Registo Ed.282

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SEMANÁRIO

Director Nuno Pitti Ferreira | Dezembro de 2017 | Mensário| ed. 282 | 0.50€

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Universidade de Crónicas da Évora lidera projectos LIFE Transtagana

“Agricultores são vítimas da seca”

Bonecos de Estremoz Classificados

PÁG.04 A Universidade de Évora (UÉ) lidera dois projetos LIFE para restaurar habitats na bacia do Rio Vouga e preservar os habitats das formações arbustivas de adelfeiras e azereiros, nas serras da Estrela, Açor e Monchique. Os dois projetos, intitulados LIFE ÁGUEDA e LIFE RELICT, foram aprovados no âmbito do Programa LIFE 2016, instrumento financeiro da UE que apoia investigações ambientais.

PÁG.10 A tempestade Ana veio e trouxe com ela chuvas intensas. Nesses dias, a chuva no norte e centro do país aproximou-se do que seria normal num mês inteiro de dezembro e pode até ter tornado um pouco menos grave a situação de seca nessas regiões. Mas, no Alentejo e no Algarve, a situação continua tão preocupante como antes. Pior mesmo é saber que pouco pode voltar a chover até ao final do ano.

PÁG.14 ”A UNESCO classificou no início

PUB

PÁG.06 “Esta é a minha terra. Aqui nasci e também eu sou dela.” Percebe-se um sentimento de pertença, de partilha. Comunitário e de relação filial. Uma relação de mãe e de filho. Pois que Santa Ana é mãe. Também avó e padroeira da terra (nesses tempos Freguesia da Paroquia). Santa Ana poderia ter sido contemporânea da construção do Templo, originariamente, a outra divindade dedicado.”

de dezembro, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a produção dos “Bonecos de Estremoz”, em barro, uma arte popular com mais de três séculos. A classificação da “Produção de Figurado em Barro de Estremoz”, vulgarmente conhecida como “Bonecos de Estremoz”, foi decidida na 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO...”

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Pinto de Sá quer criar Plano Integrado de Apoio Social

O Melhor Petisco | Rua Catarina Eufémia , 14 Horta das Figueiras | 7005-320 Évora 266771284


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A Abrir

O Presidente tem que vetar LUÍS TIRAPICOS NUNES

Advogado

A credibilização e aumento da participação na vida democrática portuguesa não são compatíveis com aquilo que a classe política tentou fazer pela porta do cavalo neste final de ano de 2017. Com a aparente conivência de PSD, PS, BE, PCP, PEV os partidos representados na Assembleia da República aprovaram o fim dos tetos máximos às doações privadas e a possibilidade de devolução total do IVA nas atividades partidárias. De forma concisa isto beneficia principalmente eventos e festas dos partidos políticos. Assim, estes partidos, cujos votos somados seriam mais que suficientes para reformar e emendar o regime só se conseguem entender para uma coisa… Para de forma criativa arranjarem maneira de arrecadar mais dinheiro. Esqueça-se a reforma fiscal, do Estado, da educação, da saúde ou da segurança social. Os partidos entendem-se não pelo sentido de servir, mas pelo sentido de se servirem. Não estamos aqui a diabolizar os partidos. Que fique muito claro que considero a existência de partidos políticos livres e financeiramente autónomos um dos pressupostos da democracia. Se não fossem os partidos seria algo muito pior. São agentes de grande importância e de grande responsabilidade. Responsabilidade essa, no entanto, que foi mais uma vez hipotecada numa manobra que tem tanto de oportunista como de dissimulada. Oportunista porque é sabido que o Partido Socialista está falido. Não satisfeito com falir o país, pelo menos é coerente e provoca a insolvência de si próprio. Depois à gamela do erário público quiserem ir também o PSD, PCP e PEV. Eles e as suas festas do Avante e do Pontal. O Bloco e os seus acampamentos de Verão não terão tantos problemas, mas para quê ficar de fora da “festa”? Envergonhadamente começaram já a demarcar-se estes últimos, porque a indignação já começa

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a crescer na Internet – e sabemos bem que a única coisa de que os políticos têm medo hoje

em dia, mais que da Política Judiciária ou do DIAP é do julgamento “plenário” das redes

sociais -, e os argumentos são os de sempre “que não queriam quebrar o consenso”, “que continuarão a lutar pela transparência”, “que havia partes com que não se concordava… etc. Honra seja feita ao CDS/PP e ao PAN (e Deus sabe o quanto me custa elogiar estes últimos) que recusaram esta autêntica falta de vergonha. Por fim oportunista porque existem dezenas de processos nos tribunais administrativos contra os partidos políticos que com a aprovação desta lei teriam forçosamente de cair, em honra ao princípio da lei fiscal mais favorável. Dissimulada porque foi feita às escondidas, sob a capa de reuniões parlamentares de rotina, com nomes chatos e aborrecidos como “reunião da comissão especial parlamentar com vista à revisão e reavaliação da subvenção aos partidos políticos” (nome ficcionado), e aprovada na altura das festas natalícias, na qual a comunicação social adora encher-nos de imagens da Lapónia, de Nova Iorque, dos maiores desfiles de Pais Natal do Norte de Portugal, da consoada dos portugueses, de quantos SMS de boas festas são trocados e um ou outro direto debaixo da ponte com um grupo de sem-abrigos. Há gente nos partidos que não percebe mesmo o mundo em que vive. Acha que ainda conseguia fazer passar uma coisa destas pela porta do cavalo sem ninguém dar por isso. Bem se engaram. Não percebem os fenómenos, bons ou maus, mas extremamente eficazes de quem percebe o tempo em que vive, Trump, Macron, Syriza, Papa Francisco, Presidente Marcelo. Todos estes percebem muito bem o mundo em que vivem. Este último tem o dever de pegar no trapo imundo que sobrou das negociatas e dar-lhes uma bofetada simbólica que lhes doa até aprenderem a ter vergonha. Marcelo Rebelo de Sousa tem que vetar esta lei.

Obrigado Dr. Pedro Passos Coelho ANTÓNIO COSTA DA SILVA

Deputado - Grupo Parlamentar do PSD

Na minha crónica de final de ano quero dedicá-la ao Dr Dr. Pedro Passos Coelho. Agradecer-lhe por tudo o que fez pelo meu País. Conseguiu em poucos anos corrigir a maior enfermidade que assolava a política e a sociedade portuguesa: a falta de valores morais e éticos. Libertar uma sociedade dominada por uma cultura enraizada na promiscuidade entre a política e os negócios, foi, sem dúvida alguma, a tarefa mais difícil. Dizer não aos interesses instalados foi de facto notável! Dizer não aos “Donos Disto Tudo” e aos corporativismos bafientos, num País habituado a uma subserviência saloia, foi sem dúvida outra

grande lição que proporcionou. Como dizia um colega meu: inquebrantável! Foi o Homem de Estado quando o País precisava que não fosse abandonado. Foi o Primeiro-Ministro que Portugal necessitava numa das fases mais críticas da nossa história. Foi o Primeiro-Ministro que não se acobardava em dar as notícias difíceis ao País. Nunca necessitou que dessem as “más notícias” por ele, nem nunca se escondeu quando o País se encontrava a “arder nas chamas” de uma crise que outros provocaram. Foi quem melhor se preparou para governar Portugal. Um conhecedor profundo de todos os dossiers. De facto, o Dr. Pedro Passos Coe-

lho é verdadeiramente um Homem invulgar. Único! A forma cuidada como analisa e interpreta os diferentes temas garante-nos uma segurança gigantesca! Para além de ter a capacidade em resolver as persistentes dificuldades subjacentes dum País em forte crise estrutural, teve sempre a inteligência de olhar em frente, de procurar um futuro melhor. Ter na mente as reformas para um País ancilosado, capaz de o regenerar e de o colocar na linha da frente dos países mais desenvolvidos, só mesmo alguém inteligente e de espírito livre. O Dr. Pedro Passos Coelho, apesar de todos os seus defeitos, é o verdadeiro protagonista de uma mudança cla-

ramente consistente. Infelizmente não o deixaram continuar a governar. Não foram os portugueses que o não quiseram, mas sim, os mesmos de sempre. Foram aqueles que não querem libertar Portugal e os portugueses de velhos hábitos enquistados, agarrados a um modo de viver que apenas serve o presente, mas sem garantias de futuro. Infelizmente podemos estar sujeitos a erro idênticos, sem que se saibam quais as consequências. Espero estar errado! Dr. Pedro Passos Coelho, o seu legado só nos pode encher de orgulho! Obrigado Dr. Pedro Passos Coelho.

Ficha Técnica Director Nuno Pitti Ferreira TE 738 (nuno.pitti@registo.com.pt) Registo ERC nº125430

SEMANÁRIO

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Atual Foi feito um ponto de situação e o balanço do Plano de Ação CLASE 2017.

CLASE quer realçar papel da cooperação entre entidades O Conselho Local de Ação Social de Évora (CLASE) realizou a primeira reunião plenária do novo mandato, presidida pela Vereadora Sara Fernandes, no dia 19 de Dezembro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Uma reunião onde esteve o Presidente da Câmara Municipal, Carlos Pinto de Sá, que deu as boas vindas aos participantes e destacou algumas ideias chave de orientação do trabalho futuro. Realçou como fundamental a cooperação entre as entidades e a partilha de recursos, sem contudo se perder a autonomia de funcionamento. Dar um salto qualitativo no trabalho a realizar neste mandato é um dos objectivos na área social, revelando que a renegociação do PAEL deverá ser feita em 2018 o que poderá significar a possibilidade de maior intervenção municipal, nomeadamente através da criação de um Plano Integrado de Apoio Social. Deixou ainda o desafio aos parceiros para reflexão sobre o que pretendem para a área social por forma a construir, em conjunto, orientações realistas que possam ser concretizadas por todos. Nesta reunião, destaca-se ainda o ponto sobre o balanço do Plano de Ação CLASE 2017, apresentado pela Divisão de Educação e Intervenção Social e por elementos das Unidades de rede em funcionamento, nomeadamente as Unidades de Rede de Envelhecimento Positivo, Saúde Mental e dos Sem Abrigo. Do vasto trabalho realizado, destacam-se as 10 sessões formativas no âmbito da medida “Informar para Atuar”, a elaboração do plano de comunicação do CLASE, a constituição da Unidade de Rede de Minorias (12.12.2017), a submissão da proposta técnica da Carta Social e o trabalho de envolvimento para a construção do novo Plano de Desenvolvimento Social. Foi apresentado o balanço semestral do projeto “MovimentARTE”/Programa Escolhas 6ª geração”, por Marta Camacho (Centro Humanitário de Évora da Cruz Vermelha Portuguesa) e aprovada, com quatro abstenções, a proposta de adesão de um novo membro, o Centro de Psicologia Hapinez, já dotado de delegação em Évora.

Centro de Emprego e Formação Profissional acolheu CLASE

O Conselho Local de Ação Social de Évora (CLASE) realizou um momento informal de convívio para os seus membros, no dia 11 de Dezembro, nas instalações do Centro de Emprego e Formação Profissional (IEFP). No final do encontro, foram recolhidas sugestões e propostas de trabalho futuro formuladas pelos participantes. O encontro visou, além do convívio entre as instituições, dar a conhecer melhor o trabalho de significativa qualidade técnica que o Centro realiza. Serviu igualmente para apresentar a Vereadora do Pelouro da Educação e Intervenção Social, Sara Fernandes, aos representantes das instituições. A sessão contou com breves intervenções do Diretor do Centro de Emprego e Formação Profissional de Évora do IEFP, José Ramalho, do Presidente do Municí-

pio de Évora, Carlos Pinto de Sá e da Vereadora Sara Fernandes. José Ramalho falou da necessidade de dar a conhecer o trabalho realizado pela instituição que dirige, frisando em particular o pequeno almoço servido pelos formandos do curso de Cozinha/Pastelaria, com a supervisão do Chefe Vítor Costa. Após destacar alguns aspectos fundamentais sobre o Centro, expressou os melhores votos profissionais à Vereadora e convidou a visitar as instalações.

Carlos Pinto de Sá sublinhou a colaboração activa que o IEFP mantém com a autarquia e recordou que neste novo mandato autárquico a meta é dar o salto qualitativo no trabalho camarário, após terem sido colocadas em equilíbrio as finanças municipais. O trabalho deste Centro também lhe mereceu destaque, salientando que “é um exemplo do melhor que temos em Portugal nesta área” e realçando a sua capacidade de responder com elevada qualidaD.R.

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de às necessidades dos formandos e das empresas. Sara Fernandes expressou a sua satisfação por este acto e o seu empenho na melhoria das condições sociais no Concelho, naquilo que é da competência municipal. Em relação ao CLASE, sublinhou o trabalho conjunto de cooperação entre os parceiros e a preparação de dois instrumentos de planeamento fundamentais: a Carta Social e o Plano de Desenvolvimento Social, que a breve trecho devem estar concluídos. Relembrou ainda que já existem em funcionamento três Unidades de Rede, sendo esta semana lançada uma quarta, para tratar da problemática das minorias. Finda a sessão, que culminou com um pequeno almoço confecionado pelos formandos na área da restauração, seguiu-se a visita guiada às instalações por António Branquinho. Esta, permitiu constatar no concreto o trabalho que é dinamizado no Centro, dotado de uma residência para cerca de 90 formandos que os visitantes tiveram oportunidade de conhecer, bem como as salas de apoio ao estudo. A visita a várias oficinas fez também parte do percurso, tendo conhecido os cursos de Especialização Tecnológica na área da Programação Digital e na de Cabeleireiro e o Pólo Tecnológico (Aeronáutica), com as suas variadas oficinas e laboratórios. Muitas empresas colocam aqui os seus formandos devido à confiança na qualidade do ensino ministrado. A reconversão profissional também é bastante procurada e os formandos que finalizam aqui os seus cursos tem um elevado grau de empregabilidade, a maioria deles em empresas de grande gabarito nacional e internacional.


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Dezembro ‘17

Atual Carlos Pinto Gomes da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora gere o LIFE RELICT.

Universidade de Évora lidera projectos LIFE de 5 milhões de euros A Universidade de Évora (UÉ) lidera dois projetos LIFE para restaurar habitats na bacia do Rio Vouga e preservar os habitats das formações arbustivas de adelfeiras e azereiros, nas serras da Estrela, Açor e Monchique. Os dois projetos, intitulados LIFE ÁGUEDA e LIFE RELICT, foram aprovados no âmbito do Programa LIFE 2016, instrumento financeiro da União Europeia (UE) que apoia investigações ambientais, de conservação da natureza e de ação climática, segundo revelou a academia alentejana. No global, realçou, os projetos envolvem um financiamento de cinco milhões de euros e os trabalhos, iniciados este ano, vão prolongar-se até 2022. No que diz respeito ao LIFE ÁGUEDA - “Conservation and Management Actions for Migratory Fish in the Vouga River Basin”, com um financiamento de 3,3 milhões de euros, tem como objetivo “eliminar ou atenuar substancialmente as pressões hidromorfológicas identificadas na bacia do Vouga, restabelecendo o bom estado ecológico deste rio”, explicou a UÉ. Os trabalhos estão a ser implementados por um consórcio integrado por sete instituições, públicas e privadas, e são coordenados por Pedro Raposo de Almeida, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da universidade alentejana (MARE-UÉ). Além da UÉ e do MARE, também as câmaras de Águeda (Aveiro) e de Mora (Évora), a empresa Aqualogus - Engenharia e Ambiente, a Docapesca - Portos e Lotas e a EDP Distribuição fazem parte da parceria. “A equipa de investigação deste projeto

colaborativo pretende implementar uma série de soluções” para voltar a naturalizar o rio e “restaurar ou recriar os seus habitats aquáticos e terrestres”, com a construção de “passagens para os peixes que imitem as condições naturais do rio”, indicou a universidade. Já o projeto LIFE RELICT -- “Preservação das Relíquias da Laurissilva Continental”, está a ser executado por um consórcio liderado pela UÉ e que tem como parceiros as câmaras de Seia e de Monchique, a Associação de Desenvolvimento Rural da Serra da Estrela (ADRUSE) e o Centro de Investigaciones Cientificas y Tecnologicas de Ex-

tremadura (CICYTEX), de Espanha. Com um financiamento de cerca de 1,7 milhões de euros, os trabalhos são coordenados por Carlos Pinto Gomes, professor do Departamento de Paisagem, Ambiente e Ordenamento da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora. O objetivo é “melhorar substancialmente” o estado de conservação dos habitats das formações arbustivas de adelfeira e de azereiro, que integram a Rede Natura 2000 e existentes na Serra da Estrela, no Complexo do Açor e em Monchique. “São comunidades que só existem praticamente em Portugal e que estão na imi-

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nência de serem extintas do mundo”, destacou à agência Lusa Carlos Pinto Gomes, que é também investigador do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas e colaborador do Instituto de Ciências da Terra da UÉ. A equipa “pretende assegurar a função ecológica em mais de 50% das áreas atualmente ocupadas e aumentar a área deste habitat, através da reconstrução de áreas adjacentes e da redução ou eliminação das principais ameaças”, implementando ainda medidas de proteção no que se refere a incêndios e a espécies exóticas invasoras, resumiu a UÉ.

Dinâmicas da Gestão

A insustentável “leveza” do Estado JOSÉ BILÉU VENTURA

Docente do Departamento de Gestão da Universidade de Évora

A adaptação do título da obra de Milan Kundera – A Insustentável Leveza do Ser – ocorreu-me a propósito do caso Raríssimas e dos contornos que o mesmo envolve, os quais, só por honestidade dos respetivos dirigentes, não são extensíveis a um elevado número de outras instituições de solidariedade social, que recebem dotações do Estado e donativos de empresas e de pessoas singulares em montantes muito significativos. Mas, a possibilidade de ocorrência daquele tipo de situações não deve ser deixada “ao acaso”, pelo contrário deve ser objeto de ações e medidas preventivas, e não reativas. Antes de continuar, importa salientar que este artigo não encerra qualquer crítica ou juízos de valor, até porque o seu autor reconhece o mérito e a importância das chamadas IPSS, sem as quais as situações de abandono, solidão e indigência teriam, em Portugal, uma gravidade muito maior. Contudo, a importância de tais instituições e o carácter de trabalho voluntário em que muitas funcionam, ainda que parcialmente, não desonera o Estado da sua regulação efetiva, quer pela importância social das mesmas, quer por serem beneficiárias de

montantes significativos de dinheiros públicos. Ou seja, o Estado não pode continuar a encarar este sector (que se designa já, dada a sua dimensão e a sua importância, como economia social) com a leviandade (“leveza”) com que o tem feito. A ausência de legislação adequada ao seu funcionamento administrativo-financeiro e de mecanismos de controlo que funcionem efetivamente é gritante (de tal modo que, quando algo corre mal, ninguém dos seus órgãos parece ter conhecimento de tais factos). Sem pretender, nem poder neste espaço, tratar de todos os problemas de que podem enfermar a gestão e o funcionamento das IPSS, há um aspeto relativamente ao qual não posso deixar de manifestar a minha perplexidade: no Estatuto das IPSS (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 119/83, de 25 de fevereiro, com alterações entretanto introduzidas por diversos diplomas) é completamente omissa qualquer referência a um sistema fundamental em qualquer organização: o Sistema de Controlo Interno (SCI). Se qualquer empresa ou organismo público, independentemente da sua dimensão, deve dispor de um SCI adequado e em efetivo funcionamento, não se

compreende que tal obrigatoriedade não seja extensível às IPSS. Neste momento podem interrogar-se, alguns leitores, para que serve um SCI? É a esta questão que procurarei responder daqui em diante. Embora a sua origem radique no controlo da contabilidade (ou escrituração, como então era mais vulgarmente designada), ou como um elemento fundamental para se obterem relatos financeiros de qualidade, o SCI tornou-se nas últimas décadas um conceito com maior e mais ambiciosa abrangência, indo atualmente além da sua noção original e assumindo um papel determinante no bom funcionamento das instituições e na realização dos seus objetivos. Atualmente é consensual, entre os organismos profissionais que se debruçam sobre esta matéria, a definição de que o controlo interno é um processo integral e contínuo, conduzido e efetuado pela administração e pessoal de uma entidade, para ajudar a enfrentar os riscos e fornecer uma garantia razoável de que, na prossecução da missão da entidade, os seguintes objetivos gerais são alcançados: • execução das operações de modo ordena-

do, ético, económico, eficiente e eficaz; • cumprimento das obrigações de prestação de contas; • cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis; • salvaguarda de recursos contra perda, uso indevido e danos. Voltando ao início deste artigo: ética deve ser um princípio da gestão de qualquer entidade e, ainda mais numa IPSS; a economia e eficiência na utilização de recursos escassos e colocados à disposição pelo Estado e pelos dadores deve ser um princípio inalienável nas IPSS; só a eficácia das operações e da utilização de recursos justifica a existência de uma IPSS; a salvaguarda de recursos contra perdas e usos indevidos é uma exigência em qualquer organização. Então, porque não há preocupação do Estado com a implementação e manutenção de SCI adequados e eficazes nas IPSS? Saliente-se que tais sistemas seriam inclusive uma ajuda e mesmo uma proteção para os responsáveis pela gestão das instituições, bem como uma base que facilitaria o trabalho das inspeções a que as mesmas estão (ou deveriam estar) sujeitas.


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Atual As regiões do Centro e do Alentejo registaram acréscimos em equipas de sapadores.

Alentejo escapou a descidas na prevenção contra incêndios em 2016 As acções preventivas de incêndios nas florestas baixaram em 2016, com uma quebra de 55% na rede primária de faixas de gestão de combustíveis e de 40% na manutenção da rede viária florestal, revela o INE nesta quarta-feira. As Estatísticas do Ambiente 2016 divulgadas na passada quarta-feira analisaram as acções de silvicultura preventiva levadas a cabo pelo Instituto de Conservação da Natureza e Floresta (ICNF) e pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, da Região Autónoma da Madeira, em 2016. “Verificou-se um decréscimo de todas as acções no continente face a 2015 (gestão de combustíveis, -24,6%; pontos de água beneficiados, -20,5%; manutenção de rede viária florestal, -40,9%; rede primária de faixas de gestão de combustíveis executada, -55%)”, segundo o documento do Instituto Nacional de Estatística (INE). Na Região Autónoma da Madeira, acrescenta o relatório do INE, “a maioria das acções aumentou (gestão de combustíveis, 1.133,3%; pontos de água beneficiados, 300%; manutenção de rede viária florestal, 100%)”. No âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra incêndios, estão estabelecidas medidas e acções estruturais e operacionais relativas à prevenção e protecção da floresta, como recorda o INE. Prevenir os incêndios implica o desenvolvimento de diversas actividades, nomeadamente acções de silvicultura preventiva, como gestão de combustíveis florestais (corte de mato, limpeza de povoamentos), beneficiação de pontos de água, manutenção da rede viária florestal (caminhos, estradões ou trilhos) e rede de faixas de gestão de combustível.

Prevenir incêndios e indemnizar vítimas custará 186 milhões

Em 2016, o número de sapadores florestais ao serviço inverteu a trajectória descendente, ao fixar-se nos 1355 efectivos, mais 45 elementos que no ano anterior, o que possibilitou a criação de nove novas equipas. As regiões do Centro e do Alentejo foram as que maiores acréscimos registaram, com mais 4% e 12%, respectivamente, correspondentes a cinco e três equipas de sapadores florestais. O Norte foi contemplado com mais uma equipa.

Em 2016, pelo quarto ano consecutivo, o número de elementos afectos ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) no continente diminuiu, desta vez 2,3%, ficando com 875 elementos, menos 21 que no ano anterior, diz o INE. Ao contrário de 2015, o número de actividades desenvolvidas pelo SEPNA em 2016 diminuiu 16,3%, fixando-se nas 58.027 acções. Entre 2012 e 2016, continua o INE, “o efectivo decresceu a um ritmo médio anual de 1,2%, correspondendo a uma

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saída de 44 elementos, dos quais cerca de metade ocorreu no último ano”. A Região Autónoma dos Açores manteve o mesmo número de elementos, com um total de 30 efectivos, enquanto a Região Autónoma da Madeira perdeu um elemento, fixando-se nos sete efectivos, o número mais baixo do quinquénio. Em 2017, segundo a cartografia provisória de áreas ardidas de 2017, o fogo atingiu 39,4 mil hectares de áreas protegidas no continente, mais 26,5 mil hectares que em 2016.

D José Alves apelou a um Natal de Fé e de proximidade com os mais necessitados O arcebispo de Évora pediu na sua mensagem de Natal que se repare “nas carências” na sociedade atual “marcada” por situações de insuficiência “económica, de abusos de confiança, de atropelos à justiça social, de desrespeito pela dignidade humana”. “A celebração do Natal perderá o seu sentido original se ignorarmos as carências que existem à nossa volta e permanecermos fechados no nosso pequeno mundo”, escreveu D. José Alves. Na mensagem enviada à Agência ECCLESIA, o prelado explica que o Natal convida “a sair da zona de conforto” para ir ao encontro de quem precisa da presença de cada um e de ajuda, por isso, convida a que se abram “olhos e ouvidos”. “Reparemos nas carências de vária ordem que existem à nossa volta. Ouçamos os clamores que se levantam perto de nós. Deus ouviu o clamor do povo e veio ao seu encontro”, pode ler-se. “Ouçamos também nós as vozes dos que clamam por justiça, dos que pedem ajuda, dos que mendigam o pão de cada dia. São as vozes dos nossos irmãos, com

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os quais Jesus Cristo se identifica. Ouvir as suas vozes é ouvir a voz de Cristo”, afirma o arcebispo de Évora. D. José Alves realçou que o Natal é “a época do ano que gera maior envolvência em todas as idades e camadas sociais”. Neste contexto, destaca que nem todas as pessoas se referem ao Natal pelos mesmos motivos mas a quadra “exerce sobre todos uma forte atração”. “Todos se lhe referem como algo extraordinário, carregado de uma espécie de magia, capaz de transformar os corações. E foi mesmo para transformar os corações dos seres humanos que o Verbo de Deus encarnou no seio de Maria e nasceu pobre e humilde em Belém”, desenvolve. D. José Alves observa que há muitas celebrações natalícias que se afastam da perspetiva da fé e “esvaziam o Natal do seu sentido original e autêntico”. Na sua mensagem de Natal, o arcebispo de Évora recorda que o Natal cristão celebra o nascimento de Jesus, “o Salvador”, que “continua a nascer, ao longo dos tempos”, agora “nos corações daqueles que lhe abrem a porta”.


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Dezembro ‘17

Exclusivo TEXTO: JOSÉ PINTO

FOTOGRAFIA: FLORBELA VITORINO

jmnp1962@hotmail.com

florbelavitorino.foto@gmail.com

Crónicas da Transtagana

Guardiões do Largo, do Templo e das Lendas Santana do Campo - Aldeia milenar e cidade romana

“Esta é a minha terra. Aqui nasci e também eu sou dela.” Percebe-se um sentimento de pertença, de partilha. Comunitário e de relação filial. Uma relação de mãe e de filho. Pois que Santa Ana é mãe. Também avó e padroeira da terra (nesses tempos Freguesia da Paroquia). Santa Ana poderia ter sido contemporânea da construção do Templo, originariamente, a outra divindade dedicado. Lá pela era de 1916 “o ilustre arqueólogo Vergílio Correia estudou o edifício, confirmou a importância das milenárias ruínas e admitiu, com bases científicas as suas características, projectou uma planta conjectural e atribuiu, ao TEMPLO, o culto de “Carneus”... Juntamos o testemunho do inesquecível Túlio Espanca. Diz ele ter avisto pelas bandas da Sempre Noiva “restos arqueológicos romanos de merecimento [...], provenientes do destruído Templo do Deus gentílico CARNEUS, de Santana do Campo». A Direção-Geral do Património Cultural descreve o monumento e os “gigantescos pilares graníticos de silharia almofadada, com secção quadrada, que parecem reforçar e ornamentar os paramentos de imponente construção romana, que devem andar embebidos no revestimento de alvenaria do templo cristão. Época Construção: Romana...” Os “Guardiões do Largo, do Templo e das Lendas” procuram o sol quente deste inverno ainda verão, “que este ano não acaba. Até o vento é seco”. No Largo “por estas alturas do Natal sempre cheio de gente” estão o Florêncio Barbeiro, nosso guia e condutor ao encontro da devoção do avô; João Barbeiro que a sua mãe pôs no mundo numa das casas do Largo; José Lagarto que esteve no palco do mais importante dos acontecimentos do Século XX – a inauguração da “luz elétrica”, no dia 19 de março de 1967 - e Amadeu Pé-Leve que traz na mão a chave da Igreja, da qual é guardadora sua mulher, neta do “Ti Agostinho Sacristão, cabo de ordens, regedor, sacristão e coveiro”, dando ela continuidade ao desempenho dessa missão, há mais de um século, cumprido pela família. Todos eles brincaram no Rossio, no curto tempo em que foram “gaiatos”, pois ser

ajuda de gado era o seu primeiro destino, às vezes antes de terminada a “4ª classe”, outras sem conhecer a sala de carteiras enfileiradas e quadro negro encimado por Cristo na cruz. Assim era feita a sala de aula dos “Guardiões do Largo, do Templo e das Lendas”. Como todos os largos das terras da transtagana, o largo, que em Santana do Campo todos chamam “Rossio”, é o centro do mundo. E mais o foi quando a meio do século passado aqui era a “Escola (nas casas da Igreja), havia uma venda, a Igreja e até o cemitério”. Neste lugar eram as procissões, as festas e as afamadas “rodas de fogo”. As “fogaças” recolhidas por “juízes e mordomos” ficavam guardadas na Igreja. Florêncio Barbeiro “ainda gostava de ver uma festa com todas essas tradições,” pois que a última com tais preparos há-de ter acontecido na década de cinquenta do século XX. Em andores ornamentados por sábias mãos femininas saíam, com solenidade, todos os santos - Santa Ana, Santa Rita, S. Brás e Nª Sra. do Rosário -. “Todos não. Nessa altura já Santo Hilário estava de castigo no canto da sacristia”. A feição interrogativa teve resposta imediata dos “guardadores de lendas”. Contam ter resultado a punição do “atrevimento” de Santo Hilário, ou de uma “paixoneta” pela Nª Sra. do Rosário. Sendo considerada errada tal conduta, “foi posto de castigo e ainda hoje lá está”. Entre sorrisos contidos, mais ou menos matreiros, sem que se desrespeite a fé e a santidade, é-nos relatada a ocorrência, tal como se conta no Largo. Florbela não se surpreende com a narrativa. Com um quase impercetível sorriso esclarece não ser este caso inédito. Acontecimento similar, ocorrido noutras latitudes, fazendo fé em José Eduardo Agualusa, que o descreveu sob o título “As duas Imagens”, teve lugar em Angola, Muxima, uma vila, sede do município da Quissama, na província de Luanda. A isso não assistiu João Barbeiro, hoje guardião no Largo, pois tal por lá não vislumbrou, tendo sido outra a razão, duma

imposta ida a terras de África. Afinal pode pode mesmo ter sido uma “paixão” e sobre estas coisas do coração, não ousamos questionar. E porque havemos de duvidar, se “Muxima” é a palavra Angolana para coração! Mas no Largo ainda se faz menção a outro acontecimento, desta vez envolvendo Santa Rita, muitas vezes auxiliadora dos nossos antepassados, como dizem os “ex-votos” onde é evocada e lhe dão agradecimento pelas graças concedidas. Conta-se que certa madrugada, sendo visto sair da Igreja um vulto, se alvitrou ser Santa Rita. Logo aí se decidiu ir no seu encalço para retornar a Santinha ao seu altar. Diz-se no Largo e sabe-se nas redondezas ter terminado esta empresa no “penedo da Poupa”, na “Herdade da Sarrana”. Verificado foi tratar-se de uma linda e colorida poupa. Santa Rita sempre esteve no seu lugar. Desta corrida, onde um dos homens acabou com um “garrancho” de esteva num pé, ainda hoje se fala. E à Aldeia deixou para sempre o epíteto de “Terra da Poupa”. Sabendo que assentam na tradição oral quisemos perceber se têm fundamento tais lendas. Deixamos de lado a “Poupa”, que poderá não ser apenas uma “estória” do Largo, mas no dizer do nosso guia é “tida muitas vezes como pejorativa”, e voltemos a Santo Hilário. O historiador Bruno Lopes, com raízes nesta terra, que foi a dos seus pais, neto do “Ti Alfredo” e da “Ti Estrudes”, aquando da realização do Colóquio “Santana do Campo: Espaço de Identidade de Memória”, na exposição documental efetuada incluiu a transcrição dos interrogatórios a que respondeu “Jose Thomas Murteyra da Sylva – em Sancta Ana 13 de Junho de 1758”, onde se dá conta da existência de “... quatro altares o mayor do orago da caza hum dos colatrais (sic) de sam Bras outro da Senhora do Rozario e junto a este outro de Sam Thiago, só tem huma Irmandade e he do Rozario: o parocho da ditta freguezia he cura da aprezentação do Excelentissimo

Reverendissimo Senhor Arcebispo:...” Aproxima-se do fim este encontro com “Guardiões do Largo, do Templo e das Lendas”. Florêncio Barbeiro confidencia-nos a devoção do seu avô a Nª Sra. de Fátima, sendo que esta, na segunda metade do século XX, tomou o altar de Nª Sr do Rosário. Disponibiliza-se para nos mostrar a fotografia da família do seu avô, que a encomendou à Santa da sua devoção. A fotografia encontra-se entre os “ex-votos”, na Igreja Paroquial de Santana do Campo, configurando neste caso uma situação de consagração, junto que está com outros de agradecimento ou promessa. Florêncio Barbeiro que já adulto ainda frequentou a catequese, pessoa desperta para o conhecimento e interessada pela história, reconhece, no canto da sacristia “Sam Thiago”. Ele que se interroga, permanentemente, sobre todas as coisas, enuncia um conjunto de perguntas, às quais nem mil crónicas chegavam para responder. Certo é que “Sam Thiago”, a quem, aparentemente, os “Guardiões do Largo, do Templo e das Lendas” chamam “Santo Hilário”, perdeu o altar, o mesmo tendo acontecido a S. Bras e a Nª Srª do Rosário, que deram lugar a Santa Rita e Nª Srª de Fatima. Destas “mudanças” salvou-se a padroeira, Santa Ana, que mantém o altar “mayor do orago” que já detinha em 1758. “Essas alterações são coisas já doutro tempo”. O tempo, sempre o tempo. Ele foi testemunha. Ele deixou as suas marcas. Precisamos conhece-las, interpreta-las e dar-lhe vida. Que venha um tempo novo para renovar, sem apagar a sua obra, nem nada da primeira, que Romana pode não ter sido. Todas as obras e até as do tempo estão transformadas em memória e identidade. E aos Guardiões do Largo, do Templo e das Lendas “aflige não poder fazer mais por isto”. Se a casa se começa pelos alicerces e deve ser construida “sobre a dura rocha”, tudo indica, começa a morrer pelo telhado, onde pelo menos um pardal teme perder o ninho, a julgar pelo olhar comovente, lançado do cimo do campanário.


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Atual Aprovação unânime mereceu o Projecto Laboratório Vivo para a Descarbonização de Évora.

Câmara de Évora aprovou Opções do Plano e Orçamento para 2018 As Opções do Plano e o Orçamento Municipal para 2018 do Município de Évora mereceram aprovação pelo Executivo camarário, com quatro votos favoráveis (CDU), duas abstenções (PS) e um voto contra (PSD), seguindo agora para deliberação na sessão da Assembleia Municipal de 29 de Dezembro. O Orçamento Municipal é de 57 milhões e meio de euros, refletindo o trabalho de saneamento financeiro e convergência orçamental com a realidade que tem vindo a ser prosseguida ao longo dos últimos anos. O Presidente da Câmara Municipal, Carlos Pinto de Sá, explicou que estas Opções têm como base o programa que a CDU apresentou, mas que incluem contributos feitos pelos eleitos das forças políticas na oposição. Informou também que o tema geral escolhido para 2018 é a Paz, em virtude da comemoração dos100 anos do Armistício. Referiu algumas condicionantes e aspectos positivos do Plano, destacando igualmente os principais objectivos do trabalho a concretizar em 2018 nas diversas áreas camarárias. A abertura de concursos destinados a postos de trabalho a por tempo indeterminado é um dos propósitos em vista para o novo ano de forma a regularizar situações e repor quadros em falta, anunciou o autarca, agora que, tanto as finanças locais como o Orçamento de Estado abrem essa possibilidade. Destacou ainda os vários investimentos a realizar nas escolas, em equipamentos municipais, espaço público e outras áreas, identificados no âmbito da gestão participada com intervenção de trabalhadores, dirigentes, forças polítiPUB

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cas, freguesias, movimento associativo e população em geral. Os Vereadores da oposição apresentaram as suas posições quanto aos referidos documentos e colocaram questões, nomeadamente em relação a algumas áreas e rúbricas, tendo também justificado os seus votos. No período antes da ordem do dia, o Presidente deu conta da recente reunião com a Secretária de Estado da Educação para abordar o problema da falta de as-

sistentes operacionais nas escolas e as obras a realizar nas escolas Manuel Ferreira Patrício e André de Gouveia. Tendo chegado a um princípio de acordo nas questões referentes às obras, foi também decidido realizar nova reunião em Janeiro para, em conjunto com o Instituto de Gestão Financeira, poder tratar das questões de financiamento referentes à contratação de assistentes operacionais e financiamento de obras da responsabilidade do Ministério da Educação.

A Câmara de Évora congratulou-se pela classificação dos Bonecos de Estremoz como Património Imaterial da Humanidade, tendo o Presidente enviado uma saudação ao autarca de Estremoz que mereceu o apoio de todos. Um conjunto de taxas e impostos foi aprovado nesta reunião, estando a Câmara condicionada pelo PAEL a manter o seu valor máximo, à semelhança do ano passado, sem que tenha possibilidade legal de reduzir o seu valor. Estão nesta situação o IMI, Derrama, Participação Variável no IRS. Noutros casos foi apenas atualizado o valor considerando a taxa de inflação prevista. Foram aprovadas por unanimidade três propostas que são um passo importante para a concretização de uma velha aspiração da população que consiste na Passagem da Ligação Pedonal e Clicável entre a Zona Norte e o Centro Histórico de Évora. Aprovação unânime mereceu igualmente o Projecto Laboratório Vivo para a Descarbonização de Évora, uma candidatura ao Fundo Ambiental que visa reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa no Centro Histórico de Évora, a qual consiste fundamentalmente na implementação de um laboratório vivo para experimentação de soluções eficientes, energeticamente sustentáveis e replicáveis. De sublinhar ainda a aprovação por unanimidade das propostas de submissão à Assembleia Municipal de Celebração de Contratos Interadministrativos e de Acordos de Execução com as Juntas/Uniões de Freguesias – Ano 2018.


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Atual Portugal encontra-se em seca meteorológica desde abril e desde esse mês que chove abaixo da média.

”Os agricultores são principais vítimas da seca“ A tempestade Ana veio e trouxe com ela chuvas intensas. Nesses dias, a chuva no norte e centro do país aproximou-se do que seria normal num mês inteiro de dezembro e pode até ter tornado um pouco menos grave a situação de seca nessas regiões. Mas, no Alentejo e no Algarve, a situação continua tão preocupante como antes. Pior mesmo é saber que pouco pode voltar a chover até ao final do ano. Portugal encontra-se em seca meteorológica desde abril, ou seja, desde esse mês que chove abaixo da média. Novembro manteve esta tendência e foi classificado como um mês muito seco, tendo chovido, em média, cerca de 50% abaixo do que seria esperado em Portugal continental, indicou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera no boletim mensal. Chove abaixo da média e muito abaixo do que seria ideal para manter a produção agrícola normal ou para assegurar a produção hidroelétrica e em muitas barragens esta mesma produção está parada. A solução para a seca seria a chuva, mas quanto a isso não há nada que se possa fazer. Neste momento, a melhor solução é gerir os recursos existentes o melhor possível e considerando o pior dos cenários. “Não sabemos quando vai chover. Toda a gestão deve ser feita considerando que 2018 também será um ano de seca”, disse ao Observador Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero. “Se tivéssemos tido esta perspetiva em abril, agora não estaríamos tão aflitos.”

Se continuar sem chover, a reserva de água chega para ano e meio

O abastecimento para consumo humano é prioritário e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) garante que há água disponível para cerca de ano e meio, mas enquanto se mantiver o período de seca os níveis de todas as bacias hidrográficas do país vão continuar a baixar. Em novembro de 2017, todas as bacias, exceto a do Arade, apresentavam níveis inferiores às médias de armazenamento nos meses de novembro entre 1990 e 2016. “Nas origens de água superficiais para consumo humano são normalmente garantidas reservas que permitem ultrapassar períodos relativamente longos de seca, sendo normal reservas de cerca de ano e meio”, respondeu a APA ao Observador. Falta saber se, caso 2018 seja tão seco como 2017, a água continuará a che-

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gar para ano e meio. “Caso não haja reposição dos volumes armazenados e os existentes forem sendo utilizados nos usos prioritários, é natural que as reservas vão baixando”, respondeu a APA. Para que Portugal pudesse sair da situação de seca e para que as albufeiras pudessem encher seria preciso pelo menos um mês de chuva intensa e outro de precipitação normal para o mês em questão, disse ao Observador Vanda Pires, meteorologista no Instituto Português do Mar e da Atmosfera. “O ideal seria chover dois meses consecutivamente acima do normal.” Isto significa que teria de chover todos os dias ou, pelo menos, três ou quatro dias em cada semana.

A agricultura é a atividade mais penalizada com a seca

A água para consumo humano pode ser o uso prioritário das albufeiras, mas é a agricultura que mais água consome — cerca de 75%, contra 10% para consumo humano e 15% para a produção de energia, segundo Carla Graça, vice-presidente da associação ambientalista Zero. A seca deste ano já teve impacto nas

culturas e é garantido que em 2018 haverá menos produção de cerejas, amêndoas e azeitonas. Mas se não chover o suficiente para abastecer as albufeiras, vai faltar o milho e o arroz agulha nacional. Se não houver água para assegurar a campanha agrícola completa, estes cereais não chegam sequer a ser semeados. “Os agricultores são as principais vítimas da seca”, afirmou ao Observador Gonçalo Tristão, na foto à direita, durante uma visita do grupo parlamentar do PSD à região, representante da Associação de Beneficiários do Lucefecit, que gere uma albufeira com o mesmo nome, no Concelho de Redondo. “Mas também são os que melhor se adaptam.” Os agricultores dependentes da albufeira do Lucefecit já estão habituados a anos de escassez de água, como 2017. “Acontece a cada cinco ou seis anos não termos água suficiente.” Por isso, os agricultores já estão preparados para semear uma área menor ou para mudar o tipo de culturas — podem, por exemplo, apostar mais nas culturas de inverno, que requerem menos rega. Outra das medidas previstas pelo Governo é a interligação entre albufeiras,

de forma a que as de maior capacidade possam fornecer água às que têm menor armazenamento ou cujos níveis se encontram mais baixos. Esta é uma das medidas que interessa à Associação de Beneficiários do Lucefecit. Como estão a apenas dois ou três quilómetros do lago do Alqueva, poderia existir uma ligação direta de abastecimento aos agricultores em caso de necessidade, referiu Gonçalo Tristão. A albufeira do Alqueva já tem neste momento ligação a outras albufeiras, como as albufeiras da Vigia, Monte Novo, Alvito, Roxo e Enxoé. A EDIA, que gere a água da albufeira, assegurou ao Observador que o Alqueva tem “autonomia para mais três anos com precipitações idênticas às dos últimos três”. É por isso que, neste momento, nem sequer pensam na possibilidade de a albufeira deixar de ter água suficiente. “O Alqueva é a maior reserva de água da Península Ibérica. Foi concebida para ser uma reserva estratégica de água, com autonomia para quatro anos consecutivos de seca extrema”, respondeu ao Observador a EDIA. “Se algum dia esse cenário vier a acontecer, fica a pergunta: como estará então o resto da Península Ibérica?” As restantes albufeiras estão longe da capacidade ou autonomia da albufeira do Alqueva. A albufeira do Lucefecit, por exemplo, é uma barragem de regulação anual. Logo, precisa que chova todos os anos para assegurar o armazenamento de água suficiente para a campanha agrícola. A vantagem, segundo Gonçalo Tristão, é que, embora a albufeira seja pequena (pouca capacidade de armazenamento), tem uma boa bacia hidrográfica. Isto quer dizer que toda a água que caia e escorra pela Serra de Ossa tem uma boa probabilidade de ir parar à albufeira. Em conclusão: precisa chover, mas não muito. Já na albufeira de Minutos, em Montemor-o-Novo, por exemplo, a perspetiva é diferente: como a bacia hidrográfica (que recolhe água para a linha de água e albufeira) é muito pequena, precisa de chover muito para que a albufeira retome os níveis de armazenamento ideais. “Precisamos de, pelo menos, 10 milhões de metros cúbicos, que é aquilo que gastamos por campanha”, disse ao Observador João Mamede, técnico responsável pela Associação de Beneficiários da Barragem de Minutos.

32º Aniversário do Rancho ”Os Camponeses“ O Rancho Etnográfico “Os Camponeses” de Arraiolos festejou no dia 19 de dezembro de 2017 o seu 32º aniversário, com a realização de um desfile desde o Arraiolos Multiusos até à Praça do Município. No Arraiolos Multiusos atuaram: - Rancho Etnográfico “OS CAMPONESES” de Arraiolos - Rancho Folclórico de “PIARES” Penha Longa Marco de Canavezes - Rancho Folclórico S. Vicente Paulo - Santarém - Rancho Folclórico das Casas Novas - Coimbra Rancho Folclórico “Os Camponeses de Santa Eutátia” Vila Franca de Xira. Ana Maria Pimpão, responsável do Rancho Etnográfico “Os Camponeses” de Arraiolos agradeceu a “colaboração

dos ranchos participantes e das diversas entidades que tornaram possível este evento, nomeadamente a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia, bem como a disponibilidade dos elementos do Rancho Etnográfico “OS CAMPONESES” de Arraiolos para manter esta atividade.” O Rancho Etnográfico “Os Camponeses” de Arraiolos que foi fundado em 1985 e conta com meia centena de elementos, tem contribuído ao longo destas três décadas para a promoção e divulgação das danças regionais arraiolenses e alentejanas, divulgando com as suas atuações as tradições locais. “As danças e cantigas para encurtar

caminhos percorridos a pé, acompanhavam os trabalhadores rurais na sua labuta diária. Levavam a “merenda” na “alcofa” ou no “alforge” com o “tarro” para as migas. E eram as cantigas que aliviavam a dureza da vida no campo. O Rancho Etnográfico “Os Camponeses” de Arraiolos procura retratar nos seus trajes a forma como “Os Camponeses” Alentejanos se vestiam e trazem consigo alguns instrumentos de trabalho utilizados na época.” A preservação de tradições com um cariz etnográfico relevante, tem um papel importante na dinamização cultural no concelho de Arraiolos.

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Radar “Os olivais regados atingiram boa maturação dos frutos, perspectivando-se uma produção elevada”.

Preço base do Azeite pode aumentar até 30% O Instituto Nacional de Estatística (INE) perspectiva que o azeite tenha, em 2017 um “aumento dos preços base” de 29,6% e acrescenta que é “expectável um decréscimo de produção em volume” de 9,3%. Os dados, avançados em meados de Dezembro, nas Contas Económicas da Agricultura, incluem, neste caso, informação de duas campanhas oleícolas (a anterior, de 2016/2017 e a actual, de 2017/2018). O gabinete estatístico explica, que, nesta categoria de produção vegetal, “na campanha actual, os olivais regados atingiram a maturação da maioria dos frutos, perspectivando-se uma produção elevada (aumento de 15%)”. “Pelo contrário”, acrescenta no comunicado hoje disponibilizado publicamente, “nos olivais de sequeiro, que abrangem uma área maior, a escassa precipitação de Setembro e Outubro, aliada às elevadas temperaturas, conduziu a uma produtividade inferior”, com queda precoce ou menor desenvolvimento dos frutos , e “afectou negativamente o teor em gordura das azeitonas”, erodindo o seu valor comercial. Conclui ainda o INE que “a redução de oferta interna, aliada ao aumento de procura internacional (em consequência da redução da oferta dos países produtores e aumento de consumo a nível mundial) geraram um aumento de preços deste produto no ano de 2017”. Nas Contas Económicas da Agricultura, divulgadas e que representam a primeira estimativa para o corrente ano das contas do sector, o INE prevê ainda que o “rendimento da actividade agrícola, em termos reais, por unidade de trabalho ano (UTA), deverá registar um decréscimo de 2,4%”. Crescera 17,5% em 2016. “Esta diminuição” face ao ano anterior, “foi determinada pela expressiva redução dos outros subsídios à produção”, que sofreram uma quebra homóloga de 25,4%, “tendo o valor acrescentado bruto (VAB)

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O que, comparado com 2016, representa um crescimento de 255% - “situação única neste século”, garante a entidade estatística. Recorde-se que, nos terrenos privados em torno da barragem do Alqueva – cuja irrigação tem sido financiada por fundos comunitários – a amêndoa tem sido uma das produções que maior investimento (sobretudo estrangeiro) tem captado no Alentejo nos últimos anos.

Kiwi com maior produção “de sempre”

aumentado 4,5%”, face a uma diminuição de 1,5% em 2016.

Preço pago ao produtor de batata leva corte de 27,3%

No total, o INE antecipa que a produção vegetal, globalmente, registe uma diminuição dos preços base, pagos no produtor, de 2,7%. Este desempenho do preço acompanha um acréscimo esperado de 7,2% do volume da produção agrícola em 2017. Se para o azeite o INE estima um crescimento do preço pago na produção de quase 30%, o inverso é também verdade para a batata. Em rigor, o INE estima que a produção de batata tenha um aumento de volume de 13,7% em 2017 ”em resulta-

do da área plantada” em 5%, e da produtividade da batata de regadio, em 10%. E acrescenta que “a qualidade da batata colhida foi, de um modo geral, boa”. Contudo, “os preços praticados [à produção de batata] registaram uma redução significativa” este ano – de 27,3% - o que o INE ajuda a contextualizar: a quebra deste ano verifica-se “após um grande aumento em 2016”, de 58%.

Amêndoas com produção “única”

No que toca aos frutos, o INE destaca as amêndoas. As amendoeiras, diz a entidade estatística “apresentaram uma quantidade substancial de frutos e as previsões apontam para uma produção superior a 20 mil toneladas”.

No global das culturas frutícolas, a perspectiva agora divulgada das contas económicas da agricultura para 2017 (que serão revistas em Janeiro próximo), é de um acréscimo de 17,2% em volume, “em consequência de uma maior produção de maçã, pêra, pêssego, kiwi, frutos de baga e amêndoa”. O aumento do volume terá “uma redução dos preços [ao produtor] em relação ao ano anterior”, de 1,4%, “em resultado de uma descida generalizada para todos os frutos, com excepção da maçã”. “A produção de kiwi foi a maior de sempre”, salienta o INE, “tendo-se atingido as 31 mil toneladas, como resultado do acréscimo de produtividade por hectare e, sobretudo, da entrada em plena produção das plantações recentes”.

Vinho “de qualidade superior”

No caso do vinho, as contas agrícolas apontam para um aumento de 10% em volume e igual acréscimo, nominal, em valor. Não é dada referência para a evolução do preço pago à produção. “A vindima foi feita com tempo seco, pelo que são esperados vinhos de qualidade superior”, adianta o INE, acrescentando que as uvas entregues à produção vinícola “encontravam-se, em geral, em boas condições sanitárias, bem amadurecidas e com elevados teores de açúcar”.

Gonçalo M. Tavares venceu prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora O escritor Gonçalo M. Tavares venceu o Prémio Literário Vergílio Ferreira 2018, atribuído anualmente pela Universidade de Évora (UÉ), revelou à agência Lusa fonte da academia alentejana. O vencedor do galardão foi decidido durante uma reunião, que terminou ao início da tarde, do júri do prémio, presidido pelo professor da UÉ Antonio Sáez Delgado e que integra o escritor João de Melo, a crítica literária Maria da Conceição Caleiro e as professoras Ângela Fernandes e Cláudia Afonso Teixeira. Instituído em 1996, o galardão distingue, anualmente, o conjunto da obra literária de um autor de língua portuguesa relevante no âmbito da narrativa e/ou ensaio. O júri decidiu atribuir este ano o prémio a Gonçalo M. Tavares pela “originalidade da sua obra ficcional e ensaística, marcada pela construção de mundos que entrecruzam diferentes linguagens e imaginários, afirmando-o como um dos autores de língua portuguesa mais criativos da actualidade”.

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Nascido em Luanda (Angola), Gonçalo M. Tavares, de 47 anos, é professor de filosofia na Universidade de Lisboa. O autor já recebeu, entre outros, o Prémio Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, no Brasil, o Prix du meilleur

livre étranger, em França (2010), e o Prix Littéraire Européen (2011). Desde 2001, publica romances, contos e poemas, assim como literatura para a infância e peças de teatro, estando as suas obras publicadas em mais de

50 países. O escritor, um dos mais traduzidos da literatura portuguesa, lançou este ano o seu primeiro livro sobre o universo das mitologias, intitulado A Mulher-sem-cabeça e o Homem-do-mau-olhado. A cerimónia de entrega do prémio realiza-se no dia de 1 de Março de 2018, data em que se assinala a morte de Vergílio Ferreira, estando previstas intervenções do premiado, do júri e da reitora da Universidade de Évora. Segundo a UÉ, esta edição contou com candidaturas apresentadas por instituições de Portugal, Brasil, Espanha, Itália e Colômbia. O prémio foi atribuído pela primeira vez a Maria Velho da Costa, a que se seguiram, entre outros, Mia Couto, Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Agustina Bessa Luís, Vasco Graça Moura, Mário Cláudio, Luísa Dacosta, José Gil, Hélia Correia, Lídia Jorge e João de Melo, tendo sido galardoada na edição de 2017 a escritora Teolinda Gersão.


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Radar O Presidente Luís Mourinha, manifestou a sua satisfação, ainda na Coreia, dizendo-se “muito feliz”.

Bonecos de Estremoz Classificados A UNESCO classificou no início de dezembro, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a produção dos “Bonecos de Estremoz”, em barro, uma arte popular com mais de três séculos. A classificação da “Produção de Figurado em Barro de Estremoz”, vulgarmente conhecida como “Bonecos de Estremoz”, foi decidida na 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorreu na Ilha Jeju, na Coreia do Sul. O presidente do município de Estremoz, Luís Mourinha, manifestou a sua satisfação, ainda na Coreia, dizendo-se “muito feliz”. “No fundo é um momento grande da história de Estremoz em termos da sua classificação, das suas gentes, porque o figurado de barro representa tudo o que é o trabalho, tudo o que é a dificuldade dos alentejanos e dos estremocenses em particular”, disse o autarca à agência Lusa. De acordo com Luís Mourinha, a UNESCO valorizou os “Bonecos de Estremoz”, uma arte popular em barro com mais de três séculos, pela “visão do artista, do artesão sobre a sua envolvência”. O presidente da Turismo do Alentejo, PUB

D.R.

António Ceia da Silva, considerou uma “vitória para Portugal” a classificação pela UNESCO. “Muito orgulhoso, muito satisfeito. Eu diria que é uma grande vitória, uma grande vitória para Estremoz, para o Alentejo, mas uma grande vitória para Portugal”, disse, destacando a forma como

aquele organismo tem reconhecido nos últimos anos as candidaturas portuguesas. “Houve dossiês aqui que demoraram horas a ser discutidos, o dossiê de Estremoz demorou cinco minutos, e isso diz bem o reconhecimento da UNESCO do trabalho que se faz em Portugal nesta área da pre-

servação do património cultural imaterial” enalteceu. Na área de Património Cultural e Imaterial da Humanidade estavam inicialmente a concorrer 49 candidaturas, das quais 35 foram aprovadas, tendo no final recolhido parecer negativo 11. Os “Bonecos de Estremoz” pertencem a uma arte de caráter popular, com mais de 300 anos de história, tendo sido o primeiro figurado do mundo a merecer a distinção de Património Cultural Imaterial da Humanidade, na sequência da candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Estremoz, no distrito de Évora. A candidatura teve como responsável técnico o diretor do Museu Municipal de Estremoz, Hugo Guerreiro. Com mais de uma centena de figuras diferentes inventariadas, a arte, a que se dedicam vários artesãos do concelho, consiste na modelação de uma figura em barro cozido, policromado e efetuada manualmente, segundo uma técnica com origem pelo menos no século XVII. Em Estremoz, trabalham atualmente nesta arte emblemática Afonso e Matilde Ginja, Célia Freitas, Duarte Catela, Fátima Estróia, Irmãs Flores, Isabel Pires, Jorge da Conceição, Miguel Gomes e Ricardo Fonseca.


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Radar Este projeto concebido há 18 anos pela escultora Teresa Martins apresenta 46 figuras em tamanho real.

Presépio de rua na vila medieval de Monsaraz O Presépio de rua com figuras em tamanho real foi ser inaugurado no dia 1 de dezembro, Este projeto concebido há 18 anos pela escultora Teresa Martins apresenta 46 figuras em tamanho real que vão estar dispersas pelas ruas da vila medieval até ao dia 6 de janeiro de 2018. As esculturas estão feitas em ferro e rede recobertas por panos impermeabilizados de cor crua, pintadas em tons pastel, rosa velho e lilases, têm as caras e as mãos feitas em cerâmica e estão iluminadas durante a noite, propondo um passeio agradável pelas ruas de Monsaraz. Quem visitar a vila medieval pode passear ao lado das figuras do presépio, como os Reis Magos, o pastor, os guardas do castelo, o oleiro, o almocreve, a lavadeira e a fiadeira, que se dirigem para junto da Virgem Maria, São José e o Menino Jesus, que estão colocados no Castelo. Para além do Presépio, Monsaraz terá uma mostra de artesanato e de produtos regionais nos feriados e fins-de-semana até 17 de dezembro, uma iniciativa que está integrada na programação do Natal das Freguesias. O tradicional Cante ao Menino que decorreu no dia 23 de dezembro, às 17h, na Igreja de Nossa Senhora da Lagoa, com as participações do Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz, PUB

D.R.

Orquestra da Sociedade Musical Santa Cecília, Manuel Sérgio e José Farinha. O Cante de Reis, também com o Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz, realiza-se no dia 5 de janeiro, a partir das 19h, pelas

ruas da vila medieval. Em Reguengos de Monsaraz, o Natal das Freguesias incluiu no dia 8 de dezembro, às 13h, a Festa de Natal – Seniores da Freguesia, nos dias 13 e 14 de dezembro as

festas de Natal nos estabelecimentos de ensino do pré-escolar e do 1º ciclo, e nos dias 20 e 21 de dezembro houve Magia de Natal nos Lares da Freguesia. O Cante ao Menino, com o grupo Canta’raz, decorreu no dia 26 de dezembro na Igreja de Nossa Senhora da Caridade, no dia 28 de dezembro na Igreja de Perolivas e no dia seguinte na Igreja Matriz de Reguengos de Monsaraz, sempre às 19h. Em S. Pedro do Corval, no dia 1 de dezembro, foi inaugurado o Presépio de rua e a Exposição de Presépios na Casa do Barro. No dia 3 de dezembro, também às 14h30, atuou a Escola de Música da Sociedade Filarmónica Corvalense no Centro Social e Paroquial Nossa Senhora do Rosário, e no dia 16 de dezembro, pelas 16h30, na Sociedade União e Progresso Aldematense, realizou-se o Concerto de Natal com a Banda e o Coro Polifónico da Sociedade Filarmónica Corvalense. Este coro de S. Pedro do Corval atou também no dia 17 de dezembro, às 14h30, no Centro Social e Paroquial Nossa Senhora do Rosário e pelas 16h na Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Santo António do Baldio. No dia 23 de dezembro, às 16h, o Coro Polifónico da Sociedade Filarmónica Corvalense cantou na Igreja de S. Pedro do Corval.


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Sociedade

Mais de 20.000 agricultores vitimas dos incêndios indemnizados O Governo vai pagar 40 milhões de euros até final deste ano a mais de 20.000 pequenos agricultores afectados pelos incêndios de Outubro, os quais apresentaram candidaturas com prejuízos até 5000 euros, anunciou na passada sexta-feira o ministro da Agricultura. Os mais de 6000 agricultores que entregaram prejuízos até 1053 euros vão receber na totalidade o valor apresentado (3,7 milhões de euros no total), enquanto os mais de 14.600 agricultores que apresentaram prejuízos entre 1054 a 5000 euros vão receber 75% do valor total das candidaturas (valor global de 49,8 milhões de euros) até ao final deste ano (37,3 milhões de euros relativos aos 75%) e os restantes 25% no início do próximo ano, após validação dos controlos. Em conferência de imprensa realizada no Ministério da Agricultura, Luís Capoulas Santos explicou que estes mais de 20.000 pequenos agricultores vão receber entre 27 e 29 de Dezembro, através de transferência bancária, vale dos correios ou cheque carta. O ministro sublinhou que mais de 11.000 destes agricultores não dispõem de conta bancária. PUB

Cultura

Festa de Natal À semelhança dos anos anteriores, a Universidade Sénior de Évora realizou, no passado dia 14 de Dezembro, a Festa de Natal dedicada a todos os alunos, voluntários e organização. Esta festa contou com um jantar no Évora Hotel, onde compareceram cerca de 90 pessoas, entre alunos e os seus familiares, professores voluntários e membros dos órgãos sociais. Após o jantar, fomos abrilhantados pela actuação da Tuna Sénior de Évora, que mais uma vez nos presenteou com as suas belas canções, desta vez dedicadas à época natalícia. Tivemos ainda a presença do professor voluntário José Vieira, que de forma a apresentar a sua nova disciplina de Dança, nos ensinou alguns paços de Tango e Forró. Por fim, mas não menos importante, tivemos a actuação do músico Tinho Pinho, participante do programa televisivo Ídolos, que nos proporcionou um momento de boa música, mas também de boa disposição.

Agricultura

Capoulas prepara Estatuto da Agricultura Familiar O novo Estatuto para a Pequena Agricultura Familiar estará em vigor até Março de 2018 e irá consagrar direitos como o acesso prioritário a fundos comunitários e um regime fiscal “mais favorável” para estes agricultores, anunciou o Governo na passada quarta-feira. Em declarações à agência Lusa, o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, explicou que em causa está uma “carta de direitos” para um “segmento com um impacto e uma importância social muito superior à sua importância económica, [...] porque se trata da população rural que ocupa os territórios, cujo despovoamento das últimas décadas foi tão tristemente ilustrado na recente tragédia dos incêndios”. Desde logo, segundo o governante, “pretende-se que a pequena agricultura tenha acesso

prioritário às medidas de apoio da União Europeia, seja no investimento, seja outras medidas de apoio ao rendimento”. Ao mesmo tempo, prevê-se que estes agricultores tenham um “sistema de segurança social e fiscal mais favorável”, bem como “um regime específico no que diz respeito às normas de higiene e segurança alimentares nas pequenas leitarias, salsicharias, queijarias”, que seja “mais simples do que aquele que é exigido à indústria em geral”, isto “sem prejuízo das regras elementares no que diz respeito à segurança dos consumidores”, precisou. “Queremos também facilitar o acesso aos mercados locais e introduzir medidas de apoio nesse sentido, já que a comercialização dos produtos é o problema principal dos pequenos agricultores”, apontou Capoulas Santos. Em causa estão ainda medidas como a adequação das exigên-

cias ao tipo de agricultura, desde logo no volume de produção comercializada, a criação de linhas de crédito específicas para este segmento e a cedência de prioridade para arrendar terras do Estado. O Governo criou em Setembro passado um grupo de trabalho com a missão de apresentar, até à terceira semana de Novembro, propostas para o Estatuto para a Pequena Agricultura Familiar, segundo um diploma publicado na altura. Antes, o executivo tinha criado a Comissão Interministerial para a Pequena Agricultura Familiar, em funções desde o final de Agosto para elaborar este estatuto. O governante estimou que “até ao final do primeiro trimestre de 2018” este estatuto esteja em vigor, após uma aprovação final em Conselho de Ministros, promulgação e publicação em Diário da República.


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