Revista Código #4

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CRÔNICA

ONCET

Fobia Player: Vinicius Buzetti_

Dois moleques gritavam a frase de joelhos em frente a uma vitrine onde se encontravam os jogos de videogame. O local: uma livraria. Para aquelas crianças, a cruz era um vídeo game. Alguma coisa vai mal no mundo, certeza. É incrível como hoje a tecnologia faz parte de nossas vidas, principalmente dos pequenos. Lembro-me que, não muito tempo atrás, era impossível andar pelas ruas do meu bairro sem se deparar com um grupo de moleques jogando bola, com traves improvisadas com chinelos, ou empinando pipa com as mãos cortadas de cerol. Não vejo mais isso nem em tempos de férias. As crianças estão se tornado cada vez mais dependentes da tecnologia até mesmo para brincar. Tenho muito medo do que essa automatização do “se divertir” pode causar no futuro. Os garotos do início levaram uma bela bronca da mãe... Por outro lado, nunca antes os jovens foram tão nostálgicos. Nas redes sociais é comum encontrar comentários do tipo “no meu tempo as coisas eram melhores”, ou “essa molecada de hoje em dia, que toma leite de pêra com ovomaltine, não sabe o que é bom de verdade”. São pessoas que, na sua maioria, têm entre 20 e 30 anos. Jovens velhos chatos, que falam de um vídeogame antigo como meu avô fala da Segunda Guerra Mundial. “No meu tempo só existiam 150 Pokemons e a gente não tinha detonado na internet pra vencer os jogos”. É como se já estivessem tão desiludidos com a vida, que agem como um senhor de 85 anos prestes a morrer. O passado foi sempre melhor, mesmo que tenha sido há 5 minutos. Os avanços tecnológicos estão cada vez mais rápidos. Seu Iphone 4 já está obsoleto,

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meu caro, mesmo com cinco prestações pra pagar. Citando o mestre Zygmunt Bauman: “Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”. Nada mesmo, nem nossos aparelhos, nem o que achamos certo e errado, nem nossas certezas e nossa fé. Nosso mundo está tão automatizado que até o Papa usa o Twitter. Um belo de avanço para o líder de uma entidade que sobrevive de tradições. Ou seria um retrocesso? A principal mudança no mundo foi a comunicação. Ou, pelo menos, a tentativa de uma. Hoje em dia, até uma simples conversa é mecanizada. Quantas vezes você não viu alguém tão absurdamente concentrado na tela de um smartphone que nem prestava atenção na pessoa ao seu lado? Isso quando esse mesmo ser não está mandando mensagem para a pessoa que está na sua frente! O mundo está muito rápido, a merda está acontecendo mais rápido ainda. Só espero que aqueles que lutam contra tudo isso tenham culhões para lidar com essas mudanças, porque está difícil. Agora, você, meu irmão, minha irmã que está passando por dificuldades nessa vida miserável repletas de gays, negros e de coisas do capeta, não devem mais ficar acanhados! A Igreja Global do Nosso Senhor X-box está aqui para ajudá-los nessa difícil jornada. Você poderá adorar e glorificar sua raiva matando criaturas por meio de nossos seminários online, com o pastor Call of Duty e o seminarista Battlefield. Tragam suas crianças, elas são o principal alvo da salvação. É pra glorificar sentado com os olhos na tela, meus irmãos! Mas se alguém falar de PS3, ai é coisa do demônio. Amém. “Todos Saúdam o Deus X-box”.

FOTO: ISABELA SANTOS

“Todos saúdam o Deus X-box”.

sob análise Na batalha por sua independência, o jornalismo musical vem buscando cada dia mais espaço na mídia. Nessa matéria você vai conhecer a rotina, opiniões e informações de um crítico, um jornalista e um locutor, que juntos, têm a mesma paixão: a música.

POR ISABELA SANTOS, ALINE CASTRO, LUCAS GONÇALVES, NATALIA FRANCISCA


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