Ushuaia - A cidade do fim do mundo

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Ushuaia

A cidade do fim do mundo




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Editorial Ushuaia, a cidade do fim do mundo, se tornou um dos destinos turísticos mais procurados na América do Sul e esta publicação mostra o porquê. Suficientemente distante de grandes centros e romântica por natureza, ela trás um isolamento aconchegante, mas com uma “pegada” de aventura e ecologia. Entenda sua história, mergulhe na cultura nativa e distribua os inúmeros atrativos pelos dias de sua estadia. Com certeza serão dias intensos e inesquecíveis mesclados com momentos de paz e tranquilidade que a apreciação de bons vinhos, a excelente gastronomia argentina e o calor dos aquecedores nos trazem.

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50 Conselho Executivo Ana Lucia F. dos Santos, Eduardo Hentschel, Luigi Longo, Márcio Masulino, Mário Zelic e Thabata Alves Editora Renata Weber Neiva Reportagem Alice Neiva e Nathália Weber Assistente de produção Evellyn Alves Diretor Comercial Márcio Alves CIDADE & CULTURA SÃO PAULO é uma publicação anual da KM Marketing Cultural PARA ANUNCIAR (11) 97540-8331

Produção Gráfica Márcio Alves Produção Audiovisual KM Films Fotografias Marcio Masulino, Thabata Alves, Ana Lúcia F. dos Santos e Victor Cioffi Foto Capa Márcio Alves Versão Online CONHEÇA O NOSSO SITE www.cidadeecultura.com


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Índice 06 Linha do Tempo

42 Lago Escondido e Fagnano

Ushuaia, datas históricas

Experiências em meio a natureza

10 História

44 Castores

A Terra do Fogo

Castoreiras e o meio ambiente

16 Presídio

46 Lagoa Esmeralda

A prisão do fim do mundo

Água cristalina das geleiras

20 Base naval e o porto

50 Ilhas de Ushuaia

Base Naval, o porto e a zona franca

Isla Martillo e Isla de Los Lobos

22 Malvinas

58 Puerto Almanza

Cicatrizes de uma guerra

Cultura viva na vila de pescadores

24 Museus

62 Cerro Castor

A história preservada

A estação de esqui de Ushuaia

28 Farol

66 Gastronomia

O farol por onde passa a história

Aromas e sabores do extremo sul

30 Trem do Fim do Mundo

70 Roteiros

Anda-se de trem no fim do mundo

Não deixe de visitar

34 Meio Ambiente

76 Depoimento

Andes, Patagônia e Parque Nacional

Trilhas do nosso continente

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Linha do Tempo

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FOTOS: MARCIO MASULINO

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Presença dos índios fueguinos na região

+12.000 a.c.

Fernão de Magalhães chega na Patagônia e avista uma tribo com fogueiras acessas

1520

Alonso de Camargo, o primeiro homem branco a invernar na região

Captura de nativos para serem levados para a Inglaterra

O Navio HMS Beagle com a presença de Charles Darwin zarpa da Inglaterra em direção a Patagônia

1541

1826

1831


REPRODUÇÃO

Ushuaia

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A bandeira argentina é hasteada pela primeira vez na região

O missionário Thomas Bridge funda a missão Anglicana, em Ushuaia

Um acordo pretende por fim aos conflitos pela disputa do Canal de Beagle entre a Argentina e o Chile

1868

1870

1881

Determinada a criação da subprefeitura de Ushuaia

1884

Início da construção do templo católico pelos salesianos

1897


TATYANA ANDRADE

FOTOS: MARCIO MASULINO

Imagens

8 CidadeeCultura.com


Ushuaia 9


História

A Terra do Fogo ANTES DE COMEÇARMOS A ESCREVER SOBRE A HISTÓRIA DE USHUAIA, temos que situar o avanço das conquistas dos países europeus no Oceano Atlântico, em um período chamado de “Era das Grandes Navegações”. Tudo começa com a cobiça dos países europeus, principalmente Portugal e Espanha em chegar à Ásia por um caminho mais rápido do que contornar o continente africano. O Mediterrâneo era uma rota muito concorrida e os portos situados onde hoje está a Itália eram os mais favorecidos pela localização. Depois que Cristóvão Colombo chegou às Américas, seria fácil imaginar que se contornando a “pequena” massa de terra recém descoberta, logo chegariam ao objetivo pelo Oceano Pacífico. Ledo engano. A pequena “massa de terra” era muito maior, não imaginavam o tamanho. 10 CidadeeCultura.

PRIMEIROS HABITANTES As fogueiras que Fernão de Magalhães viu e que o fez nomear a região como “Tierra del Fuego”, eram dos povos que ali habitavam: selknam (ou ona), haush (ou manekenk), tehuelche (aonikenk), yamana (yagan) e alakaluf (kaweskar). As fogueiras chamativas eram grandes e nunca se apagavam. Era garantia de sobrevivência dos nativos em terras tão gélidas. Segundo a teoria mais aceita, estes homens chegaram até o extremo sul da América do Sul, vindos pelo estreito de Bering que liga a Rússia aos EUA, há onze mil anos, e caminharam até aqui, em muitos séculos de peregrinação. Eram caçadores, coletores, nômades e viviam em grupos familiares. Uns nas planícies caçando os guanacos, como os


REPRODUÇÃO

MAQUETISTAS: CARLOS CASELLA E GUIDO DE STEFANO

Povos Nativos - Yaghanes e Yamanas

haushs, os selknans e os tehuelches. Outros no litoral onde caçavam focas, lontras, gansos, peixes e até leões-marinhos, como os yamanas e os alakalufs. Estes, quando mudavam de local, viajavam de canoas onde sempre levavam o fogo em montículos de areia. Um destaque para as mulheres que eram exímias mergulhadoras e nadadoras no mar gelado, onde caçavam moluscos. Em 1870, chegou a “civilização” e os homens brancos trouxeram junto a varíola, o sarampo, a tuberculose, a pneumonia e também a necessidade de ocupação das terras para mineração e criação de animais. Então os nativos foram mortos ou pela doença ou pelo tiro. Infelizmente, atualmente são considerados como extintos.

FERNÃO DE MAGALHÃES Nasceu em Portugal e organizou a primeira circumnavegação que começou em 1519 e terminou em 1522. O nobre Fernão estava acostumado a navegar até as Ilhas Molucas, Ásia, conhecida como Ilhas das Especiarias, e sabia da importância econômica de achar uma rota mais fácil para chegar até elas. Mas, foi pela Espanha que a expedição foi feita e patrocinada. Chegou à Patagônia em 1520. Quando avistaram uma tribo com fogueiras acesas, Fernão nomeou a região de “Tierra del Fuego”. Conseguiu passar pelo estreito que hoje leva seu nome e alcançar o Oceano Pacífico, que, aliás, também foi nomeado por ele, em um comparativo com as águas turbulentas do Oceano Atlântico. O feito de Magalhães foi tão grande e heroico que até hoje é reverenciado em muitas áreas e homenageado em algumas descobertas como: a espécie de pinguim-demagalhães, crateras lunares de Magalhães, crateras marcianas de Magalhães, Estreito de Magalhães e Nuvens de Magalhães. Infelizmente Fernão morreu em uma batalha em Cebu, Filipinas, em 1521. Após a sua morte, a expedição voltou para a Espanha, porém chefiada por Juan Sebastian Elcano, em 1522. Ushuaia 11


Canal de Beagle

MARCIO MASULINO

História

Canal de Beagle O Canal de Beagle é um estreito localizado na Terra do Fogo que separa as várias ilhas do arquipélago. Como está na pontinha sul da América do Sul, é um ponto de ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Sua extensão é de 240 km. Em suas margens estão localizadas as cidades Ushuaia (argentina) e Puerto Williams (chilena). O Canal de Beagle recebeu este nome em homenagem ao navio HMS Beagle que fez duas expedições exploratórias no local e, em sua segunda expedição, levou o naturalista Charles Darwin, autor da teoria evolucionista.

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EXPEDIÇÕES A primeira foi a de Fernão de Magalhães, em 1520, e levava a bordo o italiano Antônio Pigafetta, que escreveu o léxico da língua patagônica, pois capturou um nativo e com ele aprendeu seus fonemas. Depois, 1541, Alonso de Camargo, foi o primeiro homem branco a invernar na região, provavelmente no Canal de Beagle. A Espanha reivindicou a Terra do Fogo, mas não impediu que ingleses e holandeses fizessem suas investidas. Então, para a proteção da região, os espanhóis tentaram construir fortificações e levar pessoas dispostas a colonizar, porém sem sucesso devido ao clima hostil e a agressividade dos nativos. Em 1771, Manuel Prado penetrou no Canal de Beagle e o descreveu. Dezessete anos mais tarde, foi a vez da expedição científica de Antônio Malaspina, e tanto outros mais. A expedição que mais teve relevância foi a de 1826, liderada pelo capitão Philip Parker King (que se suicidou) e comandada pelo imediato Robert FitzRoy, pois foram capturados nativos e o Canal de Beagle explorado com mais exatidão. Os índios foram levados para a Inglaterra onde aprenderam o modo de vida e a língua dos ingleses. Lá receberam os nomes de Jeremy Buttom e Fuega Basket. Como consequência, em 1831, o famoso navio HMS Beagle zarpou da Inglaterra com Charles Darwin, o missionário anglicano Richard Mathews e os nativos capturados. A intenção era fazer com que estes, educados na Europa, pudessem influenciar os outros habitantes fueguinos a aceitarem os costumes ingleses e a religião de Mathews. Não deu certo, os nativos fugiram e deixaram o missionário que ficou a míngua sob domínio dos locais. Enquanto isso, Darwin explorava cientificamente a região dando base a sua importantíssima Teoria da Evolução.


FERNAND LAHILLE

MÁRCIO MASULINO

DISPUTA TERRITORIAL O Canal de Beagle, por muito tempo foi disputado pela Argentina e pelo Chile. Nessa disputa, momentos diplomáticos tensos foram gerados. O denominado Conflito de Beagle, começou desde a colonização das terras austrais e, em 1881, os dois países assinaram um acordo sobre a territorialidade do Canal, chamado de Paz de los estrechos. Porém, neste tratado, não ficou muito claro e definido a soberania das inúmeras ilhas existentes ao longo do Canal. E o conflito diplomático continuou até os anos de 1978, quando o Papa João Paulo II interferiu na decisão do Tribunal Internacional que arbitrou ao favorecimento chileno, um ano anterior. A Mediação Pontifícia evitou uma guerra entre os países, cada vez mais iminente. A paz veio com a assinatura do Acordos de Montevidiéu, em 1979, na cidade de Montevidéu, Uruguai. A região do Canal de Beagle proporciona um passeio deslumbrante feito por embarcações que passam por ilhas como a de los Pájaros (pássaros como cormoranes-reales) e de los Lobos (ilha dos leões-marinhos), o farol Les Eclaireurs (datado de 1919 e cartão postal de Ushuaia), ruínas arqueológicas do povo yamanas e, por fim, experimentar um pouco da aventura dos primeiros navegantes que por aqui passaram e tanto se impressionaram com as paisagens naturais, sua fauna e sua flora.

ESTÂNCIA HARBERTON Uma fazenda datada de 1887, localizada na Isla Martillo, é hoje Monumento Histórico Nacional. Foi fundada por Thomas Bridges. Aos 13 anos, Thomas e sua família foram de Londres para as Ilhas Malvinas. Nas Malvinas conheceram a cultura do povo nativo da Terra do Fogo, os Yamanas. Como missionário, logo fundou a Missão Anglicana, em 1870, em Ushuaia. O nome Harberton, foi em homenagem ao lugar de origem de sua esposa, em Devon, Inglaterra. Foi o primeiro armazém de produtos importados da região. Hoje, a fazenda vive do turismo e da criação de ovelhas para lã e gado para carne. Pinguinera

Captura de índias - 1896

MÁRCIO MASULINO

A COLONIZAÇÃO Com Ushuaia já oficialmente pertencente à Argentina, Luis Piedra Buena e sua família construíram uma casa na Ilha dos Estados, em 1852, que mais tarde foi oficializada pelo presidente argentino Bartolomé Mitre, onde pela primeira vez, em 1868, a bandeira da Argentina foi hasteada. No ano seguinte o inglês Waite Hockin Stirling, missionário anglicano vindo das Ilhas Malvinas, veio para morar, criar ovelhas e tentar levar a Palavra de Deus aos índios. Waite foi o primeiro bispo anglicano das Ilhas Maldivas, ainda com o ideal de civilizar os nativos da Terra do Fogo, pois Ushuaia 13


História

várias tentativas anteriores terminaram de forma trágica: ou com os missionários sendo massacrados pelos yamanas, ou morrendo de fome. A casa edificada por Stirling ainda está de pé localizada em Puerto Willians e hoje é um museu dedicado aos primeiros missionários da região. Stirling trouxe com ele Thomas Bridge, filho de missionário, já estabelecido nas Malvinas. Bridge dominava o idioma dos yamanas (escreveu o primeiro dicionário da língua yagan), o que facilitou na conquista da confiança entre os nativos. Com isso, se fixou em Ushuaia quando definitivamente se iniciou a colonização da cidade. A tentativa de Bridge em manter os índios a salvo dos novos exploradores que aportavam na região, foram frustradas por conta das doenças e da matança provocada nas disputas de terras. Mas, conseguiu batizar alguns indígenas e realizar casamentos cristãos entre eles. Mais tarde, com muitos filhos para cuidar, ergueu uma fazenda na Isla Martillo para criar ovelhas e dar sustento à sua família. A fazenda está de pé e é chamada de Estância Harberton. Enquanto isso, Chile e Argentina disputavam o território da Terra do Fogo. Ao término desta disputa, a Argentina, em 1883, enviou a Divisão Expedicionária ao Atlântico Sul, com o objetivo de estabelecer subprefeituras. Em 12 de outubro de 1884, a subprefeitura de Ushuaia foi determinada tendo como primeiro magistrado Alejandro Virasoro y Calvo. Esta é a data oficial da fundação da cidade. No mesmo ano, foi criado o Território da Terra do Fogo e Ushuaia torna-se sua capital, tendo como governador Félix Paz. Mesmo com toda a organização política do local, o que se via era um vilarejo pobre e esquecido pelo Governo Federal argentino. Muitos colonizadores (portugueses, espanhóis, ingleses, italianos, entre outros), não conseguiam se adaptar ao clima e ao solo e, com o número decrescente dos nativos, Ushuaia não conseguia se desenvolver tão rapidamente. As instituições foram estabelecidas e serviços essenciais também,como correio, clínica médica, polícia, jornais e estâncias rurais. Com essas medidas, em 1885, a população passou a 477 pessoas. Muito da constante tentativa de atrair colonos, veio dos missionários ingleses, porque além da obra com os nativos, trouxeram para Ushuaia criações de animais como a ovelha, bois e cabras, e a exploração da madeira (a primeira atividade econômica da região). Somente em 1897 é que a igreja católica, por meio dos salesianos, construiu seu templo. 14 CidadeeCultura.com

A caça como subsistência

Igreja Paroquial Datada de 1898, é considerada Monumento Histórico Nacional. Foi construída pelos salesianos e contribuiu de forma significativa ao desenvolvimento da Patagônia argentina. Em sua última reforma, foi colocada a torre do sino. Edificada em madeira e chapa de metal, segue os padrões da arquitetura local. Está localizada onde podemos observar várias construções salesianas ao redor. Os primeiros párocos e incentivadores da construção desse templo foram padre José Fagnano e José Maria Beauvoir. Onde: Calle Maipu, 939.



PresĂ­dio

A prisĂŁo

no fim do mundo

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POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, O QUE REALMENTE ALAVANCOU O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO, foi a construção de um presídio por presos militares argentinos, para mais tarde receber outros tipos de presos, inclusive os de natureza política. Começou a ser erguido em 1902 e como consequência vieram trabalhadores de outras regiões, mais serviços necessários como eletricidade, telefone, sapataria, alfaiataria, pequenas indústrias, bombeiros, mais casas para os funcionários do presídio e suas famílias, abertura de rodovias, aumento da necessidade de embarcações, ou seja, definitivamente a infraestrutura de uma cidade. A criação de animais (que chegou a um milhão de cabeças, principalmente de ovelhas) para consumo tanto da carne como de lã, aumentaram muito e nesse rastro, mais frigoríficos e com o excedente, a exportação. A pesca e a piscicultura não ficaram para trás. Nos rios foram introduzidos salmonídeos e o aprimoramento da cata de centollas e moluscos, que foram contribuições importantes dos imigrantes espanhóis e croatas. O presídio se manteve até os anos de 1947, quando Juan Perón determinou seu fechamento. Alguns historiadores falam que o motivo do encerramento das atividades do presídio seria por razões humanitárias, outros afirmam que o custo financeiro era alto demais. Ushuaia 17


Presídio

Presos políticos e serial killers O presídio abrigava desde perigosos criminosos a presos políticos de inquestionável sabedoria e influência social. No museu do Presídio são representados por bonecos de cera com suas biografias coladas na porta das celas onde cumpriram suas penas.

Ricardo Rojas (1882-1957), advogado, professor universitário em Filosofia e Letras e Reitor da Universidade de Buenos Aires. Considerado um preso político preferiu ficar em sua pátria do que ser exilado no exterior.

Alberto N. Andino, condenado a prisão no ano de 1930, com apenas 35 anos de idade, pode se notar na foto o envelhecimento precoce.

Sacomano assassinou sua a mulher para lhe roubar o dinheiro. Foi condenado a prisão perpétua. Considerado um detento perigoso tinha sempre a atenção de guardas armados. Fonte: Livro El Presidio de Ushuaia, de Lic Carlos Pedro Vairo

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Corredores do presídio

IMAGENS INTERNAS DO PRESÍDIO (ONDE HOJE FUNCIONA O MUSEU) A energia deste local nos traz angustias e reflexões. Conta-se que os presidiários preferiam trabalhar a passar o dia no ambiente gelado e sombrio do presídio.

Aquecedores

Canos com bicos para banho

Ushuaia 19


FOTOS: MARCIO MASULINO

Base Naval

Base Naval Integrada Almirante Berisso TAMBÉM CHAMADA DE BASE NAVAL de Ushuaia, está localizada nas margens do Canal de Beagle. Foi fundada em 1950, pelo famoso presidente Juan Domingo Perón, com o objetivo maior de dar sustentação às embarcações que trafegavam na região mais austral do planeta rumo à Antártica e as que cruzavam o Estreito de Magalhães. Sua instalação se deu nas edificações do antigo presídio. A partir de 1974, o Comando Naval Austral, participa de busca e salvamento de embarcações. 20 CidadeeCultura.com


Saint Christopher

Porto de Ushuaia A movimentação de embarcações que saem com destino à Antártida ou ao Canal de Beagle retrata bem o dia a dia do Porto de Ushuaia. O verão é a estação perfeita para estes cruzeiros inesquecíveis. Na região onde está o porto, há inúmeras agências de turismo que oferecem esses passeios.

Zona Franca

O navio Saint Christopher é uma embarcação da família ATR (Auxiliary Tug Rescue), que foi concebido como rebocadores para salvamentos. Projetados por John D. Alden, os Estados Unidos os utilizaram durante a Segunda Guerra Mundial. Seus cascos eram de madeira e possuíam também motores a vapor como alternativa. Seus armamentos consistiam em 2 metralhadoras para abater aviões. Como navios de resgate e salvamento possuíam bombas de combate a incêndios, braçadeiras de cabo de aço para rebocamento, entre outros aparelhamentos. Esta família de ATRs formava um total de 40 navios. O Saint Christopher foi lançado ao mar em 1943 e transferido para a Marinha Real Britânica que o uniu à sua frota na Grande Guerra. Lá, foi batizado de HMS Justice. Participou do Dia “D”, no desembarque de tropas aliadas pela Normandia, norte da França. Após o término do conflito, o então HMS Justice voltou aos Estados Unidos, onde foi desarmado. Em 1947, foi leiloado e arrematado pelo argentino Leopoldo Simoncini, o qual o batizou de Saint Christopher. Um de seus feitos famosos foi sua utilização na tentativa do resgate do navio Monte Cervantes, navio alemão de passageiros, naufragado no Canal de Beagle em frente ao Faro Les Eclaireurs, em 1930. Com a falência da empresa Salvamar, de Simoncini, o Saint Christopher deixou de navegar em 1954. Atualmente faz parte da paisagem de Ushuaia, encalhado na costa, onde tornou-se um cartão postal da cidade. Mais um marco histórico importante, tanto da região como da sua participação no maior conflito de todos os tempos.

Outro impulso para o desenvolvimento da região da Terra do Fogo foi a Criação da Zona Franca, em 1958. O governador Ernesto Campos, viu a região com forte personalidade turística, construiu uma infraestrutura especial ao recebimento de visitantes do mundo todo e incentivando os comerciantes locais e o fomento do turismo. Mais tarde, com a “Lei da Promoção Industrial” conseguiu atrair mais moradores. Hoje é um dos destinos preferidos para exploradores que vão à Antártida, aos amantes da neve e dos que têm curiosidade de conhecer o local mais austral do mundo com sua riqueza natural e diferenciada. Ushuaia 21


Malvinas

Cicatrizes

de uma guerra

APESAR DE ESTAREM LOCALIZADAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL DA PATAGÔNIA, as Ilhas Malvinas ou Falkland é de domínio inglês. Segundo o primeiro registro, o capitão inglês John Strong aportou no arquipélago em 1690. Porém os argentinos reivindicam a descoberta ao navegador português Fernão de Magalhães. No século XVIII, franceses e ingleses se estabeleceram em partes diferentes das Ilhas. Mais tarde a Espanha reivindicou à França a ilha onde estava estabelecida, mas não teve o mesmo sucesso com os ingleses, o que gerou conflitos entre as duas nações até culminar na conhecida Guerra das Malvinas. Em 1982 22 CidadeeCultura.com

a Argentina decide invadir o arquipélago e outras ilhas do Atlântico Sul de domínio britânico. Em retaliação, a Inglaterra simplesmente dizimou os combatentes argentinos que não tiveram forças frente ao moderno e tecnológico armamento inglês. Em Ushuaia o ressentimento gerado pelas consequências da guerra é constante, pois as Ilhas Malvinas pertencem à Patagônia, ou seja, faz parte do seu território. Tanto é que na cidade há um lindo monumento em homenagem aos 649 argentinos mortos nesta guerra com a seguinte inscrição: “El pueblo de Ushuaia a quienes ... con su sangre regaron


FOTO: EDUARDO FARRE/TELAM

FOTOS: MARCIO MASULINO

FOTO: TELAM

As notícias da guerra iminente chegam de forma desencontradas e angustiam ainda mais quem está no front.

Soldados inspecionam um conteiner. Este só contém pasto e alimento para as ovelhas.

las raices de nuestra soberania sobre Malvinas... Volveremos!!!” É comum vermos nas ruas e nos carros, adesivos referentes ao desejo de retomada do arquipélago tomado pelos ingleses. Atualmente moram 130 ex-combatentes tratados como heróis pela população local. No conflito, a Base Naval recebeu tropas e acolheu os náufragos do navio ARA General Belgrano. Na época, o temor de um ataque britânico a Ushuaia era constante, mudando o dia a dia de seus habitantes. Hoje, é um lindo local para conhecer e admirar uma parte da frota marítima da Argentina e entender o sentimento da perda de soberania do país.

de uma

FOTO: AFP

Homenagem aos 649 heróis de guerra

O frio intenso e o peso do equipamento dificultam ainda mais o caminho dos soldados. Ushuaia 23


Museus

A história preservada NO ANTIGO COMPLEXO PRESIDIÁRIO FUNDADO EM USHUAIA em 1922, existe um complexo composto por quatro museus: Museo Marítimo, Museo del Presidio, Museo Antártico Dr. José María Sobral e Museo de Arte Marino, e também uma Galeria de Arte e uma Biblioteca, ambas com riquíssimos acervos. Inaugurado em 1995, foi declarado Monumento Histórico Nacional da Argentina. Os acervos dos quatro museus foram criados por doações de moradores locais, Marinha, artistas, biólogos, entre outros amantes da preservação histórica da região. A primeira parte deste empreendimento foi a restauração do edifício e a inauguração do Museu Marítimo com mapas, cartas náuticas, reproduções de embarcações, o cotidiano dos foqueiros e dos povos primitivos nativos. Assim como artefatos que datam da passagem de Fernão de Magalhães em sua circum-navegação entre 1519 e 1522. 24 CidadeeCultura.com

A etapa seguinte foi a reestruturação lúdica do Museo del Presidio, onde foram recuperadas celas que contam a história do primeiro prédio construído em 1896 até seu fechamento em 1947. Um presídio de segurança máxima onde os sentenciados passavam por duras penas e trabalhos pesados em clima inóspito. Já o Museo Antártico Dr. José María Sobral surgiu em homenagem ao primeiro marinheiro e cientista argentino a invernar na Antártica e que possuía uma enorme coleção de maquetes de embarcações antárticas. Os fãs das histórias dos desbravadores irão se deliciar com os navios como o Fram de Amundsen, o Discovery de Scott e o Endurance de Shackleton. Em outro pavilhão foi montado o Museo de Arte Marino, onde a vida marítima é retratada pela arte com a colaboração dos moradores locais e artistas que se identificam com o mar. Onde: Yaganes Y Gobernador Félix Paz


FOTO: MÁRCIO MASULINO

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1 - CRÁNEO DE GOLFINHO CALDERÓN - Os Calderones vivem em grupos de centenas de indivíduos. O grupo familiar gira entorno de 15 a 20 membros. 2 - FAUNA DA TERRA DO FOGO, INCLUINDO AS DIVERSAS ESPÉCIES DE PINGUINS 3 - GALERIA DE ARTE COM EXPOSIÇÕES ITINERANTES 4 - RÉPLICA DO NAVIO ARGENTINO ALMIRANTE IZAR

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Museus

Museu do Fim do Mundo O prédio em que está abrigado o Museu do Fim do Mundo é datado de 1903 e foi construído por Manuel Fernandéz. Suas instalações foram utilizadas por mais de 60 anos como sede do Banco da Nação Argentina. E, em 1979, transformou-se no Museu do Fim do Mundo. Este museu é fruto do esforço dos habitantes interessados em manter vivas as lembranças históricas da Terra do Fogo. ACERVO - Exposição sobre a Era do Gelo, a formação dos glaciares e peças arqueológicas dos primeiros habitantes locais como os Selknam, Mannekek, Kawéskar e os Yámana (yhaganes, últimos habitantes nativos).

- Peças dos primeiros desbravadores como Fernão de Magalhães (1520), Jacob Le Maire (1616), Luís Piedra Buena (1859), e Augusto Lasserre (1884). - Peças dos primeiros colonizadores missionários religiosos que chegaram no século XIX. Primeiro os anglicanos com Thomas Bridge, depois os salesianos com José Fagnano. - Peças de resgate de naufrágios com destaque à Máscara de Arco, que era a peça que ficava na proa dos antigos navios, naufragada em 1893. - Exposição de Coleção Taxonômica de Aves.

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E, com o mesmo bilhete de entrada do Museu, acessase a antiga Casa do Governador com seu mobiliário de época e a própria edificação em si. A casa foi construída em 1893 por ordem do então governador, Dr. Mario Cornejo e, desde 2008, é parte integrante do Museu do Fim do Mundo. Onde: Avenida Maipú, 173 - Ushuaia.


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Farol

Opor farol onde passa a histรณria 28 CidadeeCultura.com


FARO LES ECLAIREURS (FAROL) Poético e imponente, seu nome francês Faro Les Eclaireurs significa Farol dos Vigias. Foi construído em 1920 sobre as ilhas de mesmo nome. Foram batizadas pelo capitão Luís Fernando Martial da expedição francesa La Romanche, em 1882. Estas ilhas estão no situadas no meio do Canal de Beagle. O Farol possui 11 metros de altura e base de 3 metros, é pintado com duas listras grossas de vermelho e uma de branco. Sua lanterna está a 22,5 metros de altitude com alcance luminoso de 7 milhas. Tornou-se um dos principais cartões-postais de Ushuaia, por suas cores e também pelo apreço que os navegantes têm pelos faróis. São eles que salvam e direcionam embarcações. Um alento aos que estão perdidos. Símbolo da “Terra Firme” e da esperança de um porto seguro.

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Trem do fim do mundo

Anda-se de trem

no ďŹ m do mundo


FOTOS: MARCIO MASULINO


FOTOS: MÁRCIO MASULINO

Trem do fim do mundo

UM DOS PASSEIOS MAIS INTERESSANTES PARA FAZER EM USHUAIA é conhecer o Parque Nacional da Terra do Fogo, utilizando-se o “trem do fim do mundo“. Seus trilhos foram construídos pelos presidiários da ilha com o objetivo de extrair árvores nos bosques da região. Diariamente, durante anos, eram levados de trem da região central para os bosques. O caminho do passeio passa em meio a incríveis paisagens de rios, montanhas, fauna e flora. O trem sai da estação Ferrocarril Austral Fueguino na área do Parque e no final da conhecida ruta 3, que é a estrada que interliga toda a região com o restante do país. Ao longo do caminho você receberá, por áudio, em inglês, espanhol e português, informações sobre a história da ferrovia e do parque. Uma das paradas do passeio é na Estação Cascata La Macarena. Aqui você vai conhecer um pouco da cultura dos Yámanas e ver, por meio de um mirante, a nascente 32 CidadeeCultura.com

da cascata La Macarena. O caminho é muito bonito mas a velocidade do trem é lenta e ao longo de duas horas pode ficar cansativo. Na estação final do trem, você tem a opção de descer ao invés de retornar pelo mesmo caminho. Porém, se você não contratou o serviço de van no pacote do passeio terá que fazer uma caminhada pelo parque ou aguardar o próximo horário do trem. Mas você tem que ter o espirito de quem quer desfrutar cada detalhe do que está experimentando. Entrar na história dos presos, observar as cores, cheiros e sons do meio ambiente e deixar-se envolver pelas paisagens do local. Caso você seja um turista “ansioso”, vale a pena se programar para fazer apenas o caminho de ida e se andar pelo parque ou programar uma condução para te buscar na estação final. Um passeio que vale a pena.


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FOTOS: MARCIO MASULINO

Meio Ambiente

PatagĂ´nia

Cordilheira dos Andes

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Patagônia NO SUL DA AMÉRICA DO SUL ESTÁ LOCALIZADA A PATAGÔNIA. O nome Patagônia foi dado por Fernão de Magallhães ao chamar o povo de uma tribo nativa de patagão, ou seja, povo de estatura alta. Segundo descreveu, estes homens tinham aproximadamente 1,80 metro de altura, muito altos para os padrões da época. Hoje, especula-se que estes homens eram os tehuelches. Na Patagônia estão os extremos do Chile e da Argentina. Então, temos a Patagônia chilena e a Patagônia argentina. Na Patagônia argentina estão as províncias Neuquén, Rio Negro, Chubut, Santa Cruz e a Terra do Fogo, onde está Ushuaia. Como está localizada no extremo sul da Cordilheira dos Andes, o sul desta região é apelidada de Terra do Fim do Mundo. Estas terras foram descobertas quando Fernão de Magalhães tentava chegar às Índias pelo lado ocidental. Em vez de contornar a África, Fernão foi navegando a costa da América do Sul para achar um caminho direto para as terras onde as especiarias eram encontradas e que valiam muito na época. Quando chegou ao extremo sul, conseguiu finalmente seu intento, pois achou uma brecha no extenso continente sul-americano. Tanto é que o Estreito de Magalhães recebe este nome por conta da descoberta do navegador. CORDILHEIRA DOS ANDES São oito mil quilômetros ao longo da costa oeste da América do sul, que formam um conjunto ininterrupto de montanhas chamado de Cordilheira dos Andes. É a maior cadeia de montanhas do mundo. Alguns trechos possuem até 160 km de largura e sua altitude máxima está no pico Aconcágua com 6.962 metros, em Mendonza, Argentina. Na Cordilheira dos Andes estão a Venezuela, a Colômbia, o Equador, o Peru, a Bolívia, o Chile e a Argentina. Países estes pertencentes à América Andina. A formação da cordilheira vem do choque entre as placas tectônicas Nazca e Sul-americana, o que originou um dobramento gigantesco e imediato. Ushuaia 35


Meio Ambiente

Parque Nacional Tierra Del Fuego O Parque Nacional Tierra Del Fuego possui cerca de 68 mil hectares e está localizado a 12 km do centro de Ushuaia. Sua extensão cobre a Sierra de Injoo Goiyin até a costa do Canal de Beagle. Em 1960, por sua importância histórica e riqueza em fauna e flora, o transformaram em área protegida. Segundo estudos sobre os vestígios arqueológicos encontrados na baía de Lapataia, esta área foi ocupada pelos povos coletores-caçadores chamados de yámana (yagán) e selkman (onas). O Parque é dividido em zonas e cada qual possui sua regulamentação de atividades permitidas. Uma pequena parte de seu território é aberta aos visitantes, no total, dois mil hectares, onde podemos encontrar vários atrativos como estradas para 4X4 e o passeio no Trem do Fim do Mundo. O gerenciamento do Parque é feito pela Administração de Parques Nacionais, órgão ligado ao Governo Federal da Argentina. É um dos pontos turísticos mais procurados da região com cerca de 5 mil visitantes no verão. Com muitas montanhas, a região do Parque está na mesma conformação da Cordilheira dos Andes. Seus lagos, com margens pedregosas, são um espetáculo a parte, como o Lago Fagnano (hoje chamado de Kami), o Lago Roca (hoje chamado de Acigami). O Lago Roca é interessante, pois sua metade ocidental está no Chile e sua metade oriental está na Argentina. O Rio Pipo, hoje chamado de Ajej, é o rio mais importante do Parque. Com terreno montanhoso, o Parque proporciona vistas maravilhosas. Seus mirantes mostram parte do litoral e suas ilhas. 36 CidadeeCultura.com


Ushuaia 37


Meio Ambiente

FLORA Acima de 500 metros de altitude não há vegetação significativa, pois nessa altitude, os ventos, tempestades e nevascas não favorecem o florescimento, prevalecendo pequenos prados onde encontramos, líquens coloridos, musgos e gramíneas. São áreas rochosas que permanecem cobertas pela neve durante a maior parte do ano. Temos bosques de lengas que chegam a 3 metros de altura. E, aos 450 metros de altitude, temos a Floresta de Magalhães onde podemos encontrar até canela, orquídeas e samambaias. FAUNA A fauna local também é diversificada. Podemos observar: o condor-andino com uma envergadura de 3,3 metros; o guanaco, pertencente à família dos camelos (camelídeo da América do Sul); a raposa vermelha; o papagaio-dosul; o frangão-da-patagônia; o pica-pau-da-patagônia; o tordo; o beija-flor-do-sul-do-mundo; o lontra (huillín); beijaflor-rubio; martim-pescador; o rato-austral; e os animais exógenos como o castor e a truta-arco-íris.

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IMAGENS DO PARQUE - SĂŁo diversas trilhas que nos levam a lugares isolados e silenciosos onde podemos contemplar a natureza em perfeita harmonia com a fauna local.

Ushuaia 39


Meio Ambiente

Baía de Lapataia Situada às margens do Canal de Beagle, a Baía de Lapataia é um fiorde (grande entrada de mar entre altas montanhas rochosas) cuja área é protegida e está inserida no Parque Nacional Tierra Del Fuego. O nome Lapataia vem do yágan e significa “baía da floresta”. Foi parte da disputa territorial entre o Chile e a Argentina chamada de Conflito de Beagle. Possui um comprimento de 6 km, com largura máxima de 1.600 metros. Faz parte da Cordilheira dos Andes. 40 CidadeeCultura.com

Sua conformação vem da ação de geleiras, que, após o derretimento, formaram o Canal de Beagle. Os rios mais importantes são os rios Lapataia e Ovando. A fauna é rica, diversificada e observável: a centolla, lobo marinho, gaivotas, corvos marinhos, pato-de-vapor, entre outros. Além da sua relevância natural, a Baía de Lapataia possui um grande sítio arqueológico com vestígios do povo Yamana. Com a chegada dos colonizadores, Lapataia foi ocupada pelo primeiro

estabelecimento industrial da região: a serraria “La Argentina”, em 1883. Ainda é possível ver as paliçadas para o transporte da madeira extraída da floresta. Atualmente, a Baía é acessível por trilhas, que estão na área aberta para visitantes do Parque Nacional Tierra Del Fuego, onde podemos andar pelo “Caminho Costeiro”, ou ir de carro pela Rua Nacional 3, onde termina a Rodovia Panamericana. Outra atração, só que religiosa, é a peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Schöenstatt.


Tundra

Exposição cultural

Um dos aspectos naturais mais interessantes de Ushuaia é a Tundra, um tipo de vegetação, um bioma. Típica de regiões gélidas como as que estão perto dos polos, cujas latitudes são altas e com baixas temperaturas. Durante o inverno, a neve recobre o solo e no verão, com o derretimento da neve, as plantas aparecem. É uma vegetação rasteira, porém rica. Aqui, os líquens, musgos e fungos, ervas e pequenos arbustos reinam absolutos, porém, se desenvolvem somente no verão. Como o solo fica exposto a temperaturas muito baixas durante muitos meses ao ano, a formação de raízes mais profundas fica prejudicada. Seu nome vem da palavra finlandesa tunturia que significa planície sem árvores. Existem três tipos de tundra: a ártica, alpina e a antártica. Caminhar pela tundra no verão é um rico passeio, pois podemos vislumbrar paisagens lindas e inquietantes. No Parque Nacional Tierra Del Fuego você terá trilhas demarcadas que passam no meio deste diferente ecossistema.

Na parte superior do restaurante, na sede administrativa do Parque Nacional, existe um pequeno, porém interessantíssimo espaço reservado a cultura dos povos nativos da região. Maquetes, galeria de imagens, recortes de jornais e réplicas das canoas utilizados por indíos de diversas partes do mundo fazem parte do acervo deste espaço. Como viviam, moravam, caçavam, se alimentavam e se relacionavam entre as diversas tribos, tudo isso é exposto de maneira didática. Isso fará toda a diferença na maneira com que se observa a região a partir destas informações. Além disso, com certeza lhe trará uma certa revolta pela maneira como tiveram sua cultura destruída e suas tribos exterminadas, a partir de 1886 com a chegada das primeiras expedições em busca de ouro. Uma guerra de armas de fogo contra flechas com pontas de pedra. Atrocidades que nos gera angústias... A ignorância as vezes nos parece mais confortável, mas a sabedoria é que nos liberta dos erros futuros. Vale a visita, a leitura e a reflexão.

Ushuaia 41


Meio Ambiente

Lago Escondido e Lago Fagnano SE VOCÊ É DAQUELES QUE AMA VIAJAR PARA LUGARES DIFERENTES, repletos de natureza exótica, então terá que conhecer o Lago Escondido e Lago Fagnano em Ushuaia. Seguindo a Ruta Nacional 3, encontramos o mirante Paso Garibaldi onde avistamos os dois lagos. Depois passamos pela Cordilheira dos Andes e temos a visão inusitada de como os castores, que foram introduzidos na década de 1940, destroem as florestas para construir diques, as Castoreiras. Ou seja, não é apenas a visão desses lagos enormes

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que vislumbramos, mas todo o caminho para chegar até eles. Um dos passeios oferecidos pelas operadoras de turismo da cidade é o 4×4 por fazendas da região. Os passeios contemplam, além do mirante, trilhas na mata até chegar em fazendas da região. Normalmente, incluem jantares regados a vinho e acompanhados da culinária local. A experiência de um luau na beira do lago também é muito interessante.


Junho/2017

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FOTOS: MARCIO MASULINO

Castores

Castores em Ushuaia? OS CASTORES SÃO ANIMAIS NATIVOS DA AMÉRICA DO NORTE E DA EUROPA. Eles são o segundo maior roedor do mundo, perdendo apenas para a capivara. Animal símbolo do Canadá, foram intensamente caçados quando da colonização do país nos séculos XVI, XVII e XVIII por sua valiosa pele. Os argentinos com o intuito de fomentar a comercialização de peles animais, em 1946, importaram 25 casais de castores para serem criados nas terras gélidas da América do Sul, mais precisamente no sul da Patagônia. Mas, a ingenuidade e a falta de conhecimentos sobre as estruturas ambientais, fizeram desta importação uma tragédia sem precedentes. Os castores, além de se adaptarem muito bem ao seu novo habitat, puderam 44 CidadeeCultura.com

reinar em absoluto, pois não há predadores (no caso os ursos) que possam manter o equilíbrio da cadeia alimentar. Logo, milhares destes adoráveis roedores devastaram as florestas nativas da região patagônica argentina e chilena. Mas por que bichinhos tão fofinhos podem ser um transtorno? Simplesmente porque essas graciosas criaturinhas tem como instinto construir barragens nos rios e riachos. Ele roem os troncos das árvores até caírem. Com as toras e os galhos levados até os rios, misturam terra formando represas, impedido o fluxo das águas. O que está no caminho abaixo desses diques sofrem com a seca. Ou seja, modificam a paisagem natural, destroem


FOTO: SHUTTERSTOCK

florestas inteiras e espantam os animais nativos de seus habitats! A força de suas presas é tão grande, que são capazes de roer um tronco de árvore em apenas uma hora! E vão prosseguindo em um ritmo frenético criando clareiras de até 50 metros de diâmetro. SOLUÇÕES Os governos da Argentina e do Chile estão criando soluções para atenuar o impacto ambiental provocado pelos castores. Incentivo à caça e ao comércio dos produtos do castor como pele, carne e cauda é uma tentativa. Outra, é transformar a carne do castor em um prato goumert. Parece estranho, mas a carne do castor, segundo especialistas, é extremamente suculenta e macia, pois a gordura penetra facilmente no interior da carne. Os chefs se reuniram para criar um cardápio regional e daí surgiram pastéis, massas recheadas, patês, entre outros. Porém, empecilhos burocráticos ainda

impedem a comercialização da carne para restaurantes locais. Enquanto a perrengue não é resolvida, 100 mil castores constroem seus diques livremente pela região. Os moradores das aldeias próximas a Ushuaia, que convivem com os castores desde que foram introduzidos, preparam sua carne assada com molho de fungos. CASTORERAS No meio desta confusão ambiental, o turismo está ganhando um novo atrativo. No Parque Nacional Tierra del Fuego, os visitantes podem conhecer as chamadas Castorerias, locais onde os castores constroem suas barragens. Um emaranhado de troncos e galhos retorcidos estrategicamente acomodados. Uma obra de engenharia digna de estudo! O lago Fagnano, dentro do Núcleo Lapataia é um local perfeito para conhecermos estas edificações. Ushuaia 45


FOTO: MARCIO MOTTA

Lagoa Esmeralda


Ă gua cristalina das geleiras


FOTOS: MARCIO MASULINO

Lagoa Esmeralda

SE VOCÊ GOSTA DE PAISAGENS DESLUMBRANTES E LUGARES únicos e marcantes a Laguna Esmeralda, com certeza absoluta, é uma delas! No verão ela fica mais bonita porque é a estação em que o lago formado pela água que desce do desgelo dos picos fica com uma coloração verde esmeralda que salta aos olhos. Já no inverno, o lago se congela e as paisagens mudam completamente, formando belezas diferentes mas tão interessantes quanto. Porém (maldito porém), como muitos lugares singulares deste planeta, um pequeno sacrifício de 5 km de trilha montanha acima se faz necessário. No nosso caso, fizemos a trilha no inverno e tivemos que usar grampos especiais nas botas, o que deixou os já pesados trajes de inverno, um pouco mais desconfortáveis. Com algumas paradas no caminho para se contemplarar os diversos cenários por onde passamos, a trilha até que fica leve e o passeio, mesmo no frio, prazeroso. Passamos por rios e lagos, castoreiras, pontes, florestas até chegar no ponto mais alto desta trilha e a beira do hipnotizante lago. Ali lanchamos e tomamos um uisque (previamente pensado para aplacar o frio), vivenciamos o deslumbre do lugar o quanto o frio nos permitiu e seguimos novamente pelo caminho de volta. Vale a pena separar um dia da viagem para este destino e finalizá-lo com um bom vinho, saboroso jantar e um lugar quentinho para descansar as pés, as pernas, os braços... 48 CidadeeCultura.com


Ushuaia 49


FOTOS: MARCIO MASULINO

Ilhas de Ushuaia


Pinguinera na

Isla Martillo

Situada no Canal de Beagle, a Isla Martillo, também conhecida como Pinguinera, abriga uma colônia gigantesca de pinguins. Três espécies dessas adoráveis aves coabitam a ilha: cerca de 6 mil pinguinsde-magalhães , pinguins Pápua e pinguins-rei, mas somente entre os meses de outubro e abril. A maioria das empresas que levam os turistas ao Canal de Beagle não tem autorização para atracar na ilha, portanto, certifique-se. Vale a pena investir um pouco mais e ter o prazer de caminhar ao lado dos pinguins. Simpáticos e exibidos, despertam aquela alegria infantil em nós. Além da caminhada com os pinguins na praia, há trilhas no interior da ilha com os ninhos, os quais podemos observar.

PINGUIM-DE-MAGALHÃES Medem entre 65 cm e 75 cm. Na maioria deles, há uma faixa branca na cabeça e uma faixa negra que contorna o peito. Alimentam-se de peixes, crustáceos, lulas, caçando em bandos de 5 a 10 indivíduos. Mergulham até 90 metros de profundidade. Monogâmicos, se reproduzem entre os meses setembro e fevereiro e constroem seus ninhos no chão ou em tocas. Chocam os ovos até 42 dias e seus filhotes dependem dos pais até dois meses de idade. São encontrados na Argentina e no Chile. Exímios nadadores chegam até a velocidade de até 35 km/h. Seus maiores predadores são os leões-marinhos.

Ushuaia 51


Ilhas de Ushuaia

Pinguins Reis


FOTO: SHUTTERSTOCK


Ilhas de Ushuaia

Pinguins Papua

PINGUIM-REI Medem entre 85 cm e 95 cm e chegam a pesar até 17 kg. Seu diferencial está na cabeça e no dorso cuja coloração é de um laranja intenso em contraste com o preto. Alimentam-se de crustáceos, moluscos e peixes de pequeno porte. São monogâmicos, mas pode haver separação por conta de acasalamentos improdutivos. Com um ovo de cada vez chocado por 55 dias, os filhotes ficam independentes somente após 16 meses. PINGUIM PAPUA Mais uma ave característica do Hemisfério Sul e ilhas dos mares austrais… É a ave que nada mais rápido no mundo e atinge 36 km/h embaixo d`água. Pode se tornar agressivo quando disputa pedras e gramas para construir seu ninho. Sua população estimada pelo Penguin Conservation Work Group é de 640 mil e uma das caraterísticas com os diferenciam de outras espécies é a cor laranja acentuada de seus bicos. Visitá-los na Ilha nos trás uma certa euforia e você fica alucinado em querer registrar esse momento tão especial e único. Com certeza é um dos passeios mais incríveis de Ushuaia. 54 CidadeeCultura.com

Pinguins de Magalhães


Farol

Confortável catamarã

Ushuaia ao fundo

Lobos Marinhos no trajeto

Estância Harberton de onde saiem os botes para a Pinguinera Ushuaia 21


Ilhas de Ushuaia

Isla de Los Lobos

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A ISLA DE LOS LOBOS, EM USHUAIA É UM DOS ATRATIVOS TURÍSTICOS DO CANAL DE BEAGLE. Seu nome está relacionado diretamente com seus habitantes: os lobos-marinhos. Aqui, no sul da América do Sul, o lobomarinho-antártico. Uma elevação rochosa que abriga esses lindos e exóticos animais. LOBO-MARINHO-ANTÁRTICO O desengonçado lobo-marinho-antártico vive nas regiões gélidas próximas a Antártica. Formam numerosas colônias em promontórios ou ilhas rochosas. Podem não ter destreza em terra, porém são extremamente ágeis no mar. Sua alimentação é composta de animais marinhos. Territorialistas, é comum as lutas para determinação do líder. Os machos adultos, pesam cerca de 200 quilos e as fêmeas cerca de 60 quilos. Reproduzem-se no verão e podem viver até 20 anos. CORMORÃO-IMPERIAL Visto de longe esta ave da família dos Phalacrocoracidae se parece com pinguins, habita as costas antárticas e patagônicas. Podem pesar até 3,5 kg e medem entre 70 cm e 78 cm. Sua beleza está no brilho de suas penas pretas que se destacam sobremaneira do branco do peito. Alimenta-se de crustáceos, moluscos, peixes, mas o o que realmente ama é a sardinha-argentina. Quando mergulha para pescar chega até 25 metros de profundidade. Os casais são monogâmicos e fazem os ninhos com uma mistura de algas, excremento, grama e lama. Colocam até 5 ovos, incubados por 5 semanas.

Ushuaia 57


Puerto Almanza

Cultura Viva na vila de pescadores 58 CidadeeCultura.com


AS MARGENS DO CANAL DE BEAGLE, no Porto Almanza, encontra-se uma comunidade de pescadores artesanais. Fomos atraídos para lá na expectativa de conhecer os catadores de Centolla e os pescadores da região. Respirar um pouco da cultura local e, claro, saborear a culinária. Para se chegar a este pedaço do paraíso você pode vir de barco, por meio de passeios costeiros pelo Canal de Beagle, ou pela estrada, em uma viagem de aproximadamente uma hora e meia. O passeio pelo canal oferece belas paisagens, dos lobos marinhos, farol, pássaros e outras. Este passeio naútico normalmente inclui almoço em um dos bons restaurantes da vila, com cardápio de peixes e frutos do mar.

A pacata vila de pescadores

PELA ESTRADA Como já haviámos alugado um carro e “estrada” nunca nos assusta, resolvemos seguir pela famosa rota 3, sair na rota J e, quase no final dela, pegar a rota K. O sentido é o mesmo da Estância Harberton. Parte do trajeto é de terra batida e não tivemos nenhuma dificuldade. Em parte da estrada o visual é bucólico, as mesmas paisagens que já estávamos acostumados a ver. Porém, quando se chega mais próximo ao canal a vista vai se tornando única e deslumbrante. Ushuaia 59


Puerto Almanza

Revoada de pássaros

Fazendas, cavalos (inclusive na pista), revoadas de pássaros e da Ilha de Gable, além do próprio canal. Neste momento já estávamos satisfeitos pela escolha do destino e ainda nem tínhamos chegado a vila. Entrando na comunidade, já se percebe uma Ushuaia diferente daquela que estávamos visitando. Isto porque esta região ainda não foi “engolida” pelo crescimento do turismo na região. Aqui você realmente tem contato direto com os moradores, observa a rotina dos pescadores e experimenta a culinária local em restaurantes improvisados em casas da vila, porém, aconchegantes e confortáveis. O passeio para ser feito com a devida calma, leva realmente o dia inteiro e por isso é aconselhável para quem for passar uma semana na cidade.

Boas surpresas no caminho

Paella

Restaurante La Sirena y El Capitan

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FOTOS: MARCIO MASULINO

Cerro Castor

Cerro Castor A Estação de Esqui de Ushuaia



Cerro Castor

A 26 KM DO CENTRO DE USHUAIA ESTÁ A ESTAÇÃO DE ESQUI CERRO CASTOR, um lugar cada vez mais procurado pelos amantes do esporte. A altitude máxima é de 1.057 metros. Pela severidade do clima, a estação da neve é mais prolongada, entre os meses de junho e outubro. São cerca de 33 pistas com a chamada neve powder (neve recém caída, fresquinha, sonho de todo esquiador), com níveis e dificuldades diferentes e nomes interessantes. Algumas delas: Caminito del Bosque com 2.300 metros e nível fácil. Castorcitos I com 90 metros e nível fácil. Chulengo com 1.250 metros e nível difícil. Los Ñires com 350 metros e nível médio. Piedra Negra com 1.100 metros e nível difícil. Liquen com 900 metros e nível difícil. Para chegar até as 31 pistas, há 12 modos de elevação 64 CidadeeCultura.com

que abrem às 10 hs e fecham, na maioria deles, às 17 hs. O complexo possui, ao todo, 650 hectares de pura emoção, 8 restaurantes e lanchonetes como o Terrazas del Castor e o Morada del Aguila. O wi fi é liberado e as lanchonetes servem petisco deliciosos. INICIANTES Para os iniciantes, o Cerro Castor possui os magic carpets, que são uma espécie de esteira que dão apoio aos pés e trabalham com o equilíbrio gradativamente. No local, há loja de aluguel de equipamentos de esqui, inclusive para a prática de snowboard. Onde: Rota 3, km 26 – Ushuaia


Ushuaia 65


Gastronomia

Aromas e sabores La Cabaña Casa de Té

Ramos Generales

Um friozinho requer bebidas quentes e a La Cabaña Casa de Té em Ushuaia é o lugar ideal para se aquecer. Não só pelos chás servidos, mas também pelos pães , doces e bom gosto da casa. Você vai se impressionar com a delicadeza das porcelanas e dos infusores clássicos, onde são servidos os chás. O charme fica por conta da pequena ampulheta que determina o tempo de aquecimento das ervas nas xícaras. Agora, o principal mesmo é a variedade de ervas que formam muitos blends inusitados. Ervas cultivadas com todo o cuidado e organicamente. O ambiente ainda conta com uma loja com uma variedade de peças como chícaras, chaleiras, objetos de decoração e lembranças locais. Separe algumas horas do dia para curtir com tempo. Onde: Luis Fernando Martial, 3.560 – Ushuaia.

Um dos lugares mais interessantes para jantar e apreciar um bom vinho é o Almacén Ramos Generales. não só pela excelente gastronomia, mas pela sua história e incrível decoração. Fundada como armazém em 1913 por Don Jose Salomon, desde o início cumpriu importante papel no abastecimento da cidade e na integração social e cultural local. Por este espaço, ao longo do tempo, circularam personagens históricas e emblemáticas que ajudaram a formar sua mística. O restaurante é ambientado com móveis e peças antigas que fazem parte de sua existência. O cardápio é bastante variado, com sopa de abóbora, pães artesanais, tábuas de frios, peixes, carnes e muito mais. Como se não bastasse todos esses atrativos, o Almacén é uma Vinoteca e ainda oferece cervejas da região. Imperdível. Onde; Maipú, 749

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Ushuaia 67


Gastronomia

Centolla Uma das iguarias mais desejadas, a Centolla (lithodes santolla) é a marca registrada da gastronomia de Ushuaia. Este caranguejo gigante é encontrado em águas gélidas no sul do continente sul-americano, de Valdívia ao Cabo Horn. Este crustáceo é bem resistente à pressão da água podendo ser encontrado até a profundidade de 150 metros. O naturalista Juan Ignacio Molina foi, em 1782, o primeiro a descrever os aspectos morfológicos da Centolla. Por ser uma das proteínas animais mais suculentas, sua procura é, sempre foi grande, o que fez de sua pesca uma excelente fonte de renda aos pescadores locais. A PESCA A pesca da Centolla foi motivo de problemas diplomáticos entre Chile e Argentina quando ainda estavam disputando fronteiras, na época denominada Conflito do Beagle. No mar revolto, embarcações saem, com a bandeira argentina tremulando no frio polar, guiadas por pescadores que mantém a tradição e o saber da localização ideal para arremessarem, uma a uma, 68 CidadeeCultura.com

suas cestas de pesca para serem arrastadas no fundo e, quando puxadas, “uma dúzia “de Centollas são capturadas e colocadas no convés do navio para a contagem, depois colocadas nas câmaras de armazenamento. Um dia de trabalho árduo que começa cedo e não tem hora para acabar. Elas são vendidas vivas, diferentemente dos peixes. Portanto, quem as consumir terá a certeza de sua qualidade e sabor inalterado. Quando visitamos Ushuaia é quase obrigatório comermos uma Centolla preparada aos costumes locais. Existem várias opções na cidade e cada uma com uma variedade grande de pratos preparados com o crustáceo. Acompanhada de massas, molhos ou mesmo natural, seu sabor é marcante. Onde podemos saboreá-la Volver – Avenida Maipú, 37 La Cantina Fueguina de Freddy – Av. San Martin, 300 Tia Elvira – Avenida Maipú, 349 Villaggio – Avenida San Martin, 326 La Casa de los Mariscos – Avenida San Martin, 245 El Viejo Marino – Avenida Maipú, 227


Cordeiro Patagônico RESTAURANTES E PIZZARIAS Na orla do mar e nas avenidas principais se encontram inúmeros bons restaurantes que com certeza irão agradar seu paladar. A dica fica por conta de se pedir o cardápio executivo (eles não costumam entrega-lo aos turistas), que oferecem pratos típicos e saborosos por valores bem mais acessíveis. Das pizzarias que experimentamos apenas uma nos agradou. Talvez porque estejamos muito acostumados com as pizzas paulistanas. Mas o fato é que estranhamos muito a massa e a quantidade e a diversidade dos ingredientes que usam em uma mesma pizza. Convém um certo cuidado na escolha. Restaurante Chirstopher

Um dos principais pratos típicos região é o Cordeiro Patagônico. Com muitos anos de tradição e tempo suficiente de amadurecimento de receitas, hoje, o que vemos é um identidade própria e uma gastronomia única. Vamos ao prato! Depois de abatido e totalmente limpo, o cordeiro é colocado em ganchos ao ar livre para “arejar”. Depois, totalmente aberto, o sal é espalhado pelo corpo com água quente, uniformemente. O cordeiro é amarrado em varas como se fosse um estandarte e colocado bem próximo a uma fogueira, onde irá receber o calor entre duas e três horas. Enquanto está assando, são feitos os molho que o acompanhará. Um dos molhos mais tradicionais é o Chimichurri, bem condimentado e com vários ingredientes (ervas e temperos locais). Depois de assado de um lado e de outro, o cordeiro é servido aos pedaços, que são tirados na hora e acompanhados pelos molhos. É muito provável que você esteja passeando pela região e sinta um cheiro agradável de churrasco, pois os moradores que vivem mais afastados do centro da cidade, costumam sempre fazer esse delicioso prato ao ar livre. Por sorte, esta tradição está ao alcance dos turistas nos restaurantes da cidade. RESTAURANTES La Estancia – Gobernador Pedro Godoy, 155. Casimiro Bigua – Calle Maipu, 395. Ushuaia 69


Roteiros

Não deixe de

visitar

Glaciar Martial O Glaciar Martial faz parte das Montanhas Martial ao norte de Ushuaia. Está localizado entre o Vale de Andorra e o Parque Nacional Tierra Del Fuego, a 7 km do centro. Glaciar significa geleira, uma massa de gelo em camadas, compactada e recristalizada. O Glaciar Martial, recebeu este nome em homenagem ao capitão Louis Ferdinand Martial que, em 1882 e 1883, comandou a "Missão Científica do Cabo Horn", onde ele e sua equipe tinham como objetivo observar o trânsito do planeta Vênus. No inverno, no caso do Glaciar Martial, os amantes 70 CidadeeCultura.com

do esqui alpino e snowboard, fazem a festa dos mais arrojados. No verão, os amantes de trekking vão se deslumbrar com a vista do Canal de Beagle e da Ilha Navarro (chilena). São 3 trilhas demarcadas: a do Bosque, de nível fácil com 150 metros; da Borda, de nível médio com 250 metros; e da Geleira, de nível difícil com 1.450 metros. Você pode pegar um táxi ou uma van turística para chegar no ponto de partida para a subida do Glaciar e depois terá opção de subir parte pelo teleférico com duração de 15 minutos. Funciona das 9h às 16:30h.


FOTOS: MARCIO MASULINO

O Valle de Lobos O Valle de Lobos em Ushuaia é um lugar que proporciona momentos inesquecíveis aos amantes de passeios sobre a neve. Remete-nos a lugares como norte do Canadá e o estado do Alaska, Estados Unidos. O trenó, os cães das raças husky siberiano e malamute-do-alaska e o condutor, formam um complexo harmonioso que transpõe barreiras e fronteiras.Graças aos cães malamutes é que a Antártica foi desbravada e o Polo Sul demarcado na expedição do noroeguês Roald Amunden, em 1911. A ideia de poder passear em um dos meios de transporte mais antigo da história é empolgante. Porém, ainda assim, é o meio mais eficaz de transporte em locais de inverno de temperaturas extremas. O percurso realizado no Valle de Lobos é de dois quilômetros sinuosos e estreitos. Passamos por florestas primitivas, castoreras (locais onde os castores introduzidos fazem suas tocas) e com vistas panorâmicas para um cenário mágico. UMA CURIOSIDADE: os cães de trenó chegam a uma velocidade de até 16km/h e podem percorrer até 160 km/dia. O mais incrível de se aventurar nas florestas da Terra do Fim do Mundo é a sensação de liberdade e confiança que os bravos caninos nos dão. Uma experiência única de vivenciar a interação entre o homem e a natureza animal. O compasso, o ritmo e a certeza da obediência. Onde: Rota 3 km 3037 – Ushuaia. Ushuaia 71


Roteiros

San Martin, a mais charmosa Quando se visita Ushuaia, uma verdade é absoluta: você vai passar pela Avenida San Martin. E os motivos podem ser diversos, desde um pulinho na casa de câmbio, visita a uma operadora de telefone, procura por um serviço turístico, almoçar ou jantar nos diversos restaurantes, visitar museus… O que não falta são opções de entretenimento e compras. O frio traz ainda mais charme a essa elegante avenida, com suas vitrines bem planejadas e diversidade de atrativos. Se você ainda não se equipou para os passeios que vai fazer, poderá ter que comprar novos acessórios . Aqui encontrará lojas esportivas com tudo que é preciso e a preços convidativos. No número 627, você encontra ainda o Duty Free Shop uma boa opções para se comprar presentes e lembranças para parentes e amigos. Entre as dezenas de bons restaurantes destaca-se o Hard Rock Café. Não representa a cultura local mas é um espaço muito agradável e com um serviço impecável. Vitrines com as famosas Centollas, os caranguejos gigantes, são encontradas em restaurantes ao longo da avenida e são servidas de diversas maneiras. Você escolhe no “aquário” e paga pelo peso da iguaria. 72 CidadeeCultura.com


Ushuaia: Aventuras Off-Road Um dos passeios mais interessantes oferecidos em Ushuaia é o de veículos 4x4 em rotas alternativas. Para quem habitualmente já se aventura em trilhas off -road, não há nada de especial na dificuldade da rota, o que vai chamar a atenção são as paisagens por onde o passeio vai te levar. A agência Brasileiros em Ushuaia, por exemplo, oferece um final de tarde/noite, em uma típica fazenda da região próxima ao Lago Fagnano. Os veículos atravessam as estradas barrentas da fazenda onde você poderá observar a típica vegetação local, castoreiras, a fauna e margear o lago. Na fazenda o grupo é recebido pelos donos do local com um luau a beira do lago, música local, muito vinho, muito vinho (novamente) e o tradicional churrasco argentino (avise na agência se precisar de um cardápio vegano). Essa atmosfera toda é que dá o charme ao passeio e o fato de, como não é você que está dirigindo, poder beber e comer sem dó. Outras trilhas podem ser feitas e uma delas te leva até a fazenda Estância Harberton, mas esse passeio já depende da época do ano e de datas específicas.

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Galeria Tematica Se você gosta de história, arte e curiosidade, não deixe de visitar a Galeria Temática. Um dos pontos mais icônicos da cidade de Ushuaia, esta Galeria é um marco que representa por meio de cenas e 120 bonecos de cera, a história do desbravamento da região da Terra do Fogo e dos nativos que que habitavam. Com audiobook em vários idiomas, não perdemos nada! Na seção dos povos nativos temos as “cenas” elaboradas dos povos Shelknam ou Onas, Haush e Yámanas (grandes canoeiros). Com a chegada dos homens brancos, e com eles suas doenças, os nativos foram gradativamente morrendo. Além disso, a obsessão do europeu em querer “civilizar” os povos das Américas, e com isso acabar terminantemente com o estilo nativo de viver, fez com que muitos fossem dizimados por teimosia ou pela posse da terra. DESBRAVADORES Na seção dos grandes desbravadores, destacamos o irlandês Ernest Shackleton e sua expedição com destino ao Polo Sul. Foram tantos obstáculos que sua história foi escrita no livro A Incrível Viagem de Shackleton, na

série Shackleton e no documentário feito pela National Geographic Creative. Vale a pena ler e ver estes conteúdos, pela magnitude da trama verídica. Mais que um desbravador, podemos afirmar que Shackleton é um herói, já que salvou toda a sua tripulação em um emaranhado de problemas ocorridos na expedição rumo a Antártica. Um destaque para Robert FitzRoy, capitão do navio inglês HMS Beagle que transportou o famoso biólogo Charles Darwin, autor da teoria do evolucionismo das espécies. FitzRoy foi pioneiro na meteorologia, explorador e hidrógrafo. Chegou na Terra do Fogo com a missão de explorar a costa da Patagônia e provar que, segundo ele, os nativos eram iguais aos ingleses “eles deram azar de nascerem nessas terras abandonadas por Deus”. Assim, levou quatro nativos para Londres onde foram catequizados e “educados”. Lógico que quando voltaram, a readaptação foi complicada. Curiosidades como estas que acabamos de descrever, unidas à arte, faz desta galeria um atrativo fantástico, digno de muitas horas de lazer. Onde: Avenida San Martín, 152 – Ushuaia.

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FOTO: ANA LÚCIA DOS SANTOS

Depoimento

TRILHAS DO NOSSO CONTINENTE AS VEZES ME QUESTIONO O QUANTO, NÓS BRASILEIROS, vivemos como se estivéssemos de frente para o Oceano Atlântico e de costas para o resto do continente. Percebo que nos falta uma maior consciência de pertencimento a um continente tão rico, belo e ainda pouco explorado pelos turistas nacionais. Essa “miopia” não chega a nos surpreender, já que nem no Brasil damos conta da nossa riqueza cultural, da história, das tradições, das cores, dos sabores, dos aromas...

No mesmo continente, climas tão diferentes, influências culturais distintas, idioma diferente, mas com histórias similares. Para o bem e para o mal. E aqui, pertinho da gente, está o fim do mundo. Um lugar mágico, charmoso, único e repleto de experiências para nos fascinar e encantar. Parto sabendo que vou voltar. Vontade de conhecer mais, fotografar mais, conversar mais com os mais velhos e compreender melhor o continente onde nasci... Por Márcio Alves

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