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DIÁRIO DE AVEIRO | Fernando Martins Nogueira, 2020.05.04 Que relançamento? A aproximação do fim do confinamento, que desejamos, é também um teste à nossa capacidade de vivermos e trabalharmos num quadro de condicionamento social exigente, que estabelece um estranho “novo” dever cívico, de afastamento social. Não é, portanto, nenhum regresso à normalidade. Muito foi feito, individual e coletivamente, para aqui chegarmos, mas o caminho, incerto, continuará a ser exigente. Estes tempos dão ainda mais sentido ao provérbio: “candeia que vai à frente alumia duas vezes”. Seria expectável, portanto, que as lideranças fossem firmes, mas informadas, que fossem parte da solução (e não um problema mais), que tivessem sentido de humanidade e alguma capacidade de antecipação. Os exemplos dos Estados Unidos e do Brasil chegam para ilustrar o mau serviço que os líderes podem prestar. Também Aveiro viveu um tempo particularmente esquisito. Foi confrangedora a falta de sentido de sentido de Estado do presidente da Câmara, e não só pelas suas subidas à tona para fazer prova de vida. Basta relembrar que a Câmara anunciava, a 20 de março, mais obras na E.N. 109, no mesmo dia em que o Partido Socialista, apreensivo, entregava uma proposta de ação, refletida e fundamentada, relativa à crise COVID-19. A Câmara nunca foi proactiva e o que lhe falta em ação sobra-lhe em vídeo-dramas. Estamos a dois dias do fim do confinamento e haverá uma fase 2 de um programa municipal de relançamento social e económico. Quem nela atentar, encontra uma mão-cheia de quase nada. Retoma do transporte público, e, claro, do pagamento, com oferta de máscaras, mas só para os que têm passe; extensões de prazos para as Associações e possibilidade de um extra (pelas despesas do COVID), mas numa base individual e casuística; e, uma borla até 18 de maio no estacionamento pago, mas com ênfase no lançamento da nova plataforma eletrónica, associada às cobranças. A pergunta é: que relançamento? O plano que o PS era claro, em muitas coisas. Destaco a ideia de criar uma Comissão de Emergência Social, composta pelo executivo e por representantes de setores-chave (Juntas de Freguesia, IPSS, Associações Culturais, Desportivas e Humanitárias, Conselhos e Redes municipais, Associações comerciais e industriais), a qual deveria, em tempo útil, preparar e executar, em todas as fases, medidas minimizadoras das dificuldades “que irão sofrer os munícipes aveirenses e as empresas que no nosso concelho têm a sua sede”. Portanto, em vez de ação casuística, ação concertada; em vez de respostas reativas, antecipação e preparação amadurecida deste ‘novo’ futuro, carregado de angústia e do cinzento da fome e do desemprego. Aveiro está entre os municípios que cresceram à custa do turismo e da restauração. Não escapará, por isso, à crise destes setores e devia implementar medidas de contingência para minimizar o desemprego. Essas pessoas estão cá e, muitas, possuem competências que podem ser úteis, nesta crise, havendo o engenho para as enquadrar, em regime transitório, e até informal, através das associações, empresas e instituições públicas em tarefas como, por exemplo: formação para proteção e isolamento social; produção de equipamento de proteção individual; formação expedita de competências na utilização de ferramentas digitais; ajuda nos acessos a fundos e ajudas (burocracia); bancos alimentares locais; confeção e venda de refeições em cantinas; dinamização das produções agrícolas locais e de redes curtas de abastecimento alimentar; promoção da restauração e compras locais, organizando encomendas e entregas; acompanhamento de idosos e filhos de desempregados; serviços de reparação e manutenção (eletricidade, jardins), cuidados pessoais em espaços confinados e seguros. Em muitos casos, os espaços de associações (fechados ou em atividade parcial) e os seus recursos humanos e organizativos, podiam ser redirecionados para estes fins, se, para isso, houvesse capacidade mobilizadora e organizativa. A vitalidade daquelas ficou bem demonstrada! Fernando Nogueira Professor de Urbanismo da UA Deputado Municipal do PS

Partido Socialista | CPC – Aveiro Rua Guilherme Gomes Fernandes, nº 8 | 3800-197 Aveiro www.psaveiro.ps.pt | psconcelhiaaveiro@gmail.com


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