EXTIFAL: Revista de Extensão do Instituto Federal de Alagoas, v. 1, n. 1, 2013

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ISSN 2318-9487 (Impressa) ISSN 2318-9495 (On-line)

Revista EXTIFAL

Volume 1

NĂşmero. 1

2013


Mistério da Educação Secretaria de Educação Profissional Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas

Reitor Sérgio Teixeira Costa

Conselho Editorial Presidente Jonison Alves da Silva

Pró-Reitor de Extensão Altemir João Secco

Secretário Cícero Julião da Silva Júnior

Pró-Reitor de Ensino Luiz Henrique de Gouvêa Lemos

Revisores de textos Maria Luciane da Silva Maria Lucilene da Silva Agnaldo Pedro Santos Filho

Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação Carlos Henrique Almeida Alves Pró-Reitor de Administração e Planejamento Wellington Spencer Peixoto Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional José Jonas de Melo Alves

Revisores de Normas Técnicas Eunícia Maria Canuto Torres Manoel Santos da Silva Bibliotecária Eunícia Maria Canuto Torres Produtor Gráfico Gilton José Ferreira

Capa Gisela Lima Conti Heráclito de Almeida Ávila Júnior Natália Júlia Batista Dória Silveira

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EXTIFAL: Revista de Extensão do Instituto Federal de Alagoas, v. 1, n. 1, 2013. Maceió: IFAL, 2013. Periodicidade Anual ISSN 2318-9487 1. Educação – Extensão. I – Instituto Federal de Educação de Alagoas. CDD 370.5

Instituto Federal de Alagoas EXTIFAL Pró-reitoria de Extensão - PROEX Rua Odilon Vasconcelos, 103, Jatiúca. 57035-660 Maceió-AL É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa do IFAL. A Revista EXTIFAL é uma publicação da Pró-Reitoria de Extensão do Instituto Federal de Alagoas. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam, necessariamente, a opinião do Conselho Editorial.


Editorial Em 29 de dezembro de 2008 nasceu o Instituto Federal de Alagoas - IFAL, resultante da fusão entre o Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas – CEFET, e a Escola Agrotécnica Federal de Satuba/AL – EAFS. A nova identidade também trouxe novos desafios. Questões como pesquisa e extensão incorporaram novos entendimentos sobre sua participação na formação acadêmica dos estudantes. A extensão, numa perspectiva de relação transformadora entre o IFAL e a sociedade, ultrapassou a perspectiva de atividade de firmamento de convênios para a oferta de estágio curricular obrigatório. Passou a ser entendida como uma extensão para além deste limite, onde programas, projetos, cursos, eventos, principalmente, foram incorporados ao fazer extensionista. No mesmo período, graças à expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica, o IFAL passou de três unidades em 2008, para 11 câmpus em 2011. Era preciso regulamentar a extensão na nova perspectiva, e isso ocorreu em março de 2011, através da Resolução nº 10/2011 do Conselho Superior. Assim foram estabelecidos os princípios norteadores da extensão no IFAL. Dentre as premissas destacamos o entendimento de que as ações extensionistas têm protagonismo duplo, IFAL e sociedade. Com base nesta convicção, a Resolução estabelece que as ações extensionistas devem obrigatoriamente envolver a comunidade acadêmica e a comunidade externa. Os projetos de extensão, por exemplo, são todos desenvolvidos com a comunidade externa. Entendemos que o contato dos nossos extensionistas, servidores e alunos, com a comunidade externa, amplia a formação acadêmica dos estudantes, aumenta seu entendimento sobre a realidade local, e estabelece um diálogo direto com a sociedade, possibilitando estender os benefícios do ensino e da pesquisa, e aprender com a comunidade, reavaliando práticas e conteúdos acadêmicos. Marco fundamental também foi a decisão política do Instituto de aportar recursos de seu próprio orçamento para o desenvolvimento das ações de extensão. Desde 2011 contamos com orçamento institucional, o que permite o pagamento de bolsas de extensão aos estudantes. Nesta perspectiva, no final de 2010 lançamos o primeiro edital do IFAL para fomento aos projetos de extensão. Recebemos 185 inscrições de propostas. Selecionamos e desenvolvemos 57 projetos em 2011, contemplando todos os 11 câmpus do Instituto Federal de Alagoas. No ano de 2012, mantivemos o estímulo a projetos e passamos a apoiar também propostas de cursos de extensão. Finalizamos 2012 com 152 projetos e 18 cursos de extensão realizados, sem contar com os Cursos FIC no âmbito do PRONATEC. Também desenvolvemos ações do Programa Mulheres Mil em dois câmpus. Neste ano de 2012, participaram da extensão 152 servidores, sendo 126 docentes e 26 técnicos administrativos. Foram 445 alunos envolvidos nas ações extensionistas, entre bolsistas e voluntários. Mais de 18.0000 pessoas da comunidade externa foram parceiras nas ações extensionistas. Estabelecemos 123 parcerias com organizações externas para o desenvolvimento destas ações. Além da composição dos registros através da definição dos indicadores institucionais de extensão, a Pró-reitoria de Extensão – PROEX decidiu relatar estas experiências extensionistas na forma de um periódico. Lançamos a chamada para a inscrição de artigos, obrigatoriamente relatos de ações de extensão desenvolvidas no IFAL. Recebemos 30 inscrições. Neste primeiro número constam artigos de servidores e estudantes que desenvolveram ações nos anos de 2011 e 2012, nas diversas áreas temáticas. Neste momento marcante para todos nós do Instituto Federal de Alagoas, agradecemos imensamente aos nossos gestores por compreender a importância de destinar recursos orçamentários para a extensão, aos nossos servidores docentes e técnico administrativos, aos nossos alunos bolsistas e voluntários, às comunidades que nos receberam de braços abertos, aos coordenadores de extensão dos 11 câmpus, e à valorosa equipe da Pró-reitoria de Extensão – PROEX. Eis a EXTIFAL, volume 1, número 1. ALTEMIR JOÃO SECCO Pró-reitor de Extensão do IFAL



Sumário A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O CASO DA ESCOLA MUNICIPAL GOVERNADOR LUIZ CAVALCANTE Andressa da Conceição Lopes; Beatriz Lizandra G. da Silva; Adelmo Lima Bastos.............................................................

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A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS DE BAIXO CUSTO E DE FÁCIL AQUISIÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE EXPERIMENTOS DE QUÍMICA PARA ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS (6º-9º ANO): UMA FERRAMENTA COMO DESCOBERTA DA QUÍMICA OFICINA Edson Francisco A. da Silva; Sinezia M. dos Santos; Ariana Francielle P. da Silva; Paulo César C. de Oliveira; Ana Paula A. Benigno..........................................................................................................................................................................

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ALIMENTO SEGURO, ESCOLA SAUDÁVEL Maria de Fátima F. A. Gomes; Quitéria Meire M. A. Gomes ; Jackson Filipe da S. Santos; Sileide da S. Pereira................

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APOIO À AUTONOMIA FINANCEIRA E A PROMOÇÃO SOCIAL DE MULHERES E JOVENS RURAIS NO MUNICÍPIO DE INHAPI, SEMIÁRIDO ALAGOANO José Ribeiro da Silva; Manoel Santos da Silva; Miguel da Silva Filho.................................................................................

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COMUNIDADE CÊNICA Daniel Moreira de Alcântara..............................................................................................................................................

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CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A TEMÁTICA DO LIXO NO IFAL CÂMPUS MURICI E NA COMUNIDADE LOCAL: TEORIA E PRÁTICA EM PROL DA SUSTENTABILIDADE Adalberto da Silva Santos; José Welton da Silva Santos; Lucas Gabriel Acioli Ferreira.......................................................

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HORTA ESCOLAR: UM ELO ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA ADOTANDO PRÁTICAS ALIMENTARES SAUDÁVEIS E ACESSÍVEIS NA PERSPECTIVA DE CONTRIBUIR COM O MEIO AMBIENTE: RELATO DE EXPERIÊNCIA Luana Carolina de Medeiros P. Ribeiro; Thaís Oliveira Lins; Evyla Christine A. de Lima; Rosana Silva Santos ..................

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INTERVENÇÕES URBANAS Arlindo da Silva Cardoso; Daniel Cavalcante da Silva; Eliza Magna de Souza Barbosa; Lucas Cardoso Ramos.................

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NO NORTE ALAGOANO, EM BUSCA DE ARTE: CAMINHOS PERCORRIDOS PELO PROJETO DE EXTENSÃO NORTE ARTES José Ricardo da Silva Araújo...............................................................................................................................................

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PIMI: PROGRAMA DE INICIAÇÃO A MATEMÁTICA NAS REDES ESTADUAL E MUNICIPAL Carlos Argolo P. Alves; José M. de Lemos Neto; Josias A. Rocha Junior; Pedro Henrique S. de Almeida.............................

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POESIA NA PONTA DOS DEDOS: A INCLUSÃO DO TEXTO POÉTICO NA EDUCAÇÃO DE SURDOS Jaqueline Soares dos Santos; Jones Dias de Almeida; Fábio José dos Santos ....................................................................

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PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL COM ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE ARAPIRACA COM A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES LIVRES: UMA EXPERIÊNCIA COM O PROINFO-LIVRE Aysllan Souza Vieira; Carmelita Santino Barbosa de Oliveira; Maurício Vieira Dias Júnior ...............................................

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PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL: UM CASO DE SUCESSO NO INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS - CÂMPUS MACEIÓ Wladia Bessa da Cruz ........................................................................................................................................................ 85 RECICLAGEM DA GARRAFA PET Anastássia Mariáh; Vânia Tenório ....................................................................................................................................

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SEMINÁRIOS: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (T.I.) E AS DIFERENTES ÁREAS DE ATUAÇÃO Felipe Prata Lima; Alan Lemos Silva; Lucas Alves da Silva Santos......................................................................................

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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O CASO DA ESCOLA MUNICIPAL GOVERNADOR LUIZ CAVALCANTE

Andressa da Conceição Lopes 1 Beatriz Lizandra Gomes da Silva2 Adelmo Lima Bastos 3

Resumo O projeto “A educação ambiental como ferramenta de desenvolvimento sustentável: o caso da Escola Municipal Governador Luiz Cavalcante”, promoveu aos alunos do 5° ano do ensino fundamental uma melhor conscientização sobre o que é a educação ambiental, com o intuito de se refletir no contexto geral da escola. Tendo como principal objetivo o reaproveitamento de materiais recicláveis que antes seriam jogados no lixo, produzindo assim objetos artesanais e brinquedos e uma melhor conscientização sobre a problemática ambiental. Para a execução do projeto, desenvolveu-se uma metodologia através de módulos mensais, e para cada módulo eram abordados temas diferenciados, tais quais: O que é meio ambiente; Modos de preservação do meio ambiente; Importância dos recursos naturais; Importância da reciclagem. E para melhor entendimento das crianças, como estratégias de educação ambiental, utilizaram-se: palestras, jogos lúdicos, atividades de percepção visual, filmes e oficinas. Ao final do projeto, pudemos observar resultados significativos que nos fizeram assimilar que essa forma didática de trabalho com crianças torna-se indispensável, pois demonstraram fácil absorção do conteúdo, tornando-se, assim, agentes multiplicadores da informação, uma vez que há uma integração diferenciada na execução do projeto. Palavras-chave: Educação ambiental. Conscientização. Reaproveitamento. Reciclagem.

Abstract The project Environmental education is a tool for sustainable development: the case of the Municipal School Governor Luiz Cavalcante organized for the students of 5th level of elementary education for a better understanding of what environmental education is. In order to reflect on the school context we done this work. Having as main objective the reuse of recyclable materials that would be thrown in the trash. Its best use is the production of crafts and toys and a better awareness of environmental issues. To implement the project developed a methodology through monthly modules, and each module were several topics: What is the environment; Modes environmental preservation; importance of natural resources, the importance of recycling. And for better understanding of children the environmental education was the better strategy such as, lectures, educational games, activities, visual perception, films and workshops. At the end of the project significant results is detected. At this moment the teaching work with children become indispensable because they are easily absorbed from the contents thus becoming, multipliers as there are differentiated integration in project execution. Keywords: Environmental education. Awareness. Reuse. Recycle.

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Graduanda no Curso Tecnológico em Gestão Ambiental - IFAL Câmpus Marechal Deodoro - andressadac.lopes@gmail.com Graduanda no Curso Tecnológico em Gestão Ambiental - IFAL - Câmpus Marechal Deodoro - beatriz_lizandra@hotmail.com Professor doutor do Curso Tecnológico em Gestão Ambiental – IFAL Câmpus Marechal Deodoro - adelmobastos@gmail.com


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Introdução

Segundo a lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, pela qual se dispõe o entendimento da educação ambiental, é possível deduzir que essa lei pode ser compreendida como processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Sendo assim de fundamental importância, uma vez que: A educação ambiental deve favorecer e estimular possibilidades de se estabelecer coletivamente uma “nova aliança” (entre os seres humanos e a natureza e entre nós mesmos) que possibilite para todas as espécies biológicas (inclusive a humana) a sua convivência e sobrevivência com dignidade (REIGOTA, 2009, p. 14).

Atualmente a questão ambiental no Brasil vem se fortalecendo com o passar dos anos, assim é de grande necessidade que a sociedade adquira uma maior conscientização ambiental o mais rápido possível, por “ [...] considerar que a degradação ambiental que hoje se apresenta é decorrente da profunda crise social, econômica, filosófica e política que atinge toda a humanidade” (PELICIONI, 2005, p. 353). Portanto, podemos observar que atualmente a questão ambiental no Brasil vem se fortalecendo com passar dos anos, observando os diversos problemas que ocorrem gradativamente e influenciam no cotidiano dos indivíduos; assim é de grande necessidade que a população adquira uma maior conscientização ambiental o mais rápido possível. Com a execução do projeto a Educação Ambiental como Ferramenta de Desenvolvimento Sustentável: O Caso da Escola Municipal Governador Luiz Cavalcante, pode-se repassar para crianças que moram numa localidade onde o estímulo à preservação ambiental é estabelecido de forma falha, um maior incentivo e prática à conscientização, conhecimento, comportamento, habilidade e participação, que “são interligados” (DIAS, 2004, p.111), e assim possam refletir no desenvolvimento da consciência, cada vez maior, que ajuda a conservar o meio ambiente. Em relação ao papel, que é um item indispensável em uma escola, observou-se que deve ser utilizado da melhor forma possível, assim como o seu processo de reciclagem (BRACELPA, 2009). Já a sua fabricação tem interferência direta no meio ambiente, na utilização de madeira, como sua matéria prima (Universidade de Brasília, 2012). Ainda, faz-se necessário conceituar que a conscientização ambiental é um conjunto de conceitos que as pessoas adquirem mediante as informações percebidas no ambiente. Logo, o comportamento ambiental e as respostas ao meio ambiente são influenciados pelos conceitos nele adquiridos. Com o intuito de formar cidadãos mais conscientizados com o meio ambiente, proporcionando uma visão mais coerente dos alunos para a questão da educação ambiental, é que foi desenvolvido o projeto em questão. O objetivo deste trabalho foi o reaproveitamento de materiais recicláveis, que antes seriam jogados no lixo, produzindo assim objetos artesanais e brinquedos e uma melhor conscientização sobre a problemática ambiental.

Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido na Escola Governador Luiz Cavalcante, no município de Marechal Deodoro, localizada no Centro Histórico. O município de Marechal Deodoro dista da capital alagoana 35 km. Para alcançar um resultado satisfatório e a obtenção de uma melhor organização na execução do projeto, tornou-se indispensável a criação de módulos que facilitaram a realização das tarefas, levando em consideração que a “aprendizagem só acontece quando existe a recepção da mensagem e seu posterior aproveitamento e incorporação ao universo conceitua e/ou comportamental do individuo” (PELICIONE. 2005, p.437). Foram iniciadas as atividades com a aplicação de um questionário que resultou em um diagnostico antecipado sobre o grau de aprendizagem do tema abordado, antes das aulas do projeto, pois educação ambiental é interdisciplinar, e considerando que todas as crianças estão matriculadas no ensino fundamental básico, buscamos perceber qual era o nível de entendimento já existente nelas. Foi montado um questionário que, posteriormente, serviu de comparativo em conjunto com o último aplicado no 5°modulo, no qual se apresentaria o índice de aprendizagem dos alunos antes e após o ensinamento.

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A educação ambiental como ferramenta de desenvolvimento sustentável: o caso da Escola Municipal Governador Luiz Cavalcante

Em seguida, realizou-se a execução dos módulos em geral, os quais estão descritos abaixo:  

Modulo I - teve como objetivo divulgar o projeto na escola e em seguida iniciar as atividades visando a ensinar, esclarecer e discutir com os alunos sobre a importância da Educação Ambiental, através de palestra com o tema: O que é Meio Ambiente? Questionários e jogos lúdicos. Módulo II – teve como finalidade a implantação de técnicas de preservação do meio ambiente. Através da palestra com o título: Modos de Preservação do Meio Ambiente, e também ocorreu uma oficina de reutilização de papel através do método em origami, onde pudemos observar a facilidade de aprendizado das crianças. Módulo III – ocorrido no mês de maio, tratou da importância dos recursos naturais, através da palestra intitulada: Importância dos Recursos Naturais, também fora realizadas atividades de coleta de garrafas pet para a execução de oficinas de reutilização onde as crianças, com o nosso auxílio, fabricaram portajoias, brinquedos como carrinhos e etc. E foi passado para eles o filme RIO (desenho animado/comédia/infantil), dirigido por Carlos Saldanha, com a intenção de mostrar-lhes que devemos cuidar dos animais e dos recursos naturais. Também ocorreu uma visita ao Instituto Federal de Alagoas - Câmpus Marechal Deodoro, para que eles pudessem identificar alguns recursos naturais e conhecer onde nós estudamos. Módulo IV – realizou-se uma palestra intitulada: A importância da Reciclagem e Reutilização, pois é importante salientar que, segundo consta no site do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), a reutilização é o reaproveitamento de materiais criando novas formas de uso para ele, restaurando, consertando e etc. Já a reciclagem é a transformação de materiais que não servem em novos produtos (IBAMA, 2012). Neste módulo, deu-se continuidade à oficina de reciclagem, com o objetivo de promover a conscientização dos alunos sobre a importância deste processo. Foram fabricados porta canetas, jarros e enfeites. Ainda neste módulo ocorreu a visita ao Parque Municipal de Marechal Deodoro (ECOPARK), cujo principal intuito foi realizar uma atividade de reflorestamento com as crianças, para estimulá-las à proteção e preservação do meio ambiente. Módulo V - Reutilização do papel e seus benefícios e brinquedos de garrafas pet’s, o intuito deste módulo foi incentivar os alunos a práticas de reutilização, uma vez que, segundo a revista Galileu, um eucalipto rende de 20 a 24 mil folhas de papel A4 (75 g/m2 de gramatura), aquele comum, usado em casa e nos escritórios. Como são necessárias 11 árvores para produzir uma tonelada de papel, e o consumo do brasileiro é de 44 kg por ano, cada um de nós consome em média meia árvore por ano. (REVISTA GALILEU, 2009). Um dado que demonstra a importância de sua reutilização. Nessa parte do projeto, foi dada uma maior ênfase à parte prática, com uma maior diversidade de objetos que podem ser fabricados, incentivando assim não só as crianças, mas os familiares mais próximos delas a buscarem ter tais objetos de fabricação simples como uma fonte de renda familiar alternativa. Por fim, realizamos o questionário final que nos apresentou resultados expressivos em relação ao trabalho executado.

Resultados

É sabido que, atualmente, o exercício da educação ambiental tem-se tornado indispensável, tratando de diversos conteúdos que revelam a preocupação em se ter uma maior conscientização sobre tal questão, com atitudes corretas que beneficiem tanto a vida do ser quanto a preservação do ambiente. Tendo conhecimento de que a educação formal tem falhas em relação á demanda que hoje existe em relação à formação do cidadão, a atual situação ambiental pede medidas urgentes para atenuar essa problemática. Este artigo traz uma visão de educação ambiental de maneira a mostrar que o papel desta cabe à sociedade. Foi verificado que o público-alvo, apesar dos problemas advindos de seus respectivos lares e da dificuladade de aprendizagem, conseguiu responder de forrma satisfatória às atividades que lhes foram apresentadas. Como metodologia, foram utilizadas as estratégias: palestras, vídeos, oficinas e dinâmicas. A análise final teve como resultado que a forma de intervir no dia a dia das crianças influenciou e veio a fortalecer o pensamento de que com a educação somos capazes de formar cidadãos conscientes ecologicamente. Outros parâmetros que influenciaram os resultados positivos na execução do projeto foram as aulas práticas, realizadas no câmpus do IFAL-MD (Instituto Federal de Alagoas Câmpus Marechal Deodoro), e a visita ao Parque Municipal de Marechal Deodoro (ECOPARK) onde obtivemos uma maior aproximação com o meio ambiente de identificação dos recursos naturais, reflorestamento, por fim, atividades poluidoras e reconstrutoras do meio, com essas atividades os alunos puderam expor suas principais dúvidas e estas puderam ser respondidas.

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Revista EXTIFAL Figura 1 – Aulas teóricas desenvolvidas na Escola Municipal Governador Luiz Cavalcante

Figura 2- Atividade de reflorestamento de uma pequena área no Parque Municipal de Marechal Deodoro (ECOPARK)

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A educação ambiental como ferramenta de desenvolvimento sustentável: o caso da Escola Municipal Governador Luiz Cavalcante Figura 3 – Oficinas educativas de reutilização, fabricação de objetos e exibição de filme

Figura 4 - Equipe realizadora das atividades do projeto: Luana Isabela, Andressa Lopes, Beatriz Lizandra, Prof. Adelmo Bastos, Fábia Freitas

Fonte das fotografias: Autores

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Conclusão

Após o término do Projeto, pudemos concluir que houve um processo de conscientização dos alunos envolvidos no Projeto; os professores e funcionários participaram efetivamente do Projeto, respaldando nossas ações; houve o devido entendimento dos alunos quanto ao reaproveitamento de materiais recicláveis; foram produzidos objetos artesanais e brinquedos através da reciclagem; alguns objetos produzidos forram vendidos, gerando renda para os alunos e, finalmente, uma melhor conscientização sobre a problemática ambiental.

Referências

BRACELPA. Associação Brasileira de Celulose e Papel. Relatório Anual 2008/2009. Disponível em: <http://www.bracelpa.org.bra> Acesso em: 22 abr. 2012. BRASÍLIA, Lei n° 9.795, 27 de abril de 1999. DIAS, Geraldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004. IBAMA. Reutilização e reciclagem. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/recursospesqueiros/download/200/> Acesso em: 20 jun. 2012. PELICIONE, Maria Cecília Focesi; PHILIPPI JR, Arlindo. Educação Ambiental e sustentabilidade. 3. ed. Barueri/ SP: MANOLE, 2005. (Coleção ambiental). REIGOTA, Marcos. A educação Ambiental como educação política. In: O que é educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2009, p. 11-19. REVISTA GALILEU. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG87237-

7946-221,00 UANTAS+FOLHAS+DE+PAPEL+DA+PRA+FAZER+COM+UMA+ARVORE.html> Acesso em: 29 abr. 2012. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Departamento de Ciência da Informação e Documentação. Fabricação do papel. Disciplina: Conservação e Restauração de Documentos. Professora Lillian Alvares. (Apostila). Disponível em: <http://www.alvarestech.com/lillian/Conservacao/Aula5.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2012.

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A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS DE BAIXO CUSTO E DE FÁCIL AQUISIÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE EXPERIMENTOS DE QUÍMICA PARA ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS (6º- 9ºANO): UMA FERRAMENTA COMO DESCOBERTA DA QUÍMICA - OFICINA Edson Francisco Alves da Silva1 Sinezia Mirtes dos Santos2 Ariana Francielle Pereira da Silva3 Paulo César Costa de Oliveira4 Ana Paula Aquino Benigno5

Resumo As atividades experimentais constituem uma ferramenta didático-pedagógica importante para motivar os alunos, bem como propiciar o desenvolvimento do pensamento e a consequente aprendizagem dos conteúdos científicos. Visando a estimular os alunos do 6º ao 9º ano ao pensamento químico, desenvolveu-se o presente trabalho baseado na realização de um Projeto de Extensão que utilizou experimentos simples e constituídos de materiais de baixo custo, de fácil operação, relacionados a fenômenos do cotidiano. Essas atividades experimentais foram realizadas por alunos do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal de Alagoas - Câmpus Murici, orientadas por docentes, em escolas públicas da cidade de Murici, em Alagoas. O Projeto de Extensão foi desenvolvido durante oito meses, atendendo três escolas públicas de Ensino Fundamental da cidade de Murici/AL e um total de 976 alunos. Palavras–chave: Projeto de extensão. Experimentos químicos. Materiais de baixo custo. Interesse científico.

Abstract The experimental activities are important didactic-pedagogical tools to motivate students, as well as foster the development of thought and subsequent learning of scientific content. Aiming at encouraging students to the chemical thought. This paper was developed aiming to encourage students to chemical thinking based on the development of an extension project that used simple experiments made up of inexpensive materials, and easy operation, related to phenomena of everyday life. These experimental activities were performed by high school students of Instituto Federal de Alagoas - Murici, guided by teachers, in public schools in Murici city in Alagoas. The Extension Project was developed over eight months, attending three public schools in Murici city and a total of 976 students. Keywords: Extension project. Chemical experiments. Low-cost materials. Scientific interest.

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Aluno do Curso Técnico Integrado em Agroindústria. IFAL Câmpus Murici Aluna do Curso Técnico Integrado em Agroindústria. IFAL Câmpus Murici 3 Aluna do Curso Técnico Integrado em Agroecologia. IFAL Câmpus Murici 4 Professor Doutor em Química. Instituto de Química e Biotecnologia. UFAL 5 Professora Mestre em Química e Biotecnologia. IFAL Câmpus Murici - apabenigno@yahoo.com.br 2


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Introdução

O presente trabalho apresenta ações desenvolvidas através do Projeto de Extensão intitulado - Oficina: a utilização de materiais de baixo custo e de fácil aquisição para realização de experimentos de química para alunos das series iniciais (6º - 9º ano) – uma ferramenta como descoberta da química. O projeto foi desenvolvido por alunos do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal de Alagoas – IFAL, Câmpus Murici, e realizado em escolas públicas de Ensino Fundamental da cidade de Murici em Alagoas. Destaca-se que, infelizmente, o ensino de Ciências, de maneira geral, tem reforçado a visão da ciência como sendo algo estático, composto de um conjunto de verdades imutáveis, de conceitos congelados no tempo; não tendo, na maior parte das vezes, nenhuma relação com os contextos históricos, sociais e tecnológicos em que é construída. A ausência de diálogo entre a realidade criada pela ciência e a realidade da vida cotidiana, entre a linguagem científica e a linguagem cotidiana, tem tornado a ciência como algo desinteressante, distante e sem sentido para maioria dos estudantes (MACHADO et al., 2012). Assim, um dos desafios da atualidade relacionado ao ensino de Ciências e/ou Química nas escolas de nível Fundamental e Médio, respectivamente, baseia-se na construção de uma ligação entre os conhecimentos estudados nas disciplinas e o dia-a-dia dos alunos. Não havendo uma articulação entre os dois tipos de atividade, isto é, a teoria e a prática (aplicação), os conteúdos teóricos não se tornam tão atraentes e relevantes à formação do indivíduo. Assim, contribuirão de forma restrita, ao mesmo tempo em que os alunos não verão de forma ampla sua aplicabilidade, e isso dificultará o desenvolvimento cognitivo desses alunos, gerando apatia e distanciamento entre eles e as disciplinas supracitadas (VALADARES, 2001; BENITE, BENITE, 2009). Valadares (2001) aponta que uma abordagem estritamente formal de ensino, que é o mais comum no dia-a-dia escolar, pode interromper várias possibilidades de tornar a ciência mais atrativa aos alunos. Relacionar os conteúdos químicos com aspectos e temas da vida dos estudantes facilita com que estes compreendam as contribuições da ciência química à sociedade e à sua vida (SCAFI, 2010), pois os conhecimentos científicos não são os fenômenos da natureza, mas construções desenvolvidas pela comunidade científica para interpretar a natureza (DRIVER et al., 1999). Aprender Química não é simplesmente memorizar fórmulas e/ou decorar conceitos. Aprender Química vai muito mais além, oportunizando compreender como a atividade humana tem se desenvolvido ao longo dos anos, como seus conceitos explicam os fenômenos que rodeiam os indivíduos e como se pode fazer uso de seu conhecimento na busca de alternativas para melhorar as condições de vida no planeta. Delizoicov e colaboradores (2011) complementam, ainda, apontando que é de suma importância, educar as crianças e jovens, propiciando-lhes um desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico, de modo que adquiram condições para enfrentar as exigências do mundo contemporâneo. Assim, é necessário o desenvolvimento de ferramentas de ensino que motivem os alunos e lhes possibilitem participar ativamente em situações potencialmente significativas (LAUTHARTTE; FRANCISCO JUNIOR, 2011). As atividades experimentais apresentam papel importante para o desenvolvimento das aulas de Ciências (MARTINES et al., 2011), como estratégia para tornar o assunto significativo, relacionar ao cotidiano do discente e, principalmente, como estratégia para que os alunos tenham maior interesse em estudar Ciências, no Ensino Fundamental, e Química, ao ingressarem no Ensino Médio. Ressalta-se que a existência de laboratórios equipados e com reagentes químicos à disposição para realização de aulas práticas seria o ideal, mas essa condição não é realidade em diversas instituições de ensino. Apesar disso, existem diversas atividades experimentais que podem ser realizadas em sala de aula, sem a necessidade de instrumentos ou aparelhos sofisticados (SALES; SILVA, 2010), sendo também uma estratégia eficiente para criação de oportunidades que possibilitem a contextualização e motivação no estudo de Ciências e Química (GUIMARÃES, 2009). Nessa perspectiva, o presente projeto baseou-se na realização de Oficinas em escolas do Ensino Fundamental na região circunvizinha ao IFAL – Murici, realizadas por alunos do Ensino Médio Integrado no Instituto Federal de Alagoas - Câmpus Murici, orientados por docentes, visando a apresentar experiências simples e constituídas de materiais de baixo custo, de fácil operação, relacionadas a fenômenos do cotidiano dos alunos, despertando nestes o interesse em estudar Ciências (desde as séries iniciais), e, em especial, Química, para que no futuro próximo, ao ingressarem no Ensino Médio, não apresentem tanta repulsa a esta ciência tão importante e presente na vida de todos.

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A utilização de materiais de baixo custo e de fácil aquisição para realização de experimentos de química para alunos das séries iniciais (6º- 9ºano): uma ferramenta como descoberta da química - oficina

Metodologia

O Projeto de Extensão apresentado iniciou-se em abril de 2012 e contou com as seguintes etapas: 

no início, ocorreu a seleção de alunos para compor o projeto;

reunião com pais dos alunos, para apresentar o Projeto de Extensão que seria desenvolvido;

levantamento bibliográfico, por parte dos alunos, a respeito de experimentos químicos. Destacando sua importância para motivação/interesse ao estudo de conteúdos científicos; apontamento e discussões sobre as atividades experimentais que apresentassem possibilidades de serem desenvolvidas; definição, testes e/ou aprimoramento de experimentos a serem utilizados, considerando que a atividade prática seja simples, interessante, que utilize materiais de fácil aquisição e baixo custo e, principalmente, que estejam adequados aos alunos pertencentes ao ensino fundamental (6º ao 9º ano); determinação das atividades experimentais que pudessem ser expostas durante as apresentações, atentando-se para a organização de cronograma da realização da Oficina, bem como a correlação entre os fenômenos/ transformações que acontecem no cotidiano dos presentes, aos assuntos teóricos apresentados/ estudados na disciplina de Ciências (foco - Química). Buscou-se também introduzir os termos da linguagem da Química, fazendo com que os alunos familiarizem-se com o discurso químico. Destaca-se que para realização de todos os experimentos, foram utilizados materiais simples, de fácil aquisição e manipulação e de baixo custo, como: água, repolho roxo, vinagre, hidróxido de sódio “soda cáustica” (NaOH), balões, velas, óleo, álcool comercial, corantes, leite, açúcar, detergente, permanganato de potássio (KMnO4) e antiácido efervescente. A organização de apresentação – experimentos, sequência, materiais, quantidades, explicações, curiosidades, etc., foram estabelecidos antes do início das Oficinas nas escolas. Destaca-se, assim, que o projeto teve todo cronograma de planejamento das atividades seguido para realização das atividades.

  

Após a montagem de toda sequência da apresentação, teste com experimentos, etc., iniciaram-se as apresentações em turmas do 6º ao 9º ano de escolas públicas de Ensino Fundamental da cidade de Murici/AL.

Ressalta-se que todos os passos supracitados foram importantes para o desenvolvimento do jovem grupo de Extensão, bem como ampliação de seus conhecimentos e apropriação da linguagem química, pois, apesar de os alunos terem uma boa formação, e as apresentações contarem com suporte/orientação docente, tratase de Oficinas realizadas por alunos que cursam o Ensino Médio. Então, é de suma importância se estabelecer adequado posicionamento, domínio/compreensão da atividade a ser realizada, bem como correta explicação para cada experimento. Tendo-se atentado, ainda, para que os alunos do Ensino Fundamental acompanhassem e compreendessem o experimento apresentado e discutido na Oficina. Assim, pode-se apontar como fato inovador o grupo ser responsável pela execução das experiências e a relação entre conteúdos, experimentos, a apropriação da linguagem química, bem como o desenvolvimento de ações que visem à interação com os alunos que participaram da Oficina.

Resultados e Discussão

O projeto apresentado no presente trabalho foi desenvolvido no ano de 2012, durante oito meses, contou com dois bolsistas que eram alunos do 2º ano do Ensino Médio Integrado do IFAL - Câmpus Murici - e teve como foco apresentar a Ciência, em especial a Química, através de atividades experimentais simples e constituídas de materiais de baixo custo, de fácil operação, relacionadas a fenômenos do cotidiano dos alunos, procurando despertar o interesse dos alunos, desde o Ensino Fundamental, a estudar esta ciência tão importante, criando-se a possibilidade futura de os alunos, ao ingressarem no Ensino Médio, terem maior interesse em estudar Química, pois já estariam percebendo que esta ciência faz parte do cotidiano de todos. As apresentações foram desenvolvidas procurando-se interagir com os alunos, envolvendo-os nas atividades da Oficina e fazendo com que estes estivessem ativos na realização dos experimentos. Além disso, discutiu-se sobre cada experimento, sobre o conteúdo relacionado e, principalmente, sobre situações do cotidiano do aluno.

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Assim, no início de cada Oficina, discutiu-se sobre a percepção da Química pelos alunos no dia-a-dia, o que eles conseguiam descrever e explicar sobre a Química. Apesar de os alunos ainda estarem estudando apenas a disciplina de Ciências (Ensino Fundamental), muitos já tinham conhecimento sobre fenômenos e substâncias químicas. Assim, discutiu-se sobre água, ar atmosférico, ácido liberado pela formiga, formação da pipoca, gás no refrigerante, fabricação do pão, queima da vela, respiração, medicamentos, entre outros. A partir da situação inicial, procurou-se aprofundar os fenômenos e/ou substâncias/materiais citados às explicações científicas, mas procurando-se explorar o conhecimento do aluno, bem como se preocupando com que os alunos compreendessem a explicação apresentada. Em seguida, iniciou-se a realização dos experimentos. Ressalta-se que além de realizá-los procurou-se criar situação de investigação, onde os alunos pudessem criar hipóteses a respeito de cada atividade, realizar/visualizar o que acontecia no experimento até obter suas próprias conclusões. Vale enfatizar que o experimento não foi usado apenas para comprovar teorias já conhecidas. Dentre os experimentos realizados destacam-se: “Ácido-Base” utilizou-se como indicador ácido-base um extrato preparado a partir do repolho roxo, que apresenta cores diversas conforme a acidez ou basicidade do meio em que se encontra. Utilizaram-se meios, como: vinagre, suco de limão, solução de hidróxido do sódio (usou-se “soda cáustica”), sabão em pó dissolvido em água e água, os quais foram apresentados aos alunos e, em seguida, adicionou-se o extrato de repolho roxo. A partir daí, pôde-se visualizar e discutir a respeito das cores encontradas, que variaram do vermelho ao amarelo. Destaca-se que, através desse experimento simples, foi possível discutir sobre conceitos de ácido e base, indicador ácido-base, cientista importante - Arrhenius e substâncias químicas que no cotidiano pertencem à classe dos ácidos e das bases. “Enchendo um balão com CO2”, encheu-se um balão de festa com dióxido de carbono – “gás carbônico” (CO2) obtido através da reação química entre o bicarbonato de potássio (KHCO3) e o ácido acético (CH3COOH) - presente no vinagre. A equação química da reação é apresentada: KHCO3(s)+ CH3COOH(aq)→ CH3COOK(aq) + H2O(l) + CO2(g) Destaca-se que, através desse experimento, pôde-se discutir sobre algumas substâncias químicas, como: o bicarbonato de potássio, o ácido acético, dióxido de enxofre (gás carbônico), pôde-se ainda abordar sobre o uso e a função de fermentos químicos e biológicos e sobre a desagradável azia. “Copos mágicos” colocou-se em um copo opaco uma substância denominada poliacrilato de sódio, encontrada em frauda descartável. Ao se fazer uma brincadeira de transferência de água com corante para o copo. A água “desaparece”. O segredo baseia-se no poliacrilato de sódio que, quando misturado com água, forma um gel, pois as pontes de hidrogênio entre a água e o polímero permitem que o poliacrilato de sódio "aprisione" 800 vezes o seu peso em água (Ponto Ciência, 2013). Assim, discutir sobre a característica e função da substância apresentada (poliacrilato de sódio) e seu uso na eficiente ação de absorção de urina nas fraudas descartáveis. “Torre de líquidos”, onde se preencheu um recipiente transparente com soluções com densidades diferentes, como água, óleo, álcool etílico comercial e glucose de milho e sabonete líquido. Pôde-se discutir através desse experimento sobre a densidade das soluções e sobre líquidos imiscíveis. Descreveram-se apenas alguns experimentos realizados, mas, durante cada Oficina, realizaram-se aproximadamente 10 atividades experimentais, totalizando 90 minutos de apresentação. Ao final do período de desenvolvimento do projeto, o grupo de extensão havia realizado o projeto em 03 escolas da cidade de Murici/AL, incluindo, entre elas, a escola que em 2012 obteve o mais baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB do estado, atendendo um total de 976 alunos.

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A utilização de materiais de baixo custo e de fácil aquisição para realização de experimentos de química para alunos das séries iniciais (6º- 9ºano): uma ferramenta como descoberta da química - oficina

Figura 1 - Realização de Oficinas em escolas públicas de Ensino Fundamental da cidade de Murici/Al

Fonte: Autores

Atividade desta natureza se mostrou relevante por propiciar a divulgação do conhecimento químico, através da realização de experimentos simples realizados em sala de aula de escolas públicas da cidade de Murici/AL, na tentativa de estimular/incentivar os alunos participantes ao maior interesse no estudo de Ciências, e, no futuro próximo, no estudo de Química (Ensino Médio). Sendo considerada, ainda, uma proposta positiva para fortalecer ações extensionistas na região, com a possibilidade de contribuir com o desenvolvimento da sociedade, constituindo um vínculo entre a troca de saberes, conhecimentos e experiências entre os institutos de ensino e pesquisa e a comunidade. Avaliando-se todo desenvolvimento das atividades, o quantitativos de escolas atendidas, bem como o quantitativo de alunos participantes, destaca-se que o Projeto de Extensão atendeu seu objetivo, pois tratou da divulgação da Ciência, em especial a Química, para alunos do 6º ao 9º de escolas públicas de Ensino Fundamental circunvizinhas ao IFAL - Câmpus Murici. Sendo uma atividade que se destacou e apresentou repercussão positiva nas escolas, por propiciar momentos importantes de discussão pelos alunos a respeito da Química. Felizmente, o Projeto foi renovado e encontra-se em desenvolvimento durante o ano de 2013.

Considerações Finais

Através da Extensão, há a possibilidade do desenvolvimento de atividades para a comunidade, pois se pode levar o conhecimento construído no Instituto para diferentes realidades. Assim, a ação extensionista realizada e apresentada através do presente trabalho caracterizou-se como uma importante estratégia para divulgação e discussão de experimentos simples, de baixo custo e fácil manipulação em escolas públicas de Ensino Fundamental da cidade de Murici/Al. Destaca-se que todas as Oficinas ocorreram na própria sala de aula e foi uma maneira positiva para se relacionar fenômenos/transformações do cotidiano dos discentes a experimentos e conteúdos de Ciências/Química. Espera-se que ações dessa natureza contribuam para despertar nos discentes o interesse em estudar Ciências, e em especial Química, no futuro próximo, ao ingressarem no Ensino Médio. Além disso, ressalta-se a relevância do presente projeto para a formação dos alunos do Ensino Médio Integrado do IFAL - Câmpus Murici, participantes da ação extensionista, que tiveram a oportunidade de conhecer, realizar e explicar experimentos químicos, sendo uma possibilidade de ampliar seus conhecimentos e obterem uma maior apropriação da linguagem química.

Referências

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ALIMENTO SEGURO – ESCOLA SAUDÁVEL Maria de Fátima Feitosa Amorim Gomes1 Quitéria Meire Mendonça Ataíde Gomes 2 Jackson Filipe da Silva Santos3 Sileide da Silva Pereira4

Resumo A segurança alimentar trata da garantia do acesso da população ao alimento em quantidade e em qualidade adequadas. A alimentação escolar é necessária à complementação das necessidades nutricionais dos estudantes, contribuindo com a manutenção e a recuperação da saúde, além de proporcionar melhores índices de aprendizagem. Sua produção no ambiente escolar muitas vezes é deficitária, devido à falta de qualificação dos manipuladores ou até mesmo da indisponibilidade de material necessário ao desenvolvimento das atividades, podendo provocar doenças, desta forma, não sendo suficiente apenas à distribuição da alimentação, é necessário investir na qualidade higiênico-sanitária das refeições. Nesse contexto objetivou-se contribuir com a implantação de boas práticas no serviço de alimentação de uma instituição de ensino municipal de Marechal Deodoro. O estudo foi feito por meio da aplicação de uma lista de verificação, que gerou um diagnóstico e um plano de ação como referencial para a adequação das não conformidades encontradas. A Unidade de Alimentação pesquisada foi classificada conforme o referencial da RDC 275/2002, no Grupo III, que indica o atendimento parcial das exigências legais. Conclui-se que a Unidade em foco apresenta-se em situação de insegurança alimentar, o que indica a necessidade da implantação de boas práticas na manipulação de alimentos conforme preconiza a RDC 216/2004 publicada pelo Ministério da Saúde. Palavras-chave: Alimentação e nutrição, segurança alimentar, alimentação escolar. Abstract Food security is about ensuring the population the access to suitable food in quantity and in quality. School feeding is necessary for the completion of the nutritional needs of students, contributing to the maintenance and restoration of health, in addition to provide the best learning indices. Its production in the school environment is often chaotic, and it can cause diseases. The food distribution itself is not enough, it is necessary to invest on sanitary-hygienic quality of meals. In this context we seek to contribute to the implementation of good practices in food service for the public schools in Marechal Deodoro. The study was developed by applying checklist, which led to a diagnosis and a plan of action as a reference to the adequacy of non-conformities found. The Unit searched was ranked as the 2752002 of the DRC, in Group III, which indicates partial attendance of legal requirements. It was concluded that the unit in focus presents itself in a situation of food insecurity. Keywords: Food and nutrition, school feeding, food security.

1

Mestra em Nutrição Humana. Câmpus Marechal Deodoro. fatimanutre@gmail.com Mestranda em Nutrição Humana. Câmpus Marechal Deodoro. gomes.ataide@oi.com.br 3 Aluno bolsista do Projeto. Câmpus Marechal Deodoro. jackson23filipe@hotmail.com 4 Aluna bolsista do Projeto. Câmpus Marechal Deodoro. 2


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Introdução

A segurança alimentar trata da garantia do acesso da população ao alimento em quantidade e em qualidade adequadas. Com base nessa premissa o Governo Federal destina volumosos recursos a fim de sanar essa lacuna social. Dentre as suas prioridades encontra-se à alimentação escolar, necessária à complementação das necessidades nutricionais dos estudantes, contribuindo com a manutenção e a recuperação da saúde, além de proporcionar melhores índices de aprendizagem. Porém, de acordo com o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não basta à distribuição da alimentação na escola, é preciso garantir a qualidade higiênico-sanitária da alimentação, para que este seja seguro e não provoque doenças transmitidas pelos alimentos (BRASIL, 2004). Os serviços de alimentação escolar tem a missão de complementar as necessidades nutricionais dos alunos através da alimentação produzida e distribuída diariamente. O fornecimento de refeições, em instituições públicas de ensino, deveria ser a base da atividade fim que é o ensino, e envolver um conjunto de ferramentas para a garantia da qualidade e segurança, tendo como finalidade promover, manter ou mesmo recuperar a saúde individual e coletiva dos usuários que se beneficiam da alimentação servida (PROENÇA, 2005). A qualidade higiênico-sanitária das refeições servidas encontra-se no mesmo patamar de importância do valor nutricional dos alimentos, desta forma, a adequação estrutural, o conhecimento dos critérios das boas práticas na manipulação de alimentos como requisito legal do Ministério da Saúde, será de grande valia na garantia da manutenção e na promoção de saúde dos alunos (BRASIL, 2004; PROENÇA, 2005). Contudo, na produção dessas refeições a manipulação dos alimentos pode ser uma forma de contaminação ou de transferência de microrganismos nocivos à saúde humana. As etapas da cadeia produtiva dos alimentos são críticas e, com certeza, as maiores responsáveis por surtos de doenças de origem alimentar, decorrentes na maioria das vezes da deficiência das instalações, da falta de controle na aquisição das matérias primas e da falta de capacitação da maioria dos manipuladores de alimentos, tanto nos aspectos de higiene e apresentação pessoal quanto aos aspectos de recepção, armazenamento, preparo, manutenção e distribuição das refeições. Na prevenção das doenças de origem alimentar são preconizadas à educação e à formação dos operadores que trabalham em serviços de alimentação, pois se considera primordial à incorporação de práticas voltadas para o controle de qualidade e a segurança do alimento. Neste sentido o Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, publicou a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC 216, de 15 de setembro de 2004 (CAVALLI; SALAY, 2007; SENAC/DN, 2001). Segundo Proença (2009), nos serviços de alimentação, os funcionários, quando admitidos, não têm formação específica ou conhecimento das áreas nas quais irão atuar, pois, ainda permanecem no setor o senso comum, de que todos entendem de alimentação. Os professores e as merendeiras da escola em foco não possuem orientação quanto aos requisitos de boas práticas na manipulação de alimentos, podendo acarretar o desperdício de alimentos devido à má conservação ou a transmissão de doenças devido à contaminação física, química e biológica. Em estudos onde foi avaliado o controle higiênico-sanitário através das Boas Práticas na Manipulação dos Alimentos, também foram constatados altos percentuais de não conformidade, demonstrando claramente que apesar da importância que o setor de alimentação representa para a economia e a saúde do consumidor, a legislação brasileira publicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA/MS, não está sendo cumprida pelos estabelecimentos de alimentação coletiva, o que reforça a necessidade da intensificação das fiscalizações das Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Municipais – VISA (COUTO, 2005). O estudo originou-se a partir do Projeto de Extensão intitulado “Alimento Seguro – Escola Saudável”, desenvolvidos por alunos matriculados no Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Cozinha, na modalidade PROEJA, inscrito na Pró-Reitoria de Extensão – PROEX, na modalidade estudante, pelo Câmpus Marechal Deodoro. A ação extensionista foi desenvolvida na Escola Municipal localizada, em Marechal Deodoro. O público atingido pelo projeto foi formado por alunos carentes da referida unidade escolar, professores e merendeiras da comunidade do citado município, com o objetivo de contribuir com a implantação de boas práticas no serviço de alimentação escolar, proporcionando uma alimentação segura do ponto de vista higiênicosanitário, para tanto, foi necessária a formação de parcerias com a Secretaria Municipal de Educação de Marechal Deodoro e a Escola Municipal do referido município.

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Alimento Seguro – Escola Saudável

Metodologia

Trata-se de um estudo transversal descritivo, desenvolvido no período de março a agosto de 2012, em uma escola municipal de Marechal Deodoro, que atendia a 1500 alunos e possuía quinze merendeiras entre o quadro funcional e voluntária da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). Inicialmente os quatro alunos bolsistas e os quinze voluntários (Figura 1), deste projeto, participaram de um curso de capacitação, com carga horária de 40 horas, onde foram utilizados recursos audiovisuais, apresentadas à conceituação dos termos inter-relacionados à produção de alimento seguro, discutida a legislação e a lista de verificação a ser aplicada na UAN escolar. Em seguida realizou-se uma aplicação piloto da lista de verificação no Serviço de Alimentação Escolar (SANE) do Câmpus Marechal Deodoro, a fim de dirimir as dúvidas quanto à utilização e aplicação da ferramenta. Aos alunos bolsistas e voluntários coube à aplicação da lista de verificação na UAN, A compilação dos dados, a elaboração do plano de ação e a participação nas oficinas de capacitação das merendeiras. Todas as atividades foram acompanhadas pelas coordenadoras do projeto. Nesses encontros também foram abordados a ética e a postura do pesquisador em campo. Figura 1 – Alunos bolsistas e voluntários do Projeto Alimento Seguro/Escola Saudável

Fonte: Autores

Para avaliar as condições higiênico-sanitárias da UAN, foi elaborada uma lista de verificação embasada na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), nº 216/2004 ANVISA/MS. Essa lista de verificação apresenta 46 itens, composta de sete blocos, considerando a higiene dos funcionários, das instalações, dos utensílios, dos equipamentos e dos alimentos. Os critérios foram avaliados como: conforme, quando atendiam às exigências legais e não conforme, quando não atendiam. Após a aplicação dessa ferramenta, fez-se uma avaliação do estabelecimento com base na RDC 275/2002, que classifica os estabelecimentos conforme os percentuais de atendimento dos critérios recomendados em: Grupo I, quando atende de 76% a 100%, Grupo II, quando atende de 51% a 75% e Grupo III de 0% a 50% de atendimento dos critérios (BRASIL, 2002; 2004). Diante do resultado da aplicação da lista de verificação a instituição foi classificada conforme a RDC 275/2002 e baseado nas necessidades observadas foram elaborados um diagnóstico e um plano de ação, constando os critérios não atendidos e as ações corretivas necessárias para a adequação da UAN às exigências. Foram realizadas duas oficinas com as merendeiras, com práticas de manipulação seguras e discutidos os conceitos teóricos, objetivando a implantação das boas práticas de manipulação de alimentos.

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Figura 2 - Aspectos dos encontros realizados com as manipuladoras de alimentos na escola em foco

Fonte: Autores

O tratamento estatístico dos resultados foi realizado em planilhas do Microsoft Office Excel 2007, e analisados quanto às frequências absolutas e relativas. As medianas de cada bloco foram utilizadas para a descrição das variáveis.

Resultados e Discussão

De acordo com o resultado da avaliação realizada, que abordou os aspectos considerados pré-requisitos para a implementação das Boas Práticas tais como: recursos humanos, condições ambientais externas, instalações, equipamentos, higienização, produção e distribuição, apresentou-se para a Escola em questão: •

Indicador de não conformidade geral: 87%,

Indicador de conformidade geral: 13%

Tais percentuais classificaram a UAN da escola municipal no grupo III, ou seja, no nível mais baixo de classificação de acordo com a RDC 275/2002. Demonstrando que na avaliação conduzida os blocos de área externa, equipamentos e distribuição foram as que apresentaram maior frequência de não atendimento (100%). Resultados que atenderam parcialmente aos critérios avaliados referem-se aos blocos: instalações; higienização, sendo os percentuais mais baixos atingidos pelos blocos de produção e recursos humanos.

Recursos Humanos

No bloco que avalia os manipuladores de alimentos e suas práticas a UAN escolar obteve 60% de não conformidade, o que pode acarretar em risco de DTA, segundo Schreiner (2003). Dentre os critérios avaliados como não conforme, destaca-se a falta de exames médicos dos manipuladores, a higienização inadequada das mãos, a falta de uniformes, o uso de adornos, de unhas grandes e pintadas com esmaltes e a ausência de toucas (Figura 3). Constatou-se que os manipuladores não recebiam capacitação em periodicidade adequada, como também não havia material necessário à higienização das mãos e nem lavatório exclusivo para este fim, conforme determinação legal.

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Alimento Seguro – Escola Saudável

Figura 3 - Aspectos das manipuladoras de alimentos

Fonte: Autores

Área Externa

Em relação à área externa, foram avaliados o acúmulo de lixo, à presença de animais, de entulhos e objetos em desuso o que contribuiu para 100% de não atendimento dos critérios. De acordo com a RDC 216/2004, esses achados proporcionam um ambiente propício à atração e ao abrigo de pragas e consequentemente uma fonte de contaminação aos alimentos.

Instalações

Quanto aos aspectos avaliados nas instalações a UAN obteve 76,47% de não conformidade. O teto não possuía forro, o que contraria a legislação vigente, por possibilitar a contaminação dos alimentos por meio de perigos físicos e biológicos (Figura 4) e as paredes encontravam-se em precário estado de conservação. A legislação estabelece que estes devam possuir revestimento liso, impermeável, livre de rachaduras, goteiras, vazamentos, bolores e descascamentos que possam favorecer a veiculação de contaminantes aos alimentos (BRASIL, 2004). Figura 4 - Aspectos gerais da estrutura física do serviço de alimentação

Fonte: Autores

No que se refere à iluminação, a UAN não atendeu as exigências legais devido à ausência de proteção nas lâmpadas. Segundo recomendações da lei esta devem estar protegidas para evitar a contaminação do alimento em caso de quebra ou explosão (BRASIL, 2004). Teixeira et al (2004) asseguram que condições adequadas de iluminação evitam doenças visuais, aumentam a eficiência do trabalho e diminuem o risco de acidentes.

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A legislação preconiza que as UAN possuam banheiros exclusivos para seus manipuladores com todas as facilidades para higienização das mãos. Observou-se que os manipuladores de alimentos utilizavam banheiros de uso comum à comunidade discente e docente. Os mesmos não possuíam os produtos necessários à higienização adequada das mãos como: sabonete líquido antisséptico e papel toalha não reciclado. Também foi constatada a ausência de pia exclusiva para a higienização das mãos, presença de lixeiras de material inadequado, portas mal conservadas e sem molas de fechamento automático, ralos sem fechamento manual, caixa de gordura na área de produção sem vedação e a falta de evidência de controle de pragas. Resultados semelhantes foram encontrados por Cardoso et al (2005) quando avaliaram UAN dos Campi da Universidade Federal da Bahia e verificaram que somente 10% possuam sabão líquido e 25% papel toalha disponíveis. A lavagem e desinfecção correta das mãos são apontadas como um dos procedimentos mais importantes para prevenir a transmissão de patógenos, no entanto, essa prática simples e eficaz é uma das mais difíceis de ser realizadas por parte dos manipuladores de alimentos. A ausência de planejamento da estrutura física compromete o fluxo na produção de refeições, favorecendo a contaminação cruzada, dificultando o trabalho dos manipuladores e a higienização. Segundo Forsythe (2002) a contaminação cruzada pode ser evitada por meio de um planejamento cuidadoso do fluxo de produção, prevenindo a comunicação dos setores e o fluxo cruzado das operações. Dentre as principais não conformidades encontradas relativas à estrutura física, destacaram-se: portas e janelas sem telas, caixas de gordura na área de produção, ralos sem fechamento manual e bancadas exclusivas para higienização de utensílios e preparo de alimentos (Figura 5). Outro aspecto avaliado de grande importância e que não foi atendido pela UAN escolar refere-se ao controle de qualidade da água utilizada, visto que a análise periódica, conforme determina a lei, não era executada. Figura 5 - Aspectos das portas e janelas sem instalação de telas milimetradas

Fonte: Autores

Produção

No bloco, Produção, foram avaliados 11 critérios, dos quais, 63,63% não foram atendidos, dentre as não conformidades encontradas destaca-se a falta de embalagem adequada e a ausência de rotulagem contendo o prazo de validade. As embalagens utilizadas não estavam em perfeito estado de conservação. O descongelamento não era feito de forma adequada e as frutas, legumes e verduras não eram higienizadas. A temperatura dos alimentos não era controlada, pois não havia termômetro e depois de pronto o alimento permanecia a temperatura ambiente (Figura 6). Estes resultados assemelham-se aos dados encontrados por Lara (2003) que avaliou as condições higiênico-sanitárias de cozinhas de creches localizadas em Porto Alegre-RS, concluindo que as principais não conformidades encontradas estavam relacionadas ao processo produtivo das refeições e na não utilização do manual de boas práticas.

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Alimento Seguro – Escola Saudável

Figura 6 - Aspectos da falta de equipamento de manutenção da temperatura dos alimentos prontos para consumo

Fonte: Autores

Higienização

No critério de higienização, a UAN escolar obteve o seu melhor resultado, com um percentual de atendimento geral das condições higiênico-sanitárias de 75%, que de acordo com a classificação da RDC 275/2002 a instituição enquadra-se no grupo II, que tem um intervalo de atendimento dos critérios recomendados entre 51% a 75%. Neste bloco a UAN escolar não estava conforme por não possuir procedimentos de higienização das instalações e dos equipamentos, previamente elaborados. Dados inferiores foram encontrados por Karen (2005) que, estudando as condições higiênico-sanitárias de utensílios em escolas, constatou que somente 50% estavam em conformidade com este critério. Por outro lado, Oliveira et al (2007) encontraram inadequação na higienização de equipamentos e utensílios em 80% das creches avaliadas embora não faltassem instrumentos e produtos para proceder adequadamente a ação. A higienização dos equipamentos e utensílios é fundamental para manter a qualidade dos alimentos, pois estes, quando mal higienizados são responsáveis pela contaminação dos alimentos e podem provoca surtos de DTA. Exemplo disso, foi um surto ocorrido na Escócia, causado por E. coli 0157:H7, envolvendo 496 acometidos e ocasionando 17 óbitos, tendo sido associado à contaminação cruzada de carne crua – cozida pelo contato com máquina de moer carne contaminada por essa bactéria (FAO, 2002; HOBBS; ROBERTS, 1999; KUSUMANINGRUN, 2003; DUFFRENE, 2001; ANDRADE et al, 2003; TOOD et al, 2009).

Distribuição

Os alimentos eram servidos em local inadequado, não havia equipamento para manter a temperatura dos alimentos a no mínimo 60ºC, conforme determina a RDC 216/2004.

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Figura 7 - Aspectos da área de distribuição sem equipamento adequado para distribuição das refeições

Fonte: Autores

Outra situação observada é que a escola não possuía um local adequado para a distribuição das refeições, os alunos formavam uma fila no galpão em frente à UAN, onde os pratos eram porcionados pelas merendeiras. A escola possuía apenas um ponto de distribuição da alimentação dos alunos, o que poderia acarretar na desistência do aluno em se alimentar, devido ao tempo de espera na fila, que por consequência, poderia influenciar no estado nutricional e no nível de aprendizagem dos estudantes (Figura 8). Figura 8 - Aspectos da formação da fila no pátio da escola para acesso ao alimento

Fonte: Autores

Outro aspecto inadequado foi à falta de refeitório equipado com mesas e cadeiras, que oferecesse o mínimo de conforto aos alunos no momento da refeição, estes recebiam os pratos porcionados e em seguida alimentavam-se em pé ou em qualquer outro local da escola (Figura 9).

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Alimento Seguro – Escola Saudável

Figura 9 - Aspectos da falta de refeitório para alimentação dos alunos

Fonte: Autores

Cardoso et al (2010) encontraram resultados semelhantes em seu estudo onde cerca de 230 das 236 escolas avaliadas (99,1%) não dispunham de equipamento para manutenção a quente embora em 84,3% destas, o período entre o preparo e a distribuição era inferior a duas horas, onde segundo a literatura especializada este intervalo de tempo limita as chances de multiplicação e recontaminação microbiana, fato também verificado neste estudo.

Conclusão

De acordo com a classificação da RDC 275/2002 a UAN em foco encontra-se no Grupo III, ou seja, atende os requisitos legais no intervalo de 0 a 50%, que significa o atendimento parcial dos critérios exigidos por lei, desta forma, os comensais encontravam-se em risco de contrair DTA. O relatório elaborado pelos alunos participantes do projeto em tela, constando o diagnóstico e o plano de ação, embasados nos resultados alcançados pela aplicação da lista de verificação, foi entregue a direção da escola em foco e discutidas as medidas de controle e melhorias que poderiam ser implantadas com base nos resultados obtidos, visando à adequação da UAN à legislação vigente. Os resultados demonstram que há aspectos a serem melhorados na escola sendo preponderante a capacitação sistemática das merendeiras e investimentos na estrutura física funcional, uniformes, exames médicos, equipamentos e utensílios, análises microbiológica e físico-química da água, higienização de reservatórios, minimizando, desta forma, o risco de contaminação alimentar que poderá gerar problemas de saúde pública nessa comunidade estudantil, dilapidada de seus direitos básicos. É evidente a necessidade de implementação das Boas Práticas na Manipulação de Alimentos em UAN, sejam comerciais ou institucionais. A resolução brasileira específica para este setor é recente, data de 2004, e até os dias de hoje não conseguiu grande evolução. Esta constatação demonstra o quadro de instabilidade da alimentação fora do lar no Brasil, apesar da responsabilidade inerente aos produtores de refeições quanto à segurança dos seus consumidores, conseguida por meio da higiene, da seleção dos fornecedores, da qualidade da matéria prima, do armazenamento adequado, do preparo e distribuição das refeições em condições satisfatórias, além dos requisitos seguidos pelos manipuladores. A contribuição deste projeto de extensão, com a formação dos alunos participantes e a qualidade higiênico-sanitária da alimentação servida, teve valor inestimável, considerando o direito humano a alimentação em quantidade e qualidade adequadas.

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Revista EXTIFAL

Referências

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APOIO À AUTONOMIA FINANCEIRA E À PROMOÇÃO SOCIAL DE MULHERES E JOVENS RURAIS NO MUNICÍPIO DE INHAPI, SEMIÁRIDO ALAGOANO

José Ribeiro da Silva1 Manoel Santos da Silva2 Antônio Miguel da Silva Filho3

Resumo Com este trabalho, objetivou-se contribuir para a autonomia financeira de mulheres e jovens, esposas e filhos de agricultores, respectivamente, a partir do incentivo à criação de galinhas e frango em sistema caipira no semiárido alagoano. O projeto teve como estratégia a potencialização da criação de aves conhecidas localmente como “de capoeira”, atividade tradicionalmente desenvolvida pelas famílias rurais, tratadas atualmente sem expressividade de renda monetária. Foram realizadas oficinas sobre manejo de aves em sistema caipira, visitas de acompanhamento e reuniões avaliativas do projeto. Como resultado, foi percebido que os beneficiários tornaram-se mais sensíveis às contribuições da atividade para geração de ocupação e renda no meio rural. O maior impacto foi constatado na formação de uma articulação envolvendo organizações públicas e da sociedade civil na perspectiva de dar continuidade ao processo de apoio aos beneficiários. Palavras-chave:Campesinato. Extensão. Avicultura. Protagonismo.

Abstract This study aimed to contribute to the financial autonomy of women and young wives and children of farmers, respectively, from the incentive of laying hens in the semiarid region of Alagoas. The project's strategy potentiation of poultry known locally as "poultry", activity traditionally carried out by rural households, currently treated as an unexpressive monetary income. Workshops were held on handling birds hillbilly system, follow-up visits and meeting to evaluate the project. As a result it was realized that the beneficiaries have become more sensitive to the contribution of the activity to create employment and income in rural areas. It was observed a great impact in the engagement of public and civil society in order to maintain the support to beneficiaries. Keywords: Peasant agriculture. Extension. Aviculture. Leadership.

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Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local. Técnico em Agropecuária IFAL - Câmpus Satuba. - jorinetos@gmail.com Mestre em Ciências Agrícola. Técnico em Agropecuária do IFAL – Câmpus Satuba.- manoel.sos@gmail.com Bolsista. Aluno do curso Técnico em Agropecuária do IFAL – Câmpus Satuba. - toinho-mf@hotmail.com

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Revista EXTIFAL

Introdução

Na agricultura de base familiar, as atividades a serem desenvolvidas no cotidiano são distribuídas naturalmente pelos membros da família, dentro de uma perspectiva de construção histórica, social e cultural. Fato que contribui com o modo de gestão e com o acesso aos resultados obtidos pelo envolvimento dos membros da família no processo produtivo. Percebe-se, no entanto, que é pouca a visibilidade dada ao trabalho empreendido pelas mulheres e pelos jovens, pois estes, na maioria das vezes, são desconsiderados no processo. Isso está relacionado ao argumento da incapacidade e da imaturidade que envolve estas duas categorias familiares, o que fortalece ainda mais as desigualdades de gênero e geração no meio rural. Contrapondo-se a este pensamento, Siliprandi (2007) argumenta que quando os debates em torno de políticas de promoção social, no sentido do desenvolvimento sustentável para o campo e para construção de outro modelo através de experiências fundadas na agricultura familiar, torna-se necessário que se contemple o máximo de elementos que girem em torno da realidade. Nesse sentido, no que diz respeito às questões de gênero e geração devem ser priorizados, pois não se permite que estas categorias sejam excluídas da participação tanto da gestão quanto dos resultados das atividades desenvolvidas pela família dentro da unidade produtiva. Dentro da cultura e das tradições que regem a divisão do trabalho na agricultura familiar, a criação de animais de médio e pequeno porte, assim como as atividades produtivas desenvolvidas nos quintais são na maioria dos casos de responsabilidade das mulheres. De acordo com Moura (2009), são as mulheres as principais gestoras da criação de galinhas e outros pequenos animais, destacando-se pelo grande conhecimento e busca de alternativas para melhorar sua produção contribuindo assim para o aumento da renda e segurança alimentar da família. No tocante à inserção dos jovens nas atividades agropecuárias, Silva e De Jesus (2010), afirmam que estes se apresentam como um potencial a ser considerado quando se pensa na formação de uma nova geração de agricultores, pois estão abertos às transformações e podem atuar como protagonistas no processo de desenvolvimento da agricultura familiar e, para que isso ocorra, é necessário um conjunto de políticas que promova, também, projetos de ocupação e renda dando maiores condições para que o espaço rural seja mais uma opção para que os jovens possam construir seus projetos de vida no presente e no futuro. Discorre Barbosa et al. (2007) que a criação de galinhas de capoeira está presente em mais de 90% das propriedades rurais do Brasil. De acordo com Eekeren et al (2006), no mundo, estas aves são criadas por pequenos produtores familiares nas áreas rurais, garantindo segurança alimentar e renda para as famílias e desempenhando um papel sociocultural importante. A ideia da realização do projeto surgiu a partir do lançamento do Edital PROJET 2010 para bolsa de Extensão do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Este foi considerado o primeiro Edital interno de extensão direcionado a seleção de iniciativas que viessem contribuir com o aperfeiçoamento do ensino técnico e tecnológico ao tempo em que envolve alunos, técnicos administrativos e professores na contextualização do ensino, pesquisa e extensão com a realidade socioeconômica do estado de Alagoas. O enfoque no fortalecimento da identidade e no protagonismo de jovens e mulheres parte do pressuposto de que, na agricultura de base familiar, as atividades são distribuídas e executadas naturalmente por todos os membros da família, o que não significa que a gestão e distribuição dos rendimentos oriundos das transações econômicas decorram também de forma igual. Nesse sentido, teve-se como objetivo contribuir para a autonomia financeira de mulheres e jovens esposas e filhos de agricultores, respectivamente, a partir do incentivo a criação de galinhas e frango em sistema caipira no semiárido alagoano.

Material e Métodos

O projeto foi desenvolvido no município de Inhapi-AL (Figura 1), no período entre março e novembro de 2011. Para a escolha do município, assim como o público e as atividades a serem desenvolvidas, foram realizadas consultas a organizações não governamentais que desenvolviam ações de promoção social e econômica com mulheres e jovens no semiárido alagoano.

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Apoio à autonomia financeira e a promoção social de mulheres e jovens rurais no município de Inhapi, semiárido alagoano

Figura 1 - Localização do município de Inhapi no mapa do Estado de Alagoas

Fonte: Disponível em: <http://www.wikialagoas.al.org.br/index.php/Inhapi>

O projeto envolveu 30 beneficiários (jovens e mulheres rurais) e contou com a participação de 04 servidores (Técnico Administrativo) do IFAL – Câmpus Satuba, 01 bolsista e 09 alunos voluntários.Para o alcance dos objetivos e das metas estabelecidas, foram adotados os seguintes procedimentos metodológicos:

Realização de oficinas temáticas

Foram realizadas durante o período do projeto 03 oficinas, sendo uma sobre criação de galinhas e frango em sistema caipira; uma sobre manejo alimentar e sanitário de frango e galinha caipira (Figura 2); e uma terceira oficina sobre organização da produção e comercialização.

Figura 2 - Oficina de manejo nutricional de galinhas e frango caipira realizada junto ao grupo de beneficiários

Fonte: Acervo do projeto

Visitas de acompanhamento

Foram realizadas 02 visitas de acompanhamento aos jovens e mulheres envolvidas no projeto em suas respectivas famílias (Figura 3), com a finalidade de serem identificadas demandas a serem encaminhadas e discutidas nas reuniões bimestrais.

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Revista EXTIFAL Figura 3 – Voluntários realizando visitas aos beneficiários do projeto e repassando orientações técnicas inerentes ao manejo das aves

Fonte: Acervo do projeto

Encontros bimestrais de avaliação e encaminhamento das dificuldades individuais e coletivas

Nessas reuniões, foram discutidos e analisados os principais desafios do grupo (Figura 4). Procurou-se estimular o protagonismo dos participantes na busca das soluções para os problemas comuns relativos à atividade. A última reunião avaliativa que ocorreu como culminância do projeto foi transformada em um Fórum de instituições públicas e da sociedade civil existentes no município, para ser encaminhada uma agenda de atividades que pudessem dar continuidade ao propósito do projeto. Figura 4 – Realização de encontro avaliativo junto aos voluntários e beneficiários do projeto

Fonte: Acervo do projeto

Resultados e Discussão

A realização do projeto foi um marco para a vida profissional dos alunos envolvidos, pois exigiu destes maior aprofundamento dos conhecimentos adquiridos nas disciplinas do curso técnico em agropecuária. O contato com a realidade produtiva da agricultura familiar possibilitou que pudessem interagir com o público, transmitindo informações importantes ao desenvolvimento da criação de aves em sistema caipira e ao mesmo tempo absorvendo as experiências já vivenciadas pelas famílias agricultoras. Esse fato é evidenciado por um aluno voluntário do projeto quando afirma: “A experiência fora dos muros do IF foi construtiva e gratificante por permitir disseminar o conhecimento técnico, e na reciprocidade ter aprendido tanto com os que são os verdadeiros mestres, o homem do campo.” (G. COSTA. Voluntário do projeto e aluno do curso Técnico em Agropecuária – IFAL – Câmpus Satuba). Outro resultado obtido com a realização do projeto, diz respeito ao despertar dos beneficiários em relação à importância da atividade de criação de aves em sistema caipira como atividade geradora de ocupação e renda, a qual pode contribuir para a permanência do jovem no campo. “Acredito que assim, o fortalecimento da atividade de criação de galinhas e frangos caipiras pode proporcionar a permanência dos jovens na comunidade.”

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Apoio à autonomia financeira e a promoção social de mulheres e jovens rurais no município de Inhapi, semiárido alagoano

(A. M. GERRA. Agricultora e beneficiária do projeto). Percebeu-se também uma maior motivação dos beneficiários em desenvolverem a avicultura caipira como atividade geradora de renda podendo promover a inserção desses personagens nos mercados locais e regionais. Estes dados reforçam o argumento de Eekeren et al (2006), quando afirma que na realidade dos pequenos produtores familiares em áreas rurais, estas aves vêm garantindo segurança alimentar e renda, desempenhando um papel sociocultural importante. Durante o desenvolvimento do projeto, foi percebida a necessidade de se dar continuidade ao trabalho, pois a equipe avaliou as dificuldades para realização das atividades e concluiu que deveriam existir ações desenvolvidas por instituições locais que pudessem continuar o processo. No entanto, fora identificado durante a execução do projeto que existiam algumas iniciativas locais que poderiam dar um maior apoio por estarem mais próximas e com isso serem mais impactantes por estarem mais contextualizadas com a realidade social e produtiva das famílias dos beneficiários. A maior contribuição do projeto aos beneficiários diz respeito à agenda de compromissos formalizada junto a algumas parcerias locais. A última atividade do projeto seria um encontro de avaliação com seus participantes e com representantes das instituições parceiras. As avaliações foram realizadas nos momentos da realização das oficinas e aproveitou-se o último momento para a realização de um fórum local a fim de discutir as estratégias de capacitação, acompanhamento e comercialização. Nesse fórum, estavam presentes, além dos participantes do projeto, representantes da ONG Visão Mundial, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Inhapi, Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais, representantes das Secretarias Municipal e Estadual de Agricultura. Ao final, as instituições apresentaram propostas para capacitação e acompanhamento dos beneficiários, incentivo a organização produtiva e a comercialização de ovos e carne de frango além de outros produtos da agricultura familiar. Dentro desse espaço de discussão, os beneficiários foram convidados a comercializar seus produtos na feira da agricultura familiar do município, que ocorre semanalmente (Figura 5), e ficou agendada uma reunião com a Secretaria Municipal de Agricultura para esclarecimentos e possíveis cadastros de criadores de aves para venda direta aos programas de governo como o Programa Federal de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Figura 5 – Visita a feira da agricultura familiar no município de Inhapi-AL

Fonte: Acervo do projeto

A realização do projeto em si foi desafiador. Foram várias limitações que exigiram da equipe maior engajamento e dinamismo para que os resultados fossem alcançados. Um dos grandes desafios foi a distância do Câmpus até a localidade de realização do projeto. O município estava localizado a aproximadamente 250km da sede do Câmpus Satuba. Essa dificuldade foi diminuída através de ajustes na programação das oficinas, compatibilizando os dias e horários da equipe com o público beneficiário, utilizando como estratégia a realização das atividades nos finais de semana. O fato de serem realizadas nos finais de semana também foi positivo devido a maior disponibilidade de tempo dos beneficiários para participação de atividades formativas coincidirem com os finais de semana. Outro desafio foi a pouca vivência prática dos alunos participantes do projeto com a realidade cultural e produtiva das famílias dos beneficiários. Para isso, tornou-se necessário a realização de reuniões semanais onde eram discutidos assuntos relacionados ao manejo de galinhas e frangos em sistema caipira. Além disso, nestas

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Revista EXTIFAL

reuniões eram debatidas questões particulares relativas às questões sociais, culturais e econômicas das famílias no contexto político e ambiental do semiárido alagoano.

Conclusões

O contexto, os antecedentes e as características socioculturais, assim como o período de realização, não permitiram, ao menos em curto prazo, o vislumbrar de grandes resultados com as ações do projeto. No entanto, houve um reconhecimento por parte dos alunos envolvidos de que as trocas de conhecimentos, assim como a participação na preparação e execução das oficinas, contribuíram para sua experiência profissional. Por outro lado, foi percebido que os beneficiários passaram a visualizar a criação de galinhas e frango em sistema caipira como um potencial a ser explorado, que poderá garantir a geração de ocupação e renda para a família garantindo uma maior participação das mulheres e jovens nos resultados econômicos da propriedade. O maior impacto do projeto consiste nas perspectivas geradas para continuidade da iniciativa. Pois a articulação entre instituições públicas e da sociedade civil em torno das necessidades dos beneficiários, surgida por uma mobilização do projeto de extensão do IFAL poderá dar suporte ao grupo para que maiores resultados sejam alcançados.

Referências

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COMUNIDADE CÊNICA

Daniel Moreira de Alcântara1

Resumo O projeto Comunidade Cênica foi uma proposição de oficina teórico/prática de iniciação teatral para moradores da cidade de Piranhas, interessados pelas artes cênicas. O projeto, na modalidade de extensão, foi direcionado para toda a comunidade interessada por essa linguagem artística nos arredores do IFAL, Câmpus Piranhas. Na vivência de discussões sobre a história do teatro e exercícios que construam nos alunos a percepção da conjuntura dos elementos teatrais (sonoplastia, cenário, corpo, etc.), a oficina propiciou aos alunos conhecimentos básicos sobre a arte teatral. Palavras-chave: Arte/educação; iniciação teatral; teatro-educação.

Abstract The project named Scenic Community was a proposition of a practical/theoretical workshop of theatrical initiation to residents in Piranhas interested scenic arts. The project was directed to the communities around IFAL, Câmpus Piranhas that are interested on arts. The workshop provided the students basic knowledge about theater through the discussions about the history of theater and exercises that gave students the perception of a set of theatrical elements (sound effects, scenery, body, etc…) during it. Keywords: Art/education. Initiation theater. Theater-education.

1 *

Mestrando em Artes Visuais pela UFPE/UFPB; Especialista em Arte/Educação pela UNICAP - danielmoreira@gmail.com


Revista EXTIFAL

Introdução

O Projeto de Extensão Comunidade Cênica pretendeu reunir jovens da cidade de Piranhas (principalmente do bairro de Xingó – localização do Câmpus Piranhas) para vivenciar experiências teatrais com o professor de artes do câmpus, Daniel Moreira. As atividades ocorreram no mês de Outubro de 2012, agregando em torno de vinte e cinco alunos, estudantes de escolas públicas e privadas localizadas nos arredores do câmpus. A ideia de realizar esta atividade de extensão surgiu com a constatação de que poucas atividades culturais (principalmente ligadas ao teatro) eram ofertadas à população nesta cidade sertaneja. O próprio município, infelizmente, carece de movimentos e espaços culturais destinados à população, e quando muito observamos algumas atividades específicas, como a do Museu do Sertão ou do Centro de Artesanato, cujos direcionamentos são mais focados para a população turística que muito frequenta a cidade de Piranhas (reconhecida como patrimônio histórico nacional pelo IPHAN). As maiores festividades ao longo do ano que movimentam milhares de pessoas de bairros e cidades circunvizinhas relacionam-se à cultura de massa (como o Forrogaço). Artistas sertanejos ou de forró, geralmente destaques do mundo da fama do momento, se apresentam, causando êxtase para o público que ao longo do ano acompanhou o trabalho dos mesmos pelo DVD, rádios comunitárias ou pela própria televisão. Entretanto, esta discussão não se direciona para a ideia de ser contra esse tipo de festividade, que já está de certa forma ligada à cultura da cidade. O debate se pauta na ideia do perigo que é a grande massa só reconhecer, nesses momentos, sua relação com a arte. E foi neste intuito de, aos poucos, tentar ampliar a discussão sobre saberes artísticos que o IFAL, Câmpus Piranhas tentou firmar parcerias para que espaços de discussão sobre arte fossem abertos.

Teatro no IFAL Câmpus Piranhas

Em debates em sala de aula, apenas uma pequena quantidade de alunos, por exemplo, afirmou já ter assistido a um espetáculo de teatro, mesmo que dentro da sua própria escola. A referência à arte de representar parte muitas vezes dos estereótipos televisivos, graças às telenovelas, por exemplo. Mas sobre o teatro em si, essa arte que ocorre ao vivo, fruto de um diálogo instantâneo entre ator e público, poucos alunos tiveram em suas vidas esse momento de experiência estética na linguagem teatral. Uma arte que, como diria Fernando Peixoto, existe na duração do espetáculo, uma arte autodestrutiva (2005, p22), e ainda Margot Berthold (2004, p. XI), que como uma vela, o teatro consome a si mesmo no próprio ato de criar a luz. Graças a uma ação de um grupo de teatro recifense, O Poste, em que pleiteou em 2011 um projeto de circulação nacional do espetáculo Cordel do Amor sem Fim (obtendo aprovação para realização em 2012), a cidade de Piranhas, coincidentemente, fez parte dos planos do grupo. O espetáculo, que tem como temática a relação de três irmãs e um homem que nutre um amor possessivo por uma delas, situa-se na cidade de Carinhanha, sertão baiano, às margens do Rio São Francisco. Sendo assim, o grupo elencou várias cidades ribeirinhas do São Francisco (ambientação da peça) para realização do espetáculo e uma oficina de iniciação para atores. Para não perder essa oportunidade única de colocar vários alunos em contato com essa obra teatral pernambucana, o Câmpus Piranhas do IFAL firmou parceria com o grupo O Poste e conseguiu destinar o trabalho de oficina para os alunos do câmpus. Levou também mais de cem alunos para o Salão Cultural Miguel Arcanjo para acompanhar o trabalho de pesquisa desse coletivo no dia 28 de abril de 2012. A experiência foi marcante. A ideia tão defendida por Ernst Fischer, ao realçar que a arte traz em si seu caráter mágico, aquela motivação que faz com que num sala escura várias pessoas prendam sua atenção ao que um grupo está ali representando, acompanhando todos os momentos super atentos, pôde ser vista nesta primeira experiência do câmpus com uma obra teatral. Em sua obra A Necessidade da Arte, Fischer (2007, p.57) nos esclarece que a arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. Ao término do espetáculo, os atores debateram com os alunos o seu processo criativo, além de os alunos tirarem suas dúvidas sobre o fazer teatral. Obviamente já ficaram interessados em quando haveria outros trabalhos cênicos, na cidade, de grupos que desenvolvem toda uma pesquisa para criar um produto, mas

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Comunidade cênica

infelizmente não tivemos outras experiências. O cartaz da peça, divulgado na cidade com o logotipo da instituição, realça a parceria do IFAL, Câmpus Piranhas com o grupo, importante para a própria instituição demonstrar que faz parte do seu papel também interferir na produção cultural da cidade, agregando valores e oportunidades para os alunos participarem de projetos artísticos. O Instituto Federal de Alagoas, portanto, agiu como um agente mediador nesse papel, que, juntamente com a Prefeitura Municipal de Piranhas, trabalhou para propiciar a melhor condição possível de estrutura para realização do espetáculo e da oficina (ministrada no próprio câmpus). O diálogo do grupo com a instituição foi possível graças ao contato entre o coletivo e o professor do Câmpus (relação de amizade já construída anteriormente); com isso foi possível planejar com detalhes a realização desta parceria. A experiência pôde ser potencializada e dada, inclusive, como continuidade, agora através de estudantes que não fizeram parte do Câmpus Piranhas. O Projeto Comunidade Cênica surgiu para fomentar uma formação de plateia de teatro em Piranhas, através de experiências teórico-práticas, tornando-se tal projeto em algo realmente contínuo, para que no futuro o diálogo da comunidade com as experiências artísticas do seu contexto pudessem ser dimensionadas e mais profundamente discutidas. Infelizmente, o projeto não durou o tempo planejado, por conta da transferência para outro Estado do coordenador e professor do projeto. Figura 1 – Debate com alunos e servidores do espetáculo Cordel do Amor sem Fim

Fonte: Daniel Moreira de Alcântara

O Projeto de Extensão como agente potencializador

Inicialmente, houve uma preocupação se o projeto conseguiria uma boa quantidade de alunos, tendo em vista a situação de pouco usufruto da arte teatral na cidade. Para nossa surpresa, a procura pelo projeto de extensão foi tão grande que tivemos que limitá-lo a vinte e cinco alunos e criar uma lista reserva. O teatro, apesar de aparentemente distante de muitas pessoas, guarda consigo uma luz própria que desperta o interesse em tantos indivíduos. Diferente do cinema, forma artística criada relativamente recente facilitada pelo desenvolvimento da indústria e da tecnologia, o teatro é tão velho quanto à humanidade (BERTHOLD, 2004, p.1). Em qualquer estudo teórico/histórico que façamos do teatro, observamos que a transformação de uma pessoa em outro ser, é algo que está ligado à própria natureza humana. Em crianças de cinco a sete anos, por exemplo, podemos identificar que no jogo de faz-de-conta ela já brinca com essa natureza cênica, esse primitivo instinto de ser outro, a necessidade do disfarce e do jogo lúdico (PEIXOTO, 2005, p22). Os encontros com os jovens de Piranhas foram realizados no auditório do Câmpus, que possuía uma ótima estrutura para realização de uma oficina teatral. Uma vez que o tempo do projeto precisou ser reduzido, como relatado no tópico anterior, a oficina não pretendeu montar nenhum espetáculo ou esquete. Na realidade, nenhum projeto de teatro deve ter a obrigação de ter um produto final. Muitas vezes, como foi o caso deste projeto, os experimentos com exercícios e jogos teatrais já trazem em si importantes ferramentas para conhecimento desta linguagem. O documento oficial do MEC, Orientações Curriculares para o Ensino Médio, reforça essa questão ao dizer que o objetivo do ensino de Teatro não é a encenação de um produto, mas sobretudo o processo de ação (BRASIL, 2006, p.192). O projeto de extensão Comunidade Cênica abordou com jovens do bairro de Xingó uma vivência em

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jogos tradicionais (para aquecimento e alongamento corporal), exercícios de expressão corporal e improvisação teatral. Dinâmicas para trabalhar confiança, observação do outro, técnicas de blablação e construção de cenas também complementaram o programa do projeto. O teatro, se bem empregado, vai além de uma ferramenta de mero entretenimento e auxilia ao experimentador a [...] pensar de forma criativa e independente, aguçando a imaginação e a iniciativa; despertando a prática de cooperação social, algo que está cada vez mais desaparecendo, tornando-se rara; o desenvolvimento da sensibilidade para relacionamentos pessoais, um ponto importantíssimo se levarmos em conta que nossa sociedade tem promovido o distanciamento das pessoas. (RIBEIRO, 2004, p.71) Figura 2 – Participantes do Comunidade Cênica

Fonte: Daniel Moreira de Alcântara

A base teórica para a realização das atividades práticas foi de Viola Spolin (2007, p. 27), que defende que o trabalho com jogos é mais do que mera atividade lúdica, [...] constitui-se como cerne da manifestação da inteligência no ser humano Ela foi autora de vários livros que sistematizaram diversos jogos teatrais, que são fontes de energia que ajudam os alunos a aprimorar habilidades de concentração, resolução de problemas e interação em grupo (SPOLIM, 2007, p.29). Partindo do conceito de tríade essencial do teatro (ator, texto e público), a maior parte dos jogos foi destinada para desenvolver tanto a habilidade de experimentar atividades cênicas (atuar) como de ser espectador, pois na dialética desses elementos está a grande fonte de aprendizagem. No teatro, o espectador também deve ser alguém que atua na significação de uma obra artística, não exercendo apenas um papel de um agente passivo nesse processo. Conhecer a história do teatro permite-nos compreender como em várias sociedades a atividade teatral foi concebida, auxiliando numa compreensão mais ampla da produção contemporânea. A partir da experiência desse projeto, vê-se que é de fundamental importância que o IFAL, Câmpus Piranhas continue investindo em atividades dessa natureza. Cada vez mais mergulhados em uma cultura de massa, que aliena e homogeneíza o gosto e as escolhas, esta ação cultural, quebrando a rotina dos alunos, permitiu uma rica vivência em jogos que possibilitassem a discussão e experimentação de uma arte milenar, muitas vezes esquecida pela sociedade. Com baixíssimo índice de evasão, o projeto aponta para novas ações com a comunidade, contribuindo para que os cidadãos de Piranhas construam novas visões e hábitos sobre o teatro e a produção cultural local.

Referências

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CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A TEMÁTICA DO LIXO NO IFAL CÂMPUS MURICI E NA COMUNIDADE LOCAL: TEORIA E PRÁTICA EM PROL DA SUSTENTABILIDADE Adalberto da Silva Santos1 José Welton da Silva Santos2 Lucas Gabriel Acioli Ferreira3

Resumo O lixo é conceituado como todo material processado e descartado pelo homem. Nas últimas décadas ele tem se tornado um problema constante no cotidiano das sociedades, visto que, é um dos principais vilões da poluição ambiental, pois quando descartado diretamente na natureza, gera o surgimento de agentes nocivos à fauna e a flora presentes no meio ambiente. Com o advento do conceito de reciclagem, resíduos passaram a ser reutilizados, significando menos consumo dos recursos naturais e menos degradação ambiental. O primeiro passo para a reciclagem é a coleta seletiva, que significa a separação de materiais recicláveis dos não recicláveis. Daí, a conscientização sobre o problema do lixo atingiu enormes proporções, com a adesão popular e campanhas em benefício da vida. Desse modo, o projeto desenvolvido no câmpus Murici visou à conscientização e implementação da coleta seletiva no IFAL. A metodologia utilizada para conscientização foi à distribuição de materiais informativos sobre a problemática do lixo e palestras educativas em escolas do município, atendendo cerca de 500 alunos, além da participação em eventos de cunho científico/social para divulgação do mesmo. A implementação da coleta seletiva foi bem sucedida, a metodologia foi simples, reservamos um espaço que antes não tinha utilidade nenhuma e começamos a juntar os resíduos para a coleta nos dias programados, onde um catador faz a coleta e vende esse resíduo conseguindo somar esse dinheiro a sua renda. Palavras-chave: Implementação. Coleta seletiva. Reciclagem.

Abstract Garbage is all material processed and discarded by man. In recent decades it has become a constant problem in everyday society, since it is one of the main issue of environmental pollution because when disposed directly in nature, generates the emergence of harmful agents to fauna and flora present in the environment. With the advent of the concept of recycling, waste were to be reused, meaning less consumption of natural resources and less environmental degradation. The first step in recycling is the selective collection which means the separation of recyclable materials from non-recyclable. The awareness about the garbage problem has reached great proportions, with popular support and campaigns for the benefit of life. Thus the project developed on the Campus of Murici aimed at raising awareness and implementing the garbage collection. The methodology used for awareness was the distribution of informational materials about the garbage problem and educational lectures in local schools, reaching approximately 500 students as well as participation in scientific/social events. The implementation of the garbage collection was successful, the methodology was simple, we reserved a space which previously had no use and started to gather the waste for collection on scheduled days, then a collector collects and sell the material complementing his income. Keywords: Implementation. Selective collection. Recycling.

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Docente do Instituto Federal de Alagoas Câmpus Murici - adal.geo@bol.com.br Aluno do curso de Agroecologia do IFAL Câmpus Murici - harry-parceria@hotmail.com Aluno do curso de Agroecologia do IFAL Câmpus Murici - lucas_acioli@hotmail.com.br


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Introdução

Nos últimos anos, a reciclagem de resíduos vem tendo sua importância reconhecida através da conscientização da população. Muitas cidades já possuem mecanismos de coleta seletiva de lixo doméstico. Diversos tipos de materiais são recolhidos por empresas privadas ou por cooperativas. Porém, a iniciativa de coleta seletiva ainda não chegou a todos. Muitos municípios brasileiros sofrem com os problemas decorrentes dessa questão. Murici é um município localizado na zona da mata alagoana e cerca de 50 km da capital Maceió, com população estimada em 30 mil habitantes, que produzem diariamente cerca de 70 toneladas de lixo. Esses resíduos são recolhidos diariamente, mas não recebem um destino adequado, sendo assim despejados em um espaço conhecido como “lixão”, localizado próximo a BR-104, entre a cidade de União dos Palmares e Murici. Mesmo existindo recursos federais para financiar ações de educação ambiental junto às escolas municipais, percebe-se claramente no entorno e dentro dos espaços voltados para educação, à falta de consciência sobre a importância da reciclagem de resíduos e seus benefícios ambientais e econômicos. O Instituto Federal de Alagoas – Câmpus Murici através desse projeto de extensão procurou levantar reflexões que pudessem implicar ações concretas sobre a temática da reciclagem de resíduos nos espaços de educação de Murici, notadamente nas escolas municipais e que seus efeitos pudessem ser levados à comunidade envolvida no projeto durante a execução do mesmo. Fazer com que os alunos bolsistas partissem da teoria à prática em prol da sustentabilidade foi à meta a ser alcançada (durante cerca de um ano entre os anos de 2011 e 2012).

Metodologia

O projeto estabeleceu parcerias com a prefeitura e suas escolas, com uma cooperativa de coleta de material reciclável, além de órgãos e pessoas que pudessem nos ajudar e divulgar o projeto e seus objetivos de conscientização e implementação dessa prática no Câmpus Murici. Observa-se a Cooperativa de reciclagem em Murici. Figura 1 - Cooperativa de reciclagem em Murici

Fonte: Autores

Utilizamos reuniões semanais para discutir e avaliar o andamento das propostas iniciais constantes no projeto a fim de retroalimentar sua execução; criamos mecanismos para divulgação, entre eles um blogger e a inserção em redes sociais, tendo papel fundamental no marketing do projeto; visitamos as escolas municipais, com apoio da prefeitura, através de sua secretaria de educação, para analisarmos a real situação em relação ao aprendizado sobre reciclagem, percebemos desse modo, grande defasagem de conhecimento entre crianças do 3º ao 9º ano do ensino fundamental, posteriormente, a essa visita voltamos com o intuito de realizarmos palestras educativas, sendo bastante produtivas; além das turmas de ensino no horário diurno realizamos palestra educativa a alunos do programa de educação de jovens e adultos no horário noturno. Na Figura 2, observa-se a palestra educativa na Escola Municipal PTR e na Figura 3, observa-se a palestra educativa na Escola Municipal Nossa Senhora das Graças.

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Conscientização sobre a temática do lixo no iIFAL câmpus Murici e na comunidade local: teoria e prática em prol da sustentabilidade

Figura 2 - Palestra Educativa na Escola Municipal PTR

Fonte: Autores

Figura 3 - Palestra Educativa na Escola Municipal Nossa Senhora das Graças

Fonte: Autores

Considerações finais

Como resultados, alcançamos um público de aproximadamente 500 pessoas, entre alunos e professores, além de indiretamente outras pessoas tantas que receberam informações por iniciativa desses alunos que atuaram como multiplicadores. Conseguimos também implantar no Instituto Federal de Alagoas – câmpus Murici, durante a execução do projeto, a coleta seletiva de materiais para reciclagem. Convidamos diversas pessoas que trabalham informalmente com a coleta de materiais e um deles em dias programados durante a semana se encarregava de recolher os resíduos recicláveis que o câmpus produzia. A iniciativa do projeto visava conscientizar e implantar a coleta de lixo nas escolas e, em escala maior, sensibilizar a esfera política municipal para que ações mais abrangentes pudessem existir. Desse modo, embora a implantação da coleta seletiva não tenha sido implantada em todas as escolas visitadas, nós ficamos contentes com o resultado obtido. Tivemos a aprovação da apresentação do projeto e/ou publicação do artigo nos seguintes eventos com características de extensão /ou científico: III Semana de Gestão Ambiental do Instituto Federal de Alagoas em Marechal Deodoro: MOICIEN em Codó - Maranhão, V Encontro de Iniciação Científica em Palmeira dos índios e VII Festival da Natureza de Murici. Na figura 4, observamos a apresentação do projeto na II SGA - Marechal Deodoro - AL.

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Revista EXTIFAL

Figura 4 - Apresentação do Projeto na II SGA- Marechal Deodoro-AL

Fonte: Autores

As dificuldades encontradas durante a execução desse projeto estão muito mais relacionadas ao apoio efetivo que os órgãos públicos não se dispõem a fazer quando se trata de ampliar o processo de criação dos mecanismos para a implantação e expansão da coleta seletiva de resíduos descartados. Destacamos também a questão de falta de cultura para estabelecer parceiros para, continuadamente, realizar o trabalho de coleta dos materiais descartados, sejam parceiros individuais ou coletivos. Ressaltamos por fim, a forma como a população nos espaços educacionais, de modo geral, está aberta para ações dessa natureza que visam melhorias ambientais, sociais e econômicas. É um campo fértil e que pode gerar resultados extremamente positivos. Entretanto, o papel do poder público ainda tem sido superficial e tímido.

Referências

EIGENHEER, E. M. Lixo doméstico: coleta seletiva e educação. In: Lixo como instrumento de resgate Social. In: SEMINÁRIO LIXO COMO INSTRUMENTO DE RESGATE SOCIAL, 1989. Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: AEBA, 1989. ______. Lixo, morte e ressurreição. Comunicações do Iser. Rio de Janeiro, 1989. LIMA, Samuel do Carmo; RIBEIRO, Túlio Franco. Coleta seletiva de lixo domiciliar: estudo de caso. 2000.

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HORTA ESCOLAR: UM ELO ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA ADOTANDO PRÁTICAS ALIMENTARES SAUDÁVEIS E ACESSÍVEIS NA PERSPECTIVA DE CONTRIBUIR COM O MEIO AMBIENTE: RELATO DE EXPERIÊNCIA Luana Carolina de Medeiros Paiva Ribeiro1 Thaís Oliveira Lins2 Evyla Christine Alves de Lima3 Rosana Silva Santos 4

Resumo O artigo relata e avalia as experiências adquiridas na execução de um projeto de extensão do Instituto Federal de Alagoas, com alunas (bolsistas de extensão) do curso Tecnológico em Gestão Ambiental e do curso técnico integrado em Meio Ambiente sob a coordenação de uma nutricionista. O projeto teve início no mês de março e foi encerrado em outubro de 2011. Pensando em contribuir para a saúde das famílias dos alunos do IFAL e com o intuito de estimular o elo entre a família e a escola, este trabalho teve a finalidade de instrumentalizar os participantes do projeto com noções de alimentação e nutrição e conteúdos de meio ambiente. O projeto foi executado no município de Marechal Deodoro/AL, com participação da comunidade do IFAL (pais e alunos) e comunidade externa (morados do município). Diversas faixas etárias participaram do projeto, jovens, adultos e idosos, no total de 154 pessoas. As atividades foram planejadas e executadas em módulos: 1. Planejamento e divulgação do curso; 2. Sensibilização e formação do grupo de participantes; 3. Aula expositiva de Alimentação saudável; 4. Aula expositiva de Educação ambiental; 5. Oficina culinária com foco no Aproveitamento integral de alimentos; 6. Aula demonstrativa para produção de uma horta em casa. O projeto atendeu seus objetivos, permitindo que as bolsistas passassem seus saberes científicos, operacionalizando a relação teoria e prática. Da mesma forma, o público participante demonstrou interesse e conhecimento após a realização dos módulos, quando foram realizadas atividades de avaliação dos conteúdos. Palavras-chave: Horta escolar. Extensão. Alimentação saudável. Educação ambiental. Abstract The article describes and assesses the experiences gained in the implementation of a project of the Instituto Federal de Alagoas, with students from Environmental Management Technology Course and Technical Course in Environment under the supervision of a dietitian. The project began in March and ended in October 2011. Thinking of contributing to the health of the families of students from IFAL and in order to stimulate the link between the family and the school, this work aimed to provide environmental and nutritional concepts to the the project participants. The project was executed in the city of Marechal Deodoro / AL with the participation of IFAL community (parents and students) and external community. The project involved young, adults and elder people, totaling 154 participants. The activities have been planned and implemented in modules, as follows: 1. Planning and promotion of the course 2. Sensitization and training of the group of participants; 3. Dialogic lecture on the subject of eating with the methodology of Brazilian food guide (Pyramid Brazilian food) 4. Classes on Environmental Education, 5. Cooking workshop focusing on the full use of food 6. Deminstrative classes on how to produce a home vegetable garden. The project has met its purposes, allowing the students to share their scientific knowledge, operationalizing the relationship between theory and practice. Keywords: Horta school. Extension. Healthy eating. Environmental education.

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Nutricionista, Mestre em Nutrição Humana. Câmpus Marechal Deodoro. luanacmp@gmail.com Discente do curso tecnológico em Gestão Ambiental – IFAL/Câmpus Marechal Deodoro 3 Discente do curso tecnológico em Gestão Ambiental – IFAL/ Câmpus Marechal Deodoro 4 Discente do ensino técnico integrado em Meio Ambiente– IFAL/ Câmpus Marechal Deodoro 2


Revista EXTIFAL

Introdução A atividade de extensão universitária é uma permuta de valores entre as instituições de ensino e a comunidade, em que os conhecimentos da academia são levados para a coletividade e que esta transfere os saberes culturais para o ensino acadêmico (SCHEIDEMANTEL, 2004). A proposta de extensão segue a orientação de que essa atividade é via de interação entre universidade e/ou escola junto à sociedade. Dessa forma, constituindo um elemento capaz de operacionalizar a relação entre teoria e prática, favorecendo a aprendizagem. Atuar com educação nutricional e ambiental à população é a chave para renovar os valores e a percepção dos problemas nutricionais e ambientais atuais, desenvolvendo uma consciência e um compromisso que possibilitem a mudança, desde as pequenas atitudes individuais até a participação e o envolvimento com a resolução dos problemas (DIAZ, 2002). É importante ressaltar que a população precisa ser dotada de conhecimentos relacionados à Segurança alimentar e nutricional, envolvendo o aspecto do Direito Humano à Alimentação Adequada. Dessa forma, a dimensão alimentar na produção e a disponibilidade de alimentos são asseguradas à medida que possam ser continuadas e permanentes. Sendo assim, a construção da horta pode proporcionar alimentos orgânicos e diversificados para atender a dimensão nutricional na escolha de alimentos saudáveis (BURITY, 2010). O presente trabalho compreende o relato de um projeto de extensão interdisciplinar das áreas de Nutrição e Gestão Ambiental, realizado no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), na cidade de Marechal Deodoro/AL. O projeto foi coordenado por uma nutricionista, servidora do IFAL, e por estudantes do curso tecnológico em Gestão Ambiental e do curso técnico integrado em Meio Ambiente, desenvolvido de março a outubro de 2011. Esse projeto foi denominado “Horta Escolar: Um elo entre a escola e a família adotando práticas alimentares saudáveis e acessíveis na perspectiva de contribuir com o meio ambiente”. Pensando em contribuir para a saúde das famílias dos alunos do IFAL e com o intuito de estimular o elo entre a família e a escola, este trabalho teve a finalidade de instrumentalizar os participantes do projeto com noções nutricionais e ambientais. É pertinente mencionar que a horta escolar permite trabalhar várias vertentes, como: educação ambiental, com o intuito de aproximar os participantes do projeto com a natureza; e educação alimentar, fazendo com que os participantes saibam da importância e da necessidade de uma alimentação saudável.

Metodologia

O projeto de extensão foi desenvolvido em módulos, que foram encontros presenciais com a população para realização de exposições dialogadas com a realização de atividades práticas-avaliativas ao final de cada encontro. Participaram do projeto pais de alunos e outros interessados da comunidade e adjacências que se inscreviam sistematicamente para cada módulo de aula ofertado. No total participaram 154 pessoas, em quatro encontros presenciais, com carga horária total dos encontros de 20 horas. Esse projeto foi desenvolvido em seis etapas. A divulgação foi feita por meio de cartazes, veiculação de notícia em rádio comunitária, e em informativo nas salas de aula. Foi divulgado o local do projeto, o horário e a disponibilização dos certificados por módulos. Em seguida, foi realizada Sensibilização para formação do grupo de participantes, durante a reunião de pais, expondo a importância do projeto para seus familiares e mostrando-lhes quais os objetivos propostos, apresentando o cronograma e a metodologia. A execução do projeto foi feita por aulas. A primeira aula foi sobre a temática da Alimentação saudável, na qual foi aplicado um questionário para conhecer a alimentação dos participantes; com palestra sobre alimentação saudável, destacando a exposição do guia alimentar da população brasileira, a pirâmide alimentar. Após a apresentação, foi realizada uma dinâmica, com a divisão da turma em 8 grupos. Essa atividade teve como objetivo entrosar os participantes e avaliar se eles haviam absorvido os conhecimentos transmitidos na palestra.

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Horta escolar: um elo entre a escola e a família adotando práticas alimentares saudáveis e acessíveis na perspectiva de contribuir com o meio ambiente: relato de experiência

Na aula 2 foi ministrada uma palestra com assuntos como a importância da conservação dos recursos naturais; a disposição dos resíduos sólidos (como alternativa a compostagem – utilização de resíduos orgânicos como composto para o solo) e diversas formas de horta (mandala, plana e vertical). Ainda neste módulo, houve a aplicação de um questionário socioambiental com o intuito de saber o nível de consciência ambiental dos participantes. A aula 3 constituiu-se da “Oficina de aproveitamento integral de alimentos” com a palestra sobre desperdício de alimentos e confecção de preparações nesta temática. Na aula 4, último encontro, foi realizada demonstração da produção de uma horta doméstica, com palestra e destaque para a utilização de materiais alternativos de forma prática e econômica. Após a palestra, os participantes praticaram a construção da horta.

Resultados observados

O projeto foi apresentado aos pais dos discentes do Ensino Médio do IFAL/MD, para divulgar e expor a proposta do projeto a fim de sensibilizá-los para participação. Fotografia 1 – Apresentação do projeto de extensão durante a reunião de pais. Marechal Deodoro, 2011

Após a divulgação e inscrição, foi realizada a primeira aula com a temática “Alimentação saudável”, foi realizada palestra com foco na Pirâmide Alimentar brasileira, e, logo após, os participantes foram divididos nos grupos de alimentos da pirâmide, para exercício dos conteúdos apreendidos, em seguida, cada grupo foi responsável para apresentar aos demais os alimentos que compõem o grupo alimentar. (PHILIPPI, 1999)

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Revista EXTIFAL Fotografia 2 – Atividade avaliativa do primeiro módulo. Marechal Deodoro, 2011

A segunda aula ocorreu com a palestra sobre o tema de Educação Ambiental, ministrada pelas alunas do curso de Gestão ambiental, bolsistas do projeto. Foram abordados conteúdos de sustentabilidade ambiental, a importância da preservação ambiental e, ao final, foi realizado um exercício em grupo para avaliação dos conteúdos. Fotografia 3 – Palestra de Educação Ambiental no segundo módulo. Marechal Deodoro, 2011

Na terceira aula do projeto foi realizada uma Oficina de aproveitamento integral de alimentos, com palestra sobre o “Desperdício de Alimentos”. Em seguida, foram confeccionadas as preparações; o modo de preparo foi passo a passo apresentado para os participantes, na forma de execução dos pratos que utilizam o aproveitamento de alimentos. Ao término, as preparações foram degustadas por todos os presentes.

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Horta escolar: um elo entre a escola e a família adotando práticas alimentares saudáveis e acessíveis na perspectiva de contribuir com o meio ambiente: relato de experiência

Fotografia 4 – Oficina de aproveitamento integral de alimentos, terceiro módulo. Marechal Deodoro, 2011

Como atividade final, foi realizada a oficina para construção da horta orgânica caseira. Os bolsistas do projeto de extensão apresentaram como montar a horta e, em seguida, os participantes construíram uma horta na área verde do câmpus Marechal Deodoro.

Fotografia 5 – Oficina de horta orgânica, quarto módulo. Marechal Deodoro, 2011

Fonte das fotografias: Autores

Os módulos em suas execuções apresentaram aspectos positivos, como: o despertar do interesse dos participantes pelos conteúdos abordados, sejam estes na área de nutrição ou em meio ambiente; o público participou de forma ativa, com questionamentos e fazendo a troca de conhecimento; os discentes (palestrantes) das aulas com temáticas sobre meio ambiente se prepararam e apresentaram desenvoltura e confiança ao responderem os questionamentos feitos pelo público. Verificou-se que desenvolver um projeto desta natureza, por mais simples que sejam os conteúdos, exige que o palestrante tenha conhecimento para esclarecer de forma objetiva as dúvidas apresentadas pelos participantes. Daí a necessidade de transformar a linguagem acadêmica e científica em informações breves, simples e acessíveis à comunidade, a atividade realizada também gerou interesse do público na continuidade do projeto e o interesse em realizar a construção da horta em sua residência.

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Revista EXTIFAL

Fernandes (2007) entende que a horta escolar auxilia no enriquecimento da alimentação, na transformação de hábitos alimentares e na aproximação dos envolvidos com a natureza. E enfatiza ainda que a horta escolar beneficia o aluno, à medida que este produz alimentos frescos e de custo acessível, e possui o poder de unir teoria e prática tornando a aprendizagem satisfatória. Em trabalho semelhante, Pimenta & Rodrigues (2011) também ressaltam que a horta escolar proporciona ao aluno qualidade nutricional. Os referidos autores mencionam ainda que a experiência de produzir uma hora escolar possui relação com temas inteiramente ligados à educação ambiental, além de despertar nos envolvidos um entendimento de todo processo de desenvolvimento das culturas plantadas, de forma que haja o estreitamento entre a alimentação adequada, sua aceitação e o entendimento de que esta é a melhor opção, há uma grande distância que certamente é diminuída ao passo que o envolvido acompanha o desenvolvimento da horta escolar. O trabalho permitiu aos participantes obter noções de alimentação saudáveis, e consequentemente estimular a adoção de práticas que minimizem os impactos ao meio ambiente e prepará-los para confeccionar sua horta doméstica.

Considerações finais

O projeto “Horta Escolar” atendeu aos objetivos pretendidos, permitindo que os discentes de nível superior e médio exercitem seus saberes científicos, operacionalizando a relação da teoria e prática. A estratégia de exposição de informações dialogadas nas aulas teóricas juntamente com o exercício prático dos conteúdos se mostrou eficaz, pois os participantes avaliavam criticamente os conteúdos e mostravam que apreendiam as informações apresentadas. Diante da experiência vivenciada, pretende-se a continuidade do projeto com o formato desenvolvido e com foco em comunidades locais carentes.

Referências

BURITY, Valéria. Direito humano à alimentação adequada no contexto da segurança alimentar e nutricional. Brasília, DF: ABRANDH, 2010. 204p. DIAZ, PA. Educação Ambiental como projeto. 2. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2002. FERNANDES, Maria do Carmo de Araujo. Caderno 2: Orientações para implantação e implementação da horta escolar. Brasília, 2007, 45 p. PIMENTA, José Calisto; Rodrigues, Keila da Silva Maciel. Projeto Horta Escola: ações de educação ambiental na escola centro promocional todos os santos de Goiânia (GO). In: SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TRANSDISCIPLINARIDADE, 2. Anais... UFG/IESA/NUPEAT, 2011 Goiânia, p 8-9. PHILIPPI, Sonia Tucunduva et al. Pirâmide alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Rev. Nutr., Campinas, v. 12, n. 1, abr. 1999. SCHEIDEMANTEL, Sheila Elisa; Klein, Ralf; Teixeira, Lúcia Inês. A importância da extensão universitária: o projeto construir. In: ENCONTRO DE EXTENSÃO DA UFMG, 7, 2004, Belo Horizonte - MG. Anais... Belo Horizonte: Faculdade de Direitos Humanos da UFMG, 2004.

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INTERVENÇÕES URBANAS

Arlindo da Silva Cardoso1 Daniel Cavalcante da Silva 2 Eliza Magna de Souza Barbosa3 Lucas Cardoso Ramos4

Resumo A Intervenção Urbana, como movimento artístico da contemporaneidade, constitui-se numa das expressões artísticas mais vibrantes, numa profusão de possibilidades vindas das artes visuais, do design, da arquitetura, entre outras áreas que podem emprestar algo para a criação desse trabalho. É o espaço urbano sendo modificado para que algo novo seja criado. Como expressão escolhida pelo grupo de alunos e professora do Curso de Extensão do câmpus Maceió/IFAL, a IU oferece uma coletividade e uma criatividade que nos atrai. O relato de experiência, evidenciando algumas das atividades práticas desenvolvidas na primeira turma de 2012, é o enredo do presente artigo. O objetivo do curso de extensão é promover uma interação necessária entre a comunidade do IFAL e a comunidade maceioense, expressada artisticamente. Palavras chave: Intervenção Urbana. Arte. Criatividade. Contemporaneidade.

Abstract The Urban Intervention while the contemporary art movement constitutes one of the most vibrant artistic expressions, a profusion of possibilities coming from the visual arts, design, architecture, among other areas that can contribute to this work. The urban space has been modified to create new spaces. The UI offers collectivity and creativity that attracts people. This article reports some of the practical activities developed in the first class in 2012. The purpose of the course is to promote a necessary interaction between the community and the IFAL, expressed artistically. Keywords: Art. Urban Intervention. Creativity. Contemporaneity.

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Graduando em Design da UFAL. Graduando em Design de Interiores no IFAL, Câmpus Maceió. 3 Professora do IFAL, Câmpus Maceió; Graduada em Licenciatura em Artes cênicas pela UFPE; Mestra em Educação Popular pela UFPB. 4 Graduando de Arquitetura na UFAL. 2


Revista EXTIFAL

Introdução

Intervenção Urbana – IU - é basicamente o termo utilizado para designar os movimentos artísticos relacionados às intervenções visuais realizadas em espaços públicos, modificação de paisagens, a particularização de lugares. É a modificação visual de espaços urbanos. Essas intervenções podem ter vários portes, desde trabalhos simples, com adesivos e colagem, pintura de paredes, até grandes projetos, com estruturas e instalações artísticas. A dimensão temporal, na IU, apresenta uma verdadeira inconstância. Pode ter alguns segundos, minutos até a duração de anos, como um trabalho artístico permanente. Isso quer dizer que o tempo depende do material utilizado e o próprio objetivo dos interventores em determinado trabalho. A partir da Intervenção feita no espaço público, parte do cotidiano da população passa a ser percebida, passa a ressurgir. Como alguns interventores costumam dizer, é o sentido de liberdade e expressão artista, é a introdução de estruturas descontínuas e relações sem hierarquia. É uma maneira de comunicação para a sociedade, expressão de informações a partir da diversidade de trabalhos artísticos onde esta informação pode ser feita com intuito social, pessoal. Pode conter crítica, poesia, protesto, entre outros, com uso de técnicas, dependendo da formação ou não do interventor. Desde técnicas de designers, arquitetos, comunicadores sociais, grafiteiros, etc. A intervenção urbana, como forma de arte, teve sua origem na segunda metade do século XX. Esse momento riquíssimo para a história da arte abriga em sua amplitude a arte conceitual, a performance, a instalação, o happening, entre outras atividades artísticas como a IU, que apresentam características bem diversas, tendo convergência em algumas. O caráter inusitado dessas manifestações artísticas constitui-se numa dessas características, apresentando-se predominantemente, desde a sua origem, como um desejo de expressão individual ou coletiva, que tem como premissa máxima o uso da criatividade acerca do papel da arte nessa relação entre o sujeito e o coletivo, o livro A Educação Pela Arte afirma-se que “O homem como criador é uma figura solitária. Mesmo que suas criações sejam apreciadas por outros homens, ele permanece isolado. É só quando alguém o toma pela mão, não como ‘criador’ mas como camarada, amigo ou amante, que ele experimenta uma reciprocidade íntima” (HEAD, 2001, p. 318). Ernst Gombrich (1999) famoso historiador de arte, afirmou que nada existe realmente a que se possa dar o nome de Arte. Existem somente artistas. Arte é um fenômeno cultural. Regras absolutas sobre arte não sobrevivem ao tempo, mas em cada época, diferentes grupos (ou cada indivíduo) escolhem como devem compreender esse fenômeno. A intervenção aqui tem uma referência baseada na ideia da quebra do cotidiano, do corte na realidade com o inusitado que se oferece num dado momento, a partir da intervenção urbana. O movimento OpArt, ou Arte Óptica, nasceu na Inglaterra, tendo como precursor Victor Vasarely. É a arte como forma e movimento, num jogo dialético de cores. Já a PopArt nasceu nos Estados Unidos da América. É Arte popular segundo a geração pós-moderna, que busca interpretar as linguagens ofertadas pela mídia eletrônica nascente. Nesse universo, destacou-se Andy Warhol. O artista celebrizou-se pela imagem de Marilyn Monroe, em série, em 1967. Daí em diante, a interação entre as linguagens artísticas e os meios de comunicação de massa só cresceu. A linguagem artística ganhou uma diversidade de movimentos, de possibilidades para o efêmero, para o inusitado, que corresponde ao modo de ser do nosso tempo. A interação, a interferência no cotidiano das cidades, o protesto, a possibilidade de repensar o próprio espaço e a disseminação da arte são algumas de muitas motivações que levam grupos e artistas a realizarem intervenções urbanas. Inspirado principalmente no grupo Poro e outros como Cia. do Chapéu, Gia Bahia, Luzinterruptus e o gosto pela arte, surge o grupo de Intervenções Urbanas Pupa, criado por alunos e ex-alunos do IFAL, buscando difundir o pensamento crítico e argumentativo sobre a prática da linguagem artística através das intervenções urbanas; logo após, sob a orientação da professora Eliza Magna de Souza Barbosa, foi idealizada e posta em prática, com a primeira turma do curso de extensão, para um público formado pela comunidade interna do IFAL e a comunidade externa, através da arte. O Projeto de Extensão do Câmpus Maceió do IFAL – Intervenções Urbanas – tem por objetivo difundir a prática da arte visual através das intervenções urbanas para a valorização humanística da coletividade, promovendo a noção de ética e limites para os alunos que envolvem o ambiente urbano; trazer à tona aspectos urbanos pouco discutidos, estabelecendo discussões sobre os problemas das cidades em geral, fazer refletir sobre as possibilidades de relação entre os trabalhos em espaço público e os espaços institucionais e lançar mão de

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Intervenções urbanas

meios de comunicação popular para realizar trabalhos, reivindicar a cidade como espaço para a arte, além de visualizar espaços que anteriormente não eram percebidos.

Intervenção urbana na cidade de Maceió: algumas das experiências práticas

Em Maceió, o movimento de intervenção urbana, através da formação de grupos com performances constantes, está apresentando uma tímida expressão, porém crescente. Partem das instituições públicas de ensino essencialmente, surgindo através de movimentos políticos culturais pertencentes ao movimento estudantil e alunos dos cursos de arquitetura, comunicação, teatro, design, letras, entre outros. O Curso de intervenções urbanas do câmpus Maceió do IFAL compõe-se de aulas teóricas seguidas de aulas práticas. Na turma de 2012, tivemos uma regularidade de quinze alunos em média e os temas estudados envolviam a história da arte, a literatura, a comunicação, a sociologia, a psicologia e a antropologia. O perfil desses alunos é jovem e estudante do ensino médio e do superior. Dentro desse processo, foram elaborados pequenos projetos de intervenções urbanas em sala de aula. Depois, íamos às aulas práticas. O envolvimento dos alunos de extensão com o meio urbano e com os sujeitos do cotidiano da cidade, especialmente no entorno da instituição e da Rua do Comércio, no Centro, alcançou um aproveitamento bastante rico. Cada atividade praticada foi registrada em vídeos e fotos, que foram posteriormente arquivados em um blog. Depois disso, foi feito um relatório que nos dá uma mostra do resultado da intervenção urbana projetada no meio urbano, promovendo a interação com as pessoas.

Conhecimento a céu aberto!

Essa intervenção foi realizada como uma oportunidade de oferecer às pessoas um conhecimento de fácil acesso, em um lugar público e de muito movimento, na Rua do Comércio. O Grupo Pupa entende que a educação não deve ser algo restrito àqueles que possuem recursos materiais para a sua devida execução. Pelo contrário, deve estar ao alcance de todos os sujeitos sociais, na busca do conhecimento básico necessário para alcançar a evolução justa para todos. Figura 1

Fonte: Grupo Pupa

Na natureza nada se perde, nada deve ser perdido

O lixo é um dos maiores vilões do meio ambiente. A quantidade de lixo que é jogada nas ruas, em lagos e rios é enorme e provoca consequências desastrosas ao meio ambiente. A falta de consciência da população é a grande responsável por tal desastre ecológico, pois algumas pessoas jogam lixo no meio ambiente sem se preocuparem com os problemas que estão provocando. Com a intenção de alertar a população sobre a importância de reciclar o que pode ser renovado ou transformado, além da crítica à falta de lixeiras pela cidade,

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essa intervenção se baseou na coleta seletiva do lixo, pois é através dela que os materiais que podem ser reciclados são separados do lixo orgânico. Figura 2

Fonte: Grupo Pupa

Cego, Surdo e Mudo

A mídia não esclarece a situação da greve dos servidores federais da educação, o governo não escuta as reivindicações, os professores ficam de mãos atadas e os alunos prejudicados, sem informações e sem aulas. Com essa intervenção, buscamos mostrar simbolicamente a posição da mídia, do governo, dos professores, dos alunos e da população diante de um problema que passa a ser de todos - a greve - com o objetivo de destacar que os maiores prejudicados – os alunos - têm direito à mínima informação. Com justificativas claras, poderia haver um entendimento entre as partes – servidores e o governo. Enquanto isso, alunos foram simplesmente desligados da discussão como se acompanhar a situação não fosse do seu interesse.

Figura 3

Fonte: Grupo Pupa

Política de Alien – Alienação

Em 1958, um rinoceronte do zoológico de São Paulo chamado Cacareco recebeu 100 mil votos para vereador. De lá para cá, ele vem dando nome a uma categoria de candidatos na política brasileira. A política virou circo, a cada dia aparecem mais candidatos absurdos com propostas absurdas. Se for para algo tão sério virar piada, então vamos ridicularizar de uma vez. Quem sabe dessa forma a população abre os olhos?

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Intervenções urbanas

Figura 4

Fonte: Grupo Pupa

Grade de cores, um cinza colorido

A correria das cidades nos faz reportar à Revolução Industrial: fumaça, máquina, trânsito lembrandonos de cores como cinza, preto e branco. Hoje, em pleno século XXI, mesmo com tantas transformações e evoluções de pensamentos e comportamentos, nós ainda olhamos para a cidade de Maceió e sentimos falta de elementos que nos chamem atenção, que nos despertem sensações, emoções e desejos. Foi com o propósito de dar ênfase à importância de se perceber e interpretar, de diversas maneiras, a cidade de Maceió, que foi escolhido um local por onde várias pessoas passam todos os dias e não percebem: um gradeado cinzento que foi animado com diversos tecidos coloridos, na avenida de acesso ao Câmpus. Se a rotina por vezes faz com que uma beleza natural passe despercebida, não é um espaço sem cor nem vida que despertará olhares. Por esse motivo, foi escolhido um terreno baldio cercado por grades. A “Grade de cores” buscou causar um impacto visual, uma vez que iria de encontro ao aspecto cinzento predominante nas fachadas espalhadas pela cidade. Cada um desses momentos trouxe para a turma e os monitores uma sensação de liberdade que só contribuiu para o aumento da vontade de criar novas situações. O Curso teve o encerramento no final do ano de 2012 e a segunda turma está prestes a iniciar as aulas, no mês de junho de 2013.

Figura 5

Fonte: Grupo Pupa

Partindo deste artigo, esperamos ampliar cada vez mais a comunicação acerca do processo desencadeado pelo Curso de Extensão em Intervenções Urbanas do câmpus Maceió do IFAL. Pretendemos contribuir para a ampliação do movimento artístico alagoano, de forma que a intervenção urbana amplie seus campos de atuação, desencadeando um ritmo próprio e constante. Afirmamos que as atividades identificadas aqui são algumas das muitas atividades vivenciadas pela turma de 2012. Como já citamos anteriormente, há um elemento inusitado na IU que dá amplas possibilidades para um grupo se manifestar artisticamente.

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O Grupo Pupa continua fazendo suas experiências, além de procurar cada vez mais se inserir nos contextos acadêmicos, através da busca de novos conhecimentos, que certamente alimentarão o desencadear dos processos criativos, partindo das atividades desenvolvidas nas turmas sequenciais do curso de extensão, processo já desencadeado com as aulas desde o mês de junho de 2013.

Referências

GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 16.ed. Rio de Janeiro: LTC Ed., 1999. PROENÇA, Maria das Graças Santos. História da Arte. São Paulo: Editora Afiliada, 2007. READ, HERBERT. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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NO NORTE ALAGOANO, EM BUSCA DE ARTE. CAMINHOS PERCORRIDOS PELO PROJETO DE EXTENSÃO NORTEARTES José Ricardo da Silva Araújo1

Resumo Este Artigo tem como objetivo relatar o caminho percorrido pelo Projeto de Extensão NorteArtes, desde seus primórdios no ano de 2010, a partir das oficinas livres de jogos e técnicas teatrais realizados no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Câmpus Maragogi, com a participação de estudantes e moradores daquela cidade e alguns municípios vizinhos. Ao ser formalizado como Projeto de Extensão, em 2011, junto à Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), as oficinas teatrais, além de objetivarem o acesso à linguagem estética teatral, através de jogos, técnicas teatrais, exercícios de expressão corporal, dicção e construção de dramaturgia, objetivou, também, a produção de uma montagem de espetáculo com os envolvidos no processo a fim de ser apresentado em municípios da região Norte de Alagoas, buscando contribuir para minimizar a lacuna de atividades artísticoculturais nessa região. Além do foco principal – o teatro –, o NorteArtes ampliou suas ações com atividades de cinema e intercâmbio cultural com grupos artísticos. Iniciamos o Artigo, entretanto provocando reflexões sobre a compreensão (ou incompreensão) do papel destinado ao ensino da Arte no currículo escolar pelo IFAL. A seguir, enfatizamos o foco principal do NorteArtes, que são as artes cênicas, e buscamos descrever seu percurso, as adversidades encontradas, os desafios e as conquistas do Projeto. Tendo como referência a experiência do NorteArtes, serão levantadas questões relacionadas à própria atividade de Extensão no IFAL. Palavras-chave: Arte. Artes cênicas. Extensão. Abstract This article introduces all the activities developed by extension project named “NorteArtes”, since its beginning in 2010, with games workshops and theater techniques at “Instituto Federal de Alagoas (IFAL)”, Campus Maragogi, and with the involvement of students and people from that community and cities close to it. After its formalization as an extension course in 2011, the theater classes had the purpose of developing the body expression, diction and acting practice. Besides, it also aimed at the production of a play with the participation of all the people involved in the process and perform it in cities from the North of Alagoas, in order to promote cultural and artistic activities. Besides the theater, the project NorteArtes expanded its actions with cinema and cultural exchange with other artistic groups. This paper starts provoking reflections about understanding (or misunderstanding) therole of art teaching at IFAL. Then, we empathize the theater that is the main purpose of NorteArtes” and also the challenges and achievements of the project. Using the experience from NorteArtes as a reference, we will also discuss issues related to the extension at “IFAL”. Keywords: Art. Performing Arts. Extension.

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Prof. Ms. da disciplina Estudo das Artes do Instituto Federal de Alagoas – IFAL – Câmpus Maragogi. E-mail: ricardo64raujo@gmail.com


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Introdução

O Projeto NorteArtes foi oficializado enquanto Projeto de Extensão em março de 2011. A princípio, destinava-se à criação e à capacitação de um grupo de teatro na cidade de Maragogi - AL, a fim de estimular a criação de novos espaços de diálogos artístico-culturais naquela cidade e em seu entorno, tendo a atividade teatral como principal linha de ação - com foco na formação de um grupo de teatro com jovens da comunidade de Maragogi e estudantes do IFAL. Outras expressões artísticas seriam agregadas ao projeto, como cinema (com projeção gratuita de filmes e documentários) e intercâmbio artístico-cultural (com a promoção de encontros e diálogos entre os grupos artísticos locais e estaduais, para diálogos sobre seus históricos, processos e produtos artísticos). No tocante especificamente à atividade teatral, o Projeto propunha um curso de introdução básica ao Teatro, com estudos introdutórios sobre a importância do teatro na história da humanidade; oficinas de jogos e técnicas teatrais, criação e montagem de exercícios cênicos e produção de espetáculo teatral. Potencializar o acesso, a produção e a troca de saberes artístico-culturais aos moradores e visitantes do município de Maragogi e municípios da região, através da atividade teatral, complementada com outras atividades artísticas, promovendo troca de saberes, momentos de ludicidade e lazer à população e fortalecimento da relação comunidade-escola era seu objetivo principal. No período de seu desenvolvimento, nos anos 2011 e 2012, sem perder o norte de seus objetivos e nem o foco de sua atividade principal, o teatro, o Projeto NorteArtes sofreu modificações quanto ao espaço de atuação – deslocou-se de Maragogi para Matriz de Camaragibe; como também na composição de seus integrantes. Essa trajetória será descrita e refletida a seguir. Ao buscar transpor para aqui um relato da experiência que vivenciamos com o projeto NorteArtes, nos anos de 2011 e 2012, necessito de certa liberdade na escrita deste texto, pois ora discorrerei na primeira pessoa do singular, expondo a partir de um olhar pessoal, emitindo compreensões e opiniões de cunho individual; em outros momentos, recorrerei a primeira pessoa do plural, tendo em vista as ações coletivas realizadas no próprio processo de realização do projeto, e, finalmente, o relato terá um caráter mais impessoal, com propósito de distanciamento da ação, para refletir sobre esta, analisá-la. Dei início as minhas atividades como professor de Artes, no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), em agosto de 2010, no recém-inaugurado Câmpus Maragogi. Tendo formação acadêmica em Artes Cênicas, fui surpreendido, já na leitura do edital do próprio concurso, que exigia como formação docente para ocupação do cargo a “Graduação em Artes” ou “Educação Artística” – exigências desatualizadas da Lei de Diretrizes e Bases, n.º 9.394/96, e de outras publicações relacionadas ao ensino de Arte, como é o caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) – documento produzido com a contribuição da Federação dos Arte Educadores do Brasil (FAEB), da Associação Brasileira de Educação Musical (Abem) e da Associação Brasileira de Artes Cênicas (Abrace) –, é sugerida a superação da polivalência do professor de Arte, “frisando-se a importância da formação em nível superior de professores especialistas em cada uma das linguagens artísticas e sua atuação nas escolas de nível fundamental e médio de acordo com sua qualificação”. Entendendo que as expressões artísticas são diversas, tanto quanto diversas são as graduações que formam professores de Arte: Artes Cênicas, Música, Dança, Artes Visuais. Outro aspecto que muito me chamou a atenção no tocante à matriz curricular do IFAL foi a carga horária dispensada à disciplina Estudo das Artes: uma hora/aula por turma e somente no primeiro ano dos cursos oferecidos pelo Instituto. As reflexões que constam do documento-base do Ministério da Educação sobre Política Pública Educacional de Integração entre o Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de Nível Médio (2007), enfatizam, entre outras questões, que: A política de Ensino Médio foi orientada pela construção de um projeto que supere a dualidade entre formação específica e formação geral e que desloque o foco dos seus objetivos do mercado de trabalho para a pessoa humana, tendo como dimensões indissociáveis o trabalho, a ciência, a cultura e a tecnologia.

No tocante ao aspecto específico da cultura, considera-se, portanto, que

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Cultura é o processo de produção de símbolos, de representações, de significados e, ao mesmo tempo, prática constituinte e constituída do e pelo tecido social. Uma formação integrada, portanto, não somente possibilita o acesso a conhecimentos científicos, mas também promove a reflexão crítica sobre os padrões culturais que se constituem normas de conduta de um grupo social, assim como a apropriação de referências e tendências estéticas que se manifestam em tempos e espaços históricos, os quais expressam concepções, problemas, crises e potenciais de uma sociedade, que se vê traduzida ou questionada nas manifestações e obras artísticas. (grifo nosso)

Talvez seja necessário que a Instituição compreenda que “A Arte é um meio indispensável para a união do indivíduo com o todo; reflete a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e ideias” (FISCHER, 1987, p. 13). Ou, ainda, conforme Rocha: O que mais se evidencia nas propostas contemporâneas para o ensino de arte é a necessidade de alfabetização estética e artística do indivíduo, pois só dessa forma ele terá condições de situar-se no mundo e com ele interagir, em todas as suas dimensões, como ser social e cultural, transformando-se assim em um criador de cultura (2003, p. 76).

Assim sendo, entendemos ser incompreensível e injustificável a carga horária dispensada a disciplina “Estudo das Artes”. Ante esses desafios postos, além do cumprimento de minha carga horária em sala de aula, resolvi, em outubro de 2010, desenvolver, no período noturno, oficinas de jogos teatrais que incluíssem estudantes do câmpus e pessoas da comunidade interessadas em participar. A escolha por realizar essa atividade e que pelo horário noturno, levavam em conta duas questões importantes: a possibilidade de participação dos alunos dos turnos matutino e vespertino do IFAL - Maragogi, e a constatação de que na cidade de Maragogi não eram desenvolvidas atividades teatrais, ou mesmo outras atividades artístico-culturais de forma regular. As oficinas, portanto, teriam, a princípio, como objetivos: possibilitar vivências lúdicas e prazerosas que o teatro proporciona; viabilizar a criação de outros espaços de relacionamento e melhor conhecimento de meus alunos e da comunidade local e buscar produzir e apresentar teatro para comunidade local. De forma rápida, a notícia da realização das oficinas de teatro espalhou-se, e estudantes do Instituto e comunidade de Maragogi, e mesmo de outros municípios mais próximos, como Japaratinga e Porto Calvo, passaram a frequentar, nas segundas e quartas-feiras à noite, os encontros de jogos e técnicas teatrais. Nos meses de outubro e novembro, foi possível desenvolver, nesses encontros, vários exercícios relacionados ao teatro, desde trabalhos focados na consciência e expressão corporal, a exercícios básicos de respiração, voz, dicção e atividades de improvisação teatral. No próprio fazer dessas atividades, refletíamos sobre a experiência pessoal vivenciada pelos participantes, ao mesmo tempo em que introduzíamos algumas informações necessárias a respeito do fazer teatral. Como coordenador daquele processo pedagógico, promover o acesso ao aprendizado da arte teatral era tão importante quanto facilitar a criação de uma relação de intimidade entre os participantes, mediada pelo jogo e por técnicas próprias do teatro. (Figuras 01 e 02) Como afirma Nachmanovittch, Planejar o aprendizado sem conhecer as pessoas que irão aprender, suas potencialidades e deficiências, a maneira como elas interagem, significa impedir que as surpresas e o verdadeiro aprendizado ocorram. A arte do professor é por em contato, no tempo real, os corpos vivos dos estudantes com o corpo vivo do conhecimento (NACHMANOVITTCH, 1993, p. 29).

Figura 1 – Jogo teatral

Fonte: Acervo do projeto

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Figura 2 – Exercícios de expressão corporal

Fonte: Acervo do projeto

Importante frisar que, nessas oficinas, contamos também com a presença de alguns professores que, ao cumprirem sua carga horária de aulas no Instituto, nos dias que coincidiam com as oficinas, participavam conosco das atividades teatrais. Sendo todos nós professores recém-chegados ao câmpus, de cidades e mesmo Estados diferentes, para lecionar em Maragogi, aqueles encontros não deixavam de ser momentos de integração com nossos alunos e com a comunidade local. O professor de Informática Flávio Medeiros, um dos participantes daquela experiência teatral, reflete sobre sua experiência e enfatiza: O fato de eu participar junto com os alunos era muito bom, porque facilitava a amizade, eu conhecia melhor os alunos, era num horário diferente da aula, então era divertido. Não era, digamos assim, uma aula monótona, séria. Era bem divertido, todo mundo animado, todo mundo vinha, porque realmente queria participar. Então era... era bem legal. (Informação verbal) 2

Além do aspecto integrador das oficinas, o Professor de História, Carlos Filgueiras, reflete sobre a novidade da experiência para si mesmo: Eu achei uma experiência assim: maravilhosa. Para mim, foi diferente, bem diferente. Nunca tinha participado de nenhuma oficina de teatro. Achei uma coisa assim: a sua condução em relação às aulasoficinas, acho que foi muito agregadora. (...) Achei interessantíssima a forma como os alunos foram integrados, e nós, como convidados, fomos integrados à oficina. (Informação verbal) 3

Em dezembro de 2010, com o encerramento do ano letivo, propus aos participantes uma oficina aberta, num anfiteatro localizado na Praça Santo Antônio, centro de Maragogi. Para essa atividade, utilizaríamos maquilagem e figurinos. No palco aberto, com uma plateia formada por moradores da cidade e alguns professores, conseguimos realizar uma experiência de exercício teatral junto a um público. (Figuras 03)

2 Depoimento do Professor Flávio Mota Medeiros, Mestre em Engenharia de Software, colhido em vídeo para fins de relatório do NorteArtes em 26 de dezembro de 2012. 3 Depoimento do Professor Carlos Eduardo de Albuquerque Filgueiras, Mestre em História, colhido para este trabalho em para fins de relatório do NorteArtes em 26 de dezembro de 2012.

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No norte alagoano, em busca de arte. Caminhos percorridos pelo projeto de extensão Norteartes Figura 3 – Exercício teatral na Praça de Santo Antônio – Centro de Maragogi

Fonte: Acervo do projeto

No início de 2011, a recém-criada Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) lançou Edital para Projetos de Extensão a serem desenvolvidos nos diversos câmpus do Instituto Federal de Alagoas. Submetemos à PROEX um Projeto denominado NorteArtes, que seria, na verdade, a formalização oficial das ações que já vínhamos desenvolvendo desde o final de 2010. Nogueira (2005, p. 11), ao refletir sobre a extensão no espaço universitário, principalmente a partir da década de 80, traz como aspectos importantes para a compreensão deste tema, a importância da extensão, enquanto “atividade acadêmica, ao lado do ensino e da pesquisa na cadeia produção e difusão de conhecimento. Instrumento que possibilita a democratização do conhecimento e atende a demandas mais urgentes da população”. O Edital PROJET - Programa de Apoio a Projetos de Extensão (2011), lançado pelo Instituto Federal de Alagoas através da ProEx, define a Extensão como “um processo educativo, cultural e científico que, articulado de forma indissociável ao ensino e à pesquisa, viabiliza a relação transformadora entre o IFAL e a sociedade”. E, entre suas diretrizes, o Edital pontuava a contribuição da Extensão para o desenvolvimento da sociedade, constituindo um vínculo que estabelecesse troca de saberes, conhecimentos e experiências para a constante avaliação e vitalização da pesquisa e do ensino. Assim, Integram-se o ensino e a pesquisa às demandas da sociedade, seus interesses e necessidades, estabelecendo mecanismos que inter-relacionem o saber acadêmico e o saber popular, somando-se a isso a contribuição para o desenvolvimento da consciência social, ambiental e política na formação de profissionais-cidadãos. Diretrizes como essas naturalmente coincidiam com os objetivos do Projeto de Extensão NorteArtes. Inicialmente, o Projeto NorteArtes atuaria em Maragogi, com a formação de um grupo teatral e a promoção de outras atividades relacionadas às artes: cinema e intercâmbio cultural com grupos artísticos. O município de Maragogi está localizado no litoral norte de Alagoas e integra a APA Federal Costa dos Corais. Tem uma população com cerca de 24.600 habitantes (conforme dados da prefeitura), e a economia local que tem como principais atividades o turismo, a agricultura e a pesca. Uma das lacunas do município é a pouca disponibilidade de atividades artísticas e recreativas voltadas à comunidade local, além do pouco conhecimento e valorização acerca do seu patrimônio cultural.

Estendendo a extensão

Embora o planejamento de ações em um projeto seja imprescindível, é fato que outros acontecimentos vão redimensionando essas ações e reorientando o próprio projeto. O foco não é perdido, é ampliado. Nosso objetivo inicial era a formação de um grupo teatral em Maragogi e a montagem de um espetáculo. Entretanto, estudantes do IFAL - Maragogi que residiam no município de Matriz de Camaragibe e comunitários daquela cidade – entre estes alguns componentes de um grupo teatral que estava desativado há, pelo menos, dois anos entraram em contato comigo e solicitaram-me que estendesse minhas atividades até àquele município. Não obstante o desafio, a princípio, tenha-me assustado um pouco, pois demandava uma infraestrutura que o Instituto, iniciante em suas atividades naquela região, ainda não tinha condições de oferecer, tais como minha locomoção à Matriz, em finais de semana, e a garantia de um espaço naquela localidade, para que eu pudesse desenvolver as oficinas, aquele pedido sensibilizou-me e estimulou-me a fazer o percurso e enfrentar os desafios. Matriz foi, então, incluída como segundo polo de ações do Projeto NorteArtes. Como a distância entre Matriz e

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Maragogi é de cerca de 50 km, poderíamos dizer que a inclusão de Matriz no Projeto foi uma forma de estender a extensão. (Figuras 04 e 05) Figura 4 – Oficina na rua (Mercado Central) de Matriz de Camaragibe

Fonte: Acervo do projeto Figura 5 – Oficina em uma academia de musculação, cedida provisoriamente. Matriz de Camaragibe.

Fonte: Acervo do projeto

Em 14 de março de 2011, em um evento promovido no câmpus Maragogi, em que contamos com a presença da Direção do Câmpus, da Direção de Ensino, pais, estudantes e jovens da comunidade de Maragogi e Matriz de Camaragibe, oficializamos o início do Projeto NorteArtes, com a exposição de seus objetivos, metodologias e expectativas (Figura 06). Como forma de viabilizar o Projeto, as oficinas com os grupos de Matriz e Maragogi aconteceriam em dias diferentes e em suas próprias cidades. A ideia inicial era montar cenas teatrais, em cada cidade, e criar a possibilidade de junção do que fosse produzido num único espetáculo. Figura 6 – Evento que oficializou o início do Projeto de Extensão NorteArtes

Fonte: Acervo do projeto

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Um processo pedagógico teatral demanda lidar com fatores de natureza diversa. No caso de Maragogi, especificamente, estávamos lidando com jovens e adultos, cuja maioria raramente havia entrado em contato com a prática teatral, seja como participantes, ou público. As representações cênicas, de forma geral, estavam muito relacionadas à observação do que era visto cotidianamente nas novelas televisivas, ou a pequenas dramatizações realizadas em escolas, nos eventos como “semanas culturais”, ou nas igrejas católicas e evangélicas. Tencionar, recriar, reinventar esses modelos prontos como possibilidades de novas descobertas e ressignificações proporcionadas pela arte teatral foi tarefa longa e um tanto árdua. Como naquele processo de aprendizagem teórico-prática do fazer teatral primávamos por produzir um espetáculo que resultasse da sugestão dos integrantes do processo, de seu engajamento, de suas ideias e do resultado de exercícios, a delimitação de um tempo para isso era imprevisível.

Desnorteando e renorteando o NorteArtes

Em meio ao processo que vinha desenvolvendo o Projeto NorteArtes, com as comunidades de Maragogi e Matriz de Camaragibe, deparamo-nos com uma greve deflagrada pelos professores dos Institutos Federais no Brasil, o que significou uma interrupção no trabalho e uma retomada bastante difícil posteriormente. Após a greve, o retorno às atividades sofreu grandes oscilações quantitativas e qualitativas, comprometendo significativamente o processo. Dentre elas, a frequência instável, em Maragogi, de boa parte dos integrantes, gerando, muitas vezes, descontinuidades nos processos de criação, além de acentuarem-se problemas relacionados ao deslocamento dos participantes. Vejamos o que nos relataram dois jovens estudantes sobre as razões que os fizeram abandonar o Projeto: Conciliar as aulas, pela manhã, em Porto Calvo, já que eu estudava à tarde também e para voltar à noite, que era para a aula de teatro, ficava muito difícil. Por isso eu desisti do teatro, mas eu sempre tive vontade de fazer. (Informação verbal) 4 Eu gosto de teatro. O professor ensinava muito bem a gente. A gente fazia várias brincadeiras no teatro, até a gente foi para o Centro de Maragogi, e isso a gente aprendeu a se divertir, ao mesmo tempo, brincar [...] a gente tinha dificuldade de transporte, já que não tinha como se deslocar de Japaratinga até 5 Maragogi, que era muito difícil (Informação verbal) .

Em Matriz, por outro lado, a grande dificuldade dava-se com relação a espaços físicos para realizarmos as oficinas e ensaios. Essa dificuldade chegou mesmo a impedir encontros com o grupo por um mês inteiro. As instituições com as quais tentamos parceria, como escolas municipais e estaduais, naquele momento, apresentavam-nos obstáculos diversos para a realização de nossas atividades. Não era possível precisar a justificativa de tantos descaminhos do Projeto naquele momento. Com certa angústia pessoal, eu buscava, junto aos participantes, levantar dados que pudessem precisar o esfriamento do trabalho e mesmo sua possível descontinuidade: meus procedimentos pedagógico-metodológicos foram incoerentes com aquela realidade? Nossas expectativas de formação de um grupo teatral e montagem de um espetáculo eram irreais? A ampliação do Projeto em duas cidades era ilógica em razão, principalmente, das dificuldades de infraestrutura? No início de 2012, naturalmente desestimulado, em vários momentos, pensei em desistir da Extensão. Os desafios pareciam colocar-se maiores do que minha capacidade de resolvê-los. Além das questões já anteriormente levantadas, outras questões relacionadas à Instituição e, especificamente, à Pró-Reitoria de Extensão deixavam-me bastante incomodado, como, por exemplo, os trâmites burocráticos para a liberação do material que havíamos solicitados desde março de 2011. Importante frisar que, na formatação do Projeto, já deve ser descrito o material necessário que será utilizado na atividade de Extensão. No teatro, por exemplo, esse requisito torna-se um complicador, visto que nessa produção artística é, durante o processo, que vamos definindo cenografia, figurinos, adereços, maquilagem etc. Por outro lado, mesmo o material que havíamos solicitado na formatação do Projeto, chegava-nos por parte e em longos intervalos de tempo. Conversei com o grupo de Matriz e com os poucos participantes que agora integravam o grupo de Maragogi e solicitei um tempo, para tentar ver a possibilidade de viabilizar, ou não, a continuidade do Projeto. 4Depoimento de Wiallis Veríssimo Silveira da Costa, estudante do terceiro ano do Curso de Hospedagem do IFAL-Maragogi, colhido em vídeo para fins de relatório do NorteArtes, em 21 de dezembro de 2012. 5 Depoimento de Janielma Maria dos Santos, estudante do terceiro ano do Curso de Hospedagem do IFAL-Maragogi, colhido em vídeo para fins de relatório do NorteArtes, em 21 de dezembro de 2012.

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Nachmanovitch (1993), ao tratar dos limites que com os quais o artista vê-se obrigado a trabalhar, com instrumentos ou materiais complicados e de difícil manuseio, faz-nos refletir sabiamente que “às vezes amaldiçoamos os limites, mas, sem eles, a arte não é possível. Eles nos proporcionam algo com que trabalhar e contra o que trabalhar” (grifo nosso). Em meados de 2012, tínhamos um grupo em Matriz determinado a encontrar um local adequado para prosseguirmos com nossas atividades teatrais. Por outro lado, dois componentes do grupo de Maragogi insistiam em querer continuar fazendo parte do Projeto e da montagem de uma peça teatral. Acordamos que o Projeto seria transferido de vez para Matriz de Camaragibe, onde encontrávamos um grupo consistente, apesar das dificuldades de espaço, e que os dois participantes de Maragogi fariam parte desse novo processo, já que desejavam continuar. Assim, aos poucos, o grupo foi reconfigurando-se. A partir das oficinas, agora em Matriz, fomos não somente identificando o grupo e seus participantes, como também encontrando uma dramaturgia a ser transformada em espetáculo teatral. Essa dramaturgia resultava de nosso rebuscar de histórias reais que considerávamos interessantes, personagens do nosso cotidiano. Assim sendo, fomos definindo nosso enredo e construindo a peça teatral. A história escolhida tratava de uma paixão virtual, iniciada e encerrada em redes sociais. A paixão intensa, com final quase trágico, conectava-nos à poesia da Segunda Geração do Romantismo Brasileiro e as canções populares denominadas “bregas” dos anos 70 e 80 do século passado. A partir desses elementos, norteamos a construção da montagem teatral. Propondo cenas, a partir de exercícios de improvisação, pesquisa de poemas e canções, chegamos, ao final de 2012, a um título para a peça teatral: “Prometemos não chorar”. O grupo - com antigos e novos membros, comunitários e estudantes de Maragogi e Matriz - retomou seu nome de origem: “O Arrebol”. A peça em fase de montagem, com cenas diversas, embora desconectadas ainda, motivava-nos a criar uma composição, uma estrutura básica para o desenvolvimento do espetáculo. Nesse processo, outros jovens da cidade de Matriz de Camaragibe, que não estavam diretamente ligados ao processo de preparação para atuação no espetáculo, mas desejavam contribuir com suas naturais habilidades: iluminação, cenografia, figurinos, edição musical etc., passaram a integrar o Projeto de Extensão NorteArtes. Importante frisar que, além da formação do grupo de teatro e do processo de criação de um espetáculo teatral, outras ações paralelas foram realizadas pelo Projeto NorteArtes, no período de 2011 e 2012. Entre elas, destacam-se as atividades abaixo descritas e suas respectivas figuras.

Figura 7 - Mostra de filmes no espaço do Instituto

Fonte: Acervo do projeto

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Figura 8 - Apresentação do grupo de dança de rua Free Connection Team - Festival de Cultura - Japaratinga. Grupo de estudantes do IFAL - Maragogi e jovens moradores da cidade que receberam apoio e incentivo do Projeto NorteArtes

Fonte: Acervo do projeto Figura 9 – Apresentação do grupo Companhia do Chapéu (Maceió). Espetáculo Graças, dirigido por Jonathan Albuquerque, baseado na obra de Graciliano Ramos

Fonte: Acervo do projeto Figura 10 – 1ª Mostra de Dança de Matriz de Camaragibe com a parceria do Projeto de Extensão NorteArtes. Realizado na praça central da cidade, com a participação de estudantes dançarinos do IFAL- Maragogi

Fonte: Acervo do projeto

Em 2011, tivemos como bolsista do Projeto NorteArtes Anderson José Zito de Lira, de Maragogi, e, em 2012, Jemeson dos Santos Souza, de Matriz de Camaragibe. Para o ano de 2013, contamos com a colaboração dos bolsistas: Felipe de Cássio Coutinho Wanderlei, de Maragogi, e Josivaldo da Silva, de Matriz de Camaragibe. A seguir será transcrito o depoimento de Felipe de Cássio, residente em Maragogi e que, além de atual bolsista do Projeto, acompanhou a trajetória do trabalho, desde 2011, até o momento presente: Na verdade, eu nunca tive vontade de fazer teatro, mas acabei sendo convidado e convencido pelos meus amigos a participar. Não sabia, ao certo, como funcionava o teatro. Mas, com o passar do tempo, eu acabei gostando. E vi que o teatro envolvia várias coisas que você pudesse imaginar: música, dança etc. Isso me fez gostar muito do teatro. Eu aprendi muitas coisas. Aprendi que o teatro não é só dialogar, é também imaginar o que é possível fazer. Teatro dá possibilidade de fazer qualquer atividade. A arte nos

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dá uma liberdade de conceitos e ideias, de como imaginar o que pode ser feito no teatro. No início, eu tive grandes dificuldades com a fala e com o corpo, mas consegui ultrapassar esses problemas. Hoje estou me sentindo mais à vontade. Poucas vezes eu faltei e, quando eu faltava, sempre tinha um motivo. Minhas expectativas é que o grupo possa se apresentar em vários municípios da região, tendo uma boa popularidade, e as pessoas tenham conhecimento do teatro. Gostaria de citar algumas observações que tive durante esses dois anos em que participo: percebi que aprendi não só sobre teatro, mas criei outras maneiras de imaginar, pensar e distinguir o que é bom, o que vale a pena, uma coisa de qualidade nas artes e o que é ruim (informação escrita)6.

Será transcrito, a seguir, o depoimento de Wellington Costa, integrante do grupo teatral e residente no município de comunidade de Matriz de Camaragibe: Participava do Grupo de Teatro O Arrebol, que no ano de 2007, montou um espetáculo chamado: BemDito Augusto: Por onde anda a poesia? Infelizmente, depois de este espetáculo ter se apresentado por um tempo, este grupo foi desativado. Agora, com o projeto Norte-Artes, do IFAL - Maragogi, este grupo voltou à ativa, claro que com outra roupagem e com alguns novos membros, pessoas que faziam parte do antigo espetáculo saíram e alunos do IFAL estão participando. Montamos agora um novo trabalho, denominado: “Prometemos não chorar” sob a coordenação do prof. Ricardo Araújo. Este trabalho é de suma importância, pois me trouxe de volta à atividade artística e nos traz uma nova visão: uma visão reflexiva sobre coisas de nosso cotidiano. Questiona-nos todo o tempo e neste questionamento nos descobrimos ainda mais, percebemos que somos capazes de coisas que nunca tínhamos antes atentado para tal e vamos buscando, a cada dia, a cada apresentação junto as comunidades a busca pela superação de nossos limites pessoais. (informação escrita)7

Em 2013, fizemos um ensaio aberto da peça teatral na aula inaugural para os nossos alunos do IFAL Maragogi. Finalmente, no mês de abril, estreamos o espetáculo “Prometemos não chorar”, do Grupo teatral “O Arrebol”, na Escola Estadual Maria Antônia, para a comunidade de Matriz de Camaragibe (Figura 11). O espetáculo foi apresentado também para professores que participaram do II Encontro de Linguagens e Códigos (ELIC), no dia 10 de maio, em Maragogi. E, finalmente, começamos a percorrer os municípios da região norte, por onde habitam nossos estudantes do IFAL – Maragogi (Figura 12).

Figura 11 - Estreia do espetáculo teatral Prometemos não Chorar, Grupo O Arrebol, em 12 de abril de 2013, no pátio da escola estadual Maria Antônia – Matriz de Camaragibe

Fonte: Acervo do projeto

6 Depoimento do bolsista do Projeto NorteArtes Felipe de Cássio Coutinho Wanderlei, estudante do Curso de Agro ecologia do IFAL – Maragogi, colhido em relatório manuscrito de avaliação do Projeto para este trabalho, em 20 de junho de 2013 7Depoimento de Wellington Costa da Cruz, comunitário de Matriz de Camaragibe e integrante do Projeto NorteArtes, colhido por escrito para este trabalho, em 20 de julho de 2013.

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Figura 12 - Apresentação para professores da rede municipal, estudantes e comunitários de Porto Calvo em 21 de maio de 2013

Fonte: Acervo do projeto

Pensando o percurso realizado pelo Projeto NorteArtes, durante o período em que se tem desenvolvido, é possível observar que essa experiência traz elementos que instigam à reflexão da incipiente atividade de Extensão no âmbito do Instituto Federal de Alagoas, tais como: a compreensão da prática da Extensão na nova e desafiadora realidade de atuação nos novos câmpus; os caminhos diversos que possam garantir o estabelecimento de vínculos entre escola e comunidade; melhorias na infraestrutura para melhor atender o desenvolvimento de Projetos etc. Por outro lado, é imprescindível ressaltar que a Extensão viabilizou e tem viabilizado a existência de Projetos diversos no âmbito do IFAL Maragogi, como é o caso do NorteArtes, contribuindo sobremaneira para a produção e ampliação do conhecimento prático-teórico em diversas comunidades do Estado de Alagoas atendidas pelos Institutos Federais. Compreende-se que a Extensão possibilita a democratização do conhecimento, pois transpõe o espaço escolar oficial e estabelece vínculos e troca de saberes com a comunidade. a partir de suas necessidades específicas, produzindo conhecimentos que beneficiam a todos os envolvidos no processo. Compreende-se, ainda, que a Extensão é um processo educativo, cultural e científico que viabiliza uma ação transformadora entre a instituição escolar e a sociedade. A partir dessas reflexões, é possível identificar na atuação do Projeto NorteArtes – em seu percurso repleto de desafios e superações – a permanente busca de diálogo de saberes entre escola e comunidade, mediado principalmente pela atividade teatral. Ao atuar no teatro, adquirem-se os conhecimentos próprios dessa expressão artista: a cena, a marcação cênica, a dramaturgia, a cenografia, o figurino, a sonoplastia, a iluminação. Ao realizar teatro junto à comunidade, fomenta-se a produção cultural, possibilita-se o divertimento, a aprendizagem advindos desta expressão artística. Como já asseverava Brecht (1978), “[...]“aprender” e “divertir-se” não podem ser tratados como coisas opostas. Não é uma oposição necessária por natureza. Aprender é útil e divertir-se é agradável”. Ou, ainda: Embora o teatro não deva ser importunado com toda sorte de temas de ordem cultural que não lhe confiram um caráter recreativo, tem plena liberdade de se recrear com o ensino ou com a investigação. Faz com que as reproduções da sociedade sejam válidas e capazes de influenciá-la, como autêntica diversão. Expõe aos construtores da sociedade as vivências dessa mesma sociedade, tanto passadas como atuais; mas fá-lo de forma que se possam tornar objetos de fruição os conhecimentos, os sentimentos e os impulsos que aqueles que dentre nós são os mais emotivos, os mais sábios e os mais ativos, extraem dos acontecimentos do dia a dia e do século. É nosso propósito recreá-los com a sabedoria que advém da solução de problemas, com a ira em que se pode proveitosamente transformar a compaixão pelos oprimidos, com o respeito pelo amor de tudo o que é humano (BRECHT, 1978, p. 109).

E Lopes já nos alertava que, pelo teatro: [...] flagramos a realidade e podemos chegar a compreender que ele é um universo tão versátil como nós, atuantes de uma história, que se desenvolve, lentamente, em todos os níveis de demonstração da vida humana. Nele vemos o universo reinventado como uma nova carga de emoção. Comediantes e espectadores recriam as relações humanas, reinventado a si mesmos (LOPES, 1989, p. 23).

Tendo o teatro como sua principal atividade de Extensão, o Projeto NorteArtes tem buscado caminhos que possam fortalecer essa permanente produção de conhecimento humano-artístico-cultural junto à comunidade de Maragogi, Matriz de Camaragibe e outros municípios alagoanos.

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Referências

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Linguagens, códigos e suas tecnologias 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01_internet.pdf> . Acesso em: 1 jun. 2013. BRECHT, Berthold. Estudos sobre teatro. Coleção Logos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978 FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS. Edital PROJET 2011. Maceió: Pró-Reitoria de Extensão/PROEX, 2011. LOPES, Joana. Pega Teatro. Campinas: Papirus, 1989. MOURA, Dante Henrique; GARCIA, Sandra Regina de Oliveira; RAMOS Marise Nogueira. Educação profissional técnica de nível médio integrada ao ensino médio – Documento Base - 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/documento_base.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2013. NACHMANOVITCH, Stephen. Ser criativo: o poder da improvisação na arte e na vida. São Paulo: Summus, 1993. NOGUEIRA, Maria das Dores Pimentel. Políticas de Extensão Universitária Brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. ROCHA, Vera Lourdes Pestana. Novas Diretrizes Curriculares: Novas práticas ensino de teatro. In: SANTANA, Arão Paranaguá de (Coord.); SOUZA, Luiz Roberto de; RIBEIRO, Tânia Cristina Costa. Visões da Ilha: apontamentos sobre Teatro e Educação. São Luiz: UFMA, 2003.

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PIMI: PROGRAMA DE INICIAÇÃO A MATEMÁTICA NAS REDES ESTADUAL E MUNICIPAL

Carlos Argolo Pereira Alves1 José Monteiro de Lemos Neto2 Josias Alves Rocha Junior3 Pedro Henrique Silva de Almeida 4

Resumo Projeto que pretende facilitar a relação do aluno com a matemática, que muitas vezes não é muito “amigável” ou não é aceita. O espírito que fundamenta este projeto (PIMI) é o de compartilhar os conhecimentos de alunos de escola federal com outros alunos do ensino público, através de encontros presenciais em escolas estadual, municipal e no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) Câmpus Maceió em que alguns alunos deste ministram aulas de matemática voltadas principalmente às olimpíadas de matemática (OBMEP, OBM, OAM, Olimpíada Canguru), robótica (OBR), física (OBF e OBFEP), astronomia (OBA) e o exame seletivo do Instituto Federal de Alagoas. Palavras-chave: Ensino. Público. Matemática. IFAL

Abstract This project that aims to facilitate the student's relationship with mathematics, which is often not very "friendly" or is not supported. The project (PIMI) is based on sharing the knowledge of students from federal schools with students from other public schools, through meetings at state schools, city public and Istituto Federal de Alagoas (IFAL) Campus Maceio where students teach Math classes toward Math Olympics (OBMEP, OBM, OAM, Olimpíada Canguru), robotics (OBR), astronomy (OBA) and selective tests from the Institute Federal de Alagoas. Keywords: Teaching. Public. Mathematics. IFAL.

1

Professor IFAL, Câmpus Maceió - argolo@ifal.edu.br Aluno do curso Técnico Integrado de Edificações IFAL, Câmpus Maceió - monteirinho.lemos@hotmail.com 3 Aluno do curso Técnico Integrado de Mecânica IFAL, Câmpus Maceió - josiasalves@hotmail.com 4 Aluno do curso Técnico Integrado de Mecânica IFAL, Câmpus Maceió - almeida.phsde@gmail.com 2


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Introdução

O projeto PIMI - Programa de Iniciação a Matemática nas Redes Estadual e Municipal de Ensino originou-se no IFAL - Câmpus Maceió. Atualmente, o projeto está presente em cinco pólos espalhados por escolas de Maceió e é voltado para alunos do ensino fundamental da rede pública de ensino, além do próprio Instituto Federal de Alagoas Câmpus Maceió, interagindo com alunos do ensino médio. Os diretores e professores dessas escolas abraçaram este projeto e o ajudam a dar certo.

Ideal Olímpico

O PIMI tem como principal objetivo estimular os alunos a aprender matemática através das olimpíadas. Acreditamos que essas competições estimulam a criatividade dos alunos, chegando a despertar grandes talentos. Apesar de usar como meio de aprendizagem a matemática, o PIMI não se limita ao treinamento somente para olimpíadas de tal matéria, pois incentivamos os participantes do projeto a também conhecerem a astronomia (Olimpíada Brasileira de Astronomia - OBA) e a robótica (Olimpíada Brasileira de Robótica - OBR) que são de grande valia para os alunos por trabalharem o raciocínio lógico e o desenvolvimento de suas habilidades matemáticas de maneiras diferentes das utilizadas em sala de aula, possibilitando que o aluno perceba quão a matemática está próxima a ele e ao seu dia-a-dia. Consequentemente, esperamos mostrar o potencial das escolas públicas, que fica mascarado por conta da popularidade negativa da educação alagoana.

PIMI: de aluno para aluno

A partir do ideal de alunos apaixonados por matemática, no ano de 2003, nascia o PIMI. Inicialmente sob o título de Programa Independente de Matemática Integrada, cuja sigla é usada até hoje. O programa consiste na ideia de alunos compartilhando conhecimentos matemáticos entre si através de aulas ministradas por alunos mais experientes. O PIMI foi uma iniciativa dos alunos Igor Magalhães e Davi Lima, primeiros a ministrarem o treinamento olímpico aos demais estudantes do então Centro Federal de Educação Tecnológica, atualmente Instituto Federal de Alagoas Câmpus Maceió. Tal iniciativa somente obteve êxito devido à confiança e ajuda dadas pelo Prof. Dr. Carlos Argolo, orientador dos alunos e fundador do projeto e a assistência do atual magnífico reitor Sérgio Teixeira Costa.

PIMI: Projeto de Extensão

Em 2003, houve uma tentativa de expansão do projeto PIMI para além do CEFET, sendo Davi, encarregado desta tarefa, indo dar aulas na escola Estadual Brandão Lima, mas após algumas aulas, apareceram algumas dificuldades e acabou tornando-se inviável essa 1° expansão, contudo o projeto continuou internamente. Em 2011, surgiram os projetos de extensão nos Institutos Federais, com isso a chance de tentar expandir novamente o PIMI para além do, agora, IFAL e tentar conseguir resultados não só no Instituto Federal de Alagoas, mas em escolas estaduais e municipais, logo o PIMI- Programa Independente de Matemática Integrada passou a se chamar PIMI - Programa de Iniciação à Matemática nas Redes Estadual e Municipal de Ensino.

Equipe de bolsistas

No primeiro ano como projeto de extensão, dois alunos que faziam parte do grupo do PIMI, José Monteiro, do curso de Edificações e Josias Alves, do curso de Mecânica, sendo ambos do IFAL Câmpus Maceió, se tornaram bolsistas de extensão e ficaram responsáveis por ministrar as aulas em duas escolas municipais,

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PIMI: programa de iniciação a matemática nas redes estadual e municipal

sendo elas: a Escola Municipal Silvestre Péricles, no bairro do Pontal da Barra, e a Escola Municipal Pio X, no bairro do Prado, e em uma escola estadual a Escola Estadual Professora Maria das Graças de Sá Teixeira, essas três escolas tinham como professor Messias Antônio da Silva, que ajudou bastante aos dois alunos e apoiou toda a iniciativa do PIMI. No ano de 2012, o PIMI continuou no IFAL, na Escola Municipal Silvestre Péricles e na Escola Estadual Professora Maria das Graças de Sá Teixeira, já neste ano de 2013, são três alunos bolsistas que são: José Monteiro, Josias Alves e o novo aluno Pedro Henrique Silva de Almeida, que cursa Mecânica também no IFAL Câmpus Maceió, e as escolas são Escola Municipal Silvestre Péricles, Escola Estadual Professora Maria das Graças de Sá Teixeira, Escola Estadual Padre Cabral e Estadual Julieta Ramos Pereira, em Paripueira.

Metodologia

Antes do programa se tornar Projeto de Extensão eram ministradas em média duas aulas por semana, cada uma tendo três horas de duração, no IFAL Câmpus Maceió como fora dito. As aulas tinham como foco o treinamento para diversas olimpíadas, principalmente as de Matemática, os alunos despertavam a curiosidade em outros alunos através de problemas trazidos para as reuniões, onde estes eram discutidos e resolvidos de diversas formas, mostrando aos alunos abordagens diferentes sobre um mesmo problema. Hoje, além do treinamento para as olimpíadas no IFAL, são ministradas quatro aulas por semana distribuídas entre quatro colégios estaduais e municipais tendo cada uma delas duas horas de duração, focando não só olimpíadas, mas também o exame de seleção do IFAL. Os bolsistas ministram as aulas trabalhando assuntos que julgam necessários tanto para despertar o interesse dos alunos para a matemática quanto para prepará-los para o exame de seleção, desenvolvendo a teoria expressa em quadros brancos e projetores, praticando em problemas. Fora de sala de aula, os alunos já participaram de diversos eventos relacionados à tecnologia como o CAIITE e a IV Semana de Tecnologia do Instituto Federal de Alagoas, incentivando-os a seguir uma carreira científica através do contato com uma pequena mostra do produto dessa carreira.

Resultados

Nas figuras 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 mostramos alguns resultados já conseguidos pelos alunos do IFAL Câmpus Maceió ao longo das olimpíadas desde 2003, na qual mostramos na figura 1, o aluno bolsista Murilo Vasconcelos de Andrade (campeão da OBM) medalha de ouro nacional e várias medalhas em campeonatos mundiais, ao lado do seu pai à direita, e o professor Argolo à esquerda. Na figura 2, mostramos Igor Magalhães que em 2005 recebe a primeira medalha de ouro na OBMEP do IFAL. A Figura 3, mostra o aluno bolsista Alan Anderson da Silva recebendo a medalha de ouro do presidente Lula, referente a Olimpíada de 2007. Na figura 4, o mesmo aluno Alan, do IFAL recebendo em 2009 a medalha de ouro referente a olimpíada OBMEP de 2008. Na figura 5, mostra o aluno Weverton Marques, bolsista, recebendo agora a medalha de ouro da OBMEP 2010 da mão da presidente Dilma Roussef, referente à olimpíada de 2011. Na figura de número 6, o aluno Eduardo Santos Silva, bolsista, recebe medalha de ouro na OBMEP 2011, da mão da presidente Dilma Roussef. Na figura 7, João Victor da Silva, recebe em junho de 2013, a medalha de ouro da OBMEP 2012. Na figura 8, o Professor Doutor Carlos Argolo, recebe também em junho de 2013, a homenagem como professor premiado na OBMEP 2012. Os alunos e professor receberam as medalhas dos ministros Aloísio Mercadante (Ministro da Educação) e Marcos Antonio Haupt (Ministro da Ciência e Tecnologia). Nas figuras 9 e 10 mostramos os alunos Monteiro e Josias ministrando aulas nas escolas do município, Escola Silvestre Péricles e do Estado, Escola Estadual Professora Maria das Graças de Sá Teixeira respectivamente, dando treinamento aos alunos. Além destes resultados, foram aprovados oito alunos do projeto no exame de seleção do IFAL, dois foram premiados com menção honrosa na OBMEP, uma aluna foi aceita para curso profissionalizante do SENAI e dois alunos receberam bolsas de iniciação científica cedidas pela UFAL.

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Conclusão

Acreditamos que este projeto pode melhorar o desempenho dos estudantes de escolas da rede estadual e municipal, para que possamos também melhorar a colocação do nosso país não só quanto a IMO (International Mathematics Olympiad), mas também outras olimpíadas científicas. Ultimamente, o Brasil não tem se destacado bem nas avaliações internacionais e olimpíadas do conhecimento em geral, particularmente, em linguagens e códigos e matemática. Esperamos que iniciativas como estas consigam melhorar as futuras avaliações internacionais e nacionais (Prova Brasil, ENEM, ENAD, etc.) realizadas pela Organização das Nações Unidas e pelo próprio Ministério da Educação do Brasil.

Referências

J. CORCHO, Adán; E. ECHAIZ, Fernando; OLIVEIRA, Krerley. Olimpíada de Matemática: uma introdução. J. CORCHO, Adán; OLIVEIRA, Krerley. Equações, Inequações e Desigualdades (Estágio dos Alunos Bolsistas – OBMEP 2005); Problemas e Resoluções de Olimpíadas de Matemática ao Redor do Mundo – 1995/1996. Programa de Iniciação Cientifica OBMEP 1-8. Arthur Engel, Problem-Solving Strategies – Spring.

Anexos

Figura 1 - Murilo Vasconcelos de Andrade ao lado do seu pai a direita, e o professor Argolo, a esquerda

Figura 2 - Igor Magalhães 1ª medalha de ouro do Instituto Federal de Alagoas (2005)

Fonte: Acervo do Projeto Fonte: Acervo do Projeto

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PIMI: programa de iniciação a matemática nas redes estadual e municipal

Figura 3 – Alan Anderson recebe sua 1° medalha de ouro na OBMEP 2008

Fonte: Acervo do Projeto Figura 4 – Alan Anderson recebe sua 2° medalha de ouro na OBMEP 2009

Fonte: Acervo do Projeto Figura 5 – Weverton Marques recebe medalha de ouro na OBMEP 2010

Fonte: Acervo do Projeto Figura 6 –Eduardo dos Santos, a esquerda, recebe medalha de ouro na OBMEP 2011

Fonte: Acervo do Projeto

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Revista EXTIFAL Figura 7 – João Vitor da Silva, recebe medalha de ouro na OBMEP 2012

Fonte: Acervo do Projeto Figura 8 – Professor Doutor Carlos Argolo coordenador do PIMI, recebe homenagem como professor premiado na OBMEP 2012

Fonte: Acervo do Projeto

Figura 9 - Bolsista José Monteiro na Escola Silvestre Péricles, 2011

Fonte: Acervo do Projeto

Figura 10 - Bolsista Josias Alves à direita, e Professor Messias à esquerda, na Escola estadual professora Maria da Graças de Sá Teixeira

Fonte: Acervo do Projeto

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POESIA NA PONTA DOS DEDOS: A INCLUSÃO DO TEXTO POÉTICO NA EDUCAÇÃO DE SURDOS

Jaqueline Soares dos Santos1 Jones Dias de Almeida2 Fábio José dos Santos 3

Resumo Este artigo apresenta uma experiência de inclusão do texto poético na educação de surdos, desenvolvida a partir de um projeto de extensão realizado com estudantes surdos da rede estadual de ensino da cidade de Maceió-AL, no primeiro semestre de 2012. O projeto nasceu da necessidade de se levar a poesia – ferramenta de humanização – para a comunidade surda, através da leitura e produção de textos em Libras, com vistas a garantir, entre outros, a ampliação dos conhecimentos de mundo dos sujeitos envolvidos e o potencial expressivo de sua língua materna. Percebemos que o trabalho com a poesia entre os surdos pode contribuir, também, para a socialização do grupo e o senso de pertença à comunidade, o que auxilia no processo de construção da identidade linguística e da formação cidadã dos sujeitos. Palavras-chave: Cultura surda. Poesia em Libras. Cidadania.

Abstract The aim of this paper is to relate the experience of including poetry in a project named “Poesia na ponta dos dedos: a inclusão do texto poético na educação de surdos”, which involved deaf students from public schools in Maceió-Al, during the first semester of 2012. This project comes from the need of reading and producing poetry in the deaf community, using the Libras (Brazilian signs language) in order to lead the students to spread their background knowledge and the expressive potential of their mother tongue. It was observed that using poetry in deaf education can also contribute to the sense of group and raise identity feelings, which helps subjects to develop their citizenship. Key-words: Deaf Culture. Poetry in Libras. Citizenship.

1 Tradutora-intérprete de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS; Bolsista do PIBID. Aluna do IFAL, Câmpus Maceió jacksoares77@hotmail.com 2 Licenciando em Letras-Português pelo IFAL, Câmpus Maceió; Bolsista do PIBID - jones_d.a@hotmail.com 3 Doutor em Estudos Literários pela UFAL; Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no IFAL, Câmpus Maceió santosfabiojose@hotmail.com


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Introdução

De acordo com o censo do IBGE 2010, no Brasil há 2,1milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, das quais 344,2 mil são surdas. Apesar do número expressivo de sujeitos surdos no país, infelizmente a demanda por texto literário na formação desses sujeitos não tem resultado em ações afirmativas que consigam responder de forma satisfatória à realidade que se impõe nessa comunidade. Esse quadro decorre, sobretudo, da ausência de obras literárias adaptadas para a Libras e, também, da falta de poesias criadas pelos próprios sujeitos surdos, a partir de seu próprio lugar, que pressupõe uma cultura própria. Concorre, ainda, para agravar essa situação a falta de conhecimento dos docentes sobre a poesia em Libras e suas especificidades, déficit do qual resulta falta de metodologia adequada para o trabalho com o texto poético com esse público. De fato, existem vários entraves na educação de surdos, os quais geram uma grande lacuna no processo de ensino-aprendizagem desses sujeitos, pois não há o fomento para o desenvolvimento das potencialidades expressivas da Língua Brasileira de Sinais4, ainda mais quando se trata da leitura e da produção de textos da esfera discursiva literária. Certamente, isso gera alguma defasagem de conhecimento na formação dessas pessoas, já que a arte – espaço de ação da subjetividade e da percepção privilegiada do mundo – deixa de ser, para essa parcela da sociedade, um lugar de troca de saberes e de construção da cidadania. A poesia parte do mundo, ela apresenta de forma singular a vida, a sociedade, a cultura e a história; ela também serve como ferramenta para a geração de conhecimento, confronto de ideias e produção/transformação de conceitos e preconceitos. A poesia se liga à nossa capacidade de criação e comunicação e, além disso, constitui um espaço de geração de novas modalidades comportamentais e interacionais dos sujeitos consigo mesmos e com o outro. Partindo dessas ideias, objetivamos expor neste trabalho uma experiência de atividade com o texto poético na educação de surdos, desenvolvida por meio do projeto de extensão “Poesia na ponta dos dedos: a inclusão do texto poético na educação de surdos”. O projeto teve como público-alvo estudantes surdos de uma escola estadual situada em Maceió e envolveu dois alunos bolsistas do curso de Licenciatura em Letras do Instituto Federal de Alagoas, sob a orientação de um professor de Teoria da Literatura do referido curso. Aqui, apresentamos os resultados das atividades realizadas, enfatizando a relevância desse tipo de trabalho para o processo de aquisição da língua pelos estudantes, para a socialização do grupo e, também, para o reforço/construção dos vínculos identitários do surdo com sua língua – o que concorre para a sua formação cidadã.

1 O surdo, a linguagem, o mundo

Sabemos que o contato social é um elemento imprescindível na aquisição da linguagem, pois é através da interação que as pessoas vão construindo seus saberes sobre o mundo, intersubjetivamente. Relativamente ao desenvolvimento da linguagem do surdo, podemos dizer que ainda há muito a ser explorado, sobretudo no tocante ao ensino-aprendizagem da Libras nas escolas. Não podemos deixar de lado essa reflexão, sobretudo porque o conhecimento sobre o processo de aquisição da linguagem pelo surdo pode nos auxiliar na construção de metodologias mais eficazes para o desenvolvimento de suas potencialidades individuais e coletivas. Lembremos: as pessoas se constituem através da linguagem. Pensar sobre as relações intersubjetivas dos sujeitos com surdez é uma ação que pode promover uma maior inserção desse público na vida social. Por isso mesmo, essas questões não podem ser negligenciadas quando vamos trabalhar com esse público. 4 Para se ter uma dimensão de como se tem pensado relativamente pouco acerca dessa língua, basta refletirmos sobre o fato de que, somente em 202, a Libras se torna, do ponto vista legal, como meio de comunicação e expressão no Brasil (Cf. Lei nº 10. 435/2002). Isso não significa dizer que a Libras só começa a existir depois de 2002, mas o amparo legal lhe garante a visibilidade necessária para que os olhares da academia, da sociedade e do governo se voltem para ela, como um objeto que merece reflexão. Sobre isso, Gesser (2009, p. 8-9) afirma: “[...] é a legalidade da língua que confere ao surdo alguma 'libertação' e distanciamento dos moldes e representações até então exclusivamente patológicos. Tonar visível a língua desvia a concepção da surdez como deficiência – vinculada às lacunas na cognição e no pensamento – para uma concepção da surdez como diferença linguística e cultural.”

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Poesia na ponta dos dedos: a inclusão do texto poético na educação de surdos

No caso das pessoas com surdez, há certas especificidades que intervêm no processo de aquisição da linguagem. Para que se dê o desenvolvimento da linguagem do surdo, ele deve ser estimulado pelo olhar, que é uma ferramenta fundamental na sua comunicação, como bem observa Pimenta (2006, p. 14): “Os surdos pensam, sonham, planejam as coisas na língua de sinais, que é uma língua visual-espacial ou visual-gestual. Os surdos veem a língua, enquanto os ouvintes ouvem a língua.” Assim, o espaço visual e a forma como ele é explorado determinarão a porcentagem de sucesso do trabalho com esse público. Falar sobre a aquisição de linguagem é lidar com um processo que é, por excelência, relativo, já que ele nunca é experimentado da mesma forma pelas pessoas. Sabemos apenas que o tempo de aquisição da língua tem um período dividido em princípio, meio e fim. Apesar das diferenças que há entre as pessoas, é certo que, quanto mais cedo e quanto mais contato elas tiverem com situações de interação – que só acontecem na linguagem –, mais chances também terão de desenvolver sua linguagem, nos mais variados contextos de comunicação. O campo do imaginário e a noção de concretude têm grande importância quando se fala em Libras. É através da produção e percepção de dados, conceitos palpáveis que o surdo traz à tona suas ideias sobre determinado mundo. Quanto mais houver expressividade e mais visibilidade do que se pretende abordar, mais ele poderá ter recursos para a leitura e para a produção de textos. O nosso senso de cognição está diretamente ligado a nossa capacidade de produzir ideias, e, para o sujeito surdo, o campo cognitivo é organizado a partir das imagens que são impressas, as quais, para serem mais bem compreendidas, precisam ser aliadas à expressividade do dizer/sinalizar. Os conceitos abstratos, como o amor (de amigo, de família ou erótico), são elementos que costumam trazer certa dificuldade de compreensão por parte dessa comunidade – o que não significa dizer que a comunidade surda não lida com abstrações. Tudo isso nos faz refletir sobre a necessidade de se compreender melhor a linguagem dos surdos. Tratase de uma atitude necessária para efetiva integração desses sujeitos na partilha dos bens culturais e sociais a que eles também têm direito. Se entre o mundo e os sujeitos a linguagem se faz presente, como instrumento de mediação, faz-se necessário pensar em novas metodologias de contato da comunidade surda com o espaço à sua volta, sob pena de estarmos negando a essa parcela da população seu direito à cidadania. A inserção do texto poético na formação desses sujeitos pode, nesse sentido, constituir uma ferramenta de grande importância para esse fim.

2 Poesia em Libras? Por mais que uma sociedade como a nossa – fundamentada na ideia de consumo e orientada para a conservação de um status quo que visa a manter a hegemonia do capital sobre o humano – teime em insistir na noção de que o bem material está acima do patrimônio cultural, não podemos negar que sempre tem havido uma fala no sentido contrário a esse pensamento. Esta última posição, em geral, caracteriza-se essencialmente por estar preocupada em transformar o modelo de sociedade vigente, apregoando uma nova forma de conceber o sujeito na sua relação com os outros e com o mundo a sua volta. Para tanto, tem-se buscado valorizar aqueles aspectos que, nesta conjuntura político-econômico-social, são colocados em segundo plano, como é o caso da educação para a cidadania e o acesso a bens culturais imprescindíveis para o nosso bem-estar, como o direito ao lazer, à leitura, à livre expressão e à arte. O acesso ao patrimônio cultural e às mais variadas formas de expressão artística não é algo que deva ser considerado um direito de importância inferior, para o qual só se empregam as sobras dos investimentos nas outras esferas da vida social. Não se trata aqui de reclamar um bem que, sem prejuízo, poderia ser negado ao sujeito. Sabemos que a arte é mais que um bem supérfluo: ela responde a uma necessidade existencial dos sujeitos, já que, nas palavras de Fischer (1976, p. 12), […] o homem quer ser mais do que apenas ele mesmo. Quer ser um homem total. Não lhe basta ser um indivíduo separado; além da parcialidade da sua vida individual, anseia uma “plenitude” que sente e tanta alcançar, uma plenitude de vida de vida que lhe é fraudada pela individualidade e todas as suas limitações [...]

É exatamente aí que atua o poder transformador da arte, uma vez que ela “é o meio indispensável para essa união do indivíduo com o todo; reflete a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e ideias.” (FISCHER, 1976, p. 13) Aí também se inscreve o direito à literatura, compreendida numa acepção ampla que engloba “todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de

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uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis de produção escrita das grandes civilizações. (CANDIDO, 1995, p. 242) Aproveitando as contribuições do sociólogo francês Joseph Lebret, Candido (idem, ibidem, p. 240) faz uma distinção entre os “bens compreensíveis” (aquilo que não é imprescindível à subsistência do sujeito: cosméticos, enfeites etc.) e os “bens incompreensíveis” (os que não podem ser negados: casa, roupa, alimento etc.). Para esse autor, além do direito a elementos materiais, tais como o alimento, a moradia e o vestuário, também se constituem “bens incompreensíveis” os bens imateriais que, igualmente, contribuem para garantir ao sujeito aquelas condições mínimas favoráveis à sua inscrição como cidadão no universo em que se insere. É aqui que entra “o direito à crença, à opinião, ao lazer e, por que não, à arte e à literatura.” (idem, p. 241) Isso pressupõe a compreensão segundo a qual “a literatura [...] parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito.” (idem, ibidem, p. 242) Essa necessidade do contato dos sujeitos com a literatura se faz ainda mais importante na medida em que o texto literário é capaz de confirmar e de negar, ao mesmo tempo em que constitui o lugar da proposta e da denúncia, e, ainda, serve para apoiar ou combater, fornecendo-nos a possibilidade de vivermos dialeticamente nossos problemas. Tudo isso decorre do fato de que a literatura, nas suas mais variadas funções,5 tão complexas quanto a sua natureza, coloca-nos diante de múltiplas possibilidades de satisfação das nossas necessidades, que vão desde aquelas associadas à sua inscrição como objeto autônomo de valor estético, até a sua configuração como forma específica de conhecimento do mundo e de expressão pessoal e social. Por tudo isso, é preciso entender, com Candido (idem, p. 249), que a literatura nos humaniza, isto é, contribui no […] processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor.

Ora, falar em produção e recepção de arte na comunidade surda ainda é, infelizmente, aproximar-se de uma seara pouquíssimo explorada. Os textos literários disponíveis em Libras são bastante escassos. E, quando há, tem-se preferido fazer a tradução de textos do português para a Libras, o que nem sempre proporciona um material capaz de tocar o surdo naquilo que sua cultura tem de particular. Ademais, as escolas inclusivas – como a maioria das nossas instituições de ensino – tendem a deixar de lado as atividades que têm como centro o trabalho com a emoção e o prazer estético. Apesar da precariedade desse quadro, a poesia em Libras existe. Há poetas surdos, que compõem suas poesias nessa língua, para leitores que são igualmente surdos. Importa dizer que, do ponto de vista estético, a poesia em Libras, apesar de suas particularidades, lida com os mesmos traços de construção das demais línguas, como bem observam Sutton-Spence e Quadros (2006, p. 112): A poesia em língua de sinais, assim como a poesia em qualquer língua, usa uma forma intensificada de linguagem [...]. A linguagem nos poemas está em primeiro plano, determinada pela sua projeção que se origina da sua diferença em relação à linguagem cotidiana. A linguagem pode ser projetada de forma regular, uma vez que o poeta usa recursos e sinais já existentes na língua com excepcional regularidade, ou pode ser projetada de forma irregular, uma vez que as formas originais e criativas do poeta trazem a linguagem para o primeiro plano. A linguagem no primeiro plano pode trazer consigo significado adicional, para criar múltiplas interpretações do poema.

O fato é que esse trabalho ainda é pouco divulgado. Quando se trabalha a literatura entre os surdos, temse privilegiado atividades de contação de histórias e encenação de peças – o que já constitui um dado positivo. Mas é preciso, também, levar a poesia a esses sujeitos, seja para a fruição, seja para que eles mesmos se ponham na condição de produtores de poemas em sua língua materna. A poesia lida com a emoção, a imaginação e os sentimentos. Ela pode configurar um excelente espaço para a partilha de experiências entre as pessoas, razão por que o surdo não pode ficar alijado de seus benefícios. Nosso projeto nasceu dessa certeza. São seus efeitos que passamos a relatar a seguir.

5 Em “Literatura e sociedade”, Candido distingue, no texto literário, a função total (que torna o texto um patrimônio universal), a função ideológica (relativa às escolhas operadas pelo autor, na sua relação com o público), e a função social da obra, associada ao papel que o texto desempenha “no estabelecimento das relações sociais, na satisfação de necessidades espirituais e materiais, na manutenção ou mudança de uma certa ordem na sociedade.” (CANDIDO, 2000, p. 41)

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Poesia na ponta dos dedos: a inclusão do texto poético na educação de surdos

3 Uma experiência com o texto poético junto à comunidade surda de Maceió O projeto “Poesia na ponta dos dedos: a inserção do texto poético na educação de surdos” foi desenvolvido nas dependências do Instituto Federal de Alagoas - Ifal Câmpus Maceió, com 20 jovens surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais. Todos estavam cursando as séries finais do ensino fundamental ou o ensino médio. Tivemos como objetivo principal garantir a cidadania a esses discentes por meio do acesso à poesia, respeitando suas idiossincrasias linguísticas e culturais. Para tanto, adotamos uma metodologia eminentemente visual, pois é por meio desse canal que os surdos obtêm, compreendem e absorvem plenamente as discussões que lhes são propostas. Em nossos encontros, para melhor absorção dos conteúdos trabalhados, utilizamos diferentes recursos tecnológicos, entre os quais máquina filmadora, câmera fotográfica, notebook e data-show. Todos os encontros tiveram a Libras como forma de comunicação, o que garantiu a criação de um ambiente comunicativo favorável à socialização do grupo. Primeira etapa A partir do entendimento segundo o qual há um cultura surda, manifesta, sobretudo, através das peculiaridades da sua língua, elaboramos e adaptamos algumas poesias disponíveis em alguns materiais didáticos ou na internet, que, posteriormente, foram filmadas e editadas com legendas em língua portuguesa, para serem exibidas aos integrantes do grupo. Nosso intuito era oferecer poemas produzidos em formatos diversos, a fim de que eles pudessem se familiarizar com as possibilidades de produção desse gênero textual. Aproveitamos esse momento para levar temáticas diferentes para o grupo, que também opinou sobre os assuntos que mais lhe interessavam, os quais também foram discutidos nos encontros. Os temas foram apresentados por meio de slides com diversas imagens. A partir da visualização desse material, o grupo deveria ligar os temas ao seu cotidiano, deixando, assim, emergirem os sentidos latentes na relação entre texto e contexto. Nesse momento, os estudantes foram levados a perceber de forma poética os assuntos que pululam a vida social; isso fez com que os sujeitos observassem que há possibilidades diversas – e criativas – de lidar com o mundo ao seu redor. Foram feitas leitura de poesias produzidas por autores surdos brasileiros, sendo abordada, também, a questão do respeito à cultura surda. Aí entrou, por exemplo, a reflexão sobre a Libras, como uma forma de garantir a identificação dos estudantes com sua língua materna, com todas as implicações culturais que ela envolve. Observar os textos poéticos produzidos por sujeitos surdos favoreceu a percepção de que o surdo também pode criar poemas. Aliamos a essa ação o desenvolvemos das habilidades de percepção e fruição dos recursos artísticos associados aos potenciais expressivos da língua brasileira de sinais, presentes nos textos que selecionamos para levar para os encontros. Nesse momento, enfatizamos a importância da expressividade pressuposta na linguagem poética em geral e como, no caso da Libras, os gestos e a forma de olhar podem fazer toda diferença nos sentidos suscitados pelos textos. A ideia era mostrar ao grupo que a comunidade surda é capaz de produzir poesias com propriedades expressivas que os poemas em língua portuguesa não possuem. A observação dos textos que levamos para os encontros garantiu aos estudantes os modelos em que poderiam se inspirar para a composição de seus próprios poemas - fase que sucedeu os momentos de leitura/fruição dos textos existentes. Segunda etapa Após a primeira etapa, que constituiu o assentamento das bases discursivas para o contato com essa nova forma de comunicação, a literária, desenvolvemos várias atividades de preparação para o grupo começar a produzir seus próprios textos, assumindo, agora, o lugar da autoria. Essas atividades compreenderam oficinas de criação, envolvendo o trabalho com a expressividade, a teatralização, a pintura e o movimento corporal, como podemos ver nas figuras abaixo:

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Revista EXTIFAL Figura 1 – Atividades corporais

Figura 2 – Atividades corporais

Fonte: Autores

Fonte: Autores

Essa segunda fase foi de suma importância no processo de desenvolvimento das habilidades necessárias para que o grupo se sentisse preparado para se apossar do direito de voz que lhe estava sendo concedido. Isso nos auxiliou a desmistificar o texto poético entre os estudantes, já que, para eles, poesia era um tipo de texto que aparecia como um evento linguístico abstrato, sem um referente real e, portanto, difícil de ser compreendido. A visualização das imagens e as oficinas de expressão garantiram ao grupo a acesso a variadas sensações e experiências e, assim, ficou mais fácil perceber como se dá o processo de construção dos sentidos dos textos na comunicação poética. É preciso dizer, ainda, que através das diferentes metodologias utilizadas, promovemos o intercâmbio de experiências entre os sujeitos que integravam o grupo. Terceira etapa Já na terceira etapa do projeto, passamos à produção de poemas pelos estudantes, para o que, inicialmente, apresentamos imagens que sugeriam diferentes ideias – concretas ou abstratas –, como amor, dor, raiva, natureza, amizade, Libras. Os participantes deveriam escolher uma dessas imagens e, após um momento, expressá-la da sua própria maneira. Essa atividade nos permitiu perceber o potencial criativo do grupo, que, a cada encontro, mostrava-se mais expressivo nos textos que produzia, variando os recursos artísticos que a sua língua lhe fornecia. Além da ênfase nos aspectos de construção artística do texto, também trabalhamos com a divulgação/valorização da cultura surda, estimulando a capacidade de criação e vocação poética, bem como a construção da autonomia para uma aprendizagem mais significativa. Através da produção de poesias pelos estudantes, percebemos que se instaurava a descoberta progressiva das potencialidades da sua língua materna. O grupo passou a refletir sobre os aspectos expressivos que a Libras oferece para a geração de efeitos estéticos – que também podem ser utilizados em situações comunicativas para além da esfera literária. Para isso, os participantes ainda discutiram sobre as especificidades da linguagem poética, tendo como foco a poesia produzida em Libras. A cada encontro, conhecíamos mais sobre a realidade do surdo, através das experiências que os próprios estudantes traziam para o âmbito do projeto, através de suas produções. Isso também nos permitiu realizar debates acerca dos temas que surgiam nos encontros, o que ajudou o grupo a exercitar o senso crítico e a capacidade de argumentação. Acerca das abordagens que faziam dos temas, ficou evidente o desconforto que o grupo sentia no tocante à falta de acesso à comunicação com a sociedade em geral, por causa das barreiras impostas pelas diferenças linguísticas e também de ordem social, como o preconceito e a discriminação. A produção de poesias constituiu um momento de extrema liberdade de expressão do grupo; os efeitos disso se verificaram na evidente autoestima que os participantes demonstraram ao verem seus textos sendo apreciados pelos outros, na sua própria língua. Os textos produzidos também fizeram emergir discursos que não podiam vir à tona senão em forma de poesia (Cf. poema “Mãe”, cujo link se encontra no final deste trabalho). Encerramento Para o encerramento do projeto, realizamos uma exposição literária em um dos “pontos de encontro” dos surdos em Maceió, a Escola Estadual Tavares Bastos6. Esse evento constituiu a culminância das atividades, 6 Segundo Pimenta (2006, p. 42), o ponto de encontro “é uma ferramenta que faz parte das estratégias dos surdos para manter uma grande rede de contatos”.

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Poesia na ponta dos dedos: a inclusão do texto poético na educação de surdos

que serviram para o fortalecimento da cultura surda através do texto poético. Lá, os estudantes puderam mostrar aos colegas – surdos e ouvintes – e educadores da escola os trabalhos que produziram durante os encontros. Mostramos alguns poemas gravados em vídeo e fizemos a entrega dos certificados ao grupo. Figura 3 – Encerramento do Projeto

Fonte: Autores

Figura 4 – Encerramento do projeto

Fonte: Autores

Figura 5 – Encerramento do projeto

Fonte: Autores

Resultados e Discussão

No Brasil, ainda caminhamos a passos lentos no que diz respeito à produção de materiais para a abordagem da Libras nas escolas. Historicamente, as políticas para o trabalho com a diversidade e a inclusão ainda apresentam muitas lacunas em nosso país. Não por acaso, as questões que estão compreendidas na Língua Brasileira de Sinais começaram a ser objeto de reflexão há pouco tempo, de forma tardia e com trabalhos isolados; e as reflexões e ações que envolvem o ensino dessa língua ainda estão em processo de implantação e adaptação. Há, pois, um campo de estudos e de ação bastante vasto que precisa receber atenção da academia e do poder público, a fim de que se possa atender de maneira satisfatória a essa parcela da população, que possui uma língua e uma cultura peculiares. O que vemos, entretanto, é a ausência de políticas adequadas e, consequentemente, o improviso e as adaptações grosseiras no processo de ensino-aprendizagem do surdo, como se bastassem as transposições metodológicas do português para a Libras. Entre os profissionais da educação, é necessário que haja o conhecimento das particularidades pressupostas no processo de ensino-aprendizagem do sujeito surdo. Tal conhecimento ajudará a desenvolver de forma mais adequada os procedimentos didático-metodológicos na escola. Assim, a construção dos saberes pelos sujeitos será mais exitosa. A missão da escola é formar cidadão, fomentar a geração de conhecimentos entre os sujeitos. E os surdos não podem ficar de fora desse processo, porque receber uma educação de qualidade é um direito seu. As ações apresentadas aqui nos permitem fazer uma reflexão acerca do uso de textos de natureza poética para a formação dos surdos. Suscitar a leitura e a produção de poesias por esse público é uma maneira de ampliar o leque de oportunidades de interação e, consequentemente, de aquisição de linguagem. Trata-se de uma metodologia de abordagem da Libras que pode concorrer para superar certos desafios que se impõem na educação de surdos. A leitura de textos poéticos durante o projeto instigou o grupo para a percepção do potencial expressivo de sua língua, bem como o motivou a expandir seus horizontes de visão e ampliar a compreensão do espaço à sua volta. Tudo isso foi conseguido mantendo-se o foco nas particularidades que a cultura surda apresenta. Isso garantiu também o desenvolvimento pessoal e coletivo do sentimento de pertença a um grupo social – o que auxiliou os estudantes no processo de construção de sua identidade linguística e favoreceu a construção da subjetividade através da valorização de uma “cultura própria”, que marca sua visibilidade e garante a coesão da comunidade (Cf. GESSER, 2009, p. 52-54). Através desse projeto, notamos que a experiência da interpretação não é uma atividade estimulada junto à comunidade surda na escola – o que se tornou um desafio para nós. Contudo, aos poucos os estudantes foram conduzidos a aguçar o olhar para o mundo através dos textos, e os resultados foram animadores. Desenvolveu-se a percepção de que os sentidos não estão prontos no mundo, mas na interação entre as pessoas na vida social.

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Quanto às atividades de produção de poesias pelo grupo, podemos afirmar que constituíram momentos de extrema satisfação e descoberta para os sujeitos envolvidos. O grupo que nos chegou não imaginava que havia poetas surdos, razão por que também não se colocava na posição de quem produz poemas, na condição de autor. Estar nessa posição garantiu aos estudantes surdos a afirmação de sua cidadania, através do poder de voz que lhes foi concedido de se expressar por meio da arte, falando de suas coisas, desde seu lugar particular. A cada texto que os jovens produziam, o grupo descortinava novos horizontes de percepção e intervenção no mundo, que, subjetivado por meio da Libras, ganhava novos contornos sociais, históricos e culturais. O projeto “Poesia em Libras”, enfim, alcançou os objetivos lançados quando de sua elaboração: ele proporcionou dignidade e inclusão à comunidade surda, que, infelizmente, é tão alijada de informações, na mesma proporção que é carente de atenção e de políticas públicas efetivas para o pleno desenvolvimento de sua cidadania. A poesia tem um papel imprescindível no campo do desenvolvimento da linguagem, já que lida ao mesmo tempo com a fantasia e com a realidade. A liberdade de expressão que ela permite desperta no indivíduo a consciência de que o mundo interior pode ser exteriorizado, e essa descoberta pode ser o primeiro passo para o entendimento do que se é capaz de criar... o mundo.

Referências

______. Literatura e sociedade. 8. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000/Publifolha, 2000. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995. FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1976. GESSER, Audrei. Libras? Que língua é essa? crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. IBGE. Disponível em: <http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2125>. Último acesso em: 31 maio 2013. PIMENTA, Nelson; QUADROS, Ronice Muller de. Curso de Libras. v. 1. Rio de Janeiro, LSB Vídeo, 2006. SUTTON-SPENCE, Rachel; QAUDROS, Ronice Müller de. Poesia em língua de sinais: traços da identidade surda. In: QUADROS, Ronice Müller de (org.). Estudos surdos I. Petrópolis-RJ: Arara Azul, 2006.

Poemas em Libras produzidos pelo grupo: BRASIL – Michael Martins. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=9dzWIauVdnE> DEUS – Geovane. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Y1ssCYCT5Y8> EUA – Klewerson. <http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=QdDmqI3qTN0> LIBRAS – Michael Martins. Disponível em:<http://www.youtube.com/watchfeature=endscreen&v=9dzWIauVdnE&NR=1 MINHA INFÂNCIA – Emanuelly Pereira. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=GGmkG9KCzLg&NR=1> MÃE – Bruna. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=PIMhQlVXxTY&NR=1&feature=endscreen>

Poesia ilustrada: AMOR. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=6uEL0lH2ekw>

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PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL COM ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE ARAPIRACA COM A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES LIVRES: UMA EXPERIÊNCIA COM O PROINFO-LIVRE

Aysllan Souza Vieira1 Carmelita Santino Barbosa de Oliveira2 Maurício Vieira Dias Júnior3

Resumo É notória a importância da informática na vida de qualquer pessoa nos dias atuais. Ao mesmo tempo, muitas escolas públicas de nível fundamental e médio do município de Arapiraca, situado no Estado de Alagoas, não estão preparadas, por diversos motivos, para formar cidadãos com capacidades suficientes para lidar com um computador. O presente projeto de extensão, intitulado Proinfo-Livre, busca como principal objetivo uma contribuição para alunos de escolas públicas que não têm, ou que não teve de maneira satisfatória, a aprendizagem sobre informática básica. Esses alunos serão, de maneira efetiva, incluídos digitalmente, ou até mesmo socialmente, no mercado de trabalho, abrindo caminhos para suas ascensões profissionais, sendo instigados a produzirem conteúdo de informática que os ajudarão, inicialmente, na escola e entre outros ambientes. Através de aulas expositivas e práticas no laboratório de informática, os alunos serão instruídos, através da utilização de softwares livres, a desenvolverem atividades de informática, ao mesmo tempo, possibilitando uma maior flexibilidade em seu uso em casa, pois serão motivados e orientados a adquirirem estas ferramentas, já que não haverá nenhum custo financeiro em sua utilização e reprodução. Palavras-chave: Inclusão digital. Inclusão Social. Software livre. Ubuntu.

Abstract Although the importance of computers in everyday life is extremely important, the public schools in Arapiraca, in the state of Alagoas, are not prepared to enable the citizens to use this technology. This extension project entitled Proinfo-Free. The aim of this project is to contribute to public school that do not have, have not had or had an unsatisfactory learning about computer. These students will be, effectively, digitally included or even socially in the labor market, providing opportunities for their professional ascents. This project also stimulate the students to produce contents that will help them in school and among other environments. Through lectures and practice in the computer lab, students will be taught through the use of free software, to develop computerrelated activities, while allowing greater flexibility in their use at home, they will be motivated and driven to acquire these tools, since there will be no financial cost in use and reproduction. Keywords: Digital inclusion. Social Inclusion. Free software. Ubuntu.

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Bolsista do PIBICT-2012 do IFAL – Câmpus Arapiraca - aysllan_vieira0@hotmail.com Bolsista do PIBICT-2012 do IFAL – Câmpus Arapiraca - carmelita.santino@gmail.com Professor do IFAL, Câmpus Arapiraca. Orientador do PIBICT-2012 do IFAL – Câmpus Arapiraca - mauriciodias.junior@gmail.com


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Introdução

O Proinfo-Livre é um projeto de extensão do Instituto Federal de Alagoas - Câmpus Arapiraca -, que visa à inclusão tanto digital quanto social, através de aulas de informática básica, para a comunidade externa (alunos oriundos de escolas públicas da cidade de Arapiraca), tendo como fator diferenciador a utilização e difusão dos softwares livres, tanto para a explanação dos conteúdos, quanto para a utilização de seus recursos pelos alunos. Além de conhecer os elementos básicos para manuseio de um computador, assim como o Sistema operacional Ubuntu, os alunos foram motivados a explorar os softwares livres como o OpenOffice (BrOffice), sendo utilizados recursos avançados de seu editor de texto (Writer), do software de apresentação (Impress), para ter o entendimento de como é importante uma planilha eletrônica (Calc), para o mercado de trabalho e o no seu dia-a-dia. Destaca-se também a utilização da internet, de modo que as informações resgatadas sirvam para enaltecer o processo de ensino-aprendizagem, contribuindo com a escola pública na qual este aluno está inserido, no tocante ao ensino na área de informática. Nessa direção, houve o compromisso de instigar os alunos para as novas tecnologias, as novas práticas digitais no meio escolar, assim como no mercado de trabalho, além, é claro, de diminuir as desigualdades sociais e digitais de alunos oriundos de escolas públicas.

Estado da Arte: Software Livre, Inclusão Digital e Social

De acordo com Câmpus (2006), a definição de software livre, ou também chamado de Free Software, nasceu pela Free Software Foundation (FSF), que tem como principais características a utilização, compartilhamento, estudo, modificação e redistribuição sem nenhuma restrição, portanto esse software pode ser adquirido e distribuído sem ônus algum. Além dessas características e seguindo a FSF, o software livre contém ainda quatro tipos simultâneos de liberdade para seus usuários, são elas:    

executar o programa, independentemente de qual seja seu propósito; estudar o programa, no nível de acesso livre ao código-fonte para possível personalização; redistribuir cópias do programa livremente; aperfeiçoar o programa, sendo disponibilizado para que toda a comunidade se beneficie.

Portanto, um software só poderá ser denominado como software livre se cumprir com todas essas liberdades. Essas prerrogativas foram discutidas em conjunto com todos os membros deste projeto e ficou acordado que seria de fundamental importância adotar este tipo de software, visto que os alunos selecionados apresentaram baixo poder aquisitivo; sendo, portanto, praticamente impossível a aquisição de uma licença de softwares proprietários. É preciso destacar que neste projeto não se contempla o cumprimento de todas estas liberdades, por não haver necessidade de sua execução, pois não se trata de um curso de programação, onde o acesso ao código fonte seria fundamental. Neste foram utilizados diversos softwares livres, desde simples programas de computador como também o sistema operacional, sendo este denominado Ubuntu. Um aspecto muito importante, ainda sobre software, é que existe outra corrente que se denomina software proprietário, e, ao contrário do software livre, esse impossibilita o acesso ao seu código-fonte, tendo ainda sua personalização e redistribuição negadas; sendo proibida, portanto, qualquer alteração e compartilhamento. Dessa forma, cada computador deverá adquirir uma licença (paga) para poder usufruir deste software, tornando-se uma barreira para a implantação de cursos de informática de baixos custos. (LIMA, 2005). No tocante à inclusão digital, Costa (2009, p. 1) retrata algumas indagações possíveis sobre as TIC para que seja efetivamente interpretada, à luz também da inclusão social: As tecnologias de informação e comunicação (TIC) trouxeram novas possibilidades e alternativas de inclusão informacional e cognitiva, ao mesmo tempo em que revelam processos de exclusão desse universo. Temos visto nos últimos anos programas, políticas e iniciativas em prol da inclusão digital, que

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Projeto de Inclusão Digital e Social com alunos de Escolas Públicas de Arapiraca com a utilização de softwares livres: uma experiência com o Proinfo-livre dependem normalmente do acesso ao computador e de conhecimentos mínimos para utilizá-lo, assim como do acesso à Internet. Algumas questões se colocam a essas possibilidades. Em que medida a inclusão digital possibilita transpor a exclusão social, cultural, política ou econômica, para o efetivo exercício da cidadania? As experiências de inclusão digital, no contexto mais amplo, ampliam o leque de conhecimentos, dilatam as oportunidades e potencializam o acesso democrático ao conhecimento? Ampliam a as formas de participação cidadã e o exercício da democracia? Essas questões indicam a necessidade de distinguir entre acesso às TIC, acesso à informação e acesso ao conhecimento; e sugerem perspectivas tanto geopolíticas como socioeconômicas para examinar estratégias públicas e privadas relativas à “cidadania digital”.

Diante da execução deste projeto, foi “perseguida” a resposta à pergunta descrita por Costa (2009): Em que medida a inclusão digital possibilita transpor a exclusão social, cultural, política ou econômica, para o efetivo exercício da cidadania? Acredita-se que com o retorno obtido, através de alunos que alcançaram melhores trabalhos em suas respectivas escolas, e até mesmo em seus trabalhos informais durante este projeto, tem-se a certeza de que realmente foi favorável e, ao mesmo tempo, estes foram contemplados para exercer melhor sua cidadania perante as necessidades atuais relativas à tecnologia.

Metodologia, Técnicas e Recursos

O projeto resultou em uma carga horária total de 80 horas (sendo 2 horas por semana), dividida durante os sete meses do projeto, incluindo a divulgação e seleção de 20 alunos nas escolas públicas municipais que atuaram no projeto, o planejamento das aulas, compatível com os horários dos dois bolsistas do instituto e um professor envolvido, aulas práticas no laboratório de informática. Com os resultados adquiridos, foram elaborados artigos para apresentação em eventos na área. As reuniões de planejamento e de apoio pedagógico com os proponentes deste projeto foram feitas no laboratório de informática do IFAL de Arapiraca, assim como a execução de todas as aulas práticas com os alunos. Figura 1 – Logotipo do Projeto

Fonte: Criação dos autores do projeto

No primeiro mês foi feita a divulgação e seleção dos alunos que participaram das aulas nas escolas públicas, sendo feito, também, todo o planejamento com os envolvidos (bolsistas e orientador) sobre o desenvolvimento de um plano de aula, contendo um cronograma de todas as aulas com seus respectivos assuntos. Na Figura 1, é mostrado o logotipo elaborado pelos autores do projeto, este demonstra a fusão do logotipo do sistema operacional gratuito e de código livre, denominado Ubuntu, sendo um software livre, com o logotipo do Instituto Federal de Alagoas. Durante os seis meses seguintes, as aulas práticas foram ministradas com data show e computadores, com o apoio de uma apostila desenvolvida pela comunidade de software livre. No último mês do projeto, com os resultados obtidos, foi elaborado um artigo científico para ser apresentado em eventos, como, por exemplo, o CONNEPI, e a I Mostra de Extensão, promovida pelo IFAL, servindo de retorno para identificação das possíveis falhas e além dos prováveis acertos, norteando e servindo de experiência para a próxima versão do projeto. As aulas foram expositivas com o uso permanente da prática no computador, conforme visualizamos nas Figuras 2 e 3. Utilizando o quadro e o data show para explicação dos conteúdos que logo em seguida utilizaram os computadores para prática.

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Figura 2 – Aulas expositivas

Figura 3 – Prática constante entre os alunos, com a interação dos bolsistas e o orientador

Fonte: Material de apoio

Fonte: Fotos do projeto

A avaliação foi processual, contando como pontos para avaliação: pontualidade, assiduidade (que no mínimo são 75% presenças das aulas), participação nas aulas, apresentação dos exercícios e trabalhos solicitados, seminários e provas. Os alunos que atenderam a estes requisitos receberam um certificado de participação.

Considerações finais

Diante do exposto, como resultados obtidos, podemos considerar primeiramente que os alunos saíram motivados a incrementarem seus conhecimentos através do curso integrado de informática do Instituto, oferecido pelo câmpus, sendo importante salientar que, com esta experiência, eles puderam vivenciar como é o dia-a-dia dos atuais alunos deste curso, inclusive sendo possível a troca de experiências entre ambas as partes. Foi observado durante a execução do projeto que tanto os alunos quanto os bolsistas obtiveram melhores aproveitamentos, respectivamente, em seus estudos escolares e trabalhos, também foi constatado o aproveitamento de todos acima do regular na frequência do curso.

Referências

PACHECO, G. B.; MACHADO, R. da S. Introdução à Informática com Software Livre: versão Ubuntu. Porto Alegre, 2007. Disponível em: <http://www.broffice.org/inclusaodigital>. Acesso em: 30 maio 2013 CAMPOS, A. O que é software livre: BR-Linux. Florianópolis, 2006. Disponível em: <http://brlinux.org/linux/faq-softwarelivre>. Acesso em: 10 jun. 2013. COSTA, M. C. da. Inclusão digital: para quê e para quem? Liinc em Revista, v. 5, n. 1, Rio de Janeiro, p. 1-3. 2009. LIMA, P. P. de. A importância da inclusão digital no processo de inserção social e educacional através da utilização do software livre. Contagem/MG: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 58f. 2005.

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PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL: UM CASO DE SUCESSO NO INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS - CÂMPUS MACEIÓ Wladia Bessa da Cruz1

Resumo A sociedade mundial está vivendo em prol das tecnologias, seja no âmbito comercial ou educacional. A inclusão digital é uma necessidade gritante não só para a classe estudantil, mas para a sociedade como um todo, é uma forma de aprendizagem onde o indivíduo passa a interagir no mundo das mídias digitais. Nesse sentido, decidimos criar um projeto de Inclusão Digital na coordenação de informática no Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Esse projeto iniciou-se em 2009, ofertando curso de informática básica para as comunidades menos favorecidas, por alunos do curso integrado de informática onde precisavam ter a sua prática profissional. O projeto mostra que ganham todos que participam do processo, os alunos que ministram as aulas, e as pessoas das comunidades que saem com um diploma de um curso básico de informática, para melhoria da sua vida pessoal e profissional. Palavras-chave: Inclusão Digital. Comunidades. Aluno. Prática profissional.

Abstract The world society is living for the sake of technology, whether in business or education. Digital inclusion is a crying need not only for education, but also for the society. It is a way of learning in which the individual starts interacting using the digital media. In doing so, we decided to start a Digital Inclusion Project at Instituto Federal de Alagoas (IFAL). This project began in 2009, offering a basic computer course taught by computing students from IFAL to people from for poor communities. The project shows that everyone who is involved in this project, the students who teach the classes and the people from the communities benefited by it, has the opportunity to improve their personal and professional lives. Keywords: Digital Inclusion. Communities. Students. Professional practice.

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Professora do IFAL, Câmpus Maceió. Mestre em Educação - wladiabessa@gmail.com


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Introdução

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) trouxeram novas possibilidades e alternativas de inclusão informacional e cognitiva, ao mesmo tempo em que revelam processos de exclusão desse universo. Temos visto nos últimos anos programas, políticas e iniciativas em prol da inclusão digital, que dependem normalmente do acesso ao computador e de conhecimentos mínimos para utilizá-lo, assim como do acesso à Internet. Mesmo com todas essas possibilidades, existem muitas pessoas excluídas digitalmente. Este artigo traz o relato sobre o Projeto de Inclusão Digital (PRODIGI) que iniciou em 2009, por causa da nossa inquietude em tentar fazer algo pela comunidade carente, acreditando que nós, como parte de uma instituição pública devemos ir além dos muros da mesma. Assim, o objetivo principal do projeto era incluir digitalmente pessoas de comunidades carentes que não podiam pagar um curso de informática básica, e um dos objetivos específicos era atender aos alunos do curso integrado de informática do Instituto Federal de Alagoas – IFAL, que precisavam realizar a sua prática profissional. O projeto desde o início aconteceu nos laboratórios da coordenação de informática no Câmpus Maceió. A metodologia utilizada no projeto vai desde a seleção dos alunos bolsistas, preparação do material didático, reuniões quinzenais de acompanhamento e conclusão das turmas. É neste contexto que se insere a discussão sobre inclusão digital, expressão cada vez mais presente no imaginário das pessoas, naturalizada através de um processo que conta com uma série de mecanismos que compreendem, hoje, não só a mídia de massa, mas governo, intelectuais, escolas, ONGs e grandes empresas (FONTES, 2007). A inclusão digital tem sido tratada – na mídia, nos discursos políticos, nas propagandas das empresas de informática e telecomunicações e em análises acadêmicas - como essencial para a inclusão social, para a diminuição de desigualdades entre países e entre os indivíduos e regiões de um mesmo país. Parece haver uma tendência no entendimento de que alfabetização é a simples habilidade de reconhecer os símbolos do alfabeto e fazer as relações necessárias para a leitura e a escrita, o que encontra correspondente na alfabetização digital como aprendizagem para o uso da máquina. O letramento, contudo, é a competência em apreender, assimilar, reelaborar e chegar a um conhecimento que permita uma ação consciente, o que encontra correspondente no letramento digital: saber utilizar as TIC`s2, saber acessar informações por meio delas, compreendê-las, utilizá-las e com isso mudar o estoque cognitivo e a consciência crítica e agir de forma positiva na vida pessoal e coletiva. Dessa forma, fica claro que a inclusão digital não é uma simples questão que se resolve comprando computadores para a população de baixa renda e ensinando as pessoas a utilizar esse ou aquele software. Ter ou não acesso à infraestrutura tecnológica é apenas um dos fatores que influenciam a inclusão/exclusão digital, mas não é o único, nem o mais relevante (BONILLA, 2001; SILVA, 2002). Em consonância a todas essas definições percebeu-se que as populações das regiões circunvizinhas do nosso Instituto são carentes de informações e eles se sentem excluídos desse processo digital que tão rapidamente invadiu nossas vidas. Hoje as empresas requerem pessoas capacitadas digitalmente, assim os menos favorecidos muitas vezes ficam de fora do mercado de trabalho porque não tiveram a oportunidade de fazer um curso de informática. No ano de 2009, como dito anteriormente, foi implantado a prática profissional no Projeto Político Pedagógico do Curso Integrado de Informática que, por concepção, caracteriza-se como um procedimento didático pedagógico que contextualiza, articula e inter-relaciona os saberes apreendidos, relacionando a teoria e prática, a partir da atitude de desconstrução e (re)construção do conhecimento. É na verdade, condição de superação da simples visão de disciplinas isoladas para a culminância de um processo de formação no qual alunos e professores são engajados na composição/implementação de alternativas de trabalho pedagógico do qual derivam diversos projetos, decorrentes de descobertas e recriações, além de programas de intervenção e inserção na comunidade/sociedade. No curso Integrado de Informática do IFAL, as práticas pedagógicas podem ser: Projetos Aplicados (criação de um produto ou serviço único), Desenvolvimento de Pesquisa, Projetos de Extensão e Estágio Supervisionado. Assim, com a necessidade de que nossos alunos pudessem exercer a sua prática profissional no próprio Instituto, surgiu o PRODIGI. A metodologia do projeto foi da seguinte forma, primeiramente, foi divulgado o projeto com os alunos do 4º ano do Curso Integrado de Informática no ano de 2009, os que quiseram participar da seleção, eles tiveram que dar uma microaula de 20 minutos com um dos assuntos do curso básico. Selecionamos seis alunos para as 2 Tecnologia da Informação e Comunicação

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duas primeiras turmas, foram eles: Jisleyane Pereira, Jéssika França, Paulo José Veras, Marcela Luz, Isabela Maria da Silva Santos e Jacqueline Diniz, nos anos seguintes fomos renovando os monitores, e entrando alunos também do 3º ano. Já participaram do projeto os alunos Richardson Nogueira, Amanda, Yuri, Kelvin Inocêncio, Luan Yves, Sdney Gabriel, Francisco Neto, Patrick Brennand, Victor Candido, Samara Karina, Luan Bento, Leonardo Esdras. Após a seleção fizemos uma primeira reunião para conversarmos sobre o material didático que eles deveriam produzir: calendários das turmas e a metodologia de ensino. O PRODIGI é um curso básico de informática de 40 horas, onde é composto pelos módulos: Windows, Writer (Editor de texto), Impress (Software de apresentação), Calc (Planilhas eletrônicas) e Internet. Para que os alunos recebam o certificado, eles teriam que ter 75% de presença no total do curso e ter a média do curso 7,0. A cada módulo é feita uma avaliação. Durante dois meses os alunos produziram o material que foi revisado por nós, fizemos algumas reuniões para definirmos exercícios, provas e outras questões. As primeiras turmas aconteceram com uma parceria com o professor Roberto Nobre há muitos anos faz um belo trabalho filantrópico na comunidade do Reginaldo, fechando duas turmas. A seleção dos alunos foi feita pelo professor Roberto na comunidade e nós executamos o projeto. As primeiras turmas foram iniciadas em Outubro de 2009, no miniauditório de informática com a presença da Direção do Câmpus Maceió, do Diretor de Extensão do Câmpus e de alguns membros da comunidade do Reginaldo. Nos anos seguintes, fizemos parcerias com a Associação das Mulheres do Jacintinho e com a ONG Renascer. Figura 1 – Alunos monitores da 2ª Turma PRODIGI

Figura 2 – Alunos da 2ª Turma do PRODIGI

Figura 3 – Turma PRODIGI 2011

Fonte das imagens: Autora

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No ano de 2009, foram ofertadas duas turmas para a comunidade do Reginaldo. No ano de 2010, foram ofertadas três turmas: duas na comunidade do Reginaldo e uma na comunidade do Jacintinho, em parceria com a Associação das Mulheres do Jacintinho. No ano de 2011, somente duas turmas. No ano de 2012, tivemos um sonho realizado que era promover um curso básico de informática para pessoas da 3ª Idade, pois, muitas vezes essas pessoas são excluídas de um mundo da qual as tecnologias tomaram conta. Assim, reunimos nossos novos integrantes do grupo de alunos e planejamos um curso para a 3ª idade, onde tinha a mesma carga horária de 40 horas, portanto, apenas três módulos, Windows, Writer e Internet. Elas para obterem o certificado só precisavam ter 75% de presença no curso, pois, o intuito é que elas se sentissem parte desse novo mundo. Fizemos uma parceria com a ONG Renascer (PLAN Salgadinho) que eram senhoras que tinham tido câncer de mama e se curaram. Que experiência gratificante e engrandecedora, principalmente, para nossos alunos que estavam ministrando as aulas. O relato deles era que elas estavam presentes independente das adversidades. E melhor ainda antes do final do curso, quatro delas já tinham comprado um notebook ou computador e disseram que sua vida tinha mudado completamente. As experiências vivenciadas com essa turma pelos monitores são fantásticas, eles relatam um pouco disso nos seus depoimentos. No ano de 2012, também houve uma mudança de Projeto de Extensão para curso de extensão, já que tinha uma carga horária fixa, e o Instituto emitia um certificado, mas a marca PRODIGI já está no IFAL, mesmo sendo curso, continua sendo PRODIGI. No ano de 2013, inicialmente, abrimos as inscrições no mês de Abril, e começamos duas turmas em Maio, e existe a previsão de mais uma turma para o primeiro semestre e duas para o segundo semestre. Houve uma mudança também na carga horária do curso, que passou para 60 horas, e atualizações no seu material didático. Todo esse trabalho também não poderia acontecer sem a colaboração da Pró-Reitoria de Extensão, como também do apoio da Direção de Extensão do Câmpus Maceió. Abaixo estão os depoimentos de alguns alunos que participaram do Projeto e como eles se viram nessa participação. “Participar do PRODIGI foi uma experiência super gratificante. Transmitir um pouco dos meus conhecimentos para um público que talvez nunca tivesse essa oportunidade é algo que realmente me entusiasmava. Agradeço ao IFAL e a Profª. Wladia Bessa pela a oportunidade e desejo muita sorte ao projeto. Que as sementes do conhecimento continuem a serem plantadas!”. (Richardson Nogueira) “É uma ótima experiência em termos de profissionalização, você aprende a lidar com pessoas de idades e personalidades diferentes, pra quem vai servir na área do curso é importantíssimo participar do projeto, e também uma boa maneira de passar seus conhecimentos para os outros, principalmente, aqueles que não sabem nada de Informática, além de nós que ensinamos também aprendermos com os alunos; o que nos motiva é o sorriso de cada um quando aprende algo e não tem vergonha de tirar suas dúvidas!” (Victor Candido) “Para mim, fazer parte do Programa de Inclusão Digital (PRODIGI) é uma experiência única. Sempre admirei a profissão de lecionar, o SER PROFESSOR, mas confesso que nunca quis isso pra mim. Entretanto, o programa me fez mudar de opinião. Lecionar é muito mais que isso. Principalmente quando os seus alunos têm idade para ser seu pai ou até mesmo avô. É muito prazeroso poder passar o seu conhecimento para outro alguém, e receber uma gratidão em troca. Como o programa é sem fins lucrativos, no decorrer do curso os alunos demonstram muita gratidão pela oportunidade que estão tendo e isso me deixa muito feliz. Espero muito que o programa possa evoluir cada vez mais proporcionando conhecimento, não importando idade ou até mesmo situação social”. (Leonardo Guimarães) “Participar do PRODIGI foi algo que realmente me marcou, tanto ter sido a minha primeira experiência profissional quanto pelas experiências vividas em sala de aula. Ver alunos construindo um novo conhecimento a partir daquilo que eu havia aprendido e que estava transmitindo para eles fazia sentirme gratificada, pois para muitos deles, aquele era o primeiro contato com o mundo computacional. Agradeço a Professora Wladia Bessa e ao IFAL pela oportunidade a mim concebida e fica o meu desejo de que o projeto cresça cada vez mais, atingindo os mais variados públicos”. (Amanda Barbosa) “A princípio, o meu objetivo ao participar do Prodigi era quitar o estágio obrigatório e ganhar experiência em lecionar.Porém, logo na primeira segunda-feira em que comecei a ministrar o módulo de Windows, percebi que me integrar a um projeto desse âmbito ia muito além de comprovar meu conhecimento técnico ou adicionar uma atividade curricular. Com o Prodigi, nós, meros alunos de Informática e ainda concluintes do Ensino Médio, pudemos nos desprender de uma realidade competitiva dos jovens de computação e ter contato com pessoas mais simples, que desejavam apenas se incluir à tecnologia na qual a grande maioria de seus filhos e netos dispunham, mas não tinham a disponibilidade de ensiná-los. Assim, por diversas vezes, ouvimos longos agradecimentos sobre a oportunidade de participar do projeto e até chegamos a escutar que o Programa de Inclusão Digital havia sido um sonho realizado. Hoje, tenho a convicção de que a minha recompensa como monitora do Prodigi não foi como a de um estágio qualquer: uma bolsa com determinado valor material e uma declaração afirmando que concluí a carga horária. Muito pelo contrário, nós fomos recompensados com um aprendizado que não se compra ou se comprova em currículo algum. Cada integrante do Prodigi nos concedeu verdadeiros ensinamentos de perseverança e integridade. Ensinamentos que demonstram o orgulho e gratificação

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Projeto de Inclusão Digital: um caso de sucesso no Instituto Federal de Alagoas - Câmpus Maceió que detemos ao lecionar cada turma que se forma”. (Samara Carina) “Está sendo bastante gratificante participar desse projeto. Ter a oportunidade de poder lecionar, passar conhecimento sobre algo que está se tornando cada vez menos dispensável nos dias de hoje é uma experiência dada para poucos. Nós acabamos sentindo um pouco de como nossos professores se sentem dando aula para nós, sempre querendo o melhor para seus alunos. Em resumo, está sendo algo que nos dá a sensação de que ajudamos de alguma forma na formação profissional das pessoas que participam e participaram desse curso”. (Patrick Brennand) “O PRODIGI foi uma experiência de trabalho muito boa e proveitosa. Ainda assim, o projeto foi muito além, me proporcionou uma experiência pessoal bastante enriquecedora. Com relação ao trabalho aprendi a ter responsabilidade com horários, compromissos fixados e conhecer a tarefa de lecionar, que exige muita competência e dedicação. Como o projeto abrangia um público de várias idades tive a experiência de ensinar desde crianças e adolescentes a um grupo especial, que foram às pessoas da terceira idade, usei o termo especial porque realmente foi especial, pois percebia uma grande força de vontade de pessoas, que já aprenderam tantas coisas, em aprender tecnologia, e a cada avanço no estudo, os sorrisos e a alegria apresentada se multiplicavam e tudo isso era muito gratificante. A experiência também se estendeu pelo fato de melhorar o meu lado comunicativo, ao falar melhor em público com pessoas de diferentes faixas etárias e a postura necessária para lecionar em uma sala de aula. Por tudo isso o PRODIGI me proporcionou um grande aprendizado, e uma grande experiência positiva que irei carregar por toda a vida”. (Luan Yvens) "Participei de três turmas do projeto PRODIGI, de 2010 a 2011. O projeto foi muito enriquecedor, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. O projeto coloca os instrutores no outro lado, como todos os instrutores do curso são alunos, além de identificar as dificuldades de nossos professores, sabíamos o que um professor deve fazer para melhor aproveitar sua aula. Profissionalmente, o projeto me deu a prática necessária e a segurança de entrar no mercado de trabalho. Logo após minha participação ser finalizada, fui instrutor em uma empresa de cursos de informática em Maceió. Mas gratificante ainda, foi quando no início de 2011 encontrei uma ex-aluna trabalhando em uma empresa no aeroporto e ela me contou que o diploma do curso foi de fundamental importância para sua contratação. Durante o processo seletivo da empresa para a qual ela trabalha, haviam pessoas com diplomas de outros cursos de informática básica em Maceió, porém, o certificado do IFAL pesa, e ela foi contratada. Essas e outras coisas me fazem ter certeza de que essa experiência é um diferencial para os alunos do IFAL, como para os alunos do curso." (Kelvin Inocêncio) “Trabalhar no PRODIGI foi incrível. Como foi minha primeira experiência no mercado de trabalho, eu estava um pouco nervoso antes de começar, mas, depois de um tempo fui vendo que não era nenhum bicho de sete cabeças e que era muito fácil lhe dar com os alunos, que eram muito compreensíveis com a nossa falta de experiência. Lecionar foi uma experiência totalmente diferente do que eu pensava. Você leciona e aprende ao mesmo tempo, ainda mais porque minha turma era de pessoas da terceira idade. Só tenho a agradecer pela experiência que tive”. (Francisco Neto)

Quanto aos relatos dos alunos que participaram do Projeto, vê-se que houve não só um crescimento profissional, como a experiência de ministrar aulas, mas pessoal também. Eles viram e entenderam o papel de seus professores, muitas vezes incompreendido no momento que eles são alunos, aprenderam com a heterogeneidade, aprenderam a respeitar as diferenças, a respeitar o outro e as limitações de cada um.

Considerações Finais

É uma realidade de muitas regiões do Brasil e muito mais forte na região nordestina a exclusão digital, seja por falta de políticas públicas, de oportunidades de cursos de qualidade de graça, enfim, os motivos são inúmeros, mas acreditamos que, principalmente, as Instituições Públicas têm o seu papel na sociedade, de ofertar para a comunidade, cursos de extensão de qualidade, assim se cada um de nós professores desprendermos um pouco de energia para tal, minimizamos a exclusão e oportunizamos novas pessoas no mercado de trabalho. Coordenar esse projeto é muito gratificante por saber que essa oportunidade será um diferencial para muitas pessoas, como também é complexo porque estamos lidando com alunos adolescentes que estão amadurecendo como pessoas, também estão colocando em prática aquilo que aprenderam no seu curso. Agradecemos imensamente os esforços, empenho e dedicação aos nossos alunos (monitores) que tanto se doam ao Projeto. Esperamos poder continuar de alguma forma contribuindo para que pessoas da nossa comunidade sintam-se mais incluídas na sociedade digital.

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Referências BONILLA, Maria Helena. O Brasil e a alfabetização digital. Jornal da Ciência, Rio de Janeiro, p. 7, 13 abr. 2001. Disponível em: <http:// www.faced.ufba.br/~bonilla/artigojc.htm>. Acesso em: 21 mar. 2013. CARVALHO, Olivia Bandeira. Os “incluídos digitais” são “incluídos sociais”? Estado, mercado e a inserção dos indivíduos na sociedade da informação. Liinc em Revista, v. 5, n. 1, mar. 2009, Rio de Janeiro, p. 19-31. Disponível em: < http://www.ibict.br/liinc>. FONTES, Virgínia. Quem dita a pauta? Mídia e empresariado no Brasil do século XXI: as relações perigosas. CONFERÊNCIA PROFERIDA CURSO ANUAL DO NÚCLEO PIRATININGA DE COMUNICAÇÃO, 13. Rio de Janeiro, novembro de 2007. SILVA, J. B. G. Alfabetização tecnológica: alguns aspectos práticos. Boletim EAD. Campinas, n. 41, 2002/2013. Disponível em: <http://www.ead.unicamp.br/php_ead/boletim.php>. Acesso em: 15 jun. 2013.

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RECICLAGEM DA GARRAFA PET AnastássiaMariáh1 Vânia Tenório2

Resumo O projeto buscou o reaproveitamento das Garrafas PET descartadas no meio ambiente – devemos lembrar, no entanto que, na maioria das vezes de forma incorreta – para a fabricação de móveis (pufes, cadeiras, mesa, sofá, etc.) com o uso de uma metodologia diferenciada. Esta nova metodologia se baseia no uso de parafusos para o acoplamento da garrafa PET, alcançando com isso uma melhor rigidez no resultado do produto final. Deixamos claro que este é um método eficiente, bastante firme, útil e que não apresenta custo elevado por ser executado com apenas garrafas, parafusos e estilete e tesoura. Além disso, o presente trabalho teve como um dos objetivos sensibilizar os estudantes do 9º ano de uma escola pública para a preservação ambiental a partir do uso de garrafas Pet dois litros transformando-as em móveis, levando à criação do novo. Palavras-chave: Reciclagem. Garrafa PET. Meio ambiente.

Abstract The project sought the reuse of PET bottles discarded in the environment, most often incorrectly in an inappropriate, for the manufacture of furniture (puffs, chairs, table, sofa etc.) using a different methodology. This new methodology is based on the use of screws for coupling the PET bottle, achieving a better stiffness in the final product. We point out that it is an efficient method, making the product firmer, useful and cheaper, since it uses only bottles, screws, box cutters and scissors. In addition, this paper was done in order to sensitize 9th grade students from a public school towards the environmental preservation through the use of pet bottles turning them into furniture, creating new products. Keywords: Recycling. PET bottles. Environment.

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Aluna/Bolsista do IFAL, Câmpus Maceió- anastassianunes@hotmail.com Professora/Orientadora do IFAL, Câmpus Maceió - vaniantsilva@gmail.com


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Introdução O meio ambiente, diante de tantos fatores impactantes, “grita” por vida e por condições melhores para toda a humanidade. Mas tal condição depende de duas palavras de extrema importância: consciência e sensibilização. Ao pararmos para pensar, damos-nos conta de que tudo o que nos rodeia provém do meio ambiente, que a partir dele é que a humanidade funciona e que por este motivo devemos cuidar para que haja uma harmonia no ecossistema. Para tanto, a gestão ambiental é fundamental para que consigamos uma relação confiável entre sociedade e meio ambiente. Torna-se necessário, portanto, diante das catástrofes que estamos vendo, pararmos para refletir sobre a nossa condição de ser humano no mundo. O mundo está repleto de matéria prima que pode ser reaproveitada, mas ao invés disso, o destino desses resíduos, nos países subdesenvolvidos, é normalmente lixões e aterros sanitários. A imagem que observamos de rios brasileiros poluídos por garrafa pet não é pouca, sendo ainda muito comum. Trata-se de um problema ambiental que ainda não vencemos, em que o plástico está ganhando espaço. Para que a reciclagem seja ampliada, é preciso também que as prefeituras incentivem seus cidadãos na busca da coleta seletiva, porque a reciclagem começa desde a separação dos produtos nas residências. Para amenizar os danos causados à natureza, precisamos de uma reciclagem correta, que se caracteriza como uma forma de ação socioambiental muito proveitosa. Sendo assim, a palavra que merece destaque é sustentabilidade, que é muito bem explicada em um artigo da Revista de Estudos Avançados – USP (2010) por Paulo Nogueira-Neto: Sustentabilidade, pois, tem o significado de uso continuado, não predatório, de utilização racional, visando sustentar ao máximo, ao longo do tempo não somente os recursos econômicos, mas também os valores ambientais, sociais, culturais e sobretudo éticos, como o mandamento do amor ao próximo. Além disso, é necessário incorporar ao conceito de sustentabilidade, o critério de que as decisões a seu respeito devem respeitar o interesse público, serem transparentes e assumidas de modo democrático pelas populações interessadas.

Desde que o conceito de reciclagem surgiu, décadas atrás, a preservação do meio ambiente é seu principal dilema. Entretanto, o progresso das técnicas viabilizou muitas atividades industriais, tornando a reciclagem também uma alternativa de investimento e geração de trabalho e renda. Segundos dados da ABIPET (Associação Brasileira da Indústria do PET), em 1994 apenas 18,8% das garrafas eram recicladas; em 2008, esse número cresceu para 54,8%. É importante, no entanto, notar que o aumento de consumo da garrafa não é proporcional ao aumento de reciclagem do PET. Temos muito a fazer para termos desenvolvimento com conservação ambiental. Tendo em vista os dados apontados na referida pesquisa, torna-se de importância a conscientização sobre a garrafa PET; esse projeto de pesquisa consistiu em dois métodos, de forma direta e indireta. O método de pesquisa direta foi propriamente a parte prática de todo o empreendimento que foi o trabalho da reutilização das garrafas pets, transformando-as em criações artesanais (cama, pufe, sofá, etc.), que além de estar ajudando o meio ambiente é uma fonte de renda e empregos; já o método de pesquisa de forma indireta baseou-se no recolhimento de informações em vários meios como: livros, revistas, internet e jornais, que enriqueceram nossas perspectivas de fazer a nossa parte na criação de hábitos benevolentes ao meio ambiente. De acordo com o livro Química 3, Mortimer e Machado (2011), podemos descrever o processo de uma forma bem apropriada, chamada eco design. Segundo eles, eco design é um processo em que os aspectos ambientais devem estar ligados diretamente a todo desenvolvimento do produto, reduzindo o impacto ambiental. Mas como isso pode ser feito? Devemos ter uma conciliação e um uso racional de energia, água e matéria-prima. Neste nosso projeto, desenvolvemos esta conciliação e produtos com durabilidade. A partir das informações obtidas, os autores deste trabalho desenvolveram as seguintes principais atividades no período em que o projeto esteve em ação: 1.

recolhimento das garrafas PET por meio de diversos locais;

2.

pesquisa de materiais feitos por garrafa que de certa forma mais chamassem a atenção do público;

3.

realização propriamente dita do trabalho com garrafa com a ajuda da comunidade que ficou subdividida em grupos para a confecção ficar mais acelerada: 3.1 Por exemplo, um grupo ficou responsável pela limpeza das garrafas e outro grupo pelo corte destas, porém a cada semana esses grupos mudavam suas funções para que cada integrante soubesse realizar

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Reciclagem da garrafa PET

todas as etapas da criação. 3.2

Duas equipes foram formadas, uma para a confecção do sofá e a outra da cama, sendo que cada participante se envolvia em todas as fases do processo, assim como foi relatado do item 3.1.

3.3

Além da construção do sofá e da cama, fizemos vários outros artigos práticos do dia a dia, como: porta caneta, alguns brinquedos, vasos de plantas etc.

Todo o projeto, no fim de sua atuação, tem que determinar seus resultados e o nosso não é diferente, por isso enumeramos nossos principais saldos: 1.

Contribuímos para o desenvolvimento da sociedade, constituindo um vínculo que estabeleceu troca de saberes, conhecimentos e experiências para a constante avaliação e vitalização da pesquisa;

2.

buscamos a interação sistematizada do IFAL com a comunidade por meio da participação dos servidores e estudantes nas ações integradas com as administrações públicas, em suas várias instâncias, e com as entidades da sociedade civil;

3.

incentivamos a prática acadêmica que contribuiu para o desenvolvimento da consciência social e ambiental formando profissionais-cidadãos;

4.

desenvolvemos a inclusão social e produtiva, a geração de alternativas oportunas e a melhoria das condições de vida, favorecendo de qualquer maneira o crescimento local e regional.

O trabalho realizado é fruto de um projeto de extensão vinculado ao Instituto Federal de Alagoas, câmpus Maceió, junto a uma escola da rede pública, em um bairro de classe baixa em Maceió, a escola Teonilo Gama, situada no Jacintinho, junto aos alunos do 9 0 ano, que apresentam a faixa etária entre 13 e 15 anos. A metodologia adotada e utilizada no projeto tem como principal aspecto capacitar a comunidade a preservar o meio ambiente e a desenvolver objetos úteis através da garrafa PET. Sendo o PET muito leve, torna-se também muito fácil de montar e desmontar, conforme pode ser vista nas fotografias abaixo:

Figura 1 - Pufe acoplado com parafusos

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Figura 2 - Pufe montados e decorados

Figura 3 - Meninos da comunidade limpando as garrafas

Figura 4 - Meninas da comunidade lavando e cortando garrafas

Fonte das fotografias: Autoras

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Reciclagem da garrafa PET

A arrecadação de garrafas foi feita através de campanhas com os jovens que participaram do projeto, que logo as trouxeram para incorporarmos ao projeto. Nosso trabalho apresentou dificuldades em arrecadar número suficiente de garrafas para produção dos móveis por, principalmente, dois motivos: 1- as garrafas para a produção dos móveis têm que ser padronizadas com o mesmo formato (quase sempre do mesmo fabricante); 2há formatos de garrafas Pet que não dão o encaixe correto para a produção dos móveis. Iniciamos nosso trabalho ensinando aos jovens a construir pufe, que é a base para a construção de diversos outros móveis. A partir do momento que os jovens iam se aperfeiçoando na técnica e arrecadando mais garrafas, novos móveis iam se transformando, como, por exemplo, cama, mesas, sofás. Os móveis produzidos com garrafas Pet são confortáveis e resistentes e podem ser normalmente usados por qualquer pessoa e usados em decorações. Fizemos uma cama de solteiro, na qual foram utilizadas cerca de 600 garrafas. Foram feitos também: diversos pufe, cadeira, luminárias que envolvem, além da garrafa PET, a prática de reciclagem do papel, que serve de revestimento para objetos; por exemplo, o uso de jornal para acabamento e o acréscimo de verniz para tornar o produto com maior durabilidade. O diferencial no projeto é o uso de parafusos, a fim de obter um produto resistente e como maior tempo de utilização. O acoplamento das garrafas através desses parafusos foram feitas da seguinte maneira: adquirimos um molde (tendo como referência uma lata de Nescau), no qual se fez o encaixe perfeito de uma garrafa de 2L; nesse molde, foram feitos 4 furos de mesmo diâmetro e separados a mesma distância um ao outro; esses furos foram feitos com ferro de solda, obtendo o furo para que o parafuso fosse acoplado às garrafas, como mostra o modelo a seguir:

Figura 5 - Exemplo do molde utilizado, podemos observar na forma frontal, onde os furos foram feitas na extremidade das linhas mostrada no círculo acima

Fonte: Autoras

Como resultado, obtivemos, ao final, uma cama, um sofá, pufes, vários porta-lápis, pulseira etc. A cama, foi uma experiência fascinante para os alunos, e que hoje é utilizada por um porteiro em uma instituição. Ela foi exposta durante a Semana de Ciência e Tecnologia no IFAL, Câmpus Maceió. O projeto foi finalizado de forma bastante proveitosa e apresenta ou bons resultados. Conforme vemos tantas coisas acontecendo nessa geração, percebemos que a questão ambiental é fundamental e que pequenos projetos podem gerar grandes oportunidades sociais e educacionais. Por fim, considerando tudo que foi dito, com nosso trabalho, podemos apresentar uma solução ambientalmente correta para a destinação final das garrafas Pet. A transformação das garrafas Pet em móveis não é complicada, visto que pessoas de faixa etária baixa, como as crianças, conseguiram produzir os móveis trabalhando em equipe. Esperamos que ações de cunho socioambiental se multipliquem com a divulgação de projetos sustentáveis como este, para inserir e dar dignidade às classes menos favorecidas.

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Referências

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini-aurélio: o minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. MATHEUS, Luis Alfredo e MOREIRA, Marcos Giovanni. Construindo com PET: como ensinar truques novos com garrafas velhas. São Paulo: Livraria da Física, 2007. MACHADO, Andréa Horta e MORTIMER, Eduardo Fleury. Química 3: Ensino médio/Química. São Paulo: Scipione, 2011. MOREIRA, João Carlos e SENE, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo. Scipione, 2007. VEIGA, José Eli da. Indicadores de sustentabilidade. Estudos Avançados, São Paulo: USP, 2001, v. 24, n. 68, jan./abr. 2001.

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SEMINÁRIOS: TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (T.I.) E AS DIFERENTES ÁREAS DE ATUAÇÃO Felipe Prata Lima1 Alan Lemos Silva2 Lucas Alves da Silva Santos3

Resumo A Tecnologia da Informação (TI) é uma importante ferramenta para as empresas nos dias de hoje. O projeto de extensão “Seminários: Tecnologia da Informação (T.I.) e as diferentes áreas de atuação” tem por objetivo a realização de um ciclo de palestras para a comunidade arapiraquense, com a parceria de profissionais da área, visando fornecer esclarecimentos sobre o que é a TI, quais são as suas áreas de atuação, o que é o profissional de TI e o que ele faz, além de esclarecer quais são os possíveis caminhos para a formação profissional de TI em áreas específicas. Palavras-chave: Informática. Seminário. Tecnologia da Informação.

Abstract The Information Technology (IT) is an important tool for the companies nowadays. The aim of the extension project “Seminars: Information Technology (IT) and the different areas of expertise” is the realization of a series of lectures for the community from Arapiraca, with the involvement of professionals from the field, in order to provide a better understanding of what IT is, the areas of expertise, what the IT professional is, and what he does. Besides this, it was exposed the possible paths to the IT professional training in specific areas. Keywords: Informatics. Seminar. Information Technology.

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Professor do Curso Técnico Integrado em Informática do IFAL, Câmpus Arapiraca - felipepratalima@gmail.com Aluno do Curso Técnico Integrado em Informática do IFAL, Câmpus Arapiraca - alanls13@hotmail.com Aluno do Curso Técnico Integrado em Informática do IFAL, Câmpus Arapiraca -. lucasalves.lucasalves@hotmail.com


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Introdução O projeto “Seminários: Tecnologia da Informação (T.I.) e suas diferentes áreas de atuação” foi concebido para o edital PROJET 2011 do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e realizado no âmbito das atividades de extensão realizadas no Câmpus Arapiraca durante o ano de 2012 e janeiro de 2013. O público do projeto foi caracterizado pela comunidade externa e interna. A comunidade externa era composta por alunos do 9º ano de escolas públicas de Arapiraca, o público principal, e membros da comunidade arapiraquense interessados em participar do projeto. E a comunidade interna, composta por alunos dos cursos de informática, principalmente, e eletroeletrônica do próprio câmpus. A TI é um importante componente das empresas nos dias de hoje. Nesses ambientes, as aplicações de TI se fazem cada vez mais necessárias diante do crescimento do volume de informações com o qual é preciso lidar no dia a dia. Para lidar com esse volume, as empresas contam com soluções de TI padronizadas e eficientes para auxiliar a melhoria da qualidade de seus processos (ROSETTI, 2007). As soluções baseadas em TI para gerenciar essas informações são os chamados Sistemas de Informação (SIs) os quais têm um papel fundamental nas organizações, pois a correta administração dessas informações pode ser fundamental para o sucesso (KAMEI, 2009). Dentre os benefícios desses SIs para as organizações estão: controle de suas operações; diminuição de carga de trabalho das pessoas; redução de custos e desperdícios; melhorias em produtividade; aumento na segurança das ações; diminuição de erros; contribuição para a produção de bens e serviços; suporte a decisões; suporte a interação com mercados, clientes e competidores; e contribuição para a inteligência organizacional da empresa. A TI é considerada fundamental por vários setores, tanto em nível estratégico quanto operacional (ALBERTIN, 2001; REZENDE, 2003; ROSETTI, 2007). Pode-se elencar como principal objetivo do projeto, de forma geral, fornecer esclarecimentos sobre o que é a TI, quais são as suas áreas de atuação, o que é o profissional de TI e o que ele faz, além de ajudar a identificar entre os participantes afinidades e esclarecer quais são os possíveis caminhos para a formação profissional de TI em áreas específicas.

Metodologia

A metodologia para a realização do projeto foi divida em três partes:  Levantamento das principais áreas de atuação em TI, e escolha de um conjunto das áreas levantadas, observando a importância dessas áreas no mercado e o interesse na área de acordo com o perfil da formação de cursos de Informática. No caso o curso de Informática do IFAL, Câmpus Arapiraca, foi utilizado como parâmetro.  A segunda parte foi a pesquisa de profissionais para cada área de atuação presentes no mercado de trabalho arapiraquense e, a partir do resultado desse levantamento, a realização de contato com esses profissionais para aquisição de informações sobre a disponibilidade para a realização de seminários, assim como as possíveis datas para realização das apresentações.  A terceira parte foi a organização e a realização das palestras. Em cada uma delas foram realizadas: a. A apresentação de um profissional convidado, sua área de atuação e o trabalho realizado por ele dentro da área na organização em que trabalha. b. E após cada apresentação, foi realizado um momento de discussão, nos quais os participantes puderam fazer perguntas de natureza técnica ou sobre carreira e formação profissional ao profissional convidado.

Para conclusão, uma apresentação sobre o perfil do egresso do curso de Informática do IFAL, câmpus Arapiraca, foi realizada. O intuito dessa apresentação final foi divulgar o curso e o perfil de seu egresso para a comunidade e para o mercado de trabalho arapiraquense – procurando inclusive despertar interesses em membros da comunidade para a formação na área, e nos profissionais para demais parceiras, como estágios.

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Seminários: Tecnologia da Informação (T .I.) e as diferentes áreas de atuação

Resultados

Um total de sete (sete) palestras foram realizadas entre junho de 2012 e janeiro de 2013. As seguintes apresentações foram realizadas: 

Montagem e Manutenção: A formação técnica e humana do profissional de informática: esclareceu como se dá a formação do profissional de Montagem e Manutenção de computadores, abordando não somente a formação técnica como também a humana, incluindo espaço para perguntas e debates sobre aspectos da formação, além da sugestão de cursos e bibliografias em livros e na internet.

Programação X Design: apresentou a formação do profissional “padrão” de informática ou computação, demonstrando a ênfase dessa formação em disciplinas relacionadas à área de programação de computadores e a carência de disciplinas relacionadas à área de design gráfico, principalmente para o ambiente web, nessa formação, encontrada por alunos participantes de cursos tradicionais de informática ou computação com interesse em seguir a área – justificando principalmente a área de design gráfico como uma área da informática. O palestrante foi enfático acerca dessa deficiência, e explicou os caminhos necessários para obter a formação complementar para atuação na área, além de explicar como e em que pontos os conhecimentos obtidos relacionados à área de programação se relacionam com a área de design no dia a dia do seu trabalho. No mesmo momento, o palestrante convidado aproveitou também a oportunidade para apresentar alguns de seus trabalhos concluídos e em andamento.

“Trajetória profissional: Valdenio de Paula Freitas”: empresário da área de tecnologia da informação em Arapiraca, criador de uma agência digital (uma das primeiras, talvez até a primeira da região) chamada NIC (http://www.agencianic.com.br/), que atua na área de design e desenvolvimento de soluções para as plataformas web e mobile. O palestrante apresentou sua trajetória, comentou sobre sua formação, como se deu o processo de aprendizado e de sua identificação com sua área de atuação, como se tornou um profissional de sucesso e como decidiu abrir o próprio negócio – sua apresentação foi muito proveitosa, pois também abordou, além de aspectos técnicos, aspectos relacionados à formação humana (ética, caráter, responsabilidade, compromisso, etc.) necessários para a realização de negócios de sucesso em sua opinião, e na de todos os presentes.

“Seminários: Tecnologia da Informação (T.I.) e suas Áreas de Atuação” (como funciona a extensão e o projeto de extensão em questão) e “Trajetória profissional: Felipe Prata Lima”: foi realizada em dois momentos. Inicialmente foi apresentada a área de TI, o projeto (o que é, quais os seus objetivos), e uma discussão sobre o que é e como é construído, de forma geral, um projeto de extensão (a partir do exemplo do próprio projeto em execução). O momento seguinte foi caracterizado por uma apresentação em forma de “conversa” sobre a trajetória profissional do palestrante: desde o início de seus estudos no curso técnico de Informática no IFAL até chegar a sua posição atual de professor e sua área de atuação, o ensino. Foi comentada sobre a sua formação superior também, a sua participação no mercado de trabalho e sua migração (inicialmente, como uma atuação paralela) para a área de ensino e pesquisa como área de atuação.

"Tecnologia da Informação (T.I.) e suas Áreas de Atuação": os bolsistas do projeto fizeram uma apresentação sobre o que aprenderam com as pesquisas e com as apresentações realizadas. Alan Lemos da Silva e Lucas Alves da Silva Santos falaram sobre diversas áreas de tecnologia da informação, o que são e o que faz o profissional dessas áreas, algumas abordadas anteriormente nas apresentações e outras não, além de apresentar o curso de Informática do IFAL, Câmpus Arapiraca, e situar através da estrutura do curso, de sua grade curricular, em que áreas o egresso poderá atuar.

Como a escola não atingiu o número disponibilizado de vagas, foram então abertas inscrições para alunos do próprio IFAL. E especificamente para os seminários de Janeiro de 2013, como as escolas públicas se encontravam em período de férias, a participação foi aberta à comunidade e aos alunos do próprio IFAL apenas. A tabela 1 resume, em ordem cronológica, todas as apresentações realizadas durante a execução do projeto.

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Revista EXTIFAL

Tabela 1 - Apresentações em ordem cronológica DATA 02/06/2012 29/09/2012 27/10/2012 19/01/2103 19/01/2013

26/01/2013 26/01/2013

APRESENTAÇÃO Montagem e Manutenção: A formação técnica e humana do profissional de informática Programação X Design Programação X Design Trajetória profissional: Valdenio de Paula Freitas Seminários: Tecnologia da Informação (T.I.) e suas Áreas de Atuação (como funciona a extensão e o projeto de extensão em questão) e “Trajetória profissional: Felipe Prata Lima”. Montagem e Manutenção: A formação técnica e humana do profissional de informática Tecnologia da Informação (T.I.) e suas Áreas de Atuação

APRESENTADOR José Niraldo Leão Júnior Emanuel Franco Ramos Silva Emanuel Franco Ramos Silva Valdenio de Paula Freitas Felipe Prata Lima

José Niraldo Leão Júnior

Alan Lemos da Silva e Lucas Alves da Silva Santos Fonte: Relatório do projeto: Seminários: Tecnologia da Informação (T.I) e as diferentes áreas de atuação

Durante a realização do projeto, dificuldades foram encontradas. A primeira dificuldade foi que por se tratar de uma atividade voluntária a apresentação dos seminários, os bolsistas encontraram dificuldades em encontrar profissionais dispostos a realizar a apresentação. A segunda dificuldade foi contar com a presença de todos os inscritos, possivelmente em razão dos seminários serem realizados aos sábados. É importante salientar, também, que com alguns profissionais que sinalizaram interesse em realizar uma apresentação foram feitos diversos contatos e por diversos motivos eles desmarcaram suas apresentações previamente. Em geral, a indisponibilidade de horário foi o motivo informado. Com isso, seminários esperados em áreas como Redes de Computadores, Desenvolvimento Web e Gestão de TI acabaram não sendo realizados.

Considerações Finais

Com a realização dos seminários, foram atendidos alunos da escola pública estadual Hugo Lima e Adriano Jorge; os selecionados foram alunos de 9º ano, através de inscrição para os alunos dessas escolas. Foi estimado que cerca de 60 alunos e membros da comunidade foram atendidos pelo projeto. Apesar das dificuldades para a realização das palestras, o projeto pode ser avaliado com um bom rendimento, dado que embora dispersas as apresentações, foram bastante proveitosas para os participantes em relação ao aprendizado, com difusão de conhecimentos sobre a TI e suas áreas de atuação.

Referências

ALBERTIN, Alberto Luiz. Valor estratégico dos projetos de tecnologia de informação. Rev. Adm. Empresa. São Paulo, v. 41, n. 3, set. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003475902001000300005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 jun. 2013. KAMEI, F. K.; LIMA, F. P.; BARROS JÚNIOR, J.; SOUZA JÚNIOR, M. F. Fatores (des) motivadores na adoção de metodologias ágeis no desenvolvimento de Sistemas de Informação. In: SEGeT – SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 2009, Resende, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos09/538_seget2009_ti_fmdamadsi.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2013. REZENDE, D.A. Planejamento de Sistemas de Informação e Informática. São Paulo: Atlas, 2003. ROSSETTI, A., TCHOLAKIAN MORALES, A. O papel da tecnologia da informação na gestão do conhecimento. Ciência da Informação, Brasília, Brasil, v. 36, dez. 2007. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/795. Acesso em: 20 jun. 2013>.

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