B L A D E

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OS VILÕ E S TA MB É M A MA M

S I L LVA

DU O LO GI A C RIMINOS OS

M A R I

UM ROMANCE POLICIAL DE

BLADE



“Yin Yang é um princípio da filosofia chinesa, onde Yin e Yang são duas energias opostas. Yin significa escuridão sendo representado pelo lado pintado de preto, o mau. E Yang é a claridade, o bem. Segundo os chineses, o mundo é composto por forças opostas e achar o equilíbrio entre elas é essencial. Poucos conseguem essa dádiva, mas quando acontece, é ‘para todo o sempre’”.



PRÓLOGO

TREZE ANOS ANTES…

— Cara, esse foi um dos nossos melhores assaltos! Cinquenta milhões limpinhos em notas de cem dólares, é um novo recorde — disse Li Xing, o chinês cabeça da equipe. O que faltava no tamanho de Li, com pouco mais de um metro e meio de altura, compensava no cérebro. Trajava uma espécie de colã preto de mangas compridas, extremamente grudado ao corpo, peça produzida por ele mesmo com um tecido à prova de balas, entre outras infinidades de funções. O pobre coitado mal estava conseguindo carregar nas costas a mochila cheia de maços de dinheiro. Haviam acabado de roubar o cofre de um cassino famoso em Las Vegas e estavam traçando a rota de fuga por debaixo da cidade através de bueiros. — É isso aí, China, somos uma equipe infalível! Entramos e saímos com o que queríamos sem sermos vistos — disse Julius Pérez, homem tão forte que seria capaz de derrubar um elefante com um soco. Julius era o mais descolado, usava calça jeans clara com rasgos pela extensão vertical, camiseta branca e óculos escuros da Prada com a armação toda revestida em ouro e pequenas pedras de diamantes nas laterais das lentes. Nasceu no México, porém teve que fugir do país ainda adolescente após roubar o carro de um mafioso mandachuva da cidade. Ou fugia, ou morria! O mexicano chamava a atenção por onde passava, pois além de ter uma beleza bruta, ele era como uma torre com seus dois metro e quinze de puro músculo, mas o coração era mole feito manteiga. Sua paixão eram as crianças e os animais. — Dá para calarem a boca? Não estou com paciência para os assuntos banais de vocês dois — vociferou Estevão Salvatore totalmente exasperado, crítico e cheio de ironia, afinal, era mestre nisso.


Estevão tinha uma aparência gótica com seus cabelos longos e negros como a noite e a pele branca feito a neve, olhos azuis penetrantes como se pudesse ler a alma de quem o olhasse por muito tempo. Bem-nascido e com sobrenome nobre, tinha a elegância e sofisticação impregnada em seu sangue azul. Mesmo com seu estilo bem evidente nas vestes, era visível que vinha de boa linhagem. Porém não dava para ver ao certo o que trajava no momento, pois tinha o corpo totalmente coberto por uma capa preta com o capuz sobre a cabeça, criando propositalmente uma sombra escura por todo o rosto, escondendo-o totalmente do mundo. — Quer saber, Estevão? — O referido olhou com uma expressão indescritível para Julius. — Vai transar com alguém cara, nem que seja com a tiazinha que mora na esquina, mas transa, cara! Esse seu mau humor todo é falta de sexo — disse a montanha de músculos tirando sarro do amigo. — Isso não tem nada a ver grandão, porque o Blade vive pegando mulher diferente todo dia e o mau humor dele só piora — comentou Li, revirando os olhos puxadinhos, pensando que mesmo conhecendo Estevão há anos, nunca o vira sorrindo em nenhuma ocasião. Essa era a natureza dele, coisa que vinha do sangue ruim dos Maldonado e que corria em suas veias. — Falando no Blade, será que já conseguiu despistar a polícia? Já era para ter ligado, ele brinca muito com a sorte correndo pelas ruas de Las Vegas sobre aquela moto, uma hora dessas vai acabar sendo preso ou morto por algum policial como os pais dele foram. No mundo do crime, a morte do casal Maldonado ficou literalmente marcada criando um duelo sem fim entre policiais e bandidos. — Relaxa irmão, o Blade é esperto feito um gato — disse o mexicano. — Mas um dia as sete vidas de um gato acabam! Ninguém vive para sempre! — Estevão sempre tinha algo irônico para falar. Assim que saíram do bueiro ouviram um barulho estranho ao passarem por um beco escuro que daria na estrada principal, onde tinha uma minivan já com Blade esperando por eles para ganharem o mundo. Por instinto, em um milésimo de segundo, já se encontravam em posição de ataque, montando um triângulo mágico, com Julius na lateral esquerda de punhos fechados, pronto para socar quem aparecesse à sua frente e Estevão ao lado direito, tirando da cintura e destravando, ao mesmo tempo, duas pistolas dos anos oitenta (era um bandido de classe). As armas, além de tradicionais, faziam um bom estrago nas mãos de quem sabia usá-las e Salvatore com certeza era esse alguém. Li, como era o menor dos três, manteve- se no meio em posição de luta, pois além de um gênio, era mestre em artes marciais. Os três estavam certos de que o dono do cassino havia descoberto o roubo e mandado o seu exército de capangas atrás deles, entretanto, ao invés disso, 8 | MARI SILLVA


apareceu por trás de uma caixa enorme ao lado de um monte de lixo, um garotinho de aproximadamente oito anos, todo sujo, cabelos arrepiados, provavelmente não cortava há meses. Seus pezinhos, dentro de um sapato tão furado, tinham partes mais descobertas do que cobertas. Era extremamente magro, mal dava para ver os belos olhos azuis de tão enterrados no rosto que estavam; na mão segurava com força uma mantilha azul, mostrando o quanto ela lhe era importante. Sua mãe a fizera antes de morrer e não era opção deixá-la nas mãos do padrasto alcoólatra, que o abandonara na primeira esquina no mesmo dia da morte de sua esposa. O homem não fazia questão de assumir qualquer responsabilidade sobre ele. A imagem era de cortar o coração de qualquer um, até mesmo de um grupo de ladrões em fuga. — Que coisa feia é essa? — perguntou Estevão horrorizado olhando para ele com cara de nojo, como se nunca tivesse visto uma criança na vida antes. Na verdade, evitava-as ao máximo, tinha pavor quando escutava a voz de uma. — Uma criança, branquelo, de que país você veio, cara? — Bufou Julius, nervoso com a pergunta idiota do amigo. — Do mundo das fadas e unicórnios que não foi. — Olhou de forma sombriamente assustadora para ele. — Pode ter certeza — concluiu cheio de mistério. Aquele inglês carregava muitos segredos do seu passado. — Parem com isso vocês dois, o garoto viu a gente! Sabem o que temos que fazer, não sabem? — exclamou Li sem coragem de olhar para o menino. Ser um criminoso tinha suas vantagens, porém, em alguns momentos, era a pior coisa do mundo. — Queima de arquivo — respondeu Estevão naturalmente, sabendo que isso significava matar o garoto. Ele não se importava nem um pouco com o fato, era destituído de qualquer tipo de sentimento, seja ele bom ou ruim. — Deus! Ele é apenas uma criança! Não podemos deixá-lo simplesmente ir e pronto? Até porque não mato inocentes e grávidas! — Choramingou Julius, olhando de forma piedosa para o pequeno ser à sua frente. — Então faça o trabalho sujo você, Estevão, já que não tem sentimentos por ninguém mesmo — proferiu Li, tirando o corpo fora. — Não vou conseguir atirar com essa coisa asquerosa olhando para mim dessa forma. Esses olhos brilhantes e inocentes me assustam! — O inglês logo deu um jeito de sair fora também. — Faça as honras da casa você, Xing — completou, batendo no ombro do chinês. Assim ficaram por um bom tempo, um jogando para o outro a “queima de arquivo”. Já haviam matado por diversas vezes antes, mas uma criança era demais para eles.

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— Maldição! Onde está o Maldonado quando precisamos dele? — rosnou Estevão contrariado com aquele dilema sem fim. — Em toda parte! — ecoou a voz grossa vinda do lado mais escuro do beco. Blade era como um gato, da mesma forma que sumia, aparecia, simplesmente do nada. Estava extremamente sexy dentro uma calça jeans desbotada, tão apertada que ressaltava os seus músculos do glúteo. Vestia uma camisa branca de algodão com uma jaqueta preta, estilo motoqueiro, de couro puro, no tamanho exato dele. Roupas completamente ordinárias em um homem extraordinário. Qualquer coisa ficaria bem nele, nu então, era simplesmente perfeito. — Temos um problema, Blade! — O chinês apontou para a criança. — Resolvam isso — ordenou Blade com a voz mais grossa do que o habitual. Estava irritado. — Agora! — completou perigosamente. Ele vivia de mau humor, o gênio forte era sua marca registrada. Os comparsas não responderam nada, apenas abaixaram o olhar fitando o chão. Era evidente que não teriam coragem de fazer o que fora estipulado por Maldonado, coisa que era muito difícil de acontecer. — Ok! Eu resolvo!!! — respondeu naturalmente. E o faria sem um pingo de remorso. Já havia feito coisas muito piores antes, mas eliminar “aquele tipo de arquivo” era novidade até para o último dos Maldonado. Sem demora se apossou da Mauser M-96, mais conhecida como “Broomhandle”, a famosa cabo de vassoura ou pistola alemã. Uma das mais distintas armas de fogo produzidas no mundo, artigo de luxo de poucos, sendo um item cobiçado por atiradores e colecionadores. O apelido, é claro, surgiu em função do cabo de madeira estreito. Para recarregá-las, são inseridas através de um mecanismo de mola na frente do gatilho e comportadas as dez balas, potentes munições 7.63mm, as mesmas usadas em um rifle russo. A arma que estava escondida no cós da parte traseira da calça jeans de Blade, foi apontada bem no meio do rosto indefeso da criança. O pequeno tinha os olhinhos cor de safira sob o cano de metal ainda quente devido a troca de tiros de Blade na fuga da polícia, encostando quase na ponta do seu nariz. A criança parecia genuinamente cansada, com olheiras acentuadas e muito pálida. O excesso de magreza era de dar dó, tremia feito um coelhinho assustado. — Adeus, pequeno demônio! — Arqueou a sobrancelha esquerda perversamente, apertando o gatilho sem pensar duas vezes. — Inferno — praguejou quando viu a arma travar pela primeira vez em vários anos de uso. — Já chega, Maldonado! Deixe-o ir, é apenas um garotinho, ele não vai contar para ninguém que nos viu — implorou Julius com sensibilidade nos

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olhos dando dois passos na direção dele, mas foi impedido pelo olhar gélido que Maldonado lhe lançou. Julius parou no mesmo instante virando de costas para não ver a cena, sabia que seria inútil tentar fazê-lo desistir de continuar com aquela ideia atroz de matar a criança. Conhecia bem o amigo para saber o quanto era cruel e volúvel, sentia prazer em praticar o mal, fazia jus ao sobrenome nobre que herdara da perversa família de bandidos mais famosa e respeitada no mundo do crime. Ao voltar os olhos para o menino, reparou que ele não cobriu o rosto ou tentou fugir do disparo, ele não se mexeu, como se estivesse esperando que atirasse logo. — Não tem medo da morte, garoto? — perguntou com a voz grave, muitos só de ouvir aquele tom já teriam corrido. — Pessoas na minha condição não veem a morte como algo ruim, mas como livramento, pelo menos vou para junto da minha mãe, ela sempre cuidou de mim! — Choramingou o pequeno. Bastou Blade ouvir a palavra mãe para sentir um certo desconforto. Perdeu a sua de uma forma trágica ainda quando era muito pequeno. Mesmo assim, à noite, em meio aos sonhos, tinha flashes da lembrança do rosto dela sorrindo para ele, então sabia exatamente a dor que menino estava se referindo. Vendo que ele tremia compulsivamente e mal conseguia se manter de pé, perguntou-se o que poderia estar acontecendo com ele. — O que você tem, pequeno demônio? — questionou genuinamente desconfiado. Era normal um bandido desconfiar de tudo e de todos até mesmo de uma criança indefesa moradora de rua. — Fome, senhor, faz duas semanas que não como nada. — Levou a mão sobre a barriguinha que não parava de roncar, parecia uma sinfonia de Beethoven. — Feche os olhos, pequeno! — E assim a criança o fez. Blade destravou a arma e novamente a apontou para cabeça dele, pensou que aquilo não seria apenas uma queima de arquivo, mas, sim, um livramento. — Acabarei com a sua dor — concluiu. — Nesse momento, Li e Estevão viraram de costas também, o chinês limpou em silêncio uma lágrima que caía pelo rosto de traços orientais; Julius a essa altura já soluçava de tanto chorar; Salvatore só não chorou porque não sabia como fazer isso. — Se for mesmo fazer isso, faça logo, Blade — exclamou Estevão sombriamente. — Que inferno! Isso só pode ser brincadeira — praguejou Maldonado após a arma travar pela segunda vez. — Não, Blade! Isso é intervenção divina!

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Julius, mesmo vivendo uma vida errada, acreditava fielmente em Deus e sempre que podia comparecia à missa da tarde, confessando-se mensalmente e pedindo perdão a Deus pelos seus atos inadequados. — Saberemos agora se tem o dedo de “Deus” nisso — debochou Blade. Ele era completamente ateu, não acreditava em nenhuma entidade divina ou qualquer coisa do tipo. Misteriosamente, levou a mão ao bolso e tirou uma moeda de prata de dentro da calça e sobre um pequeno fecho de luz ela brilhou de uma forma tão intensa que refletiu dentro das esferas de safiras do menino, de fato, ele tinha olhos lindos e marcantes. — Sua vida dependerá disso, garoto! — Entregou a moeda a ele. — Vai jogá-la para o alto, se der coroa você morre! Mas… se der cara, além de viver, ganhará uma família! Não somos o ideal para uma criança, porém prometo que iremos te proteger com a nossa vida se preciso for! Levaremos você conosco onde quer que seja! E se quiser seguir nossos passos, ótimo, entretanto, se não quiser, te apoiaremos no que escolher. Afinal, é isso que irmãos fazem: cuidam uns dos outros — concluiu. Inocentemente a criança olhou para moeda por um instante, sem sequer imaginar o quanto havia em jogo, independentemente de qual lado ela caísse. Então arremessou-a para cima. A moeda começou a cair em câmera lenta fazendo movimentos circulares no ar e aterrissando na palma da mão de Blade, relatando qual seria o seu destino. Nesse momento não se ouvia nem o barulho da respiração dos cinco dentro do beco, mas o silêncio logo foi interrompido pelo barulho estrondoso da arma de Blade ecoando por toda parte. — Bem-vindo à família, Mascote — exclamou Blade com a voz grave, após dar um tiro para o alto em comemoração à chegada do novo membro da família Salvatore Perez Xing Maldonado.

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DIAS ATUAIS…

— Inferno! — Exclamou Blade possesso de raiva, após o seu celular tocar pela milésima vez, alternando entre ligações de Julius, Li e até mesmo de Estevão que não era muito de ficar ligando para ninguém. Devido a esse milagre, Maldonado resolveu atender para saber o que acontecera de tão grave para estarem lhe atormentando de tal forma irritante e desesperadora. Todos tinham total conhecimento que ele odiava ser incomodado com besteiras, isso o deixaria mais mal-humorado do que de costume. Estava no topo de um prédio, deitado sobre o piso grosso de cimento batido da cobertura do antigo motel “Cinco Estrelas”, com buracos em toda sua extensão, mostrando que se tratava de uma obra que fora gasta pelo tempo e, principalmente, pelas chuvas de novembro. Usava os cotovelos como apoio para manter a parte da frente do corpo elevada — típica pose de um atirador de elite profissional — e trajado com vestes pretas, calça de tecido mole com dois bolsos grandes, um de cada lado, blusa justa de mangas compridas emoldurando seu físico militar, simples, mas com etiquetas de marca, a gola arredondada em volta do pescoço e capuz que estava posto na cabeça encobrindo os traços expressivos do seu belo rosto. Sua beleza, porém, não chegava nem perto do poder do seu charme avassalador. O mistério da cor enigmática dos seus olhos expressivos tinha o poder de hipnotizar, ainda mais quando se tratava do sexo oposto, era infalível. Para completar, nas mãos, luvas de um tecido próprio para não deixar digitais, criadas por Li (o chinês pensava em tudo). Estava pagando um favor que devia a Otávio Collin, um conhecido que trabalhava como matador de aluguel, que não era homem de muitos amigos, mas que sabia ser grato quando alguém lhe fazia um favor. E o que Collin havia feito


era um dos grandes, ajudando-o obter uma informação de grande valia para Maldonado, algo que nenhum dinheiro existente na face da Terra poderia comprar. Segundo Otavio, seu filho nasceria naquele dia, então pediu para que quebrasse esse galho para que ele estivesse presente no parto. No mundo do crime, quando se deve alguma coisa para alguém, deve pagá-la, de um jeito ou de outro. Para ajudá-lo nesse acerto de contas trouxe consigo o seu rifle Sniper, algo do qual tinha total orgulho de possuir. Os projéteis disparados por ele percorrem distâncias tão grandes que os atiradores precisam levar em consideração o movimento da terra e a direção do vento antes de puxar o gatilho. Falando em Sniper, o soldado britânico Craig Harrison entrou para o Livro dos Recordes por disparar o tiro mais longo já registrado: 2.475 metros com a mesma arma, e a bala levou apenas seis segundos para atingir o seu alvo. Blade quebrara esse recorde há muito tempo, mas não era de ficar se gabando dos seus feitos como a maioria das pessoas fazem, sabia que era perfeito no que fazia e isso já era o suficiente para ele. Os disparos feitos pelo rifle são supersônicos, o que significa que os alvos são atingidos antes de o barulho do tiro chegar aos seus ouvidos. As balas com a ponta mais fininha e aerodinâmica, são conhecidas como “spitzers”. Seu nome é derivado do termo alemão “spitzgeschoss”, cuja tradução significa “bala pontiaguda.” — Fale — exclamou Blade nervoso, odiava ser interrompido quando estava “trabalhando”. Na verdade, odiava ser interrompido em qualquer ocasião, sentia-se bem sozinho, ainda mais naquele tipo de trabalho que exigia toda sua concentração, uma respiração em falso e tudo poderia dar errado. Não admitia errar em nada, tinha a necessidade de ser perfeito em tudo o que fazia. — O que você quer, Estevão? — perguntou grosseiramente enquanto ajeitava a lente do rifle, não sabia conversar com ninguém de outra forma. — Sério que você não vem, Blade? — rosnou Estevão ríspido, dificilmente ficava nervoso. Mas naquele momento o inglês encontrava-se tão fora de si que dava para ouvir perfeitamente, do outro lado da linha, o som das batidas do seu pé esquerdo no chão compulsivamente, como um tique nervoso. Isso deixou Maldonado em sinal de alerta, nunca vira Salvatore alterado antes. — Não — respondeu seco, curto e grosso. Não era um homem de muitas palavras. Desligou na cara de Estevão. Em menos de dois segundos o celular começou a tocar novamente. Agora era Julius entrando em cena. — Você sabe que o garoto vai ficar muito triste se não aparecer, não sabe? — Respirou fundo tentando não perder a paciência, coisa que Blade, a essa altura, já tinha perdido há muito tempo. — Não é qualquer dia que temos a oportunidade de ir à formatura do nosso irmão caçula. Não se importa mesmo em magoá-lo dessa forma? Bobbi é um bom garoto, escolheu um caminho 14 | MARI SILLVA


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