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4. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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E) ANEXOS

E) ANEXOS

mostram que não é apenas esse o único poder capaz de manipular a informação. Levando em consideração o modelo industrial de jornalismo e o que tem se consolidado com base no sistema capitalista, grandes empresas também influenciam nesta atividade por meio do sistema de anúncios e propagandas. O que entende-se por discurso de movimentos sociais e suas questões sobre parcialidade adentram um novo mundo no jornalismo, não apenas por sua sede de independência, mas também pelo entendimento de imparcialidade que ficou consolidado por muitas décadas de atividade jornalística. Agora, discutimos como esses conceitos antigos foram capazes de unirse e formar um novo status para o jornalismo e os movimentos sociais, sempre levando em consideração as facilidades digitais e a rede de cooperação que pode influenciar esse novo processo jornalístico.

4. REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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Nos estudos de jornalismo pós-industrial, Anderson et. al. destacam um fator importante capaz de influenciar diversos âmbitos da imprensa. O que chamam de “ecossistema jornalístico” é o meio em que um veículo ou jornalista se insere, e ele abarca desde as instituições envolvidas (até mesmo fornecedores), ao público e conteúdo. Desse modo, trazem as principais mudanças que ocorreram principalmente com a inserção do jornalismo no meio digital e como isso se desdobrará pelos próximos sete anos e é importante ressaltar que o artigo foi publicado em 2012. Por isso, hoje, já no ano de 2021, conseguimos vislumbrar parte do que os autores trouxeram de importante para esse novo ecossistema que denominam como pósindustrial.

Em parte dessas observações eles ressaltam o crescimento no número de veículos sem fins lucrativos.

Haverá mais organizações jornalísticas sem fins lucrativos, bancadas por distintos mecanismos: dotações diretas de entidades filantrópicas e outras fontes de subsídio (como no caso da Ford Foundation bancando repórteres do Los Angeles Times, da William Penn Foundation financiando a PennPraxis), aporte de fundos por usuários (NPR, TPM) e doações em espécie – tempo, conhecimento – de uma determinada comunidade (como na redação de verbetes sobre catástrofes para a Wikipedia ou na criação de fluxos de hashtags no Twitter). (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 83)

Dentre muitas outras análises importantes em destaque no artigo, aqui nos manteremos na questão do financiamento que deriva de toda uma mudança no ecossistema jornalístico. Isso é importante para situarmos o contexto organizacional em que as atividades de imprensa se encontram atualmente. Nenhuma dessas mudanças, porém, é exclusiva de reflexões acerca de

influências editoriais, ela provém de uma necessidade de adaptação ao meio digital, a novas organizações e a dificuldades que o jornalismo industrial já enfrentava há algum tempo. Partindo dessa importante mudança no jornalismo de modo geral, este estudo utilizou um recorte de uma modalidade jornalística que surgiu nos últimos anos, principalmente com os atributos do jornalismo digital. A pesquisa analisou se o veículo jornalístico, na modalidade revista digital, AzMina, possui em suas pautas influências do público que o financia. A partir desse questionamento, queremos saber se o jornalismo ativista, mesmo livre de patrocínio de grandes corporações e entidades governamentais, consegue praticar plenamente sua autonomia. A revista “AzMina” possui teor ativista sob o movimento social feminista e, de acordo com Bittelbrun (2017, p. 359), “há uma postura interseccional no magazine, que considera as dinâmicas entre os diferentes eixos de subordinação na esfera social.” Embora não denominem a vertente em seu “Quem somos”3, muitos tipos de mulheres são contempladas em suas pautas. O site produz reportagens extensas, algumas delas investigativas, que relatam, informam e/ou apresentam soluções às mulheres representadas em determinado assunto. Assim: Estendendo as discussões para além dos espaços físicos, notamos como a revista on-line AzMina pode ser um campo político e simbólico capaz de promover outras mulheres, ou seja, aquelas que estiveram fora das mídias convencionais. A revista se apropria de fundamentações dos veículos mais tradicionais para subvertê-los, ajudando não apenas a promover sujeitos e condutas que não tinham visibilidade nos meios de comunicação, como a desconstruir atribuições e significações relacionadas às mulheres. (BITTELBRUN, 2017, p. 366)

Sob essa faceta interseccional e inclusiva, o veículo apresenta os mais diversos temas e pautas relacionados ao movimento, tendo em suas ações, por exemplo, um projeto chamado “Elas no Congresso”. Essa ação é uma forma de monitorar o que é discutido a respeito dos direitos das mulheres no poder legislativo. O método de financiamento utilizado pela revista é o Catarse e conta com assinatura de pessoas que contribuem mensalmente com determinado valor para a realização da revista. Até a data da escrita deste artigo, 458 assinaturas4 estavam ativas e os valores vão de R$15 a R$500 mensais. Cada uma dessas contribuições conta com um nível diferente de benefício para o apoiador. Mas, desde o valor mínimo, esse colaborador adquire o direito de fazer parte do Conselho Editorial e pode opinar nas produções, levantar ideias de pautas, sugerir e acompanhar o processo jornalístico por meio da possibilidade de conversa direta com a redação. Além disso,

3 Disponível em https://azmina.com.br/instituto-azmina/quem-somos/. Acesso realizado em 25 set. 2021. 4 Disponível em https://www.catarse.me/azmina?ref=&utm_source=web_27abr_apoiehome. Acesso realizado em 21 set. 2021.

também acontecem sorteios e convites a eventos produzidos pelo veículo. A partir desse valor entram benefícios como, livros, artes, adesivos, etc. Também há a opção de apoiar sem recompensa, em que o valor é editável a partir de R$10. Apesar dos planos de assinatura, todo o conteúdo produzido é 100% gratuito, mesmo para aqueles que não possuem assinatura colaborativa.

Na contribuição financeira máxima, de R$500, além de adquirir todos os retornos dos valores menores, a revista ressalta que contribuindo esse valor eles podem contratar uma repórter freelancer e existe a opção de “...se quiser mesmo contribuir, ainda pode participar dos bastidores e palpitar nas escolhas junto com a editora e a repórter.” O meio de comunicação entre o Conselho Editorial da revista AzMina e a parte organizacional do veículo é um grupo fechado no Facebook que, até a escrita deste artigo, possuía 449 membros. As conversas acontecem por publicações, que podem ser feitas por apoiadores e administradores do grupo, que são parte do desenvolvimento da revista, e as discussões costumam discorrer por comentários e reações, recursos próprios da plataforma. Assis et. Al (2017) discorreram sobre questões de autonomia e colaboração levantando os principais aspectos que tangem esse modelo e que diferem do que é denominado grande imprensa. O sistema de financiamento coletivo é considerado uma forma de obter maior autonomia e também uma solução para o que eles determinam como um esgotamento do “modelo de sustentação do jornalismo adotado há poucos séculos”.

Existem iniciativas que buscam massificar o número de financiadores individuais, envolvê-los em processos de decisão das pautas e acompanhamento das reportagens produzidas, garantindo não uma imparcialidade que existe apenas no discurso, mas uma certa “parcialidade justificada”. (ASSIS, et. al., 2017, p. 7) Assim, as discussões acerca desse sistema mostram a necessidade de entender como essa articulação entre veículo e apoiador acontece. Além de uma análise empírica sobre autonomia e mídia alternativa, parte do que discorremos neste estudo de caso. Entendendo que a comunicação é uma fonte base para diversos movimentos sociais e formação de coletivos capazes de organizar-se em torno de um mesmo objetivo, Castells (2014) analisou como a comunicação digital tem importante participação em movimentos dos anos 2000, que foram realizados em diversos países e alguns resultaram na queda de governantes autoritários.

Manifestações feministas acontecem no Brasil, mas suas conquistas ainda enfrentam diversas barreiras políticas que necessitam de um apoio massivo da sociedade. Por isso, a contribuição da comunicação de uma rede ativista pode levar diversas pessoas aos principais

sentimentos que, segundo Castells (2014), guiam os primeiros passos de uma revolta coletiva. Ele também observa que essa identificação de indivíduos com um mesmo propósito, acontece nas redes sociais. A comunicação dos movimentos sociais, de certo modo, cria sua própria rede. Além disso, há uma conexão fundamental, mais profunda, entre a internet e os movimentos sociais em rede: eles comungam de uma cultura específica, a cultura da autonomia, a matriz cultural básica das sociedades contemporâneas. (CASTELLS, 2014, p. 135)

Embora Castells refira-se a movimentos de protesto, é possível identificar essa cultura da autonomia no engajamento de jornalistas que optaram pelo “faça você mesmo”. Ele também ressalta que os “atores da mudança social são capazes de exercer influência decisiva utilizando mecanismos de contrução do poder que correspondem às formas e aos processos do poder na sociedade em rede”. O processo digital é uma fonte que facilitou e proporcionou acessibilidade a essa forma de produção jornalística. Envolvendo-se na produção de mensagens nos meios de comunicação de massa e desenvolvendo-se na produção de mensagens nos meios de comunicação de massa e desenvolvendo redes autônomas de comunicação horizontal, os cidadãos da era da informação tornam-se capazes de inventar novos programas para suas vidas com as matérias-primas de seu sofrimento, suas lágrimas, seus sonhos e esperanças. Elaboram seus projetos compartilhando sua experiência. Subvertem a prática da comunicação tal como usualmente se dá, ocupando o veículo e criando a mensagem. Superam a impotência de seu desespero solitário colocando em rede seu desejo. Lutam contra os poderes constituídos identificando as redes que os constituem. (CASTELLS, 2014, p. 11)

Adentrando no conceito de comunicação horizontal, é necessário levantar a questão da mídia alternativa e da folkcomunicação como parte de um novo acesso dos grupos marginalizados pela sociedade. Woitowicz (2011) denomina a mídia alternativa como uma comunicação que explicita contraposição aos meios hegemônicos. Horizontalidade, mobilização, participação, conteúdo contra-hegemônico, ambivalência entre emissor e receptor, espaço de expressão da cultura popular, instrumento de resistência. Estes são os principais aspectos que fundamentam uma caracterização da mídia alternativa, compreendida tanto como prática de comunicação quanto reflexão teórica. (WOITOWICZ, 2011, p. 11)

O trabalho de Bittelbrun (2017) faz uma comparação do veículo com as revistas Trip e Claudia, sendo que ambas percorrem o caminho do que se considera tradicional. Segundo a autora, “há, então, todo um ideal de transgressão proposto pelo magazine, em relação aos meios de comunicação tradicionais, passando pelo modo como as temáticas são abordadas e pelas

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