Renergy #10

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ano 2 > # 10 > 2012 > www.renergybrasil.com.br

Tecnologias do futuro para geração de energia

NESTA EDIÇÃO ::: Expectativas, cenários e análises sobre as fontes

que devem participar da matriz energética brasileira no longo prazo Entrevista com o CEO da Impsa Wind Luís Pescarmona

Consumo infantil


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Eco A relação direta do homem com o meio ambiente

Energia Entrevistas, eficiência energética e energias alternativas e renováveis

Sustentável Ações que colaboram com o desenvolvimento sustentável

“entre vista

LUÍS PESCARMONA O CEO da Impsa Wind analisa o mercado brasileiro na geração de energia

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A oceanógrafa Sylvia Earle é uma exploradora e defensora da ecologia dos mares

28

Motos já são fabricadas com motores movidos a eletricidade ou ar comprimido 10 Museu Salvador Dalí construiu uma sede moderna e com preocupação ambiental 12 Projeto 596 acres busca encontrar solução para terrenos abandonados 18 Viena possui vários atributos verdes e sustentáveis, que aliam modernidade e preservação histórica 24

Expectativas, cenários e análises sobre as fontes que devem participar da matriz energética brasileira no longo prazo

32

Células solares esféricas surgem como alternativa para gerar eletricidade 52 Projeto holandês quer aproveitar a malha viária para gerar energia elétrica através da luz do sol 54 Fique por dentro sobre como funcionam biodigestores 56 Para aproveitar pequenos cursos de água, turbinas horizontais prometem baixo impacto ambiental 58

Os impactos do consumo infantil em uma economia que busca a sustentabilidade

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Dicas para reduzir, reutilizar e reciclar artigos de moda feitos com couro 86 Guia prático de como o trabalho voluntário pode impulsionar uma carreira profissional 87 Eventos, sites, campanhas ligados a energias renováveis e sustentabilidade 88 Os ilustradores do Baião Ilustrado inspiram-se na seção “O Último Apaga a Luz” 90


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editorial

Sobre o futuro e as crianças N

o mês em que se realiza a Rio+20, a Renergy Brasil pensa nos próximos 20, 50 anos para a geração de energia renovável no País. Do lado estatal, os passos iniciais em regular as novos fontes de energia mostram as bases que vão construir os caminhos para o desenvolvimento de um mercado de energia renovável. Na via das instituições de pesquisa e organização não-governamental, tudo indica que a participação da hidreletricidade pode perder espaço para a implementação de novas matrizes de energia. Mas o caminho é longo para reduzir a fatia deste setor que ainda representa os maiores lucros em energia no Brasil. O universo das fontes renováveis é amplo e promissor para quem quiser investir em um futuro mais sustentável. Hidrogênio, biomassa, algas são algumas da apostas de investidores e pesquisadores. Novas tecnologias em geração de energia renovável, campanhas ambientais, soluções em mobilidade urbana, locais com a marca da sustentabilidade espalhados pelo mundo, eventos na área de energia e meio ambiente revelam outras novidades nesta edição. O presidente da argentina Impsa Wind Luís Pescarmona faz coro aos empresários brasileiros e aponta o caminho para uma energia mais competitiva no Brasil: redução da carga tributária. Mais uma (e recorrente) demanda para impulsionar o setor. Mas não há uma estagnação na atividade produtiva. Os pleitos são em prol de uma economia de primeiro mundo para o País, visto que medidas do governo Federal favorecem juros menores, impulsionando o consumo e a produção. Neste cenário, uma reportagem mostra o impacto do consumo infantil numa economia sustentável. Elas têm força na hora de decidir as compras da família e o mercado já estuda e atende suas demandas. Elas são os consumidores de energia do futuro.

O universo das fontes renováveis é amplo e promissor para quem quiser investir em um futuro mais sustentável. Hidrogênio, biomassa, algas são algumas da apostas de investidores e pesquisadores

expediente DIREÇÃO GERAL

Joana Ferreira joana@renergybrasil.com.br EDIÇÃO

Carol de Castro editor@renergybrasil.com.br REDAÇÃO

Sílvio Mauro, Carlos Henrique Camelo redacao@renergybrasil.com.br PROJETO GRÁFICO

Gil Dicelli

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Gerardo Júnior Estalo! Comunicação + Design REVISÃO

Eleuda de Carvalho

CONSULTA TÉCNICA

Gustavo Rodrigues gustavo@renergybrasil.com.br COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

Pérola Felipette Brocaneli, Thyago/Assis/ Wendel/Sandes e Julião - baião Ilustrado (ilustração) DEPARTAMENTO COMERCIAL Meiry Benevides (85) 3033 4456 comercial@renergybrasil.com.br IMPRESSÃO Gráfica Santa Marta TIRAGEM 10 mil exemplares RENERGY BRASIL EDITORA Ltda. Av. Senador Virgílio Távora, 1701 sala 808 - Aldeota CEP 60170-251 Fortaleza CE Brasil www.renergybrasil.com.br JORNALISTA RESPONSÁVEL

Carol de Castro MTB-CE 1718 JP

CAPA Max Uchoa Stúdio de Criação Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos ou ilustrações, por qualquer meio, sem a prévia autorização.


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transportar

Frotas sustentáveis Divulgação

Grandes empresas registram redução de 40% em emissão de gás carbônico com gestão sustentável de frotas

É

possível reduzir o impacto ambiental de uma empresa e ao mesmo tempo diminuir custos? A Ecofrotas, primeira empresa do País a atuar com gestão sustentável de frotas, está provando que sim. De acordo com seu presidente, Marcos Schoenberger, o trabalho desenvolvido pela empresa garante, em média, uma redução de custo de 15% para seus clientes. Além disso, outro foco da empresa é a redução dos impactos ambientais em um dos setores responsáveis pela quarta maior fonte de emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE), segundo a Agência Internacional de Energia: frotas de veículos. “A Ecofrotas assume um compromisso não somente com a redução do custo total da frota, mas também com a redução do impacto ambiental provocado pelos veículos, tanto no que se re-

fere aos gases emitidos como ao descarte de resíduos como óleos, pneus e peças em geral”, afirma Schoenberger. E a peça fundamental para a redução destes impactos ambientais é a informação. Um dos serviços ofertados pela empresa é o Relatório de Inteligência de Frota, no qual, entre outros indicadores, estão informações sobre as emissões de GEE. A análise destes dados permite aos gestores das empresas efetuarem ações no sentido de reduzir estas emissões ou, em alguns casos, adotar medidas compensatórias. De acordo com o relatório de sustentabilidade da Ecofrotas publicado este ano, em 2010 as operações da empresa geraram 1.024,22 toneladas de CO². Essas emissões foram compensadas por meio da compra de créditos de carbono no mercado voluntário.

Fundada em 1999 com o nome de Embratec Good Card e tendo como foco principal a inovação, a empresa se reinventou a partir de 2009, quando passou a se chamar Ecofrotas e decidiu se reposicionar, tendo a gestão sustentável de frotas como foco principal de suas atividades. A mudança rapidamente se mostrou acertada e se refletiu em bons números. De acordo com Schoenberger, em 2010 a Ecofrotas teve o melhor ano de sua história e registrou um aumento no faturamento 37% superior ao de 2009. Segundo o presidente, a empresa que possui hoje 350 funcionários, divididos em 12 escritórios regionais, atende a uma carteira de sete mil clientes corporativos e é responsável pela gestão de 400 mil veículos no País, que realizam mais de 22 milhões de transações por ano em rede nacional de postos e oficinas mecânicas. Entre seus clientes, Schoenberger cita empresas como a Vivo, 3M do Brasil e o Governo do Estado do Ceará. Desde que passou a adotar a gestão sustentável de suas frotas, a Vivo registrou uma redução de 40% em emissão de gás carbônico. Com um trabalho orientado pela Ecofrotas, a empresa de telefonia conseguiu reduzir suas emissões de gás carbônico em 3.204 toneladas entre setembro de 2007 e julho de 2010. De acordo com a


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Ecofrotas, essa redução se deveu principalmente à substituição da gasolina por etanol como combustível prioritário dos veículos da empresa. Além disso, “a renovação da frota e o treinamento dos colaboradores também auxiliaram nesse processo”. O diretor de Patrimônio, Serviços e Obras da Vivo, Pollymark Aquino, afirmou que os resultados de redução das emissões da companhia, além de serem considerados positivos em termos absolutos, são ainda mais significativos se forem avaliados em termos relativos, uma vez que foram conquistados num momento de

forte expansão das operações da empresa. “Instalamos uma média de quatro antenas por dia. Ao fazer isso gastando e emitindo menos, estamos sendo extremamente eficientes”, observa. Para a 3M do Brasil, a escolha da Ecofrotas se deveu a um entendimento comum sobre a importância de se aliar sustentabilidade ambiental com gestão eficiente nos negócios. “A escolha do sistema de gestão de frotas da Ecofrotas está alinhada com a nossa filosofia de desenvolver ações com vantagens econômicas atreladas à sustentabilidade em nosso relacionamento com os colabora-

dores, fornecedores e com a nossa estratégia de produção e de vendas”, afirma o gerente Corporativo de Distribuição, Administração de Vendas, Serviços Administrativos e e-Productivity da 3M, José Augusto Soares. O trabalho, que começou apenas com veículos de vendas e operacionais em 2004, foi expandido para toda a frota da empresa. E os resultados são bastante semelhantes aos alcançados com a Vivo. De 2007 a 2010, as emissões de CO² dos veículos da companhia foram reduzidas em 40% e os custos da empresa com sua frota reduziram-se em 20%.

Para saber mais sobre www.ecofrotas.com.br


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acelerar

Velocidade elĂŠtrica

Motos jĂĄ sĂŁo fabricadas com motores movidos a eletricidade ou ar comprimido


©2012 Copyright Zero Motorcycles, Inc.

A

celerar uma moto, ouvir o ronco do motor e sentir o vento batendo no rosto. Para muitos, esta é a expressão máxima da sensação de liberdade. Mas, em poucos anos, esta sensação será disfrutada de uma forma bem mais silenciosa. O futuro das motos pode estar na utilização de motores movidos a eletricidade ou ar comprimido. Já são muitos os exemplos de protótipos e também motos que estão sendo comercializadas com motores que não utilizam combustíveis fósseis. O australiano Dean Benstead criou o conceito da motocicleta “O2 Pursuit”, com o objetivo de fornecer uma alternativa sustentável aos consumidores. Com capacidade de atingir velocidade de até 100 km/h, ela roda em ar comprimido usando tecnologia e motores desenvolvidos na Austrália. A moto de Dean será fabricada inteiramente com materiais reciclados. Por tratar-se de um protótipo, ainda não existe custo estimado para a comercialização.

Outro exemplo da utilização do ar comprimido como combustível é Saline Bird, conceito de motovelocidade criado por cinco estudantes da Escola Internacional de Design de Valenciennes, na França. A moto é equipada com três tanques de ar, com capacidade total para 27 litros. Mas as motos sustentáveis não são apenas protótipos. Atualmente no mercado já existem exemplos destes veículos movidos a energia elétrica. A exemplo dos protótipos a ar comprimido, estas motos elétricas possuem motores silenciosos, o que contribui para a redução da poluição sonora nas cidades, ao mesmo tempo que reduz a emissão de CO². No Brasil, a marca Kasinski já oferece aos consumidores scooters movidas a eletricidade. A Prima Electra, que é a primeira scooter elétrica fabricada no País, utiliza um motor de 2000 watts alimentado por baterias chumbo-ácidas. Ela tem uma autonomia de até 50 km e atinge uma velocidade máxima de até 60 km/h.

© o2pursuitdeanbenstead.files.wordpress.com

© www.kasinski.com.br

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Seu preço, sem incluir o valor do frete, é de R$ 3.990. Além da Prima, a Kasinski também vende a WIN Elektra, que possui uma autonomia de 80 km. Esta versão atinge uma velocidade de até 60 km/h. Para quem procura uma moto mais potente do que uma scooter, uma boa opção são as produzidas pela empresa norteamericana Zero Motorcycle. A empresa é especializada na produção de motos elétricas de alto rendimento. Utilizando baterias de íon de lítio, a versão Zero S chega a atingir uma velocidade de 140 km/h, além de ter uma autonomia de mais de 150 km, quando está com a carga completa. A Zero S é vendida por um preço a partir de US$ 11.945.

Para saber mais sobre http://goo.gl/XP7F8 http://goo.gl/EodwX http://goo.gl/ATj24


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visitar

Salvador Dalí ecologicamente correto

Museu que guarda rico acervo do artista espanhol construiu uma sede moderna e com preocupação ambiental. Um dos principais objetivos foi reduzir o consumo de energia e água


Wikimedia Commons

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N

ão bastasse a riqueza do seu acervo, o Salvador Dalí Museum, localizado em Saint Petersburg, Flórida (Estados Unidos) e que abriga a maior coleção do mundo de obras do artista espanhol, ainda pode se orgulhar das suas formas arquitetônicas que, em si, são uma atração à parte. Mas o seu projetista, do escritório de arquitetura Hok, foi mais além. Com a ajuda de softwares de engenharia e arquitetura, o prédio foi desenhado para, na medida do possível, respeitar o meio ambiente através de vários sistemas que reduzem o consumo de energia e recursos naturais. Para começar, a posição do edifício foi calculada de forma a reduzir a carga de luz que vem do poente (um expediente comum em locais quentes e ensolarados. O lado principal da construção fica voltado para o nascente, evitando o mormaço da tarde e a necessidade de aumento do ar condicionado). Coletores solares instalados no telhado servem

para aquecer a água dos banheiros e ajudar no ciclo de desumidificação do sistema de ar condicionado. Sensores de movimento ajudam a economizar energia, acendendo as luzes automaticamente quando alguém chega e desligando quando as salas estão vazias. Para conservação da água, encanamentos e torneiras usam dispositivos de baixo fluxo - com eles, a água sai das torneiras com mais força e em menos quantidade. Além disso, todo o líquido condensado é reciclado e volta para o sistema hidráulico. Por fim, o revestimento do edifício é bem isolado e, através de uma massa térmica do concreto, atua como um dissipador de calor para reduzir as variações de temperatura ao longo do dia. Outro recurso explorado no prédio do museu é o chamado “daylighting”, prática que consiste em aproveitar ao máximo a luz natural para, com isso, reduzir o consumo de energia das luzes artificiais. Na “daylighting”, jane-


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Fotos: © Moris Moreno

visitar

las e superfícies reflexivas servem para aproveitar ao máximo a iluminação do dia. Isso pode ser combinado com lâmpadas de baixa potência ou com regulagem automática dos interruptores: quanto mais forte for a luz vinda do sol, menos luz artificial será usada e viceversa. Uma preocupação adicional dos projetistas foi com a redução dos gastos e recursos para manter o prédio. Foi usada uma estrutura de concreto, metal e 1.062 painéis de vidro com resistência suficiente para suportar, apesar da altura de aproximadamente 75 metros, os furacões que costumam assolar a Flórida. Na combinação dos materiais, o

concreto ficou com aparência de inacabado para reduzir a necessidade de manutenção e fazer contraste com a delicadeza e a transparência do vidro. Para ter idéia da resistência do prédio, a estrutura foi projetada para suportar ventos de mais de 260 km/h e furacões de categoria 5. O telhado e as paredes são de concreto e tem 12 e 18 polegadas de espessura, respectivamente. Localizado acima do nível de inundação no terceiro andar, o acervo está protegido de tempestades. Especialmente desenvolvidos para o projeto, os painéis de vidro triangulares tem uma polegada e meia de espessura e foram testados para resistir a ven-

tos de mais de 200 km/h, chuva torrencial e os impactos de um furacão de categoria 3. O Museu Salvador Dalí foi fundado em 1982 e sua nova sede foi construída entre 2008 e 2009. A estrutura moderna, de 68 mil m², dobrou o tamanho original da instituição. A exposição permanente inclui óleos, aquarelas, desenhos, esculturas e outras obras, compondo um acervo de mais de 2 mil peças.

Para saber mais sobre thedali.org/


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pagar

Divulgação

Cupom social

F

azer compras também pode ser um jeito de ajudar o próximo. Alguns consumidores doam

a nota fiscal para entidades filantrópicas. E, agora, as empresas aderiram a uma nova iniciativa. A Regispel, fabricante de bobinas fiscais, inovou ao utilizar pela primeira vez o verso dos cupons para apoiar causas sociais e se comunicar com o consumidor. Inicialmente o projeto conta com o apoio de grandes redes varejistas como Bobs, Lojas Zelo, Leroy Merlin, Center Castilho, Via Brasil, Kinoplex, Lojas Cem e Eskala, que nesta primeira etapa

do projeto apoiam o Instituo Ayrton Senna. “As cadeias varejistas adquirem as bobinas com inscrições de apoio ao Cupom Solidário e parte da renda obtida com a venda é destinada a essa entidade”, explica o gerente de comunicação e marketing, Giancarlo Pizzutto, idealizador do projeto. De acordo com ele, são mais de 200 milhões de cupons emitidos no varejo por mês. Para aderir aos chamados “cupons solidários” não existe custo ao varejo.

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limpar

Lixeira inteligente Divulgação

Estruturas espalhadas por Londres funcionam como lixeiras, mas também divulgam informações em telas de LED

C

onscientizar a população sobre o correto descarte de resíduos urbanos e transmitir informações. Estes são os objetivos de uma nova tecnologia implantada ruas de Londres. Apelidadas de Renew Recycle Bin, as lixeiras inteligentes auxiliam a cidade a reduzir a quantidade de lixo jogada diariamente nas ruas. São mais de 30 jornais gratui-

tos distribuídos diariamente aos londrinos, que resultam em uma enorme quantidade de resíduos produzidos e descartados. Este foi um dos problemas resolvido por esta tecnologia. A empresa que administra as lixeiras firmou parcerias com os principais veículos de comunicação britânicos e internacionais. Com isso, as notícias mais

importantes do dia são transmitidas constantemente através das telas de LED instaladas na Recycle Bin. Informações de temas variados, desde cotidiano até as artes, são transmitidas entre 6h e 23h59. Segundo a fabricante, as estruturas das lixeiras são feitas com um material que é quatro vezes mais resistente que o aço. A parte externa é revestida com um vidro reforçado com polímero. A ideia é que, a cada ano, uma dessas lixeiras deve receber 1,5 toneladas de materiais recicláveis, sendo a maior parte papel. As telas instaladas na Recycle Bin são de LED, o que proporciona baixo consumo de energia. Mas isso não deixou de gerar questionamentos em relação à estrutura. Foi sentida a falta da utilização de placas fotovoltaicas para a obtenção da energia necessária para fazer a estrutura funcionar. As primeiras unidades foram instaladas em Londres em fevereiro deste ano e até os jogos olímpicos, em julho, a cidade deverá contar com cem lixeiras deste tipo espalhadas pelas ruas. Uma unidade da Recycle Bin será instalada em Nova York para testes e ainda existe a possibilidade de levar a estrutura para Tóquio e Singapura.



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ocupar

Dar verde a áreas abandonadas Projeto busca encontrar solução para terrenos abandonados, dar uma utilidade para o imóvel, de modo que beneficie a comunidade


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Foto: Eric Fischer

er um terreno abandonado ao lado de casa muitas vezes é motivo de preocupação, pois pode servir de esconderijo para bandidos ou ser utilizado para a prática de crimes. Pior ainda se este terreno pertencer ao poder público e não tiver nada planejado para sua utilização. Buscar uma solução para este problema e ao mesmo tempo encontrar uma utilidade para o imóvel, de modo que beneficie a comunidade que mora no entorno. Este é o princípio do projeto 596acres. org. Os responsáveis pelo projeto estão mapeando os terrenos de propriedade do governo na área do Brooklyn, em Nova York, e estão estimulando as comunidades locais a se organizar e encontrar um uso para eles. A partir de informações do banco de dados do Departamento de Planejamento de Nova York, o 596acres identificou áreas que foram cadastradas como “vagas”. Ao todo foram 596 acres, ou o equivalente a mais de 2,4 milhões de metros quadrados, para os quais o poder público não tinha nada pensado uma utilização. De posse destes dados, os responsáveis pelo projeto identificaram as áreas, imprimiram mapas e escreveram dados sobre cada lote, como por exemplo, o tamanho e o órgão responsável por eles. Tudo isso foi afixado nas grades que protegiam os terrenos mapeados. Alguns moradores de áreas próximas a estes terrenos utilizaram estas informações para entrar em contato com os órgãos responsáveis e começaram a pensar projetos que envolvessem a

Foto: Keith Simmons

T

comunidade local. Um destes projetos foi desenvolvido por duas mulheres que transformaram uma área próxima de suas casas em horta comunitária. A ideia delas era plantar legumes e verduras, produzindo alimentos frescos para os vizinhos. Ao mesmo tempo foram realizadas oficinas de capacitação com outros moradores, para que eles também pudessem se responsabilizar pelas plantas. O projeto foi tão bem sucedido que a prefeitura de Nova York resolveu incluí-lo como parte do programa oficial de jardinagem da cidade, o Green Thumb. O 596acres também disponibiliza um mapeamento das áreas em seu site, www.596acres.org e organiza oficinas para ensinar a utilização das ferramentas da página. Nela também podem ser cadastradas mais áreas e as atividades que estão sendo realizadas pelos moradores em terrenos identificados. Desta forma, as pessoas podem ter conhecimento das áreas ainda sem utilização e

os que já possuem projetos sendo desenvolvidos pelas comunidades. No Brasil, uma lei sancionada pela presidente Dilma Roussef em novembro do ano passado irá garantir à população informações semelhantes às que foram utilizadas pelo 596 acres. A Lei 12.527 ou Lei de Acesso à Informação, que entrou em vigor em maio deste ano, possibilita que o cidadão faça uma consulta aos órgãos do poder público, que terão a obrigação de disponibilizar as informações requisitadas num prazo de até 20 dias. Entre as inúmeras possibilidades, os cidadãos brasileiros poderão se inspirar no site norte-americano e solicitar informações sobre áreas governamentais sem uso.

Para saber mais sobre http://596acres.org/


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incentivar

Carona amiga

Foto: Antonio Milena/AE

Dividir carros diminui a poluição, aproxima pessoas e reduz congestionamentos no trânsito. Tudo isso com segurança

S

abe aquele ensinamento que as mães dizem para os filhos: jamais aceite carona de estranho? Com um princípio que vai ao encontro desta máxima, o site Caronetas tenta estabelecer contato entre pessoas que têm em comum o trajeto de casa para o trabalho e estimular a prática de carona entre elas. E motivos não faltam para justificar as vantagens da carona. Com mais pessoas dividindo o mesmo automóvel, menos carros estarão nas ruas e, com isso, menos conges-

tionamento e uma emissão menor de CO². E para quem não esquece o conselho da mamãe, o método do site limita o estímulo à carona apenas a colaboradores comprovadamente de empresas e centros empresariais cadastradas no site. O método é simples mas, ao mesmo tempo, seguro. A empresa se cadastra e, após a confirmação e aprovação por parte da equipe do site, é enviado um link para que os colaborades possam se cadastrar também. O colabo-

rador preenche os dados com seu CEP e e-mail corporativo. Caso algum funcionário não possua e-mail corporativo, o responsável pela empresa precisa confirmar que este é colaborador. A partir daí, se inicia o processo de contato para a carona propriamente dita. As pessoas que possuem carros recebem o e-mail de pessoas que fazem trajeto semelhante e entram em contato com os caroneteiros (nome dado pelo site para quem recebe a carona). Já


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quem não possui carro fica aguardando o contato do caronista (nome dado para quem oferece a carona). O melhor é que todo o trabalho do site é feito de forma gratuita. Mas alguns entendimentos podem ser feitos entre caronista e caroneteiro, que resultem em vantagens para ambos, como o rodízio para a utilização de carros entre eles ou a divisão de custos com gasolina, pedágios, estacionamento, entre outros. Desde o início de suas operações em fevereiro do ano passado, o Caronetas vem sendo um sucesso. Logo nos primeiros dias de atividade, foram mil cadastros realizados e 100 caronas marcadas. Hoje, o site já possui 900 empresas e mais de 230 mil funcionários cadastrados. A ideia também recebeu o reconhecimento do Banco Mundial, que o convidou para ser parceiro de uma experiência que busca encontrar soluções de mobilidade urbana. Por um trânsito melhor O Projeto Piloto de Mobilidade Corporativa está sendo aplicado em São Paulo, na região da Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, em particular, as empresas dos edifícios do Centro Empresarial Nações Unidas (CENU) e do World Trade Center (WTC). A escolha da área não foi aleatória. A região da Berrini é a que

tem o maior índice de pessoas se deslocando de carro sozinhas, de acordo com a pesquisa Origem-Destino do Metrô de São Paulo. É também, consequentemente, uma das recordistas em congestionamentos da cidade. O projeto do Banco Mundial procura estimular uma prática já bastante comum na Europa e nos Estados Unidos, mas que ainda é pouco utilizada no Brasil: a adoção de métodos de gestão de demanda de tráfego (Travel Demand Management - TDM - em inglês) por empresas privadas. Como as empresas são polos geradores de tráfego, elas têm um grande poder de influência sobre o trânsito da cidade. O objetivo do banco é buscar juntamente com as empresas instaladas na área soluções para o problema. O projeto é dividido em etapas. Na primeira, foi realizado um seminário para convidar as empresas a participarem do piloto e explicar seu funcionamento. No mês passado foi realizado um seminário para ensinar os funcionários destas empresas a criar e implementar planos de mobilidade para os funcionários. No momento está sendo realizada uma pesquisa com os funcionários para entender como eles se deslocam ao trabalho. Estes dados servirão de base a planos de mobilidade para a área. Após a pesquisa,

as empresas terão até agosto para implementar os planos. E onde entra o Caronetas? Dentro deste planejamento, o site foi apontado pelo Banco Mundial como uma alternativa inovadora para ajudar a resolver o problema do trânsito na área. Juntamente com outras entidades e empresas que têm atuação na área de mobilidade urbana, o Caronetas aparece como uma opção para que os funcionários das empresas do Centro Empresarial Nações Unidas (CENU) e do World Trade Center (WTC) possam deixar grande parte dos carros em casa. Para o diretor do Caronetas, Marcio Nigro, a parceria com o Banco Mundial é muito importante, pois ajudará o site a se inserir em outros locais. “Através desta parceria, tivemos um reconhecimento que facilitará a entrada em outros países”, disse. O Banco Mundial pretende utilizar a experiência na Berrini como iniciativa piloto que poderá ser replicada em outras regiões de São Paulo e em outras cidades brasileiras, se o resultado for bem sucedido.

Para saber mais sobre http://goo.gl/lw2QQ http://goo.gl/q0cWg


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ler

Livros ecológicos Crianças podem aprender a preservar o meio ambiente por meio de leituras com conteúdo verde e materiais sustentáveis

O

livro “Mamíferos do Brasil – Uma Visão Artística”, lançado pelo pintor naturalista Tomas Sigrist, famoso por suas ilustrações de aves, é uma referência sobre a história natural destes animais brasileiros. Imagens de onças, macacos, jaguatiricas, morcegos, raposas, baleias e golfinhos fazem parte da obra. Para reproduzir as pinturas feitas a mão, Sigrist empreendeu uma aventura pelas matas e campos do país. O livro, patrocinado pela Tetra Pak, é resultado de mais de cinco anos de pesquisa de campo feita pelos mais variados biomas brasileiros: desde a Mata Atlântica até o Cerrado, passando pela Floresta Amazônica, Parque Nacional das Emas (GO), Pantanal, matas virgens na região de Pernambuco, Serra do Cipó (MG) e Iguape (SP). Segundo o artista, além da visualização dos animais, a utilização de materiais específicos garante a qualidade da obra. “Com o uso do pastel seco, por exemplo, é possível reproduzir com perfeição a textura do pelo aveludado de algumas espécies de mamíferos retratados no livro, como é o caso da onça pintada”, afirma Sigrist. Para Fernando von Zuben, diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak, promover a sustentabilidade

junto aos mais diversos públicos é o principal objetivo da empresa. “Com esse projeto, acreditamos que ao mesmo tempo em que despertamos o interesse dos cidadãos pela arte e cultura, disseminamos a mensagem da importância da preservação do meio ambiente”, conclui. Foi lançado também o livro

infantojuvenil “Guerra e Paz”, de Eraldo Miranda, inspirado nos painéis de Cândido Portinari, um dos artistas mais prestigiados do país e um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos. Editada pela Cria Mineira, a obra foi desenvolvida especialmente para as crianças e tem uma preocupação em conscien-


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tizar os pequenos sobre questões ecológicas e de direitos humanos. E, como reforço a essa ideia, uti-

liza o Vitopaper, papel sintético criado a partir de diversos tipos de plástico reciclado com tecnologia 100% brasileira da Vitopel. Unindo sustentabilidade e alta qualidade visual, “Guerra e Paz” editado em Vitopaper é cem por cento reciclável, extremamente resistente e possui textura agradável ao toque. Levando-se em consideração que o produto é desenvolvido especialmente para o público infantil, o papel sintético feito de plásticos reciclados é difícil de rasgar e resiste à água. O Vitopaper incentiva a coleta seletiva no Brasil, já que para cada tonelada produzida do material são

retirados das ruas e lixões cerca de 850 quilos de resíduos plásticos. O conceito e desenvolvimento do livro “Guerra e Paz” surgiu em 2008, quando a coordenadora geral do projeto, Nádia Alonso, conheceu João Portinari, filho do pintor. “Na época, eu estava elaborando um DVD que retratava a vida de vários pintores”, conta Nádia. Em 2010, com o esforço do João em trazer os painéis expostos na ONU com umas das principais obras de seu pai, para serem exibidos no Brasil, surgiu a ideia da realização de uma obra infantojuvenil em homenagem a Cândido Portinari.


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cidade renovável QUALIDADE DE VIDA

Um lugar para

se viver

Viena, a capital da Áustria, possui vários atributos verdes e sustentáveis, que aliam modernidade e preservação histórica

{ por Carlos Henrique Camelo


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SXC.h u

Viena

O

que esperar de um local que oferece qualidade de vida para seus moradores? E se esta cidade consegue ser moderna ao mesmo tempo em que preserva o seu patrimônio histórico? E se os seus governantes ainda assumem um compromisso com a área de eficiência energética, buscando reduzir o aumento do consumo? Você dirá que este é um dos melhores locais do mundo para se viver. E é mesmo. Viena, a capital da Áustria, possui todos estes atributos. Não por acaso, ela foi escolhida a primeira do ranking das melhores cidades para se viver, conforme estudo elaborado pela consultoria norte-americana Mercer, em 2011. A pesquisa avaliou os municípios com base em dez categorias, incluindo: ambiente político, social, econômico e sociocultural; condições de saúde e saneamento básico; escolaridade; serviços públicos e de transporte; recreação e bens de consumo. Além de oferecer qualidade de vida para os cerca de 1,7 milhão de habitantes, Viena também se destaca pela relação


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cidade renovável

Divulgação

QUALIDADE DE VIDA

com seu patrimônio. Desde 2001, seu centro histórico integra a lista de Patrimônio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Mas para a capital austríaca, preservar não significa deixar intocável. Muito pelo contrário, Viena consegue sempre se modernizar, mas sem agredir este patrimônio. Tanto que em 2010 recebeu o prêmio de “Planejamento Urbano” da Organização das Nações Unidas (ONU), por transformar sua antiga infraestrutura em instalações modernas. Parte desta modernização também passa pela busca da eficiência energética. Viena foi a primeira cidade europeia a desenhar e implementar um Programa Urbano de Eficiência Energética. Com um horizonte até 2015, o programa busca reduzir até esta data o au-

mento do consumo energético dos estimados 12% para 7%. Para que isso ocorra, foi firmado um compromisso que envolve mais de 100 medidas relacionadas à eficiência energética. Dentro deste programa merecem uma atenção especial os prédios com mais de 30 anos. Com 25% das casas construídas entre 1945 e 1980, Viena tem investido na remodelação destes edifícios, com o intuito de buscar a eficiência energética. Entre as ações desenvolvidas estão financiamento para a reabilitação térmica dos prédios, bem como critérios de subsídios que levem em consideração a eficiência e a sustentabilidade no consumo energético. As ações e obrigações não se aplicam apenas aos prédios privados. Edifícios públicos também tem que respeitar

estes critérios de eficiência. O trabalho realizado na cidade já começa a dar resultados. De meados de 2006, quando se iniciou o programa, até igual período de 2009, foi registrada uma redução anual de 134 GWh. A avaliação feita durante o período de implementação do programa foi apenas uma primeira checagem dos resultados. Está prevista para o final deste ano a publicação de um relatório sobre o que foi conseguido de redução nestes cerca de seis anos. Mas somente em 2015, teremos o balanço final para saber se os austríacos conseguirão cumprir o planejado.

Para saber mais sobre http://www.w ien.gv.at



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rg verde PERFIL

Exploradora de oceanos A oceanógrafa americana Sylvia Alice Earle é uma exploradora e defensora do mundo submarino. Começou cedo, quando ainda criança brincava de explorar as florestas perto de sua casa


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U

m mergulho no oceano. Um mergulho rumo a um mundo selvagem e desconhecido, indiferente, mas indissociavelmente pertencente ao mundo dos homens. A oceanógrafa americana Sylvia Alice Earle, 76, leva a sério os seus mergulhos, mergulha até quando em terra firme, um mergulho reflexivo, apaixonado, e por vezes, preocupado. Motivos tem de sobra para preocupar-se, não chega ao desespero, mas é latente o seu sofrimento. Os números traduzem o que os homens parecem não entender. “Em 50 anos nós perdemos, na verdade, arrancamos, comemos mais de 90% dos grandes peixes que existiam”. Segundo ela, 50% dos recifes de corais foram perdidos ou estão em fase de desaparecimento, sem falar que apenas 1% dos oceanos são protegidos por medidas ambientais. A preocupação, no entanto, foi modulada por ações, iniciativas e, sobretudo, conhecimento. Sylvia é uma exploradora e defensora do mundo submarino. Começou cedo, quando ainda criança brincava de explorar as

florestas perto de sua casa, na cidade de Gibbstown, New Jersey. O encantamento pela natureza ressoou em todas as esferas de sua vida e chegou ao ápice com a sua primeira viagem ao fundo do mar, um mergulho livre em 1953, durante a sua graduação na Universidade do Estado da Flórida. De acordo com Sylvia, foi aquele momento mágico que marcou o início de sua carreira como cientista. O mergulho deixou-a fascinada por todos os aspectos da vida no oceano e, desde então, nunca mais parou. Sua pesquisa sempre esteve aliada à prática. Foram inúmeros mergulhos e cerca de 70 expedições aquáticas, totalizando aproximadamente 6.500 horas debaixo d’água. Conheceu o planeta como poucos tiveram a oportunidade de conhecer. Galápagos, Panamá, China, Bahamas, Havaí, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Bermudas e Alasca. A curiosidade e a sede pelo conhecimento ditaram uma vida intensa e agitada, contrastando com a tranquilidade da vida submarina. Obstáculos foram muitos, alternando entre o

preconceito, a descrença e ignorância, Sylvia superando tudo, mostrou-se uma mulher forte e sem hesitar continua até hoje as suas pesquisas. Seu empenho e determinação em prol da preservação e da proteção dos ecossistemas marinhos lhe renderam mais de 100 prêmios nacionais e internacionais, e também recordes, como por exemplo, em 1979, quando mergulhou a uma profundidade de 381 metros no mar perto de Oahu, estabelecendo desde então a maior marca já registrada por uma mulher mergulhando em mar aberto. No entanto, os prêmios e os recordes registram muito mais do que números, são frutos, pequenos reconhecimentos de seu trabalho, atuação e pesquisa em prol do meio ambiente. Sylvia Earle foi nomeada pela revista Time como a primeira heroína para o planeta e chamada de “lenda viva” pela Biblioteca do Congresso Americano. Verdade? Casada, mãe de três filhos, oceanógrafa, exploradora, escritora, conferencista, exploradora em residência da National Geogra-


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rg verde

©KipEvansPhotography.com

PERFIL

phic Society, líder das Expedições Sustentáveis pelos Mares, conselheira do Harte Research Institute no Golfo do México e Texas, fundadora e presidente da Fundação Deep Search e presidente do Conselho Consultivo para o Oceano do Google Earth. Com tudo isso, podemos dizer que Sylvia é uma mãe para o planeta. Afinal, não são as mães que carregam consigo características de heroína? A consciência de um mundo em conexão e em conectividade lhe rendeu um pensamento coerente e lúcido. Sua pesquisa reflete uma busca, a busca pela redenção da humanidade, a busca por uma esperança em um ser egoísta e ignorante de um mundo que existe para além de sua própria vida

cotidiana. «Nas escolas, as crianças aprendem as letras, os números, mas não aprendem a importância da natureza para a sobrevivência delas”. Sua preocupação atenta para um mundo de pedra, uniformizado, permeado pela falta de sensibilidade, contato e convivência com a natureza. Sylvia escolheu trilhar um caminho, o de aprender e divulgar a importância dos oceanos para a vida e a futura sobrevivência do homem, assim como avaliar a devastação e os impactos causados por ele. O mar aparece como metáfora, é o lugar onde a experiência se torna realidade palpável. Sua fala é clara e não poupa esforços ou críticas, a luta pela consciência é inglória. Diz ela: “Com cada gota de

água que você bebe, a cada inspiração, você está ligado aos mares. Não importa em que parte do globo você vive. A maioria do oxigênio na atmosfera é gerado no mar”. Sylvia não quer apenas compartilhar e fazer ecoar o seu sofrimento, ela deseja produzir, instigar ações e mover interesses, quer mostrar que é possível e que essa é uma responsabilidade de todos e não somente dela. Sua luta reside em esperanças, e a maior talvez seja a crença de que o homem não tenha a mente pequena demais para assimilar e entender a importância do oceano, mas acima de tudo, que ele possa compreender de uma vez por todas, que não está só neste mundo.


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capa NOVAS FONTES

{ Por Juliana Bomfim


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ENERGIA DO

FUTURO Hoje, o Brasil depende, em boa parte, da força das águas de represas para gerar eletricidade. Mas o universo das fontes renováveis é bem mais amplo. E bastante promissor, para quem quiser investir em um futuro mais sustentável. Biomassa, algas, Hidrogênio, energia dos oceanos são algumas da apostas de investidores e pesquisadores, mas no plano governamental falta regulação

{ Por Silvio Mauro


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capa NOVAS FONTES

Q

uando se fala em energias renováveis no Brasil, geralmente o senso comum remete às duas fontes que hoje são as vedetes da geração ambientalmente engajada: a solar e a eólica. Além, claro, da tradicional hidrelétrica. De fato, essas três estão entre as mais avançadas, tanto no mundo quanto no País. No entanto, com a tecnologia disponível atualmente, é possível extrair energia de várias outras alternativas. Ainda não se ouve falar com frequência nelas, mas é possível que, em um futuro próximo, usinas de algas, de biomassa e de Hidrogênio, entre outros elementos, façam parte da nossa matriz, operando em harmonia com as tradicionais. Aqui e lá fora tem gente trabalhando para isso. Segundo o relatório “Comunicado nº 145 - Plano Nacional

de Resíduos Sólidos: diagnóstico dos resíduos urbanos, agrossilvopastoris e a questão dos catadores”, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se todos os resíduos secos da produção da agroindústria da cana no Brasil fossem utilizados para a geração de energia, a potência instalada seria de 16.464 MW por ano. Um potencial superior ao da usina de Itaipu, ressalta a instituição. Considerando outras fontes de resíduos do setor agropecuário (veja quadro), esse potencial sobe para quase 26 mil MW. Se estivesse sendo explorado hoje, esse total corresponderia a quase 1/5 do que é gerado em toda a matriz energética brasileira atual, considerando todas as opções (renováveis ou não). No caso de setor de cana de açúcar, ressalta

o Ipea, o aproveitamento dos resíduos para geração de eletricidade está bem adiantado, o que garante a quase autossuficiência energética da atividade. Hoje, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a força vinda de fontes renováveis representa cerca de 74% da matriz elétrica brasileira. Desses, 65% vêm de hidrelétricas, uma alternativa considerada renovável atualmente bastante polêmica, por causa do grande impacto ambiental que os lagos das usinas causam. O grande desafio é aumentar o uso da biomassa, cuja participação, hoje, está em pouco mais de 7%. Regina Helena Sambuichi, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea, destaca que mesmo resíduos com pouco potencial ou dificuldades logísticas de


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aproveitamento (como os restos de extração de madeira, que precisariam ser recolhidos e transportados para longas distâncias), vale a pena se esforçar para implementar o uso, principalmente por causa de razões ambientais. O não tratamento dos resíduos, alerta ela, pode trazer contaminação do solo, do ar e da água, o que acarretaria em prejuízo à saúde humana e custos para o sistema de saúde. “Não se pode aproveitar todos os resíduos, mas é importante buscar a viabilidade de uso deles”, explica. Da mesma forma, o Ipea lem-

bra que a geração de resíduos sólidos urbanos tende a aumentar, não apenas por causa do aumento da população mas também com o aumento da renda, “principalmente quando estratos da população ganham poder de compra”, como está acontecendo atualmente no Brasil. O potencial estimado pelo órgão para geração de eletricidade a partir de usinas de biogás instaladas em aterros sanitários de grandes centros urbanos é relativamente baixo: aproximadamente 311 MW. Mas isso significaria uma grande quantidade a menos de lixo orgâ-

nico depositado no solo. Outra fonte de energia renovável com potencial de crescimento, mas ainda incipiente no Brasil, é a das ondas. Segundo a Aneel, existe apenas um empreendimento usando essa opção, e com pouca quantidade de energia gerada: apenas 50 KW. Há também a solar, bastante conhecida mas ainda pouco explorada no Brasil. São oito empreendimentos que somam 1,5 MW de eletricidade. Por fim, a mais avançada é a eólica, com 329 empreendimentos autorizados ou em construção e total de de 8,5 MW.

Potencial de biomassa - setor agropecuário Fonte

Resíduos (milhões de T/ANO)

Potencial Energético (MW/ ANO)

Agricultura Cana-de-açúcar (bagaço e torta de filtro)

201,4

16,46

Soja

41,9

3,42

Milho

29,4

2,41

Trigo

3,0

238,00

Arroz

2,5

175,00

Bovinos

1.655,4

1,03

Aves

28,0

136,00

Suínos

20,4

122,00

Total

1.703,8

1,29

Indústrias primárias associadas às criações animais Abatedouros

103,2

11,2

Graxarias

6,8

0,8

Laticínios

13,2

2,6

Total

123,2

14,6

Silvicultura Colheita de madeira em tora

15,7

650,00

Processamento mecânico de madeira

22,9

954,00

Total

38,5

1.604,00


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capa NOVAS FONTES


A força que vem do Hidrogênio escapamento, seus propulsores teriam uma eficiência muito maior no processo de conversão de energia em força mecânica. Segundo Adriano Duarte Filho, coordenador geral de tecnologias setoriais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o motor de um carro, por exemplo, consegue aproveitar apenas 30% da energia obtida com a queima de combustível para tracionar o veículo. O resto se perde em dissipação de calor. Já com a tecnologia de uso do Hidrogênio, que funciona através de uma reação química com o oxigênio que obtém água e eletricidade como produtos, a eficiência sobe para aproximadamente 50%. Outra vantagem do Hidrogê-

Seguindo o exemplo de sucesso do etanol, programa do governo pretende tornar o Brasil uma referência mundial no uso de uma fonte que tem como resíduo apenas a água Elemento formador de uma das substâncias mais básicas da vida, que é a água, o Hidrogênio também pode produzido a partir de fonte de energia renovável. E apresenta algumas vantagens em relação a outras alternativas. Uma delas é a eficiência. Para efeito de comparação, se os veículos automotores - que estão entre os principais responsáveis pela poluição atmosférica do mundo moderno - usassem essa tecnologia ao invés do motor a explosão, além de emitir apenas água pelo

nio, aponta ele, é a versatilidade. As células de combustível, componentes onde ocorre a reação entre o elemento e o oxigênio, podem ser de qualquer tamanho. Por isso, a sua aplicabilidade é vasta. “Celulares, residências e até cidades poderiam receber essa energia”, afirma ele. Além disso, o Hidrogênio pode ser obtido de várias fontes diferentes e ser armazenado. Um processo interessante apontado por Adriano Duarte é a conversão de energia elétrica excedente para obtenção de Hidrogênio, como é o casodos estudos em desenvolvimento pela Usina Itaipu Binacional Ele ficaria, então, armazenado para ser usado só quando necessário. Segundo

100 90 80 a a Gás FC/Turbin íbrido SO Turbina a Gás

70 Eficiência, %

hydrogenlink.net

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Célula a Combustível

60 50

Motor de rna ustão Inte b m o C

a a Gás Turbinerfeiçoado

40

p Ciclo A

30

Sistema H

Turbina a Gás

do Ciclo Combina

Gás ina a Turblo Simples

rbinas Microtu

20

Avançado

Cic

10 0 0,1

1

10 Potência (kW)

100

1000


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capa NOVAS FONTES o representante do MCTI, hoje, quando as usinas não têm demanda, desativam as turbinas porque não têm para onde enviar a energia a mais que geram. Entre as fontes possíveis para a extração de Hidrogênio estão a eletrólise da água e a biomassa. O único obstáculo atual para o uso do Hidrogênio é o alto custo das células de Hidrogênio e do processo de obtenção da substância. Veículos movidos a Hidrogênio, por exemplo, seriam inviáveis economicamente, no entanto os veículos poderiam ser abastecidos com álcool de biomassa para produzir Hidrogenio em reformador embarcado no veículo. Um propulsor com essa tecnologia é cinco vezes mais caro que um convencional a combustão. E apresenta menos durabilidade, também. Existem, inclusive, dois protótipos de ônibus, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. Mas, por enquanto, a aplicação comercial está em desenvolvimento da competitividade. Considerando todos esses fatores e apostando que, assim como aconteceu com o etanol, o Hidrogênio também poderá se tornar uma fonte viável no futuro, o governo brasileiro mantém o Programa de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Economia do Hidrogênio (ProH2). Segundo o MCTI, o principal objetivo é promover uma rede que envolve universidades, centros de pesquisa e setor privado para viabilizar o desenvolvimento de tecnologias para a produção tanto de Hidrogênio quanto de células de combustível. Através desse esforço, o governo acredita que, assim

como aconteceu com o etanol, o Brasil consiga se habilitar para se tornar um produtor internacionalmente competitivo nessa área. O esforço do País para estudar o Hidrogênio como fonte de energia passou por várias fases. O início foi em 1999. Dois anos depois, uma assessoria internacional foi contratada para mapear as competências que o Brasil tinha na área, ou seja, identificar quem tinha potencial para contribuir com a rede. Em 2002, o Programa foi lançado oficialmente. Hoje, de acordo com o MCTI, ele mantém cerca de 40 grupos de estudo distribuídos por 20 universidades e centros de pesquisa. Já foram investidos, entre 2004 e 2010, 112 milhões de reais na iniciativa, sendo 47 milhões vindos apenas do ministério. O ProH2 não recebeu dinhei-

ro nem em 2011 nem este ano, mas o programa continua. As instituições estão se mantendo com as verbas recebidas anteriormente e seguem com as pesquisas em ritmo normal. Alguns resultados e patentes, inclusive, já foram obtidos, de acordo com informações repassadas pela assessoria de comunicação do MCTI. O representante do MCTI explica que, diferentemente do que ocorre com outras fontes de energia renovável, não é possível fazer estimativas com o potencial de geração de energia com o Hidrogênio, principalmente por causa da grande quantidade de possibilidades que existem para obtê-lo. Ele assegura que a tecnologia é muito promissora, embora admita que muito precisa ser feito. “O custo ainda deve levar dez anos para baixar e ficar viável”, diz.


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A revolução energética por uma revolução energética, abolindo as fontes não renováveis e aproveitando melhor as alternativas renováveis de baixo impacto ambiental. Esse é o prognóstico do estudo “Revolução energética - a caminho do desenvolvimento limpo”, elaborado pelo Greenpeace em parceria com o Conselho Europeu de Energia Renovável (Erec, de European Renewable Energy Council). De acordo com o levantamento, fontes como carvão, petróleo e urânio deixariam de ser usadas. E a hidrelétrica, que hoje responde por quase 66% do total da matriz energética brasileira, diminuiria para

Estudo do Greenpeace defende

© Peterfactors | Dreamstime.com

que o Brasil poderia aumentar sua geração de energia até 2050 sem precisar de fontes não renováveis Com economia em crescimento e demanda cada vez mais forte por energia, o Brasil tem diversificado sua matriz energética, historicamente bastante concentrada nas hidrelétricas. Hoje, o país tem usinas termelétricas, faz leilões para parques eólicos e começa a engatinhar no aproveitamento em larga escala da luz solar. Além disso, temos as polêmicas usinas de energia nuclear que, mesmo com muitas vozes contrárias, continuam operando. No entanto, o País tem potencial para, até o ano de 2050, passar

resposta é sim, já que, no Brasil, o total de energia que poderia ser aproveitada com as tecnologias atuais é de 26,4 vezes a necessidade atual. De todas as fontes, a luz solar é a que teria mais capacidade: o estudo afirma que ela, sozinha, forneceria 20 vezes a quantidade de energia que o País precisa hoje. Para isso, no entanto, é preciso que o Brasil mude a filosofia atual de investimento em novas fontes. Os “princípios chave” da revolução energética prevista pelo Greenpeace são os seguintes: respeitar os limites naturais do ambiente, eliminação gradual de fontes poluentes e não reno-

O Brasil tem diversificado sua matriz energética, historicamente concentrada nas hidrelétricas. Hoje, tem usinas termelétricas, faz leilões para parques eólicos e começa a engatinhar no aproveitamento em larga escala da luzsolar. E tem as polêmicas usinas de energia nuclear pouco mais de 46% - uma redução de 20 pontos percentuais. Em contrapartida, a biomassa e a eólica, que hoje têm participação de aproximadamente 9%, subiriam para cerca de 37%. E a solar, que hoje não faz parte da matriz, passaria a responder por mais de 9%. É possível implementar esse quadro diante da certeza de que a demanda só irá crescer nos próximos anos? Segundo o estudo, a

váveis, implantação de soluções renováveis, principalmente os sistemas descentralizados (nos quais a energia é produzida perto de onde é consumida, evitando o desperdício nas etapas de transmissão e distribuição), equidade na utilização dos recursos e desvinculação dos conceitos de crescimento econômico e consumo de combustíveis fósseis. A descentralização é um ponto que merece destaque. Citando


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capa NOVAS FONTES dados da Agência Nacional de Energia Elétrica, o relatório do Greenpeace ressalta que 16% da eletricidade produzida no Brasil é perdida durante os processos de transmissão e distribuição. Esse total é equivalente à geração da hidrelétrica de Itaipu. Desse desperdício, metade é perda técnica e a outra metade é decorrente de problemas como fraude ou furto de eletricidade - o chamado “gato”. Além disso, o Brasil ainda tem, segundo o estudo, cerca de um milhão de pessoas em pequenas comunidades que ainda não têm acesso à energia, por causa do modelo centralizado atual. Elas poderiam ser beneficiadas com pequenas usinas, instalação de placas solares ou geradores eólicos domésticos, por exemplo. Esse investimento para o fim do modelo centralizado em um país de dimensões continentais e muitas diferenças entre as regiões é uma amostra do que seria o desafio de migrar para a revolução energética defendida pelo Greenpeace. O estudo levou em conta, para efeito de comparação, dados de referência com dados do Ministério de Minas e Energia (MME). Com base nas informações do MME, o aumento do consumo final de eletricidade no Brasil será de mais de três vezes em pouco mais de 40 anos (de 445 TWh, em 2007, para 1.442 TWh em 2050). No cenário da revolução energética, esse crescimento seria reduzido. O consumo final de eletricidade atingiria 1.197 TWh em 2050, 17% menos do que no cenário de referência baseado em dados do governo. Isso seria obtido com medi-

das de eficiência energética que, defende o estudo, têm potencial para reduzir o consumo em 415 TWh por ano, o que adiaria a necessidade de aumento de parte da capacidade instalada. Essa redução progressiva do consumo seria alcançada por meio do uso de equipamentos elétricos eficientes em todos os setores, conscientização da sociedade para uso racional da eletricidade e melhor gerenciamento da demanda. Por fim, o estudo do Greenpeace aponta que o investimento em energias limpas e renováveis resultaria em um custo menor da eletricidade. A adoção de tecnologias renováveis aumentaria o custo de geração elétrica entre R$ 90 e R$ 106/MWh, entre 2007 e 2020. Esse valor subiria para R$ 127/MWh em 2040 e estabilizaria em R$ 120/ MWh no ano de 2050, devido à redução do preço das energias eólica e solar, que responderiam por uma parcela significativa da matriz elétrica. Já no cenário de referência, o custo médio de geração seria de R$ 110/MWh em 2020, subindo para R$ 129/ MWh em 2030 e alcançando R$ 176/MWh em 2050. A explicação para essa diferença é simples. A emissão de carbono tem um custo, para os países. E ele sobe na proporção direta da preocupação do mundo com o meio ambiente, tornando o uso de combustíveis fósseis dispendioso. Segundo o Greenpeace, os valores estimados para as emissões de CO² (por tonelada de carbono) irão passar de R$ 18 (US$ 15), em 2010, para R$ 90 (US$ 50) em 2050.


© Naluphoto | Dreamstime.com

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Muito a fazer O Brasil já tem experiências consolidadas e significativas em energia eólica. Mas as outras opções de fontes renováveis ainda são pouco exploradas (e estudadas) no País Um dos grandes desafios das novas tecnologias é a sua implantação em empreendimentos rentáveis, que garantam retorno para os investidores e um bom preço para os usuários. Nesse aspecto, a única fonte renovável de energia que tem experiências bem sucedidas e comercialmente viáveis no Brasil é a eólica. As outras alternativas ainda têm poucos exemplos a serem mostrados. Prova maior disso é que a única representante delas na matriz energética é a biomassa, responsável por pouco mais de 7% do total gerado no País, apenas. Essa pouca vivência brasileira, no que se refere às várias fontes limpas e renováveis disponíveis atualmente, também se reflete na falta de material para divulgação. Para fazer esta reportagem, a Renergy Brasil procurou grandes empresas e órgãos governamentais cuja atividade está ligada ao tema, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Ministério das Minas e Energia (MME). Um exemplo do setor privado onde há investimentos em algumas opções renováveis é a MPX, empresa do grupo EBX, pertencente ao empresário Eike Batista. Atuante nas áreas de exploração e comercialização de recursos naturais (carvão e gás natural) e geração de energia, ela investe em projetos ligados a alternativas

mais limpas. D ​ esde 2009, a empresa faz parte de um convênio com a Universidade de Valparaíso, a Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso e a Ecotecnos (consultoria ambiental especializada em biotecnologia), para pesquisar a produção comercial de etanol a partir de macroalgas no Chile. Também há um projeto com o mesmo propósito no Bra-

Um dos grandes desafios das novas tecnologias é a sua implantação em empreendimentos rentáveis, que garantam retorno para os investidores e um bom preço para os usuários. Nesse aspecto, a única fonte renovável de energia que tem experiências bem sucedidas e comercialmente viáveis no Brasil é a eólica. sil, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Outro estudo da empresa é sobre o aproveitamento sustentável dos resíduos sólidos urbanos para geração de energia elétrica. O principal objetivo é avaliar o potencial técnico, econômico e ambiental do aproveitamento energético dos resíduos. Duas


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capa NOVAS FONTES

Destaques de cada país

América do Norte

América Latina

Europa

África

2.347,03 mtoe

727,63 mtoe

1.066,08 mtoe

1.160,87 mtoe

445 milhões de habitantes

462 milhões de habitantes

543 milhões de habitantes

984 milhões de habitantes

4.939,04 Twh de consumo de energia

903,63 Twh de consumo de energia

3.415,60 Twh de consumo de energia

562,11 Twh de consumo de energia

11.113 kwh per capita

1.956 kwh per capita

6.287 kwh per capita

571 kwh per capita

Oriente Médio

Ásia, sem a China

Euroásia

China

1.605,20 mtoe

1.263,32 mtoe

1.253,92 mtoe

1.993,36 mtoe

198,5 milhões de habitantes

2,1 bilhões de habitantes

142 milhões de habitantes

1,3 bilhão de habitantes

671,71 Twh de consumo de energia

1.569,51 Twh de consumo de energia

913,51 Twh de consumo de energia

3.293,21 Twh de consumo de energia

3.384 kwh per capita

719 kwh per capita

6.443 kwh per capita

2.471 kwh per capita

Oceania

Maiores produtores de energia

405,41 mtoe

Maiores populações

202 milhões de habitantes 1.741,94 Twh de consumo de energia

Maiores consumidores energia Maiores consumos per capita

8.618 kwh per capita

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Produção de energia (em quatrilhões de BTu) Projeções

História

250

liquids

200

Carvão Gás Natural 150

Renováveis

100

Nuclear

50

0 1990 FONTE: IEA - International Energy Agency

2000

2007

2015

2025

2035


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alternativas são consideradas. Uma delas é a produção de biogás, resultante da decomposição de matéria orgânica, através de dutos colocados em biodigestores ou aterros sanitários. A outra é o acionamento de um gerador com gases caloríficos obtidos com a queima dos resíduos sólidos. Vale ressaltar que todas as informações acima estão disponíveis no site da MPX. A empresa não forneceu informações sobre a situação atual ou resultados obtidos com os seus projetos. No Ceará, um exemplo interessante de experiências com o tema é o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (Ider). A ONG foi fundada em 1993, depois de uma parceria entre a Companhia Energética do Ceará (Coelce) e a Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GTZ) para execução de um projeto de eletrificação de comunidades rurais com o uso de energia solar. Desde então, o Ider tem várias experiências na implantação de projetos ligados a energias renováveis, principalmente de eletrificação rural com painéis solares e capacitações sobre energias renováveis. Ainda no estado, uma parceria entre a Tecbio - empresa fundada por Expedito Parente, criador do biodiesel, que faleceu no ano passado - e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) estuda o aproveitamento do material orgânico dos esgotos para geração de energia. Segundo os responsáveis pelo projeto, no entanto, não poderiam ser fornecidas muitas informações porque o processo ainda está em desenvolvimento e não foi patenteado.

Por um mundo mais limpo Ambiciosas ou nem tanto, me-

tas de uso de fontes renováveis na matriz energética fazem parte das políticas de praticamente todos os países do mundo. A China lidera o esforço Primavera árabe, tsunami no Japão e vazamento em um poço da British Petroleum no Golfo do México. Esses três acontecimentos, tão distantes geograficamente, têm um ponto em comum: expuseram o perigo que o mundo atual vive por sua (ainda) forte dependência de fontes de energia não renovável. No caso do movimento político dos países do Oriente Médio e do norte da África, a consequência imediata foi o abalo no preço internacional do petróleo. No Japão e no Golfo do México, os problemas foram causados por desastres ambientais, com vazamento de material radioativo no primeiro e toneladas de óleo - que durante três meses poluíram o mar - no segundo. Os fenômenos descritos anteriormente estão citados no Renewables 2011 - Global Status Report (GSR, em português, Relatório de Status Global de Renováveis em 2011), levantamento feito anualmente sobre o uso de fontes como solar fotovoltaica, eólica, biocombustíveis, hídrica e geotérmica. O estudo é realizado desde 2005 pela Ren21, entidade que reúne pessoas de todo o mundo em torno do esforço de incrementar as fontes de energias renováveis nos países. Divulgada no fim do ano passado com dados de 2010, a última edição destacou a necessidade urgente de mudar

o foco da matriz energética mundial, tanto por razões ambientais quanto econômicas. Segundo o GSR, a crise econômica mundial tem feito muitos países, especialmente os desenvolvidos, frearem os investimentos em fontes limpas de energia. No entanto, essa preocupação hoje envolve um número cada vez maior de nações no esforço, o

A crise econômica mundial tem feito muitos países, especialmente os desenvolvidos, frearem os investimentos em fontes limpas de energia. que tem ajudado a manter o nível de investimentos em um patamar elevado. Apesar da recessão que tem afetado principalmente a Europa, o montante global aplicado em energias renováveis bateu recorde em 2010. Atingiu 211 bilhões de dólares, 32% a mais que o investido no ano anterior. De acordo com o relatório, 118 nações têm políticas de estímulo a energias renováveis, sendo que a China é responsável por um terço do total de investimentos. Há números animadores. Nos Estados Unidos, as energias renováveis alcançaram cerca de 10,9% da produção de energia primária. Foi um aumento de 5,6%, que permitiu uma representação pró-


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capa NOVAS FONTES

jogo rápido com RICARDO BAITELO O Brasil pode mudar a base de sua matriz energética e ser um exemplo para o mundo, assim como fez com o etanol e o biodiesel. Na opinião do, coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo, o País “reúne condições para o desenvolvimento de diversas fontes: hídrica, eólica, solar, biomassa e até oceânica” Renergy:: O relatório “Revolução energética - a caminho do desenvolvimento limpo”, elaborado pelo Greenpeace, aponta um cenário otimista para o uso de energias renováveis no Brasil, com participação em mais de 90% da matriz energética em 2050. Na sua opinião, o País está caminhando pra esse cenário? Por que? Ricardo Baitelo:: É um pouco cedo para compararmos as estimativas de 2050 com as tendências atuais mas, de acordo com as projeções parciais para 2015 e 2020, os avanços na energia eólica têm puxado esse crescimento até para além dos dados estimados pelo Greenpeace. Por outro lado, é preciso fazer uma ressalva às demais fontes. Biomassa e pequenas centrais hidrelétricas não têm sido favorecidas nos leilões de energia e os planos oficiais indicam um crescimento da fonte hidrelétrica exacerbado, considerando padrões de impactos sociais e ambientais. R:: Em uma avaliação empírica, parece que outros países, especialmente os do grupo

conhecido como Bric (formado por Rússia, Índia e China, além do Brasil) estão mais avançados em investimentos e pesquisas que busquem a viabilidade econômica das energias renováveis. Na Europa, é possível ver residências com placas solares nos tetos. Mas não se vê isso com facilidade no Nordeste, região que tem índices bem maiores de insolação. Isso acontece, de fato? RB:: O Brasil está, de fato, atrasado no desenvolvimento da energia solar e aprovou resolução para o incentivo à fonte apenas recentemente. Ainda é necessário definir como será a atração de indústrias produtoras de equipamentos e quais serão as linhas de crédito para a aquisição destes equipamentos para as residências. R:: Estão em discussão, no Brasil, novas regulamentações para uso de energia eólica e solar. Além disso, a Aneel deve

liberar um expediente que já existe em outros países, que é o de autorizar a geração própria de energia em residências e vender o excedente. Como o Greenpeace vê essas medidas? RB:: Vemos as medidas com otimismo. Acreditamos que a publicação da resolução tenha sido uma vitória para todos. Entretanto, é essencial que sejam definidas as linhas de crédito para a aquisição dos equipamentos, bem como o pacote para a atração de indústrias fabricantes ao Brasil. Com esses elementos, saberemos qual a demanda nacional para a energia solar e em que ritmo ela poderá crescer. R:: Com o vasto território e os muitos recursos naturais que possui, o Brasil tem potencial para liderar, no futuro (assim como foi exemplo no mundo com o uso de álcool combustível e biodiesel para veículos), o uso de fontes renováveis para


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geração de eletricidade? RB:: Definitivamente. O Brasil reúne condições para o desenvolvimento de diversas fontes: hídrica, eólica, solar, biomassa e até oceânica. R:: A energia hidrelétrica é considerada uma fonte renovável, mas também muito polêmica por causa dos impactos ambientais (um exemplo re-

O potencial de geração de eletricidade a biogás é grande e a fonte é a mais democrática de todas, considerando que toda cidade produz lixo e poderia se beneficiar dessa energia. cente é a usina de Belo Monte). Como vocês vêem essa alternativa para o Brasil? Teríamos outras opções para produzir energia em larga escala com os mesmos custos e prazos de implementação? RB:: A maneira como a energia hidrelétrica tem aumentado na Amazônia é extremamente preocupante. Não se vê essa fonte sob o ângulo dos impactos ambientais e sociais causados pelos empreendimentos. Nesse sentido, acreditamos que a expansão dessa energia deve ser restrita - focada em pequenos aproveitamentos hidrelétricos e melhora de eficiência das usinas existen-

tes. Há outras fontes com prazos mais curtos de implementação, como eólica, solar e biomassa. Já a relação dos custos deve levar mais tempo para se equiparar - uma vez que estamos falando de tecnologias mais recentes em relação à hidreletricidade, que já conta com 100 anos de experiência no País. R:: Voltando ao relatório “Revolução energética - a caminho do desenvolvimento limpo”, o Greenpeace estima que a energia nuclear no Brasil deixará de ser usada. No entanto, o governo mantém o funcionamento das usinas e o cronograma já estabelecido em Angra dos Reis. Vocês acreditam que essa situação se reverterá? RB:: A construção de Angra 3 ainda não é definitiva - a garantia do empréstimo de bancos franceses (responsáveis por mais de 30% do valor da obra) ainda não foi aprovada pela Alemanha e não o será, antes do segundo semestre de 2012. Em relação a futuras usinas planejadas para o Nordeste, as declarações mais recentes dos governadores estaduais são contrárias à construção delas. R:: No Brasil, ao contrário do que existe em outros países, não há uma política de uso do lixo para geração de energia. Na sua avaliação, isso se dá por falta de vontade política ou porque essa tecnologia ainda é muito cara para ser implantada em nossos maiores centros urbanos?

RB:: Acredito que seja uma mistura de ambos os fatores. O potencial de geração de eletricidade a biogás é grande e a fonte é a mais democrática de todas, considerando que toda cidade produz lixo e poderia se beneficiar dessa energia. R:: Na sua avaliação, os governos (federal, estaduais e municipais) têm se interessado pelo assunto? Há boas experiências a relatar, em relação ao setor público? RB:: Há um interesse crescente na fonte eólica - principalmente nos estados nordestinos - e mais recentemente na fonte solar. Existem planos, mas o que já está construído e visível ainda não é representativo em relação ao que se projeta para os próximos cinco anos para essas fontes. R:: Como está o uso de fontes limpas e renováveis em outros países? Quem está na vanguarda, atualmente? RB:: Na fonte eólica, a China é quem tem mais parques instalados e gera mais energia. Em relação à geração solar, há um domínio da Alemanha e da Espanha na geração, mas os painéis vêm essencialmente da Ásia (China, Japão, Taiwan, entre outros). No uso da biomassa, o Brasil aparece entre os cinco maiores, muito mais por conta do etanol do que pela geração por bagaço de cana e outros resíduos. Em relação a investimentos, os países que tem se excedido são China, Alemanha, Estados Unidos, Itália e Brasil.


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capa NOVAS FONTES

© Anne Power | Dreamstime.com

xima da energia nuclear (11,3%), de uso muito mais antigo naquele país. Já a China acrescentou 29 GW da sua rede de capacidade renovável. Foi um aumento de 12% em relação a 2009, que a fez alcançar um total de 263 GW. Na Alemanha, 11% consumo total de energia veio de fontes renováveis. Elas responderam por 16,8% do consumo de eletricidade, 9,8% da produção de calor e 5,8% do consumo de combustível para transporte. Por fim, vários países conseguiram fazer com que a energia eólica passasse a ser um importante componente da matriz, como Dinamarca (22%), Portugal (21%) e Espanha (15,4%). Quem está contribuindo muito para o crescimento das energias renováveis no mun-

do são os habitantes das zonas rurais. De acordo com o GSR, em muitas comunidades mais isoladas, onde é difícil ou economicamente inviável instalar ligações das grandes redes elétricas, atividades básicas como iluminação, aquecimento, refrigeração e bombeamento de água estão sendo garantidos através de pequenos sistemas fotovoltaicos, turbinas eólicas, mini-hidrelétricas ou equipamentos à base de biomassa. O número de domicílios rurais atendidos por fontes renováveis é difícil de estimar, porque muitas iniciativas vêm de projetos individuais. No entanto, há um dado disponível: mais de 44 milhões de lares já usam o gás obtido através de biodigestores domésticos para iluminação ou

para cozinhar alimentos. O relatório fez vários rankings de países segundo alguns critérios ligados à exploração de fontes renováveis. O Brasil aparece como 5ª maior capacidade de investimento, 2º maior produtor de etanol e biodiesel (apesar de criador dos dois biocombustíveis, ele perde o primeiro posto para Estados Unidos e Alemanha, respectivamente). E no potencial de geração a partir de biomassa, o Brasil fica em segundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Vale ressalta que o grande exemplo a ser seguido é o da Suécia. O país nórdico já alcançou uma meta que tinha estabelecido para apenas 2020, que era de gerar 50% de toda a sua energia a partir de fontes limpas e renováveis.



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especialista ENTREVISTA

DÁRIO MENEZES

Solar: “há muito a ser feito”

Divlgação

Em meio a uma crise econômica em países ricos, reverbera o discurso da sustentabilidade. Para o consultor de empresa e professor de Governança Corporativa e Sustentabilidade Empresarial do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Dário Menezes, defende que as empresas podem deixar de investir em uma cadeia tradicional, de petróleo e gás, e destinar os recursos para energia eólica ou solar, por exemplo.

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professor e consultor Dário Menezes aposta que o mercado pode passar a incentivar produção sustentável. “A crise é econômica, mas ela também traz oportunidades para o país ou suas empresas repensarem suas estratégias e destinarem os poucos recursos que eles têm para indústrias mais adaptadas a esse novo momento”, afirma. “Indústrias que geram menos passivo ambiental e em quase todos os casos apresentam custo menor de produção. Na energia eólica, por exemplo, o difícil é você fazer acontecer, colocar uma turbina para funcionar. Mas depois que faz isso, o custo de geração dessa energia é muito baixo”. Neste cenário, ele também analisa os rumos pós-Rio+20 na seguinte entrevista Renergy:: De acordo com o site www.ofuturoquenosqueremos.org.br, administrado


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pelo Centro de Informação das Nações Unidas do Rio de Janeiro (Unic Rio), o mundo terá 9 bilhões de pessoas em 2050. Teremos tecnologia para gerar energia, alimentar e dar emprego a essa população e, ao mesmo tempo, explorar os recursos naturais do planeta de forma sustentável? Dário Menezes:: Essa, talvez, seja uma das grandes questões. Hoje somos um planeta com 7 bilhões de pessoas. Alcançamos isso no fim do ano passado e estamos caminhando para essa população de 9 bilhões em 2050. Isso traz desafios desde os mais simples, como por exemplo, de que forma alimentar essas pessoas. Nós não podemos pensar em dobrar a capacidade de produção agrícola porque a agricultura é um dos grandes consumidores de água e um dos fatores que a gente considera, até para antes de 2050, é uma possibilidade de escassez de água potável em varias regiões do mundo. Então nós temos o desafio de dobrar a produção agrícola, aumentá-la consideravelmente, sem que isso implique em uma demanda maior por água. É preciso desenvolver outras formas de plantio que não exijam tanto consumo. O mesmo serve para a energia. Como fazer com que a gente consiga dar sustento, emprego e moradia para 9 bilhões de pessoas? Se nós usarmos só os combustíveis fósseis, derivados de petróleo, que são poluentes, nós não vamos chegar lá. O que precisamos é usar outras fontes, renováveis, de energia. Entre as alternativas estão a hidrelétrica, que já é muito usada no Brasil, ou as matrizes mais novas, como

a solar e a eólica. Há ainda outras questões, como a mobilidade urbana e o consumo consciente. Se todos esses 9 bilhões consumirem no ritmo dos Estados Unidos, por exemplo, não vai dar, porque o padrão de consumo dos Estados Unidos é altamente insustentável. Então, é preciso garantir que cada um desses 9 bilhões tenha acesso ao que considera o consumo necessário para sua vida mas não no ritmo de um americano. R:: Mas o padrão de vida americano é almejado por boa parte do mundo, não? DM:: Sim. Esse é um dos dilemas da humanidade. Todo mundo

O número de domicílios rurais atendidos por fontes renováveis é difícil de estimar, porque muitas iniciativas vêm de projetos individuais. acha bacana o modelo americano. Mas nem precisamos chegar ao mundo de 9 bilhões. Se hoje só a população da China tivesse esse mesmo padrão de consumo dos Estados Unidos, a gente teria que ter dois planetas e meio em recursos naturais. Hoje ele já é insustentável. Com essa população esperada para 2050, então, é preciso mudar em vários fatores. Água, energia, mobilidade, consumo, redução de desigualdades, entre outros. R:: Por falar no padrão de consumo dos Estados Unidos, uma

das questões mais polêmicas, atualmente, em relação ao meio ambiente, é a respeito do papel de cada país na construção dessa nova realidade mais sustentável. Na sua avaliação, os países desenvolvidos, por já serem consumidores mais expressivos de energia e recursos naturais, teriam mais obrigação de empreender esse esforço que os países pobres ou em desenvolvimento ou a responsabilidade de todos é a mesma? DM:: Todos devem contribuir. Mas o Protocolo de Kyoto, que foi assinado em 1998, estabelece que os países mais desenvolvidos, por terem um grau de produção e consumo superior, deveriam dar uma parcela maior de contribuição. Eles deveriam voltar os seus níveis de emissão de gases causadores do efeito estufa aos patamares de 1995. Um problema nessa questão, no entanto, é que os Estados Unidos e a China não aderiram ao protocolo. R:: Em paralelo com a discussão sobre sustentabilidade, o mundo desenvolvido, atualmente, vive uma crise econômica de conseqüências ainda imprevisíveis para todo o planeta. Nesse cenário, há espaço para discutir o investimento necessário para o uso de fontes renováveis de energia? DM:: Na verdade, o que acontece é que não estamos falando de coisas desconexas. Essas questões são duas faces da mesma moeda. Países como a Grécia e a Espanha, por exemplo, têm problemas econômicos graves e que vêm de longo prazo, mas eu também posso ter uma proposta de que


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especialista ENTREVISTA

DÁRIO MENEZES

os financiamentos deixem de ser dados para indústrias poluentes e passem para empresas verdes. Eles podem deixar de investir em uma cadeia tradicional, de petróleo e gás, e destinar os recursos para energia eólica ou solar, por exemplo. Pode-se passar a incentivar empregos em biotecnologia, em produção sustentável. A crise é econômica, mas ela também traz oportunidades para o país ou suas empresas repensarem suas estratégias e destinarem os poucos recursos que eles têm para indústrias mais adaptadas a esse novo momento. Indústrias que geram menos passivo ambiental e em quase todos os casos apresentam custo menor de produção. Na energia eólica, por exemplo, o difícil é você fazer acontecer, colocar uma turbina para funcionar. Mas depois que faz isso, o custo de geração dessa energia é muito baixo. R:: Mas algumas fontes alternativas de energia ainda são mais caras que as tradicionais. DM:: Não é que elas sejam mais caras. A questão é que é preciso mudar o modo de pensar. Vamos supor que, no meu prédio, onde sou síndico, a conta mensal é de mil reais. Eu posso sugerir a colocação de uma placa solar que vai se pagar em vinte meses. E depois disso, a energia vai ter um custo mensal de 700 reais, por exemplo. No primeiro momento as pessoas podem dizer que vão investir uma quantia maior para instalar a placa. Mas depois que houver a redução do custo, ela se pereniza. Então, é uma questão de decisão. Eu quero continuar pagando mil reais por mês ou fazer um inves-

timento que ao longo do tempo pode trazer um retorno muito melhor e vai deixar de agredir o meio ambiente? R:: Ainda falando sobre os países desenvolvidos, ao mesmo tempo em que eles, mesmo em crise, já apresentam uma alta demanda por energia e recursos naturais, as chamadas nações emergentes vêem uma classe média com crescente poder aquisitivo e conseqüente aumento de consumo de bens duráveis como automóveis e eletrodomésticos. Nesse contexto, pode-se dizer que a energia, atualmente, é o ponto central da discussão ambiental do planeta? DM:: Não, eu não acho que seja só essa a questão mais importante. A humanidade está diante de várias questões. Temos a escassez de água, a extinção de várias espécies de animais e plantas, as desigualdades sociais. Temos muitas coisas para atacar e resolver. Uma delas, mas que não é central é a energia. Mal ou bem, nós conseguiremos ter petróleo por mais 80, 100 anos. Água doce, pelas estatísticas, a gente só tem até 2025, em vários países do mundo. R:: O senhor diz, em um artigo, que as motivações para colocar a sustentabilidade como tema central na estratégia de negócios estão relacionadas com o aumento da eficiência operacional e a redução de custos. Investir em sustentabilidade, realmente, significa obter redução de custos? DM:: Significa obter uma empre-

sa mais aberta, colaborativa, mais integrada com fornecedores e parceiros. Também significa uma revisão dos processos operacionais. Na maioria dos casos, isso faz com que ela se torne mais competitiva. R:: Na sua avaliação, qual o principal debate da Rio+20? DM:: Acho que o debate central é o chamado Triple Bottom Line: como mesclar o crescimento econômico com a proteção social e ambiental. A discussão é: o mundo precisa crescer e gerar emprego para garantir o sustento das 9 bilhões de pessoas que virão, mas como fazer isso de uma forma que se proteja o ambiental e o social? A gente não consegue seguir em frente com a humanidade se não conseguir equilibrar essas três coisas. Não adianta ser ótimo no desempenho econômico e gerar vários empregos se eles são poluidores ou relacionados a atividades que vão exaurir os recursos naturais. R:: E com relação aos resultados práticos do evento para o futuro, qual a sua expectativa? DM:: Nesse momento, em que estou dando a entrevista, temos um quadro de baixa adesão dos chefes de estado ao encontro. O ideal seria que, apesar da crise e do processo eleitoral que muitos países estão vivendo, nós conseguíssemos ter o maior número possível de chefes de estado no evento para garantir que as decisões que vão ser tomadas serão colocadas em prática. Nós não precisamos de novos acordos. Precisamos é que os acordos que já existem sejam cumpridos.



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alternativa

Maior alcance Foto: Kiosemi

Células solares esféricas surgem como alternativa mais eficiente para captar a luz ao longo do dia e gerar eletricidade

S

e o sol se move ao longo do dia, por que os painéis solares são planos? Foi essa pergunta que Josuke Nakata, presidente da Kiosemi, empresa de inovação japonesa, se fez alguns anos depois de fundar sua companhia. Dessa pergunta simples nasceu mais uma ideia para contribuir com a geração de energia limpa: microcélulas solares esféricas. Nakata, que foi membro de uma equipe que desenvolveu painéis solares para a Mitsubishi Electric, observou que, além de a luz solar não ser estática, a incidência dos raios é difusa, ou seja, eles não chegam à superfície da Terra fazendo um ângulo exato de 90 graus com o solo. Por isso, pensou em desenvolver células fotovoltaicas capazes de receber a luz de

forma mais eficiente. Elas seriam na forma de cristais esféricos de silício (o principal material usado nos painéis solares) derretido. O caminho para chegar ao produto idealizado pelo inventor é interessante. Ele tinha planos de expandir a Kyosemi e escolheu a cidade de Kamisunagawa, um ex-polo de mineração de carvão que estava tentando atrair novas indústrias. Uma delas era o Jamic (Japan Microgravity Center, ou Centro de Microgravidade do Japão), que tinha transformado um túnel de uma mina abandonada em local de pesquisas científicas. O trabalho do Jamic interessou Nakata, que teve a ideia de fazer cristais esféricos de silício derretido na ausência de gravidade. Para isso, aproveitou um túnel vertical

com 490 metros de profundidade das instalações do laboratório. Colocando uma cápsula vazia em queda nesse túnel, o seu espaço interior entrava em estado de microgravidade durante a queda. A equipe da Kyosemi, então, pôs um pedaço de silício na cápsula e tentou derretê-lo e cristalizá-lo durante a queda. A experiência foi repetida na forma de tentativas e erros. Como resultado, foram formados alguns grãos de forma cilíndrica. O passo seguinte foi fazer a ligação de várias esferas produzidas na experiência sobre uma superfície para gerar eletricidade. Foi obtida eletricidade a partir de quatro células, quando elas, depois de prontas no túnel, foram expostas à luz. Após esse primeiro resultado, a Kyosemi começou a realizar as pesquisas de forma mais intensiva e criou seu próprio laboratório de microgravidade. A patente dos trabalhos foi lançada em 2004, com o registro da marca Sphelar (Spheric Solar, esfera solar em português). A partir do conceito, a empresa criou vários subprodutos. O Sphelar Array é um conjunto de módulos solares com seis opções diferentes de tensão. O Sphelar One, uma microcélula esférica moldada em um invólucro de plástico. Já o Sphelar Dome foi projetado para captação ao ar livre e dispositivos sem fio. E o Sphelar Mini Dome, com as mesmas características do modelo anterior mas em formas


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mais reduzidas. Segundo o inventor das células esféricas, seu produto é mais eficiente que as convencionais. Isso acontece, de acordo com ele, porque a luz do sol entra em cada célula a partir de várias direções sob a forma de radiação direta, reflexão e dispersão. Em módulos solares tradicionais, a luz que entra é limitada por causa do tamanho bidimensional da superfície receptora de luz. “Isso significa que muito pouco da luz que brilha nos lados e para trás das células pode dar qualquer contribuição para a geração de energia”, explica o cientista. Ele ainda acrescenta que para

garantir a melhor captação de luz possível, o sistema convencional tenta posicionar as placas de forma a otimizar o ângulo de inclinação da superfície de recepção de luz. No entanto, com o movimento do sol, há alterações no ângulo de incidência causando decréscimo na potência gerada. O problema é amenizado com as células esféricas, cuja superfície de captação é bem maior. Outra vantagem do sistema, ressalta Nakata, é que a produção das células esféricas de silício difere significativamente da produção de células solares convencionais. Elas poderiam ser mais finas, para

reduzir custos, mas isso as deixaria mais susceptíveis a rompimento durante o manuseio. As células esféricas oferecem uma solução melhor para o problema. Elas têm diâmetro de cerca de um milímetro, o que aumenta a relação entre a área da superfície e o volume. Isso significa que com uma pequena quantidade de silício é possível produzir uma grande superfície receptora de luz, poupando o custo com material. Além disso, o processo de fabricação dos cristais esféricos de silício elimina a perda de processamento associada à produção dos módulos planos das placas solares convencionais.


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solar

Estradas energéticas Projeto holandês quer aproveitar a malha viária do país para gerar energia elétrica através da luz do sol com um piso carregado de células fotovoltaicas

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m dos grandes desafios para a indústria automobilística, que tem sido pressionada pelo mercado a colocar carros elétricos nas ruas, substituindo os movidos a motor a combustão, é com relação à autonomia dos modelos. Geralmente ela é de pouco mais de 100 km. E o abastecimento não é tão simples quanto o dos modelos tradicionais. Além de existirem poucos pontos, carregar baterias ainda leva bem mais tempo que encher um tanque. Pensando numa solução para isso, um projeto na Holanda propõe a construção de um sistema que aproveita a malha viária do país para gerar energia através da luz solar. Batizado de SolaRoad (junção das palavras “solar” e “road”, que em português poderia ser traduzido como “estrada solar”), o projeto tem como uma das metas aproveitar os 137 mil km de estradas existentes na Holanda para gerar energia. A estimativa é que cada metro quadrado signifique 50 kWh - para efeito de comparação, segundo a equipe responsável pela SolaRoad, o consumo médio anual de uma família holandesa é de aproximadamente 3.500 kWh. Basicamente, o projeto funciona da seguinte forma: a estrada é formada por camadas. Na

base de tudo, ficaria o concreto. Logo acima, um nível com células solares. E para protegê-las, uma camada superior transparente para que a luz do sol chegue ao material fotoelétrico. A promessa é de que esse material, “fabricado em um processo industrial, em condições controladas”, segundo os responsáveis pelo SolaRoad, seria capaz de resistir ao peso dos veículos sem rachar. Além disso, ele será muito durável e poderia ficar longos períodos sem precisar de manutenção. Além da geração de energia, a proposta é fazer com que a es-

trada ofereça vários outros recursos. Sensores poderiam avaliar as condições do tráfego e ajudar os engenheiros a melhorar a fluidez dos veículos. Outra possibilidade seria permitir o trânsito de veículos automáticos, guiados pela própria estrada. LEDs instalados ao longo da via poderiam ajudar os motoristas em condições de baixa visibilidade. E, por fim, a proposta mais interessante: um sistema de transmissão de energia sem fio poderia abastecer os carros elétricos enquanto eles estivessem passando pela estrada. Além das estradas para veí-


Rebecca Pullens, rebecca.pullens@tno.nl

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culos motorizados, o SolaRoad também pretende aproveitar os 15 mil km de ciclovias da Holanda, país onde o uso da bicicleta como meio de transporte faz parte da cultura da população. A experiência piloto do projeto, inclusive, está sendo implantada em 100 metros de uma ciclovia na província de Noord-Holland, localizada no norte do país e da qual faz parte a cidade de Amsterdã. Os projetistas fazem questão de destacar que muitos testes ainda precisam ser feitos para que o sistema seja viável. O programa inclui desenvolvimento de produtos nas áreas de engenharia, seleção de materiais, distribuição de energia, modelo de negócio e os critérios segurança e conforto para os usuários. Uma questão que precisa ser resolvida, por exemplo, é o pouco atrito existente no vidro. Como os pneus terão aderência para frear em um material liso? O SolaRoad é fruto de uma parceria entre o TNO, uma instituição de pesquisa, a empreiteira Ooms Avenhorn Groep, a empresa de tecnologia Imtech e a província de Noord-Holland. O projeto é ambicioso e ainda não há resultados concretos a serem mostrados. Os investidores admitem que ainda há muito a aprender sobre o sistema que eles idealizaram. Mas são ambiciosos. No cronograma definido pela equipe, a ciclovia piloto deve começar a funcionar este ano e até 2015

eles acreditam ter um produto viável para colocar no mercado, e que gere lucro. Projetos vão muito além da estrada A TNO, principal parceira da SolaRoad, tem vários outros projetos em diversas áreas, principalmente as ligadas à inovação. A sigla vem de Nederlandse Organisatie voor Toegepast Natuurwetenschappelijk Onderzoek (Organização Holandesa para Pesquisa Científica Aplicada). Ainda no setor de geração de energia limpa, a instituição está empenhada numa meta definida pela União Europeia, segundo a qual a percentagem de fontes renováveis ​​na matriz energética do continente tem que chegar a 20% até 2020. A contribuição da TNO para atingir este objetivo tem sido estabelecer parcerias com o setor público e empresas para aprimo-

rar o conhecimento sobres redes de energia inteligentes, conhecidas como Smartgrids. Segundo a instituição de pesquisa, elas são estruturas de energia integradas em que grandes e pequenos consumidores e produtores ficam ligados à mesma matriz, tornando o fornecimento de energia mais confiável, sustentável e eficiente. O TNO trabalha para que em 2050 essas redes “inteligentes” garantam o mesmo nível de segurança e estabilidade no fornecimento de energia que as fontes tradicionais, principalmente porque elas preveem esse modelo descentralizado com a participação integrada de opções renováveis (energia solar, eólica, biomassa etc.).

Para saber mais sobre tno.nl/solaroad


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fique por dentro

Renault: Divulgação

Como funcionam os biodigestores

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ão equipamentos relativamente simples, formados por uma câmara hermeticamente fechada, onde é depositada uma mistura formada por materiais orgânicos, acrescidos de água. Os biodigestores produzem as condições ideais para que as bactérias anaeróbicas possam digerir e fermentar o material orgânico depositado, produzindo o gás metano, também chamado de biogás Desde meados do século XIX, a Índia deu início ao processo

de produção de energia através de biodigestores. Um marco no desenvolvimento desta tecnologia foi a criação do Institute Gobár Gás (Instituto de Gás de Esterco), na cidade de Kampur, em 1939. No instituto, foi desenvolvida a primeira usina de gás de esterco. Com o sucesso das pesquisas realizadas, a metodologia de biodigestores foi difundida por toda a Índia. O exemplo foi seguido pela China e, de acordo com alguns pesquisadores, em 1972, o país já possuía mais

de sete milhões de unidades. No Brasil, o uso e as pesquisas com biodigestores se iniciaram a partir da segunda metade da década de 1970, porém os resultados obtidos desde então colocam o País em boa situação no que se refere à tecnologia de biodigestão. De acordo com o Atlas da Energia Elétrica no Brasil, elaborado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, a biomassa representa cerca de 20% da oferta primária de energia no País. «A imensa superfície do território nacio-


Divulgação

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nal, quase toda localizada em regiões tropicais e chuvosas, oferece excelentes condições para a produção e o uso energético da biomassa em larga escala». Mas afinal, o que são e como funcionam os biodigestores? Eles são equipamentos relativamente simples, formados por uma câmara hermeticamente fechada, onde é depositada uma mistura formada por materiais orgânicos, acrescidos de água. A matéria orgânica utilizada pode ser formada por resíduos de produção vegetal, como poda, palha, folhas, bagaço de cana de açúcar; de produção animal, como esterco e urina, ou de produção humana, como fezes, urinas e lixo doméstico. Os biodigestores produzem as condições ideais para que as

bactérias anaeróbicas possam digerir e fermentar o material orgânico depositado, produzindo o gás metano, também chamado de biogás. Para que isso ocorra, são necessárias algumas condições específicas, como a inexistência de ar no biodigestor, pois a presença do O² é mortal para as bactérias anaeróbicas, paralisando o seu metabolismo e a consequente produção do metano. Outra condição necessária para a biodigestão é que a temperatura esteja entre 15°C e 45°C, uma vez que alterações bruscas de temperatura comprometem a produção. Também é necessária a presença de nutrientes na matéria prima utilizada e que ela possua um percentual de água de 90 a 95% em relação ao seu peso. O processo completo da biodi-

Biodigestor Resíduso animais

1 Excrementos animais e restos de alimentos são misturados com água no alimentador do biodigestor

Saída Válvula

Coleta de fertilizante Descarga

Nível do terreno Biogás Entrada Câmara de digestão Saída

gestão leva algo em torno de 55 a 60 dias para ser concluído. O biogás produzido pode ser utilizado para o aquecimento de fogões, lampiões, chocadeiras e estufas de produção vegetal. Ele pode ser utilizado ainda para a geração de energia elétrica através de geradores acoplados a motores de explosão adaptados ao consumo de gás. O resíduo formado pelos biodigestores, que podemos chamar de biofertilizante, como o próprio nome já diz, pode ser usado como adubo orgânico. Além de água, esse líquido que fica no biodigestor possui elementos químicos como nitrogênio, fósforo e potássio em quantidades que podem ser utilizadas pelos produtores rurais para a fertilização do solo, sem falar no seu baixo custo para ser produzido.

2 Dentro do biodigestor, a ação das bactérias decompõe o lixo, transformando-o em gás metano e adubo 3 O gás metano pode ser encanado para alimentar um gerador ou aquecedor 4 As sobras servem como fertilizante


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hidreletricidade

Fáceis de instalar e usar

Para aproveitar o potencial de pequenos e médios cursos de água, empresa americana projetou turbinas horizontais que dispensam obras de instalação e prometem baixo impacto ambiental


Imagens: Divulgação

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G

eração de energia limpa, eficiente e segura. Essa é a proposta da Hydrovolts, empresa americana que desenvolveu uma turbina de mesmo nome. Diferentemente das convencionais usadas em usinas hidrelétricas, ela funciona sobre um eixo horizontal. De acordo com os projetistas, isso garante algumas vantagens na captação da água e no aproveitamento da energia das correntezas para gerar eletricidade. Basicamente, a Hydrovolt é formada por um gerador com espaço interno para colocação de diferentes tipos de rotor (o componente onde ficam as pás, que vai girar com a força da água). O objetivo para essa diversidade de opções de modelos de rotores, explica a empresa fabricante, foi o de adequar a turbina à realidade do cliente, adaptando-se a fatores como velocidade e densidade da água e profundidade do local de instalação. Ainda em relação à profundidade, outra facilidade da turbina para otimizar a captação de energia é que ela é flutuante, podendo ficar sobre a superfície da água ou

submersa dentro do fluxo. Essa flutuabilidade pode ser ajustada para gerar energia onde a velocidade da água for maior: depois de devidamenteprogramada,elarastreia automaticamente os diferentes níveis de profundidade. Apesar de aceitar vários tipos de rotores, a Hydrovolt também se preocupou em desenvolver seu próprio equipamento, batizado de “Flipwing” (em português, algo como “asa que vira”). Nela, as pás articuladas são empurradas pela corrente de água contra o eixo central. Quando vão fazer o caminho de volta, dessa vez contra a corrente, elas viram e ficam apenas com a borda como superfície de contato. De acordo com a fabricante, isso elimina quase toda a resistência e proporciona um diferencial de pressão, através do eixo, de cerca de 95%. Entre os principais argumentos dos projetistas, em relação à vantagem do uso da Hydrovolt, estão o fato de que no mundo existem milhões de pessoas vivendo próximo de pequenos fluxos de água e boa parte delas é incapaz de tirar proveito do potencial energético que esses

fluxos apresentam. E, com isso, acabam dependendo de água vinda de grandes fontes geradoras. E mesmo as pequenas hidrelétricas, apontadas como solução para geração em pequenaslocalidades,acabamcausando algum impacto ambiental. Já em relação à energia eólica, outra opção de energia limpa para pequenas propriedades, os fabricantes da Hydrovolt afirmam que a água corrente tem uma energia 800 vezes maior por área que o fluxo de ar. Por causa disso, ela tem uma relação custo benefício melhor. Além disso, é bem menos provável que um canal ou pequeno rio fique totalmente parado do que uma região passar o dia inteiro sem ventos ou com correntes de ar incapazes de girar uma turbina eólica. Para funcionar, a turbina horizontal é um produto, segundo os projetistas, do tipo “plug and play”, ou seja, é so colocar dentro da água, conectar a um fio condutor, e começar a usar a energia. Ela dispensa qualquer modificação no local onde vai ser instalada e fica presa ao solo por linhas de ancoragem. Os


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hidreletricidade

modelos mais compactos, segundo a Hydrovolt, podem gerar eletricidade menos de uma hora depois de colocados na água e precisam de uma corrente com velocidade mínima de 1 m/s. Considerando o preço da eletricidade nos Estados Unidos, de cerca de 11 centavos de dólar por kilowatt, os fabricantes garantem que um pequeno protótipo da Hydrovolts, em uma corrente de 2 m/s, pode garantir ao usuário uma economia de cerca de 1.400 dólares por ano. Se a velocidade for de 6 m/s e for usado um gerador maior, podem ser produzidos cerca de 37 mil dólares. Esse montante pode ser em economia nos gastos ou em receita, já que os americanos podem vender a energia excedente para a rede de distribuição. A empresa disponibiliza qua-

tro tipos de turbina horizontal. A portátil tem o tamanho aproximado de uma mesa de trabalho e é apropriada para pequenos canais e comportas, cachoeiras e vertedouros. É capaz de gerar entre 100 W e 1kW, dependendo da velocidade da água. O modelo médio tem dimensões próximas de um carro pequeno. Foi projetado para caber na maioria dos canais de irrigação e gera entre 1,5 e 12 kW. A turbina grande tem o tamanho de um caminhão pequeno. Gera até 20 kW e é adequada para grandes canais e aquedutos. Por fim, há o modelo para cascata, do mesmo tamanho da portátil mas capaz de gerar até 30 kW. Em relação à capacidade total de geração de energia, as turbinas são modulares e podem ser ligadas para trabalhar em con-

junto e aumentar a potência de saída. Assim, uma turbina de 30 kW pode ser simulada pela união de três de médio porte ou duas de grandes dimensões. Segundo a empresa, a Hydrovolts contabiliza três projetos de avaliação nos Estados Unidos. O primeiro foi feito em parceria com a Marinha. Um estudante de um centro de pesquisa da instituição comprovou que o equipamento funciona de forma similar a uma turbina de ondas. No outro, foi construído um rotor especial para aproveitar a água em uma estação de tratamento de águas residuais da cidade de Port Orchard. Por fim, em um canal de irrigação em Sunnyside, uma turbina funcionou durante 20 horas. Com um fluxo de 1,2 m/s, ela produziu um total de 8 kWh de energia durante o período.


YES WE DO NOVA G114-2.0 MW > Sim, alcança a mais elevada eficiência & rentabilidade em lugares com vento fraco > Sim, oferece a menor densidade de energia do mercado > Sim, tem a confiança na tecnologia comprovada: plataforma G9X-2.0 MW > Sim, desenvolvemos tecnologia específica para diminuir o Custo da Energia (CoE)

SIM, OBTEMOS MAIS ENERGIA DOS LUGARES COM VENTOS FRACOS

gamesaofficial

@Gamesa_Official


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eólicas

Mercado aquecido

Divulgação

Brasil é líder no mercado eólico latino-americano. Foi responsável por 50% das instalações efetuadas na América Latina em 2011, com 582,6 gigawatts (GW), e também se destaca quanto à capacidade total investida em energia eólica

E

stá sendo implantada, no Ceará, a primeira fábrica no Brasil de aerogeradores da Fuhrlander, empresa multinacional de origem alemã. A empresa fez o lançamento, em abril deste ano, da pedra fundamental, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, região metropolitana de Fortaleza. A previsão é de que a fábrica inicie as atividades no primeiro semestre de 2013. A Fuhrlander vai produzir aerogeradores com 141 metros de altura, com adaptações para tirar o melhor proveito dos ventos brasileiros. Serão cerca de 240 unidades fabricadas por ano, trabalhando inicialmente em um turno por dia. A princípio, serão

criados 200 empregos diretos de alta qualificação em áreas de níveis gerenciais, administrativo, financeiro, técnico e de engenharia, além de 600 empregos indiretos. A chegada da alemã assinala uma expansão do setor de energia eólica no Brasil, colocando-se como ferramenta fundamental para o barateamento dos custos e evitando a evasão de investimentos em função da importação dos equipamentos. O gerente de projetos da empresa, Newton Lima, destacou a importância dessa ação como atrativo para o interesse e a instalação de outras empresas ligadas ao setor. “Eles têm partes

de fundição, elétrica, hidráulica e sistema de cabos que podem ser adicionados à produção local. No entanto, para fabricar aqui, neste momento, ainda teremos que comprar essas partes de produtores de outros estados, como Minas Gerais e São Paulo. Mas com a nossa fábrica aqui, essas empresas podem vir a se instalar no Ceará”, avalia. De acordo com Newton Lima, a primeira fábrica terá cerca de 122 mil metros quadrados e um investimento previsto em R$ 15 milhões para a primeira fase. No entanto, a longo prazo, a Fuhrlander já planeja uma possível ampliação, o que resultaria em um investimento adicional de R$ 30 milhões. Em projeção feita pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, o Brasil pode se tornar, em 2013, o décimo maior produtor de energia eólica do mundo, um salto de 10 posições, já que o País terminou 2011 na 20ª colocação. A estimativa tomou como base o crescimento da capacidade instalada e a previsão da entrada dos parques eólicos já contratados, e o Ceará tem papel predominante neste crescimento.


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Números apresentados no Comitê Latino-Americano do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC), durante encontro realizado no México em março deste ano, ressaltam a liderança do Brasil no mercado eólico latino-americano. O País foi responsável por 50% das instalações efetuadas na América Latina em 2011, com 582,6 gigawatts (GW), e também se destaca quanto à capacidade total investida em energia eólica. Na segunda posição, no mesmo ranking, está o México, com 31%, Honduras, respondendo por 9%, Argentina com 7% e Chile, 3%. O Brasil também se sobres-

sai quando o aspecto analisado é potência instalada acumulada por país, de 2008 a 2012, alcançando um volume de 1.509 MW. A Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), instituição que congrega e representa o setor eólico no País, analisa que as perspectivas de crescimento até 2020 são positivas para o mercado eólico brasileiro. “Nossa previsão é que o Brasil atinja o potencial de 20.000 MW instalados até 2020 e esse número é muito plausível. Para sustentar essa indústria, basta vender, pelo menos, 2 GW por ano, somando-se o mercado regulado e mercado livre”, destacou o

diretor Executivo da Abeeólica, Pedro Perrelli. Segundo dados disponibilizados pelo GWEC, a previsão é de que América Latina e Caribe atinjam 30.000 MW de capacidade cumulativa até 2020. O Conselho também disponibilizou estatísticas quanto à participação dos fabricantes de turbinas eólicas nos três principais mercados latino-americanos. No Brasil, a Enercon tem 43%, Suzlon 24%, Impsa 22% e Vestas 10%. No México, a Acciona WP tem 63%, Gamesa 23% e Clipper 14%. Já no Chile, Vestas detém 57%, Acciona 30%, Dewind 10% e Siemens 2%.


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personagem ENTREVISTA

LUIS PESCARMONA

“Brasil necessita de energia mais competitiva” O CEO da Impsa Wind, Luis Pescarmona, aponta o caminho para uma energia mais competitiva no Brasil: redução da carga tributária. “Impostos representam 48% do custo da produção elétrica no Brasil. Esse nível de impostos é claramente um obstáculo ao investimento e ao desenvolvimento do País”. Para ele, este esforço deve ser o foco de Dilma

{ por Carol de Castro


Imagens: AgĂŞncia Brasil

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personagem ENTREVISTA

LUIS PESCARMONA

uis Pescarmona faz parte da quarta geração da família que empresta o sobrenome a grupo de empresas com origem na Argentina. Ele é engenheiro industrial graduado no Instituto Tecnológico de Buenos Aires, com MBA da Escola de Negócios de Harvard (EUA). É membro do Comitê Executivo da Impsa desde 2006. De 2000 a 2003, ocupou vários cargos na divisão de Investment Banking do Morgan Stanley, em Nova York e Buenos Aires. Atualmente, é CEO da Impsa Wind e responsável por todas as unidades de negócios do Grupo Pescarmona no Brasil. A origem da Impsa remonta ao ano de 1907, quando o avô do atual presidente, Enrique M. Pescarmona, fundou Talleres Metalúrgicos Pescarmona na província de Mendonza, Argentina. Ali se fabricavam sobressalentes de ferro fundido, equipamentos para a indústria vitivinícola e comportas para canais de irrigação. Durante a década de 1910-1920, Pescarmona se converteu em líder no fornecimento de equipamentos para vitivinicultura, manufatura de comportas e outros componentes de metalurgia leve. Durante a década de 1970, a

O Brasil é atraente para investidores locais e internacionais. Conta com democracia estável e economia em crescimento

Impsa se posicionou como desenvolvedor de tecnologia e se firmou como líder na produção de bens de capital para a geração hidrelétrica na América Latina. Nos anos 80, surgiu o conceito de provedor de soluções integradas. Para alcançar esse objetivo, foi implementada uma política agressiva de pesquisa e desenvolvimento que permitiu transformar em realidade esse novo foco. Como prova concreta disso, a companhia construiu seu próprio laboratório hidráulico em Mendonza, no Centro de Investigação Tecnológica (CTI), o único na América Latina e um dos mais avançados do mundo. Paralelamente, as operações da companhia se consolidaram com sua expansão internacional na América Latina e nos novos mercados, como a China e o Sudeste Asiático. Durante os anos 90, a companhia começou a desenvolver sua capacidade de engenharia financeira como propulsora e investidora de projetos de geração elétrica. Os investimentos realizados foram muito variados, mas podemos destacar alguns nas seguintes categorias: BOT (Build, Operate & Transfer), BROT (Build, Rehab, Operate & Maintenance) e BOM (Build, Operate & Maintenance). Com essa conquista, a Impsa se tornou um dos principais desenvolvedores de projetos “hydro” no Mundo e um provedor de soluções integrais. Desde projetos de engenharia básica, passando por contratação e fabricação, até a operação e manutenção, a Impsa desenvolveu um know-how e tecnologia que inclui não


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apenas engenharia de produto, mas também engenharia de processos e engenharia financeira. Atualmente, a empresa está desenvolvendo novas versões de seus equipamentos Unipower, tecnologia própria de última geração, para chegar a uma potência unitária de quatro a cinco megawtts (MW) nos próximos três anos. Hoje, a Impsa está consolidada como líder na geração de energia elétrica a partir de recursos renováveis na América Latina, sendo o principal investidor em parques eólicos na região e o maior produtor de equipamentos. Com mais de 30.000 MW instalados, está presente em mais de 40 países, com projetos operando nos cinco continentes. Possui mais de cinco mil empregados no mundo que asseguram a qualidade e excelência de seus produtos e serviços. Renergy:: O Brasil tem atraído investimentos na área de energia renovável. O governo brasileiro vem incentivando as fontes de energia alternativa e utilizando esse fato como um case de marketing institucional do País no cenário internacional. Como o empresariado internacional vê o mercado brasileiro? Luis Pescarmona:: O Brasil é um mercado muito atraente tanto para investidores locais quanto para internacionais. No nível político, conta com uma democracia institucional estável. A economia se encontra em claro crescimento e é vista como uma oportunidade, devido às condições de crédito de

Financiamento a longo prazo na moeda local a produtos que gerem emprego no Brasil reforça a vontade de investir

seu Estado, que não tem altos níveis de dívida soberana. Esse crescimento em conjunto com um sistema institucional que respeita a lei e os contratos é fundamental para que os investidores possam seguir investindo no Brasil. Além disso, a visão de fornecer financiamento a longo prazo na moeda local a produtos que gerem emprego no Brasil reforça a vontade de investir não apenas em projetos específicos, mas também em cadeias de valor com alta incidência de emprego qualificado, gerando um ciclo virtuoso de investimento e geração de forma sustentável ao longo do tempo. Claramente existem desafios, um deles é dar continuidade mediante o planejamento ordenado das necessidades energéticas de um país, com foco no longo prazo. Isso se constrói de uma maneira muito lenta e se destrói muito fácil, por isso a vigilância do Estado não pode variar nem se esquecer desse planejamento, mesmo quando os mercados que são muito variáveis peçam isso. A energia elétrica não é um bem normal ou comum. É um bem estratégico e deve ser visto como uma prioridade em nível estatal. Até hoje, o Brasil conseguiu dar esses passos de maneira correta, mas é um caminho que não termina nunca. Portanto, a institucionalidade alcançada deve ser sempre reforçada, com mais e maiores amostras de metas claras e objetivos a longo prazo. Renergy:: O que atrai e o que afasta o investidor de energia renovável no Brasil? A consolidação de um marco


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personagem ENTREVISTA

LUIS PESCARMONA

regulatório e uma melhora nas questões tributárias são os principais questionamentos quando se fala em investimentos no País? Luis Pescarmona:: Segurança jurídica e o acesso a financiamento são chaves para o sucesso e o crescimento que estão tendo as energias renováveis no Brasil. A falta de confiança no sistema é muito prejudicial, e todos os obstáculos que surgem devem ser superados com uma visão sistêmica de suas consequências. De nada serve fazer as coisas bem em uma área, se o planejamento pode ser alterado por necessidades de curto prazo. De nada serve ter um sistema muito transparente de preços se esses preços não são sustentáveis no longo prazo. É preciso entender que existe uma assimetria muito grande na energia. Se deixa de ser negócio, é a sociedade que sempre paga o pato. Nesse ponto, me refiro ao planejamento. É imperativo que o Estado não compre energia visando apenas o preço. Tem que ter uma visão de que os investimentos devem ser constantes. Se os preços, por conjunturas internacionais de falta de oportunidades, caem demasiadamente, inclusive removendo a rentabilidade positiva, é muito provável que as consequências negativas sejam maiores ao que se consegue com uma poupança simples. Se não há capacidade de investir, a sociedade inevitavelmente fica com os custos da falta de energia, que se medem percentualmente do PIB: uma crise energética não custa menos de 3 a 4% do PIB de uma nação. Pelo contrário, se

se sobreinveste, a preços ligeiramente acima do ideal, esses custos que são pagos pela sociedade são financiados a longo prazo, já que os contratos de energia duram 15 ou mais anos. Essa visão de continuar a investir, seguindo um planejamento de longo prazo, protegendo o sistema de suas próprias vontades negativas e dando sinais claros de proteção dos investimentos, fará com que o mercado energético brasileiro seja invejado em todo o mundo. Renergy:: Na sua opinião, quais os caminhos para o Brasil atrair mais investimentos em energia limpa? Luis Pescarmona:: Planos de compra de energia no longo prazo, preços e condições de contratos a serem respeitados ao pé da letra, com suporte em um quadro institucional de todo o sistema. O Brasil precisa de energia. O mundo precisa de energia.

Planejamento de longo prazo fará com que o mercado energético brasileiro seja invejado em todo o mundo

Renergy:: O aquecimento global esquentou, no geral, os negócios verdes? Luis Pescarmona:: As energias renováveis são uma fonte de energia infinita e limpa que fazem com que o mundo seja mais sustentável. Os efeitos são cada vez mais visíveis, e os países são cada vez mais conscientes do caminho a seguir para viver em um mundo melhor. As novas gerações já não aceitam que se continue contaminando nosso habitat a qualquer custo. Renergy:: O senhor acredita que o Brasil tem conseguido aliar desenvolvimento econômico e tecnológico com sus-


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tentabilidade? Luis Pescarmona:: É muito importante que o desenvolvimento econômico e tecnológico esteja a serviço da sustentabilidade. É contraproducente impulsionar um sem o outro. As três variáveis do desenvolvimento devem ser parte da equação e manter um equilíbrio de crescimento conjunto. O Brasil é um país que aposta nisso, e a Impsa demonstra seu apoio a essa política com fortes investimentos em I+D e em tecnologia de última geração, que foi tropicalizada especialmente para os ventos e as condições próprias do País. Renergy:: Como o senhor avalia a política ambiental hoje no Brasil, para liberação de novos empreendimentos de energia? Luis Pescarmona:: A política ambiental é fundamental para manter o equilíbrio, para resguardar e respeitar o meio ambiente. Creio que existe um desafio muito grande na aprovação de grandes represas hidrelétricas no Brasil. O sistema hoje está muito focado em preservar, mas não o faz de maneira sistemática. As dificuldades na aprovação dos projetos de energia limpa vistos de forma individual não contemplam os prejuízos gerados por esses atrasos. Todo atraso implica na necessidade de queimar mais gases de efeito estufa ou de contar com menos oportunidades de crescimento sustentável. O caso dos três maiores produtores e consumidores de energia elétrica - EUA, China e Índia - é um exemplo claro. A matriz energética dos

O Brasil precisa seguir investindo em todas as energias possíveis. Quanto mais limpa, melhor

três está totalmente baseada no carbono, e seu crescimento também. Esse pode ser o caso do Brasil, se as dificuldades para construir projetos de energia limpa continuarem crescendo. Lamentavelmente, não há alternativas sem consequências, mas o pior de tudo é não fazer nada, porque depois o que se tenha que fazer será feito da pior forma e com os piores combustíveis. Renergy:: Qual a sua opinião a respeito da geração de energia elétrica no Brasil? Luis Pescarmona:: O Brasil tem grandes desafios à frente que devem ser acompanhados pelo setor elétrico para seguir na via do crescimento. O Brasil precisa seguir investindo em todas as energias possíveis. Quanto mais limpa, melhor; quanto mais independente, melhor; quanto mais rápida, melhor; e quanto mais diversificada, melhor. Tudo isso gerando postos de trabalho locais sustentáveis no longo prazo. De nada serve fazer ciclos combinados baratos, se toda a geração de emprego ocorre nos países centrais. De nada serve contar com recursos eólicos quase inacabáveis se os equipamentos são produzidos por trabalhadores estrangeiros. O Brasil tem o volume e a capacitação de seu povo para desenhar, construir e vender qualquer produto energético que necessite. Se os custos a mais de investimentos por compra de emprego local são bem calculados, se entende que esse é o caminho correto para alcançar um Brasil sustentável, com gente produtiva e membro do mundo.


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personagem ENTREVISTA

LUIS PESCARMONA

Renergy:: E o que o senhor espera do governo Dilma em relação a esse assunto? Luis Pescarmona:: Eu acredito que não se deve pensar na energia como algo que um indivíduo decide sozinho, por mais poderosa que essa pessoa seja. A energia é uma política de Estado, não pode ser decidida por desejos. As decisões devem ser sistemáticas e institucionais. Dilma é a executiva encarregada de levar essas decisões à frente. Para hoje, o Brasil necessita de energia mais competitiva. Isso é claramente uma discussão política mas, do ponto de vista de análise, existem apenas duas maneiras de alcançar uma redução. Uma redução na rentabilidade, que afetaria na vontade dos investidores para seguir investindo, embora exista concorrência , e a energia eólica é um grande exemplo. A redução não é eterna, já que menos rentabilidade afeta, a médio e longo prazo, a quantidade de concorrência e, portanto, não é uma ferramenta eterna. A outra forma é reduzir impostos, que hoje representam 48% do custo da produção elétrica no Brasil. Esse nível de impostos é claramente um obstáculo ao investimento e ao desenvolvimento do Brasil. É aí, no meu entendimento, que Dilma deve focar seus recursos. Renergy:: O que a Argentina tem a aprender com o Brasil e viceversa, em relação à geração de energia renovável? Não vamos falar de futebol. Luis Pescarmona:: Acredito que os dois países têm um futuro muito promissor em relação às

O Brasil tem que aprender com a Argentina que a energia não é um bem simples

energias renováveis. Diria que o potencial em termos de porcentagem é maior na Argentina. A Argentina tem a sorte e a desgraça de ter grandes reservatórios de gás, que afetam o desejo por energias renováveis e não contaminantes. A Argentina deveria usar o gás para gerar a maior riqueza possível, e claramente o uso para energia elétrica não é o caso. Usando o gás em petroquímica, a rentabilidade do país é muito maior, quase 5 para 1. Usando a dita petroquímica, por exemplo, para o agronegócio, levamos a rentabilidade de 8 a 10 vezes. E isso só em nível de commodities, imagine se essas commodities se industrializam a valores agregados. O Brasil tem que aprender com a Argentina que a energia não é um bem simples. A Argentina cometeu o erro de depender totalmente do mercado em termos de energia, dizendo que o mercado diria os sinais corretos para investir. O único sinal aceito por esse tipo de pensamento são os preços da energia. Mas os preços estão ligados a circunstâncias que estão fora da equação econômica, infelizmente as depressões e as bolhas existem e continuarão a existir. O que nos salva desses picos é o planejamento a longo prazo. Renergy:: Qual seu conselho para jovens empresários no Brasil que desejam empreender no setor de energia? Luis Pescarmona:: Que se preparem para competir com os melhores, porque ali nós estaremos, prontos para aprender e também ensinar.



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cobertura EVENTOS DO SETOR

Fórum debate economia verde Imagens: Divulgação

Realizado em Manaus, Fórum Mundial de Sustentabilidade contou com participação de empresários e ativistas ambientais

O

Fórum Mundial de Sustentabilidade chegou a sua terceira edição em 2012. O evento ocorreu de 22 a 24 de março na cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, e contou com a presença de nomes importantes entre autoridades e lideranças que compõem o cenário político e econômico nacional e internacional para discutir e propor soluções de sustentabilidade ambiental, social e econômica, a partir do tema “Economia Verde e Desenvolvimento Sustentável”.

O encontro antecedeu os debates que serão travados na conferência organizada pela ONU, a Rio+20, que ocorre de 13 a 22 de junho deste ano, na cidade do Rio de Janeiro. Dentre os principais participantes, compareceram a ativista política e social Bianca Jagger, a ex-ministra da Noruega Gro Burtland, o sociólogo e ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro da França Dominique de Villepin e a oceanógrafa Sylvia Earle, entre outros.

O fórum teve início com o discurso do governador do Amazonas, Omar Aziz, que pediu aos participantes para discutir, propor e encontrar soluções aplicáveis a partir da aliança entre preservação e sustentabilidade em favor dos povos da Amazônia que carecem da floresta para sobreviver. As discussões giraram em torno da relação entre economia, política e sustentabilidade, e a integração entre empresa e estado. De acordo com Silvia Earle, “a economia não é nada sem o meio


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ambiente”, e instrui para que este pensamento seja incorporado às políticas públicas e apreendido pelas pessoas. A ativista Bianca Jagger fez um apelo à presidente Dilma Rousseff para que a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, fosse reconsiderada, em virtude do modo como a vida das comunidades e do ecossistema da região seriam irremediavelmente afetados. Bianca disse que este não é um tipo de energia limpa e aconselhou o uso de energias renováveis em substituição ao uso de hidrelétricas, pois entende que estas são ferramentas que se valem do sacrifício de pessoas,

comunidades e meio ambiente. Em seu discurso, Fernando Henrique Cardoso defendeu o aumento e o incremento do uso de energia eólica e acrescentou que é necessário criar mecanismos de conciliação e projetos capazes de unir desenvolvimento econômico e a sustentabilidade do meio ambiente. O ex-presidente admitiu que “era possível ter feito mais pelo meio ambiente” durante o seu governo. A 3° edição do fórum culminou com a leitura da Carta do Amazonas, um manifesto que levanta temas e estabelece determinados pontos de discussão merecedores de uma atenção especial

da sociedade brasileira e mundial. Alguns pontos de destaque são o estabelecimento de metas para a universalização do acesso à energia limpa até 2030, formulação de programa de governança dos oceanos com a recuperação dos ecossistemas marinhos, reconhecimento de que a atmosfera é um bem comum e que a contaminação por gases do efeito estufa e outros poluentes precisa ser eliminada de forma gradual.

Para saber mais sobre http://goo.gl/jtxX1


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cobertura EVENTOS DO SETOR

Aconteceu

Feicon Batimat

A Feicon Batimat - Salão Internacional da Construção, que aconteceu em março, no Pavilhão de Exposições do Anhembi em São Paulo, é a maior feira de negócios da cadeia de construção civil na América Latina. Organizada e promovida pela Reed Exhibitions Alcantara Machado, antecipou as maiores novidades do setor da construção no Brasil antes de chegarem aos consumidores finais. A feira tem um

amplo e especializado público alvo, formado por arquitetos, engenheiros, construtores, designers de interiores, incorporadores, revendedores, lojistas e demais profissionais do setor, que puderam conferir os lançamentos em automação, equipamentos e produtos; iluminação; aquecedores e condicionadores de ar; revestimentos; portas e janelas; fundações e estruturas, e produtos para cozinha e banheiro. Na cerimônia oficial de abertura da edição comemorativa de 20 anos da Feicon Batimat, o secretário de Habitação de São Paulo, Silvio Torres, anunciou o investimento de R$ 80 bilhões em obras para os próximos 4 anos. “Foi muito oportuno que esta edição da feira, uma das maiores do

mundo, tenha esse enfoque em sustentabilidade no ano em que o Brasil sedia o Rio+20. Cada vez mais estamos procurando implementar modelos de construção sustentável nas obras governamentais”, acrescentou. Segundo o secretário, o setor de construção continua sendo um dos que mais criam novos empregos devido aos programas de habitações populares, impulsionando a economia do país. A Feicon Batimat contou com 800 marcas expositoras de 20 países e durante os cinco dias de atividades previu receber 130 mil compradores, que conferiram em primeira mão 2 mil lançamentos de toda a cadeia da construção civil. Segundo a Anamaco, o evento teve movimentação de R$ 360 milhões.

Accelerate Oil & Gas 2012

Timberland Investing Latin America

O AccelerateOil&Gas reuniu membros da Petrobras, petrolíferas internacionais, EPCistas e outros integrantes da indústria com fornecedores e prestadores de serviços para explorar oportunidades de projetos, soluções tecnológicas, veículos de financiamento e outros temas relevantes à formação e implantação de projetos de óleo e gás. O evento facilitou o diálogo necessário para manter o ritmo de desenvolvimento gerado pelos diversos programas brasileiros nesta área.

Em 2012, o evento alcançou sua maior edição. A programação da 5ª edição do Timberland Investing Latin America discutiu o histórico e as projeções do mercado para investimento florestal, o posicionamento e estratégia de fundos de pensão, análises de riscos do setor, o lugar ocupado pela América Latina no contexto mundial de timber, além da apresentação de um tutorial para novos investidores e de um site visit para uma floresta local. Eficiência Energética

Ambiental Expo

O Congresso Ambiental Expo, que aconteceu em maio no Holiday Inn Hotel em São Paulo, é um evento para a discussão de temas relacionados aos fatores econômicos, tecnológicos e legais para o desenvolvimento da nova economia e do Brasil. Empresas patrocinadoras apresentaram equipamentos, sistemas, soluções e tendências para prevenção, tratamento e correção de impactos ambientais nos setores de saneamento, energia, resíduos, solo e ar.

O Instituto da Cidade realizou em março o IV Seminário do Fórum Nacional e o Legado da Copa, discutindo “A Eficiência Energética para o Desenvolvimento da Cidade”. O encontro reuniu lideranças do pensamento sustentável, em uma discussão ampla sobre as possibilidades e potencialidades do uso da energia limpa para uma cidade plena de recursos naturais e desenvolvimento como Fortaleza, que será uma das subsedes do Mundial de 2014.



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destaque CONSUMO INFANTIL

O negócio

e os efeitos do

consumo

infantil Empresas já sabem que a influência da publicidade na criança gera crescimento de vendas. Pesquisadores mostram que mais do que negócios o consumo infantil também causa impactos nos hábitos alimentares, comportamento e formação da personalidade dos pequenos. Está em jogo também todo o equilíbrio ambiental do planeta. O consumismo está relacionado à ideia de devorar, destruir e extinguir

{ por Carlos Henrique Camelo


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destaque

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CONSUMO INFANTIL

C

rianças sentadas em frente à televisão. À primeira vista, esta cena corriqueira pode parecer inofensiva. Talvez por isso muitos pais não se deem conta do risco potencial da exposição das crianças à publicidade contida na programação televisiva. O alerta sobre estes riscos e o seus possíveis efeitos no desenvolvimento dos pequenos são os temas centrais do documentário “Criança, a alma do negócio”, da diretora Estela Renner e do produtor executivo Marcos Nisti. O filme defende a tese de que as crianças e adolescentes se transformaram nos alvos prioritários das campanhas publicitárias, tanto por serem presas fáceis para a publicidade como pelo seu poder de influência sobre a decisão de compra nas famílias. O ponto de partida para a realização do documentário foi o Instituto Alana, organização não governamental que, entre as atividades desenvolvidas, realiza um trabalho de conscientização sobre os prejuízos decorrentes da comunicação mercadológica voltada ao público infantil. Depois de registrar aulas com os conselheiros do instituto, Estela passou a conhecer mais sobre os impactos do excesso de publicidade infantil e buscou uma forma de alertar os pais sobre estes riscos. No documentário, a diretora traz depoimentos de crianças, pais e especialistas falando sobre os impactos negativos da exposição dos pequenos ao bombardeio diário de produtos e marcas. As entrevistas são acompanhadas por dados preocupantes, como os da Associação Dietética Norte Americana que diz que bastam 30 segundos para uma marca influenciar uma criança, ou os da pesquisa da TNS/ InterScience que diz que as crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família. Carros, roupas, alimentos, eletrodo-

mésticos, quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança. E o resultado dessa influência pode ser visto nos testes realizados com crianças durante as filmagens. Meninos e meninas que não conseguem identificar frutas ou legumes, mas não titubeiam ao nomear as empresas, vendo apenas as suas logomarcas. Que tem na ponta da língua o nome de salgadinhos olhando para suas embalagens e que escolhem a palavra “comprar” ao invés da palavra “brincar” ou mesmo as que apontam ir ao shopping center como passeio favorito. E não adianta simplesmente achar que é exagero da diretora. Ao expor esta realidade, o filme quer chamar a atenção para um problema que é muito mais comum do que imaginamos. De acordo com a pesquisa da Kiddo’s Brasil 2006, em média, 85,50% das crianças entre 6 e 12 anos assistem à tevê diariamente. Destas, 90% dizem que gostam muito de assistir à programação televisiva e 77% afirmam que ficam o tempo que desejam em frente aos televisores. Já a pesquisa do Painel Nacional de Televisores do Ibope 2007 aponta

que as crianças brasileiras, entre 4 e 11 anos, passam em média 4 horas, 50 minutos e 11 segundos por dia em frente à telinha. O resultado dá ao Brasil um título que não merece ser comemorado, o de maior tempo de exposição de crianças e adolescentes à programação televisiva. Não é difícil precisar a quantidade de inserções comerciais contidas neste tempo. Um levantamento realizado pelo projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, em outubro de 2010, às vésperas do Dia das Crianças, avaliou a programação infantil de sete canais, sendo cinco canais infantis da TV fechada e dois canais abertos. Foram registradas cerca de 350 publicidades diferentes, num total de aproximadamente 1.100 inserções comerciais. Difícil mesmo é ter dimensão de todos os impactos destas mensagens publicitárias nestas crianças e adolescentes. Como elas irão reagir a estes comerciais? O certo é que, como crianças e adolescentes estão em processo de desenvolvimento da personalidade, ficam mais vulneráveis que os adultos às consequências do estímulo excessivo ao consumo.


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Erotização precoce e obesidade infantil

Para a professora de psiquiatria e autora do livro “Crianças do consumo - a infância roubada”, Susan Linn, o marketing voltado para crianças acaba contribuindo para uma série de problemas como a obesidade infantil, dependência de tabaco e consumo precoce de álcool e erotização precoce. E não precisa ir muito longe para encontrar exemplos. Basta uma pequena volta nos shoppings para ver crianças, principalmente as meninas, se vestindo como adultos, cada vez mais cedo. Maquiagem, cabelo, roupas, sapatos, pulseiras, celulares da moda. Um verdadeiro desfile de minimodelos, que em nada deixam a dever à boneca Barbie e seu milhão de acessórios. Ou como os exemplos contidos no documentário, no qual crianças pequenas dizem ir ao cabeleireiro frequentemente ou o depoimento da professora que diz que crianças estão

deixando de brincar de correr por causa de seus sapatos de salto alto. A obesidade infantil é outro problema apontado por Susan Linn como associado à publicidade excessiva voltada para crianças. Nos Estados Unidos, a obesidade infantil passou de 5% em 1964 para 30% nos dias atuais. Cerca de 1/3 dos americanos hoje tem sobrepeso, segundo o site de educação americano Teach.com. O problema é tão sério que despertou o interesse da primeira dama dos EUA, Michelle Obama, que em 2010 lançou uma campanha contra a obesidade infantil. A campanha Let’s Move (“Vamos Nos Mover”, em tradução livre), encabeçada por Michelle, busca aumentar o valor nutritivo das refeições escolares e melhorar o acesso a alimentos saudáveis em áreas mais pobres do país. O problema da obesidade infan-

til no Brasil também não é muito diferente do que ocorre nos EUA. Segundo o IBGE, uma em cada três crianças brasileiras entre 5 e 9 anos tem sobrepeso ou é obesa. De acordo com números da Primeira Jornada de Alimentos e Obesidade na Infância e Adolescência, na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), 14% das crianças do País são obesas e 25% estão acima do peso. Estas curvas acompanham o crescimento do volume investido no marketing infanto-juvenil. Os próprios pais estão sentindo na pele a influência da publicidade nos hábitos alimentares de seus filhos. Segundo pesquisa do Datafolha, realizada ano passado para o Instituto Alana, 78% dos pais entrevistados afirmaram que os filhos pedem as comidas que veem nos anúncios. E 79% dos pais acreditam que a publicidade de alimentos não saudáveis prejudica hábitos alimentares das crianças. Até mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a gravidade do problema e lançou, em 2010, recomendações para que os governos internacionais desenvolvam políticas públicas para reduzir o impacto nas crianças do marketing de alimentos e bebidas com baixo teor nutricional. Com esse objetivo, uma das orientações pedia a proibição de comunicação mercadológica desse tipo de produto em ambientes dedicados às crianças, como escolas e playgrounds. A estimativa da OMS era de que mais de 42 milhões de crianças com menos de cinco anos estariam acima do peso ou sofreriam de obesidade até o fim de 2010 - das quais 35 milhões de crianças de países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.


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destaque CONSUMO INFANTIL

A norte-americana Susan Linn é professora de psiquiatria na Escola Médica de Harvard, escritora, produtora premiada e artista de fantoches. É cofundadora e diretora da Campanha por uma Infância Livre de Comerciais (Campaign for a Commercial-Free Childhood). Escreveu extensivamente sobre os efeitos da mídia e do marketing comercial sobre crianças. É autora do livro “Crianças do consumo - a infância roubada”, onde discute as relações entre pais, crianças, agências de publicidade, marketing e consumismo e suas consequências para o desenvolvimento infantil. Outra obra da autora com edição em português é o livro “Em Defesa do Faz de Conta - Preserve a Brincadeira em um Mundo Dominado Pela Tecnologia”, no qual Susan Linn defende a necessidade de brincar usando a imaginação e argumenta por que ajudar as crianças a encontrar tempo para o faz de conta pode fazer delas adultos mais saudáveis.

Para saber mais sobre http://bit.ly/fclUHY http://bbc.in/bBvZcb http://bit.ly/d7WSja http://bit.ly/A3LJWZ

Montagem em imagens de © Marzanna Syncerz | © Dimjul | Dreamstime.com

Quem é Susan Linn

Combatendo o consumismo Ninguém nasce consumista. Esta é premissa do Instituto Alana, organização não governamental que desenvolve uma verdadeira cruzada contra a comunicação mercadológica dirigida às crianças. “O consumismo é uma ideologia, um hábito mental forjado que se tornou umas das características culturais mais marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo.

Hoje, todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconsequente”. Para o Instituto Alana, o consumismo infantil é uma questão urgente e um problema de todos: pais, educadores, empresários e poder público. Por meio do projeto Criança e Consumo, o instituto tenta conscientizar a população, especialmente educadores, formadores de opinião e empresas, sobre os malefícios da indução


Fique por dentro do consumo exagerado às crianças. O projeto foi criado em 2006, a partir da realização do 1º Fórum Internacional Criança e Consumo, para divulgar e debater questões referentes às relações de consumo que envolvam crianças, em especial, para fomentar a reflexão sobre as consequências do consumismo nessa fase da vida. São realizadas ações educacionais, pesquisas, eventos e também ações na esfera jurídica, como notificação de veículos de comunicação, anunciantes e ingresso de representações e outras ações em órgãos como o Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça (DPDC), Procons, Ministério Público e Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Além disso, o instituto acompanha e apoia iniciativas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário ligadas aos temas infância, consumo e publicidade. O Instituto Alana também mantém um site e um blog com notícias, publicações e um conjunto de informações sobre tudo que tenha relação com o consumismo e publicidade infantil. Também apoia iniciativas como o manifesto “Publicidade Infantil Não”, que pede o fim da publicidade dirigida a crianças e adolescentes. “Pedimos àqueles que representam os Poderes da Nação que se comprometam com a infância brasileira e efetivamente promovam o fim da publicidade e da comunicação mercadológica voltada ao público menor de 12 anos de idade”. O manifesto, que conta atualmente com a assinatura de 151 instituições e de mais de 15 mil pessoas, está disponível no endereço eletrônico: http://www.publicidadeinfantilnao.org.br.

Quem é considerado criança? E quem é considerado adolescente? O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera criança “a pessoa até doze anos de idade incompletos”. Para o estatuto, o adolescente é a pessoa “entre doze e dezoito anos de idade”.

O que é comunicação mercadológica? É toda e qualquer atividade de comunicação comercial empregada na divulgação de produtos e serviços, independentemente do suporte ou do meio utilizado; ou seja, além de publicidades, anúncios impressos, comerciais televisivos, spots de rádio e banners na Internet, são exemplos de comunicação mercadológica as embalagens, as promoções, o merchandising e a forma da disposição dos produtos em pontos de venda.

Quais são as diferenças entre consumo e consumismo? O consumo é a atividade econômica que se fundamenta na utilização direta das riquezas geradas e, justamente por isso, pressupõe racionalidade em

sua prática. Já o consumismo é o ato de adquirir produtos e serviços de maneira compulsiva, sem necessidade ou consciência. Enquanto o consumidor responsável adquire produtos e serviços de modo consciente, o consumidor consumista compra por impulso, de forma irracional e inconsequente.

Por que toda e qualquer publicidade dirigida à criança é abusiva? De acordo com a interpretação conjunta da Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código de Defesa do Consumidor, o Brasil já proíbe qualquer publicidade dirigida a crianças.

Quem é responsável por proteger as crianças do consumismo? A família, a sociedade e o Estado (art. 227, da Constituição Federal). Fonte: Instituto Alana

Para saber mais sobre http://www.alana.org.br

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destaque

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CONSUMO INFANTIL

Uma questão de conscientização Mais do que uma questão individual,

o consumismo infantil, assim como todo o consumismo, é responsável pela geração de problemas que vão além da porta de nossa casa. Está em jogo também todo o equilíbrio ambiental de nosso planeta. De acordo com o Instituto Alana, o consumismo está relacionado à ideia de devorar, destruir e extinguir. “Se agora tragédias naturais, como queimadas, furacões, inundações gigantescas, enchentes e períodos prolongados de seca, são muito mais comuns e frequentes, foi porque a exploração irresponsável do meio ambiente prevaleceu ao longo de décadas”. Porém, não adianta ficar apenas culpando as empresas pela comunicação dirigida ou cobrando dos governos normas mais rígidas para a publicidade infantil. Os pais também tem uma missão muito importante neste

processo de conscientização, que é o de buscar dar o exemplo dentro de casa. De acordo com o Instituto Alana, as crianças espelham- se no comportamento dos adultos com quem convivem. Por isso, é importante que os adultos se conscientizem da necessidade de controlar gastos e evitar o consumo exagerado. Além do exemplo, os pais precisam buscar alternativas de lazer que não envolvam tipos de mídia. “Leia, jogue e cozinhe com as crianças. Estimule-as a tocar instrumentos musicais e a desenhar. Não atrele os momentos das refeições ao ato de assistir à televisão”, orienta o Instituto Alana. A mesma opinião é compartilhada pela educadora e diretora da Escola Vila, Fátima Limaverde. Segundo ela, os pais precisam dedicar um tempo para brincar com os seus filhos e ao mesmo tempo conversar sobre temas

como ecologia, conservação dos recursos naturais e destino correto do lixo. “Não percam a oportunidade, sentem no chão com seus filhos para montar quebra-cabeças, brincar com jogos, carrinhos feitos por eles, bonecas costuradas em casa e sintam o prazer da brincadeira e o despertar das crianças para novas descobertas. Dessa forma não estaríamos poluindo o planeta com tanto brinquedo de plástico em nome das crianças”, diz a educadora. De acordo com ela, a escola também é um espaço favorável para que os pequenos aprendam sobre sustentabilidade. “A responsabilidade pela vida no planeta Terra só é despertada através da consciência de que somos a própria natureza, aí surge a necessidade do cuidar de si (ecologia pessoal), cuidar do outro (ecologia social) e cuidar do planeta (ecologia planetária)”, afirma Fátima Limaverde.


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Livros e vídeos

Crianças do Consumo: A Infância Roubada Editora: Instituto Alana Ano: 2006

Onde encontrar

Em Defesa do Faz de Conta Preserve a Brincadeira em um Mundo Dominado Pela Tecnologia Editora: Best Seller Ltda Ano: 2010

Consuming Kids: Protecting Our Children from the Onslaught of Marketing & Advertising Editora: Anchor Books Ano: 2005

Crianças, a alma do negócio Direção: Estela Renner Produção Executiva: Marcos Nisti Maria Farinha Produções Estreia: Janeiro de 2008 Duração: 49 minutos

Para saber mais sobre

http://goo.gl/eAswA

Consuming Kids: The Hostile Takeover of Childhood Editora: WW NORTON Ano: 2004

http://goo.gl/atL9A http://goo.gl/ayCjX


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em ação ARTIGO

Pérola Felipette Brocaneli

A água na paisagem das cidades

A

valorização das águas na paisagem esta quase sempre relacionada à harmonia existente entre os espaços construídos e os espaços abertos, dos espaços arquitetônicos e dos espaços naturais, que ao longo de décadas foi inspiração para as paisagens românticas, valorizando a observação da paisagem natural e desta forma associando as águas aos espaços de contemplação. Nas diferentes fases de relacionamento do homem com a natureza, que vão desde a arte jardinística até a paisagem contemporânea, as paisagens urbanas capazes de resguardar, preservar e conservar ao máximo a identidade ambiental sempre foi um desafio, desde que se entenda identidade ambiental como um conjunto de fatores ambientais que oferece ao local uma paisagem diferenciada das demais, por vezes única no mundo. Desta forma os diferentes territórios urbanos vão sendo contruidos sobre uma paisagem natural tão antropisada, que pode ser chamada de “geografia da sobrevivência” como define Sun (1985, pags. 45 e 85) a paisagem que passa a existir após as diversas interferências humanas, que passam a formar uma unidade de paisagem. Partindo do principio que “a preservação das principais características da paisagem” devem ser o objetivo do arquiteto urbanista, e para tanto deve valer-se dos conceitos de planejamento ambiental para salvaguardar e ressaltar as principais características naturais necessárias à preservação da unidade de paisagem do território, cabe perguntar? A exploração da água nos espa-

ços urbanos pode também resgatar as lembranças de paisagens naturais ou ainda a representação de imagens lúdicas e míticas com as quais o cidadão se identifica, a fim de proporcionar a construção da imagem das águas urbanas associadas a paisagens uteis e agradáveis. O reconhecimento da paisagem natural como identidade ambiental indica que apesar da constante transformação da paisagem e da sobreposição de paisagens, cada território guarda características inalteráveis, tal como a fisionomia dos rios que cruzam os diferentes estados e cidades brasileiras. O grande desafio contemporâneo tem sido desenvolver espaços urbanos, nos quais a preservação das relações ecossistemas seja a prioridade, sem relegar à segundo plano a funcionalidade da água para a instalação e o desenvolvimento das cidades, onde indústrias, hidroelétricas com seus respectivos grandes lagos, barragens e eclusas além de áreas rurais são parte da paisagem. A estruturação da paisagem da cidade através de suas principais características ambientais é necessária, em várias cidades do mundo, Hafencity em Hamburgo / Alemanha é um exemplo da reestruturação urbana a partir da valorização da importância da região portuária, Barcelona / Espanha também teve por inspiração a abertura da cidade ao mar. A luz destas experiências, São Paulo pode recuperar sua identidade natural, valorizando as águas dos rios e lagos da cidade, melhorando a qualidade do ar e abrandando as di-

ferenças térmicas do território que chegam a 10°C no mesmo horário em pontos diferentes da cidade. O desenvolvimento de um modelo de reestruturação urbana, inspirada nos parkways de Frederick Law Olmsted, desenvolvendo extensas áreas verdes ao longo dos rios e córregos formando um sistema de refrigeração e umidificação do ar, proporcionando o trânsito de espécies de ave fauna além de fauna terrestre e aquática, entre as matrizes da paisagem natural que margeiam a cidade. O gerenciamento destes parques lineares proporcionaria uma grande quantidade de empregos e oportunidades que se iniciariam com a manutenção das áreas verdes empregando pedreiros, encanadores, jardineiros e até veterinários, biólogos, botânicos, professores, guias turísticos, além de pesquisas diversas. A cidade de São Paulo ganharia além de lindas paisagens, uma excelente qualidade de vida e uma nova fonte de renda advinda do turismo, além de ser um modelo de “desenvolvimento em rede” para todas as cidades brasileiras e mundiais. BIBLIOGRAFIA: SUN, Alex. Água e paisagem: questões de paisagismo em torno de um reservatório de abastecimento na Grande São Paulo. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1985. Pérola Felipette Brocaneli é mestre em Arquitetura pela FAU Mackenzie, doutora pela FAU-USP e professora na Universidade Presbiteriana Mackenzie



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3r’s

reduzir, reutilizar, reciclar

ACESSÓRIOS DE MODA

Couro Os resíduos da construção civil vem gerando cada vez mais transtornos quanto à destinação final. A gestão dos resíduos de construção e demolição foi definida na Resolução do Conama de 2002, como sendo atribuição dos municípios a elaboração, implementação e coordenação do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil que contempla o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e a regulamentação para que as obras apresentem os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Grandes e pequenas empresas e até usuários de materiais de construção em pequenas obras caseiras podem destinar sustentavelmente os resíduos da construção civil - o conhecido entulho - e até reutilizá-los.

REDUZIR Na hora de comprar artigos de couro da moda, vale apostar em itens de couro ecológico. São peças conhecidas como recuperado de couro. São produtos compostos por fibras de couro bovino e outros agentes que, combinados segundo uma formulação exclusiva, produzem um material versátil e ecologicamente correto.

REUTILIZAR Quando o acessório de couro envelhece, perde cor e brilho, mas é possível reaproveitar. Algumas oficinas de artesãos podem restaurar os mais diversos artigos em couro. Dá para transformar um manto de couro num tailler, uma saia numa bota, aumentar ou diminuir os tamanhos das roupas, alterar a altura do sapato, modificar o salto, aumentar ou diminuir a forma, arredondar os bicos, modificar a cor.

RECICLAR Sapatos imitam couro a partir de sobras, como serragem, retalhos de plástico e até chifre de boi. Com a reciclagem desses materiais, a indústria de moda e acessórios estão fabricando calçados e bolsas de couro ecológico, ajudando a preservar o meio ambiente.


Como?

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guia verde

TRABALHO VOLUNTÁRIO

Experiências que impulsionam uma carreira profissional Para alavancar a carreira profissional, estando empregado ou não, o trabalhador deveria ser voluntário em algum projeto. Este é o conselho de especialistas em recursos humanos. Eles apontam este caminho como um dos segredos para desenvolver oportunidades de trabalho. A experiência favorece a formação de uma rede de contatos, o aprendizado a motivar atitudes positivas, a tornar-se um líder e adquirir competências organizacionais. Outro bônus é o retorno do trabalho voluntário à comunidade e o sentimento bom que isso traz para a pessoa. Se está desempregado ou tem trabalho mas quer ampliar seus horizontes, considere ser voluntário. Essa experiência pode levar a crescimento pessoal e profissional.

1

Currículo. A experiência como voluntário deve ser descrita no currículo profissional. Isso mostra suas experiências, que você não está construindo apenas habilidades profissionais, mas também interpessoais. Preenche espaços vazios no currículo, se é o caso de estar há algum tempo sem trabalho, e permite falar algumas vantagens sobre sua colaboração na comunidade.

3

Conexão. O serviço permite conhecer pessoas, cenários e perspectivas que jamais seriam possíveis sem contato. Eventos de caridade ou para arrecadar recursos também favorece conversar com outros voluntários. Se for apropriado, é possível trocar informações e abrir caminhos para enviar o currículo.

5

Foco. Não faça o trabalho voluntário somente com o propósito de conseguir um emprego. Essa não pode ser a única motivação. Se for assim, você vai perder o senso de realização, de dever cumprido. Outras pessoas vão perceber claramente suas intenções, o que pode causar uma reação negativa.

2

Habilidades. O voluntário vai conhecer outras pessoas, obter experiências e aprender novas habilidades profissionais. Ele deve conversar com o coordenador do trabalho voluntário sobre o que pode ser desenvolvido. É uma chance de conseguir um treinamento. Isso mostra, a futuros e potenciais empregadores, que ele está interessado em novos desafios.

4

Estratégia. Quer trabalhar com relações públicas? Seja voluntário em uma empresa deste setor ou se ofereça para cuidar da publicidade de um evento de caridade. É importante ser apaixonado pela causa na qual se está envolvido voluntariamente. Esse entusiasmo será evidenciado em uma entrevista de emprego. Procure oportunidades baseado nos seus interesses.

6

Relacionamento. Trate todas as pessoas, sejam outros voluntários ou beneficiados, de forma igual e com respeito. Você não sabe quem conhece quem e qual a impressão terão de você. Eles podem abrir novas oportunidades quando falarem sobre você. Seja profissional, confiável, eficiente, gentil. Ou podem transmitir uma imagem negativa a seu respeito.


se ligue agenda { 88 } renergy. ano 2 > # 10 > 2011

DICAS DE LIVROS, SITES, FILMES E MUITO MAIS

campanha

Os brasileiros que desejem contribuir com as discussões sobre desenvolvimento sustentável, tema da conferência Rio+20, que a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza no Rio de Janeiro em junho, pode enviar textos, fotos ou vídeos para o site http://www. ofuturoquenosqueremos.org.br. A iniciativa faz parte de uma campanha de conversa global lançada mundialmente pela ONU, com versões para o árabe, chinês, espanhol, inglês, francês e russo, línguas oficiais das Nações Unidas.

agenda

Outra iniciativa da ONU é a Agenda Total (AT), uma plataforma de conversação na internet que vai reunir todas as agendas da Rio+20, incluindo os eventos oficiais da ONU e os paralelos, promovidos pela prefeitura e pelo governo do estado, além da programação da Cúpula dos Povos e da sociedade civil. O serviço está disponível no site www.agendatotal.org.

infantil

Heróis do Futuro é um projeto multiplataforma do Sistema Firjan, por meio do Sesi, criado com o objetivo de sensibilizar jovens estudantes do Rio para os temas que serão debatidos na Rio+20 e para os desafios de um desenvolvimento sustentável no mundo. Inicialmente voltado para alunos das redes pública e particular de ensino da cidade do Rio de Janeiro, além da rede Sesi e Senai de educação do estado do Rio, o projeto foi ampliado, permitindo a participação de qualquer pessoa em todo o mundo. O projeto conta com a parceria da Secretaria Municipal de Educação do Rio, que abriu as portas de suas escolas para os Heróis do Futuro. Mais informações em www.heroisdofuturo.com.br

site

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, marca os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e deverá contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009. Mais informações em www.rio20.gov.br


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festival

O Brasil é um país imensamente rico em recursos hídricos: 13% de toda a água doce do mundo está aqui. Considerando esses aspectos, o novo tema do Festival do Minuto, rios, pode trazer diversas abordagens. Se você tem uma história para contar que envolva o tema rio, produza seu vídeo de 1 minuto e inscreva no site www.festivaldominuto.com.br sua criação. Você vai concorrer a três laptops. As inscrições seguem até o dia 27 de outubro de 2012.

conferência

A 11ª edição do World Wind Energy Conference acontece em Bonn, na Alemanha de 3 a 5 de julho de 2012. O encontro reúne importantes players do mercado de energias renováveis e políticos de todo o mundo para debater o tema central “Poder da comunidade - poder de cidadãos”.

exposição

Até 1º de julho, imagens inéditas do fundo do mar ficarão expostas na mostra Oceanos, no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro. Realizada pela Aliança Francesa, a exposição traz fotos feitas durante as gravações do filme de mesmo nome, dos diretores Jacques Perrin e Jacques Cluzaud.

projeto

Com o objetivo de recompor a Mata Atlântica e preservar os aspectos culturais da região, o projeto Corredor Ecológico do Vale do Paraíba foi concebido em 2006 por meio das iniciativas de José Luciano Penido (Fibria), Mario Mantovani (SOS Mata Atlântica), Oded Grajew (Instituto Ethos) e Tamas Makray (Instituto Oikos). Mais em www. corredorecologico.org.br


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o último apaga a luz

Visite projetos dos artistas do Coletivo Base / Baião Ilustrado: www.baiaoilustrado.com.br

Entrando em Campo. Ilustração: Thyago Cabral



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anos


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