Pedro nuno santos sol 2016 10 10

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08-10-2016

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PEDRO NONO SANTOS SECRETARIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS PARLAMENTARES

`António Costa salvou o PS' Margarida Devim

Ana Sá Lopes Diana Tinoco (Fotografia)

margarida.davin, z

ana.lopesitDsol.pt Diana Tinoco@solpt

É o coordenador da 'geringonça' mas não gosta da palavra. Sobre o Orçamento garante apenas que a carga fiscal vai baixar em 2017 e mostra-se confiante de que a solução de Governo está sólida. Desvaloriza as críticas internas e diz que não há nada de esquerdizante na política de António Costa, mesmo que agora admita que só há «uma pequena ala direita» dentro do PS. Já foi assumido que haverá um aumento de impostos indiretos. É possível dar uma ideia sobre o que vai acontecer? Vai haver mesmo uma taxa especial sobre o vinho? A tinica coisa sobre Orçamento

que posso dizer é que o nível de fiscalidade em Portugal vai baixar novamente. Isso já aconteceu no Orçamento do Estado (OE) para 2016 e volta a acontecer no OE para 2017. Para que isso aconteça há uma opção politica de desonerar os Impostos sobre rendimentos e onerar os impostos indiretos? Não vou confirmar nenhuma

perior ao que foi recebido em novos impostos ou novos aumentos, isto relativamente ao exercício de 2016. Não existe essa relação direta de aumentar impostos para pagar a redução de outros. O bolo não é sempre o mesmo?

O bolo não é o mesmo porque a economia vai voltar a crescer. O primeiro-ministro assumiu que este ano crescerá no máximo 1,1%. Vai crescer muito mais para o ano?

Vamos ver. Mas isso é o crescimento de 2016.

medida fiscal. A única coisa que posso dizer é que o nível de fiscalidade em Portugal vai voltar a baixar.

Este ano as reversões ainda não levaram a um aumento do consumo que acelerasse a economia. Por que é que acredita que em 2017 crescerá mais?

Baixar a receita dos impostos sobre o trabalho obriga a ir buscar receita a outro lado...

Não podemos dizer com toda a certeza que as reversões de cortes não tiveram efeito sobre o crescimento em 2016. Só o poderíamos dizer se fizéssemos o exercício contrafactual de ir ver o que acontecia se não tivéssemos aumentado o rendimento disponível das famílias. Acho

Ao contrário do que a direita em Portugal tentou sempre dizer, nós não tiramos com uma mão e damos com a outra. Aquilo que foi injetado na economia portuguesa foi largamente su-

que qualquer pessoa entende que não tínhamos crescido mais. O Governo tinha uma previsão de crescimento inicial de 1.8%. Depois reduziu para 1,4%, agora diz-se que será no máximo 1,1%. O que é que correu mal na vossa estratégia?

Este Governo nao mascara a realidade económica difícil em que nós estamos e na qual estamos já há vários anos. E para sair dessa realidade econeouica difícil que nós trabalhamos todos os dias. Não podemos fazer um debate sobre o fraco (Tese i mento económico port ugues sem também falarmos do que vai acontecendo numa conjuntura internacional que afeta de forma decisiva a nossa economia. Desde logo, nos mercados externos fora da Europa para Os quais as nossas exportações tinham um peso relevante: Angola, Brasil. China. Temos uma economia mundial a crescer pouco. Temos este ano a

66 Não tínhamos crescido mais se não tivéssemos devolvido rendimentos

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transição de programas comunitários e normalmente isso sente-se no investimento. Encontrámos um atraso enorme no Portugal 2020.

nomia portuguesa, que é gravíssimo e herdado do Governo anterior, foi um sistema financeiro e bancário com problemas que estão a ser resolvidos agora por este Governo.

Estão há dez meses no Governo...

É verdade. E e por isso que já chegaram às empresas várias centenas de milhões de ouros. Foi feita uma aceleração grande e uma recuperação dos atrasos que herdámos e hoje os fundos comunitários estão a chegar às nossas empresas. O modelo do Governo não falhou?

Primeiro teríamos de saber o que teria acontecido se o rendimento das famílias não tivesse aumentado. Mas é normal, saudável e bom que parte desse aumento do rendimento disponível tenha sido dirigido para o desend iv idamento das nossas famílias. Porque outro dos problemas que prejudica o crescimento da eco-

Há um fator de incerteza grande que tem que ver com a crise bancária em Itália e no Deutsche Bank. Com este cenário e a certeza de que será preciso gerir também o malparado bancário português, 2017 pode mesmo ser melhor? É para isso que estamos a traba-

lhar todos os dias. E os sinais que vamos tendo são de que a segunda metade de 2016 já será melhor do que o primeiro semestre do ano. Já assistimos a um crescimento do investimento privado das nossas empresas não financeiras que contraria o discurso da direita sobre a falta de confiança na economia portuguesa. E há investimento direto estrangeiro também, com


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66 Mariana Mortágua não anunciou um novo imposto Houve uma reação exagerada em relação a esse imposto. O Governo nunca quis que a medida penalizasse o investimento. Estou confiante neste Orçamento e nos dois que faltam até ao fim da legislatura

99 multinacionais a fazer novo investimento em Portugal, algumas delas estão em Portugal há alguns anos e continuam a confiar na economia portuguesa. Temos uma realidade económica difícil, mas a nossa expectativa é a de que a economia possa recuperar, porque o emprego já está a ser gerado de forma muito significativa. Não pode ao menos desmentir um novo imposto sobre o vinho?

Atenção: não se interprete a minha ausência de resposta sobre medidas fiscais como sendo uma anuência à possibilidade de haver um imposto sobre o vinho. Não quero é abrir a porta de estar a dizer o que é que se vai fazer e o que é que não se vai fazer. Só isso.

A reação à notícia do Jornal de Ne~os não foi um anúncio?

Não, não foi um anúncio. Houve um comentário de uma deputado do Bloco de Esquerda e de um deputado do PS a uma proposta que estava a ser trabalhada num grupo de trabalho. Não foi dado como fechado. Convido-vos a ver as declarações de Eurico Brilhante Dias que diz várias vezes que o imposto não está fechado e não fala nunca em limites.

tir de um erro. A ideia de que a Mariana Mortágua anunciou um imposto é falsa e cede à primeira análise cuidada de todos os passos. Aliás, o Jornal de Negócios escreveu um dia ou dois depois um editorial a explicar todo o processo. Mas aprenderam com esse erro não fazendo mais conferências de Imprensa nem comentários sobre hipotéticos impostos que estejam a ser estudados?

Reconhece que foi um erro fazer uma conferência de imprensa para comentar um novo imposto que não estava fechado?

O Governo não fez nenhuma conferência de imprensa.

Não. O que se quis foi enquadrar aquilo que existia àquela data para que não houvesse leituras erradas sobre o que estava a ser trabalhado.

O Governo nào anunciou nem comentou. Depois, julgo eu, houve declarações do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Mas naquele momento, porque o Negócios noticia uma medida que estava a ser trabalhada num grupo de trabalho entre o PS e o BE, um deputado do PS e um de-

Aprenderam com o anúncio o novo imposto imobiliário?

Não foi pôr gasolina na fogueira?

Esse imposto não foi anunciado por ninguém.

Porque as notícias vão saindo umas em cima das outras e a par-

O PS fez...

putado do BE comentaram a notícia que estava a ser trabalhada naquele grupo de trabalho e também com o PCP. Reconhece que do ponto de vista da coordenação política do Governo foi dado um passo em falso?

A ação política é mesmo assim. Estávamos a trabalhar numa medida há muitos meses e numa sociedade aberta como aquela em que vivemos, com uma classe jornalística de qualidade, é natural que aquela medida pudesse chegar ao conhecimento público antes ainda de estar finalizada. Temos de encarar estas coisas com alguma normalidade. Acho que demorou até muito tempo a ser conhecida, porque de facto ela já estava a ser trabalhada há bastante tempo. Para ser claro: como a medida não foi anunciada pelo Governo, o Governo não tem de reconhecer um erro que não cometeu.

O primeiro-ministro já anunciou que esse imposto é para avançar. A dúvida é a de saber se, depois das isenções que têm vindo a público, o imposto não ficará reduzido a nada...

Vamos ter de esperar pelo dia 14 de outubro. De qualquer forma, essa é uma questão relevante, mas foi sempre para nós claro que esse imposto não deveria prejudicar a atividade económica e essa é uma preocupação que sempre esteve presente no desenho da medida. Isso significa o quê?

Quer dizer que nunca quisemos prejudicar a atividade económica e o investimento em Portugal. E, portanto, a medida tem de ser bem desenhada e é isso que está a ser feito. Eu não confirmei nenhuma das exceções. Só estou a dizer que, apesar de alguma reação mais exagerada que houve relativamente à notícia desse imposto, nunca este Governo quis que a medida pudesse penalizar o investimento. É público que o tema das pensões está a ser o mais difícil na negociação do OE à esquerda. Andam ainda a fazer contas para acomodar as exigências de BE e PCP?

Os exercícios orçamentais desta solução de Governo são exigentes. Obviamente, queremos mudar a forma como se vive em Portugal, mas não queremos romper com o projeto europeu que estabelece uma restrição à forma como governamos. É nesse caminho estreito que temos trabalhado. É uni exercício sempre exigente, mas temos a convicção de que chegará a bom porto tal como chegou o OE para 2016 e tal como chegarão os próximos orçamentos depois deste. Os três?

Só falta este e mais dois. Está confiante em relação a esses três orçamentos?

Sim, claro. Esta é uma solução de Governo para quatro anos. A noticia de que o BCE pode travar a compra de dívida pública fez os juros da dívida portuguesa subir. Isso preocupa o Governo?

O programa de compra de dívida pública pelo BCE, bem como outras políticas que o BCE foi abraçando, e mesmo as declarações de Mario Draghi logo em 2012 foram importantes para fa-


ID: 66397512 > zer reduzir as taxas de juro em Portugal. Ao contrário do anterior Governo que também beneficiou - e ainda bem - das políticas do Banco Central Europeu, o PS sempre disse que numa zona comum o BCE tem de ter um papel mais interventivo de apoio a essa zona monetária. Sempre defendemos esta intervenção que é feita hoje pelo BCE e que é importante nào apenas para Portugal mas para toda a zona euro. Por isso, tenho a convicção de que o Banco Central Europeu continuará a adotar uma política de apoio, uma política inteligente de intervenção no mercado monetário. Mas qualquer alteração tem consequências em toda a zona euro. Não tem consequências apenas para Portugal. Não seria um problema português, seria um problema para toda a zona curo. Os juros da dívida estão a niveis que começam a ser preocupantes. Ontem estavam a 3,7%...

Não. São muitas as razões, mas que não se prendem com uma governação que, naquilo que é fundamental, está a produzir resultados. E esse não é um problema português. Não será apenas um problema português. A subida das taxas de juro na zona euro é um problema da zona euro como um todo. Tem sido estratégia do Governo precisamente aliar-se e outros países do sul para enfrentar as questões europeias. Já se nota essa massa critica?

Para nos sempre foi evidente que países com problemas semelhantes deviam conseguir trabalhar em conjunto no quadro da União Europeia (UE). Isso aconteceu de forma mais visível e sólida mais recentemente com este Governo. Temos hoje uma relação com a UE que é obviamente diferente daquela que o anterior Governo tinha. Não aceitamos nenhuma relação com os nosso parceiros europeus que não seja de igual para igual. É nesse quadro que nos relacionamos. A mudança tem mais que ver com a alteração de atitude do Governo português do que propriamente com uma aliança de países do sul?

Isso faz parte. A procura, junto de outros países com problemas semelhantes, de soluções para os nossos problema é um trabalho

08-10-2016 que já devia ser feito há muito mais tempo. Mas já se sente o efeito dessa conjugação de esforços?

Esse trabalho é feito normalmente nas instituições europeias. A verdade é que esta nova relação do Governo português com a UE já produziu resultados. Tivemos uma negociação do draft orçamental para 2016 que foi muito exigente, de um Governo que se bateu junto da Comissão Europeia para poder cumprir os compromissos que tinha assumido perante o povo português. E isto é diametralmente oposto ao que era feito antes. Tínhamos um Governo que se batia perante os portugueses para que aceitassem as imposições das União Europeia. Esta alteração profunda da forma como nos relacionamos tem consequências positivas. Não só no OE para 2016, mas também na resposta que foi dada no processo das sanções por incumprimento do défice de 2015. No dia 15, o Governo vai ter de entregar à Comissão um documento com medidas de receita e despesa que garantam que em 2016 há uma redução de 0,25% do défice. Essa é mais uma prova difícil para este Governo?

Caminhamos para ter em 2016 o défice orçamental mais baixo da História da democracia portuguesa. Todo o processo de execução orçamental dá confiança também à Comissão Europeia de que temos um Governo que, querendo mudar a forma como se governava em Portugal, quer continuar a cumprir os compromissos europeus. A nossa convicção é que pelas mesmas razões que levaram a que não houvesse sanções também não haverá suspensão de fundos comunitários. E isto é baseado no trabalho e na execução orçamental que temos e neste resultado extraordinário que é conseguirmos, pela primeira vez na História da democracia portuguesa, um défice orçamental abaixo dos 3%. Basta a execução orçamental tal como está? Este documento que seguirá para Bruxelas não traz nenhuma surpresa?

Não. Trará obviamente notícias boas. Basta a execução orçamental que estão a fazer para cumprir a redução de 0.25% do défice em 2016?

Até agora, todos os dados que te-

mos da execução orçamental dizem que estamos no bom caminho para cumprir as metas que acordámos e termos um défice claramente abaixo dos 30 . A obsessão com o défice não vai prejudicar o SNS a muito curto prazo, Já que há ordem do Ministério da Saúde para conter todos os gastos?

Este Governo o que esta fazer é valorizar o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Vamos continuar a alargar a rede de cuidados continuados, vamos finalmente durante esta governação ter médicos de família para todos os portugueses. O que estamos a fazer é desenvolver o SNS e nào o contrário. Como é que se explica esta norma pare conter os gastos no SNS?

Não há nenhuma 01),,,,são com o défice. O que é interessante é que este Governo está a conseguir o que a direita dizia ser impossível e muitos comentadores diziam ser impossível e que era cumprirmos aquele programa de devolução de rendimentos e ao mesmo tempo cumprir as metas orçamentais. Aquilo que verdadeiramente chateia a oposição não é estarmos a conseguir cumprir estes dois objetivos isoladamente, é estarmos a conseguir ao mesmo tempo devolver salários, eliminara sobretaxa, aumentar as prestações sociais, repor direitos que tinhkun sido suprimidos ao povo português e mesmo assim termos o défice mais baixo de sempre e, pasme-se. pela primeira vez sem Orçamento retificativo. Isto é notável. Quando se diz que isso está a ser conseguido através de cativações que atrasam pagamentos que a certa altura vão ter de ser pagos. essa Ideia é errada?

É. Aquilo que conta do ponto de vista das metas orçamentais São. as contas em contabilidade nacional e aí o que e relevante são os compromisso,: que são assumidos. Então, não há maneira de esconder dívidas debaixo do tapete?

Não. Não são os pagamentos a fornecedores que nos Krmitem ter urna boa exectiÇ:1( orçamental, porque essa execuk.ão é independente deles. São )-. compromissos que são assum kl( ¡lie cot item. O perdão fiscal aprovado esta semana em Conselho de Ministros também é para ajudar ao défice?

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08-10-2016 Não é um perdão fiscal. Não usaria essa palavra. O objetivo é ajudar as nossas empresas, que têm um elevado nível de endividamento que é um bloqueio ao investimento. O objetivo aqui é tentar ajudar as empresas a sair da situação difícil em que muitas delas se encontram para poderem investir, poderem candidatar-se a fundos comunitários, poderem fornecer o Estado, poderem trabalhar. E não é um perdão?

Não há perdão de capital. A medida é uma das formas que temos para tentar ir ao encontro de uma dificuldade tremenda que as nossas empresas têm, que são rácios de autonomia financeira muito baixos e elevados níveis de endividamento. É uma forma de ajudar osetor empresarial e a economia. Deixaram cair a lei de acesso a dados bancários no que toca a portugueses, vôo apenas aplicá-la cidadãos estrangeiros como obriga a diretiva comunitária. Tencionam reforçar os mecanismos de combate à evasão fiscal?

Os objetivos deste Governo mantêm-se. Temos uma relação institucional boa e saudável com o senhor Presidente da República e os argumentos invocados pelo Presidente não são irrelevantes para nós e são tidos em consideração. Aquilo que faremos, indo ao encontro dos argumentos do Presidente, é esperar por uma altura mais oportuna, quando estivermos mais perto de ter as condições que o senhor Presidente entende serem importantes.

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66 Não me parece que os críticos do PS sejam assim tão críticos das propostas pelas quais foram eleitos O PS é hoje o único partido social-democrata em Portugal O que é que é soviético naquilo que fizemos até agora? Os argumentos invocados pelo Presidente não são Irrelevantes para nós

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Sérgio Sousa Pinto tem sido muito duro nas criticas...

Eu não acho que Sérgio Sousa Pinto tenha sido assim tão duro. Sousa Pinto é, no quadro parlamentar, um deputado do grupo do PS, o principal grupo de apoio ao Governo. O que ele diz no Facebook não o Incomoda?

Não vou comentar o que é dito ou não no Facebook. Eu nem sequer tenho Facebook. Não sei o que é que se vai dizendo no Facebook. Já disse, por exemplo, que estão a pôr em causa o que aconteceu em 1975 e as conquistas do socialismo democrático.

Está a invocar um ilustre deputado do PS. Nós não temos tempo aqui para que eu comece a elencar cada um dos militantes do PS, dirigentes e deputados que apoiam de forma muito convicta esta solução de Governo. Objetivamente não tínhamos tempo. Sousa Pinto é uma voz isolada?

Quando é que haverá essa conjuntura económica oportuna?

tégua a dizé-lo? Revê-se naquelas palavras?

Tem que ver com um sistema financeiro que ainda não está completamente estabilizado. Por isso, o Governo português toma em consideração com grande seriedade aqueles que são os argumentos do senhor Presidente da República. Dentro disso, encontraremos a altura certa para poder voltar a estudar o assunto. O combate à fraude, à evasão fiscal e ao branqueamento de capitais é um combate muito importante para nós.

Não vou comentar as palavras da deputada Mariana Mortágua. O BE, o PCP, o PEV, o PS não perderam a sua autonomia para poderem fazer as intervenções que bem entenderem. O Governo do PS tem uma relação de trabalho diário com o Bloco de Esquerda de confiança. Temos conseguido juntos mudar a forma como se governa em Portugal e é isso que me interessa ressalvar.

A ideia de pôr a pagar impostos quem não paga foi no fundo o sentido do que disse Marlene Mortágua na rentrée do PS e deu imensa polémica. Foi uma tempestade num copo de água? Foi por ter sido Mor-

ca é a relação que tem com os partidos que o suportam e os resultados a que chegamos. E os resultados a que chegamos não são de uma governação esquerdizante ou radical. O que estamos a ter em Portugal são resultados muito importantes para o povo português, que resultam de medidas que na sua grande maioria - para não dizer na totalidade - já estavam no programa eleitoral do PS. Não me parece que os críticos que refere sejam assim tão críticos das propostas pelas quais foram eleitos.

No PS houve acusações de que era Marlene Mortágua que liderava o PS, que havia uma sovietização...

Se eu respeito as declarações de Mariana Mortágua, também respeito as declarações dos meus camaradas socialistas. Aquilo que interessa ao Governo da Repúbli-

O PS esmagadoramente está com a solução de Governo que pela primeira vez na História do PS libertou o partido de ter de governar com a direita e que lhe permite implementar um programa que devolve rendimentos, que devolve direitos que foram retirados ao povo português, que defende o Estado Social e que, por isso, protege aquele que é o património ideológico e histórico do Partido Socialista. Já não estamos em 1975, nem sequer nas vésperas de 1989. Digo mesmo, sem qualquer hesitação, que António Costa salvou o PS. Temos, e é um desafio que a social-democracia enfrenta em toda a Europa, de ter a capacidade de mesmo num quadro difícil e exigente como o da União Europeia conseguir ter um projeto de sociedade diferente, alternativo

àquele que tem a direita. O exercício que alguns devem fazer é refletirem sobre qual seria a posição do PS hoje se nós tivéssemos feito o que poucos, muito poucos, queriam, que era ter suportado um governo PSD/ CDS. Imaginem o que seria. A tortura que seria para o PS e para todos os seus militantes se nós hoje estivéssemos a ser confrontados com a necessidade de garantir a estabilidade política do país aprovando um Orçamento mais uma vez atentatório dos direitos da maioria esmagadora dos portugueses. Seria a pasokização do PS?

Eu não sei se seria ou não a pasokização do PS. Mas, quando eu olho para o que aconteceu com o partido irmão na Grécia, para o que está a acontecer com o PSOE em Espanha, para o que está a acontecer todos os dias nas sondagens do SPD na Alemanha, só posso olhar para o que fizemos e ao fim de um ano ainda estar mais convictamente apoiante daquilo que fizemos. Verdadeiramente o PS hoje lidera um Governo, não precisa do PSD e do CDS para governar e estamos a concretizar o que está no nosso programa eleitoral. Acha que o PS é hoje o único partido social-democrata em Portugal?

O Partido Socialista é hoje o único partido social-democrata em Portugal. Quando se fala em sovietização, em chavismo, vá isso como folclore?

Assistimos a um debate proclamatório, quando temos é de avaliar a governação em concreto. O que é que é soviético naquilo que fizemos até agora? Repor os salários dos funcionários públicos que estão congelados desde 2009 e levaram cortes significativos? Permitir que a lei de atualização das pensões possa funcionar normalmente como é imposto pela lei? Respeitar a Constituição da República Portuguesa? Querer ter um sistema fiscal justo em que os que podem mais contribuem mais? Isto é esquerdizante? Isto é radical? Isto é soviético? Se quisermos fazer um debate sério sobre a social-democracia e sobre a esquerda em Portugal e na Europa e sobre esta governação, temos de avaliar aquilo que está a ser feito no concreto. Tudo o que foi feito em Portugal até agora é profundamente social-democrata.


ID: 66397512 > É social-democrata a posição do primeiro-ministro de Impor condição de recurso às pensões não contributIvas?

A única coisa que quero dizer sobre pensões é que temos um Governo que tem muito respeito pelos pensionistas, tem muito respeito por quem contribuiu muitos anos para a sua pensão. Tivemos ainda há um ano um Governo que tentou cortar de forma permanente pensões. Estamos muito concentrados em melhorar a vida dos nossos pensionistas. frzemo-lo quando descongelámos a lei de atualização das pensões, quando aumentámos o complemento solidário para idosos em 2016. E esse respeito também se traduz no esforço sério que estamos fazer para awnentar o poder de compra aos pensionistas. Não está a responder à pergunta.

E não vou responder. Porque não é uma questão que esteja neste momento a ser discutido no quadro do exercício do processo orçamental. Quando é que começou a acreditar que era possível fazer o acordo esquerda? Ainda durante a campanha eleitoral?

Se for ver muitos dos artigos que eu escrevi no i, dá para perceber que há muitos anos eu já defendia que a esquerda tinha obrigação de saber trabalhar em conjunto e tinha de construir alguma coisa em conjunto. Essa é uma batalha minha muito antiga. Outra coisa diferente é conseguir ver finalmente essa realização. Da mesma forma que grande parte de nós. eu não tinha a certeza de que fosse possivel, mas tínhamos um líder político que tinha visão, confiança, convicção de que era possível e que conseguiu verdadeiramente fazer História durante a sua liderança. António Costa, no quadro do PS, foi de facto a figura determinante para que esta solução tivesse sido possível. Escolheu-o como pivô da articulação com os partidos de esquerda por ser considerado um dos socialistas mais à esquerda do PS?

O meu trabalho com António Costa começa logo de início, quando ele é candidato às primárias. Fui o primeiro presidente de Federação a dar-lhe apoio público. E depois já estive logo de início nas negociações para a formação do Governo. Eu coordenei as equipas técnicas, o grupo de trabalho com o PCP e o grupo de tra-

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66 Se a determinada altura tínhamos uma ala esquerda no PS, hoje só podemos falar de uma pequena ala direita Se ler os artigos que escrevi para o 1, dá para perceber que há muitos anos defendo que a esquerda devia trabalhar em conjunto Eu e Medina vamos estar do mesmo lado no futuro do PS

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balho com o BE. Mas essa pergunta só pode ser respondida pelo primeiro-ministro. Não é por ser um dos socialistas mais à esquerda? Isso é cada vez menos verdade.

Não que eu tenha de alguma forma virado à direita. Mas nós hoje temos um PS com uma visão muito crítica daquele que foi o percurso da social-democracia europeia nos últimos anos. Desde a crise financeira e económica que assolou a economia mundial e posteriormente a crise das dívidas soberanas na Europa, que o PS fez uma reflexão muito profunda, olhando para a política e para a social-democracia de outra forma. Se

até determinada altura tinhamos uma ala esquerda no PS, hoje só podemos falar de uma pequena ala d i re tia Mesmo fora do período de negociação do Orçamento, ainda há tantas reuniões entre os partidos como havia no Inicio do Governo? Sim. O sucesso desta solução de

Governo depende dessas reuniões que nós fazemos de forma mais intensa. Com alguns dos parceiros dessas reuniões já tem relacionamento pessoal desde os tempos da faculdade...

Sim, eu conheço o Jorge Costa e o José Guilherme Gusmão desde a faculdade. Conheço ma is alguns,

mas que entretanto abandonaram o BE. Conheço o 7.,é da Associação de Estudantes do ISEG, já passámos férias juntos, somos amigos pessoais. Isso foi relevante?

O que é relevante no trabalho que fazemos aqui é a relação de confiança que foi construída. Isso sim. Foi construída uma relação de confiança que é essencial neste tipo de trabalho. Essa é muito sólida. Há quem diga que o Bloco Central só se fez pela relação entre Mário Soares e Mota Pinto. Agora, estavam as pessoas certas no momento certo?

Não diminuo a importancia do indivíduo e da liderança. Mas é

muito mais do que isso. São vários os fatores que permitem que a solução funcione. A dureza da solução anterior, o radicalismo a que se entregou o PSD e o próprio CDS. O desafio constante de uma grande parte do eleitorado de esquerda. Houve vários movimentos e mesmo partidos que tinham quase como projeto o encontro entre as esquerdas, como o Congresso Democrático das Alternativas, o próprio Livre, as Aulas Magnas... foram vários momentos pré-eleitorais de desafio à esquerda. E durante a campanha os três líderes foram várias vezes interpelados por apoiantes que lhes diziam «entendam-se, entendam-se».


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66 O meu pai empresário e defensor do aumento do salário mínimo Ter uma empresa de familia dá-me independência da política Em breve serei pai pela primeira vez e já está a mudar a minha vida O meu vai ser o primeiro filho da 'geringonça'. e eu nem gosto dessa palavra

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Isto já estava na sua cabeça durante a campanha?

Na minha cabeça trabalhar em conjunto já estava há muitos anos. E que a esta solução seria possível?

Nós estivemos sempre concentrados em ter o melhor resultado possível. Era para isso que trabalhávamos. Estava a lembrar-me de uma cena em Águeda quando estavam a jogar à bola e António Costa lhe fez passe, dizendo que passar-lhe a bola «tinha um grande significado político». Como é que interpreta isto? Só podia ter significado políti-

co porque eu sou um péssimo jogador. Foi uma simpatia de

O Governo tem três secretários de Estado com capitis diminutio. Não podem mexer em dossiês da Galp. Isso não é um problema?

muito importante trabalho nas suas áreas. Esse é um assunto que para nós está fechado. A exigência que o povo português vai fazendo aos detentores de cargos públicos vai aumentando ao longo dos anos. Isso é bom, não é mau. E nós vamos também acompanhando esse grau de exigência. É por isso também que este Governo também pela primeira vez aprovou um código de conduta que reduz as incertezas e que torna mais claro e transparente aquilo que pode e não pode ser feito. Foi um ganho que resultou desse episódio.

Não. Esses três secretários de Estado são excelentes membros do Governo, de grande qualidade. E estão os três a fazer um

O seu avô era sapateiro, tinha uma oficina de calçado, os seus pais já têm uma fábrica de calçado...

António Costa. Nada mais do que isso. Na próxima geração vai haver um frente a frente no PS: Pedro Nuno Santos contra Fernando Medina?

Eu e o Fernando Medina vamos estar do mesmo lado. De certeza. Teria ido ao jogo a convite da Gaip? Foi convidado?

Não quero falar sobre isso.

Não. Nós temos um grupo de várias empresas ligadas ao setor do calçado, fazemos quase tudo menos sapatos. Equipamentos industriais principalmente. Chama-se Tecmacal. Hoje as empresas não trabalham apenas para o setor do calçado, o setor do calçado tem vindo a reduzir o seu peso. É neto de sapateiro, filho de empresários, foi deputado e é secretário de Estado. O seu percurso mostra que é um mito a ideia de que não há mobilidade social em Portugal ou é uma exceção à regra?

Não podemos tirar nenhum exemplo para o país a partir da minha família. A única coisa que sabemos é que uma econo-

mia de mercado gera desigualdades, facilita a concentração de riqueza e que precisamos de políticas públicas que garantam maiores níveis de igualdade à sociedade e é para isso que no PS trabalhamos. Que queixas sobre o atual Governo o seu pai lhe faz?

O meu pai é um humanista e é um empresário com um grande sentido daquilo que são as desigualdades e injustiças que temos na sociedade. É membro da direção da APICCAPS, da associação dos produtores do calçado, e é sempre um defensor acérrimo do aumento do salário mínimo, por exemplo. Obviamente, que faz outras críticas, mas eu não queria estar agora aqui a elencá-las. Tem uma empresa de família. Já trabalhou nessa empresa...

E voltarei para essa empresa quando terminar a minha participação política. Essa retaguarda dá-lhe uma independAncia maior na política?

Dá, obviamente. Dá-me independência, por exemplo, para eu defender um sistema fiscal progressivo, para defender que no atual contexto que vivemos não se possa reduzir a tributação sobre os rendimentos de capital, dá-me independência para poder defender aquilo que aparentemente - só aparentemente - não é do interesse das empresas. Eu acho que é do interesse da economia de mercado e das empresas vivermos numa sociedade justa, com elevados níveis de igualdade. Isso favorece o crescimento económico e favorece a atividade das empresas. Vai ser pai pela primeira vez daqui a muito pouco tempo. Já pensou como isso vai mudar radicalmente a sua vida? Já está a mudar, é óbvio. Vai ser

mais um momento feliz da minha vida. Este é o primeiro filho da `geringonça'. É uma exceção, porque eu não uso esse termo, como sabem, não gosto do termo. Mas é o primeiro filho da 'geringonça'. Como é que vai conciliar esta vida de coordenação da geringonça com a vida familiar? Como todos os outros portugue-

ses conciliam a sua vida familiar com a sua vida profissional.


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GRANDE ENTREVISTA A PEDRO NUNO SANTOS O HOMEM FORTE DA GERINGONÇA

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`Antes havia uma ala esquerda no PS, hoje há uma pequena ala direita' `António Costa salvou o PS' Pags 14-19

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