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1.3 A narrativa e seus elementos

orcs, bruxos, dragões, gnomos etc, sendo a irrupção do fantástico, nesta categoria, um reforço da dúvida dentro de um ambiente de incertezas. A justificativa pela inclusão das duas teorias do fantástico nesta pesquisa se dá devido a origem do formato no séc XIX e consequente evolução conceitual no século XX, vertente essa, não comportada na teoria descrita por Todorov. Entreposto a teoria do fantástico partimos para os componentes estruturais da história propriamente dita, a narrativa.

1.3 A narrativa e seus elementos Contar histórias é uma prática comum da humanidade desde os seus primórdios. Nos povos indígenas a passagem da cultura reunida por uma comunidade de pessoas para as próximas gerações do povoado era uma prática reservada as histórias contadas através da oralidade, segundo Gontijo (2004, p. 28) “A maior parte dos povos originais era composta de grupos autônomos de parentes, que de tempos em tempos migravam e preservavam sua identidade transmitindo de uma geração para a outra sua história” . De forma a preservar a memória de um povo, as histórias estabelecem um papel prestigioso no desenvolvimento da cultura de uma civilização. Posteriormente, com o avanço das tecnologias de comunicação e a prosperidade da humanidade, a transmissão das histórias deixaram de ser exclusivas de pequenos grupos pertencentes a um povoado e passaram a atingir um grupo maior de indivíduos devido a iniciativas como os livros, a rádio, a televisão e o cinema. Adaptados às capacidades tecnológicas dos veículos, a condução dessas histórias impulsiona o desenvolvimento de um tópico de estudo responsável pela investigação dos componentes essenciais para o seu desdobramento, campo esse denominado de narratologia. A “narração” de acordo com o Dicionário de Comunicação (2002), tem como definição “Relato escrito, oral Ou visual de acontecimentos ou circunstâncias que envolvem a ação, o movimento e o transcorrer do tempo em urna narrativa. "Ordenação de fatos, de natureza diversa, externos ao relatar (mesmo quando o narrador é parte dos fatos, isto é, participa da ação que está sendo narrada)”. Segundo Gancho:

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Toda narrativa se estrutura sobre cinco elementos, sem os quais ela não existe. Sem os fatos não há história, e quem vive os fatos são os personagens, num determinado tempo e lugar. Mas para ser prosa de ficção é necessária a presença do narrador, pois é ele fundamentalmente que caracteriza a narrativa. (GANCHO, 2001, p. 7).

Portanto, diante da exposição de uma história, seja ela real ou ficcional, o modo como ela é articulada, ou seja, a posição dos acontecimentos dentro de uma estrutura - início, meio e fim – é o que caracteriza o processo narrativo. Por ser a estrutura por trás da exposição de uma história, pode ser representada a partir de diversas linguagens como a verbal, a visual, a teatral, etc. Gancho (2001) dispõe os elementos constituintes à narrativa da seguinte forma: enredo, personagens, tempo, espaço e narrador. A iniciar pelo enredo, Gancho atribui ao conflito seu elemento gerador e o define como: “é qualquer componente da história (personagens, fatos, ambiente, idéias, emoções) que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os fatos da história e prende a atenção do leitor.” (GANCHO, 2001, p. 8). O enredo é repartido na história de forma linear em: exposição, complicação, clímax e desfecho. Ainda existe a modalidade classificada pela autora em enredo psicológico, que se destina a manifestão interior dos personagens, ou seja das emoções/sensações, que não se caracterizam como uma ação efetiva. O conceito de personagem se destina a uma figura fictícia que corrobora com o desenvolvimento do enredo e realiza determinada ação:

O personagem é um ser que pertence à história e que, portanto, só existe como tal se participa efetivamente do enredo, isto é, se age ou fala. Se um determinado ser é mencionado na história por outros personagens mas nada faz direta ou indiretamente, ou não interfere de modo algum no enredo, pode-se não o considerar personagem. (GANCHO, 2001, p. 10)

Segundo a autora os personagem podem ser classificados como protagonista, antagonista e personagens secundários. Já segundo a caracterização, personagens planos, quando aparente um número pequeno de atributos identificáveis perante o leitor, e redondos, quando apresentam uma variedade maior de características sendo elas físicas, psicológicas, sociais, ideológicas e morais. O tempo de uma narrativa pode servir no desenvolvimento do enredo em diversos níveis, Gancho as enquadra da seguinte forma: “época em que se passa a história”, compreendida literalmente, se constitui como o pano de fundo do enredo, a

época em que a história ocorre, antiguidade, idade média, contemporaneidade etc, “duração da história”, o período de tempo em que a história ocorre, seja no decorrer de uma semana ou na passagem de anos até a sua conclusão, “tempo cronológico” aquele que transcorre a partir de uma ordem natural dos fatos, do começo ao fim e o “tempo psicológico” que obedece a uma ordem determinada pelo desejo ou imaginação do narrador ou personagens fora da estrutura linear dos acontecimentos, a exemplo do recurso narrativo do flashback que convida um acontecimento passado a exercer influência no presente. Já o espaço cabe ao lugar em que os eventos de uma história são realizados, uma diferenciação importante levantada por Gancho se dá pelo termo ambiente: “O termo espaço, de um modo geral, só dá conta do lugar físico onde ocorrem os fatos da história; para designar um “lugar” psicológico, social, econômico etc., empregamos o termo ambiente.” (GANCHO, p. 17). O ambiente, ao mesmo tempo que carrega as características sociais do espaço, também serve a 4 funções segundo a autora: “situar os personagens no tempo, espaço e grupo social”, “ser a projeção dos conflitos vividos pelos personagens”, “estar em conflito com os personagens” e “fornecer índices para o andamento do enredo”. A finalizar pelo narrador, a autora realiza a diferenciação com base na função que ele ocupa na história, a posição de um narrador frente aos fatos narrados pode ser classificado em “narrador terceira pessoa”, quando o mesmo se encontra fora dos fatos narrados de uma posição de imparcialidade ou “narrador primeira pessoa” também conhecido como “narrador personagem” participando ativamente do desenvolvimento do enredo. Em complemento a posição do personagem e do narrador, a locução opera uma posição importante no discurso da narrativa. A pronúncia de uma determinada frase por um interlocutor em um determinado contexto, impacta diretamente a forma como a mensagem será recebida pelo receptor. Segundo Castim (2017, p. 87), John Austin, fundador da teoria dos atos de fala, aponta a fragmentação do discurso em três vias, os atos locutórios, ilocutórios e perlocutórios. Manhães (2011, p. 312-313) apresenta a estrutura teórica desses atos: Os atos locutórios representam o fragmento do discurso que permite as interações lógicas com as pessoas, constituindo uma intenção direta com a linguagem, afirmativas, interrogativas, exclamações etc.

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