Edição 03

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A partir de abril, a artista Tininha Calazans (foto) realiza o programa Dia de Histórias, no Tuca. A idéia é resgatar com as crianças o caráter simbólico e de raiz das datas festivas que se realizam entre os meses de abril e junho. O programa é voltado para escolas, que podem escolher o tema trabalhado, e atinge crianças a partir de 4 anos. |pág. 7

Inezita Barroso Aluna de jornalismo edita documentário sobre artista Thais Cortez, estudante de Jornalismo, foi editora do documentário Inezita Barroso – a voz e a viola. Lançado em março, o trabalho retrata os 84 anos de vida da cantora e seus 55 anos como profissional de rádio, cinema e televisão. O objetivo da obra é mostrar como o talento de Inezita vai além da moda de viola. Atualmente, ela pode ser

Divulgação

Ana Porto

Crianças Dia de histórias no Tuca

vista na TV Cultura, onde apresenta o programa Viola Minha Viola. A coordenação geral do projeto foi do prof. Renato Levi (Depto. de Comunicação Jornalística) e contou ainda com a participação de estudantes e profissionais da PUC-SP, USP e TV Cultura. Em entrevista, Thais fala sobre a experiência de realizar trabalho de edição. |pág. 7

www.pucsp.br Ano 1 Número 3 1ª quinzena abril - 2009

Jornal quinzenal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Juiz americano

Lei garante mais direitos a estagiários

TECNOLOGIA

Corrupção em debate

Intercâmbio

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PUC-SP promove festival e escolhe melhores jogos feitos por alunos (foto). |pág. 7

Jornalismo

Correspondente da rede norteamericana CNN fala sobre como a tecnologia muda radicalmente o jornalismo. |pág. 5

Música de celular

Ao lado, três QR-Codes, tipo de código de barras usado pela professora Giselle Beiguelman, do pós em Comunicação e Semiótica, para transformar telefones celulares em instrumentos para a arte. |pág. 8

Artigo

versidades haverá um menor uso do estudante como mão-de-obra barata”. Atualmente, cerca de 5.500 alunos da PUC-SP realizam estágios. As novas regras em vigor valem para contratos ou renovações assinados a partir da publicação da lei. Caso o estagiário considere que a empresa não está seguindo as novas especificações, deve procurar a CGE, localizada no subsolo do Prédio Novo, campus Perdizes. A penalidade para a empresa, prevista na lei, é contratar o estagiário como empregado, pela CLT, e ficar impedida de receber novos estudantes por dois anos. |pág.3

Policiais recebem diploma de especialização no campus Santana

Reforma da Língua Portuguesa tem motivação política

“Por que instituir uma grafia comum para línguas diferentes? As razões apresentadas são frágeis e não justificam o desconforto que a mudança vai causar. É ainda tempo de suspender a implantação do projeto de unificação ortográfica do português”, defende o professor Bruno Dallari, em artigo sobre a reforma da Língua Portuguesa.

Desde setembro do ano passado, valem novas regras no Brasil para a realização de estágio. Elas trouxeram novos direitos aos estudantes, que agora passam a trabalhar no máximo seis horas por dia (estágios não-obrigatórios) e têm direito a recesso de 30 dias, entre outras coisas. Nesta edição, a responsável pela Coordenadoria Geral de Estágios da PUC-SP, professora Altair Cadrobbi Pupo, a Lila, analisa algumas das mudanças em curso. “A idéia do Ministério, que elaborou a lei, é que com um controle ativo no desenvolvimento do estágio nas empresas e nas uni-

Segundo o professor, a motivação é política. “Constituída para dotar Portugal de uma presença internacional para além de seu peso real, a lusofonia foi um projeto calcado na francofonia, pelo qual a França tenta manter, a partir do vínculo lingüístico, sua influência em diversas partes do mundo”, afirma Dallari. |págs. 4 e 5

A PUC-SP formou dia 28/3 a segunda turma da especialização Políticas Públicas e Gestão em Segurança Pública, no campus Santana. Dos 58 formandos, 48 são policiais (militares, civis, rodoviários e bombeiros) e 10 integram instituições da sociedade civil. Participaram da cerimônia os professores Neide Noffs (diretora da Faculdade de Educação), Wagner Martins (diretor do campus Santana) e Maria Stela Graciani (coordenadora do curso). Durante um ano e meio, a especialização proporcionou aos estudantes uma visão generalista das questões que cercam a segurança pública: eles passaram por aulas em diversas áreas de saber, como Psicologia, Educação, Direito e Ciências Sociais. Estudaram também a história da segurança no Brasil, além de comparações entre o sistema brasileiro e o de outros países. O curso é oferecido pelo Nú-

Divulgação

Um grupo de 24 alunos e um professor do MBA da Universidade Católica Portuguesa estiveram na PUC-SP, de 28/3 e 4/4. Os estudantes assistiram a palestras sobre política e cultura brasileira, entre outros temas. O grupo foi recepcionado pelo prof. José Palandi Júnior (coordenador do MBA em Marketing da PUC-SP), pelo vicereitor Antonio Vico Mañas e o próreitor de Cultura e Relações Comunitárias Hélio Deliberador. A vinda dos portugueses ao Brasil integra o convênio de cooperação internacional assinado entre a especialização MBA em Marketing da PUC-SP e a Universidade Católica Portuguesa. Em julho, será a vez dos alunos brasileiros visitarem a instituição portuguesa e algumas empresas daquele país. |pág. 3

Prêmio para games

Gláucio Moro

MBA em Marketing

Empresas poderão ser penalizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego

Lisia Lemes

Peter Messitte esteve na PUC-SP, em 27/3, e comparou o tratamento jurídico de casos de corrupção política nas legislações brasileira e americana. Para o juiz, a principal diferença entre os dois países é que nos Estados Unidos, político corrupto é preso; no Brasil, não. “A corrupção apresenta um custo alto, não apenas financeiro, mas também moral e social. As leis para confrontar esse problema existem; o desafio, porém, e fazê-las serem cumpridas”, disse Messitte. Também participaram do debate os professores Marcelo Figueiredo (diretor da Fac. de Direito, Marco Antônio Marques da Silva (desembargador) e Claudio José Pereira (chefe de gabinete da Reitoria), além da cônsul Laura Gold, do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo. |pág. 2

Formanda, durante a cerimônia cleo de Trabalhos Comunitários da Faculdade de Educação da PUC-SP (NTC), via Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (Cogeae). A capacitação dos policiais marca a participação da Universidade na Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública do Ministério da Justiça (Renaesp, formada por outras instituições de ensino superior do país).

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Radialismo Estão abertas as inscrições para o 1º Prêmio CBN de Jornalismo Universitário. Informações: www.cbn.com.br. www.pucsp.br

02 Editorial

Na contracapa, a professora Giselle Bieguelman, do pós em Comunicação e Semiótica, concede entrevista sobre a Suíte para mobile tags, em exposição no Rio de Janeiro. Nela, celulares e tecnologia de código de barras são utilizadas para produzir músicas. Giselle realiza estudos e intervenções que unem novas tecnologias e arte desde meados dos anos 90. Já expôs seus trabalhos no Zentrum für Kunst und Medientechnologie (ZKM, Centro de Arte e Mídia), instituição alemã considerada o principal museu de arte e mídia do mundo, e na Bienal de Arte de São Paulo. Ela também é curadora do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia e teve a mesma função no festival Nokia Trends 2008, evento que reuniu apresentações musicais e mostra de arte multimídia. Giselle dá aulas na PUC-SP desde 2001 e coordena o Grupo de Pesquisa Net Art: Perspectivas Criativas e Críticas. Outra força da PUC-SP vem à tona em reportagens publicadas nesta edição: a de refletir e se posicionar criticamente sobre temas em pauta na sociedade. Publicamos um artigo de Bruno Dallari, professor do Depto. de Lingüística, contra a reforma ortográfica da Língua Portuguesa. Na página 3, a responsável pela Coordenadoria Geral de Estágios da PUC-SP, profa. Lila, comenta as conseqüências trazidas para os alunos e a instituição com a nova lei de estágios, promulgada em setembro de 2008. Queremos agora saber o que pensam nossos leitores. O blog está à disposição, basta entrar no http://blog.pucsp. br/pucemnoticias e dar continuidade à história de reflexão crítica que a PUC-SP vem construindo ao longo de seus 62 anos. Boa leitura!

1ª quinzena de abril - 2009

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Thiago Pacheco Nos Estados Unidos, político corrupto é preso; no Brasil, não. Segundo o juiz federal norte-americano Peter Messitte, essa é a principal diferença entre os dois países no tratamento dado à corrupção política. “A corrupção sempre existiu e sempre existirá. Mas nos Estados Unidos, uma vez que encontramos algum crime desse tipo, o político perde seu cargo e vai para a cadeia. Aqui, ele renuncia, tem seu mandato cassado, mas ninguém vai preso”, declarou. Messitte esteve na PUC-SP no último dia 27/3, quando participou de um debate sobre corrupção política e comparou o tratamento dado ao tema nas legislações brasileira e americana. “A corrupção apresenta um custo alto, não apenas financeiro, mas também moral e social. As leis para confrontar esse problema existem. O desafio, porém, é fazê-las serem cumpridas”, considerou. Outra diferença apontada pelo juiz é em relação à investigação dos casos. No Brasil, afirmou, o principal meio utilizado são as Comissões Parlamentares de Inquérito, as CPIs; nos Estados Unidos, a tarefa começa pelo Ministério Público Federal. “Os promotores podem investigar qualquer cidadão, até o presidente da República. Eles têm ampla autoridade para averiguar e combater a corrupção. Até temos esse instrumento da CPI, mas elas não acontecem para não prejudicar as investigações feitas por outras instâncias”. Messitte tam-

bém apontou como fator positivo, nos EUA, a facilidade de comunicação entre as entidades investigativas, como o Ministério Público e o Federal Bureau of Investigation (FBI). “No Brasil. há uma falta de integração entre essas agências, o que dificulta as investigações”, disse. PERMISSIVIDADE – O professor Marcelo Figueiredo, diretor da Faculdade de Direito da PUC-SP, concordou com o juiz americano quanto à permissividade brasileira na punição de crimes políticos. Para ele, isso ocorre porque a Constituição de 1988 apresenta um número muito grande de direitos considerados fundamentais – o que imprimiu, de acordo com Figueiredo, um “culto muito forte ao processo”. ”Usam-se todos os recursos possíveis e o processo dura até dez anos. Devemos ser mais audaciosos, não só no aumento das penas, mas também promovendo maior comunicação entre as instâncias que reprimem o crime”, argumentou. O diretor ainda se referiu à imunidade parlamentar como um obstáculo que impede os políticos de serem processados por crimes comuns. O juiz americano explicou como funciona o instrumento de barganha judicial (que possibilita a redução de pena dos criminosos em troca de colaboração com as investigações) e o júri popular (que, no Brasil, só acontece em casos de homicídio). Falou ainda sobre a atuação “sem limites” que a mídia tem para publicar os casos de corrupção: “Vocês

Messitte (ao microfone) receberá título de cidadão paulistano (brasileiros) têm uma lei que restringe bastante a entrada na vida privada. Lá, a idéia é a de que qualquer ato privado de pessoa pública se reflete em sua atuação na sociedade”. Apesar das diferenças entre os países e dos inúmeros casos de corrupção no Brasil, na avaliação de Messitte a situação têm melhorado: para ele, há mais controle e maior reconhecimento do problema, por parte da sociedade brasileira. “Como estou de fora, posso fazer observações. A situação está melhorando. Há ainda muito a fazer, mas estou otimista em relação ao futuro.” CIDADÃO PAULISTANO – O juiz americano conhece bem o sistema jurídico brasileiro e fala português fluentemente. Nos anos 60, Messitte morou no Brasil e voltou diversas vezes ao país para ministrar palestras. Também recebe colegas do Brasil no Distrito de

UNIVERSIDADE E COMUNIDADE Duda / Servfoto

Grão-Chanceler: Dom Odilo Pedro Scherer Reitor: Dirceu de Mello Vice-reitor: Antonio Vico Mañas Pró-Reitores: André Ramos Tavares (Pós-Graduação) Haydee Roveratti (Educação Continuada) Hélio Roberto Deliberador (Cultura e Relações Comunitárias) José Heleno Mariano (Planejamento, Desenvolvimento e Gestão) Marina Feldmann (Graduação) Chefe de Gabinete: Cláudio José Langroiva Pereira Coordenadora da Divisão de Comunicação Institucional: Eveline Denardi (MTb 27.655) Edição: Thaís Polato (MTb 30.176) Reportagem: Eveline Denardi Priscila Lacerda Thaís Polato Thiago Pacheco Assistente-administrativa: Vera Lucas Projeto Gráfico e Editoração: Núcleo de Mídias Digitais Impressão: Artgraph Tiragem: 2 mil exemplares Redação: Rua Monte Alegre, 984, sala T-34 Perdizes, São Paulo, SP CEP 05014-901 Tel.: (11) 3670-8001 E-mail: aci@pucsp.br

Peter Messitte esteve na PUC-SP em 27/3 Thiago Pacheco

A tecnologia ganha destaque nesta edição. Mostramos como a PUC-SP vem ampliando sua força nesta área, desde os “primeiros passos” dos alunos da graduação até o que há de mais inovador em pesquisa docente. Na página 7, é possível conhecer os nomes dos estudantes que venceram o 1º Festival de Criação e Desenvolvimento de Games, realizado no campus Consolação, no final de março.

Corrupção: juiz americano aponta diferenças entre EUA e Brasil

O reitor Dirceu de Mello (à esq) abordou O diálogo da universidade com a comunidade, em 27/3, no CIEE. O convite integra o ciclo Encontro com Educadores, que reúne especialistas de todo país. Dirceu falou sobre temas como preconceito e trote e encerrou destacando a importância da filantropia e a forte preocupação social da PUC-SP, que tem o tema sempre presente em seu estatuto.

Maryland, onde trabalha. Em 16/4, receberá da Câmara dos Vereadores o título de cidadão paulistano. “Peter é o embaixador do Judiciário americano pelo mundo”, declarou o professor e desembargador Marco Antônio Marques da Silva. “Às vezes, entende mais de Direito brasileiro que muitos profissionais nascidos aqui.” Além de Silva e do diretor Figueiredo, o evento contou com participação do professor Claudio José Pereira (chefe de gabinete da Reitoria) e da cônsul Laura Gould, diretora da Sessão de Imprensa, Educação e Cultura do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo. O debate, que lotou o auditório superior do Tuca, foi promovido pela PUC-SP, Faculdade de Direito e Centro Acadêmico 22 de Agosto, com o apoio do Consulado Geral dos Estados Unidos da América e do Núcleo de Estudos Prof. Dr. Hermínio Marques Porto.

Notas Saúde Foram prorrogadas até o dia 20/4 as inscrições e a chamada de trabalhos para o 12º Encontro de pesquisadores da PUC-SP na área da saúde. O encontro acontece de 27 a 30/5, e é promovido pelo Núcleo de Políticas para o Desenvolvimento Humano (Pós em Economia Política) e pelo Núcleo Saúde e Sociedade (Pós em Serviço Social). Mais informações pelo telefone (11) 3670-8516.

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Estágio em Direito Estão abertas as inscrições para alunos de Direito interessados em estágio no Escritório Modelo da PUC-SP. Inf.: (11) 3873-5789. www.pucsp.br

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Nova lei de estágio garante mais direitos a estudantes Lei foi promulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em setembro do ano passado estudantes por dois anos. Divisão de Comunicação

Profa. Lila (dir.) coordena equipe de estágios da PUC-SP Thaís Polato Carga horária limitada a seis horas diárias para os estágios não-obrigatórios, direito a recesso de 30 dias e tempo máximo de dois anos para estagiar na mesma empresa são algumas das regras da nova lei de estágios, promulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego em setembro do ano passado. Para a profa. Altair Cadrobbi Pupo, a Lila, responsável pela Coordenadoria Geral de Estágios da PUC-SP (CGE), a lei tem como objetivo evitar uma possível precarização do trabalho. “A idéia do Ministério é que, com um controle ativo no desenvolvimento do estágio nas empresas e nas universidades, haverá um menor uso do estudante como mão-de-obra barata”, afirma. Em princípio, segundo a professora, a nova lei causou uma certa paralisia no mercado e nas universidades por não ter sido previsto nela um período de transição. “Todos os envolvidos tiveram alguma dificuldade em entender a nova lei, o que de certa forma nos paralisou. Levamos cerca de 15 dias para definir, por exemplo, como elaborar um novo Termo de Compromisso de Estágio”.

Segundo dados da Associação Brasileira de Estágios (Abres), o total de vagas no Brasil antes da aprovação da lei era de 1,1 milhão. Esse número caiu para 900 mil, sendo 650 mil para o ensino superior e 250 mil para o ensino médio. Na PUC-SP, em novembro e dezembro de 2008, portanto logo após a lei ser promulgada, houve uma queda de 20% no número de estágios, comparando-se com o mesmo período em 2007. “É uma época já tradicionalmente fraca porque é difícil quem começa estágio no fim do ano, mas a queda se acentuou por conta do impacto inicial da nova lei”, avalia a professora. Atualmente, cerca de 5.500 alunos da PUC-SP realizam estágios. Em janeiro e fevereiro de 2009, a situação já se estabilizou, empatando com o mesmo período de 2008. As novas regras em vigor valem para contratos ou renovações assinados a partir da publicação da lei. Caso o estagiário considere que a empresa não está seguindo as novas especificações, deve procurar a CGE (subsolo, Prédio Novo, campus Perdizes). A penalidade para a empresa, prevista na lei, é contratar o estagiário como empregado, pela CLT, e ficar impedida de receber novos

Destacamos algumas das mudanças da nova Lei de Estágio e pedimos para a responsável pela Coordenadoria Geral de Estágios da PUC-SP, professora Lila, que as comentasse. • Carga horária limitada a seis horas diárias para os estágios não-obrigatórios Profa. Lila – Acho uma boa mudança porque sobra mais tempo para os estudos. Mas alguns alunos têm considerado ruim porque ela teve como conseqüência direta a redução proporcional da bolsa-auxílio. Essa queda no valor não foi geral, algumas empresas reduziram as horas para se adequar à lei, mas mantiveram o valor do auxílio. • A remuneração e o auxílio-transporte devem ser concedidos aos estudantes que realizam estágios não-obrigatórios Profa. Lila – Neste ponto da lei, há algo que precisa ser regulamentado e esclarecido porque para nós traz uma séria conseqüência: a questão dos alunos que realizavam estágio não-obrigatório como voluntários, sem remuneração. A prática ficou proibida com a nova lei e implicou diretamente em setores da Universidade como Rede PUC, Agência de Publicidade Jr e Derdic. É um ponto positivo da lei obrigar a remunerar estágio nãoobrigatório, mas ainda precisamos ter uma saída para os casos de alunos que desejam estagiar para colocar em prática o que aprendem em sala de aula, mesmo sem receber. Algumas universidades solucionaram a questão tratando tais estágios como atividade de extensão. • Direito a recesso de 30 dias após um ano de estágio na mesma empresa ou o proporcional do tempo de estágio, se menos de 12 meses Profa. Lila – Esta medida é interessante, mas ainda precisa ficar mais clara como é a sua aplicação. Por exemplo, se o estagiário se desliga da empresa, também tem direito a receber o benefício? • Tempo máximo de dois anos para estagiar na mesma empresa Profa. Lila – É uma boa medida, qualifica o estágio. O foco mais importante é o pedagógico e, de fato, um estudante passar mais de dois anos com planos de atividades semelhantes não acrescentaria muito na sua formação. Se a empresa está interessada naquele talento deve efetivá-lo mesmo antes do término do seu curso. • Ao final do estágio, a empresa ou instituição contratante deve fornecer um certificado ao aluno, com indicação resumida das atividades desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de desempenho

Profa. Lila – Este é um problema sério. Não concordo que o certificado deva trazer a avaliação do aluno. Se não for bem avaliado, ele poderá ficar marcado profissionalmente ou esconder que fez estágio naquela organização. O melhor, pedagogicamente, é que haja uma avaliação contínua, que dê chance ao estudante de se adequar. • A universidade deve ter o plano de atividades do estágio integrado à proposta pedagógica do curso e determinar um professor orientador para ser responsável pelo acompanhamento e avaliação das atividades do estagiário Profa. Lila – Isso já era obrigatório aqui na PUC-SP desde a outra lei, aliás, desde que foi criada a CGE. Porém, alguns dos nossos cursos falam sobre estágio nãoobrigatório no seu projeto pedagógico e outros, não. Vamos resolver fazendo um regulamento de cada curso para anexar aos respectivos projetos pedagógicos. • Redução da jornada de trabalho é permitida em dias de prova Profa. Lila – É um direito do estagiário, mas não temos clareza de como resolver isso aqui na PUC-SP, porque não há um calendário de provas pronto no início do semestre, na maioria dos cursos. Nem podemos exigir isso porque não concordamos pedagogicamente que deva ser assim: há professores que fazem avaliação continuada, outros que aplicam avaliação quando a classe está necessitando etc. Em reuniões com representantes de RH, eles disseram que são sensíveis à questão e que dispensarão os alunos em dia de prova mesmo sem comprovação. Vamos discutir esta questão no Conselho de Ensino e Pesquisa da PUC-SP (Cepe), mas é muito importante que os próprios alunos nos ajudem a resolver, dando sugestões. • Realização obrigatória, por parte dos estagiários e das empresas, de relatório semestral de atividades Profa. Lila – Já fazíamos isso em relação aos estudantes, em acompanhamento online. Agora a lei vem reforçar tal prática. Sempre achamos importantíssimo, mas precisamos que os estagiários se comprometam a realmente fazer o relatório. Ele é sigiloso, tem como finalidade fazer o acompanhamento do estágio do aluno, as condições em que ele se realiza e se cumpre o caráter pedagógico previsto. Quando detectamos que há problemas, chamamos primeiro o aluno para conversar e depois, se for o caso, entramos em contato com a empresa. Sempre com a ciência do aluno e do coordenador de estágio do seu curso. Na conversa com o empregador, somos muito cuidadosos. Nunca recebemos alguém dizendo que perdeu a vaga depois de uma intervenção nossa.

Interessado em fazer estágios? Entre em contato com a CGE, pelo telefone (11) 3670-8298, ou acesse www.pucsp.br.

MBA em Marketing recebe alunos portugueses

2ª FEIRA DO LIVRO Priscila Lacerda

Lira Neto, escritor, participa da programação cultural da 2ª edição da Feira do Livro da PUC-SP, promovida pela Divisão de Comunicação. Durante uma semana, mais de 30 editoras e livrarias venderam suas publicações com desconto para alunos, professores, funcionários e comunidade externa.

Thiago Pacheco Um grupo de 24 alunos e um professor do MBA da Universidade Católica Portuguesa estiveram na PUC-SP, entre os dias 28/3 e 4/4. Os estudantes assistiram a palestras sobre política e cultura brasileira, cultura e consumo contemporâneo, entre outros temas.

Eles também realizaram visitas a empresas como Sonae Sierra, Natura e EDP Energias do Brasil. A vinda dos portugueses ao Brasil integra o convênio de cooperação internacional assinado entre a especialização MBA em Marketing da PUC-SP e a Universidade Católica Portuguesa: em julho, será a vez dos alunos brasileiros visita-

rem a instituição portuguesa e algumas empresas daquele país. A parceria é uma continuidade do programa de Extensão Internacional oferecido pelo MBA em Marketing da PUC-SP – que, em julho de 2008, levou um grupo de 25 alunos para um curso de Marketing em Paris (França). Inf.: www.pucsp.br/cogeae.

Divulgação

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Fique por dentro das novas regras

Palestra com prof. Palandi

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Iniciação Científica Foram prorrogados até 15/4 alguns prazos do Pibic. Mais informações: (11) 3670-8050/8051 ou compesquisa@pucsp.br. www.pucsp.br

04 Opinião

Reforma ortográfica tem razões muito frágeis e motivação

Artigo do professor do depto. de Lingüística Bruno Dallari defende que reforma seja suspensa; comente o texto no http://blog.pucsp. Thiago Pacheco

Por Bruno Dallari MESMA GRAFIA, LÍNGUAS DIFERENTES Por que instituir uma grafia comum para línguas diferentes? As razões apresentadas são frágeis e não justificam o desconforto que a mudança vai causar. É ainda tempo de suspender a implantação do projeto de unificação ortográfica do português. A reforma foi aprovada em 1990, como acordo firmado entre os países-membros da CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, mas, por bons motivos, não foi até agora implementada por nenhum dos signatários. O assunto vem sendo veiculado - mas não propriamente debatido - na mídia brasileira. A noção genérica de que, de tempos em tempos, é preciso “atualizar” as regras ortográficas faz com que mesmo aqueles que manifestam uma certa contrariedade com a reforma a assumam como um mal necessário. E permite que os defensores da reforma impinjam a seus oponentes a pecha de “conservadores”. Pode até ser que haja razões para que se proceda a uma reforma ortográfica do português brasileiro. Mas não nos termos em que está sendo proposta. E, sobretudo, não a fazendo conjuntamente com Portugal, na presunção de que se trate da mesma língua e conferindo a ela um caráter geopolítico. O português brasileiro (PB) e o português europeu (PE), como são denominados pelos lingüistas, estão em vias de se tornarem línguas diferentes. Como se trata de processos de longo prazo, com a duração de alguns séculos, é difícil dizer exatamente em que momento uma língua passa a ser duas ou mais, no curso de sua dispersão. Já são notáveis, no entanto, os sinais da separação entre PB e PE. Diferenças fonéticas, sintáticas e lexicais vêm constituindo um agregado de modificações que já caracterizam a emergência de duas novas línguas, um processo que não se confunde com a irrupção eventual de elementos peculiares, regionais ou sociais, em uma única língua. Em poucos segundos, o leitor de um livro ou jornal qualquer, identifica se está diante de uma edição brasileira ou portuguesa - e, não raro, se depara com dificuldades de entendimento. Não se trata

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Bruno Dallari, docente da PUC-SP apenas de uma variante regional - note que o mesmo não acontece com edições de lugares diferentes do Brasil, entre as quais as diferenças incidem sobre aspectos dispersos e ocasionais. ORALIDADE – Mesmo assim, a semelhança da escrita não é um índice preciso da identidade entre duas línguas, já que a padronização homogeniza a produção lingüística de falares diferentes, apagando suas diferenças. A avaliação do grau real de distinção entre duas línguas requer que se passe do mundo da escrita ao reino da fala. É a oralidade que corresponde à realidade fundamental da existência e da identidade de uma língua e ao seu reconhecimento como tal pelos seus próprios falantes. No caso do português, quanto mais nos afastamos dos registros formais, como o acadêmico ou jurídico, diretamente pautados pela escrita normatizada, e nos voltamos para as variantes populares, mais os falares brasileiros e os falares lusitanos se revelam incompreensíveis entre si, não atendendo ao critério da mútua inteligibilidade, um critério pedestre, mas internacionalmente adotado para identificar uma língua como tal a partir da comparação de diversos falares. Edições brasileiras de livros portugueses são regularmente traduzidas e vice-versa, o mais concreto atestado de distinção entre duas línguas que pode existir. Como poderia o leitor brasileiro adivinhar, por exemplo, que o livro português “O Suplente” conta a estória do jogador reserva de um time de futebol? Filmes e documentários portugueses são legendados na televisão brasileira, não só para superar a dificuldade fonética com as vogais elididas, mas efeti-

vamente traduzindo termos incompreensíveis ou falsos cognatos (como a “bicha de ônibus”, isto é, a fila). (Aliás, é interessante notar que, ao contrário do que supõe o leigo, a elisão das vogais é um fato recente do PE, não anterior ao século XIX. Comerciais que mostram “Seu Cabral” falando com sotaque lusitano podem ser divertidos, mas não são verossímeis. As vogais do português quinhentista eram abertas, como o são até hoje na maior parte das línguas neolatinas.) O cenário que se apresenta para a relação entre o PB e o PE é semelhante ao das línguas escandinavas - norueguês, sueco, dinamarquês: uma proximidade que permite um grau eventualmente alto de inteligibilidade, mas inequivocamente línguas diferentes. Línguas contíguas podem evoluir divergentemente ou convergentemente. Como aponta William Labov, o grande teórico da mudança lingüística, o fator decisivo é seus falantes partilharem ou não um ambiente comum, perfazendo efetivamente uma comunidade. Assim aconteceu que as diversas variantes do alemão fossem unificadas na Alemanha, mas não na Suíça, onde várias línguas germânicas mantêm a sua singularidade. É o que explica que o joual, como é apelidado o francês do Canadá, esteja igualmente em vias de se separar do francês metropolitano (joual é o termo quebecois para cheval, cavalo). DIVERGÊNCIA – Não partilhamos um espaço comum com os portugueses. A possibilidade da influência recíproca entre as línguas é muito pequena. A influência dos falares lusitanos no Brasil é nula. As novelas e uma certa presença de imigrantes

brasileiros podem salpicar alguns elementos brasileiros no PE, mas nunca abrasileirálo inteiramente. A tendência, nos últimos dois séculos, é lenta, mas segura no sentido da divergência, um processo que dificilmente poderia ser revertido. (Muitos portugueses consideram o “brasileiro” como um dialeto - no sentido pejorativo do termo, de versão deturpada e mal-falada de uma língua. O que levou Policarpo Quaresma a propor, em sua famosa petição, que nos livrássemos das “censuras ásperas dos proprietários da língua” adotando uma língua própria. Continua sendo o caso.) Nesse contexto, não há porque promover uma grafia comum. Não mais do que uma unificação ortográfica entre o italiano e o espanhol ou entre o inglês e o alemão, por exemplo. Ou entre as já citadas línguas escandinavas que, vale dizer, tem grafias discrepantes quanto ao valor fonético. O problema é que se está vendendo a - indesejável unificação ortográfica com Portugal, como se fosse a - discutível, mas eventualmente interessante - reforma ortográfica do PB. O formato “dois em um” torna o pacote mais vendável e traveste os aspectos mais bizarros ou discutíveis do projeto. É preciso não cair na confusão deliberada que se está fazendo entre reforma ortográfica, unificação ortográfica e unificação das línguas. A unificação ortográfica não

de se ampliar. A motivação é política. Constituída para dotar Portugal de uma presença internacional para além de seu peso real, a lusofonia foi um projeto calcado na francofonia, pelo qual a França tenta manter, a partir do vínculo lingüístico, sua influência em diversas partes do mundo. Ocorre que suas bases são muito frágeis. O site da CPLP (www.cplp.org) apresenta o português como “a quinta língua mais falada no mundo”, falada por 230 milhões de pessoas, contabilizando a população do Brasil, de Portugal e dos países africanos por ele colonizados. Porém, em Angola e Moçambique, menos de 10% da população são falantes nativos do português. Mesmo entre estes, a língua falada é também diferente o suficiente para que seja caracterizada como outra - um tópico que não estou considerando neste artigo, mas que poderia ampliar ainda mais esta discussão. Esse propósito grandioso, de uma presença mundial baseada numa noção hiperbólica da lusofonia, não se sustenta se Portugal ficar reduzido aos seus 10 milhões de habitantes. Daí ela requerer indispensavelmente que sejam computados os 180 milhões de brasileiros - o único contingente “lusofone” que pode fazer diferença em escala mundial. Para funcionar, é preciso que aceitemos ser apresentados internacionalmente como parte do bloco lusofone. Por que nos prestaríamos a isso? Portugal é um pequeno país,

Se alguma reforma, ortográfica ou gramatical, vier a fazer sentido, será aquela que assuma a singularidade da língua brasileira... tem o condão de promover a reunificação das línguas. Porém, com estudada ambigüidade, o projeto é apresentado como elemento agregador, consolidador e constitutivo da lusofonia, a comunidade dos falantes da língua portuguesa, formalmente institucionalizada pela CPLP, como se ele, de alguma maneira, restaurasse a unidade perdida ou pelo menos impedisse a dispersão

do outro lado do Atlântico, cujo desejo e vocação é se integrar à Europa. A presença internacional do Brasil é marcada por uma extrema singularidade, inclusive em relação à América Latina. A área de intersecção é mínima e depende de ser cultivada, não podendo se sustentar sobre os parcos elementos espontâneos, políticos ou econômicos. A associação com Portugal e

com outros países alegadamente lusofones tem pouco a acrescentar ao nosso standing internacional. PORTUGUESES – A CPLP tem uma importância relativa muito maior para Portugal do que para o Brasil. A posição do Brasil tem sido a de apoiála enquanto for inofensiva, não implicando em engajamentos mais comprometedores. Esse foi o espírito com que foi assinado o acordo ortográfico - como uma operação diplomática de baixo custo, como um gesto de boa vontade com poucas implicações práticas, incidindo sobre um componente irrelevante do ponto de vista geral das relações internacionais. Esta é a percepção do público português, que também não está satisfeito com a reforma. Escritores, jornalistas, professores, se mobilizaram contra a reforma e obtiveram a suspensão de sua implantação. Não é um paradoxo tanto quanto nós, eles a viram como um artefato de legislação lingüística instituído à sua revelia a partir de instâncias político-diplomáticas, como parte de uma estratégia de política internacional. Mudar a grafia de certas palavras e eliminar alguns acentos pareceu a essas instâncias um preço baixo a pagar pela lusofonia. Mas ele é alto para os usuários profissionais da língua. De lá e de cá. O primeiro equívoco dessa reforma - mas não o único foi incluir Portugal nela. As duas línguas são geridas separadamente há muito tempo. Em 1911, Portugal promoveu uma reforma ortográfica que desconsiderou totalmente o Brasil, tanto institucionalmente, como lingüisticamente - nenhum representante do Estado ou de instituições brasileiras foi convidado a participar do processo, nem peculiaridades dos usos brasileiros do português foram levadas em conta na sua formatação (1911 é o mesmo ano em que Lima Barreto publicou Triste fim de Policarpo Quaresma em folhetins no Jornal do Commercio - uma coincidência?). Desde então, cada um dos países administra a sua língua por conta própria. Por que tentar reverter agora um século de separação plenamente consagrada, inclusive institucionalmente? Entre os “argumentos de venda” da reforma estão o seu sentido político, mas tam-

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Crise do capitalismo Entre os meses de abril e maio, se realiza o curso Crise do capitalismo. Mais informações: www.pucsp.br. www.pucsp.br

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vação política de Portugal

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Priscila Lacerda ponível no site da CPLP), verá imediatamente desmentida essa pretensão de simplicidade, ao longo dos 21 tópicos subdivididos em dezenas de artigos, cobertos pelo texto. Um aspecto flagrantemente complicador é a instituição de formas facultativas, pela qual o projeto amplia as possibilidades de grafia de inúmeros termos. Cada professor do

a abolição do trema, foram agregadas ao projeto. Mesmo que seja o caso, para isso basta uma pequena reforma ortográfica nacional; não é preciso um complexo acordo internacional prevendo a unificação ortográfica com Portugal e mais cinco países. Não é possível constituir um espaço comum a partir de uma grafia comum - nem mesmo uma língua comum é uma garantia desta possibilidade. A iniciativa até poderia ser vista como inócua, porém inofensiva. O problema é que o grande gesto para o público externo se dará às custas da funcionalidade e da conveniência para o público interno. É o momento de interromper este processo, suspendendo a implantação da reforma, para o bem de todos os interessados - todos aqueles que escrevem em português. Pode até ser o caso de pensar uma reforma. Mas em outros termos, com outros objetivos e, sobretudo, devidamente discutidos com a sociedade brasileira. Em entrevista a Jô Soares, o presidente da ABL, Marcos Vilaça, tentando defender a reforma, declarou que “a língua é assunto de segurança nacional e expressão de poder”. Uma razão a mais para que a soberania sobre a língua brasileira seja apropriada e exercida por quem de direito: o povo brasileiro. Se alguma reforma, ortográfica ou gramatical, vier a fazer sentido, será aquela que assuma a singularidade da língua brasileira, que aprofunde a consciência da nossa identidade lingüística e que promova um processo de institucionalização lingüística cujo ponto de partida seja a língua falada no Brasil.

Esse propósito grandioso, de uma presença mundial baseada numa noção hiperbólica da lusofonia, não se sustenta se Portugal ficar reduzido aos seus 10 milhões de habitantes.

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ensino básico, de Recife ou de Coimbra, terá que explicar a seus alunos que podem escolher entre as formas disponíveis, que não serão consideradas como erros, por exemplo, corruto/corrupto, conceção/ concepção, facto/fato, actual/atual, subtil/sutil, amnistia/ anistia, registo/registro, arimética/aritmética ou acentuar facultativamente fôrma/forma ou amámos/amamos. É interessante notar que os próprios termos nos quais é redigido o acordo são já uma evidência dessas dificuldades. O texto abre dizendo: “Considerando que o projecto de texto ...”. INCÔMODO – Numa tentativa de diminuir as resistências, alguns defensores da reforma alegaram pateticamente que ela incide sobre “menos de 1%” dos termos da língua. Considerando que o português tem pelo menos 220 mil palavras, sem contar flexões e derivações, não é um incomôdo de pouca monta. Outras reformas, simpáticas junto ao público, como

Quem é Bruno Dallari Doutor em Lingüística (Unicamp) e professor do Depto. de Lingüística da PUC-SP, desde 1997, leciona nos cursos de graduação em Jornalismo e Relações Internacionais. Também é professor e orientador no pós-graduação lato sensu, nas áreas de Jornalismo Econômico e Internacional. Desenvolve pesquisa em Políticas Lingüísticas e investiga o campo da Análise do Discurso, voltada sobretudo para a explicação da relação mídia-público.

Blogs, twitter, youtube e redes sociais como facebook e myspace têm mudado o perfil da comunicação. Assim Jonathan Mann, âncora e correspondente da CNN International, justificou a escolha do tema do 5º Concurso Universitário de Jornalismo, promovido pela rede norte-americana no Brasil. Este ano, o concurso premiará a melhor reportagem sobre O uso da tecnologia no desenvolvimento social. “O vídeo da morte de Saddam Hussein, por exemplo, não foi feito por um jornalista, mas por alguém que tinha um celular com câmera. Vocês também podem fazer isso e mandar para a CNN, podem se tornar repórteres famosos sem nunca ter tido um emprego”, afirmou Mann a uma platéia lotada de estudantes da graduação em Jornalismo, dia 25/3, no auditório superior do Tuca. O jornalista participou da cobertura de fatos que mudaram a história do mundo, em seus 20 anos de carreira. Entre eles, as eleições presidenciais de 2008 nos EUA, a queda do Muro de Berlim, o fim do apartheid na África do Sul, a libertação de Nelson Mandela e a ascensão de Vladimir Putin como presidente da Rússia. Em tom descontraído, Mann respondeu a inúmeras perguntas da platéia. Indagado por um aluno sobre se os Estados Unidos não teriam uma visão diferente do resto do mundo sobre os fatos, o jornalista respondeu: “Os EUA são um país muito livre, mas têm uma capacidade notória de se convencer de que estão fazendo a coisa certa. Sinto uma tensão muito grande e constante sobre como os EUA vêem o resto do mundo e como o resto do mundo os vê”. Outro estudante perguntou ao jornalista como ele lida pessoalmente com no-

Priscila Lacerda

bém a unificação da indústria editorial e algumas tecnicalidades ortográficas. Um dos argumentos falaciosos mais repetidos é o de que só o português, entre as “línguas de cultura” (?), não teria uma ortografia unificada. Ora, como é bem conhecido, o inglês tem duas grafias (escreve-se, por exemplo, theater e civilization, na versão norteamericana, e theatre e civilisation, na versão britânica), o que não afeta nem minimamente sua influência, nem impede uma robusta indústria editorial de se desenvolver nos vários países de língua inglesa. O horizonte real do que se está chamando de unificação da indústria editorial e de software é a criação de um mercado único ampliado de produtos “em língua portuguesa”. Mas, quem já usou software português sabe que eles chamam ficheiro o que nós chamamos arquivo e rato o que nós chamamos mouse. Os mercados continuarão divididos, pelas mesmas razões que já o estão agora - cada um atenderá a uma língua. Alguns setores da indústria editorial brasileira, interessados em vender livros didáticos e infantis para os países da África portuguesa, subsidiados pelo governo brasileiro como parte de um programa diplomático, viram na reforma uma oportunidade de ganhar dinheiro, atendendo a este “mercado”, que, no momento, está fechado em função das diferenças ortográficas. Mas o livro didático adequado para alunos que se reconhecem na frase os miúdos estão a correr e acharam giro o comboio não o será para aqueles que se reconhecem na frase as crianças estão correndo e acharam engraçado o trem. Não são as diferenças ortográficas, mas as diferenças lingüísticas que tornam inadequados os livros brasileiros para os leitores africanos. Do ponto de vista técnico, a reforma está sendo vendida como uma “simplificação” da ortografia. No entanto, quem se der ao trabalho de examinar as 17 páginas do Acordo Ortográfico (o texto está dis-

Mídia internacional Tecnologia muda radicalmente jornalismo, afirma âncora da CNN

Mann dialoga com alunas de Jornalismo, no Tuca tícias que vão além do fato em si e citou a cobertura da guerra do Iraque. “Tento sempre dizer a verdade, assim como muitos dos meus colegas. Existem pressões sobre os jornalistas, mas nós não sofremos pressão editorial, ao contrário do que muitos pensam. A CNN fez uma cobertura muito justa em relação à guerra. Era algo muito difícil de ser feito, e nós fizemos”, afirmou Mann. Questionado sobre o fato da CNN ter sido a única emissora a poder entrar no local em que Saddam Hussein estava escondido, quando o ditador foi encontrado, o jornalista falou que não via nenhum problema nisso. “Os jornalistas estão sempre competindo. Só me oponho a quem faz coisas erradas para conseguir a informação. Não temos poder de proibir ninguém de estar lá, mas se estávamos primeiro é porque fizemos bem o nosso trabalho.” Por fim, a platéia quis saber de Mann sua opinião sobre o presidente Barack Obama. “Para os jornalistas ele é uma grande história. Os africanos foram escravos nos EUA e depois que a escravidão acabou nunca tiveram a oportunidade de se tornarem cidadãos plenos. Agora, um homem americano de pai africano se tornou o presidente. É ver a história sendo feita, é uma grande oportunidade.”

Saiba mais Aberto exclusivamente a estudantes de jornalismo, o concurso tem como tema este ano O uso da tecnologia no desenvolvimento social. O objetivo é incentivar o desenvolvimento do talento dos participantes e premiar o seu desempenho na elaboração de matérias jornalísticas televisivas. Em palestra na PUC-SP, o âncora da rede americana CNN, que promove o concurso, Jonathan Mann, disse aos alunos de Jornalismo que lotavam a platéia: “Participem do concurso e façam história”. O chefe de gabinete da PUC-SP, professor Cláudio José Pereira, representou a Reitoria na abertura do concurso, dia 25/3, no auditório superior do Tuca. “Temos o prazer de ser a Universidade receptora desse projeto. Agradeço a CNN e a Jonathan Mann essa oportunidade”, disse. Para saber mais sobre o concurso acesse www. concursocnn.com.br.

Ceccom avalia recepção aos calouros Thiago Pacheco O Conselho de Cultura e Relações Comunitárias (Ceccom) promoveu sua primeira sessão em 24/3 e analisou a recepção aos calouros de 2009. O professor Hélio Deliberador, pró-reitor de Cultu-

ra e Relações Comunitárias, enumerou as ações feitas para minimizar os problemas no trote. “Nossas ações são exitosas, mas pequenas para o tamanho do problema”, avaliou. “O trote não é só uma dificuldade da PUC-SP, há gente de fora da Universi-

dade que vem participar das festas no entorno dos campi”. Para prevenir problemas em 2010, o pró-reitor apontou a necessidade de um trabalho coordenado com mais pessoas envolvidas na recepção. “Quem quiser participar terá nosso apoio”, afirmou.

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1º Congresso de Jornalismo Cultural Alunos da PUC-SP têm preço especial para participar do evento, no Tuca, entre 4 e 8/5. Inf.: www.espacorevistacult.com.br/congresso. www.pucsp.br

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Estudante edita documentário sobre Inezita Barroso Thais Cortez é aluna do último ano curso de Jornalismo Divulgação

Da esq. para dir.: Vinicius Furuie, Renato Levi, Thiago André, Natália Guerrero e Gisele Lobato; sentados, Guilherme Alpendre, Inezita Barroso, Thais Cortez (de preto) e Juliana Knobel Thaís Polato A voz e a viola de Inezita Barroso serviram de inspiração para um documentário lançado em março, em parceria que envolveu estudantes e profissionais da PUC-SP, USP e a TV Cultura. Inezita Barroso – a voz e a viola teve coordenação do professor Renato Levi (Depto. Comunicação Jor-

nalística) e edição de Thais Cortez, aluna do último ano de Jornalismo. Apesar de ser o sétimo documentário que edita, Thais afirma que esse foi muito especial. “É o tipo de filme que vou levar no meu currículo com orgulho e alegria.” O documentário retrata os 84 anos de vida da cantora e seus 55 anos como profissional de rádio, cinema e

televisão. Conta com depoimentos de Paulo Vanzolini, Renato Consorte e Paulo Autran, amigos da artista desde a juventude, e de colegas de trabalho como Ruth de Souza e Tônia Carrero. O objetivo da obra é mostrar como o talento de Inezita vai muito além da moda de viola. A seguir, Thais conta como foi participar da experiência de editar o documentário.

Consun não acolhe recurso de alunos

Thiago Pacheco O Conselho Universitário (Consun) não acolheu, na sessão de 25/3, recurso interposto pelos nove alunos processados pela ocupação das salas da Reitoria, em novembro de 2007. Os estudantes pediam a revisão da pena estipulada, com base em decisão do Poder Judiciário – que extinguiu a ação penal movida pela Universidade, alegando que a responsabilização do ato atingiria apenas alguns alunos, e não todos aqueles que participaram do movimento. O parecer da professora Nena Jerusa Cei apresentou um histórico dos dois processos abertos para investigar a ocupação: a sindicância (que apontou os nove estudantes como líderes da ocupação); e o processo administrativo (que propôs a absolvição

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de dois alunos e a pena de expulsão para os demais). A então direção da Universidade acatou, em novembro de 2008, em parte a proposta da comissão processante de absolver dois alunos, mas substituiu a pena dos outros sete, aplicando suspensão por três dias. Segundo a professora Nena, seu parecer não considerou o depoimento, feito recentemente, de um ex-funcionário da segurança da Universidade que acusou a empresa responsável pela tarefa de forjar a agressão dos alunos. “Ele disse que chegou depois, e portanto não presenciou a ocupação do prédio da Reitoria”, declarou. Cerca de 30 alunos estiveram na sessão e manifestaram-se com faixas contra a punição aos colegas. Um deles pediu para falar em nome do Centro Acadêmi-

co Benevides Paixão (Comunicação) e declarou-se contrário aos processos, que considerou terem sido conduzidos de “maneira anti-democrática”, com pouco tempo para defesa. Segundo ele, mais de 300 alunos participaram do movimento de ocupação, mas apenas nove foram processados. Ao final, 17 conselheiros votaram pelo não provimento do recurso – contra sete votos favoráveis e duas abstenções. Além da apreciação do recurso estudantil, o colegiado também aprovou mudança do nome do Departamento de Engenharia Elétrica (que passou a se chamar apenas Departamento de Engenharia, por conta dos novos cursos oferecidos pela PUC-SP nessa área) e permuta de disciplinas no curso de Ciências Biológicas.

PN – Você conhecia a obra da Inezita Barroso? Teve contato pessoal com ela durante o processo? TC – Eu só a conhecia do Viola Minha Viola (programa que Inezita apresenta na TV Cultura). Não tive contato com ela durante o processo porque não pude ir a dois almoços em que deveria conhecê-la.... Mas acabamos nos encontrando em janeiro deste ano e também a vi na estréia do filme, agora em março. Inezita é muito simpática e atenciosa, me agradeceu ao microfone quando terminou de ver o filme. Fico imensamente feliz por ter contri-

buído na realização de um documentário que mostra a vida de uma mulher como ela. E mais ainda por ela ter ficado satisfeita com o resultado.

Inezita Barroso – a voz e a viola Um filme de: Guilherme Alpendre, Renato Levi, Juliana Knobel, Gisele Lobato, Natália Guerrero,Vinicius Furuie e Thais Cortez. Direção: Guilherme Alpendre Produção Executiva: Renato Levi Fotografia: Juliana Knobel Produção: Gisele Lobato Pesquisa: Natália Guerrero, Vinicius Furuie Edição: Thais Cortez e Rafael Larangeira Com a colaboração de: Emerson Kimura, Thiago André e Thiago Scarelli Fotografia adicional: Thiago André, Renato Levi, Eduardo Piagge, Gustavo Brandão, Alexandre Moreira e Vinicius Furuie.

Festival de Games apresenta vencedores Da Redação* O game Raidho, da Equipe GP, foi o vencedor do Prêmio Especial do Júri, categoria principal do 1º Festival PUCSP de Criação e Desenvolvimento de Games. A premiação ocorreu no campus Consolação, no último dia 28/3, e apontou também os vencedores nas categorias Mod (Interstelar Games, de Guilherme Lucena), Inovação (Themis, da Equipe Áudio-game) e Educacional (Caixeiro Viajante, de Isabel Elias). Gilberto Faria, representante da equipe vencedora, considerou o desenvolvimento do game Raidho bem trabalhosa. “A criação durou dois anos. Trabalhamos nas férias e tivemos ajuda de diversos professores. Primeiro observamos os jogos que serviram de referência, como God of War e Shadow of The Colossos. Depois passamos meio ano construindo o roteiro e mais meio ano para pesquisas. Só depois é que começamos

Lisia Lemes

Nove estudantes processados pediam a revisão da pena estipulada à época da gestão da reitora Maura Véras

PUC em Notícias – Como foi sua participação no filme? Thais Cortez – Fui a montadora, mas também ajudei bastante no roteiro, que na verdade era um esboço de poucas linhas e seguia uma ordem meio cronológica. Primeiro tive acesso a todo o material bruto (uma caixa de sapato repleta de fitas mini-DV), ouvi as entrevistas, separei as imagens disponíveis e, já no programa de edição, separei tudo em inúmeros timelines (seqüências) divididos por pessoa e por assunto. O material ajudava muito. A Inezita tem uma naturalidade nas falas que é bacana de se ver e os outros entrevistados amarravam os assuntos direitinho. Sempre fui contra o editor de imagens ser meramente o “apertador de botões”. Juntos, Guilherme Alpendre e eu achamos uma estrutura e íamos construindo o filme de acordo com o ritmo que ele precisava. Nós praticamente não tínhamos roteiro, tudo foi nascendo do conhecimento do material e do nosso bom senso. Não estou dizendo que este é o melhor jeito de se trabalhar, muito pelo contrário, mas nós nos viramos bem sendo conduzidos pelas entrevistas, e não o contrário.

a produção e a modelagem 3D”, disse. A abertura do evento ficou por conta da banda Gameboys, que às 9 da manhã já animava o local tocando a trilha sonora de games famosos. Também houve uma palestra de Alexandre Chohfi, da Microsoft Student Partnet, sobre a indústria de games e funcionamento e uso de XNA (ferramenta para criação de jogos da Microsoft). Os vencedores receberam jogos, pen-drives e um curso da 8D Digital. As empresas Kingston,

Tectoy, 8D Digital e a Rosa Arrais Comunicação colaboraram para a premiação. O festival reuniu trabalhos de alunos e ex-alunos de Tecnologia e Mídias Digitais e Jogos Digitais. O próximo concurso será realizado em novembro de 2009, e as inscrições, a partir de agosto, serão abertas para estudantes de outras universidades. Mais informações: http://blog.pucsp.br/jogosdigitais. * Colaborou Lisia Lemes

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O Fingidor Espetáculo sobre Fernando Pessoa reestréia no Tuca. Temporada de 4/4 a 28/6; sextas e sábados às 21h30 e domingo às 19h. Inf.: www.teatrotuca.com.br. www.pucsp.br

08 Atriz conta histórias para crianças no Tuca Thais Polato

Professora leva público a criar música com celular e QR-Code Giselle Beiguelman, do pós em Comunicação e Semiótica, cria exposição que utiliza celulares e tecnologia de código de barras para produzir músicas Thiago Pacheco

PUC em Notícias – Como funciona a Suíte para mobile tags? Giselle Beiguelman – É muito simples. Com um celular que tenha câmera e um leitor de QR-Code, o interator mira uma das imagens e dispara sons no ambiente. Cada uma das imagens do espaço expositivo é um QR-Code que traz embutido um número telefônico. Ao apontar a câmera do aparelho para a imagem, o leitor de QR-Code liga para um deles e cada um tem um ringtone que toca em seguida. Temos celulares cedidos pela Nokia para que o público interaja no recinto e instruímos, pelo nosso site (www.qartcode. net), como interagir utilizando o próprio aparelho. PN – Como surgiu a idéia? GB – Venho explorando a

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ativando os ringtones. Teoricamente é possível compor mais de 16 milhões de suítes sonoras diferentes, agenciando os oito números e os oito ringtones compostos para serem recombinados pelos interatores. É a cultura da inteligência distribuída levada ao extremo. Nosso documentário no YouTube (www.youtube.com/ watch?v=mdjz3278RDQ) dá uma idéia do que ocorre no local, e nosso site (www.qartcode.net) deixa disponível um test drive da situação, permitindo que o público toque os

Américo Vermelho

Já faz tempo que os celulares deixaram de ser, exclusivamente, telefones. Atualmente, esses aparelhos apresentam outras funções como rádio, tocadores de música, câmeras fotográficas e filmadoras. Mas há mais possibilidades ainda: um experimento da professora Giselle Beiguelman (Pós em Comunicação e Semiótica) com o músico Mauricio Fleury faz do celular um instrumento para a arte. Na Suíte para mobile tags, o público usa aparelhos com câmera e leitores de Quick Response Code (QR-Code, um tipo de código de barras) para interagir e construir sons no ambiente. Em funcionamento desde março no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), no Rio de Janeiro, a Suíte deve ser apresentada ao público de São Paulo em julho e agosto. Desde os anos 90, Giselle realiza estudos e intervenções que unem novas tecnologias e arte e já expôs seus trabalhos Zentrum für Kunst und Medientechnologie (ZKM, Centro de Arte e Mídia, instituição alemã considerada o principal museu de arte e mídia do mundo) e na Bienal de Arte de São Paulo. É curadora do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia e do festival Nokia Trends 2008. Giselle é docente da PUCSP desde 2001 e coordena o Grupo de Pesquisa Net Art: Perspectivas Criativas e Críticas. Leia abaixo a entrevista que concedeu por e-mail.

relação entre novos formatos de arte, comunicação e mobilidade desde 2001, o que me rendeu, na época, uma longa matéria no prestigioso (jornal britânico) Guardian e um verbete no seletíssimo Guia sobre Comunicação de Massas da Yale University (EUA). Além disso, sou aficionada por op art (arte ótica) e novos formatos de escritura e leitura. O QR-Code é um mix disso tudo. Para completar, havia conhecido o Mauricio Fleury, músico que compôs os ringtones no Nokia Trends 2008 e

Giselle interage com as imagens e dispora sons na exposição, em cartaz no Rio de Janeiro imediatamente nos tornamos cúmplices. Quando entendi que uma das informações que poderiam ser embutidas no QR-Code era a discagem direta para números de telefone, sem necessidade do chatíssimo teclado, percebi que tinha um trabalho pronto. Liguei para o Mauricio e começamos a trabalhar na composição da Suíte. PN – O projeto está em exposição no File, no Rio de Janeiro. Quais reações as pessoas tiveram? GB – Nunca imaginei que funcionaria tão bem. É um ready-made, no sentido mais duchampiano que se possa dar ao conceito... As pessoas ficam surpresas com a combinação de hi e low tech do projeto. Estamos muito felizes com os resultados. PN – A Suíte pressupõe uma participação de diversas pessoas na produção da obra. As novas possibilidades de relacionamento social surgidas a partir da internet influenciaram esse novo modo de fazer e pensar a arte? GB – A Suíte é uma situação, não uma obra. Depende de pelo menos duas pessoas

ringtones pela web. PN – Nessa nova operação artística, como fica a autoria? O autor está cedendo espaço para o provocador? GB – A autoria é difusa e distribuída. O autor é um agenciador de sensibilidades, percepções e novas posturas. PN – A Suíte reflete inovações artísticas, como uso mais intenso da tecnologia e participação mais ativa do público. No entanto, sua apresentação se dá num espaço tradicional de exposição artística. Quais são os caminhos que a arte pode percorrer para escapar dos museus? GB – O movimento número 2 da Suíte é um remix em que nós e o público trabalhamos juntos, em uma situação de palco e platéia, em que inverteremos os limites entre os dois; o terceiro pretendemos que seja uma ação em transportes públicos. O ambiente da primeira versão foi confortável, especialmente por ocorrer no File, que é um festival absolutamente de ponta e permitiu o teste de uma idéia que nunca havíamos realizado. E assim a hipótese foi confrontada: não se trata, portan-

to, de um ambiente expositivo, mas laboratorial. PN – Quando você iniciou seus trabalhos artísticos? GB – Foi meio acidental. Fiz parte da equipe que implantou o UOL (1995), comecei ali minha pesquisa que foi premiada pela Fundação Vitae e inúmeras instituições: O Livro depois do Livro. Peter Weibel, diretor do museu alemão ZKM, tomou conhecimento do projeto por um amigo em comum e me convidou para expor o Livro depois do Livro, como obra de arte, em 1999, na primeira exposição museológica devotada à web arte (NET_CONDITION, 1999). Daí para frente, não parei mais. PN – Todas as suas obras têm ligação com a tecnologia? GB – Basta acessar meu site (www.desvirtual.com) para ver tudo que produzi. Nunca contei quantas obras. Pessoalmente, tenho um grande carinho por todos os trabalhos que fiz para internet: egoscópio (2002, uma intervenção em painéis eletrônicos, que me rendeu uma resenha incrível no jornal americano New York Times); //**Code_UP (2004), que nunca deixou de estar exposto desde o dia em que foi apresentado pela primeira vez; e a série de projeções interativas De Vez em Sempre/De Vez em Nunca/ De Vez em Quando (200507), em que o público participa com seus celulares, e que foi incorporada ao acervo do ZKM. Recentemente, tenho me dedicado também à produção de vídeos com celular e explorado a situação do audiovisual em redes sociais. Todas são obras mediadas por dispositivos tecnológicos e todas estão documentadas no meu site. PN – Você é líder do Grupo de Pesquisa Net Art: Perspectivas Criativas e Críticas. De que forma as suas atividades docentes e artísticas estão ligadas? GB – Não consigo ver os limites entre uma coisa e outra. Só faço o que faço porque sou professora e tenho um grupo de pesquisa e orientandos que me pedem respostas às perguntas que nunca me fiz. Essas perguntas em aberto se transformam em novas linhas de pesquisa e se realizam como projetos artísticos em que testo e experimento hipóteses.

Tininha Calazans em cena Thaís Polato Resgatar com as crianças o caráter simbólico e de raiz das datas festivas que se realizam entre os meses de abril e junho. Com essa intenção, a artista Tininha Calazans realiza o programa Dia de Histórias, no Tuca, a partir de abril. Através da arte milenar de contar histórias, Tininha reunirá turmas de crianças a partir de 4 anos, em um ambiente especialmente preparado na sala de ensaio do teatro. “Colocaremos almofadas, sentaremos em círculo e, em algumas histórias, haverá interação da garotada. Num mundo tão cheio de apelos como o de hoje, a idéia é resgatar momentos de escuta e encantamento em pequenos rituais cotidianos como o de sentar-se à sala para ouvir e contar histórias ou sentar-se à mesa para partilhar uma refeição em família”, afirma Tininha. O programa é voltado para escolas, que poderão

escolher os temas que querem ver tratados quando seus alunos participarem – entre eles, há histórias sobre lendas indígenas e africanas, relação de mães e filhos e brincadeiras à moda antiga. “As atividades são tão educativas para as crianças quanto para os professores que podem, com a experiência que viverão aqui, descobrir novas formas de abordar a literatura oral”, considera a professora Ana Salles, superintendente do Tuca. ENCANTARES – Tininha Calazans é atriz e contadora de histórias, licenciada em Artes Cênicas pela UNB, com especialização em Teatro e Dança pela USP. Desde 1993 dedica-se integralmente ao projeto Encantares, pesquisando, recontando e propagando histórias milenares da tradição dos povos e também de sua própria autoria. Brincadeiras e danças de roda também se integram às propostas de trabalho.

Programa Dia de Histórias Tuca - auditório superior Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes Inf.: (11) 3670-8462 tucacom@pucsp.br www.teatrotuca.com.br

Notas Protagonistas do Brasil Entre 6 e 18/4, a PUC-SP e a revista Brasileiros realizam a exposição Protagonistas do Brasil, na Biblioteca do campus Perdizes. A mostra exibe 30 aberturas de reportagens e fotografias publicadas ao longo das 20 edições da Brasilei-

ros, produzidas por jornalistas como Hélio Campos Mello, Ricardo Kotscho, Ruy Castro, J. R. Duran, Marta Góes, Celso Fonseca, Márcio Scavone, Bob Wolfenson, Carlos Silva, Manoel Marques e Ricardo Stuckert.

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