Perseu, o argiano II. Que boa pescaria! I. Uma chuva fecunda
O destino se mostrou mais clemente do que Acrísio. O baú foi
Desde o seu nascimento, Perseu foi exposto a perigos. O avô
jogado pelas ondas no litoral da ilha de Serifo, onde, naquela tarde,
dele, o rei Acrísio, tentou impedir sua existência porque um oráculo
Dicte recolhia suas redes. Como estavam pesadas! Também pudera,
lhe anunciara que seria morto pelo filho da filha. E olhem que o rei
com aquele baú de madeira. Abriu-o imediatamente, pensando que
fez tudo o que pôde para evitar o nascimento dessa criança maldita!
ali encontraria um tesouro, mas, em vez de moedas e jóias, deu com
Mandou construir um quarto de bronze numa alta torre do
uma linda moça e um bebê faminto.
palácio de Argos e lá encerrou sua filha Dânae. Somente sua velha
ofereceu sua casa e sua proteção.
babá podia vê-la para lhe levar comida. As paredes e as portas eram
Um dia, Polidectes, seu irmão, que reinava na ilha, foi visitá-
instransponíveis para os homens, mas, para Zeus, aquilo era
lo. Assim que viu Dânae, apaixonou-se loucamente por ela. Mas
brincadeira. Ele entrou no quarto por um fresta do telhado, sob a
Perseu, que crescera, agora tomava conta da mãe, e o rei
forma de uma chuva de ouro. A moça o recebeu e lhe ofereceu seu
compreendeu que, enquanto o filho estivesse junto dela, não poderia
amor.
tentar nada. Dessa união clandestina nasceu um menino.
Conseguiram
O rei organizou em seu palácio uma grande festa, para a qual
dia, alertado pelo choro da criança, Acrísio foi até a torre. recusou a crer na fábula da intervenção divina.
Para sorte de Polidectes, apresentou-se um
oportunidade de afastar o rapaz.
esconder ao rei a existência de Perseu por algum tempo... mas, um Sua surpresa e, depois, sua fúria foram imensas!
No mesmo instante lhes
convidou o filho de Dânae. Ele se
Todos prometeram ao rei presentes
suntuosos. Perseu propôs lhe oferecer a cabeça de uma Górgona.
Persuadido da
Polidectes não disse nada no momento, mas no dia seguinte foi falar
cumplicidade da babá, ordenou que a executassem. As lágrimas da
com ele:
filha impediram que o rei eliminasse o menino, mas ele o trancou
“Parece-me que ontem o ouvi me prometer um presente
com a mãe num baú de madeira e jogou o baú no mar.
excepcional. Quando vou recebê-lo?” Vítima de suas próprias palavras, Perseu teve que cumprir a promessa. Despediu-se da mãe, que o beijou ternamente,
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