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4.1 A presença expressiva do neofantástico

O gráfico 14 apresenta na categoria FP: 0 referências do fantástico puro, na categoria FE: 0 referências do fantástico estranho, na categoria FM: 4 referências do fantástico maravilhoso, na categoria NF: 20 referências do neofantástico e na categoria N: 13 referências de normalidade. A seguir serão interpretados os resultados adquiridos através da coleta de dados da análise de conteúdo.

4.1 A presença expressiva do neofantástico A partir dos resultados apresentados no início do capítulo 4, a categoria do fantástico que demonstra uma maior expressividade dentre os episódios analisados se destina ao neofantástico. Na soma os gráficos 7 e 14, que categorizam o total de incidências das categorias fantásticas por episódio, o resultado obtido são 27 referências diretas com relação a categoria neofantástica, em oposição a 1 da categoria fantástico puro, 0 na categoria fantástico estranho e 4 na categoria fantástico maravilhoso. O neofantástico, resgatando a definição de Alazraki, não se destina a irrupção do fantástico dentro de um contexto cotidiano mas a inserção do leitor/personagem em um contexto primariamente fantástico, de modo a normalizar os elementos que fogem de um contexto verossimilhante. Mas porque esta categoria goza de mais incidências que as demais categorias do fantástico? Para ilustrar essa orientação, fora separado alguns trechos em que é perceptível a incidência direta do neofantástico. Primeiramente, o enredo de obra gira em torno do desaparecimento repentino de centenas da hackers no ano de 2600 vítimas da Nova Ordem Mundial que seguindo as pesquisas empreendidos a respeito do “código da vida”, uma linha de código que permite o usuário nas condições certas fazer o upload de seu corpo para uma realidade digital chamada Maya, sequestra e realiza experimentos em seus corpos. Esta ambientação fantástica do mundo estabelece para o espectador que não estamos lidando com um mundo verossimilhante ao nosso, pelo contrário, somos inseridos em um futuro distante, mais longe do que podemos especular, e através dessa menção o caráter neofantástico da obra é reforçado longe um contexto verossimilhante. Fração expressiva dos elementos fantásticos da obra são protagonizados pela categoria Personagens e dentro dela, encontram-se entre as subcategorias

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Ação e Forma física, a exemplo desse resultado faz-se necessário a apresentação dos personagens e seu enquadramento aos elementos fantásticos. Logo no início do segundo episódio nos é apresentado a personagem Torre. Torre, de primeira audição, aparenta uma mulher jovem entre 18-25 anos que mora em um apartamento na cidade de Nova São Paulo. Prestando atenção as subcategorias ”ação”, “vestimenta” e “forma física”, Torre, se apresenta longe das categorias fantásticas nas duas últimas. Suas vestimentas não apresentam elementos que fogem da realidade verossimilhante, muito menos a forma física sendo uma mulher aparentemente saudável. Porém ao se tratar da subcategoria “ação”, a presença do neofantástico se torna presente. No decorrer do episódio o personagem PC nos é apresentado como um assistente virtual a serviço de Torre. Ao informá-la sobre o recebimento de uma mensagem, pede permissão para o descarregamento do material enviado. Torre rebate o pedido, pronunciando que já devia ser um procedimento padrão a ser cumprido. Neste momento PC acata a descisão e responde a Torre não se responsabilizando pelo conteúdo, ou seja, a possibilidade de um vírus ou conteúdo explícito. Torre infere uma semelhança entre a fala de PC e a personalidade de sua mãe, no que PC ironiza, fazendo uso do ato ilocutório, fazendo uma associação entre a maternidade e o componente físico intitulado de placa mãe presente em seu hardware e Torre completa, assumindo o arrependimento por efetuar um upgrade no software de PC introduzindo as funcionalidades referentes a uma Inteligência Artificial (IA). Uma Inteligência Artificial é um conceito da ciência computacional que na ficção científica toma uma proporção diferente da definição convencional. Em termos de ficção, segundo Braulio Tavares (1986, p. 65) “[...] é como se fossem computadores capazes de falar e ouvir, e alojados em um corpo semelhante ao nosso. Mas a presença do computador na fc geralmente dispensa esse corpo”. O personagem PC, como previamente descrito, é representado na obra como um assistente virtual dotado de Inteligência Artificial. Como tal, as suas decisões passam pelo crivo de Torre mas não são limitadas por ela devido ao upgrade em sua programação e sua nova capacidade de discernimento atrelado a ela. A presença de uma máquina que abarca a complexidade da IA, segundo a ficção, sem causar anormalidade dentro do contexto da obra para os personagens, segue a marca da categoria neofantástica.

Já Angra, é apresentada através de um diálogo entre Torre e o personagem Ferrugem. Ferrugem, por meio do perfil vocal, aparenta ser um homem jovem entre 18-25 anos. Sua aparência imagética no episódio não apresenta características marcantes ou elementos fantásticos além do conhecimento substancial em programação e robótica, que fica evidente após o pedido de Torre durante uma chamada de voz, solicitando para “trazer o Mecha” numa manobra de fugir dos agentes da NOM. Um “Mecha” é parte do imaginário de ficção científica oriental que consiste em um robô gigante, controlado ou não por um piloto/controlador, de formato antropomórfico, ou seja, semelhante a um ser humano. A sua função é servir como uma máquina de guerra contra monstros maiores que as capacidades humanas de neutralização e outros mechas. Por apresentar o elemento fantástico de forma naturalizada com o contexto do mundo, a presença do Mecha, representa um elemento da categoria neofantástica. Seguindo a apresentação dos personagens e seu enquadramento nos elementos fantásticos agora no quinto episódio. No decorrer do episódio, Torre, PC, Ferrugem e Angra entram em uma laboratório de informática antigo, o que aparenta ser a casa segura mencionada pela mensagem recebida por Torre em seu apartamento, de onde deveria buscar respostas sobre o desaparecimento dos hackers. Em sua chegada Torre ouve ao longe passos se aproximando. Em um princípio de pânico, Ferrugem diz a Torre para se esconder atrás dos computadores, no que PC prontamente faz menção em se juntar, enquanto diz a Angra o Mecha para iniciar o modo de defesa sobre a sugestiva ameaça dos passantes. Nesta cena dois elementos neofantásticos se encontram presentes. A primeira se destina ao personagem PC que além de constatado no episódio 2 ser um assistente virtual dotado de um upgrade de inteligência artificial, a menção feito pelo mesmo em se juntar ao esconderijo de Torre, indica uma presença não somente virtual como em um smartphone ou apetrecho por exemplo, mas também corpórea através do indicativo de movimentação, ou seja, semelhante a presença de Angra o Mecha. A segunda se destina ao modo de defesa engrenado pela personagem Angra. Um Mecha, como colocado no episódio 2, é uma máquina de combate destinada a repressão de monstros maiores que as capacidades humanas de neutralização e outros mechas e como uma demonstração dessa função foi apresentado, nesse modo de defesa, a capacidade destrutiva do Mecha e de mesmo modo a normalização de uma situação fantástica pertencente portanto ao campo do

neofantástico. Ao ouvir de longe a voz de um conhecido, Torre se esgueira para fora do esconderijo e grita por seu nome, neste momento nos é apresentado o personagem Ceifador no episódio. De primeira audição, Ceifador aparenta ter entre 30-50 anos de idade, assassino de aluguel, especialista em armas de fogo, carrega uma arma de franco-atirador consigo. Como elementos fantásticos, não atende as subcategorias “ação”, “vestimenta” ou “forma física”, suas ações obedecem as capacidades usuais de uma pessoa comum, sua vestimenta não demonstra funcionalidades surreais e sua forma física é a de um ser humano corriqueiro. Ao lado de Ceifador, no desenrolar da cena, se encontrava o personagem Bot na encolha. Ao avistar Torre, afastou-se de seu esconderijo e aproximou-se dos dois. Bot, como os personagens de carne e osso da série, não apresenta na sua construção como personagem elementos que fogem das noções de uma realidade verossimilhante. Nas subcategorias “vestimenta” e “forma física”, nada se sobressai como fantástico, porém na subcategoria “ação” uma das realizações do personagem foi introduzir o código da vida na máquina e fazer o upload tanto dele como Torre para a realidade digital de Maya, ganhando a classificação portando de neofantástico. Logo em seguida a reunião dos personagens uma chamada de vídeo forçado é executada por PC, em que a personagem Echo nos é apresentada. Echo, pelo perfil sonoro, aparenta a idade da porção jovem dos personagens da obra, entre 1825 anos, suas subcategorias fantásticas são reunidas em “ação” e “forma física”. Sua forma física existe dentro do mundo digital de Maya, ou seja, a sua composição corpório não passa de dados e linhas de código dentro dessa realidade. Sua ação fantástica corresponde a sua capacidade de ler linhas de código de sistemas de dentro de Maya como se as mesmas aparentassem estar bem a sua frente. É importante ressaltar que neste momento, uma encruzilhada entre o elemento fantástico maravilhoso e o neofantástico se vê presente. Ao mesmo tempo que a irrupção do fantástico ocorre uma vez que as leis “naturais” do novo mundo digital são desconhecidas para os personagens existe uma certa normalidade construída ao desenvolver do episódio que caracterizaria o mesmo como neofantástico. Pelo impasse estabelecido, o evento é classificado com as duas categorias do fantástico. Em outro momento o grupo formado por Bot, Ceifador, Torre, Ferrugem, PC e Angra, seguem as linhas de metro abandonadas da estação e refletem sobre a real existência do universo paralelo digital chamado Maya. Se deparam ao longe com o

que parece ser uma laboratório de pesquisa fortificado rondado por guardas a espreita. Ceifador abate os guardas mais próximos com poucos tiros de sua sniper porém um guarda, antes da atingido, consegue convocar o restante da segurança local. Numa tentativa de resistência, Ceifador se voluntaria para segurar a turba de seguranças enquanto o restante do grupo se dirige para o laboratório. Porém Ferrugem e Angra o Mecha saem na frente dos seguranças performando um auto sacrifício para que o restante do grupo tenha sucesso em adentrar o local. Neste momento Ferrugem comanda Angra a iniciar o protocolo de auto destruição do núcleo interno do sistema. O ato de auto destruição não caracteriza por si só um elemento do fantástico. Por outro lado o personagem que o realiza, dentro do contexto da cena neste caso Angra o Mecha, caracteriza um elemento intrínseco pertencente ao neofantástico, a normalidade frente ao fantástico. Como a situação é encarada pelos personagens, frente a um elemento neofantástico, como se fosse uma função plausível o comando de auto destruição inferido sobre um Mecha traz a tona essa categoria. Em seguida, Ferrugem e Angra em um ato de sacrifício, explodem junto ao restante dos seguranças enquanto o grupo restante corre em direção a entrada do laboratório. Dentro do recinto Ceifador se depara com Lúcio, um agente de alto escalão da NOM em comando da pesquisa sobre o código da vida e a exploração no mundo virtual chamado Maya. Lúcio é um homem adulto, que pela voz passa a ideia de ter entre 30-40 anos de idade. Ele não possui características do fantástico em sua vestimenta ou forma física sendo um ser humano comum no entendimento imagético de sua aparência. O grupo dentro do laboratório, na presença de Lúcio, faz questionamentos sobre o paradeiro de Echo, os hackers desaparecidos e a existência do mundo virtual Maya. Ao confirmar sua relação com os três eventos, o sistema do laboratório aciona um protocolo de segurança interna, fecha todas as portas de acesso e inicia uma contagem regressiva de auto destruição do recinto. Presos, o grupo volta suas atenções para Lúcio em uma tentativa de retirar dele um meio de escapar da situação. Não obtendo uma resposta satisfatória, Torre propõe fazer um salto do mundo real para o mundo digital Maya através da pesquisa dirigida por Lúcio sobre o código da vida. Em tempo o indicativo neofantástico da narrativa se destina a conversa entre Torre e Ferrugem, assim que adentram o laboratório de informática antigo, sobre a guerra passada no ano de 2600 entre os hackers da resistência e as forças da Nova

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