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5. RESULTADOS
personagens colocadas em destaque.” E esse caráter não se restringe ao conteúdo, mas perpassa pelas características detalhadas por Woitowicz (2011). Esses valores alternativos combinados à horizontalidade se expressam na comunicação do veículo com seu público, especialmente com apoiadores, indica mais uma das reflexões da autora em que a comunicação alternativa dialoga com a folkcomunicação, conceito criado por Luiz Beltrão.
A folkcomunicação, além de incorporar a reflexão sobre horizontalidade e atribuir papel ativo no processo de comunicação também ao receptor, aproxima-se das abordagens da mídia alternativa ao representar as formas de expressão da cultura popular, através de diferentes meios. É a comunicação direta, em que participam os membros de um determinado grupo social, que expressa os hábitos, valores e mesmo reivindicações dos setores marginalizados, através de suas manifestações culturais. Estas formas de comunicação, devido à representatividade que assumem no contexto de grupos sociais específicos, podem também ser entendidas como expressões de uma identidade de resistência que, ainda que estabeleça relações com a chamada cultura de massa, revela sua autenticidade e valor. (WOITOWICZ, 2011, p. 12)
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A partir dessa ideia e da percepção de que o conceito elaborado por Beltrão, hoje, passa pelos aspectos de diferentes tipos de mídia alternativa, podemos vislumbrar os meios em que a imprensa marginal, sob o entendimento daquilo que não é tradicional, se instalaram nesse novo ecosssistema e agora encontram novos caminhos e desafios para continuar existindo de maneira autônoma.
5. RESULTADOS
Para entender e nos aprofundarmos nessa comunicação entre apoiadores e veículo, utilizamos uma amostra dos posts realizados entre 1 de janeiro e 21 de agosto de 2021. Todos eles foram obtidos por meio do método de pesquisa avançada da plataforma Facebook e isso resultou em um total de 28 posts. Eles foram listados e analisados um a um por data de publicação, autor da publicação, conteúdo, quantidade e tipo de interação, além de quantidade e conteúdo dos comentários.
O primeiro fator e o que mais chama a atenção é o fato de que, nesse período de amostragem, de 28 posts apenas 5 foram feitos por não administradores do grupo, ou seja, pessoas que não são parte organizacional da revista. Quatro dos cinco são divulgações de eventos online e um deles é um convite em que uma apoiadora propõe um debate sobre mulheres, empreendedorismo e pandemia na rede social Clubhouse. Essa é a única publicação do período feita por uma apoiadora que não tenha objetivo de divulgar algum trabalho ou projeto.
Essa observação, de uma maioria de posts feitos pela parte organizacional, pode demonstrar uma busca da revista por maior participação e inclusão dos apoiadores, embora nenhum post denote busca de participação ativa no quesito de escolha e opinião em temas para reportagem, somente para resposta e compartilhamento dos formulários de pesquisa para obter estatísticas para os textos. Mesmo assim, todo o conteúdo que envolve sorteios, e até mesmo divulgação de resultados financeiros anuais, são publicados primeiramente lá. Parte disso pode ser demonstrado pelo primeiro post do ano e que foi realizado pela Verena Paranhos, Gerente de Comunidade da Revista AzMina, e também a pessoa que realizou 14 dos 23 posts realizados por administradores.
Figura 1 – A Gerente de Comunidade
Fonte: imagem retirada do grupo fechado “Conselho de Apoiadores da Revista AzMina” no Facebook. Verena explica um pouco do novo cargo que assumiu e de maneira resumida cita que ela é a responsável pela conquista de mais apoiadores e pela comunicação com as pessoas que já são apoiadoras. O veículo possui um cargo voltado especialmente à conquista e diálogo com esse público. Em suas reflexões, Assis et. al destacam as questões do volume de dados em que os jornalistas tendem a deparar-se com relação ao comportamento da audiência. Faz parte de uma publicação querer engajar e popularizar pela conquista de novos apoiadores e expansão do
projeto. E aqui, nos referimos especificamente a projetos que não possuam viés lucrativos e se organizem em torno de um movimento social. Ainda nas análises dos autores, ao mencionar esse conflito de equilíbrio entre preferências do público e normas profissionais, mas que aqui vamos colocar a questão das preferências da redação e escolhas que sirvam ao movimento feminista, eles determinam que “tal balanceamento não parece tarefa simples, uma vez que as vontades dos usuários identificadas por meio dos números sinalizam melhores resultados econômicos (audiência, publicidade e assinaturas)” (ASSIS et. al., 2017, p.13) Mesmo que o objetivo não seja lucrativo, a existência desses veículos depende da ajuda financeira. Logo, um profissional voltado ao diálogo com apoiadores é justificável e necessário nesse tipo de redação, até mesmo para trazer a inclusão e a comunicação horizontal da mídia alternativa. No quesito botões de interações, a média da participação dos membros com a revista é baixa. De 449 membros, a publicação com maior número de interações, no período em análise, nos botões tem 39 reações, entre elas 22 “curti”, 15 “amei” e 2 “força”. A publicação foi feita pela Gerente de Comunidade. Ela divulga o resultado de um inquérito policial envolvendo AzMina que iniciou em 2018 ao divulgarem uma reportagem sobre aborto seguro. A Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, juntamente com um deputado estadual de São Paulo, abriram investigação contra a revista pelas informações sobre aborto. Porém, todas as informações divulgadas estão previstas pela OMS como aborto seguro e não configuraram motivo para andamento com o inquérito. Além de divulgar o resultado, ela também o comemora, junto com apoiadores e outros administradores do grupo nos comentários, que são apenas 4.
Figura 2 – Inquérito Policial

Fonte: imagem retirada do grupo fechado “Conselho de Apoiadores da Revista AzMina” no Facebook.
Nesse sentido, podemos entender que esse maior número de reações deve-se a um caso muito específico e que está fora da comunicação rotineira que a revista costuma utilizar com os membros. Além de ter sido um acontecimento importante e que ameaçou negativamente o veículo.
Em entrevista com a Diretora de Conteúdo da revista, Helena Bertho Dias, ela destacou que parte dessa pouca interação deve-se ao fato de que o próprio veículo tem parado de investir na plataforma Facebook. Creio que isso reflete um pouco nosso desinvestimento no Facebook. Atualmente investimos mais em newsletters como ferramenta de contato com o público e estamos trabalhando em uma nova ferramenta para isso também. Assim, nosso maior contato com apoiadoras tem sido diretamente por email. O grupo no Facebook acaba ficando um tanto fora do foco. (DIAS, Entrevista Oral, apêndice D, p.50)
Ao observar essa pouca interação podemos apontar diversas questões possíveis, como apoiadores pouco engajados com as questões do veículo, ou seja, apoiam e se contentam em apenas consumir os conteúdos da revista, que são abertos mesmo a quem não apoia; uma estabilidade na quantidade de contas ativas da própria plataforma; uma não identificação com esse modelo de comunicação aberta e em grupo, que pode justificar a escolha por uma comunicação mais particular por e-mail, entre muitos outros fatores que podem influenciar essa questão. O post com o maior número de comentários foi feito pela Helena Bertho que também está como administradora do grupo. Na publicação, ela fez uma enquete utilizando uma ferramenta do próprio Facebook sobre uma possível produção de vídeos por parte da equipe AzMina. A enquete é de "sim" ou "não" questionando se os apoiadores acham que vale a pena esse tipo de conteúdo. A equipe também pede que respondam nos comentários ideias que possam somar com essa nova etapa de criação para a revista digital. Todos os 33 votos para a enquete foram “sim”. Nos comentários, 4 mulheres deram sugestões a respeito de formato, conteúdo, plataformas, e a administradora respondeu a todos. Figura 3 - Enquete

Fonte: imagem retirada do grupo fechado “Conselho de Apoiadores da Revista AzMina” no Facebook.
Aqui, já encontramos uma tentativa de incluir os apoiadores em decisões do veículo no que diz respeito a conteúdo. No período, essa foi a publicação que melhor expressou a proposta de participação e horizontalidade que são uma das premissas de um veículo alternativo. Figuras 4 - Comentários

Fonte: imagem retirada do grupo fechado “Conselho de Apoiadores da Revista AzMina” no Facebook. Figura 5 – Comentários parte 2

Fonte: imagem retirada do grupo fechado “Conselho de Apoiadores da Revista AzMina” no Facebook.
Pensando em algumas questões editoriais, Helena Bertho explicou sobre a escolha de pautas e indicou os critérios e filtros determinados. “A escolha de pautas é feita seguindo diversos critérios editoriais, que passam por relevância (tanto de interesse público, quanto de interesse do público), exclusividade, profundidade, novidade, etc.” Com liberdade e autonomia como questões em destaque neste trabalho, é necessário lembrar que todo esse processo envolve um ecossistema jornalístico capaz de pautar decisões e meios de produção (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013). Além de já termos exemplificado questões de engajamento nas redes sociais e profissionais responsáveis pela comunicação e captação de apoiadores, precisamos lembrar que o meio digital não abrange somente o Facebook, embora o objeto deste estudo limite-se a ele. Eventualmente, quando estamos fazendo alguma matéria que acreditamos que possa engajar na questão de apoio, pensamos em acompanhar a pauta com algum tipo de campanha para aumentar as colaborações, como aconteceu com a matéria sobre mulheres negras protagonistas, que virou uma campanha com postais, ou com a matéria sobre tudo que o governo já fez em relação aos direitos das mulheres. (DIAS, Entrevista Oral, Apêndice X, pag. X)
O uso de toda ferramenta digital está sob um conjunto de regras e exige conhecimento estratégico para divulgação, assim como qualquer campanha publicitária, embora aqui o assunto seja jornalismo. O contexto do jornalismo digital inserido na web traz as regras de um