Revista Estilo - Março 2017

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Gente da Gente Ano 07 Ed.04 Jan Fev Mar de 2017

Educar Aprendendo: abrindo novos horizontes

DESTAQUE

Shelda Bedê

Estrela do vôlei de praia, Shelda Bedê se consagrou como uma das maiores atletas, nesta modalidade, no Brasil e no exterior.

GIRO

Epecuén: a cidade fantasma engolida pelas águas


// EDITORIAL

Editorial

A

grande campeã do vôlei de praia, Shelda Bedê, relembra o pioneirismo e os percalços das meninas ao introduzir no país esta modalidade esportiva, que ganhou o mundo e as consagrou como as rainhas da praia.

Expediente Estilo é uma publicação da Porto Freire Engenharia PRESIDENTE

Jorge Wilson Porto Freire DIRETORA TÉCNICA

A educação continua sendo o forte das ações da Porto Freire. Conheça o testemunho dos que aproveitaram a chance que a construtora lhes ofereceu, voltaram aos bancos escolares e agora já sonham com um futuro melhor. Também nesta edição, vamos conhecer uma cidade fantasma que nasceu e morreu nas águas e, um quarto de século depois, ressurgiu para, uma vez mais, virar atração turística.

Roberta Catrib DIRETORA ADMINISTRATIVA

Adriana Freire DIRETOR FINANCEIRO

Felipe Arruda

Nestes tempos bicudos, a atenção com as finanças devem ser redobradas. A Estilo foi conversar com a especialista Louise Freire, que dá bons conselhos sobre como cuidar melhor do seu dinheiro.

COORDENADORA DE MARKETING

Valdenisia Souza REDAÇÃO

R&B Comunicação JORNALISTA RESPONSÁVEL

Falando em dicas, apresentamos bons truques para salvar a casa dos pequenos contratempos, como queimar a panela e derramar vinho na blusa branca, usando apenas dois produtos simples: vinagre branco e bicarbonato.

Rozanne Quezado PRODUÇÃO E REVISÃO

Rozanne Quezado Lucílio Lessa Valdenisia Souza FOTOS

Jarbas Oliveira e banco de imagens COLABORAÇÃO

Crisley Cavalcante Guilherme Paiva PROJETO GRÁFICO

Raphael Lira DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO

Promosell Comunicação Fale conosco (85) 3299 6600 gestaomkt@portofreire.com.br

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Um restaurante se propõe a ser mais que um espaço para fazer refeição: quer ser uma extensão do seu lar. Com amplos espaços, onde se mistura contemporaneidade e saudosismo, o Pipo Restaurante é ideal para quem quer desfrutar de um cardápio bem selecionado, mas não dispensa o conforto e o bem estar do local. Quem não conheceu, nos tempos de escola, a saga da família de retirantes da seca nordestina contada por Graciliano Ramos no clássico “Vidas Secas”? Agora, é o momento de reviver essa narrativa através do mundo encantado das Histórias em Quadrinhos. Boa leitura!!


SUMÁRIO

Sumário 04|

Destaque Shelda Bedê Vitórias que consagraram a rainha do Vôlei de Praia.

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10| Gente da Gente

Giro

Educação amplia horizontes na Porto Freire

Villa Epecuén: a cidade fantasma da Argentina

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30| À Mesa

Pipo: requinte e sofisticação no cardápio

40|

Tijolo por Tijolo Como cuidar do seu dinheiro e fazê-lo render

Estilo Indica

‘Vidas Secas’ chega ao mundo dos quadrinhos

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// Destaque

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Não é fácil ser atleta no Brasil Com 1.101 vitórias e 114 títulos, a ex-jogadora de vôlei de praia, cearense Shelda Bedê, se consagrou como uma das maiores atletas brasileiras nesta modalidade. Com seis títulos do Circuito Mundial, duas medalhas de prata em Jogos Olímpicos, duas medalhas de ouro em campeonatos mundiais e ouro em Jogos Panamericanos, ela formou com Adriana Behar uma dupla eternizada pelas vitórias e alegrias dedicadas ao País, levando a parceria ao Livro Guinness dos Recordes, em 2006. Para a Estilo, ela fala sobre a sua trajetória e o vôlei de praia no Brasil. Fotos Jarbas Oliveira

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// Destaque

Sem espaço no vôlei de quadras, pela estatura pequena, Shelda encontrou no vôlei de praia a melhor forma de expressar a sua paixão por esportes e se consagrou como Rainha da Praia.

Revista Estilo – Ao longo da carreira, você se consagrou como uma das maiores jogadoras de vôlei de praia no Brasil e no exterior. Como o esporte surgiu em sua vida? Shelda - Eu sempre fui uma apaixonada por esportes. O vôlei de praia apareceu porque eu jogava indoor (voleibol de quadra ou voleibol indoor) e, como sou muito pequena, acabou que eu não tinha muito espaço na modalidade, não existia líbero (uma das posições do voleibol). Foi tudo muito por acaso. Comecei a jogar o vôlei de praia e começaram a surgir os campeonatos, eu gostei. É um esporte extremamente prazeroso para se treinar, para se jogar. Mas foi muito arriscado porque a gente não sabia o que ia dar o vôlei de praia. Não era um esporte olímpico, não tinha um circuito brasileiro forte, não existiam patrocínios bons. Mas, no fundo, eu acreditava. Eu queria viver do esporte, queria ser uma jogadora profissional. Foi uma oportunidade que eu vi de tentar treinar, trabalhar, me destacar e tentar viver disso, sem saber que ia se tornar um grande esporte, uma grande modalidade. Foi tudo muito por acaso nesse sentido. RE - Grandes atletas de outros esportes, que não o futebol, conseguem sobreviver profissionalmente no Brasil? No caso do vôlei praia, é possível se manter somente com esta atividade?

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Shelda - Fiquei dois anos como comentarista da (Rede) Globo, acompanhando os jogos de longe, mas, para falar sobre patrocínio, se as pessoas ganham bem hoje em dia ou não, fica um pouco difícil para eu te responder, porque parei há nove anos. Falando da minha época, eu vim de um período em que pegamos o início da modalidade, então, tudo era muito mais difícil. A premiação do feminino era metade do masculino, a gente tinha metade das etapas e conseguiu igualar isso tudo. Foi uma grande evolução para a modalidade, para o voleibol feminino. Passei por toda essa fase e foi muito bom, muito enriquecedor. Acho que a gente deixou um legado para o voleibol, toda essa primeira geração que conquistou essa igualdade. Mas não foi fácil. Ser atleta no Brasil não é fácil. Você tem que correr muito, o tempo inteiro. Não tem dia ruim. Estamos sempre em busca de novos desafios. A gente não tinha patrocínio no início, só muito tempo depois que conseguimos.


“[O vôlei de praia] éum esporte extremamente prazeroso para se treinar, para se jogar”. Sobre o vôlei como atividade profissional, Shelda avalia: “Ser atleta no Brasil não é fácil. Você tem que correr muito, o tempo inteiro. Sempre em busca de novos desafios”.

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RE - Como se deu esse início? Shelda - No nosso primeiro patrocínio, a gente já tinha sido campeã mundial. Ganhávamos a premiação, tirávamos a porcentagem e dividíamos com toda a nossa equipe. Mas, Adriana e eu sempre acreditamos que a gente, o nosso grupo, a nossa equipe, teríamos resultados melhores. Sempre fomos muito pé no chão. A gente sempre buscava o melhor para a nossa equipe, mesmo naquela época, sem saber se aquilo ali realmente era o melhor. A modalidade estava no início. Tudo era novidade. RE - E o que você está fazendo hoje?

Ao lado da parceira Adriana Behar, Shelda conquistou diversos campeonatos nacionais e internacionais. Em 2010, a dupla entrou para o Hall da Fama do Vôlei, nos Estados Unidos.

Shelda - Eu sou proprietária do Alpendre (bar situado em Fortaleza). Eu e meus irmãos, na verdade. Tenho em Fortaleza a Tapiocando Brasil, que são duas casas de sanduíches de tapiocas e sucos. Tem muito a ver comigo essa coisa de alimentação, é algo que eu gosto. Vale a pena conferir. É um novo conceito de tapioca, é um sanduíche de tapioca. Você monta do jeito que quer. Tenho no Rio de Janeiro uma casa de câmbio com o meu sócio, onde ele fica mais à frente. Então, eu fico mais nessa ponte-aérea Rio-Fortaleza. E estava como comentarista da Rede Globo. É bem agitado. RE - Há cerca de cinco anos, o vôlei brasileiro se encontrava em um momento ascendente, um esporte que crescia no país, ganhava mais admiradores. Desde então, parece que houve uma estagnada após escândalos de corrupção envolvendo a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). Como você vê o momento atual desse esporte? Shelda - Eu não acompanho muito o voleibol. Acredito que houve uma evolução, sem dúvida. O Brasil, mais uma vez, nos últimos jogos olímpicos, trouxe medalhas, tanto no masculino quanto no feminino. Acho que é uma das poucas modalidades que nunca deixou de trazer medalha olímpica. Então, se a gente disser que ele parou... ele não parou. Agora, dizer que ele poderia ter melhorado? Não sei. Mas acho que ele atingiu o objetivo de trazer medalhas olímpicas. Poderia ter trazido mais? Poderia. Mas é difícil, para mim, falar de fora se ele parou, se ele estagnou, se ele melhorou… Difícil. RE - E o voleibol no Ceará, como você avalia?

Longe das quadras, Shelda virou empresária. Dirige negócios na área de gastronomia (um bar e duas casas de sanduiche de tapioca), em Fortaleza, e uma casa de câmbio, no Rio.

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Shelda - Quando eu fui jogar vôlei de praia, já não morava mais em Fortaleza. Saí muito cedo de Fortaleza. O vôlei de praia feminino era muito forte no Rio de Janeiro. Então, eu me mudei para o Rio para ficar perto das melhores, onde tinha o melhor voleibol, as melhores jogadoras. O feminino sempre foi muito Rio de Janeiro. O masculino é que foi mais Nordeste. Há algumas atletas que não são cearenses, mas que adotaram Fortaleza, adotaram o Ceará como residência para desenvolver a prática. Eu gostaria de ver mais atletas cearenses se destacando na modalidade. No masculino temos o Franco, o Roberto (Lopes), o Márcio (Araújo), que são cearenses. Mas os outros adotaram Fortaleza.


Sem apego às coisas materiais, Shelda diz que a maioria das medalhas e troféus que ganhou nas competições deu de presentes aos fãs. “Tudo ficou na minha memória, no meu coração”.

RE - Que momentos especiais você guarda na memória depois de tantos anos no esporte? Shelda - Olha, tenho vários momentos especiais. Ter encontrado a Adriana como parceira foi incrível. Tudo o que eu ganhei foi com a Adriana. Eu tenho verdadeira admiração, gratidão e amizade. Adriana se tornou uma grande irmã. Tudo o que a gente conquistou foi juntas. O Panamericano foi incrível. Foram vários momentos incríveis. As duas medalhas olímpicas. E no final, a gente entrar no Hall da Fama também como dupla (em 2010, Adriana e Shelda entraram no Hall da Fama do vôlei, em cerimônia realizada na cidade de Holyoke, no estado norte-americano de Massachusetts). A primeira etapa que a gente ganhou do circuito mundial foi maravilhosa. Sempre curtimos bastante o que a gente conquistava. RE - Como você organiza os troféus, medalhas e imagens da sua carreira? Shelda - Na verdade, tudo ficou muito na minha memória, no meu coração, porque eu nunca fui muito apegada a nada. Muitas vezes, eu jogava as etapas brasileiras e o mundial e, quando saía do pódio, os fãs chegavam. Eu tirava minha medalha ou o troféu e dava para eles. Exceto as medalhas olímpicas, do Panamericano, a última do quadro do Hall da Fama e acho que duas do Mundial, e só. Eu sou totalmente desapegada. As pessoas nem acreditam. Se você entrar na minha casa, não sabe que eu fui uma atleta bem sucedida na minha modalidade. Sou muito tranquila nessas coisas. Não tenho muito apego. RE - O sucesso não subiu à cabeça. Shelda - Zero. Eu tenho apego à minha família e amigos que a gente constrói, que é a família do coração durante a nossa vida. Passei muitos anos no Rio de Janeiro e ali também construí outra família. Isso eu tenho muito apego, mas, material, quase nada. As pessoas são muito carinhosas comigo até hoje. É muito legal. Elas param para bater foto, aí vêm apresentar o filho. “Olha, filho, aqui foi uma grande jogadora...”. Muito legal o carinho das pessoas.

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// Gente da Gente

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Na presença do presidente, Jorge Porto Freire, os estudantes recebem o diploma.

A educação ampliando horizontes

Voltar a sonhar além do que a vista enxerga é um estímulo para seguir adiante. Trabalhadores de obras da Porto Freire Engenharia ampliam seus horizontes a partir da participação no projeto Educar Aprendendo, promovido pela construtora. Histórias de força de vontade, esperança e autoestima que vêm inspirando os colegas a tomarem as rédeas de um novo futuro.

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// Gente da Gente

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az tempo, quase 38 anos, que o pedreiro Francisco Mendonça, 53, abandonou a escola para “cuidar da vida”, como ele diz. Foram décadas em que a vontade de estudar e a oportunidade para tal teimavam em não se encontrar, fazendo o tempo passar e os sonhos se tornarem quase um lamento. Pelo mesmo caminho seguiu o também pedreiro Edimir Teixeira, 42 anos. Arrimo de família, o marido da dona Maria Edleusa cedo largou os estudos, mas nunca se acostumou com esse ‘desgosto’. A condição de “pouco estudado”, segundo conta, foi empecilho para a realização de pequenos sonhos, como o de tirar a carteira de motorista. “Ficava inseguro, achava que não tinha conhecimento para passar” diz. Bem sentado ao lado dos amigos, o servente Cícero Rafael, 30 anos, conta que a vontade de voltar a estudar esbarrava na falta de incentivo e de tempo. Ao contrário de Francisco e Edimir, que possuem 22 e 7 anos de Porto Freire Engenharia, respectivamente, ele começou na construtora há um ano, tendo sido auxiliar de cozinha em restaurantes, num ritmo de trabalho que fazia a esperança recuar na árdua rotina. “Meus sonhos estavam estacionados”, filosofa. Francisco, Edimir e Rafael possuem mais do que um trabalho em comum. São semelhantes, sobretudo, no sonho esquecido em meio ao suor dos afazeres, no ímpeto que se enfraquece pela dificuldade do recomeço, na emoção que se esconde na boca do estômago. Tanto um quanto os outros haviam perdido a capacidade de sonhar alto, de se reinventar, até que em meio ao canteiro de obras onde trabalham, fizeram da caneta e do papel o passaporte para uma nova forma de ver o mundo.

Em sala de aulas, improvisada no canteiro de obras, os operários abraçam a oportunidade do aprendizado oferecido pela Porto Freire e vislumbram um futuro melhor.

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A professora Vera Lúcia diz que os alunos são grande inspiração e um exemplo para os colegas de trabalho e os próprios familiares.

O Educar Aprendendo resgata a autoestima dos alunos e a sua capacidade de sonhar. A retomada dos estudos despertou em cada aluno a capacidade de acreditar nos sonhos e o desejo de ir cada vez mais longe.

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NOVOS ALUNOS Os três amigos fazem parte do grupo de 15 trabalhadores da Porto Freire que, no ano passado, concluiu o ensino fundamental através da participação no projeto Educar Aprendendo, que a construtora vem realizando em parceria com o Sesi – Serviço Social da Indústria. O programa leva a sala de aulas para dentro do canteiro de obras. A empreitada foi um sucesso e animou os alunos a seguir com os estudos, partindo agora para o Ensino Médio. À nova turma, se juntaram outros colegas e a classe, que teve início em janeiro passado, já conta com 27 estudantes. “O projeto está crescendo. Começou com duas turmas bem pequenas e a turma do Ensino Médio está com 27 alunos na sala, o que é um grande avanço. Então, o interesse está aumentando. Antes, tínhamos dificuldades de formar a turma, mas com os resultados, eles estão se interessando mais”, comemora o coordenador de Desenvolvimento Humano da construtora, Felipe Teixeira. Ele informa que estão sendo abertas novas turmas do Ensino Fundamental I e II.

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Francisco, Edimir e Rafael contam sobre a experiência de participar do projeto e o quanto o Educar Aprendendo transformou suas vidas.

EXEMPLO Professora há 17 anos, dos quais, 10 anos no Sesi, Vera Lúcia, que está à frente das turmas, costuma se impressionar com a força de vontade dos alunos. “Eles são uma inspiração. Muitas vezes, a gente chega cansada, mas quando entra na sala e vê o brilho no olhar, a vontade de aprender desses alunos, a gente tira força, acende. Para um professor é uma satisfação” destaca. Ela diz que é inspirador constatar que o objetivo dos alunos vai muito além do crescimento profissional. Eles querem também ser exemplo para amigos e familiares. Edimir confirma: “Vi aqui a oportunidade de aprender e espero que as pessoas sigam isso. O estudo encoraja a gente, ajuda a enxergar longe. Até a forma de tratar meus filhos mudou. Antes, eu falava o que vinha na cabeça, agora não. Na escola a gente aprende a se comunicar”, diz. Rafael faz coro com o discurso do amigo. “Em primeiro lugar, essa retomada da volta aos estudos, voltar a sonhar, automaticamente traz também um espelho para a minha filha, para os outros jovens. Até na minha congregação (religiosa), hoje eu sou referência para outras pessoas. Não é porque você parou que não pode retomar e começar a sonhar novamente, lutar. Quero, no futuro, fazer um curso técnico. Quando falo nisso, tem gente que não acredita. Só que, para mim, no meu interior, tenho isso como uma vitória certa. Nossa força de vontade tem que ser maior do que as palavras negativas que lançam sobre nós”, ressalta. Pai de seis filhos, Francisco Mendonça fica todo prosa em dizer que três deles são formados. A volta à sala de aula é para ele uma forma de incentivar os demais. A estratégia parece estar surtindo efeito. “Outro dia, cheguei com meu caderninho para o meu filho Jefferson, de 18 anos, e disse: ‘olha aí, estou estudando, e se eu estudo, porque você, que é mais novo que eu, não pode?’. Foi quando ele decidiu voltar para a escola. Me acho um vitorioso, pois ele estava parado, só trabalhando. Ele me disse assim: ‘papai, eu, tão novo, carregando caixa na cabeça, vou voltar a estudar’. É o que eu digo: nunca é tarde para querer vencer na vida”, comemora.

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// Bem viver

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SOLUÇÕES SIMPLES PARA SITUAÇÕES COMPLICADAS A panela queimou, derramou o vinho na blusa predileta ou a vasilha mal fechada explodiu gordura por todo o micro-ondas? Como evitar que pequenas tragédias domésticas estraguem nosso dia depois de uma jornada cansativa de trabalho? A Estilo garimpou na internet e trouxe para você dicas que podem salvar a panela, a roupa, o micro-ondas e, principalmente, o seu dia. Nesta edição, as vedetes são o vinagre branco e o bicarbonato de sódio.

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// Bem viver

A

minha primeira experiência como dona de casa, recém-casada, foi um verdadeiro desastre. Para agradar o marido, decidi fazer o almoço. Ele sugeriu pedir a comida em algum restaurante - talvez, pressentindo o que estava por vir. Mas, eu insisti, dizendo que já tinha até a receita do prato predileto dele, que a sua mãe me havia passado: frango com batatas, acompanhado de arroz e salada. Um prato simples. O que poderia dar errado? Tudo. Para resumir: depois de perder uma manhã inteira cortando cebola, alho, batatas, passando limão no frango etc, consegui colocar cada coisa na sua panela, cozinhando no fogão, e fui tomar um banho para tirar aquele cheiro de cozinha que me empesteou o corpo. No chuveiro, esqueci-me da vida. Até ouvir o grito: ‘a cozinha tá pegando fogo!’. Resultado: o arroz queimou todo, o frango ficou sem caldo e um ‘pouquinho’ salgado. Nem a salada se salvou, pois coloquei mostarda no molho e ele é alérgico a esta semente. Perdi uma linda panela, pois não havia como tirar aquele queimado todo e, o que é pior, fiquei uma semana com cheiro de alho e cebola nos meus dedos.

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Sem questionar a minha incapacidade culinária, hoje sei que poderia ter salvo a panela e evitado o inconveniente do cheiro nos dedos. Bastavam umas medidas simples. Por exemplo: na panela queimada colocar vinagre branco até cobrir todo o queimado, levar ao fogo e, quando começar a ferver, jogar duas colheres de bicarbonato, desligando o fogo em seguida. O queimado se solta todo e a panela está salva sem nenhum esforço. Para o cheiro de alho/cebola nos dedos, é muito simples. Quando terminar de cortar tudo, jogue água morna sobre os dedos, sem esfregar e, para garantir que não vai ficar nenhum cheirinho, passe uma esponja de aço de leve nos dedos. O contato do aço retira todo o cheiro. Cozinhar ainda não aprendi, mas, nas tentativas que faço, com estas dicas, mantenho as panelas a salvo e os dedos livres de odores desagradáveis

Associado ao vinagre, o bicarbonato promete revolucionar sua casa e trazer economia para o seu bolso.

Importante não esquecer: o vinagre, por ser ácido, deve sempre ser diluído em água.


Santos milagreiros Poderosos no combate aos germes e bactérias, o vinagre branco e o bicarbonato de sódio, dois produtos simples e baratos, são verdadeiros aliados das donas de casa. Só para ter uma ideia, até como amaciante de roupa o vinagre pode ser usado, removendo odores e protegendo o tecido, pois amacia sem danificar. Para tanto, basta usar 100ml de vinagre para cada cinco quilos de roupas. Na máquina, é só colocar no compartimento do amaciante. Se for lavagem à mão, dilua o vinagre na última água de enxágue. Não se preocupe se sentir um cheirinho de salada ao estender as roupas no varal. Ele desaparece à medida que a roupa vai secando. Já que estamos falando de tecidos, que tal uma receita básica para remover manchas de suor das roupas! Faça uma pasta de vinagre branco com bicarbonato. Passe esta mistura nas áreas marcadas de suor e deixe agir por 20 minutos. Lave a roupa com sabão neutro e enxágue em água corrente. Sabe aquela blusa branca que você adora e que está ficando amarelada? Não precisa se desfazer dela. Basta deixá-la de molho na água e adicione uma xícara de vinagre. Deixe agir por uma hora e depois lave normalmente. Além disso, o vinagre tira o cheiro de mofo das roupas. Em um balde com água despeje 200ml de vinagre. Deixe as roupas de molho no balde por uma hora. O cheiro de mofo desaparece por completo.

Adicionado à água, o vinagre e o bicarbonato vão deixar o seu banheiro livre de sujeiras e bactérias e com uma aparência impecável.

DÁ GOSTO ENTRAR NESSE BANHEIRO Quer deixar o seu banheiro sempre limpo sem gastar muito dinheiro? A solução, mais uma vez, está no uso do vinagre e do bicarbonado. Vamos lá! Para desinfetar o vaso sanitário, junte duas partes de água para uma parte de vinagre em um balde e acrescente uma colher de sopa de bicarbonato. Jogue no vaso e deixe agir por 15 minutos. Esfregue com a escova e dê descarga. Para deixar a pia limpa e brilhando. Antes de dormir, jogue vinagre sobre toda a superfície da pia e deixe agir durante a noite. Pela manhã, é só remover com uma esponja e água. Para o caso de a pia está com odores fortes, há um reforço: Esprema meio limão em um recipiente com meia xícara de água e acrescente ¼ de xícara de vinagre branco e uma colher de bicarbonato. Misture tudo e, com ajuda de uma esponja, esfregue a solução sobre a pia. Espere uns 10 minutos e depois enxágue. Para completar, use também o limão para deixar a torneira limpa e brilhante. Esprema o limão sobre meia xícara de vinagre. Com uma escova de dente usada esfregue a solução sobre a torneira. Passe um pano para retirar os resíduos e dar o brilho. Que deixar o espelho limpo, livre de pó, restos de creme dental, entre outras sujeirinhas? Dilua 125ml de vinagre branco na mesma quantidade de água. Coloque em um borrifador e espalhe sobre o espelho. Uma folha de papel jornal ajuda a secar e dá brilho. Para finalizar a limpeza geral do banheiro, é possível remover aquele mofo que fica na parede, entre os azulejos, sem muito esforço. Junte 250ml de vinagre com 125ml de água. Passe a mistura nos azulejos para soltar a sujeira e depois limpe com um pano.

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// Bem viver

MIL E UMA UTILIDADES O vinagre também é ótimo para limpar vidros. Adicionando duas colheres em 250ml de água, você terá um excelente produto para deixar sua janela limpa e com cheiro agradável.

Vidros, joias, roupas e atéos cabelos podem se beneficiar com o uso do vinagre.

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As joias estão ficando escuras, sem brilho? Não se desespere. Em um copo de água quente coloque duas colheres de bicarbonato de sódio. Mergulhe as joias dentro e deixe alguns minutos. Depois é só lustrar com um pano seco. Que aliviar uma dor de garganta? Em um copo de água morna adicione uma colher de sopa de vinagre e uma colher de chá de bicarbonato. Faça gargarejos, pelo menos, duas vezes ao dia.

FIQUE POR DENTRO Sabia que o vinagre de maçã é ótimo para combater caspas e ainda tratar os cabelos? As suas propriedades antibacterianas e antifúngicas ajudam a combater as bactérias e os fungos causadores da caspa. Misture duas colheres de sopa de vinagre de maçã orgânico em um copo de água. Coloque em um borrifador e depois que tirar o xampu pulverize a solução sobre o cabelo e o couro cabeludo, fazendo uma massagem para que penetre bem. Espere dois minutos e enxágue. Não precisa usar o condicionador. O cheiro do vinagre desaparece à medida que o cabelo vai secando. Atente que o vinagre é de maçã e dê preferência ao orgânico que conserva 100% das suas propriedades.


SAIBA MAIS Vinho em blusa branca - de imediato, pressione levemente o local com um papel toalha. Não esfregue para evitar que a mancha se espalhe. Gelo sobre o local também ajuda. Aplique um pouco de sal para absorver o excesso do líquido e impedir que o vinho penetre nas fibras do tecido. Jogue vinagre de vinho branco, deixe agir por uns minutos e lave em seguida com detergente neutro. Gorduras no micro-ondas - Encha uma vasilha própria para micro-ondas com metade de água e metade de vinagre branco. Leve ao aparelho e ligue-o durante dois minutos. Depois é só passar um pano molhado com a solução e limpar, sem esforço, as paredes internas. Cheiro de cigarro – Vai receber amigos que fumam. Antes que eles cheguem, coloque nos cantos da casa potinhos de boca larga cheios de vinagre. Evitará que o cheiro do cigarro fique impregnado na casa.

BENEFÍCIOS DO USO DO VINAGRE NA LIMPEZA DOMÉSTICA Barato Não contém produtos químicos tóxicos Esteriliza efetivamente Remove odores em vez de mascará-los É biodegradável

Vinagre e bicarbonato ajudam a eliminar a mancha de vinho na roupa ou tapete.

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// Giro

A cidade fantasma emerge das águas Texto: Rozanne Quezado Fotos: Roberto Lefkovics

Aberta à visitação, hoje Epecuén se assemelha a uma cidade pós-guerra.

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Casa Milá (La Pedrera), intrigante obra do arquiteto Antoni Gaudí


Há 31 anos, um povoado argentino cheio de pujança viu o seu sonho virá água. Literalmente. O lago Epecuén, com suas águas medicinais que atraiam multidões para o local, transbordou, expulsando moradores e turistas, deixando o vilarejo submerso por 24 anos. Em 2009, as águas baixaram revelando uma paisagem desoladora, repleta de ruínas e silêncio. A Estilo convida você a percorrer Villa Epecuén que, hoje, lembra o cenário de um filme sobre o fim do mundo.

Por Rozanne Quezado Fotos Roberto Lefkovics

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// Giro

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o dia 10 de novembro de 1985, a Villa Epecuén foi tragada pelas águas. As mesmas águas que deram origem ao povoado, transformando-o em um dos centros turísticos mais procurados da província de Buenos Aires, na Argentina. Por quatro anos, autoridades e membros da comunidade lutaram contra a fúria das águas, erguendo muros de contenção e fechando canais. Mas, a força da natureza venceu a batalha. Naquele dia fatídico, depois de meses de chuvas intensas, o lago Epecuén rompeu a barreira e as águas começaram a invadir as ruas, enquanto moradores desconsolados jogavam seus pertences em caminhões e tratores, tentando salvar o que podiam, e os últimos turistas carregavam malas e davam adeus àquele que, por décadas, foi o local de tratamentos médicos, mais também de encontros, férias, diversão e muitas celebrações. A vila, antes chamada Mar de Epecuén, nasceu na década de 1920, quando pesquisas comprovaram que a água do lago, que continha dez vezes mais sal que o oceano, era rica em minerais com propriedades curativas. Vislumbrando um futuro promissor para o local, investidores começaram a construir um balneário para receber as pessoas que sofriam de problemas nos ossos, nas articulações e na pele. Os poderes terapêuticos das águas, que tratavam também depressão, anemia e diabetes, começaram a atrair pessoas de todo o país e do exterior, principalmente as de origem judia que viam ali uma espécie de sucursal do Mar Morto, que tem o maior índice de salinidade do mundo, localizado no Oriente Médio, banhando a Jordânia e Israel.

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Da agência do Banco Província, restou apenas parte da fachada.


TRATAMENTO E MUITA DIVERSÃO No entorno do balneário foram surgindo casas, hotéis e lojas. Em três décadas, o local ganhou status de estância turística, com linha férrea que a ligava diretamente à capital Buenos Aires, situada a 540 km. Nos anos 60 e 70, chegou ao ápice, recebendo 25 mil turistas a cada alta temporada. Na década de 1970, com 1.500 habitantes, a vila já abrigava igreja, escola e mais de 250 empresas, entre hotéis, pousadas, Spas, restaurantes, banco e lojas. Para suprir a demanda por hospedagem, foram instalados nos arredores diversos campings. “A cidade vivia em festa. Chegava gente todo o tempo e de todo lugar, inclusive do Brasil, para se tratar e se divertir aqui. Foi uma época maravilhosa, foram anos dourados”, diz Pablo Novak, 87 anos, que nasceu em Epecuén e, mesmo com a inundação da

As ruas, outrora cheias de vida, se transformaram em ruínas e deserto.

vila, não a abandonou. Arrumou uma casinha numa área um pouco mais alta e ali permaneceu até hoje [conheça a sua história na nota: “O último habitante”]. As fotos da época, expostas atualmente no Museu Villa Epecuén, confirmam as palavras de Novak. Há registros de festas como Réveillon, carnaval e desfiles de misses. O local era, sobretudo, ponto de encontro da elite da época. Até um castelo foi construído nos arredores da cidade por uma francesa que o usava nas férias e ali promovia festas disputadíssimas.

Com 1.500 moradores, Epecuén recebia até25 mil turistas durante a alta estação.

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// Giro

interior da Basílica Sagrada Família idealizada por Antoni Gaudí

No dia 10 de novembro de 1985, as águas começaram a ‘engolir’ o povoado.

CASAS, RUAS E SONHOS SUBMERSOS No início anos 70, em meio à efervescência de crescimento, o povoado enfrentou épocas de seca, quando o nível das águas da lagoa começou a baixar. Sem as águas termais não havia turistas. Para evitar que a economia da vila sofresse um revés, foi construído um canal que trazia água de outras lagoas para Epecuén. O que pareceu, nos primeiros anos, a melhor solução para manter a pujança do local, se revelou, mais tarde, um verdadeiro desastre. A partir da metade da década, as chuvas voltaram com muita intensidade. O lago já recebia bastante água através do canal que interligava as bacias da região e, sem ter como escoar o excesso, ameaçava transbordar. O canal foi fechado e um muro de contenção em torno da lagoa foi erguido. A medida não foi suficiente. Quatro anos depois, outra quadra chuvosa forte fez o muro ceder. A cidade, em poucas semanas, submergiu. Casas, ruas e sonhos foram cobertos por quatro metros de água. Em 1993, o nível das águas chegou a 10 metros.

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Por quase 25 anos, Epecuén ficou coberta pelas águas. Em 2009, a vila, em ruínas, re ssurgiu.


As árvores secas indicam que nada mais vive ali. Ao fundo, o matadouro que foi modelo na época.

O hotel Villa del Lago, a exemplo dos demais edifícios do povoado, virou um monte de escombros.

VISÃO APOCALÍPTICA Há cinco anos, as águas baixaram e revelaram um cenário de desolação. Edificações em ruínas, ferros corroídos, restos de utensílios de casa, troncos de árvores mortas e um silêncio ensurdecedor. A paisagem, embranquecida pela alta salinidade da água, criou uma atmosfera apocalíptica. Era certo que o lugar não teria como ser reconstruído. Mas, a sua história, sim. No local onde funcionava a estação ferroviária, a alguns metros da vila, foi criado um museu com os objetos resgatados das ruínas, fotos, vídeos e depoimentos de antigos moradores e especialistas. E, fazendo valer a sua propensão para o turismo, a Villa Epecuén, agora destruída, virou centro de atração para visitantes que pagam 50 pesos argentinos (cerca de R$ 10,00) para percorrer o que um dia foi um próspero povoado. “É uma visão impressionante. Uma sensação de impotência. O que aconteceu aqui nos mostra que no enfrentamento com a natureza, o homem sempre perderá. Por que, então, não cuidar da natureza, não tratá-la com respeito?”, indaga a professora Samara Sanchez, turista de Buenos Aires.

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// Giro

O ÚLTIMO HABITANTE “Esta é a cidade que eu vi nascer e vi morrer”. É assim que Pablo Novak começa a contar a história da Villa Epecuén. Seu pai, Onofre, descendente de russos, chegou ao local em 1918, quando o lago abrigava apenas uma empresa de extração de sal. “Meu pai participou da criação deste lugar, vendendo ladrilhos para as obras que começavam ser feitas aqui”, conta com orgulho. Novak nasceu em 1930, terceiro dos dez filhos de Onofre e Paulina. “Eu acompanhei o crescimento do povoado, das ruas que se abriam, do comércio que se erguia, das pessoas que, a cada ano, chegavam em número cada vez maior”, afirma. Seguindo os passos paternos, ele tinha uma pequena fábrica de ladrilhos e, aproveitando o movimento turístico, montou um hotel no povoado. Quando o local foi invadido pelas águas, Novak instalou a família na cidade vizinha Carhué e regressou para Epecuén, onde passou a viver numa casa cedida por um amigo, em um ponto que não foi atingido pelas águas, a poucos metros da vila. Há uns 30 anos vive ali sozinho. Suas únicas companhias são dois cães e uma velha bicicleta. É com ela que Pablo percorre todos os dias as ruínas de Epecuén depois que as águas baixaram. Esta cena já faz parte da paisagem do local. Sempre disponível, ele conversa com os turistas, conta a história do povoado, que é a sua própria história. Não cobra nada. Diz que lhe dá prazer falar sobre a vila, seus momentos gloriosos e do quanto aproveitou cada momento de sua vida ali. Afirma não sentir tristeza ao ver as ruínas, não briga com os fantasmas do passado. Ao contrário, as boas lembranças passeiam com ele entre os escombros.

Nem o cemitério escapou da força das águas. Com os túmulos destruídos, um novo campo santo foi construído, deixando o antigo para visitação turística.

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Pablo Novack e sua bicicleta percorrem todos os dias as ruínas do povoado que ele nunca abandonou.

COMO CHEGAR Da capital Buenos Aires, que fica a 540 km de Villa Epecuén, há ônibus saindo diariamente da Estação Retiro, no bairro do mesmo nome, com destino a Carhué, estação final para quem que conhecer Epecuén.

ONDE FICAR A cidade de Carhué, a 8 km de Epecuén, dispõe de bons hotéis, alguns, inclusive, com piscinas termais, com água do lago. Também disponibiliza excursões, com guia, pelas ruínas.

As ruínas de Epecuén atraem turistas de toda a Argentina e de outros países.

A escada foi o único que restou da antiga confeitaria que se enchia de turistas nos anos 70.

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// À Mesa

Sofist

por n

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ticado

natureza Opção badalada do cenário gastronômico cearense, o Pipo Restaurante alia requinte e sofisticação em um espaço que traduz a personalidade do seu idealizador.

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// À Mesa

À

primeira vista, o Pipo Restaurante chama a atenção pelo requinte. A sofisticação está em cada detalhe, na fachada imponente, nas obras de arte, no piano de cauda, na suntuosidade do espaço. Destacam-se lá o pé direito nas alturas e as paredes de vidro de frente para o verde, dando a ideia de sustentarem sozinhas a estrutura metálica que mais parece concreto. No teto e no piso, cimento queimado, além de lustres e móveis clássicos. Tudo com muito charme, como de fato é o local. Mas, a graça do Pipo não está na sua fachada, nem na sua suntuosidade. Até porque não se trata simplesmente de um restaurante. O Pipo é, na verdade, um lar. Sim, é um lar, no sentido literal. “Eu moro aqui. Tenho uma suíte que vou transformar em sala de reuniões, pois estou construindo um espaço maior para morar aqui dentro. Por isso, não poderia colocar outro nome senão Pipo, que é como sou chamado desde a infância”, explica Pedro Gurjão, ou Pipo, proprietário do local. Ele ressalta que foram três anos pensando em como seria o restaurante, desde a compra do terreno à construção, estudando, idealizando da iluminação ao cardápio. “Foi tudo feito com muito cuidado e esmero para que as pessoas venham e possam passar de 4 a 5 horas aqui, beber e comer bem e querer voltar sempre”, enfatiza. Advogado por formação e apaixonado por gastronomia, arte e enologia, o empresário viajou 29 países orientado pelo Guia Michelin, tradicional publicação que seleciona bons restaurantes e hotéis em diversas regiões do mundo. “Foram experiências pessoais importantes que agregaram valor à estrutura que temos hoje”, ressalta.

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O projeto arquitetônico e a decoração do Pipo são um destaque a parte.


Batizado com o seu apelido de infância, o Pipo é um espaço que tem a cara do dono.

Na companhia dos cãezinhos, Pedro Gurjão curte o espaço verde do seu restaurante.

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// À Mesa

PIPO NOS DETALHES São os detalhes do acervo pessoal de Pipo que tornam o local único. Entre os quadros de artistas cearenses e de fora do Ceará, selecionados por ele e pelo marchand da galeria, vendidos no local, compõem o visual quadros fixos da galeria do empresário, entre os quais, vários com a imagem de uma mulher. “Quando o arquiteto fez o projeto, colocou a foto de uma mulher muito bonita. Aí, quando fui fazer o restaurante, pensei: ‘Bom, minha mãe é belíssima, vou colocar as fotos dela aqui. Uma homenagem a ela, que me apoia sempre”, explica. Músicos fixos e convidados tocam no local. No Pipo se ouve hits clássicos da Orquestra Filarmônica de Fortaleza, sob a liderança do maestro Gladson Carvalho. Conta ainda com convidados que vez por outra apresentam cover de bandas famosas ou até mesmo o som do violino. Ideal para jantar à luz de velas. Se não entoar apresentações ao vivo, o som ambiente garante ópera e musicais da Broadway ou até mesmo jazz. Mas o destaque mesmo está na canja dos clientes. “Aqui é uma casa aberta, então, quem chega e sabe cantar ou tocar, vai ao piano, toca, canta e dá um show mesmo. Nunca me arrependi de ter deixado um cliente se sentar no piano. Tem muito músico bom que frequenta a casa”, diz o anfitrião, que, por estar um pouco ‘enferrujado’, hoje hesita tocar o piano que o acompanha desde criança. “Mas, canto e toco o violão”, afirma.

Arte e pratos elaborados são atrativos do Pipo 34

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CARDÁPIO ATRATIVO O menu é uma miscelânea das experiências de Pipo. “Todos os pratos são os que eu sempre gostei. Não me interessa se é chique ou não é. Faço as coisas que eu gosto de comer. Todos foram feitos ao meu gosto”, diz. Mais do que abranger a cozinha internacional, o Pipo Restaurante é um lugar tipicamente fortalezense. Detalhe: os frutos do mar são comprados todos os dias, pois o cuidado com o material fresco é uma das regras da casa. Nada de congelados. A dica da entrada é a cestinha de camarão aos quatro queijos. Para o prato principal, uma das delícias é o filé mignon com queijo brie, geleia de pimenta e risoto de parmesão, prato ideal para ser acompanhado com um bom vinho tinto. Outra dica é o polvo com batatas e vinagrete, ladeado com o vinho chardonnay, uva branca de maior sucesso em todo o mundo. Para a sobremesa, a dica é a cestinha de ganache de chocolate e morango. Todos os pratos são individuais. O almoço custa entre R$ 24 e R$ 38 e o jantar vai de R$ 32 a R$ 78 por pessoa. Na carta de bebidas, um dos queridinhos da casa é o drink com gin tanqueray, de origem inglesa, que acompanha deliciosa mistura com frutas e ervas, como a pitaya (também conhecida como fruta do dragão, por causa da casca irregular e dos gomos escamosos), soda e gin. Outro destaque é o drink cîroc la traviatta, à base de vodca, vinho control sobre uma ice skol de laranja kinkan, margarida e carambola. Ressalte-se que as bebidas do local foram degustadas uma a uma por Pipo, que escolheu as melhores por preço. “Experimentei, por exemplo, 500 vinhos e selecionei os 50 que gostei mais. Varia de R$ 30 a R$ 5 mil. Preferi selecionar por preço em vez de nacionalidade porque vinho mais caro é fácil de acertar, o difícil é achar vinho bom com um preço legal”, avalia.

PRÓXIMO À NATUREZA Uma novidade do Pipo Restaurante, para muito breve, é a instalação de um amplo jardim, feito cuidadosamente para os visitantes se sentirem ainda mais à vontade e poderem desfrutar da natureza enquanto almoçam ou jantam, ou, simplesmente, tomam um drink. “Logo vamos inaugurar mais esse espaço, feito especialmente para o nosso cliente, um lugar aberto, com plantas especiais, grama e sombra das árvores”, diz Gurjão. Ele explica que parte das plantas vem do seu sítio, na Serra de Guaramiranga, e revela: “eu quis juntar todos os meus hobbies, as coisas que eu mais amava em um só lugar. Gosto de arte, natureza, vinho, comida, jardinagem, de receber pessoas, de música. Fiz esse restaurante para me divertir” conclui.

SERVIÇO Horário: Aberto de quarta a domingo, do meio dia até o último cliente da noite, o Pipo Restaurante se credencia como um dos locais mais charmosos da cidade. Não precisa fazer reserva. Local: Fica na Rua São Gabriel, 421, Cocó.

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// Tijolo por Tijolo

A economia por um

sonho

Pequenas despesas feitas no dia a dia podem fazer toda a diferença no orçamento ao final do mês. É preciso estar atento e buscar constante disciplina para não se endividar e ainda conseguir guardar um pouco do que se ganha.

O

sonho da casa própria, de uma viagem especial ou de um carro do ano exige um certo esforço financeiro. Sonhos custam dinheiro e, para conseguir realizá-los, é preciso ter disciplina financeira. Sair por aí gastando tudo o que se ganha é a senha básica para afastar você dos seus ideais. Nesse cenário, duas palavras podem significar o equilíbrio entre o que se ganha e o que se gasta: orçamento e planejamento. Isso é o que garante a especialista em investimentos, Louise Freire.

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“Primeiro é preciso diagnosticar a situação financeira. Se você está gastando menos do que ganha e tem saldo ao final do mês, é preciso saber se está aplicando esse saldo corretamente, se é suficiente para assumir uma prestação, por exemplo”, explica. Detalhes como esse serão abordados por Louise em um curso sobre saúde financeira que a especialista ministrará aos colaboradores da Porto Freire Engenharia, ainda neste semestre. Na capacitação, serão abordadas as rotinas do dia a dia, com situações pontuais que ocorrem com quase todo mundo, mesmo que de forma despercebida. O curso envolve ainda pequenos cálculos e dinâmicas em grupos para despertar nas pessoas a necessidade de fazer um planejamento para a realização de sonhos.


Louise Freire ĂŠ especialista em investimentos.

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// Tijolo por Tijolo

TRANSPARÊNCIA “Muitas vezes, as pessoas assumem compromissos sem o planejamento adequado e no meio do caminho não conseguem honrar as dívidas. Outras vezes, têm medo de assumir um compromisso e os anos passam e a pessoa não adquiriu nenhum bem, mesmo tendo potencial para tal”, destaca Louise. Para que isso não ocorra, segundo a especialista, o ideal é organizar o orçamento e ter planos bem transparentes. “Esse é o primeiro passo, ter e manter a disciplina de economizar. A segunda etapa são os investimentos, procurar saber quais são os melhores, quais as características e o perfil adequado para cada um. Às vezes, não damos valor aos detalhes, mas se cada um calcular o valor da hora trabalhada por dia, terá a real noção do quanto vai precisar trabalhar para gastar com determinada coisa”, diz ela, que há anos ministra palestras e cursos sobre educação financeira.

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PEQUENAS DESPESA Louise Freire explica os passos para o sucesso financeiro: disciplina, transparência e investimento adequado.

Sabe aquelas pequenas despesas que você considera irrelevantes? Saiba que ao final do mês elas podem fazer toda a diferença no seu orçamento. De acordo com Louise Freire, é daí que vem a necessidade maior de planejar. “Um orçamento bem feito requer anotações de tudo o que se gasta, só assim é possível ter um dado real da despesa variável e o quanto essa despesa fura o orçamento no final do mês. Pequenas despesas, se somadas no final do mês fazem a diferença. Se multiplicadas por 12 meses, representam muito mais”, ressalta. A especialista explica ainda que quando você está disposto a fazer muito com pouco, isso atrai uma energia positiva, pois começa a perceber que nas pequenas atitudes é possível economizar ainda mais.


EVITAR O DESPERDÍCIO Saúde financeira não significa só economizar, mas, sobretudo não desperdiçar. Para Louise, “a economia inicial a se fazer é procurar saber onde ou em que está sendo desperdiçado. É na comida do supermercado que estraga ou na fruta que fica no armário e daqui a pouco não serve mais, ou até mesmo no queijo ou no presunto que foi comprado em excesso. Essas coisas oneram muito o orçamento, pois vão juntando e no final se vê o quanto de dinheiro está sendo jogado fora enquanto poderia estar sendo guardado”. Para evitar desperdícios, além de atenção, é preciso também guardar parte do que se ganha. “Vai depender do momento de vida de cada um. Não coloco regras, mas se você mora com os pais, não tem filhos e não precisa ajudar em casa, a obrigação é guardar pelo menos 60% do que ganha. É preciso aproveitar o momento da vida em que nem tantas pessoas dependem de você para economizar o máximo possível. Mas se a realidade for outra, o ideal é guardar, pelo menos, 10%”.

ENDIVIDAMENTO O caso de pessoas endividadas é diferente. A prioridade deve ser pagar o que se deve para, somente depois, começar a economizar e guardar algum dinheiro. “Com uma ligação ou duas, você economiza R$ 30 ou R$ 50 na redução de uma parcela da internet ou a TV a cabo, por exemplo. São valores aparentemente pequenos, mas se você guarda por mês, verá ao final do ano um montante considerável que pode ser usado para o pagamento de outra dívida”, conclui Louise.

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//Estilo Indica

A nova

linguagem de

Vidas Secas

A saga de Fabiano e sua família fugindo da seca nordestina, retratada com intenso realismo por Graciliano Ramos, chega ao público em um novo formato: história em quadrinhos. Os aficionados pela HQ terão a oportunidade de conhecer uma das mais importantes obras da literatura brasileira, lançada em 1938, cujo conteúdo segue sempre atual.

Ilustrações e diálogos reeditam um dos clássicos da literatura brasileira, ‘Vidas Secas’, do alagoano Graciliano Ramos. Escrita no final dos anos 30, a história é o mais autêntico relato dos efeitos da seca na vida dos nordestinos, sobretudo da zona rural, onde à fome e ao trabalho escravo, acrescenta-se a aridez dos sentimentos. A família do vaqueiro Fabiano representa a saga dos que buscam sobreviver, trilhando os caminhos empoeirados e desérticos, como nômades do sertão.

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Lançada em 2015 pela editora Galera Record, a nova roupagem de Vidas Secas é assinada por Arnaldo Branco (roteiro) e Eloar Guazzelli (ilustrações). A dupla, que foi fiel ao texto original de Graciliano, já é experiente nesta área: Branco fez a adaptação para o formato HQ de grandes obras, como ‘Véu de Noiva’ e ‘Beijo no Asfalto’, ambos de Nélson Rodrigues. Já Guazzelli ilustrou, entre outros, a edição do clássico ‘Grande Sertão: Veredas’, de Guimarães Rosa.


Impactante A cachorra Baleia, que é considerada um membro da família de Fabiano, protagoniza uma das mais belas passagens na adaptação aos quadrinhos: a sua humanização no momento em que agoniza, as recordações, os deveres e o sonho de um paraíso cheio de preás. “Quando vi o desenho desta cena, chorei”, declarou o roteirista Arnaldo Branco.

As cores monocromáticas dão mais visibilidade a um sertão inóspito e hostil. Os rostos dos personagens são indefinidos numa clara intenção de mostrar a desfiguração, a desumanização que a seca inclemente provoca nos retirantes. Neste belo encadernamento, a nova edição oferece aos que conhecem a obra, a chance de revisitá-la a partir de um ângulo diferente. Para os novos leitores, sobretudo os fãs de quadrinhos, é uma boa oportunidade de adentrar em uma das mais importantes obras da nossa literatura. ‘Vidas Secas’ foi publicado em mais de 20 países, sendo traduzido para 15 idiomas. Foi o quarto romance de Graciliano Ramos, lançado após ganhar liberdade, depois de passar oito meses na prisão, acusado de participar do levante comunista contra a ditadura Vargas, em 1936.

Saiba mais ‘Vidas Secas’ é, antes de tudo, um grito de denúncia contra as injustiças sociais. Ao mesmo tempo em que explora os dramas psicológicos de cada personagem, o autor revela as mazelas provocadas pela falta de políticas públicas voltadas para resolver o eterno problema da seca no Nordeste. Por isso, a história de Fabiano, Sinhá Vitória, menino mais velho, menino mais novo e da cadela Baleia segue sendo atual. A falta de investimentos sociais nas áreas mais atingidas pelos longos períodos de seca continua retirando dos sertanejos a possibilidade de viver com dignidade: em suas terras ou no exílio forçado são submetidos a toda sorte de exploração pelos patrões abastados.

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