Renergy #8

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ano 2 > # 8 > 2011 > www.renergybrasil.com.br

9 772178 573006

ISSN 2178-5732

08

Tudo sobre hidrelétricas

NESTA EDIÇÃO ::: Reportagem trata dos desafios e polêmicas da hidreletricidade

Raio-x mostra mercado eólico no Brasil

exclusiva com o arquiteto Jaime Lerner

Entrevista

Cidades sustentáveis


O maior evento de energias renováveis da América Latina The biggest renewable energy event in Latin America Circuito P&D R&D Circuit

Visitas Técnicas Technical Visits

Conferência Conferences

Exposição Exhibition

Rodada de Negócios Business Rounds

Av. Senador Virgílio Távora, 1701, sala 808 | Aldeota - Fortaleza/CE - Brasil Tel.: +55 (85) 3033.4450


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índice Como navegar pelo conteúdo Localize os temas do seu interesse através dos ícones abaixo relacionados:

Eco A relação direta do homem com o meio ambiente

Energia Entrevistas, eficiência energética e energias alternativas e renováveis

Sustentável Ações que colaboram com o desenvolvimento sustentável

“entre vista

JAIME LERNER

O arquiteto e urbanista Jaime Lerner defende o transporte público de qualidade como prioridade. Em entrevista, ele explica os contornos deste e de outros desafios

78


O empresário Joachim Fuhrlander mostra sua preocupação ecológica incorporada aos negócios

24

Mostra Design Italiano para a Sustentabilidade alia responsabilidade ambiental com inovação e design 12 Janela inteligente promove economia de energia com luz solar 14 Anúncios de várias partes do mundo chamam atenção para a preservação do meio ambiente 16 Copenhagen e suas ações sustentáveis garantiram o título de cidade com melhor qualidade de vida 20

Reportagem trata dos desafios competitivos das PCHs e da polêmica obra de energia em Belo Monte

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Raio-x do mercado eólico mostra as turbinas dos parques brasileiros 42 Comunidades isoladas foram beneficiadas com energia geradas por placas fotovoltaicas 48 Entre os incentivos para a energia solar, a Carta do Sol quer estimular financiamentos 52 Setor eólico quer superar entraves na logística 58

Programas mostram na prática propostas para cidades sustentáveis

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Dicas para reduzir, reutilizar e reciclar o vidro 86 Guia prático de como evitar desperdício de água 87 Eventos, sites, campanhas ligados a energias renováveis e sustentabilidade 88 Os ilustradores do Baião Ilustrado inspiram-se na seção “O Último Apaga a Luz” 90


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editorial

Um potencial que gera preocupações P

or muitos anos, e ainda hoje, a energia hidráulica é a maior geradora de eletricidade no Brasil. Esta matriz, no entanto, vem perdendo par­ ticipação, mas é a maior aposta do governo Federal em geração de energia. Prova de incentivos a esta fonte é a construção de Belo Monte, que promete figurar como a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, além de outros empreendimentos deste tipo, como mostra a matéria de capa desta edição. Belo Monte causa polêmica, dividindo opiniões sobre seus impactos sócio­ ­ambientais e sua real necessidade. O Brasil precisa de Belo Monte? Com alta incidência de raios solares na maior parte de seu território, extenso litoral com fortes ventos, caminhando para a regulação da microgeração, garantindo ven­ da de energia por leilões, o País mostra sua capacidade de geração de energia. Por outro lado, o consumo de energia segue em expansão, acompanhando o incremento na economia. Indústrias, comércio, moradias que precisam de energia para atender o au­ mento do poder aquisitivo dos brasileiros. Ainda no setor hidráulico, outra forma de aproveita­ mento dos rios, que enfrenta entraves financeiros são as pequenas centrais hidrelétri­ cas. As PCHs tentam driblar a concorrência com as eóli­ cas nos leilões de energia e buscam incentivos do governo para se manterem financeiramente viáveis. Uma de suas últimas conquistas foi a aprovação do projeto de lei 4404/08, do Senado, que altera o desconto oferecido atualmente nas tarifas de transmissão e distribuição de energia de PCHs. O texto aprovado tramita em caráter con­ clusivo. O substitutivo aprovado propõe o desconto de no mínimo 50% nas tarifas, recaindo sobre toda energia gerada, independentemente de ser vendida ou não. A proposta ainda será analisada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. A proposta deve beneficiar, principalmente, grandes indústrias que produzem energia para consumo próprio, como empresas dos setores de aço, alumínio e cimento. Grandes ou pequenas, as hidrelétricas geram preo­ cupações de toda ordem: ambientais, sociais e econômicas. Esta edição também esquenta o debate sobre o futuro das cidades. Quais os rumos para a sustentabilidade dos espaços urbanos? Uma questão cheia de propostas e poucas iniciativas no Brasil.

Belo Monte causa polêmica, dividindo opiniões sobre seus impactos sócioambientais e sua real necessidade

expediente DIREÇÃO GERAL

Joana Ferreira

joana@renergybrasil.com.br EDIÇÃO

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editor@renergybrasil.com.br REDAÇÃO

Juliana Bomfim e Paola Vasconcelos redacao@renergybrasil.com.br PROJETO GRÁFICO

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Estalo! Comunicação + Design REVISÃO

Eleuda de Carvalho

CONSULTA TÉCNICA

Gustavo Rodrigues

gustavo@renergybrasil.com.br COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

Leontina Pinto (artigo) e Thyago/Assis/ Wendel/Sandes e Julião ­ Baião Ilustrado (ilustração) DEPARTAMENTO COMERCIAL Meiry Benevides (85) 3033 4456 comercial@renergybrasil.com.br IMPRESSÃO Gráfica Santa Marta TIRAGEM 10 mil exemplares RENERGY BRASIL EDITORA Ltda. Av. Senador Virgílio Távora, 1701 sala 1404 ­ Aldeota CEP 60170­251 Fortaleza CE Brasil www.renergybrasil.com.br JORNALISTA RESPONSÁVEL

Carol de Castro MTB­CE 1718 JP

CAPA Max Uchôa Estalo! Comunicação + Design Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessaria­ mente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos ou ilustrações, por qualquer meio, sem a prévia autorização. Errata Na edição #6, é informado que a Cemig comprou 49% da Impsa Wind. No entanto, a Cemig comprou 49% da participação em três usinas eólio­elétricas no Ceará (Volta do Rio, Parajuru e Praia do Morgado) que totali­ zavam 99,6 MW, que eram de propriedade da Energimp, subsidiária da Impsa.


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preservar

Uma esperança para a caatinga

Dados do Ibama apontam a queda do desmatamento do bioma, entre 2008 e 2009. Mas a situação ainda é preocupante. Quase 46% da vegetação original já foram devastados


Foto: Sergio Sertão/Wikimedia Commons

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E

ntre 2008 e 2009, a área desmatada de caatinga atin­ giu 1.921 quilômetros quadrados (km²), o equivalente a 0,23% da vegetação original. Embora seja uma área que comporte 200 cam­ pos de futebol, o registro aponta uma queda no ritmo de desma­ tamento, cuja média, entre 2002 e 2008, foi de 0,28% de floresta derrubada anualmente. Os dados são do Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Como medida de preservação da caatinga, o Ministério do Meio Ambiente e a Caixa Econômica Federal vão investir R$ 6 milhões em projetos de uso sustentável dos recursos naturais do bioma. “Já tivemos uma perda expres­ siva, de quase 46% da vegetação original. Isto demonstra a urgên­ cia de estimular projetos para o uso sustentável dos recursos da caatinga”, disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixei­ ra, ao fazer alusão ao manejo am­ bientalmente correto das árvores. O desmatamento da caatinga é um reflexo da exploração ile­ gal de madeira para produção de carvão. De acordo com José Arthur Seyffarth, coordenador do núcleo do Bioma Caatinga do Ministério do Meio Ambiente, a principal consequência do des­

matamento é a desertificação. “Grande parte do cultivo feito no Nordeste é nas margens dos rios, o que leva à falta de água e a futuros problemas de plantio”, explicou em entrevista recente ao portal Folha.com. Os estados que mais perde­ ram vegetação nativa, entre 2008 e 2009, foram Bahia (638 km²), Ceará (440 km²) e Piauí (408 km²), que juntos foram respon­ sáveis por 77% da derrubada to­ tal no período. E os municípios que registraram as maiores áreas de desaparecimento de floresta foram Mucugê e Ruy Barbosa (BA) e Cabrobó (PE). O Projeto Mata Branca pro­ move a conscientização para re­ duzir os impactos negativos sobre a caatinga na Bahia e no Ceará, os dois estados onde o bioma é mais prejudicado. Para a coordenadora Maria Tereza Farias, o índice di­ vulgado pelo Ibama é uma con­ quista. “Degradar é muito mais rápido do que recuperar. Nós estamos conseguindo reduzir o índice de desmatamento, dos focos de calor, além de imple­ mentar projetos de agroecologia nas comunidades”, comemora. O projeto busca o redesenho na política ambiental, com trabal­ hos de agroecologia e manjeo sustentável, agregando renda aos moradores. “Em 2007, apenas 19

projetos foram executados. Hoje, são 88 trabalhos em andamento e mais 72 em fase de desenvolvi­ mento”, anuncia. A caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e pos­ sui uma área original de 826.411 km², presente nos estados da Ba­ hia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Maranhão, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Minas Gerais. Apesar de estar lo­ calizado em área de clima semiárido, possui grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. A ocor­ rência de secas estacionais e periódicas estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação sem folhas. A fol­ hagem das plantas volta a brotar e fica verde nos curtos períodos de chuvas. O termo caatinga é originário do tupi-guarani e significa mata branca. Os ecossistemas do bio­ ma encontram-se bastante altera­ dos, com a substituição de espé­ cies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as queimadas são ainda práti­ cas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruir a cobertura vegetal, prejudicam a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água e o equilíbrio do clima e do solo.


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eliminar

Fim das sacolas plásticas © Huguette Roe | Dreamstime.com

Criadas para facilitar o dia a dia, elas viraram as grandes vilãs da sustentabilidade. Em algumas cidades, já são proibidas nos estabelecimentos comerciais. Radical? Talvez não... Cada sacola plástica pode levar até um século para desaparecer completamente

A

s sacolas plásticas estão, definitivamente, com os dias contados. No último ano, já foram dezenas de municípios determinando sua proibição nos estabelecimentos comerciais. E a expectativa é de que a “onda sus­ tentável” chegue a muitas outras cidades. O maior passo nesse senti­ do foi dado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ao san­ cionar a lei que proíbe o uso de sacolas plásticas, efetivamente, a partir de janeiro de 2012. Até lá, os estabelecimentos exibem car­ tazes com a mensagem: “Poupe

recursos naturais! Use sacolas reutilizáveis”. E para os lojistas que não obedecerem à lei, resta­ rá uma multa que varia de R$ 50 a R$ 50 milhões, de acordo com o faturamento da loja. Longe de ser uma medida pontual, o exemplo da capital econômica do País parece ser o caminho natural do Brasil. Outras doze capitais já tem me­ didas restritivas à utilização das sacolas plásticas. Em Salvador, foi aprovada a lei que obriga os estabelecimentos comerciais a utilizarem sacolas oxibiodegra­ dáveis, embalagem que apresen­

ta degradação inicial por oxida­ ção, é acelerada por luz e calor, e passa a ser biodegradada por mi­ croorganismos e resíduos finais não ecotóxicos. A expectativa é de que as sacolas plásticas sejam gradativamente retiradas de uso, reduzindo assim a sobrecarga em aterros sanitários e lixões. Na capital baiana, o descum­ primento da lei acarretará em advertência, multa correspon­ dente a 1% do faturamento, sus­ pensão temporária da atividade e cassação da licença do estabele­ cimento ou da atividade. A mul­ ta, estabelecida de acordo com a condição econômica do estabele­ cimento comercial, será em do­ bro em caso de reincidência. Em Belo Horizonte, as emba­ lagens que não são produzidas com material reciclável ou bio­ degradável também estão proibi­ das. Os locais que continuarem a fazer uso das sacolas plásticas estão sujeitos ao pagamento de multa no valor de R$ 1 mil, do­ brada em caso de reincidência, podendo inclusive serem interdi­ tados e perder o alvará de funcio­ namento. A expectativa é de que cerca de 450 mil sacolas plásti­


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cas deixem de ser consumidas por dia na capital mineira. A nova legislação é restrita às sacolas e não se aplica, portan­ to, às embalagens originais das mercadorias, tampouco às em­ balagens de alimentos vendidos a granel e nem às embalagens de produtos alimentícios que ver­ tam água. Entretanto, a novidade provoca uma mudança nos há­ bitos do consumidor brasileiro e tem gerado polêmica nos caixas dos supermercados. O comércio já começa a apre­ sentar algumas alternativas para

o consumidor. Um desses exem­ plos é a sacola ecológica, feita a partir de amido de milho, que leva cerca de 90 dias para se de­ gradar. O modelo custa ao con­ sumidor cerca de R$ 0,19 cada. Outras opções são caixas de pa­ pelão, sacos de papel, sacolas de pano ou outros materiais retor­ náveis. O município de Jundiaí (na Grande São Paulo) foi um dos precursores na mudança, base­ ada em um acordo da Associa­ ção Paulista de Supermercados (Apas) com supermercadistas,

comerciantes e consumidores. Antes de aderir à campanha “Va­ mos tirar o planeta do sufoco”, Jundiaí consumia 22 milhões de sacolas por mês, o equivalente a 80 toneladas de plástico filme. Desde agosto de 2010, a ci­ dade de cerca de 370 mil habi­ tantes vive a nova realidade nos mercados. No primeiro levan­ tamento, oito meses depois, a Prefeitura de Jundiaí calcula ter reduzido em 95% a distribuição das sacolas, mesmo sem haver uma lei obrigando o comércio a não usá­las.

Modelos sustentáveis Sacola compostável ou biodegradável: é produzida com matéria orgânica, geralmente o amido de milho. Possui fácil decomposição, degradando­se em até 180 dias e podendo servir ao final como adubo para o solo. Sacola retornável: não são descartáveis e apresentam longo período de tempo de utilização. Po­ dem ser produzidas com materiais variados, como TNT, tecido, palha, ráfia, material reciclável, entre outros. É uma das melhores opções para se evitar o descarte. Ecobags Sem dúvida, a peça mais badalada da moda sustentável é a ecobag. O termo foi usado pela primeira vez no mundo fashion em 2007, quando a designer inglesa Anya Hindmarch criou o modelo intitulado “I’m not a plastic bag”. A ideia caiu no gosto das famosas e, desde então, foi adotada como acessório fashion e politicamente correto. E o que caracteriza uma ecobag? Hoje em dia, o acessório não é meramente algo retornável. Atualmente, para ganhar a etiqueta green, a bolsa precisa levar em sua composição fibras de origem vegetal, tais como linho, rami, juta e cânhamo ­ além de algodão orgânico, o material mais utilizado na fa­ bricação das peças. Mas os elementos do petróleo estão excluídos. Se a garrafa PET ou a borra­ cha forem recicladas, elas são válidas. Toda tinta usada é à base de água, sem solventes, além de ter de ser reutilizada mais de 171 vezes pelos usuários.


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ver

Design e sustentabilidade

O público brasileiro foi brindado com a Mostra Design Italiano para a Sustentabilidade, uma série de produtos que aliam responsabilidade ambiental com inovação e design

E

m comemoração ao Ano da Itália no Brasil, o Mu­ seu da Casa Brasileira apresen­ tou, de oito de outubro a seis de novembro, a Mostra Design Italiano para a Sustentabilidade, que apresenta soluções criativas para a produção de objetos com economia de energia, materiais e recursos naturais. São Paulo foi a única capital brasileira a receber a coletânea. A exposição é uma continui­ dade do livro Design italiano per la sostenibilitá, editado em 2009 pelo governo italiano, com o ob­ jetivo de divulgar produtos de empresas italianas que aliam responsabilidade am­ biental com inovação e design. A

curadoria da Mostra é de Marco Capellini, designer e consultor do Ministério das Atividades Pro­ dutivas e do Observatório Nacio­ nal de Resíduo na Itália. Com a proposta de conscien­ tizar o visitante quanto aos danos ambientais intrínsecos à produ­ ção de objetos de consumo, bem como orientá-lo sobre a impor­ tância das escolhas de compra e uso responsável de seus recursos, a mostra conta com 40 peças, que variam entre aparelhos de iluminação, pisos, revestimento e objetos para casa, cozinha e es­ critório. Nas legendas são informadas não só a autoria e características dos produtos mas dados sobre

possibilidade de reciclagem, re­ dução de emissões de gás carbô­ nico, economia de energia, redu­ ção no uso de recursos naturais, entre outros. A intenção é provo­ car o diálogo entre o produto e o consumidor, discutir sobre a sus­ tentabilidade nos processos de fa­ bricação, uso e reuso de produtos e materiais. No Brasil, o Design Italiano para a Sustentabilidade teve a parceria do Ministério Italiano do Meio Ambiente, Terra e Mar e o apoio do Fórum das Américas, instituição que tem suas atividades voltadas ao fortalecimento do setor produ­ tivo brasileiro e sua inserção no continente americano.



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inovar

Janela inteligente promove economia de energia com luz solar Divulgação

A tecnologia desenvolvida por cientistas sul-coreanos permite alternar os modos verão e inverno em questão de segundos, diminuindo o uso de refrigeradores de ar e aquecedores, e sem demandar interferências externas

I

magine uma janela cujo vidro fica ultratransparente para captar mais calor e tornar o ambiente mais aquecido em dias frios e depois, nos dias quentes, quando a temperatura externa é mais alta, fica fortemente opaco, escuro, para impedir a entrada de calor. Sim, essa tecnologia já exis­ te e está no mercado há algum tempo, mas, conforme os cientis­ tas sul­coreanos responsáveis pelo invento, nenhuma delas é capaz

de mudar do modo verão para o inverno ou viceversa em fração de segundos. Chang Hwan Lee, Ho Sun Lim, Jeong Ho Cho e Jooyong Kim foram os pesquisadores que lideraram o projeto, que foi finan­ ciado pelo Programa Energia e Desenvolvimento de Recursos do Ministério da Economia do Conhecimento, Fundação Nacio­ nal de Pesquisa e Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia,

todos da Coréia do Sul. Eles usaram polímeros espe­ ciais, cátions, ânions e solventes, como o metanol, e o resultado foi um vidro mais barato de produzir e menos tóxico do que as opções atuais disponíveis no mercado. E ainda mudando de estado 100% claro a 100% escuro em segundos. Ao desenvolver a “janela inte­ ligente”, a ideia dos pesquisadores foi de economizar energia elétrica em grandes prédios envidraçados,


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diminuindo tanto o uso de ar con­ dicionado no verão como também o de aquecedores no frio. Isso por­ que, em dia de muito calor, o vidro reflete boa parte da luz solar que, de outra forma, incidiria direta­ mente no ambiente interno. E, em dias frios, os vidros transparentes absorvem o mais que puderem da luz solar para manter o interior aquecido. No entanto, até agora, várias tecnologias desenvolvidas para os tipos de janela não só tem sido quimicamente instáveis, proibin­ do seu uso em aplicações de longo prazo, como a mudança tem sido acompanhada pelo uso de equipa­

mentos especiais e caros. A vantagem deste modelo é que é capaz de fazer a mudança entre escuro e claro quase que instantaneamente, favorecendo assim maior eficiência na eco­ nomia de energia. Além disso, a janela dos sul­coreanos não preci­ sa de equipamentos externos para o controle, ela é capaz de alternar entre claridade e escuridão sozi­ nha, de forma automática. Em artigo publicado na revista científica ACS Nano, os pesquisa­ dores atribuem que os resultados “sem precedentes” foram alcança­ dos pela formação de estruturas microporosas atribuídas à separa­

ção de polieletrólitos na nanofase. “Consideramos duas opções para a manipulação da propaga­ ção da luz em janelas inteligentes: a troca direta de contra­íons com energias de hidratação diversifica­ da e o controle do solvophobicity em polímeros. Este tipo de siste­ ma de controle de luz pode forne­ cer uma nova opção para reduzir custos no aquecimento, refrigera­ ção e iluminação através da gestão da luz transmitida para o interior de uma casa. As janelas podem ter aplicações práticas como telha­ dos, clarabóias, janelas de arqui­ tetura ou do veículo, e divisórias interiores”, disse o artigo.


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anunciar

Campanhas pelo meio ambiente Anúncios de várias partes do mundo chamam atenção para a preservação do meio ambiente

“T

rate bem a terra. Ela não foi doada a você pelos seus pais. Ela foi empres­ tada a você pelos seus filhos”. O provérbio popular mostra que a prática de usar jogos de pala­

vras de forma criativa para esti­ mular a consciência ambiental é antiga. Mas a publicidade, com suas técnicas de comunicação e os vários recursos tecnológicos disponíveis do mundo moderno,

levou o conceito adiante e dá vários exemplos de que é possível contribuir para o meio ambiente com propagandas ou logomarcas ao mesmo tempo engajadas e criativas.


Imagens: Divulgação

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Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de uso de símbolos em prol da consci­ ência ambiental é a logomarca da Fundação SOS Mata Atlân­ tica. Feita a partir da bandeira brasileira, ela mostra, em uma imagem simples e forte, a degra­ dação ambiental do País e a necessidade de preservar o que ainda resta do verde que cobria boa parte do território nacional. Outro caso de uso da publi­ cidade para criar imagens que chamam a atenção para a causa ambiental foi a campanha criada para a WWF (World Wildlife Fund) da Guatemala. Intitulada “Esto es un arbol” (Isto é uma árvore), ela colocou, em paradas de ônibus, uma caixa transpa­

rente cheia de papel amassado. Segundo o anúncio, a quanti­ dade do material equivalia a uma árvore que teria sido derru­ bada. E junto com a imagem, a recomendação: “use papel com responsabilidade”. Também da WWF, uma campanha coloca pulmões feitos por árvores e mostra um deles sendo destruído, uma metá­ fora para o que a degradação ambiental pode fazer com a saúde dos habitantes do planeta. E diante da imagem, apenas a frase: “antes que seja tarde demais”. No Chile, um anúncio feito para a empresa Columbia, fabri­ cante de roupas, calçados e outros artigos de vestuário que integra

a Conservation Alliance, insti­ tuição destinada a engajar o setor privado em projetos de preser­ vação da natureza, aproveitou um prédio repleto de aparelhos de ar condicionado para fazer deles parte do visual de um imenso outdoor. Para quem olhava para a peça publicitária, a profusão de equipamentos contrastava com a frase: “o ar que resfria a sua casa aquece o mundo”. Sobre o desmatamento, o anúncio feito para o Greenpeace tem uma imagem que dispensa palavras. Sobre toras de madeira cortada, foram desenhados rostos (sempre chorando) de pessoas e animais. E a mensagem final: “quando uma árvore cai, leva várias vidas com ela”.


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conscientizar

Música e sustentabilidade

Divulgação

Starts With You (Começa Por Você) é o nome do festival de música e arte, o primeiro evento de camping do País que já caminha para a terceira edição e levou, de 12 a 14 de novembro, mais de 179 mil pessoas a Paulínia, no interior de São Paulo


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D

urante os três dias, foram 73 atrações musicais nacio­ nais e internacionais, que se apresentaram em três palcos e numa tenda eletrônica. Entre os destaques, Peter Gabriel, The Black Eyed Peas, Kanye West, Snoop Dogg, Duran Duran, Chris Cornell, Faith No More, Alice In Chains, Lynyrd Skynyrd, Megadeth, Stone Temple Pilots e Hole, além de atrações brasi­ leiras como Raimundos, Ultraje a Rigor, Marcelo D2 e Zé Ramalho. Mais do que diversão, o festival de música e arte SWU é um movimento de conscien­ tização em prol da sustentabili­

dade que tem o intuito de mobi­ lizar o maior número possível de pessoas, mostrando que, por meio de pequenas ações, com simples atitudes individuais do dia a dia, é possível ajudar a cons­ truir um mundo melhor para se viver. A expectativa da orga­ nização é reciclar 100% do lixo recolhido na arena do festival. Durante o evento, o II Fórum Global de Sustentabilidade SWU reuniu 29 palestrantes nacio­ nais e internacionais, como os músicos Neil Young e Bob Geldof, a atriz Daryl Hannah, a Nobel da Paz Rigoberta Menchú e a ex­ministra Marina Silva.

Com transmissão ao vivo pela SWU TV, o fórum foi visto por mais de 1,5 milhão de pessoas e cerca de três mil pessoas passaram pelo Theatro Muni­ cipal de Paulínia, onde ocor­ reram os debates. Já consagrado como um dos principais festivais de música do País, a terceira edição do SWU já está confirmada para setembro ou outubro de 2012, novamente em Paulínia. “Logo no dia 16 de novembro, começamos a prepa­ ração do SWU 2012”, anunciou Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom, idealizador do evento.

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cidade renovável REFERÊNCIA VERDE

a primeira capital

carbono neutro

A capital da Dinamarca estabeleceu uma série de ações sustentáveis que garantem o título de uma das cidades com melhor qualidade de vida do planeta


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SXC.hu

Estocolmo

C

openhagen, a capital da Di­ namarca, quer ser em 2025 a primeira capital de carbono neutro no mundo. Em tempos de desen­ volvimento industrial acelerado e também de aquecimento global, não é uma ambição pequena. A cidade escandinava, que tem 1,7 milhão de habitantes, já é conhe­ cida mundialmente como um dos locais com melhor qualidade de vida. Em 2008, foi apontada como a cidade mais habitável do mundo pela revista internacional Monocle no seu “Top 25 de Cidades mais Habitáveis”. Até 2015 também quer ser co­ nhecida como a cidade de melhor ambiente urbano. Copenhagen se tornará a capital do clima, demons­ trando que a preocupação ambien­ tal acrescenta uma dinâmica extra para o desenvolvimento urbano. Não só seus moradores como tam­ bém seus visitantes poderão viver as melhorias, enquanto a cidade estará compartilhando responsabi­ lidade ativa para o desenvolvimento ambiental global. Como em todo governo, para que isso aconteça, é preciso decisão política e administrativa. A visão da capital dinamarquesa para chegar ao título foi decidida de forma unâ­ nime pelo Conselho da Cidade de Copenhagen, ainda em novembro de 2007. Essa visão foi dividida em

quatro temas centrais: melhor cida­ de do mundo para ciclismo, capital do clima, capital verde e azul e uma grande cidade limpa e saudável. São muitos planos ligados à área de sustentabilidade ambiental e ur­ bana que vem sendo desenvolvidos há pelo menos 20 anos. Um dos principais motivos que colocam a cidade entre os paraísos de concreto é o fato de sua população ser adepta da bicicleta. Também é considerada uma das cidades mais ecológicas do mundo, com a água no interior do porto da cidade sendo tão limpa que pode ser usada para banhos. Em agosto de 2009, o conselho municipal aprovou o Plano do Cli­ ma de Copenhague. O plano inclui 50 iniciativas específicas que farão com que a cidade atinja sua meta de uma redução de 20% das suas emissões de carbono de 2005 a 2015, bem como de neutralidade de carbono até 2025. As 50 inicia­ tivas visam reduzir as emissões de carbono, sendo que 44 foram lan­ çadas em 2010 e durante o primeiro semestre de 2011. Entre elas estão, por exemplo, a renovação de prédios municipais (escolas, jardins, praças), constru­ ção de mais usinas eólicas, melhoria das condições para veículos elétri­ cos e estabelecimento de pequenos parques para fins recreativos e dre­ nagem de águas pluviais.

A implantação dessas medidas fará com que Copenhagen tenha uma redução de cerca de 500.000 toneladas, passando de 2.500.000 para 2.000.000 de CO² em 2015. A cidade não espera atingir seus objetivos sozinha. Por isso, está convidando empresas, instituições e organizações baseadas em conhe­ cimento para encontrar respostas aos desafios tecnológicos do ama­ nhã. Eles acreditam que podem transformá­la em uma câmara de teste dinâmico para soluções verdes urbanas, o que proporcionará um quadro para mais desenvolvimento sustentável em outras cidades. Mobilidade urbana Talvez seja a mobilidade urbana a mais sólida e mais famosa política de sustentabilidade de Copenha­ gen. Imagine os benefícios de habi­ tar uma cidade onde cerca de 36% da população usa a bicicleta para se deslocar para o trabalho ou escola. Atualmente, percorrem mais de 1,1 milhão de quilômetros por dia. Este incrível número é, presumi­ velmente, um recorde mundial e constitui uma parte importante da identidade da cidade. Há um total de 350 quilômetros de ciclovias e 40 de ciclovias verdes em Cope­ nhagen, o equivalente ao compri­ mento da península dinamarquesa de Jutland.


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cidade renovável

Fotos: SXC.hu

REFERÊNCIA VERDE

A cultura sobre duas rodas tem evoluído e se desenvolvido ao longo de muitos anos, ajudada por investi­ mento contínuo em ciclofaixas, ci­ clovias e até semáforos específicos para o transporte. Entre as reivin­ dicações dos copenhaguenses estão mais ciclovias amplas, em áreas ver­ des livres de tráfego de automóveis e melhores instalações no que diz respeito a estacionamento de bici­ cletas, principalmente nos locais de trabalho. Nos últimos anos, foi construída uma nova ponte sobre o porto para os ciclistas e pedestres. O governo diz que as condições para os ciclistas vão melhorar ainda mais, para que mais habitantes pos­ sam optar por transformar a viagem até o local de trabalho ou escola em um passeio de bicicleta na metró­ pole eco-Copenhagen. De fato, os ciclistas já contribuem para manter reduzidas as emissões de CO² do tráfego, em comparação com outras grandes cidades. Eles esperam que, quando atingirem a meta de 50% dos copenhaguenses usando bici­ cletas, vão reduzir as emissões de CO² em mais de 80.000 toneladas por ano no trânsito de Copenhagen. Ter um carro em Copenhagen não é somente uma decisão indivi­ dual. A Dinamarca é um dos países

mais caros do mundo para com­ prar um veículo de propriedade privada, devido a impostos e taxas de inscrição. O negociante de carro só irá aconselhar o comprador so­ bre como registrar e segurar o seu carro novo. Se, por exemplo, uma pessoa for trabalhar ou estudar na Dinamarca e quiser trazer o seu carro, que é registrado em outro país, deve apresentar um pedido à administração fiscal. Por isso, a cidade também conta com um sistema integrado de trans­ porte público, que deve ser melho­ rado dentro da política de carbono neutro, com metrô, ônibus, além da bicicleta. Tudo pensado para que o público deixe o carro de lado. Energias e água Em 2006, Copenhagen conquis­ tou o Prêmio Ambiental Europeu pela limpeza de suas vias aquáticas e por sua liderança em termos de planejamento ambiental. Água e parques eólicos foram os responsá­ veis por isso. Nos últimos 10 anos, a cidade desenvolveu esforços a fim de manter as águas de seu porto lim­ pas e seguras. O governo investiu em um sistema de monitoração da qualidade de água que acompanha os níveis de poluição.

Essa mudança foi resultante de uma redução significativa da des­ carga de águas residuais durante as chuvas. A estratégia da prefeitura da cidade resultou em uma quali­ dade da água tão alta que as pessoas podem até nadar nos portos. Um sistema de aviso on line monitora a qualidade de água no porto. Se a qualidade da água é baixa, o espaço é imediatamente fecha­ do. Por muitos anos, a descarga de esgoto e de resíduos industriais ocasionou um grande impacto na qualidade de água do porto de Copenhagen. A água era poluída por esgoto, lixo industrial, algas e vazamentos de óleo provenientes do transporte comercial realizado no local. Além disso, Copenhagen é fa­ mosa por seus parques eólicos. Mais de 5,6 mil deles fornecem 10% da eletricidade da Dinamarca. Em 2001, Copenhagen inaugurou o maior parque offshore, com ca­ pacidade para abastecer 32 mil re­ sidências na cidade e atender cerca de 3% de suas necessidades. Tam­ bém entre seus cases de sucesso na área de energia, está um sistema de aquecimento abastecido em 97% pelo calor residual da produção de eletricidade, processo iniciado com


a implementação de uma lei de fornecimento de energia, em 1979, exigindo a conexão de todas as re­ sidências à rede de abastecimento municipal. Uma parceria entre a Metropo­ litan Copenhagen Heating Trans­ mission (CTR) e a empresa VEKS deu origem ao sistema que conecta quatro usinas de CHP (calor e po­ tência elétrica combinados), quatro incineradores de resíduos e mais de 50 usinas termelétricas em um consórcio, capturando o calor resi­ dual da produção de eletricidade e canalizando-o de volta para as resi­ dências por uma rede de tubulações inlustração multi empreendimento 5.ai 1 09/11/2011 19:07:58

de 1.300 quilômetros. Telhados verdes Com seu plano de ser carbon free, Copenhagen quer ter 150.000 metros quadrados de telhados ver­ des em 2015. Um debate sobre os telhados verdes foi iniciado pela administração municipal a fim de chamar a atenção para esta nova so­ lução amigável ao clima. Em maio de 2010, o Comitê Técnico e Am­ biental da cidade decidiu que em to­ dos os novos edifícios com telhados planos deve ser plantada vegetação verde de acordo com um conjunto de diretrizes estabelecidas.

Além de ser uma solução mo­ derna e amigável para facultar aos cidadãos espaços de respiração, os telhados verdes tem também o ob­ jetivo de que as plantas absorvam a água da chuva que iria para o siste­ ma de esgoto. Plantas pequenas po­ dem absorver 60% a 80% da chuva que cai no telhado. Economizar energia e evitar emissões de carbono, claro, tam­ bém é outra intenção, na medida em que um telhado verde isola de forma mais eficaz contra o frio e calor, com consequente redução no consumo de energia, em termos de aquecimento e ar condicionado.


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rg verde PERFIL

O alemão cheio de energia do bem Desde criança, a arte de lidar com estruturas metálicas atraía Joachim Fuhrlander. As técnicas que aprendeu com o pai o fizeram mais que um ferreiro. Da metalurgia à vontade de continuar os negócios da família, ele se lançou no mercado de energia eólica


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N

ascido em 10 de novembro de 1959, divorciado e pai de três filhos, o alemão Joachim Fuhrlander está à frente da empresa que leva seu sobrenome em turbinas e parques de geração de energia elétrica a partir da força dos ventos. A empresa foi fundada pelo pai, Theo Fuhrländer, em 1960, junto com um irmão. Foi o pai quem ensinou Joa­ chim a lidar com estruturas metálicas. Os dois se envolveram nos negócios da oficina na vila Waigamdshin, em Westerwald, na Alemanha. O trabalho exigia esforço braçal do jovem, que também encabeçava o desenvolvimen­ to dos negócios em sintonia com o aprimoramento tecnológico. Nos anos 70, Joachim se interessou por gerar energia para a própria empresa. Cons­ truiu um gerador eólico de 30kv, uma pequena turbina. A partir daí, contra­ tou algumas pessoas e começou a se especializar em turbinas eólicas. Esta primeira máquina funciona há mais de 35 anos. Para começar esta nova fase, pediu um empréstimo bancário que deu origem a uma fábrica e uma academia de ensino. Hoje, a Fuhrlän­

der conta com 700 funcionários, sendo 170 aprendizes. Em 2009, Joachim inaugurou uma fábrica na vila de Liedenscheid, a cinco quilômetros de onde tudo começou. E leva suas turbinas para parques em vá­ rios países. Para quem nunca considerou traba­ lhar em outra coisa, Joachim traz como filosofia a preocupação com a preser­ vação do meio ambiente e a formação de mão de obra jovem, que representa 25% do quadro laboral da empresa. Um dos desafios que propõe é provar que empregando jovens consegue ter lucro. A ideia é formar mão de obra para o futuro, preparando-os para tra­ balhar com energia limpa em qualquer empresa. No horário de lazer, Joachim se dedica a uma pousada chamada Fu­ chskaute, que significa Toca da Ra­ posa. Seu próximo projeto é ampliar o empreendimento com uma nova área social. Seu deleite é participar dos eventos das redondezas, na pousada, servindo cerveja atrás do bar. Se o des­ canso pedir uma viagem, ele tem um destino de adoração. Portugal é onde

passa as férias com os filhos. Ele enten­ de o idioma do país, pois em sua fábrica trabalhou um senhor português. Protestante, o alemão também fre­ quenta e ajuda a igreja. A caridade é um dos traços de sua personalidade. Quan­ do uma de suas funcionárias faleceu, Joachim apadrinhou o filho da telefo­ nista. Além de chefe, com forte espírito de liderança, ele é visto por seus cola­ boradores como um amigo. Tem um bom relacionamento com todos, desde o trabalhador de montagem ao diretor. Em 1998, o alemão esteve no Brasil pela primeira vez. Foi quando surgiu a "ideia fixa" de vir ao País e aproveitar a capacidade dos brasileiros. Em três lugares, ele investe em projetos sociais. Em um hospital em Witmarsum, no Paraná, ele reformou o ambulatório, que foi inaugurado em outubro deste ano. Ajuda um padre franciscano na favela Brasília Teimosa, em Recife. E em Fortaleza apoia uma escola de in­ formática no José Walter. A presença da marca Fuhrländer no Brasil vai ganhar destaque quando a fábrica começar a operar no Pecém, no Ceará, no próximo ano.


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capa HIDRELETRICIDADE

RIO ENERGIA DOS

A extensão continental do Brasil revela riqueza naturais e humanas, que refletem na economia nacional. Um exemplo disso são os rios, aproveitados para gerar energia elétrica em grandes e pequenas centrais há mais de cem anos. Hoje, um dos grandes projetos, o de Belo Monte, tem dividido opiniões. As PCHs também disputam competitividade. Em meio a polêmicas e desafios, a previsão é que a hidreletricidade continue em expansão

{ Por Juliana Bomfim


OS

Foto: Wilson Dias/ABr

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capa HIDRELETRICIDADE

A

tualmente, as usinas hidre­ létricas são responsáveis por, aproximadamente, 20% da produção de energia elétrica no mundo. No Brasil, com grandes mananciais existentes, muitos rios extensos, caudalosos e que correm sobre planaltos e depres­ sões, este percentual ultrapassa os 80%. Os rios brasileiros pro­ duzem mais de 82 milhões de kW (quilowatts), o que corres­ ponde a 70% da matriz elétrica, segundo dados da Aneel (Agên­ cia Nacional de Energia Elétrica). São 180 usinas hidrelétricas em funcionamento, 12 em constru­ ção e 13 outorgadas (com per­ missão para serem construídas), além de 364 centrais geradoras hidrelétricas e 63 em obras; e 412 pequenas centrais hidrelétricas, 55 em construção e 140 previstas. A primeira usina hidrelétrica brasileira foi construída ainda por D. Pedro II, no município de Diamantina, em Minas Gerais, aproveitando as águas do ribeirão do Inferno, afluente do rio Jequi­ tinhonha. E foi também em Mi­ nas, nas águas do rio Paraibuna, em Juiz de Fora, que surgiu a pri­ meira hidrelétrica do Brasil para serviços de utilidade pública. Passados mais de cem anos, as hidrelétricas são as grandes gera­ doras da energia que abastecem milhares de lares e indústrias bra­ sileiras e há quem garanta que o Brasil ainda tem grandes chances de construir mais usinas. Esta é a opinião de Alessandro Perotti Martins, diretor da Impsa, que destaca o potencial hidráulico do País, reconhecido como o tercei­ ro maior do mundo, ficando atrás apenas da Rússia e da China. “A fonte de geração hidráulica é

uma fonte limpa e que pode apor­ tar em um único projeto uma grande capacidade de potência instalada e de geração. Esta solu­ ção energética tem se mostrado muito viável”, aposta. O Brasil é o maior produtor de hidreletricidade da América Lati­ na, com cerca de 600 barragens. No mundo, em termos absolutos, é o terceiro em produção hidre­ létrica, atrás apenas do Canadá e dos Estados unidos. China e Rússia ocupam a quarta e quinta posição, respectivamente. A Usi­ na Hidrelétrica de Tucuruí, com

potência instalada de 8.000 MW, é uma das maiores obras da enge­ nharia mundial. Brasil e Paraguai juntos ti­ nham a maior usina hidrelétrica do mundo, com uma capacida­ de total de 12.600 megawatts, a Usina de Itaipu. Hoje, a Hidre­ létrica das Três Gargantas, cons­ truída no rio Yang-tsé na China, é a maior do mundo e a segunda maior em energia gerada. O au­ dacioso projeto tem como fun­ ções a prevenção de enchentes, a geração de energia e facilitar o transporte fluvial.


Foto: Rose Brasil/ABr

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Novos projetos No Brasil, os projetos continu­ am. A expectativa do Ministério de Minas e Energia é de que pelos menos mais 30 usinas hidrelétri­ cas sejam construídas até 2020. As novas unidades vão gerar cer­ ca de 19 mil megawatts (MW) de energia. Dessas, seis já foram autorizadas e devem entrar em operação a partir de 2018. Vinte e quatro ainda dependem de auto­ rização e tem previsão de come­

çar a funcionar a partir de 2016. A previsão está no Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 (PDE), divulgado pelo Ministério de Minas e Energia. Já no segundo semestre des­ te ano foi anunciada a constru­ ção de nova hidrelétrica, Santo Antônio do Jari, de 373,4 MW, que será construída no rio Jari, na região Amazônica, por meio do Consórcio Amapá Energia e

custará cerca de 310 milhões de euros. Marcos Costa, vice-presiden­ te da Alstom Power América Latina, multinacional que será responsável ela execução da obra cujo comissionamento será feito no final de 2014, ressalta a importância do projeto. “Este contrato é um forte endosso da liderança de mercado da Alstom em tecnologias para hidrelétricas e capacidade de execução de pro­ jetos, porque requer turbinas ex­ tremamente robustas, com uma larga faixa de operação, a fim de lidar com as grandes variações de fluxo do rio Jari”, comemora. A nova hidrelétrica de Santo Antônio do Jari chega a ser tími­ da diante do projeto Belo Monte, que prevê a construção de uma usina hidrelétrica em um trecho de 100 quilômetros no rio Xin­ gu, no Pará, entre os municípios de Altamira e Vitória do Xingu, devendo operar a plena carga em 2019. Ao entrar em operação, com a potência instalada de 11.233 MW, será a maior usina hidrelé­ trica inteiramente brasileira e a terceira maior do mundo, atrás apenas da chinesa Três Gargantas e da binacional Itaipu, com 11,2 mil MW de potência instalada. O investimento na usina de Belo Monte será de R$ 19 bilhões e a produção energética terá a capa­ cidade de abastecimento de uma região de 26 milhões de habitan­ tes, com perfil de consumo eleva­ do, como o Sudeste. De acordo com Alessandro Perotti Martins, a usina reflete uma necessidade do País. “Essa hidrelétrica é fundamental para o crescimento do Brasil e responde


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capa HIDRELETRICIDADE ao ritmo imposto pelo governo, com prazos apertados, o que re­ flete a forte necessidade de ener­ gia”, afirma. A grandiosidade da obra tem atraído trabalhadores de todas as regiões do País, mas a Empresa Norte Energia, responsável pela construção da usina, afirma que a prioridade é utilizar a mão de obra da região. “A prioridade é para o pessoal da região. Estamos qualificando carpinteiros, pedrei­ ros, armadores, operadores de máquinas”, conta Marco Túlio Pinto, diretor de construção do Consórcio Construtor Belo Mon­ te, contratado pela Norte Energia para executar a obra. Antes da usina, propriamente dita, é necessária a construção de uma grande estrutura. São três alojamentos onde, nos próximos anos, vão morar 20 mil trabalha­ dores. Também serão construí­ dos 260 quilômetros de estradas para permitir a passagem de caminhões, equipamentos e má­ quinas pesadas para os canteiros de obras. O lago da usina terá uma área de 516 quilômetros quadrados e, de acordo com movimentos sociais e ambientalistas, além de inundar a floresta, provocará o deslocamento de mais de 50 mil pessoas. É exigência do Ibama a preservação de todos os bichos que vivem na região. Além da preservação da fauna, arqueólo­ gos procuram vestígios das popu­ lações indígenas que viveram na região há mais de mil anos. O tra­ balho também é uma exigência do Instituto do Patrimônio Histó­ rico e Artístico Nacional (Iphan). O empreendimento tem di­ vidido opiniões. No momento, a

Usina de Belo Monte é objeto de um processo na Comissão Intera­ mericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA pelos supostos danos que causará à Amazônia. Além disso, dezenas de causas correm na Justiça brasileira para tentar impedir a obra, que come­ çou em março deste ano. Em setembro, a Justiça Fede­ ral no Pará determinou a parali­ sação das obras, por considerar que 1000 famílias que dependem da pesca serão prejudicadas. De acordo com a Associação dos Criadores e Exportadores de Pei­ xes Ornamentais de Altamira, a hidrelétrica vai inviabilizar a ati­

O modelo energético das hidrelétricas sofreu forte desgaste, em 2001, quando o Brasil passou por uma crise, que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica

vidade pesqueira na região, pois as principais espécies de peixes seriam extintas. E o projeto am­ biental de Belo Monte só permite que pescadores retomem as ativi­ dades em 2020, prazo da última fase do projeto de aquicultura. As críticas não se resumem aos prejuízos ambientais. O mo­ delo energético das hidrelétricas sofreu um forte desgaste, em 2001, quando o Brasil passou por uma crise, que afetou o forneci­


Foto: Samuel Dias /ABr

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{ 32 } renergy. ano 2 > # 8 > 2011

capa HIDRELETRICIDADE mento e distribuição de energia elétrica. A falta de chuvas, que deixou várias represas vazias, somada à falta de planejamento e investimentos em geração de energia, fez o Governo Federal levantar a hipótese de que talvez se tornasse necessário fazer lon­ gos cortes forçados de energia elétrica em todo Brasil. Estes cor­ tes forçados, ou blecautes, foram apelidados de "apagões" pela im­ prensa. Com a ameaça do apagão, a população brasileira embarcou numa campanha de racionamen­ to "voluntário" de energia. A eficiência energética das hi­ drelétricas é muito alta, em torno de 95% e embora o investimento inicial e os custos de manutenção sejam elevados, são compensa­ dos pelo custo do combustível (água), que é nulo. Entretanto, a crise energética de 2001 custou R$ 54,2 bilhões e acendeu o aler­ ta de que o Brasil não pode de­ pender apenas das hidrelétricas. Apesar de ser uma fonte de energia renovável e não emitir poluentes, a energia hidrelétrica não está isenta de impactos am­ bientais e sociais. A inundação de áreas para a construção de barragens obriga a realocação das populações ribeirinhas, comuni­ dades indígenas e pequenos agri­ cultores. O represamento da água para a formação dos lagos causa impactos ambientais, como a destruição de extensas áreas de vegetação natural, matas ciliares, o desmoronamento das margens, o assoreamento do leito dos rios, prejuízos à fauna e à flora locais, alterações no regime hidráulico dos rios, possibilidades da trans­ missão de doenças, como esquis­

tossomose e malária, extinção de algumas espécies de peixes. Outra desvantagem das gran­ des usinas é que, geralmente, estão distantes dos centros con­ sumidores, o que eleva os valores do transporte de energia, com a construção de linhas de trans­ missão. Há um fator que não se pode desconsiderar: a demanda ener­ gética brasileira tem aumentado vertiginosamente. O consumo de energia per capita no Brasil qua­ druplicou desde 1970 e, segundo o PDE, documento que prevê o planejamento energético do País até 2020 e serve para orientar as decisões do governo no aten­ dimento ao crescimento da de­ manda e à necessidade de infra­ estrutura para o setor, até 2020 a taxa média de crescimento do consumo de energia elétrica será

de 4,6% ao ano. De acordo com o PDE, a esti­ mativa dos investimentos neces­ sários é de cerca de R$ 90 bilhões até 2020. “É importante destacar que, para o atendimento da de­ manda no médio prazo, é neces­ sária a retomada dos investimen­ tos em toda a cadeia produtiva, que foram significativamente reduzidos nos últimos anos, além de problemas climáticos (estia­ gem) em 2010 e alta do preço do açúcar no mercado internacio­ nal”, aponta o estudo. O plano prevê como desafio para o setor energético a viabili­ zação desse conjunto de projetos de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável. E para equacionar o déficit na ofer­ ta, estão sendo discutidas fontes alternativas para a produção de energia elétrica.


Como funciona uma usina hidrelétrica

Infográfico: Gerardo Júnior

Sócrates Arantes/ABr

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Linha de transmissão Reservatório

Transformador

Gerador

Água sob pressão

Turbina

A energia hidrelétrica é a obtenção de energia elétrica através do aproveitamento do potencial hidráulico de um rio. As centrais hidrelétricas utilizam a energia de queda de água. Para tanto é necessária a construção de usinas em rios que possuam elevado volume de água e que apresentem desníveis em seu curso. O volume de água represado cai sobre grandes turbinas, passando por tubulações da usina com muita força e velocidade, realizando a movimentação das turbinas que giram movidas pela força das águas. Nesse processo, ocorre a transformação de energia potencial (energia da água) em energia mecânica (movimento das turbinas). As

turbinas em movimento estão conectadas a um gerador, que é responsável pela transformação da energia mecânica em energia elétrica. A eletricidade gerada no processo é transmitida da usina até a cidade ou área que vai ser consumida. Depois, a energia é distribuída para as casas, fazendas, indústrias e outros consumidores. Utiliza-se a energia hídrica no Brasil em grande escala, devido aos grandes mananciais de água existentes, mas atualmente estão sendo discutidas fontes alternativas para a produção de energia elétrica, pois a falta de chuvas está causando um grande déficit na oferta. Para aproveitar ao máximo as

possibilidades de fornecimento de energia de um rio, deve-se regularizar a sua vazão para que a usina possa funcionar continuamente com toda a potência instalada. E para o controle da vazão são construídos lagos artificiais. A energia que pode ser fornecida por unidade de tempo chama-se potência e pode ser calculada multiplicando-se a tensão em volts que ela é capaz de fornecer pela corrente em ampères que distribui. Em suma, a energia hidrelétrica é a energia que vem do movimento das águas, usando o potencial hidráulico de um rio e os desníveis naturais (queda da água) ou artificiais. Essa energia é a segunda maior fonte de eletricidade do mundo.


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capa HIDRELETRICIDADE


Principais usinas em operação Usina

Potência (kW)

Destino

Proprietário

Município

Rio

1

Tucuruí I e II

8.370.000

SP

Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A.

Tucuruí - PA

Tocantins

2

Itaipu (Parte Brasileira)

7.000.000

SP

Itaipu Binacional

Foz do Iguaçu - PR

Paraná

Chesf

Delmiro Gouveia - AL Paulo Afonso - BA

São Francisco São Francisco

Paulo Afonso II

443.000

SP

Paulo Afonso III

794.200

SP

Chesf

Delmiro Gouveia - AL Paulo Afonso - BA

Paulo Afonso IV

2.462.400

SP

Chesf

Delmiro Gouveia - AL Paulo Afonso - BA

São Francisco

4

Ilha Solteira

3.444.000

SP

Cesp

Ilha Solteira - SP Selvíria - MS

Paraná

5

Xingó

3.162.000

SP

Chesf

Canindé de São Francisco - SE Piranhas - AL

São Francisco

6

Itumbiara

2.082.000

SP

Furnas Centrais Elétricas S/A.

Araporã - MG Itumbiara - GO

Paranaíba

7

São Simão

1.710.000

SP

CEMIGGeração e Transmissão S/A

Santa Vitória - MG São Simão - GO

Paranaíba

8

Governador Bento Munhoz da Rocha Neto (Foz do Areia)

1.676.000

SP

Copel

Guarapuava - PR Mangueirinha e Pinhão - PR

Iguaçu Paraná

3

9

Jupiá (Eng° Souza Dias)

1.551.200

SP

Cesp

Castilho - SP Três Lagoas - MS

10

Porto Primavera (Eng° Sérgio Motta)

1.540.000

SP

Cesp

Anaurilândia - MS Teodoro Sampaio - SP

Paraná

11

Itá

1.450.000

PIE

Itá Energética(60,5%) Tractebel(39,5%)

Aratiba - RS Itá - SC

Uruguai

12

Luiz Gonzaga (Itaparica)

1.479.600

SP

Chesf

Glória - BA Jatobá - PE

São Francisco

13

Marimbondo

1.440.000

SP

Furnas

Fronteira - MG Icém - SP

Grande

14

Salto Santiago

1.420.000

PIE

Tractebel

Saudade do Iguaçu - PR

Iguaçu

15

Água Vermelha (José Ermírio de Moraes)

1.396.200

PIE

AES Tietê

Indiaporã - SP Iturama - MG Ourinhos - SP

Grande

16

Serra da Mesa

1.275.000

SP

Furnas

Cavalcante - GO Minaçu - GO

Tocantins

17

Governador Ney Aminthas de Barros Braga (Segredo)

Copel

Guarapuava - PR Mangueirinha - PR Pinhão - PR

Iguaçu Grande

1.260.000

SP

18

Furnas

1.216.000

SP

Furnas

São João Batista do Glória - MG São José da Barra - MG

19

Emborcação

1.192.000

SP

Cemig

Cascalho Rico - MG Catalão - GO Paranaíba

20

Governado r José Richa (Salto Caxias)

1.240.000

SP

Copel

Capitão Leônidas Marques - PR Realeza - PR Salto do Lontra - PR

Iguaçu

Maximiliano de Almeida - RS Piratuba - SC

Pelotas

21

Machadinho

1.140.000

APE-COM SP

Alcoa Alumínio S/A (25,74%) Companhia Brasileira de Alumínio (27,52%) Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica (5,53%) Departamento Municipal de Eletricidade de Poços de Caldas(2,73%) InterCement Brasil S.A(5,27%) Tractebel Energia S/A (19,28%) Valesul Alumínio S/A(8,29%) Votorantim Cimentos Brasil Ltda. (5,62%)

22

Estreito

1.087.000

PIE

Companhia Energética Estreito S.A. (40,07%) Estreito Energia S.A. (25,49%) InterCement Brasil S.A (4,44%) Vale S/A (30%)

Aguiarnópolis - TO Estreito - MA

Tocantins

23

Salto Osório

1.078.000

PIE

Tractebel

Quedas do Iguaçu - PR

Iguaçu

24

Sobradinho

1.050.300

SP

Chesf

Sobradinho - BA

São Francisco

Fonte: Aneel - Legenda: SP - Serviço Público, PIE - Produção Independente de Energia, APE - Autoprodução de Energia - REG - Registro

Infográfico: Gerardo Júnior

renergy. ano 2 > # 8 > 2011 { 35 }


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capa HIDRELETRICIDADE

Pequenas centrais

José Reynaldo da Fonseca/Wikimedia Commons

Uma tentativa de minimizar os impactos das hidrelétricas e aproveitar o potencial hidráulico do País é a substituição dos gran­ des empreendimentos por Peque­ nas Centrais Hidrelétricas - PCHs que, de acordo com a resolução nº 394 - 04-12-1998 da Aneel, é toda usina hidrelétrica de pequeno por­ te cuja capacidade instalada seja superior a 1 MW e inferior a 30 MW. Além disso, a área do reser­ vatório deve ser inferior a 3 km². O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica no Brasil (Proinfra) tem dado incentivos para as PCHs, que resultam em menores im­ pactos ambientais e se prestam à

geração descentralizada. Há mais de 100 anos, o modelo é fonte global de energia sustentável e renovável. O intuito é promover a diver­ sificação da Matriz Energética Brasileira, buscando alternativas para aumentar a segurança no abastecimento de energia elétri­ ca, além de permitir a valorização das características e potencialida­ des regionais e locais. O progra­ ma prevê a implantação de 144 usinas, totalizando 3.299,40 MW de capacidade instalada, sendo 1.191,24 MW provenientes de 63 PCHs, 1.422,92 MW de 54 usinas eólicas, e 685,24 MW de 27 usi­ nas a base de biomassa.

Geralmente, os reservatórios das PCHs não permitem a regu­ larização do fluxo d´água. Logo, durante a estiagem é possível que a vazão disponível seja me­ nor que a capacidade das turbi­ nas, causando ociosidade. Como também pode acontecer de, em outras situações, as vazões serem maiores que a capacidade de pro­ cessamento das máquinas. Por esse motivo, o custo da energia elétrica produzida pelas PCHs é maior que o de uma usina hidrelé­ trica de grande porte (UHE-Usina Hidrelétrica de Energia), onde o reservatório pode ser operado de forma a diminuir a ociosidade ou os desperdícios de água.


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Foto: Rose Brasil/ABr

Hidrelétricas e o desenvolvimento

As usinas hidrelétricas estão diretamente ligadas ao desenvolvimento industrial do Brasil. Foi durante a I Guerra Mundial, com a dificuldade de importar produtos industrializa­ dos, que muitos bens passaram

a ser feitos aqui, e o governo deu incentivos para as empresas de energia elétrica que quisessem vir ao País. Décadas depois, para quebrar a hegemonia estrangei­ ra na produção e distribuição de energia elétrica, o governo brasi­ leiro criou a Companhia Hidrelé­ trica do São Francisco (C hesf), que construiu a usina de Paulo Afonso. O grande desenvolvimento da hidreletricidade no Brasil foi entre 1975, quando a capacidade instalada era apenas de 18.500

gigawatts, e 1985, quando pas­ sou para 54.000 gigawatts. A partir de então a construção de barragens tornou-se mais difícil devido às crises econômicas e às críticas ao modelo de geração de energia, que apresenta grandes impactos sociais e ambientais. Hoje, mais de 80% da energia elétrica do Brasil provém de usi­ nas hidrelétricas e a expectativa é de que, com as novas usinas que estão sendo construídas, essa realidade ainda perdure pela pró­ xima década.


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especialista ENTREVISTA

CHARLES LENZI

Em busca da competitividade das PCHs

Divulgação

Grandes desafios para o desenvolvimento do mercado de PCHs no Brasil estão relacionados a questões econômicas, regulatórias e ambientais. Charles Lenzi, presidente da Abragel , defende este tipo de empreendimento energético para geração de energia elétrica limpa, ambientalmente sustentável e com responsabilidade social

O

presidente da Abragel (As­ sociação Brasileira de Ge­ ração de Energia Limpa), Charles Lenzi, constata que as Pequenas Centrais Hidrelétricas enfrentam um problema de ordem econô­ mica. "Temos um problema de custos de construção civil e de equipamentos que afeta nossa competitividade em relação a outras fontes", afirma. Esta falta de competitividade faz com que as PCHs não tenham sucesso nos leilões de energia e consequente­ mente , sem contratos de venda de energia de longo prazo, não há como conseguir financiamento para a construção dos empreen­ dimentos. Outra questão deve-se à regulação. "Observa-se a exis­ tência de um gargalo dentro da agência reguladora na aprovação de estudos e projetos". O licen­ ciamento ambiental revela-se


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como mais uma dificuldade para o setor. "Em função das inúmeras exigências, dos custos associados e do tempo necessário para sua obtenção", enumera. Diante deste quadro, Lenzi também aponta so­ luções na seguinte entrevista. Renergy:: O Brasil precisa de PCHs? Charles Lenzi:: Sim. O Brasil precisa das Pequenas Centrais Hidrelétricas, pois são fontes de geração de energia elétrica limpa, ambientalmente sustentáveis e socialmente responsáveis. Tra­ tam-se de pequenos empreendi­ mentos, localizados próximos aos centros de carga e que, por isso, desempenham um importante papel no desenvolvimento das co­ munidades locais como também, por terem esta característica de ge­ ração distribuída por todas as regi­ ões do país, não sobrecarregam o sistema de transmissão nacional. As PCHs já estão consolidadas como fonte de geração de energia elétrica efetiva, confiável e limpa, representando atualmente cerca de 3,2% da capacidade instala­ da da matriz elétrica brasileira. O potencial também é imenso. Existem atualmente, tramitando na Aneel, estudos e projetos que podem representar aproximada­ mente 17.000 MW de potência. Além disso, estudos determinam que podem existir outros 10.000 MW ainda a ser explorados. As fontes alternativas, constituídas por Pequenas Centrais Hidrelé­ tricas (PCHs), Usinas Eólicas e de Biomassa, já representam hoje algo em torno de 9% da potência instalada da matriz elétrica bra­ sileira. De acordo com o Plano Decenal de Expansão, preparado

pela EPE, estas fontes vão ampliar sua participação para 16% da ca­ pacidade instalada brasileira para geração de energia elétrica em 2020. É um crescimento relati­ vo impressionante, significando muitos investimentos no País na geração de energia elétrica atra­ vés de fontes limpas e renováveis, consolidando a matriz elétrica brasileira como uma das mais limpas do mundo. R:: Quais os entraves para desenvolver o setor no País? CL:: Os grandes desafios estão relacionados a questões econô­ micas, regulatórias e ambientais. Na questão econômica temos um

As PCHs já estão consolidadas como fonte de geração de energia elétrica efetiva, confiável e limpa, representando atualmente cerca de 3,2% da capacidade instalada da matriz elétrica brasileira. problema de custos de constru­ ção civil e de equipamentos que afeta nossa competitividade em relação a outras fontes. Esta falta de competitividade faz com que as PCHs não tenham sucesso nos leilões de energia e consequente­ mente, sem contratos de venda de energia de longo prazo, não há como conseguir financiamento para a construção dos empreendi­ mentos. Na questão regulatória, observa-se a existência de um gar­

galo dentro da agência reguladora na aprovação de estudos e proje­ tos. Hoje, a partir da identificação do potencial a ser explorado até o início da operação comercial de um empreendimento, muitos anos se passam e isto é um custo insuportável para os empresários do setor. Por fim, a questão de licenciamento ambiental, que tem trazido dificuldades para o setor em função das inúmeras exigências, dos custos associados e do tempo necessário para sua obtenção. R:: Qual o papel das PCHs no crescimento econômico brasileiro? CL:: Existe uma indústria nacio­ nal consolidada que gera milha­ res de empregos e que desenvol­ veu uma tecnologia brasileira de alto padrão. Existem atualmente 781 pequenas usinas localizadas de forma distribuída em pratica­ mente todas as regiões do País. Estes empreendimentos levam desenvolvimento para as comu­ nidades onde se localizam. R:: Quais são os pleitos do setor para o governo federal? Como incentivar o setor? CL:: Hoje, as PCHs enfrentam um problema muito sério de competitividade. O custo de construção das PCHs está maior que outras fontes, como eólica e biomassa. Basicamente 50% dos custos de construção estão rela­ cionados com obras civis, cujo se­ tor está fortemente aquecido no País, pressionando os preços para cima, e os demais 50% são custos relacionados aos equipamentos eletromecânicos. Na parte dos equipamentos, existe um fator


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ENTREVISTA

especialista CHARLES LENZI

muito importante para as eóli­ cas, por exemplo, que é a isenção de ICMS. Os equipamentos de PCHs não tem esta isenção e isto, infelizmente, gera uma falta de isonomia na comparação. O fato é que houve também um avanço significativo na tecnologia dos e­ quipamentos para energia eólica, associado com aspectos circuns­ tanciais como a crise europeia e os estoques de equipamentos existentes, fazendo com que os preços dessa fonte tenham caído fantasticamente. Restabelecer as condições isonômicas de compa­ ração, tanto nas questões fiscais e tributárias como de financiamen­ to, é uma condição fundamental. Além disso, mudar as regras de participação nos leilões de ener­ gia, para permitir que mais PCHs possam ser habilitadas. Hoje, as PCHs são a única fonte de ener­ gia que precisa ter seu projeto básico aprovado pela Aneel para poder participar dos leilões. Nós

propomos que aqueles empre­ endimentos onde não há dispu­ ta, devidamente registrados na Aneel e com licenciamento am­ biental, possam ser habilitados a participar. Um número maior de empreendimentos cadastrados e habilitados trará maior disputa e contribuirá para a melhoria da competitividade. Em segundo lu­ gar, defendemos a existência de leilões específicos por fonte, esta­ belecendo uma contratação míni­ ma de projetos de PCHs, de modo a não comprometer o futuro da indústria, que é 100% brasilei­ ra, já estabelecida. É importante que um país como o Brasil possa ampliar sua matriz de geração de energia elétrica através das fontes limpas e alternativas, utilizando seus recursos naturais de forma ambientalmente sustentável. Outro aspecto fundamental é a definição de condições de finan­ ciamento similares aos grandes empreendimentos hidrelétricos.

Esta deveria ser uma questão de política energética. R:: Como avalia o desempenho da Aneel em aprovar projetos de PCHs? CL:: Existe atualmente, tramitan­ do na Aneel, mais de 600 proje­ tos de Pequenas Centrais Hidre­ létricas, que podem representar aproximadamente 8.000 MW de potência. Temos acompanhado o esforço da Agência no sentido de dar maior celeridade na apro­ vação destes estudos. Precisamos trabalhar em conjunto com a Aneel para que, ao mesmo tempo em que se aperfeiçoe o processo de análise, também se desenvol­ va a melhoria da qualidade dos projetos. Infelizmente, o ciclo de desenvolvimento de uma PCH, que engloba desde a identificação do potencial até o início de sua operação comercial, tem sido de mais de 10 anos. Isto representa um custo enorme para o setor. SXC.hu

ENTREVISTA


8ª edição

26, 27 e 28 de Março de 2012 Renaissance Hotel, São Paulo, Brasil

O ENCONTRO OFICIAL DA ABERTURA DA SAFRA 2012/2013: Evoluindo e Atraindo Novos Investimentos para Atender a Crescente Demanda por Açúcar, Etanol e Renováveis

Keynote Speakers: Pedro Isamu Mizutani Vice Presidente Executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia Raízen, Brasil

Dario Costa Gaeta CEO Paraíso Bioenergia S.A., Brasil

Ricardo de Gusmão Dornelles Diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis Ministério de Minas e Energia, Brasil

José Carlos Grubisich Presidente ETH Bioenergia, Brasil

Marcos Sawaya Jank Presidente UNICA União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, Brasil

Pedro Isamu Mizutani Vice Presidente Executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia Raízen, Brasil

Bob Dinneen Presidente and CEO Renewable Fuels Association (RFA), USA

Golam Mostafa Presidente Deshbandhu Group, Bangladesh Secretário Geral Bangladesh Sugar Refiners’ Association (BSRA)

Jacyr Costa Filho Diretor Presidente Guarani, Brasil

Christoph Berg Managing Director F.O. Licht, Germany

Novidade da edição 2012!

Prasert Tapaneeyangkul Secretário-Geral do Conselho de Cana e Açúcar Ministério da Indústria, Tailândia Arnaldo Jardim Deputado Federal Câmara dos Deputados, Brasil

Coquetel e Cerimônia do Prêmio BestBio 2012, organizado pela Procana Brasil no F.O. Lichts Sugar & Etanol Brazil 2012.

www.informagroup.com.br/ethanol ORGANIZAÇÃO

PATROCÍNIO MASTER

PATROCÍNIO

APOIO OFICIAL

APOIO

PATROCÍNIO PLATINUM


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raio-x eólico

Turbinas para ventos brasileiros

A produção de equipamentos para energia eólica no Brasil é uma realidade para grandes fabricantes do setor no mundo. Além de atender a demanda dos parques contratados nos leilões, elas consideram as características dos ventos do País


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C

om ventos de boa qualida­ de, baixas rajadas e turbulên­ cia, quais as turbinas, torres e pás adequadas para os parques eóli­ cos brasileiros? Com a implanta­ ção garantida de energia eólica no Brasil será superior a 6.000 MW (megawatts), até 2014, o que re­ presenta um crescimento de seis vezes a partir da capacidade insta­ lada atualmente, o setor demanda o desenvolvimento da cadeia pro­ dutiva eólica. De olho no potencial para gera­ ção de energia eólica do Brasil, es­ pecialmente na região Nordeste, que a GE anunciou, em outubro deste ano, a parceria com o governo da Bahia para instalar uma fábrica de aerogeradores e, assim, ampliar a fabricação local de equipamentos. O investimento para a implantação da unidade fabril é de aproximada­ mente R$ 45 milhões e a intenção é de que a nova unidade possa con­ tribuir para a produção, já no pri­ meiro ano, de 200 turbinas eólicas. Hoje, a GE produz 25% da eletrici­ dade mundial e é uma das maiores fornecedoras de turbinas eólicas. Presente, neste mercado, em 21 países, possui mais de 17.000 uni­ dades instaladas, 277 milhões de horas de funcionamento e 163 mil GWh de energia gerada e equipa­ mentos com capacidade de 1.5 a 4.1 MW. A previsão é que a companhia forneça, para o mercado brasileiro, aproximadamente 700 turbinas de energia eólica das linhas 1.5 MW e 1.6 MW. “Esta nova fábrica é uma forma da GE se aproximar ainda mais de seus clientes, além de re­ forçar o seu comprometimento com o País, onde temos presen­ ça há mais de 90 anos. Em 2009 e 2010, a GE ganhou contratos nos leilões de energia para gerar mais

de 800 megawatts. No último lei­ lão, ocorrido em agosto deste ano, conquistamos compromissos para mais 378 megawatts”, revela Mar­ celo Soares, presidente e CEO da GE Energy para a América Latina. Um dos destaques da com­ panhia é a turbina eólica GE 1.6 MW-100, com capacidade de ge­ rar 8GWh de energia - o suficien­ te para abastecer mil casas. Possui rotor de 100 metros de diâmetro, gerador GE 1.6 e fator de capaci­ dade de 53% a 7.5m/s. Com baixo ruído durante o funcionamento, o aerogerador garante 98% de pro­ dutividade no ano. Além disso, seu design é uma evolução das consa­ gradas plataformas dos modelos GE 1.5 MW e 2.5 MW. O equipa­ mento é uma das grandes apostas para o mercado brasileiro de ener­ gia renovável. “A GE 1.6 MW-100 conta com um rotor maior, que em algumas regiões do Brasil, como o Rio Grande do Norte, permite ele­ var o fator de capacidade bruto para 60%, aumentando assim a produ­ ção anual de energia”, descreve Jean Claude Robert, líder de GE Wind para América Latina. Foi também na Bahia que a Als­ tom inaugurou, em novembro, sua primeira fábrica de aerogeradores no continente sul-americano. A unidade, localizada no complexo industrial de Camaçari, terá uma capacidade de produção de 300 MW por ano. Com uma área to­ tal de 50.000 mil metros quadra­ dos (m²) e uma área construída de 10.000 mil m², representa um investimento inicial de R$ 50 mi­ lhões. O empreendimento faz par­ te da estratégia global da Alstom de reforçar a presença de soluções renováveis na matriz energética e investir em países em desenvolvi­

mento. Mais de 2.200 turbinas já foram instaladas em mais de 120 usinas eólicas globalmente, o equi­ valente a uma capacidade total de mais de 3.000 MW. A usina em Ca­ maçari também irá fabricar as tur­ binas ECO 100, que já possuem mais de 350 MW instalados ou em construção ao redor do mundo e mais de 200.000 horas acumula­ das de operação desde 2008. A ECO 100 tem 140 metros de altura, o equivalente a um prédio de 50 andares, com um rotor de 100 metros de diâmetro. Com potência de 3MW, o modelo tem capacida­ de de gerar o dobro de energia das unidades semelhantes, o que refle­ te no uso de menos turbinas e me­ nor espaço geográfico. As pás mais longas também são um diferencial para geração de energia com mais eficiência. “Hoje, a Alstom reforça sua estratégia de investir em ener­ gia renovável e prova seu grande in­ teresse em mercados em expansão, como o Brasil. Este é apenas o co­ meço de um caminho que quere­ mos seguir na indústria eólica no Brasil e em toda a América Latina”, afirmou Patrick Kron, Chairman e CEO da Alstom. Antes do início de suas opera­ ções de fabricação no Brasil, a Als­ tom já fechou dois contratos para parques eólicos. Em julho de 2010, assinou um contrato no valor de € 100 milhões com a empresa brasi­ leira de geração de energia renová­ vel Desenvix, subsidiária do grupo Engevix, para a construção de um complexo eólico de 90 MW, tam­ bém na Bahia. O Complexo de Bro­ tas será composto de três parques eólicos que serão equipados com 57 aerogeradores Alstom ECO 86, de 1,67 MW cada. Em 2011, a em­ presa assinou um contrato no valor


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raio-x eólico

aproximado de €200 milhões pa­ ra a construção e manutenção de três usinas eólicas para a Brasven­ tos S.A, que serão instaladas no Rio Grande do Norte. O complexo terá uma capacidade de produção total de 580.000 MWh por ano, energia suficiente para abastecer mais de 100.000 mil residências e econo­ mizar mais de 300.000 toneladas de CO2 todos os anos. A indiana Suzlon trará para o Brasil a linha de turbinas S9X, for­ mada pelos modelos S95 e S97, com 2.0 MW de potência, cujo fo­ co é o fornecimento de soluções eficientes que se adaptem a ven­ tos de baixa velocidade. O novo projeto apresenta evoluções co­ mo Conversor DFIG (Doubly Fed Induction Generation) com ve­ locidade variável, maior área de varredura com rotores de 95 e 97 metros de diâmetro e opções de torres de 80, 90 e 100 metros de altura. A expectativa é de que os novos modelos já sejam instalados nos próximos projetos negociados pela Suzlon, que é hoje é uma das principais fabricantes de turbinas eólicas do mundo, com presença em 32 países nas Américas, Áfri­ ca, Ásia, Austrália. No Brasil, des­ de o início de suas operações em 2007, a Suzlon cresceu e se tornou o principal fornecedor em turbinas eólicas por capacidade instalada. São 182 turbinas em dez projetos de exploração, fornecendo cerca de 380 MW de energia limpa. Em projetos já contratados, a Suzlon possui 350 MW e mais 300 MW em negociação. Para 2012, a em­ presa estará operando sua primei­ ra linha de produção no Brasil em parceria com a Aeris, no Porto de Pecém. De acordo com a política da Suzlon, cada parque tem sua es­

pecificidade e os produtos são pro­ jetados para atender as demandas de mercado em termos de regime de ventos e localização geográfica. Em 2012, a Fuhrländer come­ ça a fabricar no Brasil os modelos FL2500 - rotor 100 e 141 metros, torre treliçada, considerado pelos especialistas da empresa como o ideal para as condições de vento brasileiras. 34 turbinas de 2.5 MW começaram a ser instaladas em se­ tembro deste ano. A empresa ale­ mã é responsável pela instalação dos parques eólicos Pau Brasil, de 15MW, em São Paulo, de 17,5 MW, no Ceará, e dos parques For­ mosa I, de 22,5 MW, e Rosada, de 30 MW, no Rio Grande do Nor­ te. No momento, está em negocia­ ção para mais 500 MW, nos leilões A-5 (dezembro 2011) e A-3 (mar­ ço de 2012). Os modelos G87, G90, G97 com alturas de torres desde 67M até 120M fabricados pela Game­ sa já contemplam as adaptações necessárias para atender às carac­ terísticas dos ventos e condições climáticas do Brasil. Os parques eólicos atendidos pela empresa co­ meçam a operar em 2012. A previ­ são é de que, no primeiro semestre de 2013, 330 MW, divididos em on­ ze parques nos Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia, estejam sob ope­ ração da Gamesa. A Vestas já fabrica no Brasil as plataformas 2.0 e 3.0 MW, que encontram como principal mer­ cado consumidor os Estados Uni­ dos, China, Leste Europeu, além do Brasil e países da America Latina. A empresa dinamarquesa tem insta­ ladas mais de 44.500 turbinas eó­ licas em cerca de 70 países, é líder mundial na tecnologia eólica, com mais de 30 anos de experiência.

“Nosso objetivo é fornecer o me­ lhor para nossos clientes. Para isso, temos desenvolvido uma aborda­ gem que permite nos adaptarmos a quase qualquer necessidade espe­ cial, focando sempre em oferecer as melhores soluções customizadas com base em nossa tecnologia glo­ bal, experiência e especialização”, afirma Marcelo Hutschinski, dire­ tor de Vendas da Vestas. A empresa inaugurou, no se­ gundo semestre de 2011, o pri­ meiro centro de montagem e novo centro de operações no Ceará, num espaço com área total de 10 mil metros quadrados. O empreendi­ mento se dedica, exclusivamente, à montagem de naceles e, quando em completa operação, terá uma capacidade de produção anual de aproximadamente 400 naceles pa­ ra turbinas V90 e V100, o que repre­ senta um total anual de 800 MW. A Vestas está desenvolvendo, no


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Brasil, uma rede de fornecedores locais que podem prover compo­ nentes, produtos, peças sobressa­ lentes e serviços para a fabricação e operações de turbinas eólicas da empresa no país. Os equipamentos da marca dinamarquesa utilizados nos parques do Nordeste e no Sul do Brasil são da mesma plataforma, assim como os produtos da alemã Fuhrländer, que atende às duas re­ alidades, embora os ventos do sul sejam mais turbulentos e menos constantes do que no Nordeste. Para Marcelo Hutschinski, diretor de Vendas da Vestas, o cenário da energia eólica no Brasil é promis­ sor e estratégico. “O Brasil tem re­ cursos eólicos extensos com um potencial de vento de aproximada­ mente 350 GW - um número supe­ rior à base eólica global que foi de aproximadamente 200 GW (final 2010)”, comemora. As duas empre­ sas anunciaram neste ano a cons­

trução de suas fábricas no Ceará. É acirrada a disputa entre os fabricantes. No caso da Siemens, foram assinados contratos para ins­ talação de 136 aerogeradores em 12 parques eólicos em território brasi­ leiro. A companhia tem forte pre­ sença no setor de energia do País, mais de 50% da energia gerada no Brasil. A nova Turbina Siemens SWT 2.3 – 108, uma evolução do modelo 101, destaca-se pelo au­ mento das pás, de 49m para 53m e do diâmetro do rotor, de 101m pa­ ra 108m. Estas, entre outras melho­ rias, contribuíram para aumentar o fator de capacidade e a produ­ ção de energia. Entre suas princi­ pais características, a linha utiliza a tecnologia das pás (Proven Inte­ gralblade), que elimina a necessi­ dade das juntas e garante força e resistência com um maior ciclo de vida; o Siemens Netconverter, ca­ paz de oferecer controle flexível de energia ativa e reativa; Siemens Turbine Load Control, sistema que maximiza a produção de energia e controla a utilização da turbina em toda sua vida útil. A indústria argentina Impsa Wind atua como desenvolvedora e produtora de aerogeradores no Bra­ sil. Com fábrica em Suape, em Per­ nambuco, desenvolveu o primeiro aerogerador específico para a clas­ se de ventos encontrada no Brasil, o IWP-100. O equipamento resul­ ta em ganhos de produtividade de até 20% em relação a produtos an­ teriores. O vice-presidente da Imp­ sa no Brasil, José Luiz Menghini acredita que, do ponto de vista dos equipamentos, o Brasil continua­ rá a tendência atual de preços al­ tamente competitivos em relação aos estrangeiros. “Fornecedores sem capacidades de fabricação no

Brasil tentarão entrar no mercado brasileiro aproveitando-se das in­ consistências de nossos mercados, na defensa das indústrias genuina­ mente nacionais. Provavelmente, as tarifas de geração se manterão nos níveis atuais”, aposta. A Wobben é a primeira empresa brasileira fabricante de aerogerado­ res de grande porte, de 800 a 3.000 kW, e também primeiro produtor independente em terras brasileiras. Também é da Wobben o pioneiris­ mo de instalar usinas do Proinfra e dos leilões. A empresa atua na área de projeto, construção, instalação, operação e manutenção de usinas eólicas. São três fábricas (Socora­ ba – SP, Pecém – CE e Parazinho – RN), e outras três usinas já em operação há mais de 13 anos. As usinas eólicas instaladas pela Wo­ bben no Brasil até 2012, irão gerar um total de 2.000 MWh/ano. As 21 usinas eólicas da Wobben em fun­ cionamento no Brasil geram 485,8 MW. Outros 484 MW serão gera­ dos pelas 19 novas usinas a serem instaladas até junho/2012. Os mo­ delos fabricados pela Wobben no Brasil, E 82, com ventos de 7,5m/s, pode atender o consumo de 20 mil pessoas. Possui pás de alto desem­ penho, que garantem maior coefi­ ciente de potência; acoplamento direto, sem caixa de engrenagens; qualidade de energia e controle de tempestade, o que garante maior aproveitamento de ventos fortes. As novas pás do rotor trazem re­ dução de ruídos, cargas e tensões reduzidas, apropriadas para locais com ventos mais fortes. Mais de 50% da energia cinética do vento é transformada em energia elétrica. O rendimento é equivalente aos de aerogeradores convencionais com rotores maiores.


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raio-x eólico

Raio-x das turbinas Modelos utilizados no Brasil Fabricante

GE

Alstom

Suzlon

Fuhrländer

Gamesa

Vestas

Siemens

Impsa Wind

Wobben

Modelo

Características técnicas

Mercado

1.6 MW

Gera 8 GWh de energia. Possui rotor de 100 metros de diâmetro, gerador GE 1.6 e fator de capacidade de 53% a 7.5m/s. Com baixo ruído durante o funcionamento, o aerogerador garante 98% de produtividade no ano.

Previsão é que a companhia forneça, para o mercado brasileiro, aproximadamente 700 turbinas de energia eólica das linhas 1.5 MW e 1.6 MW

Tem 140 metros de altura e pás mais lon­ gas, com um rotor de 100 metros de diâ­ metro. Potência de 3MW

Antes do início de suas operações de fa­ bricação no Brasil, a Alstom já fechou dois contratos para parques eólicos. Em julho de 2010, assinou um contrato com Desenvix para a construção de um complexo eólico de 90 MW, na Bahia. Em 2011, a empresa assinou um contrato no valor aproximado para a construção e manutenção de três usinas eólicas para a Brasventos S.A, que serão instaladas no Rio Grande do Norte.

2.0 MW de potência, adaptados a ventos de baixa velocidade. O novo projeto apresenta evoluções como Conversor DFIG (Doubly Fed Induction Generation) com velocidade variável, maior área de varredura com roto­ res de 95 e 97 metros de diâmetro e opções de torres de 80, 90 e 100 metros de altura

A expectativa é de que os novos modelos já sejam instalados nos próximos projetos ne­ gociados pela Suzlon. De 2007 até hoje, são 182 turbinas instaladas em dez projetos de exploração, fornecendo cerca de 380 MW de energia limpa. Em projetos já contrata­ dos, a Suzlon possui 350 MW e mais 300 MW em negociação. Para 2012, a empresa estará operando sua primeira linha de pro­ dução no Brasil em parceria com a Aeris, no Porto de Pecém.

Rotor 100 e 141 e torre treliça, considerado pelos especialistas da empresa como o ideal para as condições de vento brasileiras

34 turbinas de 2.5 MW começaram a ser instaladas em setembro. Está em nego­ ciação para mais 500 MW, nos próximos leilões A-5 (dezembro 2011) e A-3 (março de 2012).

Alturas de torres desde 67 metros até 120 m. Contemplam as adaptações necessárias para atender às características dos ventos e condições climáticas do Brasil

Os parques eólicos começam a operar em 2012. A previsão é de que, no primeiro semestre de 2013, 330 MW, divididos em onze parques nos Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia, estejam sob operação da Gamesa.

Essa linha gera 25% mais energia que do que a linha V80s

Inaugurou, no segundo semestre de 2011, o primeiro centro de montagem e novo cen­ tro de operações no Brasil, em Fortaleza, Ceará. No País, suas turbinas somam mais de 200 MW instalados.

É uma evolução do modelo 101. Destaca-se pelo aumento das pás, de 49 metros para 53 m e do diâmetro do rotor, de 101 m para 108 m. A tecnologia das pás (Proven Inte­ gralblade) elimina a necessidade das juntas e garante força e resistência com um maior ciclo de vida

Foram assinados contratos para instalação de 136 aerogeradores em 12 parques eóli­ cos em território brasileiro.

Resulta em ganhos de produtividade de até 20% em relação a produtos anteriores

É a única empresa que atua como desen­ volvedora e produtora aerogeradores no Brasil. Com fábrica em Suape, desenvol­ veu o primeiro aerogerador específico para a classe de ventos encontrada no Brasil

Pás de alto desempenho, que garantem maior coeficiente de potência; acopla­ mento direto, sem caixa de engrenagens. As novas pás do rotor trazem redução de ruídos, cargas e tensões reduzidas, apro­ priadas para locais com ventos mais fortes. Mais de 50% da energia cinética do vento é transformada em energia elétrica.

As usinas eólicas instaladas no Brasil até 2012 irão gerar um total de 2.000 MWh/ ano, equivalente ao consumo médio de 8.000.000 de pessoas, contribuindo para a redução de aproximadamente 1.200.000 toneladas de emissão do CO² por ano.

ECO 100

S95 e S97

FL2500

G87, G90, G97

V90 e V100 2.0 e 3.0 MW

SWT 2.3 – 108

IWP-100

E 44 (900 KW), E48 (800 KW), E 70 (2300 KW) e E 82 (2000 a 3000 KW)


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oportunidade

Renováveis no combate à pobreza Comunidades isoladas foram beneficiadas com energia elétrica a partir de placas fotovoltaicas. Programa governamental também gerou emprego e melhores condições de vida. Outros países também apostam em fontes limpas para mudar o quadro social precário


www.flickr.com/delcidio

renergy. ano 2 > # 8 > 2011 { 49 }

A

o lançar o programa Luz Para Todos, em meados de 2004, o Governo Federal dava um importante passo para mudar a realidade de 2,7 milhões de fa­ mílias do campo, ainda sem aces­ so à energia elétrica. “É incrível que, cem anos após a construção da primeira central hidrelétrica da América do Sul - instalada em Juiz de Fora, no ano de 1889 - ain­ da tenhamos cerca de 12 milhões de brasileiros sem energia elétri­ ca no País”, declarou, na ocasião, o então presidente da Eletrobrás Furnas e coordenador do progra­ ma na Região Sudeste e Goiás, José Pedro Rodrigues de Oliveira. Em sete anos, já são 13,9 mi­ lhões de pessoas beneficiadas em todo o País. São moradores de lo­ calidades rurais que podem sentir os benefícios da energia no posto de saúde, na escola municipal e podem instalar uma bomba sub­ mersa no poço que atende a co­ munidade. “Eu não sei se todos os que nasceram sob a claridade con­ seguem entender e sentir a emo­ ção de uma pessoa, que passou a vida inteira à base de candeeiro e

vela, em receber a energia elétrica pela primeira vez. É um fato que, certamente, marcará a vida e a história dela para sempre”, decla­ rou o então presidente da Repú­ blica, Luiz Inácio Lula da Silva. Quando contaram ao cacique Firmino Arana, de Ji-Paraná, em Rondônia, que teriam energia elétrica, ele duvidou: “Nós pen­ samos que era mais uma mentira do homem branco”, afirmou. E a novidade mudou a vida de todos na aldeia. O que Maria Luiza Ara­ na mais gostou foi da chegada da máquina de lavar roupa. “Agora quem trabalha é a máquina”, disse. Quando choveu muito e um cabo da rede elétrica se partiu, deixan­ do a aldeia toda sem energia, nin­ guém teve saudade dos tempos de escuridão. “Aí é que vimos como nós morávamos antigamente. Fi­ camos doidinhos, sem energia a máquina não funcionou, a água de beber ficou de novo quente e ninguém mais quer beber água quente, só queremos água gela­ da!”, declarou Maria Luiza. Em todo o País é possível per­ ceber as mudanças proporciona­

das pela chegada da energia elétri­ ca, que representa mais conforto, melhoria da qualidade de vida e novas possibilidades de geração de renda para as comunidades. Eleandro Emídio Brasil conseguiu seu primeiro emprego em 2006, em uma fábrica de postes, em Rio Branco, no Acre. Sua família, que também “vivia no escuro”, foi atendida pelo programa. “Ter energia em casa era um sonho antigo nosso; agora, além da luz, consegui um emprego e posso ajudar minha família”, declarou. O programa acaba de ser prorrogado até 2014 e atenderá assentamentos rurais, comunida­ des indígenas, quilombolas, co­ munidades extrativistas, escolas, postos de saúde e poços de água comunitários que ainda não fo­ ram beneficiados. Entretanto, a política do Go­ verno Federal ainda esbarra na dificuldade de alcançar as comu­ nidades distantes da rede geral de energia. E esta não é uma realida­ de particular do Brasil. No mun­ do ainda são, aproximadamente, 1,5 bilhão de pessoas sem acesso a


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Fotos: Ministerio do Desenvolvimento Agrario

oportunidade

eletricidade e para cerca de 2,5 bi­ lhões de indivíduos, a energia não chega de forma adequada. Para atender a essa demanda, as ener­ gias renováveis, especialmente as de emissões zero ou muito baixas, permitem soluções locais. O Programa Luz para Todos já trabalha com Sistemas Foto­ voltaicos Domiciliares (SFD) em comunidades isoladas, como os seringais da Reserva Extrativis­ ta Chico Mendes, no Acre, para garantir aos moradores energia elétrica a partir do uso de células fotovoltaicas, mais conhecidas como placas solares, usando o po­ tencial solar da região. A tarefa não é simples, cada casa fica muito distante da outra e o acesso, muitas vezes, só é pos­ sível por caminhadas em trilhas abertas no meio da selva. Quan­ do chove, é impossível chegar. Carros de boi ajudam a carregar os equipamentos. Em algumas regiões, a equipe de técnicos che­ ga de barco, o que torna menos penoso o transporte do material. “A dificuldade foi enorme.

Muitas vezes, ficamos até três ho­ ras da manhã montando os pai­ neis, mas foi muito emocionante também. Quando terminamos a última casa, todos choraram - a família e os técnicos”, lembra Sa­ muel Gomes da Silva Júnior, fis­ cal do Programa Luz para Todos. As energias renováveis ofe­ recem oportunidades de inova­ ção tecnológica, com elevado potencial de redução de custos. Em alguns países menos desen­ volvidos, são vistas ainda como alternativa para propiciar o aces­ so a fontes energéticas em áreas e comunidades remotas, contri­ buindo para a inclusão social e o combate à pobreza. Na Ilha do Príncipe, a menor do arquipélago de São Tomé e Príncipe, ao largo da costa oci­ dental da África, o presidente do Governo Regional, José Cassan­ dra, anunciou, recentemente, projeto de energias renováveis para levar desenvolvimento às co­ munidades mais pobres. De acor­ do com Cassandra, projetos de energia solar, destinados à ilumi­

nação pública e às residências, é a solução para os próximos tempos. “Vamos, sobretudo, atacar as zo­ nas de maior pobreza”, afirmou. O presidente americano Ba­ rack Obama tem apostado na transição para energias mais lim­ pas no sentido de ajudar a criar novos empregos no país. “Levar a economia para as novas energias vai garantir os empregos do futu­ ro nos Estados Unidos”, afirmou Obama, que desde abril fixou a meta de reduzir em um terço as importações de petróleo durante os próximos 10 anos e aumentar o uso de gás natural e biocom­ bustíveis, além de uma economia de energia. “Vamos utilizar mais fontes limpas de energia para não colocar em risco o meio ambien­ te”, acrescentou. No Brasil, a energia eólica re­ presenta o desenvolvimento do Nordeste. Até 2013, estima­se que, aproximadamente, R$ 15 bilhões serão investidos para im­ plantar parques eólicos na região, com a geração de seis mil empre­ gos diretos e indiretos.


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estĂ­mulo ao investimento

Rumos da Energia Solar

Os principais especialistas do setor de energia se reuniram no Rio de Janeiro, em novembro Ăşltimo, para debater as tecnologias e o futuro do mercado da energia solar no PaĂ­s. Durante o evento, a Carta do Sol foi tida como fundamental para estimular os investimentos no setor

{ Por Rodrigo Miguez


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R

eunidos no Rio de Janeiro para discutir ideias para o crescimento do mercado de ener­ gia solar no Brasil, diversos agen­ tes do setor energético brasileiro estiveram presentes ao Seminá­ rio Nacional de Solar. Um dos principais assuntos discutidos foi a importância da assinatura da Carta do Sol por todos os estados do País. Criado com o intuito de fomentar a in­ dústria da energia solar, a Carta do Sol terá, assim como a Carta dos Ventos da energia eólica, pontos de destaque, como in­ centivos fiscais e financiamento para empresas fornecedoras de equipamentos solares. O evento contou com a participação de Julio Bueno, secretário de De­ senvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Maurício Tolmas­ quim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Carlos Minc, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, entre outros importantes executivos do setor de energia. Um dos idealizadores da carta, o secretário Júlio Bueno lembrou que o estado do Rio já saiu na fren­ te na questão fiscal, desonerando equipamentos de energia solar, e eólica, do pagamento de ICMS. “Já há diversas empresas interes­ sadas em investir e se instalar no Rio de Janeiro”, afirmou Lopes. Outra iniciativa, lembrada na abertura do evento pelo se­ cretário de Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, foi o inves­ timento do governo estadual na

implantação de “escolas verdes”, com telhado solar. Inaugura­ do este ano, o Colégio Estadual Erich Walter conta com paineis solares, área para reciclagem e re­ aproveitamento de água da chu­ va. Segundo Minc, a ideia é que o projeto vá para mais 14 escolas. Tida como cara, a energia solar tem alguns projetos de ou­ torga em análise pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), segundo Tito Angelo Lo­ bão, especialista em regulamen­ tação da entidade, que palestrou no evento. “Temos seis solicita­ ções para termossolares e 29 para fotovoltaicas. O interesse vem aumentando”, disse. De acordo com Tito, a geração termossolar necessita de uma regulamenta­ ção para que sejam feitos leilões, o que fará com que o preço da energia baixe com o tempo. Hoje, o megawatt hora para uma usi­ na fotovoltaica está em torno de R$500. Uma das ideias citadas duran­ te o Seminário de Energia Solar foi a criação de um sistema de compensação de energia, onde o consumidor que gera energia so­ lar e coloca na rede recebe como benefício créditos em KWh na conta. A ação de eficiência ener­ gética teria validade de 12 meses. Desenvolvimento tecnológico Na segunda parte do seminá­ rio, o desenvolvimento tecnoló­ gico da cadeia de energia solar foi alvo de grandes debates. Leô­

nidas Andrade, diretor de Siste­ mas Fotovoltaicos da Associação Brasileira de Eletro-Eletrônica (Abinee), afirmou que atualmen­ te, junto à associação, existem 110 empresas no País ligadas de alguma forma ao setor solar. Para ele, é preciso que o Brasil tenha uma demanda robusta para que as empresas tenham segurança para investir no mercado. “Queremos que se crie uma cadeia produtiva no setor fotovol­ taico no País”, afirmou Leônidas, que disse haver um projeto piloto no Rio Grande do Sul para a fa­ bricação de placas fotovoltaicas com tecnologia nacional. O Ministério de Ciência e Tecnologia está construindo, em Pernambuco, a fase um do Cen­ tro Experimental de Tecnologias em Energia Solar, com investi­ mentos de R$ 23 milhões. Feito em parceria entre a Chesf, a Ce­ pel e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o centro vai servir como local de testes de geração heliotérmica, através de cilindros parabólicos. Para Eduardo Soriano, coor­ denador de Tecnologia e Inova­ ção no Ministério de Ciência e Tecnologia, a energia solar é prio­ ritária ao País e vai ganhar cada vez mais espaço nos próximos anos. A área de Pesquisa, Desen­ volvimento e Inovação do Minis­ tério está elaborando o Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI) que tem a energia solar como destaque e será implantado até 2015.


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transporte sustentável

Elétricos e limpos A joint venture “TRtrans”, entre a francesa Alstom e a russa Transmashholding (TMH), coloca no mercado locomotivas de passageiros e cargas de alta performance, capazes de suportar temperaturas extremas

O

s transportes, conforme a Agência Internacional de Energia, são responsáveis por 23% das emissões de CO². A pe­ quena parcela de 0,5% das emis­ sões é creditada à modalidade fer­ roviária. Em tempos de energias limpas, não há dúvidas sobre os benefícios dos trens no processo de sustentabilidade das cidades. Várias metrópoles da Europa, Ásia e América, como Barcelona, Cingapura, Buenos Aires, e cida­ des europeias, como Amsterdam, Bruxelas, as francesas Bordeaux e Reims, já aderiram aos modernos trens como opção de modalida­ de urbana e outras investem em locomotivas de passageiros ou carga para atender as demandas logísticas sem impactar o meio ambiente. A tecnologia e investimen­ to nessa modalidade de trans­ porte estão em alta no mundo. Enquanto o Brasil ainda espera colocar nos trilhos seus trens elétricos – conhecidos como tranways na Europa e nacional­ mente como Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) – outros países já desenvolvem locomotivas de alta performance, materiais ultrarre­ sistentes e com diferenciais até então impensáveis no sistema de

transporte conhecido. A joint venture “TRtrans”, entre duas gigantes ferroviárias mundiais - a francesa Alstom e a russa Transmashholding (TMH) - desenvolveu a locomotiva elé­ trica para trem de passageiros EP20, apresentada no Salão Expo 1520, em setembro deste ano, em Moscou. A EP20 levou apenas sete meses para ser desenvolvida pelas duas parceiras que, desde

2008, início da aliança, já recebe­ ram encomendas para um total de 700 locomotivas para a Rus­ sian Railways (RZD) e a Kazakhs­ tan Railways (KTZ), totalizando 3,5 bilhões de euros. Essa locomotiva de nova gera­ ção, encomendada pela Russian Railways para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sotchi, foi inspirada pela mais recente loco­ motiva da Alstom – a Prima II -, e


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pelos modelos russos projetados e fabricados pela TMH. A EP20 é a primeira locomo­ tiva de passageiros de triplo tru­ que (BoBoBo) capaz de operar a velocidades de até 200 Km/h, nos dois sistemas de voltagem usados na Rússia. Seu motor assíncro­ no está classificado em 7200 kW, tornando a EP20 uma das locomotivas de passageiros mais potentes do mundo. O grande di­ ferencial desta locomotiva é que foi climatizada para operação sob temperaturas de até -50 ºC, com componentes adequados para condições extremas e sistemas de pré-aquecimento para seus sensí­ veis equipamentos. A EP20 também é a primeira locomotiva russa equipada com cabine computadorizada, in­ cluindo auxílios para condução, diagnóstico de serviço remoto, manutenção remota e dados cen­ tralizados. O sistema de tração eficiente da locomotiva permite uma redução significativa no consumo de energia. O produto foi desenvolvido por 150 engenheiros da “TR­ trans” na maior unidade de fabri­ cação de locomotivas da TMH, localizada em Novocherkassk. Os engenheiros são das duas em­

presas parceiras. Eles são apoia­ dos por equipes da Alstom a par­ tir de suas unidades em Belfort, Tarbes, Le Creusot, Ornans e Villeurbanne, na França; e Char­ leroi, na Bélgica. Os equipamentos elétricos de alta voltagem (unidades de mo­ tor, unidades auxiliares, disjunto­ res e o transformador principal), bem como sistemas de controle de comando para os motores de tração para as primeiras 36 loco­ motivas EP20, programadas para entrega à RZD entre 2012 e 2013, serão fornecidos pelas unidades da Alstom em Tarbes e Belfort. Os outros componentes, incluin­ do os truques, serão produzidos pela TMH e as locomotivas serão montadas na unidade de Novo­ cherkassk. A vantagem da união das empresas é a otimização do processo industrial, padroniza­ ção de operações e refino de mé­ todos e ferramentas de melhoria contínua. Os principais componentes para as próximas 164 EP20 serão fabricados por uma segunda joint venture, chamada RailComp. Segundo outro acordo assinado em 2009 entre Alstom e TMH, a empresa está programada para ser formada no final de 2011. A

primeira unidade da RailComp, que também será instalada na planta de Novocherkassk, vai produzir motores de tração para a EP20, entre outros, a partir de 2014. A montagem da locomo­ tiva continuará na unidade de Nevz, que irá se beneficiar gra­ dualmente do progresso conjun­ to obtido no projeto. Depois da EP20, eles produzi­ rão a locomotiva de carga elétrica 2ES5, para a qual 200 encomen­ das já foram feitas pela RZD. Além do mais, no Cazaquistão, as parceiras entregarão 295 locomo­ tivas elétricas de carga e passagei­ ros para a Kazakhstan Railways (KTZ) nos próximos anos. Elas serão montadas em uma unidade na capital cazaque, Astana, que entrará em operação em 2012. A 2ES5 é uma locomotiva de frete (duplo BoBo) assíncrona concebida para grandes linhas. Pode circular até uma veloci­ dade de 120 km/h e dispõe de uma potência de 7.600 kW, com capacidade para atender cargas de mais de 6.000 tone­ ladas e circular em distâncias até 3.000 km. Assim como a EP20, também será capaz de suportar temperaturas extremas de até -50°C na Rússia.


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pesquisa

Túnel do vento regional

A força, e todas as características, dos ventos do Nordeste pode, agora, contar com medições feitas em novo laboratório, inaugurado no Ceará. É mais uma etapa do desenvolvimento da cadeia eólica que se fortalece na região

P

ioneira na geração de ener­ gia eólica no Brasil, a região Nordeste ganhou seu primeiro túnel de vento, equipamento que serve, entre outras funções, para aferição aerodinâmica das pás eólicas. O equipamento é do Cenea (Centro de Energias Reno­ váveis e Meio Ambiente), ligado a Uece (Universidade Estadual do Ceará), e entrou em operação em junho deste ano. De acordo com o diretor téc­ nico do Cenea, Artur Guimarães, o serviço abre uma janela de oportunidades para regionalizar a tecnologia em energia eólica. Isso porque, no Nordeste, os parques eólicos são montados, fábricas já se instalam, construtoras e empre­ sas de logística se especializam, mas a tecnologia para o desenvol­ vimento dos itens de uma torre eólica contam com pesquisas es­ trangeiras. Agora, a cadeia produ­ tiva do setor pode contar também com esta parte do desenvolvimen­ to tecnológico. O equipamento que foi cons­ truído em Franca, no interior paulista, pela empresa Aeroálcool Tecnologia Ltda., custou R$ 690 mil, 30% abaixo do valor original­ mente previsto. Segundo o proje­

tista da empresa, César Borges, o tipo de material utilizado colabo­ rou para a redução. «A fibra de vi­ dro e a resina de poliéster se adap­ tam melhor ao clima, dão maior facilidade na modelagem das for­ mas. A parte metálica, inclusive os 5,6 mil parafusos, são de inox para evitar corrosão. Não tenho notícia de outro túnel feito com esta mes­ ma proposta na América Latina»,

enfatizou. Além dessas vantagens, afirmou, a maior quantidade de pás (19) em relação aos demais equipamentos do País (com três ou quatro ), reduz a turbulência. “O barulho e a vibração são pra­ ticamente nulos e dão um caráter único a este túnel”, disse. Duas empresas estão interessa­ das, pelo modelo Pesquisa e De­ senvolvimento (P&D), em utilizar


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o túnel de vento, que tem o obje­ tivo de aferir anemômetros (ins­ trumento utilizado para medir a velocidade dos ventos). De acordo com Guimarães, são companhias de origem nacional e concessioná­ rias de energia. O túnel de vento também pode ser utilizado para estudos atmosféricos, identificar a emissão de poluentes no ar, acompanhar o comportamento da fumaça em incêndios, dar su­ porte a trabalhos de pesquisa das universidades, definir localização para a instalação de indústrias, e atender a demandas de calibra­ gem de equipamentos das em­ presas de ventiladores e exausto­ res, por exemplo. No entanto, o interesse inicial das empresas que querem usar o equipamento é no segmento de energia eólica. “Este é o primeiro equipamen­ to da região Nordeste, lugar onde há um crescimento contínuo do mercado nessa área de energia re­ novável. Aqui, pode-se testar, por meio dos protótipos de asas e pás eólicas, como deve ser o modelo aerodinâmico, levando em conta as características da região”, acres­ centa. No Brasil, túneis de vento sub­ sônicos pequenos e médios po­

dem ser encontrados em algumas instituições de ensino e pesquisa. Em São Paulo, no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), existe o maior túnel de vento subsônico da América Latina, que permite aos meteorologistas, por exem­ plo, simular catástrofes como o furacão Catarina e observar como uma construção reage no quesito da aerodinâmica. O IPT possui dois túneis de vento que atendem ao mercado de energia eólica. Um dos túneis de vento é utilizado para calibra­ ção de anemômetros de copos de parques eólicos e está acreditado na Rede Brasileira de Calibrações (RBC), segundo requisitos da nor­ ma NBR ISO/IEC 17025:2005, conforme exigência da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), do Ministério de Minas e Ener­ gias. O outro túnel de vento é utilizado para ensaios de desem­ penho de aerogeradores e projetos aerodinâmicos de pás. No caso de ensaio de aerogeradores, podem ser ensaiados pequenos aeroge­ radores com diâmetro do rotor de até 1 m, ou modelos reduzidos, com o mesmo limite do diâmetro do rotor. O túnel de vento de calibração

de anemômetros de copos é utili­ zado pelas grandes empresas que ganharam os leilões de energia eó­ lica, e a demanda vem aumentan­ do à medida que mais empresas passam a conhecer esse serviço, oferecido pelo IPT desde 2004. Antes do IPT ter a acreditação na RBC para realização do serviço, os anemômetros de copos eram enviados à Europa para serem calibrados. O túnel de vento para ensaio de aerogeradores e de aerodinâmica de pás é utilizado por pequenas e médias empresas, principalmente aquelas que estão desenvolvendo um aerogerador inovador. Atu­ almente os túneis de vento do IPT estão atuando sob demanda. E os contratos realizados, por se tratarem de projetos inovadores, possuem termo de sigilo. A Universidad de la República, no Uruguai, trabalha há quatro anos atendendo o setor produtivo, co­ mo empresas de energia eólica, e à pesquisa, por meio de acordos. Atende órgãos governamentais e empresas privadas. Segundo José Cataldo, uma dos pesquisadores da instituição, está em negociação um acordo com um fabricante de aerogeradores.


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nova gestão

Setor quer superar entraves na logística

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Desenvolvimento da infraestrutura de transporte e de linhas de transmissão ainda segue em ritmo mais lento que a construção dos parques de energia eólica. Ajustar este cenário é um dos desafios que a nova diretoria da Abeeólica está disposta a enfrentar

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m novo quadro administra­ tivo se instalou na Associa­ ção Brasileira de Energia Eólica neste ano. O presidente da enti­ dade, Ricardo Simões, convidou

a economista Élbia Melo para o comando da Abeeólica. Ela assumiu a presidência-executiva da Associação em agosto deste ano. E se juntou a Pedro Perrelli,

diretor-executivo. Segundo a nova executiva, a mudança vem ocorrendo em todas as associações do setor elétrico e decorre do objetivo de formar uma gestão profissional. “Três meses atrás tomei posse com nova estrutura de gover­ nança, mais profissionalizada”, relembra. “Os diretores tinham o desafio de se dividir entre suas empresas e a associação. Era um desafio decidir pelos planos de inserir a energia eólica na matriz energética e dar sustentabilidade à cadeia produtiva do setor”. Essa inserção se deu com o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica no Brasil) e se tornou mais efetiva em 2009 com o pri­ meiro leilão, que vendeu cerca de dois gigawatts de energia eólica. Em 2010, os leilões venderam mais 2 GW. Em 2011, mais 2 GW, o que reduziu o preço. Ficou abai­ xo de R$ 100 por megawatt hora. “Este é um marco importante para o segmento eólico”, avalia Élbia Melo. Com os leilões a par­ tir de 2009, cresceu a demanda por equipamentos para eólica, o


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que desenvolveu a indústria de bens de capitais no Brasil. Uma das metas da Abeeólica é manter a contratação de 2 GW por ano. Outro objetivo é inserir a energia eólica no mercado livre. “Vis­ lumbramos esta possibilidade”, afirma. “Estamos avaliando me­ canismos para isso, considerando a sazonalidade, e como devem ser os contratos com particularidade para atender demanda e oferta, garantindo reduzir riscos de con­ trato por conta da característica de geração da fonte”. Há dez anos, destaca a execu­ tiva, um atlas eólico dizia que a capacidade de geração eólica no Brasil era de 143 GW. Hoje, com torre de 50 a 100 metros, um estu­ do do Cepel (Centro de Pesquisa de energia Elétrica), contratado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), diz que o potencial brasileiro é de 300 GW. Para Él­ bia Melo, a redução do preço está também associada à tecnologia. “Com torres mais altas, há ganho de geração”, afirma. “Estão mon­ tando uma planta com mais ener­ gia. Esta conjuntura interna, além das crises que impactam a Europa e os Estados Unidos, coloca o Bra­ sil como foco de investimento em infraestrutura”. Com a contratação de 6 GW, em 2014, o Brasil terá acima de

7 GW instalados. “O desafio é co­ locar as plantas de pé, construir, botar para funcionar”. Ela ressal­ ta os pontos a serem superados: “Também temos que vencer a questão da logística. Esta tem que ser solucionada porque estamos construindo 6 GW rapidamente.

Temos que vencer a questão da logística. Esta tem que ser solucionada porque estamos construindo 6 GW rapidamente. O País não estava preparado para isso. O País não estava preparado para isso. Deve haver um ajuste de transporte. Outro desafio é com transmissão. As linhas não che­ gam no parque no mesmo tempo em que este está pronto para fun­ cionar. É preciso ajustar esse tem­ po. E a questão ambiental não está 100% resolvida. Cada estado tem uma legislação diferenciada. É preciso buscar uma padronização para o processo ser mais célere”. Com o consolidação dos par­ ques eólicos em terra, o Brasil ain­

da vê distantes as usinas offshore. “Os entraves são o tempo e o alto custo”, afirma Élbia Melo. “No Brasil, as fontes são baratas, os leilões as tornaram competitivas. Offshore é uma realidade distan­ te. A tecnologia tem que ser mais bem desenvolvida para ter preço mais barato. Mas é uma questão de tempo. Outros países estão in­ vestindo em tecnologia de eólica offshore e depois é só transferir tecnologia para o Brasil”. As oportunidades vindas com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, como em todos os setores da economia, também podem chegar à geração de energia. “As oportunidades estão associadas com a microgeração de energia nos estádios. Mas ainda falta re­ gulação. A Aneel está trabalhan­ do nisso. O smart grid vai ser a so­ lução da microgeração, seja solar ou eólica”, ressalta. Com o novo cenário adminis­ trativo na Abeeólica, os diretores, que são associados, passaram a formar o conselho de adminis­ tração. Élbia Melo foi conselheira da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica até este ano, tendo passado pelo Ministério de Minas e Energia, Ministério da Fazenda, Eletrosul e Comer­ cializadora Brasileira de Energia Elétrica.


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cobertura EVENTOS DO SETOR

Cenários de energia

Imagens: Divulgação

Seminário apresenta constatações técnicas para o avanço da produção e transmissão de energia elétrica no Brasil

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ntre os dias 23 e 26 de outu­ bro de 2011, Florianópolis (SC) recebeu o XXI Seminário Nacional de Produção e Trans­ missão de Energia Elétrica (SNP­ TEE), no Centro de Convenções do Costão do Santinho Resort Spa, que reuniu profissionais de várias empresas do setor, além de centros de pesquisa, universida­ des, fabricantes de equipamentos

e outros interessados. O SNPTEE, realizado pelo Comitê Nacional Brasileiro de Produção e Transmissão de Ener­ gia Elétrica - Cigré-Brasil, e coor­ denado pela Eletrosul, apresentou entre suas constatações técnicas a preocupação com a gestão dos ati­ vos, devido à crescente potencia­ lidade e modernização de usinas e grupos geradores. “No entanto,

é necessária a racionalização dos investimentos para a tomada de decisão de quando e como efetuá-la”, afirma o documento resultante do evento. “Existem UHEs com poços para instalação de novas unidades cujo aprovei­ tamento poderá proporcionar um acréscimo na geração existente”. Outra constatação foi de que a geração eólica está dando pas­


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sos para a independência tecno­ lógica. “Estudos são necessários para aprimorar a modelagem de ventos aplicados ao planeja­ mento, à operação, à conexão e à comercialização”. Em relação à energia solar, ficou constatado que há necessi­ dade de estímulo governamental para desenvolvimento da gera­ ção, seja no âmbito industrial, seja na sua aplicação. Quanto à distribuição de energia, ficou concluído que a aplicação de novos materiais e tecnologias tem viabilizado a implantação de empreendimentos de linhas de transmissão (LT) em regiões de complexa logística de transporte e exigências sócio-ambientais. A busca pela redução de custos na manutenção de LTs tem incorpo­ rado técnicas de otimização dos intervalos de inspeção e até o uso de inspeções com aeronaves não tripuladas. Nas apresentações de análise e técnicas de sistemas de potên­ cia, constatou-se a necessidade de desenvolvimento de modelos adequados e validados para os novos equipamentos, tais como as turbinas bulbo e elos de HVDC, de modo a manter-se a confiança dos estudos do sistema interli­ gado nacional. “A reavaliação da modelagem de carga para estudos dinâmicos, inclusive no Anatem (Análise de Transitórios Eletro­ mecânicos), é uma demanda importante e necessária”, afir­ mou-se.

Sobre proteção, medição, con­ trole e automação em sistemas de potência, os principais desafios de hoje para a comunidade de proteção e automação no Brasil são, em particular, a progressiva disseminação de geração distri­ buída, as questões de proteção e automação associadas à trans­ missão por longas distâncias, inclusive por CC, e os novos campos de aplicação da norma IEC 61850, migrando para usinas hidrelétricas, além da disposição para o estudo e domínio das mais recentes evoluções tecnológicas na área de automação, tais como as primeiras aplicações de “mer­ ging units”, novos padrões para interoperabilidade, como o CIM (Common Information Model). Para comercialização, econo­ mia e regulação de energia elé­ trica, o evento constatou que o setor elétrico está bastante evolu­ ído no seu arcabouço regulatório, com procedimentos e desenho de mercado que servem como refe­ rência internacional. “O Brasil está se preparando para as redes inteligentes, onde haverá espaço para o fornecimento de sinais econômicos para consumidores, que motivarão respostas pelo lado da demanda, melhor uso da infra­ -estrutura de transmissão-distri­ buição elétrica e mais eficiência para o setor”. Nos debates sobre planeja­ mento de sistemas elétricos, ficou clara a preocupação em relação à redução da capacidade de regu­

larização das usinas hidrelétri­ cas do SIN (Sistema Interligado Nacional), projetada nos planos de expansão de longo prazo, além da complementaridade de outras fontes renováveis de geração com baixa emissão de carbono e da atratividade da solução de ultra alta tensão em corrente contínua para transmissão de grandes blo­ cos de energia a longas distâncias. Na área de subestações e equi­ pamentos de alta tensão, afirmou­ -se que as empresas tem buscado soluções inovadoras na compac­ tação de instalações, devido a res­ trições de áreas para implantação em zonas urbanas com elevado crescimento demográfico e pro­ blemas de impactos ambientais. Em relação aos impactos ambientais, é necessário ampliar a interação e articulação institu­ cional desde as etapas iniciais do planejamento, como estratégia para viabilização sociopolítica e efetiva inserção regional para projetos hidrelétricos, princi­ palmente na região amazônica. “As empresas do setor elétrico estão caminhando no sentido de estabelecer e utilizar indicadores para monitorar o desempenho ambiental, em função da susten­ tabilidade empresarial”, consta­ tou-se. “É crescente nas gerado­ ras a preocupação com a gestão ambiental de seus reservatórios, as quais estão implementando ações de fiscalização visando à correção de irregularidades iden­ tificadas”.


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cobertura EVENTOS DO SETOR

Aconteceu

Cinase O Circuito Nacional do Setor Elétrico é um con­ gresso técnico e de exposição de produtos e serviços de alta qualidade, abordando temas atuais, que se realiza como um evento itinerante multidisciplinar nas áreas de iluminação, baixa tensão, média tensão e automação. Em 2011, o evento passou por Fortale­ za, nos dias 11 e 12 de maio, na etapa Nordeste. Em junho, a etapa Norte ocorreu em Belém. A etapa Sul chegou a Joinville em setembro. Em outubro, foi a vez da etapa Centro Oeste, em Goiânia. Em novem­ bro, a etapa Nordeste II aconteceu em Salvador.

Hydrovision Brasil Importante fonte da indústria da energia, a hi­ dreletricidade contribui atualmente com um sexto da energia gerada no mundo. Com baixa geração de emissões de carbono, a expectativa é que este setor movimente U$ 57 bilhões neste ano. Para debater sobre os rumos deste mercado, o Hidrovision reu­ niu agentes do setor, com foco em soluções, práticas e desafios, em setembro no Rio de Janeiro. O evento já tem data para 2012: de 25 a 27 de setembro na cidade carioca. As inscrições de trabalhos a serem apresentados podem ser feitas até 12 de janeiro pelo site www.hydrovisionbrasil.com.

Metering Latin America 2011 O Metering Latin America é especializado nas áreas de medição, Smart Grids, faturamento e CRM para as concessionárias de energia e água da Amé­ rica Latina. Espaço para a troca de ideias e estraté­ gias que maximizam a receita das concessionárias através da medição, novas tecnologias e redes in­ teligentes, o evento ocorreu em São Paulo, de 25 a 27 de outubro. Um dos destaques da programação foi a apresentação do Projecto Cidade Inteligente InovGrid, em Évora, Portugal, além de vários casos práticos que ilustram a perspectiva de negócios para implementação de medição inteligente.

Fórum Nacional Eólico A terceira edição do Fórum Nacional Eólico aconteceu em um momento de solidificação do mercado, traçando as estratégias de longo prazo. A proposta do evento é analisar a infraestrutura neces­ sária à multiplicação dos parques, a cadeia de for­ necimento de produtos e serviços e o ambiente de comercialização da energia gerada. Foram reunidos os principais atores da política e as maiores empre­ sas de energia para desenhar as regras e caminhos para que o País se estabeleça como uma potência eólica mundial. O evento ocorreu dias 21 e 22 de novembro de 2011, em Natal, Rio Grande do Norte.



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cobertura FEBRAVA

Feira movimenta negócios

A

realização da 17ª Febrava (Fei­ ra Internacional da Refrigera­ ção, Ar Condicionado, Ventilação, Aquecimento e Tratamento de Ar) gerou negócios da ordem de R$ 300 milhões para as 550 marcas que par­ ticiparam da exposição nos meses se­ guintes ao evento. “Todos relataram excelentes resultados na sondagem que fizemos logo após o encerramen­ to do evento. Houve unanimidade em relação à qualidade dos visitantes, que totalizaram 29.096 nos quatro dias, sendo 627 estrangeiros”, disse Nelson Baptista, diretor da Comissão

Organizadora da Febrava 2011, reali­ zada de 20 a 23 de setembro, em São Paulo. A feira reuniu quase 30 mil pessoas de 25 países. “Alcançamos um dos nossos principais objetivos com a promoção da Febrava 2011: gerar negócios para os expositores e, como feira de negócios, estabelecer muitos contatos para a realização de transações comerciais futuras”, afir­ mou Hércules Ricco, diretor de Even­ tos da Reed Exhibitions Alcantara Machado, organizadora e promotora do encontro. “A outra meta atingida pela edição deste ano foi a consoli­

dação da feira como o maior e mais importante evento de negócios do setor na América Latina”, completa Samoel Vieira de Souza, presidente da Abrava – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ven­ tilação e Aquecimento. “Isso ficou demonstrado pela presença de todos os representantes das entidades cor­ relatas dos países latino-americanos que convidamos para participar”, acrescenta Vieira de Souza. Além dos inúmeros negócios re­ alizados durante a Febrava 2011, a edição deste ano protagonizou uma


Divulgação

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das maiores fusões dos últimos tem­ pos promovidas no setor de HVAC-R: a Midea e a Carrier anunciaram, ofi­ cialmente durante a feira, a junção de suas operações no Brasil, com exten­ sões para a América Latina. A joint venture deverá propiciar investimen­ tos da ordem de US$ 220 milhões, se­ gundo informação da nova empresa. Como ocorre em toda edição, também despertaram interesse os vários eventos paralelos à Febrava. Foi entregue para 31 empresas o Selo Destaque Inovação, concebido pela Abrava para estimular o setor. Foi realizado também o XI Encontro Nacional de Empresas Projetistas e Consultores. Além desses eventos, o XII Conbrava (Congresso Brasileiro de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Tratamento de Ar)

debateu os principais assuntos relati­ vos ao setor, tendo como tema central “Promoção da Sustentabilidade”. O congresso contou com a participação de 750 pessoas. Aconteceu também a Rodada Internacional de Negócios promovida pelo programa Abrava Ex­ porta, projeto que é uma parceria en­ tre a Abrava e a Apex-Brasil – Agência Brasileira de Promoção de Exporta­ ções e Investimentos. Na edição des­ te ano foram realizadas 156 reuniões entre empresas nacionais e estrangei­ ras que devem resultar na geração de negócios da ordem de US$ 4,1 mi­ lhões. Ao todo, as negociações reali­ zadas durante a rodada envolveram 13 compradores internacionais e 17 indústrias brasileiras. Ainda no plano internacional, a Febrava deste ano foi palco de várias

reuniões dos Grupos de Trabalho TC 142 da ISO Internacional. Foi a pri­ meira vez que tais encontros foram realizados na América Latina. Nes­ sas reuniões, realizadas anualmente, são discutidos aspectos técnicos dos vários segmentos do setor HVAC-R. É a partir de discussões como essas que os técnicos de vários países ela­ boram novas normas para o setor. Segundo os participantes, a reunião serviu para uma maior integração dos especialistas brasileiros com os de outros países. Além do encontro da ISO, este ano foi promovido, também durante a Febrava, um workshop do instituto AHRI (Air-Conditioning, Heating and Refrigeration Institute) e o exame de certificação ASHRAE, a mais importante associação mundial de profissionais do setor.

Depoimentos: Na Febrava, tivemos a oportunidade

de mostrar que estamos investindo bas­ tante e já temos uma estrutura muito bem montada no País. Alguns negócios já foram engatilhados, muitos visitantes passaram no nosso estande e esperamos fechar muitos negócios. Luiz Carlos Cabral - Vice Presidente Executivo da Daikin Nós recebemos clientes do Brasil intei­

ro em nosso estande. É muito importan­ te investir nesse tipo de relacionamento, proporcionando novos contatos e a apro­ ximação com os nossos clientes. Ficamos muito satisfeitos com os resultados obti­ dos na 17ª Febrava. Alexandre Faraco de Souza - Gerente de Marketing e Serviços da Elgin A feira foi muito positiva e conseguimos

efetuar grandes negócios durante o even­ to. Temos observado um crescimento importante do setor no mercado brasi­

leiro e também na América Latina. Esta­ mos otimistas em relação às perspectivas para os próximos anos. Ernani Nunes - Diretor de Negócios da Embraco Registramos muitos contatos com vi­

sitantes compradores que devem gerar resultados concretos entre dois a três meses, no máximo. Tivemos represen­ tantes de países da América do Sul e de todas as regiões do Brasil nos quatro dias do evento. Foi bom em todos os sentidos, e primou pela qualidade. Luiz Roberto Nunes - Gerente Geral da Emerson Climate Technologies Queremos contribuir para o desenvol­

vimento do Brasil, não só em termos de tecnologia, mas também em sustenta­ bilidade. Para isso lançamos na Febrava a linha Set Free Eco Flex, que renova a família VRF Set Free. Nossa intenção é crescer no mercado brasileiro, que apre­

senta excelentes perspectivas para os próximos anos. Kiyoshi Nagasawa - Presidente da Hitachi Ar Condicionado do Brasil Nossos clientes, ao entrarem no es­

tande, puderam constatar a nossa linha completa de produtos, de modo que, além da visão completa dos produtos fabricados, constataram o potencial da empresa em termos de tecnologia na­ cional. Cada centavo desembolsado na feira, com certeza, compensou o inves­ timento. Patrice Tosi - Diretora das Indústrias Tosi O composto adicional da 17ª Febrava foi

justamente o anúncio dessa junção entre as duas empresas. Certamente, isso trará resultados ainda mais positivos do ponto de vista dos negócios, além de trazermos vários lançamentos. Thiago Guerrer - Diretor Comercial da Midea Carrier


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destaque SUSTENTABILIDADE

Cidades em busca de

equilíbrio

e futuro Uma série de ações está em curso no Brasil e no mundo para criar espaços mais humanos e mais sustentáveis nas cidades. O desafio é integrar as áreas econômicas, sociais, culturais e ambientais para criar espaços que promovam qualidade de vida

{ por Paola Vasconcelos


Š Luiz Fernando Souza Fernandes | Dreamstime.com

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destaque SUSTENTABILIDADE

J

á faz mais de 30 anos que se co­ meçou a falar em sustentabilida­ de. O termo desenvolvimento susten­ tável está em voga nos discursos, nos conceitos, mas bem menos nas práti­ cas. Foi originalmente introduzido na Estratégia Mundial para a Conserva­ ção, documento elaborado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), em 1980, e afirma­ va que para alcançar a conservação dos recursos naturais do planeta se faz necessário o desenvolvimento, para aliviar a pobreza que aflige milhões de pessoas em todo o mundo. No entan­ to, a mais utilizada é outra definição, publicada no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial so­ bre Meio Ambiente e Desenvolvimen­ to, em 1987. Diz que desenvolvimento sustentável “é o que satisfaz as neces­ sidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. O Relatório Brundtland já apontava para a incompatibilidade entre desenvolvi­ mento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. Tornar todas as atividades susten­ táveis, sejam elas econômicas, sociais, culturais ou ambientais, nesses mes­ mos conceitos e definições, ainda é um grande desafio, mesmo depois de três décadas. Com as apocalípticas previsões relacionadas ao meio am­ biente, principalmente no cenário de mudanças climáticas e esgotamento das relações no mundo globalizado, existe uma verdadeira corrida mun­ dial para transformar as cidades em lugares mais equilibrados. E espera-se isso das práticas sustentáveis. Várias cidades espalhadas pelos continentes já estão em processo avançado de implementação de uma cultura sustentável, se comparadas às cidades brasileiras. No entanto, o Bra­ sil tem se destacado mundialmente

em relação aos investimentos e usos de fontes de energias renováveis, que respondem por 44,5% de toda a oferta de energia primária, e em relação ao nível de conscientização de sua popu­ lação. O número do uso de energias limpas é próximo do registrado pela Noruega (número 1 no ranking global do IDH 2011) e seis vezes maior do que os índices registrados na Europa e na Ásia Central, mas os outros in­ dicadores gerais ainda devem evoluir bastante para chegar ao ideal. Quem diz isso é o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2011, publicado em novembro de 2011 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e que aponta os desafios

para que o mundo alcance um pro­ gresso sustentável e equitativo. Com o tema “Sustentabilidade e equidade: um futuro melhor para to­ dos”, o documento argumenta que a sustentabilidade ambiental pode ser mais justa e eficazmente alcançada se forem abordados temas como as disparidades em saúde, educação, renda e gênero, juntamente com a ne­ cessidade de uma ação global sobre a produção de energia e a proteção dos ecossistemas. O relatório de 2011 faz muitas menções ao Brasil, colocando o País como exemplo a ser seguido em várias áreas, em especial, nas políticas que conjugam desenvolvimento humano, equidade e sustentabilidade. Parte


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Mas o que é realmente uma cidade sustentável?

© Alexandre Fagundes De Fagundes | Dreamstime.com

dessa avaliação positiva é creditada ao esforço das cidades em busca de me­ lhor qualidade de vida e também às emissões de dióxido de carbono. A administradora mundial do PNUD, Helen Clark, no prefácio do relatório diz que “a sustentabilidade não é, de modo exclusivo ou mesmo essencial, uma questão ambiental”, tal como o relatório tão persuasiva­ mente argumenta. “Tem fundamen­ talmente a ver com a forma como decidimos viver as nossas vidas, com a consciência de que tudo o que fa­ zemos tem consequências para os 7 bilhões de pessoas que nos rodeiam atualmente, bem como para os outros bilhões que se seguirão nos séculos vindouros”, diz Helen Clark.

É justamente dentro desse pen­ samento de integração pregado pelo PNUD que as cidades devem seguir seu caminho para promover a susten­ tabilidade. A consultora em sustenta­ bilidade e gestão da qualidade de vida, Deborah Munhoz, que é facilitadora do Grupo de Trabalho de Sustentabi­ lidade do Nossa Belo Horizonte, ex­ plica que as cidades são ecossistemas artificiais e incompletos e, enquanto os ecossistemas naturais possuem produtores, consumidores e decom­ positores, as cidades basicamente con­ somem tudo: energia, materiais, água. Descartam resíduos nos sistemas natu­ rais, utilizam muitos produtos tóxicos que envenenam os sistemas naturais e os próprios seres humanos. Para a consultora em sustentabi­ lidade e gestão da qualidade de vida, é muito importante que as pessoas entendam que uma vida sustentável nada tem a ver com vida primitiva. Segundo ela, não se trata de voltar para a “idade das cavernas”, mas ado­ tar um estilo de vida mais leve, menos estressado, mais significativo e menos supérfluo. “Parar de colecionar coisas e pessoas e passar a colecionar expe­ riências significativas de vida, relacio­ namentos significativos. Quando nos voltamos para o que é verdadeiramen­ te essencial, podemos perceber que podemos trabalhar menos, consumir menos coisas e viver mais”. Para uma cidade ser sustentável, de acordo com Deborah Munhoz,as pessoas tem que adotar um estilo de vida que realmente preserve a vida. “Ela tem que ser projetada, constru­ ída e administrada para reproduzir o design da natureza. No aspecto das

construções dos espaços, deve-se construir com a natureza e não con­ tra ela”, destaca. Isso significa que a cidade, con­ forme Déborah Munhoz, além de ser construída para as pessoas, deve res­ peitar o relevo, preservar a biodiversi­ dade local, o ciclo natural das águas, produzir seu alimento ou parte dele, preservar os serviços ecossistêmicos do local onde está inserida, ser autossu­ ficiente energeticamente, reciclar seus resíduos, eliminar substâncias tóxicas do seu funcionamento, dentre outros aspectos. Além disso, acrescenta que deve ter uma boa governança e trans­ parência no uso dos recursos públicos. “Nenhum país onde a economia está acima dos limites do planeta é sustentável. Para isso, nas palavras do eco-economista Hugo Penteado, o mo­ delo de economia deveria estar servin­ do às pessoas e as pessoas deveriam ter o seu estilo de vida inserido dentro da capacidade do planeta”, disse. Realmente não é um processo fá­ cil. No entanto, não é impossível. A especialista em Gestão Responsável para a Sustentabilidade, Vivian Blaso, que também é mestra e doutoranda em Ciências Sociais, além de profes­ sora do curso de pós-graduação em Construção Sustentável da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), considera que é possível, sim, ter uma cidade sustentável frente a essas grandes metrópoles, desde que sejam traçadas macroestratégias que estejam relacionadas à questão da mobilidade, que implica na qualidade de vida; a questão da eficiência energética, que implica na capacidade de reprodução e continuidade dos processos produti­


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destaque SUSTENTABILIDADE


© Casadphoto | Dreamstime.com

vos; e a questão da água. A mobilidade, segundo Vivian Bla­ so, está diretamente ligada à melhoria da qualidade de vida e impacta a qua­ lidade do ar. “O que tem acontecido no Brasil é que o aumento da frota de veículos tem piorado a qualidade do ar. Em São Paulo, por exemplo, além de ter 10 km por hora no trânsito, temos também estudos feitos pelo professor Paulo Saldiva, da Universidade de São Paulo (USP), que tem indicado que os problemas respiratórios principal­ mente relacionados à emissão de ga­ ses poluentes tem causado o aumento exponencial de mortes por doenças respiratórias e o aumento dos casos de internação”, informa. Os outros eixos estratégicos estão relacionados aos recursos naturais, na parte de eficiência energética e de abastecimento de água. “Água e ener­ gia estão intimamente relacionadas à questão de produção e consumo”, aponta. Quando se fala de produção e consumo, aparece também outro grande problema relacionado ao fu­ turo das cidades, que são os resíduos. “Quanto mais lixo se produz, maior a incidência de doenças, insetos, ve­ tores”, disse. No que diz respeito às iniciativas nas cidades dentro desses três eixos, Vivian Blaso destaca que o Brasil se encontra bem alinhado ao projeto sustentável. A visão do franco-brasileiro Iuli Nascimento, geógrafo e urbanista, co­ ordenadordoInstitutd’Amenagément et d’Urbanisme de Île de France, em Paris, mostra bem essa integração bra­ sileira, de uma forma geral, a um sólido projeto de sustentabilidade. Ele parti­ cipou no final de novembro de 2011, em Porto Alegre, do 10º Congresso Mundial Metropolis – Cidades em Transição, promovido pela Associação Mundial de Grandes Metrópoles (Me­ tropolis). Nesse evento, cerca de 800

líderes de mais de 150 grandes cidades se reuniram para trocar experiências sobre políticas públicas e sociais. “Hoje vemos que os problemas das grandes metrópoles é que elas conti­ nuam a crescer e que as desigualda­ des continuam a aumentar. E esse processo tem que ser parado. Isso é o que poderia trazer sustentabilidade às cidades. No Brasil, o programa lou­ vável e muito positivo de erradicar a extrema pobreza e de criar condições de regiões que antes não tinham nada de se desenvolverem, principalmen­ te depois da distribuição da Bolsa Família, é um exemplo. Além disso, a cooperação com os países vizinhos de América do Sul, a proteção das flo­ restas, a luta contra corrupção e uma

Uma cidade para ser sustentável precisa, antes de mais nada, de uma vontade política de um governo local de criar condições para que exista uma integração em todas as políticas setoriais de meio ambiente, econômica e social série de medidas que a presidente vem tomando colocam o Brasil no rumo certo”, avalia. Para Iuli Nascimento, uma cidade para ser sustentável precisa, antes de mais nada, de uma vontade política de um governo local de criar condições para que exista uma integração em todas as políticas setoriais de meio ambiente, econômica e social. “E que isso se faça de maneira integrada, o que não é fácil. O problema da gover­

nança é que cada temática é tratada de maneira diferente e é muito difícil colocar os diferentes atores, sociais e ambientais - públicos e privados - jun­ tos”, disse. Para Nascimento, a participação citadina é muito importante para se fazer um processo sustentável. “Tem que ter vontade política para se criar as condições necessárias para o andamento do processo de desen­ volvimento sustentável, fomentan­ do condições para que os diferentes interesses - sejam públicos, privados e do cidadão - convirjam na mesma direção”, destaca. O exemplo da região de Île de Fran­ ce, que agrupa a grande Paris, é um exemplo de decisão política. Confor­ me Iuli Nascimento, em 2004, quan­ do o presidente do Conselho Regional estava em sua primeira campanha eleitoral, executou um programa de ecologia política, que foi exatamente criar programas setoriais visando a sustentabilidade da metrópole. “Criação de programas setoriais de tratamento de lixo, de água e es­ goto, desenvolvimento do plano de preservação e proteção da biodiver­ sidade, um plano sobre clima, tudo isso foi feito para antecipar e atenuar os efeitos das mudanças climáticas. Com o Plano Clima, a intenção foi diminuir consideravelmente as emis­ sões de gases de efeito estufa e isso foi incentivado através da melhora do aquecimento das habitações, do transporte público para a população, que traz grande problema de poluição e de saúde; e também da criação de habitação para a população de baixa renda”, relata. Iuli Nascimento diz que fazer isso não é fácil, é preciso investimento para aos poucos ir desenvolvendo es­ ses programas. “Não se faz de um dia para o outro”.


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destaque CÓDIGO FLORESTAL

Experiências de um caminho Quando se fala em cidade susten­ tável no Brasil, a primeira que vem à mente é a capital do Paraná, Curitiba. Apesar de um exemplo emblemático, não é a única do País a buscar quali­ dade de vida para os seus habitantes. Muitas cidades, de pequeno, médio e grande porte, estão implementando práticas sustentáveis em busca não só da sobrevivência como do equilíbrio. A consultora em sustentabilidade e gestão da qualidade de vida, De­ borah Munhoz, que é facilitadora do Grupo de Trabalho de Sustenta­ bilidade do Nossa Belo Horizonte, destaca que alguns passos vem sendo dados na direção de uma cultura de sustentabilidade, tais como o cresci­ mento dos Movimentos das Cidades para Pessoas, como Nossa Belo Ho­ rizonte, Nossa São Paulo, Nossa Ilha Bela, o Movimento das Cidades em Transição, que realizam cursos em vários lugares no Brasil. “Esses mo­ vimentos realizam o despertar para a necessidade de maior uso de bicicle­

tas nas cidades, do direito ao uso de transportes públicos de qualidade, a maior fiscalização dos políticos pela população”, explica. No Brasil, as grandes cidades das regiões Sul e Sudeste, talvez por se­ rem mais estruturadas economica­ mente, saíram na frente na implan­ tação de projetos de sustentabilidade. Hoje, as metrópoles Curitiba, ao lado de Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo já executam ações sólidas para viabilizar a transição para “cidade sustentável”. O PNUD, no seu relatório “Sus­ tentabilidade e equidade: um futuro melhor para todos”, cita que a capital paranaense implementou com êxi­ to abordagens inovadoras quanto ao planejamento urbano, à gestão da ci­ dade e aos transportes para enfrentar o desafio do crescimento demográfi­ co rápido. De acordo com o relatório, Curitiba tem agora a mais elevada taxa de utilização de transportes pú­ blicos do Brasil, com 45% de todas as

viagens, e uma das mais baixas taxas de poluição do ar do País. A prefeitura da capital mineira tem iniciativas interessantes. Além de ter sido a primeira cidade a proibir o uso de sacolas plásticas no comér­ cio no Brasil, o que mexeu profunda­ mente com a cidade, realiza também o incentivo às hortas urbanas, o con­ sumo de alimentos orgânicos, a ofer­ ta da homeopatia e acupuntura nos postos de saúde assim como a do Lian Gong em diversos pontos da cidade incentivando a prática de exercícios físicos da cultura chinesa, o que con­ tribui para a redução do uso de medi­ camentos e, consequentemente, para a produção de lixo tóxico nas residên­ cias. Outra iniciativa é a oferta de cur­ sos de excelente qualidade, como o do Agente Ambiental e de Educação Ambiental ministrados pela Secreta­ ria Municipal de Belo Horizonte. Já a maior metrópole brasileira, São Paulo, vem realizando melhoria da habitação de interesse social, com


reduções de água, energia, coleta se­ letiva de lixo. A construção de par­ ques lineares, áreas verdes que aju­ dam na retenção dos efeitos dos gases de efeito estufa e proporcionam me­ lhoria da qualidade do ambiente ur­ bano, é também um destaque. Tanto nos estados de Minas Gerais como no de São Paulo há um guia para licita­ ção pública sustentável, com padrões e critérios que devem ser seguidos, como, por exemplo, uso de madeira sustentável. Na área de gerenciamento de re­ síduos sólidos, a amazônica capital do Acre, Rio Branco, vem realizando um importante trabalho e, por isso, recebeu o prêmio Eco­Cidade da As­ sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Lá, o projeto Unidade de Tratamento e Disposição Final de Re­ síduos Sólidos de Rio Branco realiza

o tratamento e disposição final de re­ síduos sólidos urbanos, processando, atualmente, cerca de 200 toneladas por dia. Antes da construção da uni­ dade, que absorveu investimentos da ordem de R$ 12 milhões, o lixo pro­ duzido em Rio Branco era encami­ nhado para um lixão, que funcionou na cidade por 20 anos e foi encerrado em outubro de 2009, quando o novo aterro sanitário entrou em operação. A cidade de Nova Olinda, na re­ gião do Cariri, no Ceará, tem uma organização chamada Fundação Casa Grande ­ Memorial do Homem Ka­ riri, que desenvolve um projeto que tem como missão a formação edu­ cacional de crianças e jovens prota­ gonistas em gestão cultural por meio dos programas Memória, Comunica­ ção, Artes e Turismo. Os programas de formação desenvolvem ativida­ des de complementação escolar por

meio dos laboratórios de conteúdo e produção. O objetivo é a formação interdisciplinar das crianças e jovens, a sensibilização para ver, ouvir, fazer e conviver com acesso à qualidade do conteúdo e ampliação do repertório. Hoje é uma escola de referência em educação e tem a visão de levar “o mundo ao sertão”. Para proporcio­ nar o acesso de outras comunidades, foi criado o “Turismo de Conteúdo”, abrindo à pesquisa os laboratórios de conteúdo da fundação para um público que, em 2006, chegou a 28 mil pessoas, nove vezes a população urbana da cidade. Para atender esta demanda, a Fundação Casa Gran­ de criou uma cooperativa (COO­ PAGRAN) para promover a Casa Grande como um destino turístico e formar meninos e meninas para o receptivo turístico: recepcionistas, guias de campo e relações públicas.

Brasil em destaque O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2011, publicado em novembro de 2011 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), destaca como positivas as experiências brasileiras na busca da sustentabilidade. Com o tema “Sustentabilidade e equidade: um futuro melhor para todos”, o relatório diz que o Bra­ sil emitiu em 2008 um total de 2,1 toneladas per capita, enquanto a China emitiu um total de 5,2 toneladas; nos países que ocupam o topo do ranking do IDH, este número é muito maior. Nos Estados Unidos, por exemplo, a emissão per capita de CO² estava em 17,3 em 2008. Isso evidencia, conforme o PNUD, que o grande desafio de países do BRICS, como China, Índia e Brasil, é conciliar o desenvolvimento econômico e social com os critérios de sustentabilidade. O relatório mostra que, de 1970 a 2008, o ritmo de crescimento anual do Brasil na emissão per capita de dióxido de carbono foi de 2%, enquanto na China este número foi de 4,6%, ou seja, mais que o dobro. Os níveis de conscientização frente aos problemas ambientais da população brasileira também foi um destaque. O Brasil e a região da América Latina e Caribe como um todo aparecem em destaque também por apresentar o maior nível de conscientização frente aos problemas ambientais. De acordo com as pesquisas, 94,8% dos entrevistados da região dizem que o aquecimento global representa uma grave ameaça ao meio ambiente, um número expressivo comparado à média global, que é de 67,9%. Já o percentual de entrevistados na região que acreditam que o aquecimento global é causado pelos seres humanos é de 72,8%, frente a uma média mundial de 53,5%. No Brasil, este número sobe para 81,3%. Em termos de satisfação geral com a vida, numa escala de 0 a 10, os brasileiros declaram, em média, um nível de satisfação de 6,8, número que também fica acima da média global, de 5,3.


destaque SUSTENTABILIDADE

Iniciativas que apoiam a sustentabilidade das cidades

Programa Cidades Sustentáveis Tem o objetivo de sensibilizar, mobilizar e oferecer ferra­ mentas para que as cidades brasileiras se desenvolvam de forma econômica, social e ambientalmente sustentável. Desenvolveu uma plataforma com experiências sustentá­ veis de cidades do mundo inteiro. http://www.cidadessustentaveis.org.br/

Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis Tem como missão comprometer a sociedade e sucessivos governos com comportamentos éticos e com o desenvol­ vimento justo, democrático e sustentável de suas cidades. A rede é integrada por movimentos e organizações aparti­ dários e inter-religiosos http://rededecidades.ning.com/

Mobilize Brasil É o primeiro portal de conteúdo de mobilidade urbana do Brasil. Contém notícias, estudos, fotos, vídeos, entre outros. Dispõe de espaço para interação, como comparti­ lhamento de situações e divulgação de ações. http://www.mobilize.org.br/

Observatório das Metrópoles Um grupo que funciona como um instituto virtual, reunindo hoje 159 pesquisadores e 59 instituições dos campos universitário, governamental e não governa­ mental, sob a coordenação geral do IPPUR - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional daUFRJ.. Vem trabalhando sobre 14 metrópoles e uma aglomeração urbana. http://www.observatoriodasmetropoles.net/


Foto: Wilson Dias/ABr

“ Sustentabilidade é um modo de ser, um ideal de vida”

A ex-ministra do Meio Am­ biente do Brasil e também ex-sena­ dora Marina Silva é uma das persona­ lidades brasileiras mais importantes quando se trata de desenvolvimento sustentável. Mesmo sem mandato po­ lítico, Marina Silva, que obteve quase 20 milhões de votos na última eleição presidencial, corre os quatro cantos do País divulgando e espalhando a importância da sustentabilidade. No fim de setembro de 2011, em Forta­ leza (CE), ela realizou palestra em evento de tecnologia da informação sobre o tema. A sustentabilidade é um modo de ser ou de fazer? Para Marina Silva, a

sustentabilidade, o desenvolvimento sustentável, não é uma maneira de fa­ zer as coisas, é um modo de ser, é um ideal de vida. “Não é uma forma de nos adaptarmos para continuarmos no caminho que estamos traçando, mas é uma forma de pensar o ide­ al para sustentabilidade como uma questão de vida. Eu diria que é funda­ mental a gente pensar o mundo em que estamos vivendo. Nós estamos vivendo em um mundo em crise eco­ nômica, social, ambiental e uma crise de valores”, disse. Na crise ambiental, conforme Ma­ rina Silva, existe a degradação dos so­ los, contaminação dos rios, poluição

do ar, perda de biodiversidade. “Hoje se perde mil vezes mais biodiversida­ de do que há 50 anos e um dado im­ portante é que a economia dos países, o seu PIB, depende cerca de 50% da sua biodiversidade. A gente celebra quando cresce 4%, 5% ,7% ao ano. Quem em sã consciência destruiria 50% do seu Produto Interno Bruto? No entanto, a gente vem fazendo isso progressivamente. As bases naturais do desenvolvimento são os recursos naturais, são as bases naturais que vão se transformando em produtos que são elaborados, processados pelas no­ vas tecnologias e conhecimento, mas precisamos e ainda não prescindimos


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destaque SUSTENTABILIDADE dessas bases naturais”, destaca. Segundo a ex-ministra, o planeta já está no vermelho em 30% e sua capa­ cidade de recuperação já está esgota­ da porque não é mais capaz de reagir na velocidade do consumo em que os recursos são subtraídos. “Isso é a crise ambiental”, explica. Além disso, existe também o pro­ blema das mudanças climáticas, que a partir da Revolução Industrial, pela ação do homem, com altas emissões de CO2 na atmosfera, faz com que a temperatura da Terra esteja aumen­ tando. Segundo Marina, os cientistas dos paineis intercontinentais das Nações Unidas afirmam que, se essa temperatura aumentar em 2 graus, o planeta pode entrar num processo de desequilíbrio que pode comprometer a continuidade da vida. “Mas, para além disso, que é catastrófico, que a gente não sabe quando, com aumento da temperatura, a gente entra num processo de declínio das condições que sustentam a vida, e imediata­ mente a gente já pode sofrer com o derretimento das calotas polares, a elevação do nível dos mares, e países inteiros podem desaparecer”, explica. Com o aumento das temperaturas, Marina Silva alerta que pode ter regi­ ões em que as chuvas serão concentra­ das em poucos meses, com precipita­ ções violentas causando enchentes, e não será possível viver nessas regiões. Em outros lugares, segundo ela, ne­ nhuma chuva haverá e as pessoas pas­ sarão a sofrer sem a presença material da água. “O que é semi-árido passa a ser deserto. É o caos que poderemos ter de dois bilhões de seres humanos como refugiados ambientais”. Para a ex-senadora, o problema das mudanças climáticas é uma espé­ cie de Armagedon ambiental. “E para algo que é tão grande, tão complicado, nós temos que reduzir, até 2050, em

80% as emissões de gases poluentes. Hoje temos o desafio de mudar a nossa economia para que ela se torne mais sustentável. Até 1995, cada tonelada de CO2 equivalente produzia cerca de 850 dólares. Em 2010, cada tonelada equivalente produz 1.200 dólares. Para chegarmos em 2050, com aquela redução de 80% das emissões, é preci­ so que a gente produza cerca de 20 mil dólares em toneladas de CO2 equiva­ lente. Isso é praticamente impossível, mesmo com os avanços tecnológicos”. O desenvolvimento sustentável, segundo ela, veio em socorro da crise econômica, social e ambiental , mas não para se pensar como apenas uma adaptação para fazer melhor, mas uma transformação para ser melhor.

“É a idéia de ser um cidadão sustentável e a sustentabilidade se realiza em várias dimensões. As Nações Unidas estabelecem que um modelo de desenvolvimento para ser sustentável é preciso que o seja no seu aspecto social, cultural, ambiental e econômico” “É a idéia de ser um cidadão sustentá­ vel e a sustentabilidade se realiza em várias dimensões. As Nações Unidas estabelecem que um modelo de de­ senvolvimento para ser sustentável é preciso que o seja no seu aspecto social, cultural, ambiental e econô­ mico”, disse. No aspecto social, é preciso, de acordo com Marina Silva, que as

pessoas tenham igualdade de oportu­ nidades para desenvolver suas poten­ cialidades, qualidade de vida, saúde, entretenimento, educação. Um mo­ delo de desenvolvimento é sustentá­ vel, do ponto de vista social, quando oferece para a sociedade a sustentabi­ lidade social que se expressa em saú­ de de qualidade, entretenimento e as pessoas possam ter uma vida plena. Já o modelo de desenvolvimento sustentável, do ponto de vista eco­ nômico, acontece quando ele trans­ forma as vantagens competitivas em melhoria da qualidade de vida das pessoas, traduzindo em igualdade de oportunidades para todos. Para ser sustentável do ponto de vista cultural, Marina defende que não se pode, em nome do desenvolvimento, eliminar as culturas. “Um modelo de desen­ volvimento sustentável tem que asse­ gurar a s condições sociais e culturais para manter a diversidade. Não existe possibilidade de troca na mesmice, só há troca na diferença”, disse. O Brasil, segundo a ex-ministra, é o País que mais reúne as condições para fazer uma inflexão no modelo de desenvolvimento. “Os países ricos tem uma média de 13% de energia limpa e o Brasil tem 45% de matriz energética limpa. Outros países não tem terras e nós temos 351 milhões de hectares de áreas agricultáveis, temos o maior nível de insolação do mundo e a Alemanha, com quase nada de sol, tem 10% de geração de energia solar. E nós, com tudo isso, temos quase nada”. Para ela, o desenvolvimento sus­ tentável precisa ser pensado como um processo histórico a ser implementa­ do, usando o melhor da tradição e o melhor da modernidade, fazendo o diálogo dos saberes. “Para isso é pre­ ciso três coisas: visão, processo e es­ trutura”, finaliza.


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personagem ENTREVISTA

JAIME LERNER

“Toda cidade pode melhorar sua qualidade de vida em dois ou três anos” Os desafios para a qualidade de vida nas cidades brasileiras referemse, principalmente, à mobilidade, sustentabilidade e identidade. Ao elencar estes temas, o arquiteto Jaime Lerner defende o transporte público de qualidade como prioridade. Em entrevista, ele explica os contornos deste e de outros desafios

{ Carol de Castro


Foto: Ricardo Soubhia

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personagem ENTREVISTA

JAIME LERNER

o administrar Curitiba, por três gestões, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner colocou a cidade na lista das mais sustentáveis do mundo. Ele liderou a revolução urbana que fez da capital para­ naense referência nacional e internacional em planejamento urbano, principalmente em transporte, meio ambiente, pro­ gramas sociais e projetos urba­ nísticos. Duas vezes governador do Paraná, conduziu importan­ tes transformações econômicas e sociais, com políticas de indus­ trialização, infraestrutura, capa­ citação e melhoria da qualidade de vida no campo e nas cidades. Fundou o Instituto Jaime Lerner e a Jaime Lerner Arquitetos Asso­ ciados, e foi presidente da União Internacional dos Arquitetos (UIA) no período 2002/2005. Pelo reconhecimento de sua obra, recebeu diversos prêmios e títulos internacionais, com destaque para o Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente (1990), o Unicef Criança e Paz (1996), o 2001 World Technology Award for Transportantion, o 2002 Sir Robert Mathew Prize for the Improvement of Quality of Human Settlements, pela União Internacional dos Arquitetos, e o Prêmio Volvo Environment Prize 2004. Recentemente, foi

indicado pela revista Time como um dos 25 Pensadores mais Influentes do mundo em 2010. Com esta experiência reconhe­ cida, Jaime Lerner concedeu a seguinte entrevista sobre os desafios do desenvolvimento das cidades, a tarefa do Rio de Janeiro em sediar Copa e Olim­ píadas, orçamento de projeto, acupuntura urbana, nomes que contribuíram para a arquitetura e novas propostas para o futuro sustentável. Renergy:: Na sua análise, qual sua principal contribuição para Curitiba? Jaime Lerne R:: Entendo que a minha maior contribuição foi fazer acontecer um sonho coletivo. Envolver a população na construção de uma visão compartilhada de futuro, e trabalhar para encontrar as equações de co-responsabilidade nas quais todos os setores - público, privado, sociedade civil – foram convidados a contribuir. R:: O senhor acredita mesmo que qualquer cidade, no mundo, poderia ser “melhorada” em menos de três anos? JL:: Sim. Estou convicto que toda cidade, independente de seu tamanho ou afluência, pode melhorar significativamente sua qualidade de vida em dois ou três anos. Mas há que se acreditar que é possível, pois há muito esforço investido em descrever quão difíceis e complexos são os pro­ blemas, e pouco esforço efetivo em aplicar soluções. E se você projetar tragédia encontrará tra­ gédia. Para mim, o entrave não


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é a escala ou falta de recursos. Se há uma boa estratégia, se há vontade política, e se há solida­ riedade, há muito que se fazer no curto prazo. O planejamento de uma cidade é um processo que permite correções, sempre. É um equívoco grave acreditar que o planejamento só pode ser efetivado após se dominar cada variável possível. O mundo pede por soluções cada vez mais rápidas, e é no nível local que podem se dar as respostas mais ágeis – com o planejamento focado nas pessoas. Em tempo, o efeito de demonstrativo é crucial para mobilizar a sociedade para mudança. Assim, mais uma vez, a importância de começar. R:: Quais os desafios para a qualidade de vida nas cidades brasileiras? JL:: Além das questões básicas como saúde, educação, atenção à criança e ao idoso, as cidades precisam construir boas equa­ ções de co-responsabilidade para lidar com os três principais desafios para a qualidade da vida urbana: mobilidade, sustentabi­ lidade e identidade/coexistência. Em termos de mobilidade, temos que dar prioridade ao transporte público de qualidade, que per­ mita aos usuários utilizá-lo com dignidade, conforto, segurança e eficiência. E para ofertar essa opção, cada cidade precisa utili­ zar, da melhor e mais eficiente maneira possível, todas as opções de deslocamento disponí­ veis: ônibus, metrô, trem, carros, táxis, bicicletas. A chave reside em não ter sistemas competindo no mesmo espaço; reside na combinação, integração e ope­

A tecnologia não deve ser isolada dos dois outros fatores que mais contribuem para o impacto ambiental das atividades humanas: o tamanho da população e seu nível de afluência

ração inteligente daquilo que existe. É fundamental entender que os sistemas de transporte são mais que um conjunto de linhas: são uma rede, e necessitam fun­ cionar como tal. Acredito que o futuro do transporte esteja na superfície – ônibus, devido a sua maior flexibilidade, menor custo e maior agilidade na implan­ tação. Com as características adequadas, tais como canaletas exclusivas, embarque pré-pago e em nível e frequência elevada, é possível alcançar um desempe­ nho similar ao metrô. Trata-se de “metronizar” o ônibus. Ainda há que se considerar a utilização de veículos individuais associados aos demais elementos da rede pública de transporte, como é o caso do Velib em Paris. R:: E quanto à sustentabilidade? JL:: Coisas simples da rotina diária das cidades podem ser parte da solução: como todos podemos ajudar ao usar menos o carro, especialmente nos iti­ nerários de rotina; separar em casa o lixo orgânico do reciclá­ vel; morar mais perto do seu trabalho ou trabalhar mais perto de casa. Ainda, dar múltiplas funções durante as 24 horas do dia às infra-estruturas e equipa­ mentos urbanos, economizar o máximo e desperdiçar o mínimo. É importante utilizar materiais – cimento, metal, vidro, madeira, plástico – e técnicas construtivas mais sustentáveis, mais eficien­ tes do ponto de vista energético. Mas será de pouca valia se mover de um “prédio verde” para outro se o desenho da cidade em si não for sustentável. É na concepção


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das cidades que as maiores e mais significativas contribuições para uma sociedade mais sustentável podem ser feitas. Alguns parques de Curitiba, como o Barigui, o São Lourenço e o Iguaçu, foram concebidos dentro desta pers­ pectiva. São espaços públicos que desempenham múltiplos serviços para a cidade: protegem remanescentes florestais impor­ tantes; previnem a ocupação de áreas de maior fragilidade; ofe­ recem oportunidades de lazer, entretenimento, contemplação; criam referências urbanas e con­ vidam ao encontro. O conjunto se traduz na melhoria da qualidade de vida dos curitibanos. Mas é importante recordar que eles só existem porque foram pensados como parte de uma concepção maior de cidade que, além de ponderar todos esses elementos, optou por desenvolver um sis­ tema de macrodrenagem urbana que, ao invés de canalizar esses rios, deixou-os seguir os mean­ dros de seu curso natural, pro­ tegeu suas várzeas e criou, com os lagos e utilização de cavas, bacias de contenção de cheias. É o desenho da cidade trabalhando em prol da sustentabilidade. A sustentabilidade é uma equa­ ção entre o que é economizado e o que é desperdiçado. Assim, se sustentabilidade=economia/ desperdício, quando o desper­ dício é zero, a sustentabilidade tende ao infinito. R:: E a identidade? JL:: Identidade é um fator pre­ ponderante da qualidade de vida urbana. Representa a síntese do relacionamento entre o indiví­ duo e sua cidade. As referências

urbanas são de múltiplos tipos. Por exemplo, centros históricos com seus bens tombados são pontos de referência importan­ tíssimos, intimamente relaciona­ dos à memória da cidade desde sua fundação. Entretanto, essas áreas frequentemente sofrem com processos de desvaloriza­ ção e degradação. Encontrar formas de manter esses distritos vibrantes conectando elemen­ tos de identidade, reciclando usos superados e acolhendo um mix diversificado de funções é fundamental. Existem ainda os elementos que são imateriais, mas que permeiam as diversas camadas da identidade de uma cidade. Os traços culturais, hábi­ tos e manifestações artísticas das diferentes etnias que a compõem são um exemplo. É importante criar no meio urbano espaços públicos onde essas múltiplas características possam ser exi­ bidas e compartilhadas. Parques podem ser palcos desse processo, abrindo espaço para celebrar a diversidade, que faz parte da vida urbana. A cidade tem que ser o cenário do encontro, da acolhida e valorização da diversidade: de funções, de idades, de rendas, de usos, de tipologias. É o espaço que agrega e integra – quanto maior a mistura, mais humana ela será. Cidades democráticas não tem guetos de pobres nem de ricos. A “sociodiversidade” compreende a necessidade de acolher e cele­ brar a multiplicidade de pessoas de diferentes povos, idades, cre­ dos, raças, rendas, que compõem o mosaico da cidade, ao mesmo tempo em que se preservam as características que definem a identidade de cada uma. É isso


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que ajudará a garantir a coesão social, a segurança urbana e, no limite, a possibilidade das trocas na cidade, o desejo de se congre­ gar em seus espaços comuns – ruas, praças, parques, mercados, calçadões, feiras. R:: O senhor acredita que o Rio está preparado para as Olimpíadas e o Brasil para a Copa do Mundo? JL:: Tanto em um caso como no outro, é necessário colocar o foco nas intervenções com maior potencial de melhorar a qualidade de vida. Aproveitar o investimento para coisas defi­ nitivas, como infraestrutura e transporte público. É bom que se diga que, para uma cidade ser boa para seus visitantes, ela deve ser boa para seus habitantes. Há que se aproveitar a oportunidade para fazer bem para o momento e melhorar para sempre. É um tributo ao desperdício deixar um equipamento ocioso após a realização desses eventos. Isso aconteceu em muitas ocasiões, e não deve acontecer no Rio de Janeiro e nas demais cidades que sediarão a Copa do Mundo. Todas as vezes que se preparou especialmente um só setor da cidade para esses eventos não se conseguiu bons resultados. Ate­ nas é exemplo disso. Já Barcelona aproveitou bem a oportunidade. Ainda, o Governo Federal tem a valiosa oportunidade de cor­ rigir a deformação que se criou com a Copa do Mundo e com os Jogos Olímpicos. Não há falta de estádios. O grande problema é a logística aérea do País e a mobili­ dade urbana. Se resolverem essas questões, valerá à pena.

Governo Federal tem a oportunidade de corrigir a deformação que se criou com a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. O grande problema é a logística aérea do País e a mobilidade urbana.

R:: O senhor costuma dizer que “a criatividade começa quando se corta um zero do orçamento”. Isso se aplica a todos os projetos urbanistas de que o senhor já participou? Poderia citar algumas destas ideias criativas de baixíssimo custo? JL:: Nós sempre amarramos nossas soluções com um com­ promisso com a simplicidade. O sistema de transporte, os par­ ques, o programa “lixo que não é lixo”, para citar apenas algumas das iniciativas inovadoras que Curitiba implementou, ilustram com clareza esse compromisso. Costumo dizer que se você quer criatividade, corte um zero do orçamento; se quer sustentabi­ lidade, corte dois; solidariedade, assuma a sua identidade respei­ tando a diversidade. É preciso entender que nem sempre são necessárias grandes e sofistica­ das estruturas. Duas iniciativas muito simples que surtiram resultados muito animadores foram o Comboio Cultural e os Jogos Mundiais da Natureza, implementadas enquanto estava no governo do Paraná. Com o Comboio Cultu­ ral, utilizando ônibus adaptados que viajaram todo o território do Paraná e se transformavam em palcos itinerantes para manifes­ tações artísticas – teatro, ópera, dança, marionetes, música clássica e popular, circo – e oportunidades de aprendizado e trocas – internet, biblioteca, lançamento de livros , conse­ guimos com muita criatividade e simplicidade ampliar o acesso à cultura. Apenas no período de 1991/1992, 1,25 milhão de


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pessoas assistiram as 1.300 apre­ sentações do Comboio Cultu­ ral. Com os Jogos Mundiais da Natureza, realizados em 1997 na região oeste do estado (Foz do Iguaçu a Guairá, no entorno da barragem de Itaipu e das Catara­ tas do Iguaçu), organizamos uma versão dos “jogos olímpicos”, tendo a natureza como cená­ rio principal, e as modalidades esportivas se utilizando desses elementos ao invés de estruturas permanentes. R:: O senhor poderia explicar o que é acupuntura urbana? JL:: “Acupuntura Urbana” é uma intervenção estratégica pontual que cria uma nova energia na cidade, que pode tanto ajudar a consolidar a visão de longo prazo quanto tratar situações que estejam comprometendo a saúde do tecido urbano. Como na medicina, é um toque rápido e preciso em um ponto chave que irá desencadear reações em cadeia positivas que melhoram o sistema como um todo. Atual­ mente, a minha prática profissio­ nal tem possibilitado conceber esses diferentes projetos estraté­ gicos em várias cidades, pesqui­ sando as acupunturas adequadas para cada ambiente urbano, sob medida. Novas metáforas, como o desenho de pássaros se contra­ pondo ao desenho do avião em Brasília, a criação de referências urbanas que celebram a história e a memória em Santiago de Los Caballeros (República Domini­ cana), a construção de elemen­ tos de identidade urbana a partir dos espaços públicos em Luanda, uma metrópole sem periferia para São Paulo, uma referência

A experiência tem mostrado que mudanças na direção de decisões mais altruístas não ocorrem pela consciência de incertezas, e muito menos pelo conhecimento de riscos

ao patrimônio cultural do País no Parque da Bossa Nova no Rio de Janeiro são “acupunturas” que podem representar ganhos expressivos em qualidade de vida para esses ambientes urbanos. R:: Quais as características de um bom arquiteto urbanista? JL:: Acredito que a principal seja compreender que a cidade é uma estrutura integrada de vida, trabalho e mobilidade: não se separar funções, não afastar o trabalho da moradia. Ainda, como profissionais da proposta devem se empenhar na tarefa de apresentar ideias, projetos, cenários capazes de capturar a imaginação da população e assim mobilizar seu imenso potencial transformador. R:: Oscar Niemeyer é o maior arquiteto do Brasil, na sua opinião? Quais outros grandes nomes brasileiros da Arquitetura e Urbanismo o senhor citaria? JL:: Sem dúvida, o Oscar Nie­ meyer é um dos maiores nomes da arquitetura mundial. São também nomes importantes da nossa arquitetura e urbanismo Paulo Mendes da Rocha, Gus­ tavo Pena, Jorge Wilheim. R:: O que acha do projeto Cidade X, de Eike Batista? JL:: Acredito que é uma oportu­ nidade ímpar de estabelecer uma referência urbanística de vanguarda e de sustentabili­ dade, bem como de pensar uma estratégia de desenvolvimento integrado para municípios que vão receber investimentos de grande monta.


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3r’s

reduzir, reutilizar, reciclar

RESÍDUOS SÓLIDOS

Vidro A origem do vidro não é precisa, embora haja relatos de que já fosse conhecido pelo menos a 4.000 anos a.C. Também não é possível determinar o tempo de permanência no meio ambiente sem se degradar, uma vez que seu material é inerte. A substância adquiriu ao longo dos tempos uma posição de destaque na sociedade, graças a suas características de inalterabilidade, dureza, resistência e propriedades térmicas, óticas e acústicas. Além da beleza e utilidade, o vidro não é diretamente nocivo ao meio ambiente e é totalmente reciclável. Entretanto, se considerado o volume nos aterros sanitários, é o campeão em entulhos e pode se acumular no ambiente ao ponto de não ter espaço suficiente para comportá-lo.

REDUZIR Uma parceria entre as multinacionais Sabic Innovative Plastics e Ulvac propõe a substituição dos vidros das janelas dos carros por paineis transparentes de resina de policarbonato. A medida reduzirá o peso geral do veículo, melhorando o desempenho do motor e ainda obedece às novas regras que determinam redução de consumo e emissões.

REUTILIZAR As embalagens de vidro podem ser reaproveitadas sem que haja problemas de deformação ou absorção de sabores quando lavadas em altas temperaturas ou com detergentes adequados. Os recipientes de vidro também podem ser reutilizados para funções diferentes daquelas para que foram produzidos. Uma garrafa de bebida pode ser um lindo vaso de flores, por exemplo.

40% DAS EMBALAGENS DE VIDRO PRODUZIDAS NO BRASIL SÃO DE MATERIAL RECICLADO E A EXPECTATIVA É QUE ESTE NÚMERO AUMENTE.

RECICLAR O vidro é 100% reciclável e o processo é basicamente derreter a peça para sua reutilização, numa verdadeira economia de energia e matéria prima. Atualmente estima-se que mais de 40% das embalagens de vidro produzidas no Brasil são de material reciclado e a expectativa é que este número aumente. Um recipiente de vidro reciclado possui as mesmas características daquele fabricado com matéria prima virgem, independentemente do número de vezes que o material for utilizado.


Como?

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guia verde

REDUÇÃO DE CONSUMO

Dicas para evitar desperdício de água Somos sete bilhões de pessoas no mundo e quase um bilhão não tem acesso à água potável suficiente. Uma torneira pingando esporadicamente gasta 1.380 litros de água por mês. Além de aliviar o bolso, usar racionalmente água e energia significa melhoria na qualidade de vida do planeta. Com a água, cozinhamos os alimentos, matamos a sede, fazemos higiene pessoal e, aqui no Brasil, geramos a energia elétrica que abastece residências, comércio, indústria, escolas, ruas, órgãos públicos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha o gasto individual, máximo, de 80 litros/ dia para alimentação e higiene pessoal. Alguns cuidados em casa podem reduzir o desperdício de água, assim como nas empresas que investem em projetos ambientais.

1

Na cozinha. Lavar louça a mão: limpe os pratos e as panelas, deixe-os de molho e ensaboe. Numa bacia/balde, junte quantidade suficiente para enxaguar a louça, controlando a água usada sem desperdiçar. Não deixe a torneira aberta durante a lavagem, pois desperdiçará até 105 litros. Se for realmente necessário usar a máquina de lavar louça, só use quando estiver bem cheia (antes de comprá-la, verifique seu consumo de água), pois são gastos 40 litros. Os bebedouros ou filtros de água de beber devem estar sempre bem regulados para evitar vazamentos.

3

No jardim, quintal ou calçada. Primeiro, use a vassoura e mantenha a área sempre limpa. Caso seja necessário, lave o jardim, quintal ou calçada uma ou duas vezes, no máximo, na semana, com um balde da água que você reaproveitou da máquina de lavar ou de outros locais, pois com mangueira gasta-se em média 280 litros. Aproveite também a água das chuvas, captando-a na saída das calhas. Não cubra todo o seu jardim com cimento, deixando sempre um espaço para as plantas e aproveitando as águas da chuva naturalmente.

2

No banheiro. Ao escovar os dentes, molhe a escova e feche a torneira enquanto escova os dentes. Para enxaguar a boca, use um copo, economizando, assim, mais de 11,5 litros de água. Lavar o rosto com a torneira aberta consome, em apenas um minuto, 2,5 litros de água. Para se barbear, em cinco minutos, são desperdiçados 12 litros de água. Portanto, para economizar, encha um recipiente com água em quantidade suficiente para fazer a barba, da mesma forma como se faz quando vai se lavar louça. Nas torneiras, instale um aerador para reduzir a vazão, já que uma torneira aberta gasta de 12 a 20 litros/minuto e, pingando, gasta 46 litros/dia, resultando em 1.380 litros por mês de água desperdiçada.

4

Grandes consumidores. Algumas empresas apostam em projetos para oferecer qualidade superior. Eles possibilitam desde a captação de água em profundidade, tratamento, distribuição como água potável, tratamento de esgoto para reuso.


se ligue agenda { 88 } renergy. ano 2 > # 8 > 2011

DICAS DE LIVROS, SITES, FILMES E MUITO MAIS

evento

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), que está sendo organizada em conformidade com a Resolução 64/236 da Assembléia Geral (A/RES/64/236), irá ocorrer no Brasil de 13 a 22 de junho de 2012 marcando o 20º aniversário da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992, e o 10º aniversário da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (WSSD), ocorrida em Johanesburgo em 2002. Com a presença de Chefes de Estado e de Governo ou outros representantes a expectativa é de uma conferência do mais alto nível, da qual resultará a produção de um documento político.

projeto

O objetivo do Projeto Arara Azul, que completou 22 anos, é evitar a extinção da espécie no Pantanal Sul Mato-Grossense. Atualmente existem cinco mil na região, sendo que em 1990 eram computados 1.500. Até o final de julho, deste ano, foram monitorados 110 ninhos da arara.

livro

Produzido pelo fotógrafo Adriano Gambarini e pela jornalista Laís Duarte, o livro Água, Conservação e Cultura reúne mais de 130 fotos tiradas em diferentes países que revelam a presença da água nas mais variadas situações e paisagens.

campanha

O Instituto Supereco lançou a campanha “Salve com Abraço” em parceria com a Associação Pró-Muriqui, com o objetivo de unir a pesquisa, a conservação, a educação e a mobilização social para preservar o macaco muriqui-do-sul, criticamente em perigo de extinção, pois só existe na Mata Atlântica do Brasil. A proposta educativa da campanha é integrar ao currículo escolar a temática do Muriqui como “plantador de florestas” e “protetor das águas” pela recomposição das matas ciliares, de forma transversal, no maior número instituições de ensino da Mata Atlântica.


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o último apaga a luz

Visite projetos dos artistas do Coletivo Base / Baião Ilustrado: www.baiaoilustrado.com.br

Quem sustenta as cidades? Ilustração: Thyago Cabral




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