponibilizada pelo setor. Segundo Simões, é preciso continuar investindo e ofertando mais energia. Por outro lado, é preciso também que haja o mesmo esforço na venda com a continuidade dos leilões promovidos através da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O presidente da ABEEólica salientou o papel do setor para a preservação de um mundo melhor. “Energia eólica é uma energia limpa. Tem zero de emissão de poluentes”, disse, completando ser necessário haver independência em relação aos produtos derivados do petróleo. Para ele, é importante valorizar a produção de energia renovável por não poluir o meio ambiente. Simões avalia que esse é um bom momento para o setor, pela produção nacional de equipamentos para a geração de energia eólica.

Opinião de quem foi “Como moro fora do Brasil, es-

tava curiosa para saber sobre as iniciativas brasileiras, dado nosso grande potencial. Tive uma boa surpresa ao ver empresas e organizações públicas interagindo para promover avanços. Para uma próxima edição, gostaria de uma maior ênfase às universidades, para que pudessem compartilhar de suas experiências e descobertas nas áreas de construção sustentável, energias renováveis e sistemas de baixo impacto. Esta é uma tendência mundial na área de planejamento: reunir profissionais de vários setores para trabalharem em conjunto, visando a obtenção de soluções que equilibrem social, econômica e ambientalmente. Dadas as proporções do All About Energy, vejo um grande potencial para o evento se tornar um catalisador dessa meta, onde público e privado, negócios e estudos, teoria e prática, possam se encontrar e contribuir com o seu melhor saber para um bem comum: cidades mais saudáveis e que reconhecem que a natureza não é infinita. Sâmia Oliveira, arquiteta e pesquisadora na Universidade do Hawaii A minha expectativa inicial, co-

mo sou basicamente da área de hidro, era que esse ponto fosse mais explorado. Ao fim, pude tomar conhecimento do mercado de wind, que realmente esteve muito presente. A feira abrangeu vários segmentos, desde o téc-

nico até o comercial. É louvável poder ter um evento desse tipo (porque) o conceito de energia renovável é algo que hoje está sendo muito explorado. E o mercado evolui de forma contínua e progressiva. Veja o caso da energia eólica. Quando iniciou, era muito cara e, hoje, a viabilidade desses tipos de projetos no Brasil e no mundo está cada vez mais presente. Alessandro Perotti, Seleções Hidráulicas e Análises Energéticas, da Impsa “Motivou-me a chance de co-

nhecer os investimentos na área, ver como isso poderia ser benéfico na arquitetura e no planejamento urbano. A exploração limpa dos recursos naturais é uma carta a ser usada tanto em projetos particulares quanto em empreendimentos de maior porte ou em planejamento urbano. Tive contato com os dados de investimento estatal que buscava, e informações objetivas e contextualizadas com a situação atual do mercado internacional. Os painéis de energia eólica voltados para o estudo de impacto ambiental e os de soluções offshore mostraram-se empolgantes para o Nordeste. A presença do terceiro setor foi uma bela surpresa. A presença massiva de empresas estrangeiras mostrou como há uma procura pelo mercado e como o científico terá a ganhar com investimentos futuros”. Heron Félix, arquiteto e professor da UFC


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em ação ARTIGO

Gustavo Fernandes

energia solar fotovoltaica é a forma de produção de eletricidade do futuro em que o Brasil terá obrigatoriamente que desempenhar um papel de liderança mundial, pelas suas excelentes condições de recursos. Para além desta vantagem direta, existem outras para a economia brasileira, a exemplo das enormes oportunidades na área da exploração da matéria prima que dá origem à produção das células fotovoltaicas (silício) e na criação de uma indústria com valor acrescentado e, consequentemente, na criação de postos de trabalho com alto valor acrescentado para o país. Existem igualmente vantagens para os operadores da rede elétrica, uma vez que este tipo de produção de eletricidade pode ser instalado nos telhados das nossas casas, lojas comerciais ou indústrias, diminuindo desta forma as perdas existentes na transmissão de eletricidade através das redes de média e alta tensão entre o local de produção e de consumo. Assim, a energia fotovoltaica possui inúmeras vantagens em relação a outras fontes de produção com base renovável, pois a sua instalação é realizada em ambientes construídos, evitando desta forma a necessidade de ocupar terrenos destinados à agricultura ou outros fins, com a consequente diminuição dos riscos da especulação imobiliária. Na Europa, onde esta tecnologia tem tido mais implantação, a maioria dos governos tem apostado e incentivado a instalação de módulos fotovoltaicos nas coberturas das casas particulares e edifícios comerciais e industriais. Exemplo deste incentivo é a recente

© Higyou | Dreamstime.com

Momento chave para a solar no Brasil

A

legislação aprovada em Portugal, em que apenas podem aceder aos incentivos governamentais os módulos instalados em telhados. Outra vantagem já referida anteriormente é que a maior parte da eletricidade produzida no telhado pode e deve ser consumida perto do local de consumo ou mesmo pelos próprios equipamentos instalados no local de produção (eletrodomésticos, máquinas, ferramentas etc). Sendo que, desta forma, evitam-se as perdas no transporte e incentiva-se o consumo local, através da redução dos pagamentos da fatura da eletricidade no final do mês (balanceamento entre consumo e produção). Finalmente, apenas referir que o coração do sistema fotovoltaico é o módulo em que se transforma a irradiação solar em electricidade, que em seguida pode ser consumida na nossa vida do dia a dia. O módulo fotovoltaico pode ter várias tecnologias, sendo que a mais desenvolvida e presente no mercado é o módulo de tecnologia de silício cristalino. Este tipo de tecnologia permite nos dias atuais dar uma garantia de fiabi-

lidade e qualidade que permite que grandes projetos sejam realizados com a ajuda de entidades financeiras que depositam a sua confiança neste tipo de tecnologia. Temos assim criado neste momento um mercado mundial, que este ano irá instalar entre 10 a 13 GW de potência, segundo as últimas estimativas das principais associações mundiais do setor. Este é o momento chave para o Brasil decidir se deve ou não estar presente neste mercado e atuar como líder. Gustavo Fernandes é mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na área de Instrumentação e Automação pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal. Em 2005, iniciou a sua atividade no Grupo Martifer, como responsável pelo grupo de desenvolvimento da energia solar que deu origem à Martifer Solar, empresa do Grupo Martifer responsável pela área da energia solar fotovoltaica. Atualmente é administrador da Martifer Solar, responsável pela área comercial, inovação e internacionalização.


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balanço energético PCHs de Mato Grosso e Ceará no Reidi

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Duas centrais geradoras de eletricidade foram enquadradas no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi): PCH Água Branca, da empresa Usina Elétrica do Prata, no Mato Grosso, e a EOL Embuaca, da Embuaca Geração e Comercialização de Energia, no Ceará.

Novos investimentos da Impsa no Brasil

2

A Impsa tem investido continuamente no mercado brasileiro. Além de contar com uma fábrica de aerogeradores no Brasil, situada em Suape (PE), já está em andamento com a construção de uma fábrica para hidro. “Será um investimento de US$ 250 milhões, além da construção de um laboratório de máquinas hidráulicas de última tecnologia”, enumera Alessandro Perotti, executivo de Seleções Hidráulicas e Análises Energéticas.

Primeiro leilão de fonte hídrica fecha com contratação de 327 MW médios

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O primeiro leilão de comercialização de energia exclusivamente para fonte hídrica, promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), acontecido em julho, terminou com a contratação de 327 MW, a um preço médio de venda de R$ 99,48 MWh. O valor total dos contratos chega a R$ 8,5 bilhões. O diretor da Aneel, Edvaldo Santana, destacou que o resultado deste leilão irá garantir tarifas menores ao consumidor final. Sete empre-

endimentos que venderam no leilão assinarão contratos de compra e venda de energia com 30 anos de duração, válidos a partir de 1° de janeiro de 2015. A Triunfo Participações e Investimentos, vencedora da UHE Garibaldi, a Alupar, que arrematou a energia da UHE Ferreira Gomes, e a Copel, vencedora do leilão de energia da UHE Colíder, receberão ainda a outorga de concessão de uso do bem público destinada à produção independente de energia.


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DEMANDA

PREVISÃO

53%

SXC.hu

Será o crescimento da demanda global por energia registrado entre 2004 e 2030. Cerca de 80% ainda será proveniente de combustíveis fósseis.

4

O MME aprovou o enquadramento de reforços e melhorias em instalações de transmissão de energia elétrica relativos à subestação Imbirussu (MS), da Porto Primavera Transmissora de Energia. Os projetos envolvem instalação e complementação de um autotransformador trifásico de 230/138 kV, 150 MVA, e de módulos de conexão e infraestrutura geral.

98,3%

PARTICIPAÇÃO

Deve ser o aumento da capacidade instalada de produção das PCHs, passando de 10.859 MW em 2010 para 21.528 MW em 2019, segundo a EPE.

5

O governo do Ceará está estudando implantar energia limpa na iluminação pública de algumas rodovias. Está em projeto um trecho de 7 km que poderia receber a instalação de postes com fontes solar e eólica, conhecidos como Produtor Independente de Energia. A economia seria de R$ 150 mil por mês, somente neste trecho.

9,7%

É a participação atual das PCHs na geração de energia do Brasil. Se confirmadas as previsões da EPE, a participação passará a ser de 12,9%.

ONS defende leilões regionais

9

O diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Hermes Chipp, defende a necessidade de se realizar leilões regionais para atender a peculiaridades do balanço energético. A medida ajudaria principalmente a região Sul, que tem déficit estimado de 1.450 MWmed em 2014.

Fontes renováveis ganham força na Europa

“aspas

Segundo dados do relatório 2010 Renewable Energy Snapshots, energias renováveis responderam por 62% da nova capacidade de geração de eletricidade instalada, em 2009, nos países da União Europeia. Em termos absolutos, 19,9% (ou 608 terawatts-hora - TWh) do consumo total de energia na Europa (3042 TWh). A energia hidrelétrica respondeu pela maior parcela entre as fontes renováveis, com (11,6%), seguida pelas energias eólica (4,2%), biomassa (3,5%) e solar (0,4%).

“A partir de 2003, ocorre o aumento das tarifas de energia no Brasil, superior a outros países. A evolução das tarifas de energia sobe acima do IGPM e do IPCA”.

6

Fernando Camargo Bria, executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace)

Folga na garantia de suprimento

7

Até 2020, de 35% a 40% do consumo de eletricidade estimado para os países que compõem a União Europeia poderá vir de fontes renováveis, aponta dados da Joint Research Centre (JRC), instituição politicamente independente que representa e defende os interesses da UE.

8

Falta de uma política nacional de conteúdo local é uma das principais dificuldades apontadas pelo mercado de energia eólica. O assunto foi discutido no 11º Encontro Internacional de Energia, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

10

O Operador Nacional do Sistema Elétrico prevê uma situação confortável no atendimento ao Sistema Interligado Nacional nos próximos cinco anos. Com a redução da participação da hidroeletricidade e o aumento do percentual de térmicas convencionais e fontes alternativas, a garantia de suprimento considerada adequada pelo CNPE (riscos de déficit de até 5%) será atendida com folga em todas as regiões.


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Cinco novas produtoras independentes de energia

Alstom entra no setor brasileiro de eólica com contrato de 100 milhões de euros

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O Ministério de Minas e Energia autorizou cinco empresas a se estabelecerem como produtoras independentes de energia. As companhias são EOL Guanambi, EOL Sangradouro e as Faísa II, Faísa III e Faísa IV, que vão explorar usinas eólicas nos estados da Bahia, Rio Grande do Sul e Ceará, respectivamente.

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A espanhola Braener, que chegou ao Brasil em fevereiro, assinou dois protocolos de intenções junto à Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), para a instalação de duas usinas solares e uma fábrica de painéis fotovoltaicos nos municípios de Sobral e Cascavel (CE). A previsão é de que uma das plantas tenha a capacidade total de 100MW e a outra somará 50MW. Os investimentos somariam em torno de R$1,3 bilhão.

Alstom / divulgação

Espanhola Braener investe R$ 1,3 bilhão

A Alstom, líder mundial em geração de energia e infraestrutura ferroviária, assinou seu primeiro contrato no mercado eólico brasileiro, O acordo, de 100 milhões de euros, foi fechado com a empresa brasileira de geração de energia renovável Desenvix, do grupo econômico ENGEVIX. De acordo com o contrato, está prevista a construção de um complexo eólico de 90 MW, na Bahia. O Complexo de Brotas consistirá em três usinas denominadas

Macaúbas, Novo Horizonte e Seabra. A Alstom fornecerá 57 turbinas eólicas ECO 86 de 1,67MW cada, cujos principais componentes serão fabricados na Espanha e no Brasil. As três usinas eólicas deverão entrar em operação em julho de 2011. Alstom e Engevix já trabalham em conjunto há mais de 30 anos, mas é a primeira parceria para o setor eólico. Ambas participaram de projetos hidrelétricos no Brasil, tais como Tucuruí (8370 MW) e Ita (1450 MW).


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MDL

CO2

8,3%

Dos projetos de MDL (Mecanismo De Desenvolvimento Limpo) registrados no Conselho Executivo da ONU são brasileiros.

Novas centrais eólicas foram enquadradas pelo Ministério de Minas e Energia no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi). A EOL Candiba, com potência instalada de 9 MW; Porto Seguro, com 6 MW; EOL Rio Verde, com 30 MW; Sangradouro 2, com 26 MW, e Faísa 1, que apresenta potência instalada de 25,2 MW.

40

É a posição do Brasil como emissor de CO2, com 332,3 milhões de toneladas por ano, principalmente por causa da degradação ambiental.

R$ 10 mi

Foi o aporte inicial do governo do Estado do Ceará para o Fundo de Incentivo à Energia Solar (Fies).

15

A Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica, do Rio Grande do Sul, contratou a empresa Inova Energy para realizar estudos dos fenômenos atmosféricos para determinação da velocidade do vento. Após o processo de análise, serão elaborados dois mapas eólicos da região sul do Estado.

Wobben lança aerogerador mais potente no Brasil

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A fabricante Wobben lançou um novo modelo de aerogerador, o E-82. A máquina terá capacidade instalada de 3MW, o que a tornará o equipamento eólico mais potente fabricado no País. A unidade entrou em negociação junto a investidores interessados nos leilões de fontes alternativas e de reserva.

Wobben / divulgação

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INCENTIVO

Bahia incentiva cadeia produtiva eólica

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A Gamesa, Siemens e GE estudam a construção de fábricas de equipamentos eólicos na Bahia. Segundo a Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração, o estado possui uma série de atrativos, como licenciamento ambiental simplificado, diferimento do ICMS em torno de 90%, projetos de capacitação de mão de obra e opções de terrenos para a construção das fábricas.

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Preocupada com a cobrança da TUSD, por ter um impacto significativo na viabilidade de empreendimentos como as eólicas, a Petrobras sugeriu a inclusão de uma cláusula em contratos do setor que prevê a readequação da receita fixa dos projetos em caso de mudanças bruscas nos valores da TUSD.

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A empresa britânica Wind Power Limited anunciou o projeto de uma nova turbina eólica, o chamado Aerogerador X. O novo modelo, com 10MW de potência e metade da altura de um equipamento eólico tradicional, foi planejado para parques em alto mar. É fruto de parceria entre empresas e centros de pesquisa.

“aspas “O Brasil tem que pensar na energia eólica como complementar à hidráulica, como Romeu e Julieta, como queijo e goiabada”. Pedro Ângelo Vial, presidente da Wobben Windpower

Aerogerador da Fuhrländer servirá de laboratório A fabricante de aerogeradores alemã Fuhrländer se comprometeu em permitir a utilização de um aerogerador FL2500, de 2,5 MW como laboratório para o futuro Centro de Treinamento Técnico do Ceará (CTTC), no Complexo do Pecém. A máquina servirá para a formação de pessoal para todo o setor de eólicas.

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O maior evento de

Energias Renováveis

do Brasil. O ALL ABOUT ENERGY 2010 foi um grande

A próxima edição espera ampliar a

sucesso. Com 70 expositores, distribuídos em

participação de empresas e entidades do

06 pavilhões e 5.000 m2, e a presença dos

setor energético, firmando definitivamente

principais players do mercado, o evento se

o ALL ABOUT ENERGY 2011 como

consolidou como um dos mais importantes da

oportunidade imperdível para a realização

América Latina.

de grandes negócios.

2

5 a 8 Julho de 2011 Centro de Eventos

Fortaleza • Ceará • Brasil www.allaboutenergy.com.br


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destaque ARTE ECOLÓGICA

O

encontro com a natureza O homem contemporâneo, cada vez mais consciente da artificialidade da paisagem ao seu redor, usa com frequência a arte como forma de questionamento, discutindo o paradoxo atual entre a pressão pelo hiper consumo e pela necessidade de posturas ecologicamente corretas. Discussão essa que remete ao paisagismo de Burle Marx, nos anos 30, e à Pop Art, dos 50 por Mônica Lucas


Série Comunhão, do artista Rodrigo Braga, na exposição Ecológica

Rodrigo Braga / divulgação

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destaque ARTE ECOLÓGICA onta-se que certa vez Zêuxis, um dos pintores mais famosos da Grécia Antiga, teria pintado cachos de uvas tão perfeitos que teriam até levado bicadas de passarinhos. No século V a.C. era essa representação mimética da natureza que importava e assim foi por muito tempo. Embora muitas salas conservem seus quadros de flores e frutas, para o artista contemporâneo, a natureza não é mais apenas um modelo original imutável a ser representado. Ela tem seu conceito ampliado e sofre interferências da arte, da ciência, da economia e da política. Nos meses de julho e agosto, o público paulistano pode se confrontar com 22 obras de artistas nacionais e estrangeiros que problematizam a abordagem atual da questão

C

ecológica de maneira bem diferente das pinturas figurativas de jardins. A exposição “Ecológica”, no Museu de Arte Moderna, focou o olhar do visitante sobre a sociedade de consumo e seu caráter predatório. A intenção é a conscientização de que ecologia não é a simples manutenção de um jardim privado, mas de um ecossistema com regras próprias e uma dinâmica que pode ser cruel contra abusos. “Ecologia é um projeto de ação política de limitação da sociedade de consumo”, define Felipe Chaimovich, curador da mostra. O critério de seleção das obras foi justamente a discussão da sociedade de consumo, seja operando sobre o lixo ou propondo relações humanas que superem o “individualismo, propagandeado para aumentar as vendas”. Chaimovich é

influenciado pelas opiniões do intelectual socialista austro francês André Gorz, para quem o esgotamento dos recursos naturais e a poluição crescente são consequências diretas dos modos de produção e da mentalidade capitalistas. Para os chamados “ecossocialistas”, a lógica do mercado e do lucro é incompatível com as exigências de preservação do meio ambiente. Segundo eles, estímulo ao consumo desenfreado implicaria a produção em quantidades cada vez mais astronômicas, esgotando as fontes de energia e gerando materiais não biodegradáveis, desperdício e futilidade. A ruptura do equilíbrio ecológico configura um quadro catastrófico que coloca em questão a própria sobrevivência da vida humana. Opavivará / divulgação

Espreguiçadeira multi, do coletivo Opavivará: praia coletiva


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Isso significa dizer que as sociedades vivem no paradoxo entre a pressão pelo hiper consumo e a necessidade de adotar posturas ecologicamente corretas. Para a psicanalista e crítica de arte Suely Rolnik, na ânsia de nos repaginarmos, somos constantemente puxados para o consumo de “subjetividades prêtà-porter” (ou prontas para levar). “Isso ocorre para lidar com nossas condições de seres angustiados, por não podermos alcançar os modelos projetados a partir dos braços desse mesmo sistema”, explica. Nas obras de “Ecológica”, são visíveis as críticas à publicidade, moda, turismo e tecnologia, alguns dos braços do sistema e que alimentam essa contradição. No vídeo Lançamentos, Marcelo Zocchio passa 55 minutos descartando objetos eletrônicos obsoletos. Se descartados em lixões, os metais pesados tóxicos usados na composição desses equipamentos contaminam o solo e o lençol freático e provocam doenças em catadores. Outro exemplo é o coletivo Superflex, que tem seu vídeo Flooded McDonald’s projetado na exposição. Nele, uma réplica em tamanho natural de uma loja da rede internacional de fast food é inundada até o teto, na melhor tradição do cinema catástrofe. Outras obras chamam atenção para novos modelos de sociabilidade como alternativa à sociedade de consumo. Vários espaços convidam ao descanso, contemplação e convivência, como as instalações de madeira e plantas de Rodrigo Bueno, os banquinhos populares de Rivane e as “cadeiras-sofás” do coletivo Opavivará, com três lugares, cada, que transformam o ambiente em uma espécie de praia coletiva.

Invenção da paisagem Em seu livro “A Invenção da Paisagem”, Anne Cauquelin, filósofa e artista plástica francesa, defende que o homem contemporâneo torna-se cada vez mais consciente da artificialidade da noção de paisagem. O artista dinamarquês Olafur Eliasson propõe uma reflexão sobre o tema em suas obras, em que recria situações naturais no interior de museus, com grande aparato tecnológico inteiramente visível. Uma instalação sua na Tate Gallery, produziu, a partir de projeções luminosas, um sol artificial. O espectador sentia corporalmente a sensação térmica e visual, mas podia perceber a artificialidade. Com o objetivo de fazer com que o cenário urbano volte a ser percebido pelos moradores dos grandes centros, Eliasson tingiu de verde um rio em Estocolmo e colocou cachoeiras em Nova York. Esse último projeto instalou quatro cachoeiras artificiais, medindo entre 27 e 36 metros de altura, em pontos estratégicos do East River - uma delas embaixo da ponte do Brooklyn. Suas impressionantes quedas d’água proporcionadas por andaimes de alumínio com base de concreto, não poluem o ecossistema local. Pelo contrário: funcionam com bombas de energia renovável e usam a própria água do rio, puxada do leito e devolvida na sequência a seu curso. Assim, com um elemento natural, Eliasson desestabiliza um dos cenários símbolo da urbanização. O posicionamento crítico da arte contemporânea em relação à sociedade de consumo inevitavelmente remete aos anos 50 e 60 e ao surgimento da “pop art”, em resposta à inundação mundial de imagens de propaganda. Quem não conhece as

icônicas latas de sopa Campbell de Andy Warhol? Na opinião de Chaimovich, hoje vemos uma continuidade desse debate, com a ampliação da escala da sociedade de consumo nos últimos anos. “Criou-se uma ilusão de naturalidade do modelo de sociedade de consumo como o único caminho a ser seguido pela sociedade”, diz. Foi também na década de 60 que surgiu um movimento conhecido como “land art” ou “earthwork”, uma outra maneira de se relacionar com a natureza, indo além da figuratividade e como consequência da crescente preocupação com o meio ambiente. Para os artistas como Robert Smithson ou Walter de Maria, a natureza passa a ser ela mesma um campo de experimentação artística, inclusive aceitando interferências de conhecimentos vindos da física, geografia, meteorologia e outras ciências. Os materiais e as obras ficam expostas a céu aberto, em paisagem fora dos museus. A idéia é que o espectador sinta a obra como parte de sua rotina. A obra mais conhecida desse movimento é a Spiral Jetty, de Robert Smithson: uma gigantesca escultura formada por cerca de 5 mil toneladas de blocos de basalto negro incrustada às margens do Salt Lake, em Utah, nos Estados Unidos. Como toda obra de “land art”, está fortemente sujeita às mudanças climáticas, sendo aos poucos coberta pelas águas do lago até ficar totalmente submergida por anos. Com a seca posterior, revelou-se uma escultura modificada, embranquecida pelo sal e cheia de lodo. O ambiente nessas obras deixa de ser mero suporte, tornando-se parte integrante e significante do trabalho.


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destaque CONSUMO ARTE ECOLÓGICA CONSCIENTE

Natureza como arte Bem antes da ecologia entrar na pauta de discussões cotidianas, nos anos 30, o jovem Roberto Burle Marx já defendia o paisagismo como arte. Sua obra criou uma nova linguagem, ao combinar noções estéticas das artes plásticas de vanguarda a um grande conhecimento de botânica. Seus jardins usam plantas nativas e são espaços em que edifícios dialogam com a paisagem. Um trabalho paisagístico pioneiro que ajudou a consolidar o ideário modernista no Brasil, que se preocupava em reconhecer elementos naturais que possibilitassem o estabelecimento de uma cultura genuinamente brasileira. Em 1947, o artista polonês Frans Krajcberg chegou ao Brasil, fugindo dos horrores do nazismo que perseguiu e matou sua família. Em diversas entrevistas já disse que a natureza brasileira o salvou, quando chegou aqui sozinho. Em retribuição, o sobrevivente, naturalizado brasileiro, dedica sua obra a denunciar a destruição da natureza. Ele é conhecido por criar esculturas com raízes, troncos e galhos de árvores retorcidos pelo fogo -a sobras de queimadas em florestas, principalmente na Amazônia. Após uma viagem ao Rio Negro, em 1978, com o crítico Pierre Restany e Sepp Baendereck, também artista plástico, escreve com eles o Manifesto do Naturalismo Integral. Em depoimento no catálogo da exposição Imagens do Fogo, Krajcberg declara que a natureza amazonense o confrontou com sua sensibilidade de homem moderno: “Ela

O Brasil também foi o primeiro país onde a Coca-Cola comercializa seu refrigerante mais famoso em PlantBottle, uma garrafa feita de PET na qual o etanol da cana de açúcar substitui parte do petróleo utilizado como insumo

A Natureza Integral pode dar um novo significado aos valores individuais de sensibilidade e criatividade coloca também em questão a escala de valores estéticos tradicionalmente reconhecidos. O caos artístico atual é a conclusão lógica da evolução urbana”. “A Natureza Integral pode dar um novo significado aos valores individuais de sensibilidade e criatividade”. O encontro da arte com a natureza nem sempre é pacífico e não são raras as polêmicas. Em 2008, a União Internacional de Proteção

aos Animais no Ceará (Uipa) pediu na Justiça a interdição da obra Galinhas de Gala e Galinheiro de Gala, da artista Laura Lima, que estava exposta no Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar (MAC), em Fortaleza. Para a entidade, os animais estavam sofrendo maus tratos. O trabalho apresentava galinhas vivas, enfeitadas com penas e plumas aplicadas na extremidade das penas naturais pela técnica de


MAM-SP / divulgação

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Projeto Fazenda Marambaia, Burle Marx, 1945

“megahair”, a mesma usada no alongamento de cabelos. Na época, a artista e a direção do Museu afirmaram que os animais não sofreram abusos, pois a técnica seria inofensiva e o espaço havia sido planejado para elas, com água e alimentação apropriada. “Toda esta polêmica só mostra que a exposição de Laura Lima cumpre bem a sua função de obra de arte”, declarou José Guedes, diretor do MAC. Laura trabalha com animais vivos desde meados da década de 90. Com as polêmicas galinhas, venceu o prêmio CNI Sesi Marcantonio Vilaça, um dos mais importantes das artes plásticas do Brasil.

Rodrigo Braga passou por experiência semelhante. Em 2004, ao compor a série Fantasia de Compensação, foi acusado de eutanásia em um cão do Centro Municipal de Controle de Zoonoses do Recife. Ele nega que o animal tenha tido a morte induzida: “Foi tudo conduzido dentro da legalidade”. Segundo o artista, o corpo foi obtido mediante autorização concedida pelo Centro de Vigilância Ambiental da Prefeitura do Recife, visando utilização exclusiva para fins artísticos. O trabalho consistia de 14 fotografias em que o artista tinha sua cabeça fundida a de um rotweiller, por produção plástica e manipulação digital,

criando imagens zoomórficas. Ele explica que tinha consciência do potencial de polêmica da obra, o que foi amplificado sem intenção pelo seu site. “As pessoas tiravam as fotos de lá e repassavam sem o contexto, mas não vou me privar por causa das críticas, sei que o trabalho depois de pronto está aberto ao público, não é só meu”, explica. O artista, filho de biólogos, comenta que a discussão sobre ecologia já era comum em sua casa mesmo antes de o assunto entrar na mídia e perpassa de maneira orgânica toda sua produção artística. Logo, acrescenta, não iria realizar uma obra que implicasse em maus tratos a algum animal. Seis anos depois, a poeira baixou e outro trabalho de Rodrigo está em evidência. Sua série Comunhão, de 2006, foi selecionada para a exposição Ecológica do MAM-SP. Assim como Fantasia de Compensação, essa série de três fotos aborda questões referentes à natureza: morte e transmutação material e simbólica. Novamente um animal morto, dessa vez um bode, que integra a poética visual com o próprio Rodrigo, nu, e a terra molhada. “Quis discutir os ciclos da natureza, por isso fiz questão da terra úmida, fértil”, explica. Sobre a utilização de animais em obras de arte, parece haver pelo menos um consenso: eticamente é preciso respeitar a integridade deles, conforme regras dos órgãos competentes. “Podem gerar situações interessantes, sempre que não haja dano ou sofrimento para os animais”, diz Felipe Chamovich.


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3r’s

reduzir, reutilizar, reciclar

resíduos tecnológicos

Lixo Eletroeletrônico É cada vez mais comum computadores, televisores, celulares e todo tipo de maravilhas tecnológicas aposentadas irem para o lixo. Segundo a Organização das Nações Unidas, 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são lançadas, por ano, no mundo. Outras máquinas são feitas para substituir e com elas cerca de 3% de todo o ouro e a prata extraídos anualmente são usados nessa fabricação.

500 gramas de lixo eletrônico por ano são jogados fora por cada brasileiro

REDUZIR

REUTILIZAR

RECICLAR

Hoje é possível adquirir equipamentos que reúnem diversas funções, diminuindo a necessidade de comprar vários aparelhos. Um bom exemplo disso é o smartphone. O celular ganhou novas utilizações e hoje você pode acessar a internet, programar suas atividades na agenda eletrônica e ver TV, além de telefonar, é claro. Se o consumidor não precisa de softwares mais pesados e utiliza o micro apenas para ver fotos e acessar a net, pode investir no smartphone. Não é suficiente para utilizar em casa, ok, compre um computador. Mas que tal dispensar o monitor e utilizar o televisor de casa? Monitores para TV em LCD possuem entrada para computadores.

Computadores apresentam problemas, mas não é preciso descartar todo o conjunto e comprar mais 14kg (Isso mesmo. Esse é o peso médio de um PC) de plásticos, vidros e fios novos. Os monitores, em geral, sempre podem ser reutilizados. Cabos duram muito mais tempo funcionando do que o hardware. Se mesmo assim você decidir comprar tudo novo, doe o que ainda funciona. É possível transformar o que seria lixo em instrumento de ensino ou organização de uma entidade carente. O Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (Cedir) recebe e reaproveita peças de eletrônicos montando novas máquinas. Informações: (11) 3091-6455.

O plástico do velho computador pode virar diversos bens de consumo. Isso porque a composição de um computador pessoal reúne cinco tipos de material reciclável. Cada computador é formado, em média, por 32% de metais ferrosos, 23% de plástico, 18% de metais não ferrosos (cádmio, mercúrio, berílio e outros), 15% de vidro e 12% de placas eletrônicas, onde é possível encontrar ouro, prata e platina. E aí, vai continuar jogando dinheiro no lixo? Saiba onde descartar seu micro: www.lixoeletronico.org


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Como?

guia verde

redução de consumo

Eficiência energética começa em casa O conceito de eficiência energética está vinculado com a redução de consumo de energia, sem perdas no conforto e qualidade dos produtos. Podemos colocar a ideia em prática em casa, apenas com algumas pequenas mudanças de hábitos. Um deles é optar por equipamentos que recebem o selo Procel de eficiência energética, que são avaliados pelo Inmetro. Veja outras formas de reduzir o consumo no dia a dia.

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AR CONDICIONADO. Se não for possível priorizar a ventilação natural, dê preferência aos condicionadores de ar com o selo Procel/Inmetro. Limpe os filtros periodicamente e, ao utilizar o aparelho, mantenha portas e janelas fechadas. E, se for ausentarse do ambiente por longo período, desligue o equipamento.

CHUVEIRO ELÉTRICO. Cada chuveiro deve ter um disjuntor independente adequado à sua potência. A economia de energia chega a 30% no banho com a chave seletora na posição “verão”. Limpe periodicamente os orifícios de saída de água e feche a torneira enquanto se ensaboa. Nunca reaproveite uma resistência queimada. REFRIGERADOR. Compre o refrigerador de tamanho adequado às necessidades da família e instale-o em local arejado, longe de raios solares e do fogão e sem encostá-lo em paredes ou móveis. Ajuste o termostato, faça o degelo e a limpeza periodicamente. Mantenha a borracha de vedação bem conservada e não abra a porta sem necessidade.

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ILUMINAÇÃO. Dê preferência às lâmpadas fluorescentes compactas ou circulares, que consomem cerca de 30% menos e duram 10 vezes mais do que as equivalentes incandescentes. Pinte teto e paredes com cores claras, pois refletem melhor a luz. Mantenha limpos luminárias, lâmpadas e lustres e não se esqueça de apagar as luzes ao sair do ambiente. COMPUTADOR. Nas pausas mais prolongadas, desligue totalmente o aparelho, inclusive o estabilizador. No caso de ser apenas uma pausa no seu trabalho, desligue o monitor de vídeo. Ele é responsável por 70% do consumo de energia. Se puder, configure-o para desligar automaticamente após alguns minutos sem utilização.

ENERGIA ELÉTRICA. Assim como acontece com a água, a energia elétrica também pode “vazar”. Para detectar fugas da corrente elétrica, desligue todos os aparelhos da tomada, apague as luzes e verifique se o disco do medidor continua girando. Se estiver, é indício de fuga de energia. Recorra a um profissional habilitado para uma revisão na fiação elétrica.




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se ligue agenda

Dicas de livros, sites, filmes e muito mais

E2 Design é uma série em estilo documentário, que investiga a vida sustentável e o design ecológico. Produzido pela PBS e com narrações de Brad Pitt e Morgan Freeman, a série trata de desafios e soluções para viver de forma ambientalmente consciente. Os filmes apresentam líderes, inovadores e inventores que são os catalisadores para as mudanças na relação entre o meio ambiente e o ser humano. Entre os temas já tratados estão: design, água, alimentação, transporte e energia.

filme

A Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE) está organizando o VII Congresso Brasileiro de Planejamento Energético. O foco desta edição está nas perspectivas e projetos para futuras duas décadas. São trabalhos e pesquisas sobre o tema “Energia 2030: Desafios para uma nova matriz energética”. Quando: de 8 a 10 de setembro. Onde: Auditório FEA-5, da Universidade de São Paulo (USP). Mais informações: www.sbpe.org.br.

evento

Um grupo de acadêmicos, em sua maioria pesquisadores da área de Engenharia Bionergética, se reuniu em torno de uma organização para difundir informações de fontes alternativas e biocombustíveis. O Portal Brasileiro de Energias Renováveis serve como uma área de pesquisa e busca de notícias, estatísticas e legislação sobre ambiente, tecnologia, emissões de carbono, energias fósseis, empresas de energia, bioenergia e biocombustíveis. Acesse: energiarenovavel.org

site

Por conta da velocidade das mudanças e a necessidade de repensar os negócios no setor de energia, surge o livro Marketing Energético: Estratégias Competitivas na Energia. A doutora em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Engenharia Mecânica (Unicamp), Ana Lúcia Rodrigues da Silva, trata de forma didática os principais conceitos de planejamento na busca de vantagens competitivas e sustentáveis no mercado. Da Synergia Editora.

livro


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É de pequeno que se torce o rabo. O Hog Power é um dispositivo em formato de porquinho cofre para ensinar crianças sobre os custos da energia e sua conservação. A cauda é ligada na tomada e o focinho serve para conectar eletrônicos, como vídeo game e televisão. É preciso colocar moedas no cofrinho para que a eletricidade fique disponível. Se o cifrão ficar vermelho, indica que o tempo está se esgotando. Uma forma divertida e inteligente de mostrar que eletricidade não é um recurso gratuito e sem fim.

novidade

Em Fundamentos Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro, a autora Norma Padilha apresenta o complexo sistema legislativo ambiental brasileiro. A obra trata dos limites éticos e jurídicos sobre a interferência humana no meio ambiente e da necessidade em estimular a participação pública nas questões ambientais. Da editora Campus-Elsevier.

livro

Home (Nosso Planeta, Nossa Casa), dos franceses Yann Arthus-Bertrand, Luc Besson e François-Henri Pinault, trata sobre a responsabilidade social e ambiental. Com dados alarmantes e tomadas aéreas de várias partes do mundo, o filme traz como mensagem central a questão da sustentabilidade. O documentário foi patrocinado pela multinacional francesa PPR e é possível assisti-lo, em vários idiomas, no site oficial: www.home-2009.com

filme

Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes, será sede do congresso mundial em energias renováveis, o World Renewable Energy Congress XI and Exhibition 2010. Na pauta, estratégias e prevenção para as mudanças climáticas, como fontes alternativas em grande escala, sustentabilidade e edifícios verdes. Quando: de 25 a 30 de setembro. Onde: Abu Dhabi, EAU. Mais informações: www.wrenuk.co.uk/wrecxi.

evento


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o último apaga a luz

Visite projetos do artista e do Coletivo Base: www.flickr.com/photos/baiaoilustrado e www.flickr.com/photos/coletivobase

Tomada Solar, de Wendel Alves - Coletivo Base, ilustração vetorial com tratamento digital. 2010


Braselco


ENERGIAS RENOVÁVEIS. A Cemec transformadores defende essa idéia. Além de transformadores, a Cemec, há 47 anos, produz desenvolvimento. Porque não existe desenvolvimento sem energia. E o desenvolvimento só é completo quando acontece de forma consciente e sustentável. A Cemec, como todas as empresas do Grupo J. Macêdo, possui um consistente compromisso socioambiental, presente em todas as etapas de sua cadeia produtiva. A Cemec acredita num mundo em que negócios, sociedade e meio ambiente estejam sempre em equilíbrio e sua visão de responsabilidade socioambiental ultrapassa limites para transformar energia sustentável em desenvolvimento.

www.cemec.com.br


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