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DIÁRIO DE AVEIRO | Joana Fonseca Valente, 2020.04.16 “Achatar a curva” das mortes causadas pela poluição do ar Dia 12 de abril assinalou-se o Dia Nacional do Ar. A propósito, a Agência Portuguesa do Ambiente relembrou que “apesar das melhorias significativas registadas nas últimas décadas, em Portugal, a poluição do ar causa cerca de seis mil mortes por ano, agrava problemas respiratórios e cardiovasculares, é responsável por dias de trabalho perdidos e contribui para elevados custos de saúde com grupos vulneráveis como crianças, asmáticos e idosos”. A crise de saúde pública que enfrentamos nestas últimas semanas, e que levou a maior parte dos países a implementar medidas drásticas de confinamento com as consequentes reduções das diversas atividades económicas, tem impactes, já mensuráveis, no ambiente. Um desses impactes, benigno, é a diminuição (temporária) da poluição atmosférica e consequente aumento da qualidade do ar, em particular em meio urbano. Esta redução drástica nas emissões de poluentes atmosféricos tem vindo a ser monitorizada e estudada pelas instituições competentes na matéria. A Agência Europeia do Ambiente (https://www.eea.europa.eu/themes/air/air-quality-and-covid19/air-quality-and-covid19) apresenta os resultados desta monitorização e podemos lá encontrar também os resultados da qualidade do ar em Aveiro, que teve nestas últimas quatro semanas a mais baixa concentração de poluentes dos últimos cinco anos. Nos aglomerados urbanos, e analisando a situação ao nível local, as melhorias da qualidade do ar estão relacionadas essencialmente com a diminuição do tráfego automóvel (às quais se somam as melhorias causadas pela diminuição da atividade industrial regional). Esta melhoria da qualidade do ar, apesar de benigna, é causada por uma situação sem precedentes, da qual todos esperamos sair rapidamente e que, como consequência terá terríveis impactes sociais e económicos. Se tudo correr como desejável, os níveis de poluição atmosférica começarão a aumentar em algumas semanas. Pelo caminho, uma parte significativa das pessoas reinventa formas de estar e de trabalhar: experimentamos plataformas de teletrabalho, ensinamos/aprendemos à distância, fazemos teleconsultas, usufruímos de serviços digitais propiciados pela modernização administrativa dos nossos serviços públicos, fazemos compras, fechamos negócios, atuamos ou assistimos a espetáculos …. sem pegar no automóvel. Todas as crises trazem com elas oportunidades, nem que sejam de aprendizagem, de reinvenção, de superação. Mesmo não sendo necessário passar por esta crise para sabermos que é assim, isto só reforça a necessidade de políticas públicas que não façam uma opção declarada e descarada pelo automóvel. Quem o fizer, não merece mais qualquer credibilidade. A diminuição da poluição atmosférica pode ter um impacte real na saúde e na qualidade de vida das pessoas. Nunca, numa situação de normalidade e num curto espaço de tempo, iremos atingir a qualidade do ar que assistimos nestes dias, resultante do confinamento social e fecho da atividade económica. Mas podemos (pessoas, empresas, instituições, governos) incorporar algumas destas práticas na vida pós- COVID, com benefícios óbvios para a poluição atmosférica, para a saúde pública, para a qualidade de vida. Esta é uma oportunidade para “achatar a curva” das mortes causadas pela poluição atmosférica.

Joana Valente Vereadora do PS na Câmara Municipal de Aveiro Investigadora na área Ambiental

Partido Socialista | CPC – Aveiro Rua Guilherme Gomes Fernandes, nº 8 | 3800-197 Aveiro www.psaveiro.ps.pt | psconcelhiaaveiro@gmail.com


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