Zé Perri

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Zé Perri A passagem do Pequeno Príncipe pelo Brasil

Cláudio Fragata Ilustrações de R ogé ri o C oel ho


Em um texto cheio de nuances, Cláudio Fragata conta, com ares de crônica literária e poesia romântica, as pegadas que Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, deixou pelo Brasil. O leitor mergulhará na inesperada relação entre Exupéry e um simples pescador, e descobrirá, com alegria e deslumbramento, um pouco mais sobre esse autor tão querido da literatura mundial.


Zé Perri A passagem do Pequeno Príncipe pelo Brasil



Zé Perri A passagem do Pequeno Príncipe pelo Brasil

C láu dio Fr a g a ta

I l u s t raç õ e s d e R ogé ri o C o el ho

RIO DE JANEIRO | 2009


CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F871z Fragata, Cláudio, 1952Zé Perri: A passagem do Pequeno Príncipe pelo Brasil / Cláudio Fragata; [ilustrações Rogério Coelho]. - Rio de Janeiro: Galera Record, 2009. il. ISBN 978-85-01-089045 1. Ficção infanto-juvenil brasileira. I. Coelho, Rogério. II. Título. 09-4742

CDD: 028.5 CDU: 087.5

Copyright © Cláudio Fragata, 2009 Copyright das ilustrações © Rogério Coelho, 2009

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios. Os direitos morais do autor foram assegurados.

Design de capa e projeto de miolo: Renata Vidal

Direitos exclusivos desta edição reservados pela EDITORA RECORD LTDA. Rua Argentina 171 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 2585-2000 ÃO

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DIREITOS REPROGRÁFICOS

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ISBN 978-85-01-089045

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Impresso no Brasil

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EDITORA AFILIADA


“Eu pertenço à minha infância. Pertenço à minha infância como a um país”

Antoine de Saint-Exupéry

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Este livro é dedicado a Roberto Cimino Filho, Érico Cardeal e Augusto Rangel, meus amigos de infância. Aos amigos de todas as horas, Cleunice Rocha, Vilma Pavani e Paulo César Pereira. Em memória de Júlia de Andrada e Silva, minha primeira grande amiga. A todos que se sentem responsáveis por sua rosa.



Campeche, 2006

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A

zul.

Agora, quando penso na praia do Campeche, penso

em azul. Nem poderia ser de outro jeito. Nessa praia de Florianópolis, o céu e o mar se fundem na linha do horizonte num único azul. Imenso. Profundo. Isso faz com que o Campeche seja um lugar ao mesmo tempo belo e mágico. Quase sobrenatural. Sempre achei que o azul era uma cor inexplicável. Hoje não tenho dúvida. Num lugar onde tudo azula, tudo pode acontecer. Antes de começar a escrever este livro, estive lá. Eu precisava ir até lá. Não sosseguei mais desde que soube que Zé Perri havia pousado no Campeche de avião. A primeira vez foi em 1929 e ainda voltou outras vezes nos dois anos se-

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guintes. Uma história antiga. Mas que eu não conhecia. Nem sonhava que Zé Perri tivesse passado pelo Brasil e muito menos que resistiam ao tempo alguns sinais de sua passagem: um antigo alojamento para pilotos e o gramado do campo de aviação. Outra surpresa foi saber que, no Campeche, ele fez um amigo. Depois dessas descobertas, passei a desconfiar que havia naquela praia de Santa Catarina um mistério a ser desvendado. Pressentia que lá eu encontraria uma boa história. Alguma coisa me chamava: venha. Não resisti. Não resisto aos mistérios. Nem a uma boa história. Fui. O próprio Zé Perri dizia que quando o mistério é muito impressionante a gente não ousa desobedecer. Fiz as malas e parti para o Campeche. Isso foi no inverno de 2006. Nada de turistas. O mar frio quebrava nas pedras com estrondo. O vento sul varria as dunas com seu sopro gelado. A areia branca da praia estendia-se num véu intocado. Lençol imaculado estendido sob a pureza do céu. As únicas pegadas era eu mesmo quem deixava. Iam ficando para trás num sinuoso trajeto. Impossível não lembrar das ilustrações de certo livro. Impossível não lembrar de certo principezinho perdido no deserto. Foi o que fiz. Fechei os olhos e pensei no Pequeno Príncipe. Nesse instante, o vento parou de soprar e, durante uma fração de segundo,

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Essa é a história que tenho para contar. Uma história sobre a amizade entre dois homens muito diferentes. Um, francês, aristocrata e intelectual. O outro, brasileiro, pescador e analfabeto. Uma história repleta de azul.

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O garoto do castelo

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A

vista da janela do quarto de Saint-Exupéry era

bem diferente. Ele morava durante boa parte do ano no castelo da família, em Saint-Maurice-de-Rémens, no interior da França. Logo em primeiro plano, dava para ver o jardim com seus imensos gramados e os canteiros onde floresciam gerânios e lilases. Um pouco mais adiante, as alamedas de frondosas árvores, o pomar, o bosque de pinheiros e o charco que, à noite, servia de palco para o coro polifônico das rãs. Para além dos altos muros de pedra que cercavam a propriedade, viam-se vinhedos e pastos salpicados pela calma dos bois. O rumor do turbulento rio Albarine podia ser ouvido o tempo todo. Por fim, bem ao fundo da paisagem, as montanhas recobertas de florestas e quase sempre envoltas em nuvens de neblina e mistério.

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A janela do quarto tinha grades para impedir passeios de meninos levados pelo telhado. Mas que falta faziam os telhados com tanto espaço lá fora? Tanto sol, tanta vida secreta sob a água imóvel da cisterna, tantos esconderijos. Nesse cenário repleto de pequenos milagres, Antoine passava horas brincando na companhia do irmão François e das irmãs Madeleine, Simone e Gabrielle. Longe da vigilância dos adultos, eram reis, princesas, guerreiros, exploradores, magos e mandarins. Madeleine adorava animais, e Antoine também. Cães, gatos, coelhos, galinhas, carneiros, bois e cavalos faziam parte desse reino encantado. Ele costumava passear pelo parque do castelo com uma tartaruga presa a um barbante, mas nem sempre seus passeios eram assim vagarosos. O corre-corre pelo jardim era mais habitual — ah, como é bom ficar longe das rédeas dos adultos! Lagartos assustados desapareciam entre a folhagem à passagem ofegante dos meninos. As risadas e os gritos espantavam os pássaros nos galhos e faziam os esquilos refugiarem-se nas tocas. Embora, nesse ponto, fosse um mundo parecido com o de Deca, não havia estilingues, alçapões e armadilhas. A relação de Antoine com os animais era outra. Subia nas árvores para tentar uma aproximação amigável com as rolinhas. Procurava se entender com elas através do silêncio e da paciência, permanecendo

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As asas fremiam ao sopro do entardecer. O motor com seu canto embalava a alma adormecida O sol nos roçava com sua cor esmaecida.¹ Antoine, menino poeta. Antoine, futuro poeta e aviador. Antoine, eterno aviador menino.

¹ Les ailes frémissaient sous le souffle du soir. / Le moteur de son chant berçait l’âme endormie / Le soleil nous frôlait de sa couleur pâlie.

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Este livro foi composto em ITC American Typewriter Std Light 11/18,5 e Harrington 24/18,5 e foi impresso em papel XX Xg/m 2 na grรกfica XX.


Cláudio Fragata Foto: Leo Feltran

Nasci em Marília, interior de São Paulo, e há vários anos moro na capital. Sou formado em jornalismo e durante muito tempo trabalhei na Divisão Infantil da Editora Globo, onde, entre outras coisas divertidas, desenvolvi o projeto editorial dos Manuais da Turma da Mônica. Publiquei vários títulos infantojuvenis, entre eles, Seis tombos e um pulinho, O voo supersônico da galinha Galateia, O mal do lobo mau, As filhas da gata de Alice moram aqui e A princesinha boca-suja. Publiquei dezenas de contos e poesias na revista Recreio, onde fui editor. Hoje, trabalho como repórter da revista gastronômica Gosto.

Rogério Coelho literatura infantojuvenil, recebi alguns prêmios e participei de diversas exposições. As ilustrações deste livro foram feitas a lápis e depois finalizadas digitalmente. Para elaborá-las, realizei uma grande pesquisa iconográfica e montei as ilustrações como um diário visual e poético do universo dos personagens. Moro em Curitiba com minha mulher, Regina, e meus 3 filhos, Gabriel, Pedro e Laís.

Foto: Regina Coelho

Já ilustrei mais de 50 livros de


Tenho de ad m itir que há muitos an os não p eg o u ma h i s t óri a – “um a história que o au tor qu e ri a c ontar” – e lei o de um a sentad a só, d e tão be m c on tad a. O l i vro é mu lt i f acetad o. Com o se foss e u ma c rôni c a l i te rári a , u m po uco m aior que o comu m, d e u m j ornal i staes cri t o r ou d e um escritor-jorn al i sta, c omo e l e me smo di ri a. E, eu acrescentaria, d e u m me i o d i sfarç ad o p oet a romântico, que em barcou n e ssa ave ntu ra e ntre o a zu l do cé u e o azul d o m ar. E o az u l d i fu so d a su a im ag i nação e em oção d iante do qu e d e sc obri u , re p ór t er q u e é, seguind o as p eg ad as d e S ai nt-Ex u p é ry no Br a s i l. N ão vou contar m ais n ad a. D e i x o ao l e i tor o pr azer e a surp resa d e d esc obri r a re l aç ão e n tre Z é Perri e o Pescad or e a rap o sa d e ste l i vro bom d e l er. E de mergulhar, com o eu me rgu l h e i , na atmosfe r a t o da azul d essa história verd ad e i ra qu e o C l áu d i o F r ag a t a queria contar. E contou!

Tatiana Belink y


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