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DIÁRIO DE AVEIRO | Joana Fonseca Valente, 2020.03.23 #FicaEmCasa À hora que escrevo existem 378 292 casos contabilizados de pessoas infetadas pelo novo coronavírus, causador da doença covid-19. Em Portugal, os casos contabilizados ultrapassaram os 2000… seremos uns quantos mais. Em semanas o impensável (mas pensado e estudado já por alguns) aconteceu. Um vírus com o qual não tínhamos contacto anterior, e por isso não temos vacina nem imunidade, espalhou-se por todo o mundo, sem exceções. A teoria diz-nos que, sem qualquer tipo de medida, este vírus tem capacidade de rapidamente infetar cerca de 60 a 80% da população. Os estudos existentes apontam para, entre os infetados, 30% de assintomáticos, 55% com sintomas leves a moderados, e cerca de 15% com necessidade de hospitalização (10% de casos severos e 5% de casos críticos). As contas são fáceis de fazer, sem medidas restritivas (e o seu necessário cumprimento), não há nenhum sistema de saúde capaz de responder a um vírus que em poucas semanas resulta na necessidade de hospitalização por algumas semanas de uma parte significativa da população. Não haverá camas, não haverá recursos humanos, não haverá equipamento médico suficiente. O que podemos fazer então? Abrandar a propagação do vírus. Ter menos infetados por dia que numa situação sem restrições. Dar tempo a que os sistemas de saúde se organizem, que os protocolos de atendimento e tratamento estabilizem, que se produza mais equipamento médico e de proteção, que mais doentes recuperem e libertem camas e equipamentos, para que a capacidade de resposta dos serviços médicos não colapse. E como podemos fazer isto? Quebrando as cadeias de contágio! Os estudos indicam que cada infetado infetará em média três pessoas. Cada uma dessas, mais três, e por aí em diante. Ao ficarmos em casa, promovendo o isolamento social e cumprindo as medidas sanitárias, estamos a quebrar essas cadeias. Ao ficar em casa (mas é ficar em casa mesmo) está não só a proteger-se a si, mas a proteger a comunidade. Pense nas dezenas de pessoas com quem contacta num dia normal, nas dezenas de pessoas que esses contactam e imagine o papel crucial de cada um de nós ao ficar em casa. Ninguém pode garantir que não está doente quando se estima que cerca de 30% dos infetados não terá sintomas, e que a partir do momento da infeção passam alguns dias em que não temos sintomas. E uma vacina? A comunidade médico-científica trabalha 24h sobre 24h em novas vacinas. Mas considera-se irrealista pensar numa vacina disponível em menos de um ano (desenvolvimento, testes de eficácia e segurança, produção em massa). Por quanto tempo temos que ficar em casa? Não se sabe para já, mas não recuperaremos alguma normalidade antes que passem algumas semanas. Até ao aparecimento de uma vacina eficaz e universal teremos que viver tentando manter o número de infetados dentro da capacidade de resposta dos serviços de saúde, e construindo imunidade de grupo. Considera-se que uma população tem imunidade de grupo quando cerca de 60% da sua população já tem anticorpos, ou seja, foi infetada, recuperou, e está agora mais protegida contra o vírus e as suas variantes, não voltando a ter infeção, nem contagiando ninguém. Nesse momento as cadeias de contágio quebram-se naturalmente, e baixamos o número de potenciais infetados para números aos quais os serviços de saúde podem responder. Ou seja, passado o pico do número de infetados, lentamente retomar-se-á alguma normalidade, mantendo elevada proteção aos grupos de risco. Por isso, fique em casa. Por si, pela sua família, pelos grupos de risco, por todos os profissionais que continuam a sair para que tenhamos serviços de saúde, segurança, bens essenciais, por todos os que têm que sair para que o país continue a funcionar e não entremos num colapso pior que o do vírus. É difícil, a provação é grande, mas a evidência científica é de que conseguimos vencer, com disciplina individual e com o contributo de todos. Fique em casa. Joana Valente Vereadora do PS na Câmara Municipal de Aveiro Investigadora na área Ambiental Partido Socialista | CPC – Aveiro Rua Guilherme Gomes Fernandes, nº 8 | 3800-197 Aveiro www.psaveiro.ps.pt | psconcelhiaaveiro@gmail.com


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