Especial Violência no Campo Terça feira, 13 de junho de 2017
Ano: XXIV - Nº 6123
Violência no campo dispara e mostra face cruel do golpe
O
golpe que fissurou a demo cracia em 2016 deixou no campo uma marca indelével de retrocessos. O derramamento de sangue no ano passado – quando 61 pessoas morreram em decorrência de conflitos agrários – foi o segundo maior dos últimos 25 anos. Perdeu apenas para o ano de 2003, quando foram registrados 73 assassinatos por disputa de terras e de água no Brasil. Os dados constam no documento “Conflitos no Campo Brasil – 2016”, divulgado recentemente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
a uma série de matérias legislativas e de atos administrativos – projetos de leis, PECs, decretos – que atingiram diretamente povos e comunidades do campo, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agricultores familiares. E o resultado direto dessa política foi o recrudescimento da violência e da opressão contra todos eles. Como num efeito cascata, houve a desestruturação de toda uma rede de proteção, com a extinção de ministérios, o sucateamento de autarquias e a diminuição de recursos e de pessoal de órgãos responsáveis por políticas sociais e pelo trabalho de fiscalização. Somou-se a tudo isso uma ofensiva Afora os números de 2016, os dados da de criminalização dos movimentos de luta violência em 2017 já pela terra, potencimoldam o ano atual O aumento de mortes alizada, inclusive, por como um dos mais viopor conflito agrário é considerável parte do lentos das últimas déJudiciários brasileiro. fruto de um governo cadas para o campo. De Não raramente o que retira direitos janeiro até maio, quanaparato estatal tem do se completou um ano legitimado a violênda saída de Dilma Rousseff da Presidência da cia no campo e, em muitas situações, tem República, 37 mortes foram registradas por dis- sido o artífice dessa violência, como aconteputa agrária. Ou seja, 2017 sequer chegou à ceu recentemente em Pau D’Arco (PA), onde metade e o número de mortes já corresponde a 10 pessoas foram mortas em ação policial 60,6% das que ocorreram ano passado. para reintegração de posse. Vale destacar que esse crescimento esA Bancada do PT na Câmara, em nota tatístico de mortes por conflito no campo não assinada pelo líder, deputado Carlos é casual. É fruto incontestável da adoção de Zarattini (SP) (SP), divulgou nota de solidarium programa de governo que retira direitos edade ao deputado estadual Carlos Bordalo de homens e mulheres do campo. Desde (PT-PA), que, ao tentar divulgar relatório soque Dilma foi retirada do poder, o governo bre o crime, foi atacado e cerceado pelo depuilegítimo que se instalou no Planalto pas- tado federal Delegado Eder Mauro (PSD-PA). sou a “pagar a conta” do golpe para quem “O relatório produzido por Bordalo lhe deu sustentação e forma – sobretudo apresentava provas testemunhais de sograndes ruralistas e empresários. breviventes da chacina que indicam a resNo curso desse “toma lá, dá cá”, os gol- ponsabilidade de policiais militares e cipistas deram seguimento neste último ano vis nas dez mortes”, diz a nota. Fechamento: 12/6/2017 às 22h00