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3. APRESENTAÇÃO

colaborar financeiramente e consegue custear as despesas da redação. Mas será que suas pautas sofrem interferências de apoiadores a ponto de influenciar em seu conteúdo? Desse modo, este estudo avaliou se os veículos jornalísticos financiados pelo seu público possuem influências dele em suas pautas. Para isso, a pesquisa foi conduzida por meio de estudo de caso da revista digital feminista AzMina. Foram analisados os posts publicados entre 1 de janeiro e 21 de agosto, no grupo fechado para apoiadores no Facebook e também uma entrevista com a Diretora de Conteúdo, Helena Bertho, para entender o posicionamento do veículo quanto à comunicação com seus apoiadores. A hipótese é que, impulsionada pela continuidade no ativismo, a revista por vezes precise ceder parte de seu conteúdo ao agrado de público a fim de continuar a conquistar mais apoiadores, mas sem perder a essência que marca seu posicionamento no movimento social feminista. Por fim, para chegar ao entendimento de como funciona parte da comunicação de movimentos sociais na internet, utilizamos os estudosde Castells (2014). E também, analisamos o conceito de Jornalismo Pós-Industrial revisitado por Bell, Anderson e Shirky (2013) e os novos meios de financiamento readaptados pela imprensa. Toda a discussão se dará em torno do viés de mídia alternativa e seus aspectos folkcomunicacionais delimitados por Woitowicz (2011).

3. APRESENTAÇÃO

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Esta pesquisa abordou um padrão diferente do que foi feito ao longo de muitos anos e entendemos por revista feminina. A revista digital e feminista AzMina é o que temos de diferente nesse modelo dos chamados “filhotes” da grande segmentação das revistas determinado por Scalzo (2011). Mas, além da diferença no conteúdo esbarramos no quesito financiamento.

O modelo de financiamento da Revista AzMina é livre de envolvimento com entidades

públicas e privadas, recurso este que algumas análises reconhecem como um meio para prática de um jornalismo mais autônomo e livre de influências editoriais de grandes instituições. Essas influências institucionais são vistas como problemas no exercício da livre imprensa e do jornalismo em sua essência de informar o público sem barreiras no compromisso com a verdade. A revista tem contribuição de financiamento coletivo, ou seja, apoio do próprio público, porém neste trabalho as discussões foram em torno das possíveis influências desse público financiador. Embora tenhamos um jornalismo pautado por um movimento social, Assis et al. (2017) identificam algumas contradições descritas nos modelos de jornalismo independente que tem a

liberdade de imprensa como ponto principal. Eles descreveram a necessidade de entender como autonomia e ativismo se articulam. Por isso, a partir desse recorte, pudemos compreender essa questão em aplicação acadêmica e permitir um passo maior em busca do entendimento dessas diversas vertentes que abrigam o jornalismo que busca, cada vez mais, sua liberdade. A fim de entender essa articulação, o objeto de estudo escolhido foi a Revista AzMina, primeiro por identificá-las como um equivalente ao trabalho experimental que acompanha este trabalho de conclusão de curso, que é uma revista digital com edição especial impressa voltada à mulher da periferia. Segundo, por seu caráter ativista pelo movimento feminista que vai além do jornalismo e conta com projetos que tem como objetivo, por exemplo, pressionar o poder legislativo na questão dos direitos das mulheres. Desse modo, observamos os posts publicados no grupo fechado de apoiadores da revista no Facebook. O método de busca avançada foi utilizado e as publicações filtradas pertencem ao período de 1 de janeiro a 21 de agosto. Assim, foram categorizadas e analisadas as interações da revista com o público e vice-versa. Utilizamos o método de análise de conteúdo considerando contextos, interações e outros dados importantes para esta análise. Além disso, entrevistamos a diretora de conteúdo do veículo, Helena Bertho Dias, para entender o posicionamento da revista sobre todo esse processo e de que forma é recebida as ideias dos apoiadores. Sob o entendimento de que informação leva à autonomia e consequentemente à emancipação, esta pesquisa busca entender como podemos garantir que mais desse jornalismo possa continuar produzindo de maneira acessível sem que interferências financeiras prejudiquem seu envolvimento em causas sociais. Castells (2014) analisou a importância da tecnologia na melhora da articulação de movimentos sociais. O sistema denominado como sociedade em rede (Castells, 1999) trouxe essa possibilidade como um dos muitos aspectos que permeiam essas mudanças. Apesar de sua discussão girar em torno das redes sociais, ele também ressalta a importância de uma mobilização coletiva em campo. Isso tudo é parte da análise do processo comunicativo como um potencializador de grandes movimentos e mudanças, aspectos esses em que podemos entender o veículo AzMina como um “motor” informacional capaz de levar esse conhecimento e gerar o primeiro dos sentimentos que movem essas mudanças e discutiremos melhor no tópico a seguir. Apesar de alguns autores classificarem independência jornalística como um processo livre de influências estatais, Assis et al. (2017) trazem como observação que outros autores nos

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