EDUCAÇÃO POPULAR COMO PROCESSO HUMANIZADOR: quais protagonistas? Alder Júlio Ferreira Calado* A encruzilhada com que hoje se depara a Humanidade - entre os sinais cada vez mais graves de barbárie, característicos do Capitalismo em sua face/fase atuale, e, por outro lado, alguns sinais convincentes, ainda que moleculares, de compromisso com a vida dos Humanos e do Planeta - nos põe, a todos, a todas, diante de uma situação de escolha decisiva: render-nos à tendência dominante ou ousar construir uma saída alternativa? Esta segunda opção é a que nos leva a apostar no processo de humanização, do qual a Educação Popular, protagonizada pelos Movimentos Sociais Populares com projeto alternativo de sociedade, pode ser um espaço privilegiado. Ancoradas no legado de teóricos da história contemporânea de ontem e de hoje, como Karl Marx, Rosa Luxemburgo, Antonio Gramsci, José Carlos Mariátegui, Jean Paul Sartre, Erich Fromm, Ernesto Che Guevara, Amílcar Cabral, Albert Nolan, Florestan Fernandes, Álvaro Vieira Pinto, Paulo Freire, Octavio Ianni, Michael Löwy, José Comblin, José Maria Vigil, Leonardo Boff, Maurício Tragtenberg, Leandro Konder, Enrique Dussel, Pablo Richard, Marilena Chauí, Ivone Gebara, entre tantos outros e outras, aqui estamos entendendo como processo de humanização o conjunto de práticas e reflexões características de uma sociabilidade alternativa ao sistema dominante, protagonizada por sujeitos coletivos e individuais, visando ao desenvolvimento das mais distintas potencialidades do ser humano, ser consciente de seu inacabamento e de seu caráter relacional, historicamente condicionado mas não determinado, por isso mesmo vocacionado à Liberdade. Um tal processo demanda, entre outros componentes, uma permanente formação omnilateral, da qual a Educação Popular, tal como defendemos, pode ser um espaço decisivo, nessa direção. É essa a aposta central que submetemos a um debate, que queremos realimentar. Exercitar tal discussão no âmbito da Academia – e para bem além da mesma pode inspirar-nos confiança, até porque uma das boas características do espaço acadêmico tem sido, a despeito de tantas contradições1, o esforço de se preservar a pluralidade epistemológica. Disso resulta, por exemplo, a necessária liberdade de adesão a, ou de defesa de distintas correntes político-filosóficas, inclusive de caráter antagônico. Condição necessária, sem a qual não se conseguiriam avanços nas reflexões críticas de correntes e paradigmas tão diversos. Na Academia e para além de seus muros, esse debate alcança as distintas áreas de saberes. As ciências sociais – e entre elas a Educação – têm-se constituído relevante mostruário de acalorados debates. O mesmo se dá em relação à Educação Popular. Tendo em vista o espectro de sociedade em que vivemos, resulta inconcebível – *
Sociólogo e Educador Popular. Desde meados dos anos 60, vem acompanhando a trajetória dos Movimentos Sociais Populares, no Nordeste. É membro do Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas. Autor de, entre outros textos: Gregório Bezerra, um lutador do Povo. São Paulo: Expressão Popular, 2006. 1 No período da Ditadura Militar, como é sabido, tudo que aludisse, ainda que de leve, ao Marxismo, esbarrava na censura, inclusive no âmbito universitário. Hoje, quando se diz viver “em plena Democracia”, o exercício da pluralidade epistemológica é, no mínimo, arranhado, pela ideologia do pensamento único que prevalece amplamente, e graças ao qual pairam como algo bizarro iniciativas (de ensino, pesquisa ou extensão) que se reclamem inspiradas em paradigma marxiano, ainda que, não raro, alguns pretensamente novos apresentem elementos claramente nele inspirados...