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DIÁRIO DE AVEIRO | Mário A. Costa, 2020.03.09 Aveiro de papel em fase de projeto Vamos construir uma cidade. Uma cidade em papel. Uma cidade de grande complexidade, rigorosa, séria, responsável e intensa. Uma cidade feita por gente muito competente. Gente que faz estudos tão bem feitos que a imprensa local se apodera deles com tanta sofreguidão que nos deixa atónitos. Até o Diário da República participa na festa da construção. É o delírio. A uma velocidade estonteante, surgem fases por tudo quanto é lado. Por só ter quatro, a Lua já não nos acompanha. Estamos lá, sem nunca lá termos chegado. É tudo em grande. Em Aveiro só sobrevive quem é grande. Agora está a surgir um mega pavilhão desportivo. Dizem que vai ser uma oficina do desporto. Ergue-se com todo o seu esplendor ao lado do EMA. Já o estou a ver. Um trabalho rigoroso, aturado e complexo que não o desportivo. É já uma adaptação à realidade dos nossos dias, porque alguns putos com doze anos já calçam 45. É esta visão de grandeza que nos acompanha. Somos assim. Os maiores. Nem a árvore de Natal escapa à lei da grandiosidade. O barco moliceiro estilizado substituiu a estrela. Sim, porque uma das estrelas de Aveiro é o barco moliceiro. Este, vai assistindo impávido e sereno deslizando pelas espelhadas águas dos canais, às diversas fases dos processos. Assistiu à criação da Avenida Europa, sem reivindicar para si a promoção do canal de S. Roque a Avenida Atlântica. Ficou preocupado com o anúncio da deslocalização da estátua ao Soldado Desconhecido por ser demasiado pesado e a sua TAL ( tonelagem de arqueação líquida) não a suportar. Em contrapartida ficou satisfeito com a hipótese de construção de um parque subterrâneo mesmo ali ao lado dos ancoradouros e, por não estarem sujeitos às agruras do tempo, os invernos serão menos rigorosos. Mas deixem-me falar da suposta grande estrela. Um certo dia, o Sol sucumbiu ao peso do dia e nesse mesmo instante surgiu uma estrela vinda do ocaso, do lado das gafanhas. Os aveirenses pensaram que o obscurantismo era coisa do passado. Essa suposta estrela traria consigo a luz que o sol nos acabara de tirar. Com 24 horas de luz por dia, o processo de construção nunca pararia. A nova estrela seria a complementaridade do Sol. Puro engano. Ao fim de algum tempo regressámos à terra, o mesmo é dizer à realidade. Muitos foram enganados. Afinal o astro que brilhava quando o Sol se deitava no horizonte, era um simples planeta. Arrogante, ditador e mentiroso como a Lua, eilo todos os dias invadindo a cidade. Agora também quer ser cometa para, obsessivamente, deixar rasto por onde passa. Um rasto de destruição, diga-se. Parece um elefante numa loja de cristais. Vaidoso e a olhar para a sua cauda, vai andando sem saber para onde vai durante a sua órbita. Devia ser como o cometa Halley e só voltar a aparecer daqui a 75 anos. Mas a cidade lá se vai construindo e reconstruindo todos os dias com estudos, projetos e publicações. Como é bom sentir a cidade crescer assim. Aveiro é uma cidade moderna, tecnológica e digital que vive um paradoxo – uma cidade virtual que cedeu à tecnologia do papel.

Mário Costa Vogal do PS na Assembleia de Freguesia (UF Glória e Vera Cruz)

Partido Socialista | CPC – Aveiro Rua Guilherme Gomes Fernandes, nº 8 | 3800-197 Aveiro www.psaveiro.ps.pt | psconcelhiaaveiro@gmail.com


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