125 ANOS DE HISTÓRIA da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Rio Claro - SP

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IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL SINODO SUDESTE

125 ANOS DE HISTÓRIA da Comunidade Evangélica de Conissão Luterana de Rio Claro - Estado de São Paulo

1883 - 2008



Eldo Krüger Mauri Kappel Darvin Beig

125 ANOS DE HISTÓRIA da Comunidade Evangélica de Conissão Luterana de Rio Claro - Estado de São Paulo

1883 - 2008


Comunidade Evangélica de Conissão Luterana de Rio Claro - SP 125 Anos de História - 1883 - 2008

Editoração e Arte: Ana Lucia Sanchez Panico

Capa: Eldo Krüger Mauri Kappel Darvin Beig

Redação: Eldo Krüger Mauri Kappel Darvin Beig

Tradução de Documentos: Theodoro Paulo Koelle

Revisão: Eldo Krüger Mauri Kappel Darvin Beig Rosana Vitols Cerri Figueiredo Theodoro Paulo Koelle

Fotos: Acervo da Comunidade


Sumário 1. Introdução ................................................................................................. 09 2. Os pioneiros - Imigrantes .......................................................................... 10 3. A primeira ação em favor de uma causa comum ...................................... 20 4. Iniciativas para a consolidação da Comunidade Luterana ........................ 23 5. O Sonho e a primeira “Igreja” – Casa de Oração ...................................... 26 6. A Realidade e o Sonho – A Comunidade Ev.de Conissão Luterana ......... 34 •

Ministério Pastoral ........................................................................ 36

Ministério Missionário ................................................................... 39

Ministério Diaconal ....................................................................... 47

Os pregadores leigos .................................................................... 53

Vocação pastoral na Comunidade ................................................ 54

Ministério Compartilhado .............................................................. 55 – OASE ............................................................................. 56 – Grupo de mulheres ......................................................... 58 – Coral ................................................................................ 58 – Conjunto vocal e instrumental .......................................... 60 – Grupo de Louvor .............................................................. 61 – Culto das Crianças e Ensino Religioso ........................... 62 – Ensino Conirmatório ...................................................... 63 – Grupo de Oração ............................................................ 64 – Formação ........................................................................ 65 – Grupo de Idosos .............................................................. 68 – Dados Complementares .................................................. 69

7. Patrimônio ................................................................................................. 72 8. Considerações Finais ............................................................................... 74 9. Referências Bibliográicas ........................................................................ 76



1. Introdução Percorrer a trajetória da Comunidade Evangélica de Conissão Luterana de Rio Claro implica em resgatarlhe a origem: a “Deustche Evangelische Kirche” – Igreja Evangélica Alemã. Para contar essa história até os dias atuais, foram usados registros fotográicos, relatos de alguns descendentes de imigrantes que trilharam parte dessa caminhada, a análise de documentos de arquivos e registros oiciais, bem como o testemunho daqueles que permanecem vivos na memória dos participantes desta história. Dessa forma, as fotos retratam os relexos de vida, resultado da intenção do fotógrafo; os relatos tornam presentes os acontecimentos, mediados por lembranças e esquecimentos que dão corpo à memória do depoente e os documentos oiciais testemunham fatos, idéias e ações dos muitos participantes (pastores, professores, leigos, presbíteros) que vêm construindo essa história. Essas três maneiras de análise tornam possível a viagem no tempo, o resgate do ontem e a percepção do hoje, por meio da qual fortalecemos nossa identidade Luterana, trazendo luzes para o projeto futuro da Comunidade Evangélica de Conissão Luterana de Rio Claro, pertencente ao Sínodo Sudeste, um dos dezoito Sínodos que compõe a IECLB – Igreja Evangélica de Conissão Luterana no Brasil. Nesta coletânea, as imagens do passado e as atuais movimentam-se. Divulgamos fatos do passado e os mais recentes, cuidadosamente reunidos, com a certeza de que tal registro contribuirá para garantir a presença e a memória

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da Comunidade e da “Família Luterana”, que a manteve por 125 anos, como um testemunho de fé. Graças a Deus e a dedicação dos pastores, bem como à colaboração voluntária de lideranças, a missão da Comunidade resultou em bons frutos.

2. Os pioneiros - imigrantes Escrever a história de nossa Comunidade foi um desaio, considerando que são raras as referências, poucos os que se interessam pelo tema, e as informações disponíveis muitas

vezes

correspondiam

a

simples

referências,

restringindo-se a dados pessoais. Mesmo assim, apesar das diiculdades, tentamos resgatar e recorrer aos registros históricos do passado e recuperamos informações sobre nossos antepassados, que muito contribuíram para o surgimento da Comunidade Luterana de Rio Claro – SP. As informações encontradas em diversos arquivos (Atas de Assembléias; Atas de reuniões de Conselhos; referências citadas em artigos de divulgação ou mencionadas em cartas de imigrantes arquivadas em órgãos públicos), serviram para essa tentativa de reconstruir as partes dessa história. Essas foram as fontes que orientaram o percurso pela origem étnica e religiosa de nossos antepassados e o contexto histórico em que se deu a imigração de suas famílias para o Brasil. Muitos dos atuais membros da Comunidade de Rio Claro e arredores, representam, hoje, a 4ª ou 5ª geração de

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descendentes de nossos pioneiros imigrantes. Esses, na sua grande maioria, eram alemães e suíços que trocaram as respectivas pátrias pelo Brasil, com a idéia e a esperança de melhoria nas condições de vida. Isto ocorria porque a Alemanha e a Suíça passavam por novos desenvolvimentos econômicos e a industrialização teve um grande impulso, necessitando de mão de obra especializada, o que causou a ruína de artesãos e trabalhadores da indústria doméstica. Sem poder desenvolver suas atividades artesanais, esses trabalhadores livres começaram a formar grupos de mãode-obra (barata) assalariada para a indústria, provocando o desemprego e o êxodo dos camponeses para as cidades, com conseqüente aumento de população e os problemas que isto trazia no seu bojo (Wikipédia, a enciclopédia livre). O luxo imigratório de suíços para o Brasil iniciouse no século XIX, marcado pelo Bloqueio Continental napoleônico e conseqüente aumento das tarifas aduaneiras, o que provocou aumento de desemprego no país. Nesse processo vieram para o Brasil pessoas de diferentes qualiicações proissionais, quase sempre famílias completas. Os imigrantes suíços civis, geralmente estavam ligados às atividades comerciais, à produção têxtil e à relojoaria (Wikipédia). Aqui chegando, entravam em choque com a falta de estrutura brasileira, pois havia poucas escolas, poucas estradas e meios de comunicação insuicientes. Esse panorama prejudicava a transmissão de conhecimentos e de habilidade tecnológica. Já os imigrantes alemães chegaram ao Brasil em pequenos contingentes, durante longo tempo, a partir de

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Vista parcial do embarque no porto de Hamburgo - Alemanha


1824. Eram pessoas oriundas de regiões urbanas e rurais da Alemanha, insatisfeitos com a situação econômica reinante no país, mas com o desejo de melhoria nas suas condições de vida. Foram incentivados pelo governo brasileiro com o objetivo de colonizar as terras, substituir a mão-de-obra escrava, fornecer soldados ao exército e povoar regiões da fronteira com os outros países (Uruguai e Argentina) ou terras indígenas, consideradas sem dono; construir estradas para ligar o litoral ao interior do país; criar uma classe entre senhores e escravos com capacidade de comprar os produtos industrializados. Segundo Helinger Jr. (2007), a história da imigração em São Paulo ainda é desconhecida. O que se sabe é que a imigração oicial não obteve os resultados esperados, pois onerou os cofres públicos e não atendeu às expectativas dos imigrantes. Em meados do século XIX iniciou-se a imigração inanciada pela iniciativa privada, cuja experiência pioneira ocorreu na Fazenda Ibicaba (região de Cordeirópolis) pertencente ao Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Essa fazenda foi fundada em 1840, com a vinda de 90 portugueses da região do Minho, a im de trabalhar com base no sistema de parceria assumindo, gradativamente, os trabalhos que até aquela época eram desenvolvidos pelos escravos africanos. Este sistema consistia em dividir os Vista parcial da Fazenda Ibicaba - Cordeirópolis - SP

lucros da comercialização do café, na razão de 50% para o colono, que cuidava da plantação e efetuava a colheita e a outra parte para os empregadores (Helinger Jr., 2007).

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Um relatório intitulado “Emigração para o Brasil e seu Brilhante Sucesso”, registra fatos alusivos ao êxodo de alemães para o Brasil, airmando que a aceitação da possibilidade de emigração só era viável à classe média. Havia um desinteresse da classe pobre pelo assunto. Os camponeses tinham medo do desconhecido e não tinham reservas inanceiras para bancar ou parcelar o custo dessa operação. A única maneira de provocar o desejo de aventurar-se a empreender uma viagem desse porte, era conceder inanciamento, garantir a despreocupação com o alimento e a certeza do trabalho ser moderado. Para isto, os “agentes de imigração”, a serviço do Senador Vergueiro, anunciavam a perspectiva de conquista de liberdade e a chance de se transformarem em pequenos proprietários, após o pagamento da dívida que contrairiam com a Vergueiro & Cia. Em relação aos imigrantes alemães e suíços de formação evangélica, vieram para o interior do Estado de São Paulo, onde chegaram entre os anos de 1846 e 1851. Por iniciativa do Senador Vergueiro, os mesmos vieram para trabalhar como colonos, nas fazendas Paraíso e São Lourenço (Piracicaba); outros foram encaminhados para as fazendas Ibicaba, Angélica, Itaúna, Boa Vista, São Gerônimo (região de Cordeirópolis e Rio Claro); para a fazenda Cresciumal (perto de Limeira) e para a fazenda Sete Quedas (perto de Campinas). Resgatando informações relatadas em cartas e/ ou relatórios de imigrantes, foi possível avaliar um pouco das diiculdades enfrentadas pelos mesmos, não só no desembarque no porto de Santos – SP, como depois, nas

Vista parcial do porto de Santos - SP, no inal do século XIX

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viagens que deveriam fazer até chegar à colônia previamente escolhida pelo contratante. A viagem, através do Oceano Atlântico, era muito cansativa e demorada, chegando a durar de três a quatro meses. Em algumas situações os imigrantes esperavam o navio por cerca de dois meses no porto de Hamburgo, onde as condições eram muito precárias. Os navios geralmente zarpavam com excesso de passageiros, alimentação deiciente, mal preparada e com pouca higiene. Durante a viagem, em virtude de epidemias e falta de socorro condizente, ocorriam muitas mortes. Muitos imigrantes tinham por hábito redigir seus diários de viagem e através de cartas, passavam informações a parentes e amigos que deixaram na terra natal. Através de uma carta escrita no ano de 1855 por Elsbeth Jost, cinco meses após a chegada do casal Jost e seus três ilhos menores na fazenda Angélica, pudemos resgatar ricos e importantes detalhes da viagem, conforme tradução do original e transcrição, a seguir: “Sim, meus queridos, nós sofremos bastante na viagem, além disso, especialmente no meu caso, eu não recomendaria a ninguém que estivesse no meu estado (grávida), tendo de levar Passageiros Imigrantes no convés do navio

esse peso, pois eu estava doente na maior parte do tempo no navio e até o parto; muitas outras pessoas sofreram também dessa forma. Deus, no entanto, protegeu meu amado marido e ilhos (2), mantendoos sãos para que pudessem me ajudar todo o tempo. Muitas vezes ele tinha de me vestir para me levar para o convés do navio, pois o Comandante

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tinha dito que não podíamos icar nos quartos o tempo todo... Eu tive um parto sem problemas três dias antes de chegarmos ao Brasil, com a ajuda de uma hábil parteira do cantão de Freiburg, que também estava imigrando, uma mulher viúva com oito ilhos, que decidiu por conta própria vir para o Brasil... A viagem por terra também foi muito difícil e nos custou muito esforço, ainda não tínhamos condições de viajar e tivemos que comprar duas mulas de carga, cada uma das quais custou 84 francos e meio; eu precisava de uma para mim sozinha, as crianças foram colocadas em caixas sem tampa, amarradas com cordas de cada lado do outro animal e viajaram assim. As crianças doentes estavam quase morrendo: muitas noites eu achei que nossa ilha Klevi já estava morta. Para mim também a viagem foi horrorosa, pois nos primeiros dias quase não agüentava mais, tanto que eu chacoalhava e balançava em cima do bichinho; se ele desse um passo em falso, eu tinha certeza de que cairia para o chão. As famílias Thrineli e Bayon nos ajudaram muito todos os dias... O descanso à noite era feito debaixo de tendas montadas com quatro troncos com uma coberta por cima, mas sem proteção em volta. As noites eram frias e com muito vento... No primeiro dia de viagem chegamos à noite ao pé da montanha (Serra do Mar), que tinha de ser ultrapassada no caminho entre Santos e o

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interior de São Paulo. No dia seguinte foi montanha acima, ventava muito e balançava terrivelmente e eu achava que o bebê ia ser jogado longe com o vento. No terceiro dia descansamos, no quarto dia passamos por São Paulo e no décimo quarto dia chegamos à primeira colônia de Ibicaba. Ali fomos divididos em três grupos, e nessa colônia icaram o Thomas Davatz, a Úrsula Bayon, o Felix, o Joseph Davatz e o Peter Wilhelm, com mais algumas famílias vindas de Vatz ou do cantão de Glarus. Outras dez famílias constituíram uma outra colônia. A Leni com sua família, mais o Frikers Bürde e outras famílias de Vatz, Chur e Glarus formaram uma terceira colônia, mas esta ica muito longe de nós. Sim, queridos, foram muitas lágrimas de minha parte e também da parte de tantos outros, que foram separados de seus pais, famílias, parentes, crianças e netos, e eu tive vontade de me esconder num buraco e nunca mais sair ao sol, de tanta tristeza. Eu achei que essa viagem não fosse terminar nunca mais. Cinco mil milhas (cerca de 8.000 km). Este número parece tão grande, queridos, a separar-nos de vocês e de nossa terra. Aqui não temos o conforto de poder pensar em escola para as crianças e nem conforto em dias de alição ou de doença, nem pessoas honestas e direitas em quem poder coniar para nos ajudar,

Fazenda Ibicaba - terreiro de café e alojamento

acho que vai ser difícil para mim; eu sinto que na colônia já vou poder me levantar um pouco, a febre

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me atacou e eu me sinto muito fraca. No dia 8 de julho nos despedimos dos outros. No dia 10 de julho, nós chegamos à colônia às 10 horas da manhã, mas não encontramos ninguém. No dia seguinte foram trazidas provisões, distribuídas na mesma quantidade para cada colono, pela primeira vez na semana. Depois disso, cada um de nós pedia o que necessitava uma vez por semana, aos sábados. Cada um recebeu um livreto, onde se fazia anotações do que foi recebido, do que foi pago e do que ainda se deve. No mesmo dia, foi feita a partilha das plantações e dos cafezais”. Os imigrantes sofreram muito com as novas condições de vida: o clima muito quente; o isolamento das colônias; a falta de médicos para atendimento de casos de doenças e mesmo partos; a precariedade em transporte; ausência de vias de acesso e comunicação. Além disso, os colonos estrangeiros tinham uma diiculdade imensa em comunicar-se, principalmente pela barreira da língua, que eles não dominavam. Como se não bastasse todo o sofrimento e angústia, as promessas não cumpridas por parte dos fazendeiros geravam decepção e desgosto, muitas vezes sem perspectivas para abandonar tudo e retornar ao país de origem. Submetidos a essa realidade de exploração, os colonos não tinham perspectivas de melhora de vida onde estavam. No ano de 1860 essa realidade criou uma revolta por parte dos alemães, que decidiram romper o contrato que o dono da fazenda Ibicaba havia feito com eles. A alternativa

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foi abandonar tudo e migrar (algo que acontecia muito na época) para outro local onde pudessem trabalhar de forma digna e justa para conseguir um pedaço de terra e construir uma casa para a família. Foi assim que muitos vieram para Rio Claro (àquela época, São João Batista do Ribeirão Claro) e passaram a residir na região conhecida, desde aquela época, como “Vila dos Alemães”, próximo às instalações da “Companhia Paulista de Estrada de Ferro” (inaugurada aos 11/8/1876). Como muitos tinham vindo da Alemanha com várias aptidões proissionais (carpinteiros, ferreiros, soldadores, serralheiros), conseguiram emprego e passaram a trabalhar para a referida Companhia. Atraídos pelo elemento de sua cultura, de sua terra, por causa de suas ainidades lingüísticas, religiosas, seus usos e costumes, os ex-colonos de parceria daquela época, Fachada da Estação Ferroviária da Companhia Paulista (Acervo do Arquivo Público Municipal)

escolhiam ixar residência naquele bairro. Lá moravam os Winkel, os Ratky, os Rödel, os Büchner, os Meissner, os Reis, os Spilak, os Engel, os Procknow e muitos outros (Pignataro, 1983). Segundo Hasler (2007), “são muito escassos os vestígios dos colonos de parceria daquela época. Um terço das famílias extinguiu-se na terceira geração. A maioria levou uma existência pobre como agricultores ou empregados em pequenas cidades. Poucos atingiram o nível de uma existência abastada”. As epidemias de varíola (1884 a 1889) e de febre amarela (1892, 1893 e 1896), causaram a morte de muitos imigrantes. Há registros de que, de dezembro de 1892 até fevereiro de 1893, foram sepultados 30 mortos da comunidade

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alemã. A doença começava com fortes dores de cabeça, febre e levava normalmente à morte após dois a três dias. Não havia casa que tivesse sido poupada pela doença. Em algumas famílias chegaram a morrer três a quatro pessoas. Tal situação abalou bastante a comunidade alemã de forma que poucas pessoas participavam dos cultos dominicais. No período de 1860 a 1882, graças a abnegação dos pais, somente poucas crianças aprenderam a ler e escrever. A situação só melhorou, quando foi fundada a “Deutsche Schule”- Escola Alemã (1882), onde os pais passaram a matricular seus ilhos. Os imigrantes também não tiveram assistência espiritual por parte da Igreja da Alemanha. Tanto nas colônias, como nas cidades de Campinas, Limeira e Rio Claro eles contaram apenas com visitas esporádicas do Reverendo Francis Joseph Christopher Schneider, nascido na Alemanha e naturalizado cidadão americano. Foi ele o terceiro missionário presbiteriano a vir para o Brasil, para trabalhar com os imigrantes alemães, tendo chegado ao Rio de Janeiro aos 7 de dezembro de 1861. No inal de janeiro de 1862, seguiu para o interior paulista, visitando colonos alemães e suíços. Fixou residência em Rio Claro, onde permaneceu até março de 1863, pregando aos domingos nas colônias já citadas. (De Moraes, 2008). Além de pregar e evangelizar, distribuiu bíblias, literatura evangélica e deu início às atividades da escola dominical, ensinando às crianças a história da Bíblia e o catecismo. Em meio a um contexto religioso dominado pelo catolicismo, muitos não permaneceram iéis à fé evangélica

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Reverendo Joseph C. Schneider


e acabaram se tornando católicos. Muitos foram batizados e se casaram na Igreja Católica. Por im, independente de sua origem urbana ou rural, os imigrantes que aqui chegaram, souberam “visualizar” as lacunas existentes nas frentes de trabalho e as ocuparam, proporcionando-lhes a oportunidade de se inserir numa economia de mercado que passava a ganhar impulso, além de lhes fornecer o sustento diário. Porém, a repercussão da idéia do colono estrangeiro como substituição da mãode-obra escrava, prejudicava a imagem do Brasil enquanto pólo de imigração, provocando na Europa uma propaganda contrária ao Brasil, o que colaborou para interromper os movimentos imigratórios para nosso país. Em tudo, a fé e a perseverança foram determinantes no enfrentamento e superação de todas as provações experimentadas. Um testemunho para nós.

3. A primeira ação em favor de uma causa comum. Motivados pela identidade religiosa, os imigrantes radicados em Rio Claro se uniram, pela primeira vez, a im de construírem um Cemitério para sepultar seus mortos. No dia 1 de julho de 1863, o Sr. Eduard Bohn, um comerciante radicado na cidade, preocupado com as condições constrangedoras a que eram submetidos os evangélicos, dirigiu-lhes um apelo em prol da construção de um Cemitério próprio, uma vez que não era permitido aos protestantes sepultar os seus mortos no Cemitério dos cristãos católicos. Comunicou na carta, que o magistrado da Relação dos fundadores do Cemitério Alemão

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cidade de Rio Claro já havia deferido um requerimento no qual foi solicitada a doação de um lote de terreno adequado. Quarenta e quatro pessoas, entre as quais também se encontravam alguns católicos, comprometeram-se a contribuir com dinheiro para a construção do cemitério. Foi eleita uma comissão executiva de seis pessoas, que assumiu a referida construção. A sua inauguração aconteceu na manhã do dia 12 de julho de 1865, com a participação do Rev. Francis J. C. Schneider, numa solenidade que reuniu um bom número de protestantes da cidade e arredores; muitos católicos alemães e brasileiros. No dia 24 de março de 1866 foi sepultado o Sr. Ulrich Müller, um colono pobre da fazenda Angélica. Alguns meses depois, no dia 12 de agosto, foi sepultado o Sr. Johannes Kapretz, morador de Rio Claro. A partir de 1866 várias pessoas colaboraram como

Sr.Eduard Bohn

responsáveis pela administração do cemitério, a saber: Eduard Bohn (1866-1875); Luiz Frederico Barthmann (18751878); Adolf Kunz (1878-1881); Samuel Kleiner (1881-1886); Emili Weiss (1886-1890); Luiz Frederico Barthmann (18901893); João Eichenberger (1893-1896); Luiz Frederico Barthmann

(1897-1900);

Leonhard

Jost

(1901-1902);

Frederico Eichenberger (1902-1904); administrador ignorado (1904-1920);

João

Pedro

Eichenberger

(1921-1924);

administrador ignorado (1924-1930). Neste último período, conforme registro em Ata do Conselho da Comunidade, foi fundada a “Sociedade do Cemitério Evangélico” de Rio Claro (outubro de 1928), que passou a arrecadar doações espontâneas de colaboradores para arcar com as despesas de conservação e embelezamento do mesmo. Esta iniciativa Vista parcial do Cemitério Alemão

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partiu da Sra. Marta Stein, membro atuante na Igreja Alemã. Na ocasião, foi eleita uma diretoria composta pelas seguintes pessoas: Senhoras Marta Stein e Lydia Eichenberger Meyer, Senhores Hermann Beig, Jakob Meyer e Ernest Fischer. O Estatuto da Sociedade, um folheto de oito páginas, fora publicado em Rio Claro, no ano de 1932. No mesmo, constam dezoito parágrafos devidamente aprovados pela Assembléia Geral da Igreja Evangélica Alemã, realizada aos 27 de março de 1932, e assinado pelos membros da respectiva Diretoria. Com a extinção da referida Sociedade, o Cemitério passou a fazer parte do patrimônio da Comunidade Evangélica de Rio Claro, conforme determinava um dos parágrafos de seu Estatuto. Desde então, ela assumiu a responsabilidade pelo Cemitério, bem como a sua administração. A partir de então, constam os seguintes administradores voluntários: Ernest Fischer (1930-1941); João Höling (1941-1959); Adalberto Wehmuth (1959 – 1987); Mario Wehmuth Rosseti (1987-1990); Adalberto Wehmuth Sobrinho (1990-1992). Durante os primeiros 126 anos de existência (1866-1992), a dedicação dos administradores voluntários sempre foi no sentido de manter o Cemitério sob responsabilidade e propriedade da Comunidade Evangélica, apesar das diiculdades inanceiras que enfrentavam. Por vários anos puderam contar com a colaboração da Prefeitura Municipal de Rio Claro, que subvencionava o zelador para as tarefas de manutenção e limpeza. No ano de 1992, na pauta da Assembléia Geral Ordinária Fachada do Cemitério Evangélico

da Comunidade, foi incluído um item especíico relativo à administração do Cemitério. Após muita discussão a respeito, foi deliberado o seguinte: I - a escolha de um administrador

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especíico; II - a venda de jazigos para a formação de caixa próprio (para a contratação de funcionários e despesas de manutenção) e III - a instituição de uma taxa anual para a conservação do patrimônio. Na oportunidade, foi eleita a Sra. Luciana Maria Fabris Lucke, como administradora, que exerce a função desde o ano de 1992 até os dias de hoje, sempre contando com a colaboração de seu marido, o Sr. Rodolfo João Lucke; uma secretária e quatro funcionários contratados pelo Cemitério. O Cemitério Evangélico, localizado na Avenida 23, nº 721- Cidade Jardim – Rio Claro (SP), ocupa uma área de 9.889,85 metros quadrados.

4. Iniciativas para a consolidação da Comunidade Luterana. No ano de 1866, o Sr. Eduard Bohn tomou a si as funções de um ministro religioso evangélico em Rio Claro e em outras cidades da região (Piracicaba, Campinas, Pirassununga e Araras). Não se sabe se ele se sentiu impelido para o cargo ou se os alemães solicitaram que ele assumisse a função de “pastor”. A segunda hipótese é mais provável, pois na época, bastava o abaixo assinado de um determinado número de pessoas para a Secretaria do Governo, em São Paulo, dar poderes a uma pessoa para realizar casamentos legalmente válidos e, de um modo geral, desempenhar todas as funções de um ministro religioso. Todavia, o trabalho do Sr. Bohn entre os evangélicos era esporádico (uma vez ao ano). Isto signiicava uma formação deiciente do conhecimento da Bíblia e da doutrina

Missionário Johann Jakob Zink

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cristã, o que, em muitos casos, levou ao enfraquecimento das condições necessárias para os membros permanecerem iéis à fé evangélica. Alguns anos depois, já em 1868, a Missão Estrangeira da Basiléia (Basel Mission) – Suíça, enviou para o Brasil o Sr. Johann Jakob Zink, jovem missionário, destacado para atender as famílias alemãs instaladas na Pastor Friedrich Müller

colônia Senador Queiroz, estabelecida na fazenda São Jerônimo – Limeira – SP. Percorreu ele, em longas viagens, diversas cidades do interior do Estado de São Paulo, com o intuito de reunir luteranos, seus correligionários. Naquela época, chegou a celebrar alguns cultos em Rio Claro, principalmente na zona rural perto do Rio Cabeça. Depois foi morar perto de Campinas – SP. Nesse período, para que os alemães da região pudessem ter uma assistência religiosa mais efetiva e contínua, o Pastor Johann J. Zink solicitou à Missão Estrangeira da Basiléia que enviasse um pastor ao Brasil. Em outubro de 1874 chegou ao Brasil o Pastor Friedrich

Fachada da casa onde foram realizados os primeiros cultos da Igreja Presbiteriana de Rio Claro SP

Müller, tendo ixado residência no Bairro dos Pires, próximo de Limeira – SP, onde viveu durante 44 anos, até o dia de seu falecimento (02 de dezembro de 1918). Visitou Rio Claro pela primeira vez no dia 29 de agosto de 1875, e como o Sr. Eduard Bohn havia se demitido da função de ministro religioso (25 de julho de 1875), o referido pastor atuou como seu substituto, por dois anos. Assim, os cultos passaram a ser mais regulares, no templo da Igreja Presbiteriana, ou em casas particulares. O Pastor Zink residiu na cidade de São Paulo por três anos (1875-1877), com o propósito de formar uma

Fachada da Primeira Igreja Presbiteriana de Rio Claro SP

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Comunidade, o que não se concretizou. Desencorajado pelo insucesso e pela diiculdade de manter inanceiramente sua família, resolveu regressar a Alemanha. Para tanto, fez contato com a Missão de Basiléia, a qual lhe prometeu inanciar a viagem de regresso e ajudá-lo a encontrar uma comunidade para trabalhar como pastor. Isto só não se concretizou porque o Reverendo Schneider, da Igreja Presbiteriana, o convidou para vir a Rio Claro a im de colaborar com os presbiterianos, atendendo também os alemães. Ele aceitou o convite e transferiu sua residência para Rio Claro, no ano de

Em primeiro plano - Fachada da Casa Pastoral. Em segundo plano - Salas da Escola Alemã Rua 5 com Av.14

1877. Depois de cinco anos de colaboração com os pastores presbiterianos, passou a se dedicar exclusivamente aos imigrantes evangélicos, que freqüentavam sua casa para os cultos em língua alemã. No ano de 1882 o Pastor Johann J. Zink, por sua vez, preocupado com a educação dos ilhos dos colonos, reuniu esforços para a fundação de uma Escola - a “Deutsche Schule” – Escola Alemã. O primeiro professor contratado para a Escola foi o Sr. Adam Zink, seu irmão, (tecelão de proissão), que aqui permaneceu por alguns meses e por motivos de saúde retornou à Alemanha. Em seu lugar foi contratado o Sr. Hildebrand, que interrompeu suas atividades alguns meses depois. Assim, como o Pastor Zink, em virtude de seus encargos como pastor, não conseguia dar maior dedicação à Escola, entrou em contato com a Alemanha solicitando o envio de um professor para ensinar os conterrâneos de língua alemã. O Professor Theodor Albert Koelle interessouse pela proposta, e com apenas 19 anos de idade veio ao Brasil e iniciou seu trabalho como professor da Escola Alemã

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Professor Theodor Albert Koelle, aos 19 anos de idade


no dia 3 de dezembro de 1883. Escola e Igreja sempre estiveram intimamente relacionadas. A princípio, como havia necessidade de espaço para ministrar as aulas, foi construída uma sala anexa a igreja, e à medida que os recursos permitiram, outras salas foram agregadas.

5. O sonho e a primeira “Igreja”– Casa de Oração Com o tempo, a Comunidade Evangélica Alemã se consolidou (1883) e foi aprovado seu primeiro Estatuto, cujo teor, traduzido do original em alemão, transcrevemos a seguir: Estatuto da Comunidade Evangélica Alemã em Rio Claro “Os membros da Diretoria da Comunidade Evangélica reuniram-se a im de sugerir as seguintes propostas para a criação de uma Comunidade Religiosa e a apresentação a uma Assembléia dos necessários membros. 1) Como

verdadeiros

membros

da

Comunidade

são considerados aqueles que são evangélicos e conirmados e que ao mesmo tempo contribuem anualmente com a importância voluntária para o salário do pastor, mas que não deverá ser menor do que Rs 5$000. Exceções fazem as viúvas pobres das quais se sabe que não estão em

Foto do original do primeiro Estatuto da Comunidade Evangélica Alemã - Ano de 1883.

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condições de efetuar tal contribuição. Ao mesmo tempo, entretanto, também é permitido a todos os não evangélicos participar dos cultos e poderão estes ser admitidos como membros honorários e também deles se receberão, com agradecimento, contribuições voluntarias. 2) A contribuição anual inicia-se de 1º de março em diante e poderá ser paga de uma só vez ou semestralmente ao próprio pregador ou a um dos membros da Diretoria. 3) Membros como

poderão,

batismos,

nos

atos

casamentos,

religiosos,

conirmação

e

sepultamentos dar uma oferta ao pastor, conforme seu livre desejo. Não membros, entretanto, são obrigados a primeiramente dirigir-se a Diretoria e deverão pagar a ela para um casamento Rs 20$000 e para conirmação Rs 15$000 antes do evento ser realizado,

igualmente

Rs 10$000 para um

enterro. Batismos também são permitidos para não membros, pagos livremente e permitidos sem que antes tenham se dirigido a Diretoria. 4) O pastor compromete-se a realizar regularmente a cada 14 dias um culto e fazer uma exceção somente em casos de força maior. Também deverão ser continuados os cultos semanais nas residências como é habitual. Além disso, ele se compromete a, nos domingos em que precisar estar ausente, de por intermédio de seu professor, apresentar

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uma prédica adequada, de tal forma que em todo domingo de manhã seja realizado culto. 5) A oferta será destinada às despesas da Igreja e será de agora em diante arrecadada duas vezes nos domingos para dar também oportunidade àqueles que não estiveram presentes no culto da manhã e assim oferecer seu óbulo à tarde ou à noite. 6) A Santa Ceia será distribuída pelo menos duas vezes ao ano, poderá porém, a pedido, ser oferecida 3 ou 4 vezes”. Na oportunidade, elegeu a primeira Diretoria e foram feitas as primeiras tratativas para a construção de um espaço próprio para abrigar os evangélicos luteranos. Para tanto, o P. Johann J. Zink encaminhou um apelo aos seus congregados, conforme tradução do original em alemão, que transcrevemos a seguir: “Rio Claro, 11 de Julho de 1883. Prezados amigos e irmãos no Senhor. O desejo e a necessidade cada vez mais expressa de se ter, proximamente, uma Igreja Evangélica, arrisco em nome do Senhor, fazer este apelo a todas as pessoas evangélicas aqui e da redondeza para cooperar conforme suas forças para que uma construção possa ser iniciada, se possível logo. Com prazer eu estou disposto a oferecer o terreno gratuitamente e a me comprometer, por Foto parcial do documento original redigido pelo Pastor Johann J. Zink em prol da construção do primeiro templo da Igreja Evangélica

escrito, a não reivindicar mais o mesmo. A esquina

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em frente a minha residência seria para tanto o lugar adequado. Como precisamos saber, sobretudo, quais os meios que nos serão proporcionados para a obra, desejo assim consultar a cada um que deseja colaborar, para assinar o seu nome e ao mesmo tempo indicar a importância que estaria disposto a doar para este im, que deveria ser paga, aproximadamente, até outubro. Assim que os meios a nós oferecidos forem do nosso conhecimento, poderão ser elaborados um ou mais projetos, talvez alguns tenham um amigo que estaria disposto a elaborar um projeto gratuitamente, se nós o pedirmos. Quanto mais recursos tivermos, tanto mais bonita poderá ser a obra a ser erguida. Termino com o desejo de que este apelo encontre muitos corações abertos para colaborar. Desejo a rica benção de Deus a cada um que participa. Em sincero amor cristão, assina com todo o respeito Johann. J. Zink – “Pastor Evangélico” Em uma lista anexa ao documento constam 65 assinaturas e o total arrecadado foi de Rs: 2:421$000 (Dois contos e quatrocentos e vinte e um mil réis). No dia 5 de agosto de 1883 foi aprovado, pela comunidade, um projeto de construção. Na mesma oportunidade, foi nomeada uma comissão composta pelos senhores: Emil Weiss, Peter Stein, Samuel Kleiner e Martin Hess, que deveria se encarregar da execução do projeto. Como a comunidade contava com a participação de um pequeno número de membros, projetava-se uma construção

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Foto parcial da placa com os nomes dos integrantes da comissão de obras do primeiro templo


modesta, simples e de baixo custo. Na verdade, tratava-se de um espaço para acomodar os iéis, uma vez que antes da Proclamação da República (1889) os evangélicos não tinham total liberdade religiosa. Uma das proibições era a construção de templo com torre. Permitia-se apenas uma ediicação simples ou “Casa de Oração”, como era conhecida. No dia 22 de setembro de 1883, às 8h da manhã, foi realizada a cerimônia de lançamento da pedra fundamental. Na oportunidade, o Pastor Johann J. Zink fez uma pequena alocução com base no texto de Isaías 28.16: “Vede em Sião, Detalhe do gradil de ferro da porta da primeira Igreja - 1883

colocamos uma pedra fundamental”. A partir de então, foram iniciadas as obras de construção e seis meses mais tarde, aos 09 de março de 1884, os evangélicos luteranos estavam reunidos para a cerimônia de inauguração do primeiro “templo” da Igreja Alemã, construído no Estado de São Paulo, a “Deutsche Evangelische Kirche” - Igreja Evangélica Alemã.

Na

oportunidade, durante o culto festivo, a alocução foi feita pelo Pastor Friedrich Müller com base no texto bíblico de Mateus 15.21-28. Embora a Comunidade já pudesse contar com local para a realização de cultos, o seu sonho ainda não estava realizado, uma vez que faltava um campanário a im de abrigar os sinos. Todavia, isto só foi possível após a Proclamação da República, no ano de 1889, quando foi concedida plena liberdade religiosa aos protestantes no Brasil. A esse respeito, achamos pertinente transcrever abaixo um trecho de relatório feito pelo P. Theodor A. Koelle: “Durante a época da febre, um membro de

Templo da Igreja Alemã inaugurado aos 9/9/1884

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nossa comunidade ao morrer me havia entregue Rs: 200$000 (duzentos mil réis) destinados a uma boa obra. Após consultar o Conselho Diretor, esse dinheiro foi aplicado num fundo para aquisição dos sinos. A associação feminina, fundada no ano de 1899, canalizou todas as suas rendas para esse fundo. Logo despertou um entusiasmo geral pela construção da torre com os sinos. Grandes importâncias foram doadas e já no ano de 1900 pudemos pensar no início da construção, que em 11 de novembro, do mesmo ano, seria inaugurada. Três imponentes sinos que haviam sido fundidos

Torre construida na parte detrás do primeiro Templo

em Jundiaí, chamariam futuramente os iéis da comunidade para o culto. De longe os alemães e suíços acorreram para Rio Claro para a festa de inauguração, de tal modo que a pequena igreja quase não pode conter a quantidade dos convidados. E nós, nos vimos forçados a realizar a solenidade à sombra das loridas cerejeiras brasileiras”. A torre e os sinos custaram Rs: 16:000$000 (dezesseis contos de réis), montante arrecadado pela comunidade sem grande diiculdade. Cada um dos sinos tem uma mensagem grafada em língua alemã, cuja tradução é a seguinte:

Sino maior:

“Que cada um se sinta chamado pela palavra

de Deus. Deus nos chama diariamente, com ou sem os sons dos sinos”

Detalhe da mesma torre, agregada na parte lateral do segundo Templo

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Sino médio: “Ó terra, terra, terra. Ouvi a Palavra do Senhor”. Sino menor:

“Espírito Verdade, em nós vem habitar”.

A rigor, a Comunidade de Rio Claro estabeleceu um relacionamento com a Igreja da Alemanha, desde 1868, ano em que o Pastor Johann J. Zink veio ao Brasil, enviado pela Igreja da Alemanha, através da casa de missão Basiléia. No dia 13 de março de 1898, a Comunidade, na sua Assembléia Geral, aprovou a decisão da Diretoria de ailiarse à Sociedade Evangélica para os Protestantes da América do Sul, com sede na cidade de Barmen - Alemanha. Para oicializar essa decisão, foi necessária a elaboração e a aprovação, em assembléia, de novos estatutos encaminhados Detalhes dos três sinos instalados na torre

junto ao pedido de iliação, ao Conselho Superior da Igreja Evangélica, em Berlim. No dia 18 de julho de 1903, o Imperador Alemão aprovou a pretendida ailiação da “Deutsche Evangelische Kirche” às Igrejas Nacionais Evangélicas da Mais Velha Província da Monarquia Pruciana. Desta forma, icava assegurada uma aposentadoria ao pastor que estivesse trabalhando no Brasil. Cumprindo as formalidades do processo, nos dias 28 a 30 de junho de 1907, o Pastor Martin Braunschweig, pastor na cidade de Leipzig (Alemanha), e comissário do Conselho Superior Evangélico da Igreja em Berlim, visitou a Comunidade de Rio Claro. Assistiu ao culto dominical, a escola dominical e a instrução infantil. Ao se despedir, deixou a seguinte mensagem: “Formulo os votos para que essa Comunidade permaneça coesa e por

Detalhe do pórtico em madeira instalado na “Deutsche Evangelische Kirche” e conservado na entrada da igreja atual

intermédio de cada qual de seus membros, junto a Deus em graça, se torne uma bênção para a humanidade. São os mais sinceros votos de despedida”.

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No dia 9 de junho de 1906 a diretoria da Comunidade decidiu requerer os direitos de Pessoa Jurídica, algo fundamental para garantir o seu patrimônio. O Sr. Dr. Lehfeld, em São Paulo, providenciou tudo e inclusive assumiu todas as despesas envolvidas. Uma súmula dos Estatutos foi então publicada no Diário Oicial do Estado de São Paulo. Nesta oportunidade, a Comunidade passou a ser designada como “Igreja Evangélica Alemã de Rio Claro”, vinculada ao então Sínodo Brasil Central, que se estendia pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Seus Estatutos foram registrados junto ao Cartório de Registro de Títulos e Documentos de Rio Claro no Livro 1, Associações, sob n. 6, ls. 3, aos 26 de fevereiro de 1907. Mais tarde, em 1949, com o propósito de ser uma Igreja em terra brasileira, os sínodos (Sínodo Riograndense (1886); Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros estados (1905); Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina e Paraná (1911); Sínodo Evangélico do Brasil Central (1912)), foram reunidos, constituindo e representando uma “Federação Sinodal”, sendo necessária nova alteração dos Estatutos da Comunidade. A partir de 1950, a Comunidade passou a denominar-se “Comunidade Evangélica de Rio Claro”, conforme registro em Cartório (Livro A, de Pessoas Jurídicas, sob o nº 29, ls 23 e 24). Dois anos depois (1952), ocorreu nova alteração nos Estatutos, quando a “Federação Sinodal” recebeu no nome o complemento de “Igreja Evangélica de Conissão Luterana no Brasil”. Em 1968, em São Paulo, foi constituída uma

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Assembléia Geral Extraordinária que reuniu representantes dos

quatro

sínodos,

quando

foi

decidido

constituir

juridicamente uma só Igreja, centralizando toda a sua administração. A partir daí, passou a ser reconhecida como IECLB – Igreja Evangélica de Conissão Luterana no Brasil, hoje com sua sede em Porto Alegre, RS - Rua Senhor dos Passos, n. 202. Por esta razão, aos 04 de novembro de 1972, em Assembléia Geral Extraordinária da Comunidade, foi aprovada nova alteração no seu Estatuto, agora para “Comunidade Evangélica de Conissão Luterana de Rio Claro” (Cópia do Estatuto foi arquivada em Cartório Livro A, de Pessoas Jurídicas, as ls. 294, sob número de ordem 352, desde 11 de março de 1974).

6. A realidade e o sonho – A Comunidade Evangélica de Conissão Luterana O Templo construído nos anos 1883/1884, havia se tornado um lugar importante para a Comunidade, um símbolo Fachada do primeiro Templo quando foi depredado em 1917

da sua identidade de fé evangélica e cultura alemã. Serviu aos seus propósitos por 33 anos e já mostrava indícios de sua degradação física, além de representar um espaço muito pequeno e simples. Além disto, em abril de 1917, durante a primeira Guerra Mundial, os aliados espalharam a mentira de que um submarino alemão havia torpedeado o navio brasileiro Paraná. Um grupo de pessoas se inlamou de tal maneira que em 15 de abril, invadiu o Templo, a escola e o internato, destruindo vidraças, venezianas, portas e demolindo a cerca que o circundava. Somente após providências enérgicas das autoridades brasileiras, foi possível evitar que uma desgraça

Fachada da Escola Alemã também depredada em 1917

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maior se realizasse. Porém, foi somente no ano de 1923 que a comunidade decidiu, na sua Assembléia anual, pela construção de um templo maior, com entrada pela avenida catorze e que incluísse o aproveitamento da torre com os sinos. Um fundo de construção de Rs 112:000$000 (cento e doze contos de réis) estava disponível. O projeto de construção elaborado pelo arquiteto Rudolf Fehr (1918), foi aprovado por unanimidade. Na ocasião, foi escolhida uma comissão de construção composta pelos Srs. Heinrich

Foto do projeto de construção do novo templo

Blumer, Heinrich Eichemberger, Hermann Beig, Heinrich Höling Filho, Hermann Meyer, Samuel Ungericht, Anton Eichenberger, Friedrich Eichenberger, Benjamin Jost e Simon Höling. No dia 15 de julho de 1923 foi feita a cerimônia de lançamento da pedra fundamental e no dia 22 seguinte, foi celebrado um culto, com Santa Ceia, como ato de despedida do primeiro Templo. Sob a coordenação da comissão de

Detalhe da placa com os nomes dos integrantes da comissão de obras do segundo tempo

obras, a construção foi demolida e em seu lugar foi construído um novo templo, com capacidade para acomodar quinhentas pessoas. A inauguração festiva aconteceu no dia 9 de março de 1924, ocasião em que o P. Hoepffner, presidente do Sínodo do Brasil Central, proferiu o sermão festivo. Oitenta e cinco anos se passaram e o templo continua servindo como o espaço onde a Comunidade se reúne para cultuar a Deus. Ela é, pois, alvo e instrumento da missão de Deus. Para capacitá-la para essa tarefa, Deus concede ministérios, cargos e funções. “A comunidade realiza sua tarefa de participar do serviço de Cristo sob responsabilidade própria, orientada pela Fachada do templo construido no ano de 1923

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direção da igreja. A comunidade congrega seus membros em torno de um centro comum de culto, pregação e celebração dos sacramentos. Anima e promove a participação dos membros na concretização de seus objetivos: testemunhar o evangelho dentro e fora das fronteiras da comunidade; zelar para que o testemunho seja dado segundo a conissão luterana; dedicar-se à assistência espiritual e à ação diaconal; promover o ensino e a formação evangélica luterana das Aspecto interno do mesmo prédio

pessoas batizadas; engajá-las, conforme seus dons, nos desaios da vida comunitária e social, com vistas à promoção do bem comum” (NOSSA FÉ NOSSA VIDA, pag. 8) A história de nossa Comunidade não estaria completa se não incluíssemos a participação e dedicação dos pastores e colabores leigos que aturam em diferentes departamentos, e que constituem o conjunto da vida comunitária. “Na Igreja, a rigor, há um só ministério: o de testemunhar o Evangelho de Cristo, coniado à comunidade. Todos os outros ministérios especíicos, criados pela comunidade ou igreja, devem estar a serviço daquele” (NOSSA FÉ NOSSA VIDA, pag. 10).

Ministério Pastoral

“O pastor e a pastora, credenciados pela Igreja, são chamados pelo Conselho Paroquial, ou outro órgão diretivo, para exercer, segundo o ministério compartilhado, a pregação pública do evangelho, a administração dos sacramentos e o aconselhamento pastoral. Dedica atenção especial à formação e ao acompanhamento de pessoas colaboradoras leigas. Juntamente com os demais ministérios especíicos,

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são co-responsáveis pela administração da Comunidade”. (NOSSA FÉ NOSSA VIDA, pag. 11) Nos 125 anos de existência, a Comunidade pôde contar com a colaboração de vários pastores, cada qual com o apoio das lideranças, dos pregadores leigos e demais obreiros, que dedicaram os seus dons à ediicação de uma Comunidade ativa e participativa. Os primeiros pastores (Müller, Zink) vieram da Alemanha, enviados pela “Missão de Basiléia”, uma instituição de formação pietista que preparava missionários para enviar ao mundo. A partir do ano de 1978, a Comunidade passou a ter pastores brasileiros, formados pela Faculdade de Teologia da IECLB (fundada em São Leopoldo – RS, em 26 de março de 1946). Agradecemos a Deus por todos os pastores e o seu trabalho realizado em favor da Comunidade – um sinal vivo do reino de Deus. Segue foto dos pastores e períodos de atuação:

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Pastor Friedrich Müller [ 1875 - 1877 ]

Pastor Johann Jackob Zink [ 1877 - 1891 ]

Pastor Theodor Albert Koelle [ 1897 - 1932 ]

Pastor Gerhard J. P. Graetz [ 1932 - 1977 ]

Pastor Oscar Henning [ 1978 - 1980 ]

Pastor Mauri Kappel [ 1981 - 1988 ] [ 2004 - até os dias de hoje ]

Pastor Valter Schmidt [ 1989 - 1993 ]

Pastor Eldo Krüger [ 1995 - até os dias de hoje ]

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Ministério Missionário

Como os alemães evangélicos viviam uma realidade de diáspora, estavam dispersos pelo interior do Estado de São Paulo (inclusive em Estados próximos), sempre houve por parte dos pastores uma preocupação missionária em relação à sua assistência espiritual. Na época dominava o catolicismo e por isso a missão foi voltada totalmente àqueles. Havia um respeito e um cuidado em não fazer nenhum tipo de proselitismo com pessoas de outras Igrejas. Os pastores Schneider (presbiteriano), Hölzel e Haussler foram os primeiros a visitar as colônias alemãs do interior e oiciar cultos, batismos e casamentos. Depois destes, o Sr. Eduard Bohn, além de atender a Comunidade Alemã de Rio Claro, também celebrou batismos e casamentos em outras cidades, como: Piracicaba, Campinas, Pirassununga e Araras. Esse espírito missionário, que priorizava atender os alemães evangélicos dispersos, perdurou por muitos anos. Os pastores Müller e Zink izeram algumas tentativas de fundar uma Comunidade em Piracicaba (1880). Porém, já naquele tempo havia poucas pessoas de origem alemã e, dos que ali residiam, poucos falavam o idioma alemão. Por isso os pastores desistiram da sua intenção. A colônia alemã de Piracicaba desapareceu rapidamente, pois seus integrantes se mudaram para outras localidades. Os que permaneceram, iliaram-se à Igreja Metodista, que realizava cultos exclusivamente em português. Outra iniciativa missionária importante aconteceu depois da primeira guerra mundial (1914). Muitas famílias alemãs evangélicas haviam imigrado para o Brasil e se

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ixaram como colonos nas fazendas do interior de São Paulo. O P. Koelle, além de realizar o trabalho pastoral em Rio Claro, fez várias viagens para diversas fazendas a im de assistir pastoralmente os alemães. Também atendeu a Comunidade de Campinas, e nos bairros da Rocinha e Ribeirão. Como os alemães eram muitos e estavam dispersos em diferentes cidades, não era possível fazer um trabalho regular de atendimento. Havia necessidade urgente de Pastor Theodor Albert Koelle

se encontrar um pastor que visitasse regularmente estes colonos. Assim, os pastores alemães do Estado de São Paulo reuniram-se, na cidade de Campinas – SP, para discutir o assunto e decidiram pela contratação de um pastor itinerante. Para viabilizar este intento, em assembléia que realizaram no dia 11 de julho de 1922, decidiram pela fundação de uma sociedade – “Gustavo Adolfo” para o Estado de São Paulo. Esta sociedade tinha por objetivo angariar recursos inanceiros para promover a missão. Foi assim instituído um “Fundo de Missão” e as Comunidades passaram a fazer coletas especíicas para o mesmo. Rio Claro decidiu apoiar, destinando três coletas por ano à sociedade. Em outubro

Vigário F. Wilhelm Wilms

de 1925 o Conselho Superior da Igreja da Alemanha enviou para Rio Claro o Sr. Vigário F. W. Wilms, que foi mantido por aquele fundo. Ele realizou longas viagens pelas mais diversas fazendas de café e celebrou cultos no interior do Estado de São Paulo (São Carlos, Araraquara, Nova Europa, Bebedouro, Marília), e até no Estado de Mato Grosso. Em 1929 o Sr. Wilms retornou à Alemanha. Até que o Conselho Superior tomasse providências para enviar outro pastor, o trabalho missionário teve continuidade com a colaboração do Pastor Johannes Raspe de Campinas (Pastor em Campinas

Pastor Johannes Raspe

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de 1928-1932). Esta situação perdurou até março de 1930, quando a Igreja da Alemanha enviou para nossa cidade o Vikar Gerhard Graetz, que além de visitar lugares do interior do estado de São Paulo, também visitou algumas cidades nos estados de Mato Grosso e Goiás. No ano de 1932 o P. Graetz foi eleito pela Comunidade de Rio Claro para substituir o P. Koelle, o qual se aposentou. Além de atender as Comunidades de Rio Claro, Ferraz e Nova Europa, também trabalhou nas Comunidades de Pires (bairro de Limeira – (1951-1978) e na cidade de Limeira (1958-1978). O atendimento destas duas últimas comunidades deu-se até o ano de 1982.

- Missão em Piracicaba A partir de 1981, o P. Mauri Kappel assumiu o pastorado em Rio Claro e no ano de 1983 empenhou-se na

Vikar Gerhard J.P. Graetz e sua noiva Erna - 1930

tentativa de formação e ediicação de comunidade na cidade de Piracicaba. O início foi marcado com um culto celebrado no dia 05 de junho de 1983, na residência do Sr. Lothar Kreysig. Naquele tempo, o número de luteranos assíduos era muito reduzido (a maioria idosos) e os cultos eram realizados uma vez ao mês, no domingo à tarde. Mesmo assim, o atendimento foi feito por praticamente cinco anos, porém, por decisão do grupo, em comum acordo com o Presbitério de Rio Claro, no dia 04 de dezembro de 1988 realizou-se o último culto daquele período, encerrando assim, as atividades em Piracicaba. No ano de 1996 o atendimento em Piracicaba foi retomado pela Comunidade de Monte Mor, através do P. Luiz Henrique Scheidt. Este, realizou reuniões (semanais) Encontro em Piracicaba nos anos 80

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de estudo bíblico na residência de membros, até o ano de 2000. A partir de 2001, a Comunidade de Monte Mor passou a responsabilidade do atendimento de Piracicaba para a Comunidade de Rio Claro. Com o apoio inanceiro, por um ano, da União Paroquial da Região de Campinas, o Pastor voluntário Antônio Carlos Behrens, residente em Limeira e vinculado a Rio Claro, como pastorado voluntário passou Pastor Antonio Carlos Behrens

a atender semanalmente Piracicaba. Os encontros eram realizados no salão de festas do prédio onde residia o casal Vitor e Beatriz Brandi (Rua Antonio A. de Barros Penteado, n. 245). Em 2002/2003, motivado pelo espírito missionário e pelo PAMI (Plano de Ação Missionária) da IECLB, o qual almejava formar Comunidades em cidades com mais de 200 mil habitantes, o Presbitério da Comunidade de Rio Claro elaborou um projeto missionário para formação de Comunidade nas cidades de Piracicaba (SP) e São Carlos (SP). O referido projeto solicitava um apoio inanceiro para da Obra Gustavo Adolfo da Alemanha, tendo sido aprovado pelo

Pastor Antonio e membros de Piracicaba - 2001

Sínodo Sudeste e pela IECLB. Com a conirmação da ajuda inanceira por um período de cinco anos, a Paróquia de Rio Claro aprovou a criação do segundo pastorado. Em março de 2004, o P. Mauri Kappel assumiu este pastorado voltado especialmente para atender Piracicaba e São Carlos. Em Piracicaba, a Paróquia de Rio Claro alugou uma residência para a realização de cultos e outras atividades (Rua Floriano Peixoto, 1482). Inicialmente, foram introduzidos dois cultos dominicais, além de atividades com crianças e mulheres. Já em 2008, o trabalho foi ampliado, com a realização de cultos todos os

Fachada da residência onde são realizados os cultos na cidade de Piracicaba - SP

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domingos e estudo bíblico, duas vezes ao mês. Neste espaço de tempo já foram realizados cultos de batismo e de proissão de fé e jovens foram preparados para a Conirmação. Muitas pessoas têm sido atendidas pessoal e espiritualmente. As contribuições mensais por parte dos membros e a realização de promoções, têm dado suporte inanceiro para as despesas comuns da Comunidade, assim como auxilia no sustento do segundo pastorado da Paróquia. Ao longo dos anos diversas pessoas e famílias acorreram à Comunidade, enriquecendo muito a comunhão. Também é verdade que muitas pessoas não permaneceram, algumas transferiram residência, outras deixaram de participar por questões pessoais. Despedidas e perdas sempre são lamentáveis, mas precisamos respeitar as decisões de cada irmão e irmã. Importa comemorar, que em 2008 a comunidade já contava com 25 pessoas (12 famílias) e se alegra muito com todos que se juntam à sua comunhão.

- Missão em São Carlos Quanto à cidade de São Carlos, relatos nos dão conta de que o P. Gerhard Graetz atendeu, por algum tempo, os luteranos, realizando cultos nas residências dos mesmos. Pensando em reavivar o espírito e a prática missionária presente na Comunidade de Rio Claro desde o seu início, no ano de 1996 o P. Eldo Krüger começou a reunir regularmente os luteranos residentes naquela cidade. O contato inicial foi feito com duas famílias (Manuel e Dulce Andrade; Marco e Marilusa Horn), que participavam nos cultos em Rio Claro.

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Contando com a colaboração do Sr. Manuel Andrade, o pastor conseguiu visitar algumas famílias. No primeiro culto, realizado na residência do Sr. Manoel (Rua Borba Gato, n. 136, bairro Jardim Centenário), compareceram catorze adultos e sete crianças. Esses cultos aconteciam uma vez ao mês. Paralelamente, era celebrado culto infantil, com a colaboração de orientadoras da Comunidade de Rio Claro. O Projeto Missionário elaborado pela Comunidade de Rio Claro nos anos 2002/2003, relexo da missão que faz parte da história da Comunidade, proporcionou a oportunidade de intensiicar os trabalhos na cidade de São Carlos. Pensando em expandir mais a atuação missionária, Primeiros cultos na cidade de São Carlos - SP, residência do Sr.Manuel

no ano de 2003, os cultos e demais atividades passaram a acontecer num prédio que foi cedido pela Aliança Bíblica Universitária – Rua Colômbia, n. 325, bairro Nova Estância. Em troca do uso gratuito de parte do prédio, a Comunidade de Rio Claro, através de membros residentes em São Carlos, assumiu a responsabilidade pela administração do prédio. Lá residiam estudantes universitários que pagavam um aluguel mensal. O dinheiro arrecadado foi usado para manutenção e melhorias do prédio. No ano de 2006 a Aliança Bíblica vendeu o prédio e com isso foi necessário providenciar outro local. Graças ao espírito ecumênico da Igreja Luterana, o Educandário dos Salesianos da Igreja Católica cedeu uma sala para a realização dos cultos – Rua Padre Teixeira, n. 3.649, bairro Vila Nery. Este espaço foi usado de 5 de agosto de 2006 até 7 de julho de 2007. No dia 15 de setembro de 2007 passou-se

Prédio da Aliança Bíiblica Universitária - segundo local de cultos em São Carlos - SP

a usar um novo espaço cedido pela PARQTEC – Rua Alfredo Lopes, 1717, Bairro Estância Suíça.

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Ao longo dos anos, além dos pastores Eldo Krüger (1996-2004) e Mauri Kappel (2004-2009), a Comunidade em Formação (Ponto de Pregação) em São Carlos, contou com a atuação esporádica de estudantes de teologia que realizavam estágio em Rio Claro – (Lurdilene da Silva, agosto a dezembro de 1998; Malcon Naor Voltz, fevereiro a julho de 2004) e de bacharéis em teologia que realizaram o Período Prático de Habilitação ao Ministério (PPHM) na IECLB Rubeval Kuster (2001); missionário Mario Alberto Melo de Melo (2002); Carlos Emídio Grill Lacerda (2003); Mário Maas (2006); Claudio Rieper, agosto de 2007 a dezembro de 2008. Segundo relatos do P. Mauri Kappel, responsável pelo atendimento a partir de 2004, muitas atividades foram desenvolvidas, com participação de muitas pessoas. Algumas permaneceram, outras não. Aqui também, além dos cultos, foram incluídos trabalhos com crianças (Escola Bíblica de Férias) e com mulheres. Se no início das atividades, o Ponto de Pregação contava com apenas duas famílias, já no primeiro semestre de 2008, este número aumentou para onze. Todavia, por um motivo ou outro, sempre aconteceu uma oscilação no número de participantes. No entanto, Deus tem enviado outras pessoas, o que muito nos alegra. Ressalta-se, assim, o profundo espírito missionário presente na Comunidade de Rio Claro, desde seus primórdios. As diiculdades não impediram que ela olhasse para além dos limites da cidade. - Ponto de pregação em Ferraz Filhos de imigrantes, descendentes de alemães

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Culto realizado no bosque em São Carlos - SP


e suíços, adquiriram pequenas propriedades (sítios) nos distritos de Ferraz e na cidade de Corumbataí, próximos de Rio Claro. Como representantes de famílias evangélicas, tinham o desejo de poder continuar a professar a mesma fé Local dos primeiros cultos em Ferraz - SP

e contar com um local onde pudessem se reunir para ouvir a Palavra de Deus. As primeiras reuniões aconteceram no ano de 1911, quando o P. Theodor A. Koelle começou a visitá-los, aos sábados. Os cultos eram realizados em língua alemã. Em 1912 conseguiram construir uma sala que serviu de “escola” de primeiro grau (1ª a 4ª série), onde os ilhos puderam aprender a ler e escrever. No ano de 1924, o Sr. João Jacob Lautenschlager doou um terreno em Ferraz e lançou a campanha para a construção de um templo naquele local. A idéia foi aprovada e a construção iniciada com muito sacrifício, exigindo a colaboração de todos os membros. Apesar das diiculdades,

Casal Sra.Mariana e Sr. João Jacob - Ferraz 1924

depois de quatro anos o templo foi inaugurado com a realização de um culto festivo no 28 de outubro de 1928, celebrado pelo P. Theodor A. Koelle. A partir de 1932, com a aposentadoria do P. Koelle, o P. Gerhard J. P. Graetz, eleito pastor em Rio Claro, passou a atender os luteranos de Ferraz, e o fez durante quarenta e seis anos consecutivos. Os cultos dominicais eram celebrados às 14:00 horas,vpelo pastor ou na sua impossibilidade, por pregadores leigos vindos de Rio Claro, ou mesmo residentes em Ferraz, como foi o caso do Sr. Jorge A. Eichenberger. Após a aposentadoria do P. Graetz (1978), os trabalhos tiveram continuidade com os pastores

Culto festivo realizado no primeiro templo de Ferraz - SP

Oscar Hennig (1978-1981); Mauri Kappel (1981-1989); Valter

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Schmidt (1989-1993) e Eldo Krüger a partir de 1995. Desde 1995, estudantes e bacharéis em teologia, anteriormente citados, passaram pela Comunidade, auxiliando o pastor no desempenho dos trabalhos. A Comunidade de Ferraz sempre esteve vinculada a Comunidade de Rio Claro, uma vez que era considerada como um “Ponto de Pregação”, situação que perdurou até o ano de 2000, quando tornou-se Comunidade. Hoje, a Comunidade tem uma vida comunitária bastante ativa, com presbitério que se reúne a cada dois meses; são realizados quatro cultos ao mês, dois estudos bíblicos, duas reuniões de oração, dois encontros de jovens, duas reuniões de OASE, Ensino Conirmatório de duas em duas semanas e Coral, uma vez na semana. Em oitenta anos de existência, comemorado no dia 26 de outubro de 2008, esta Comunidade conseguiu, com muito esforço e dedicação de seus membros, formar um patrimônio constituído pelo templo com torre, um amplo salão social, cozinha e banheiros.

Ministério Diaconal

“A visão de diaconia conforme a Bíblia sempre foi característica singular das primeiras comunidades cristãs no testemunho de sua fé por meio da vivência solidária, isto é, amando o próximo numa ação que propicie dignidade humana e reintegração na sociedade”. (site IECLB) Assim, desde 1963 a Comunidade de Rio Claro, através de alguns membros da OASE – Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas, iniciou um trabalho social de atendimento às pessoas menos favorecidas, o qual era

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Templo atual da Comunidade de Ferraz - SP


realizado através de arrecadação e distribuição de alimentos e de roupas usadas. As doações eram arrecadadas por meio de campanhas que aconteciam por ocasião do aniversário da Comunidade; na Páscoa; no Natal e no Culto da Colheita. Em outras oportunidades, as famílias recebiam visitas e outros tipos de ajuda. Por

proposição

do

presbitério,

e

aprovação

na

Assembléia Geral da Comunidade (17 de março de 1996), o trabalho social foi reestruturado e um novo plano de ação foi formulado, priorizando basicamente o seguinte: -

Envolver os membros da Comunidade por meio de suas orações, doação de gêneros alimentícios, agasalhos e/

Detalhe do Culto da Colheita na Comunidade de Rio Claro - SP

ou dinheiro. -

Formar um grupo de voluntários para coordenar o trabalho de arrecadação e distribuição do material proveniente de doações.

-

Apoiar

instituições

que

prestam

serviço

social

reconhecido e que comprovam a necessidade de apoio inanceiro. -

Escolher um determinado bairro onde comprovadamente residam pessoas menos favorecidas e apoiar algumas famílias com uma assistência regular através de distribuição de cestas básicas.

-

Futuramente, adquirir um espaço próprio para poder desenvolver um projeto social mais abrangente. Este novo plano de ação foi bem aceito pelos

membros da Comunidade e foi sendo gradativamente implantado. Assim, ainda em 1996, buscando aperfeiçoar o trabalho, além do opoio a instituições beneicentes da cidade (Abrigos de crianças e de idosos), deliberou-se pelo

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atendimento a famílias menos favorecidas residentes nos bairros – “Jardim Bonsucesso” e “Jardim Novo Wenzel”. O trabalho era realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Ação Social da Prefeitura Municipal de Rio Claro e a Associação Assistencial “Pão dos Pobres Santo Antônio de Pádua”. Esta Associação já atuava nos referidos bairros, dispunha de um local de atendimento, e de uma assistente social responsável pela triagem dos pedidos e encaminhamento das pessoas para receber as cestas básicas na Comunidade, uma vez ao mês (Av.14, 466). A partir do ano 2000, considerando as diiculdades de transporte e

Entrega de cestas básicas no Salão dos Vicentinos - Jardim Novo Wenzel

deslocamento dessas pessoas do bairro até a Comunidade (cerca de 3 km), bem como a necessidade de uma maior inserção de nossa parte na realidade dos bairros, passamos a entregar as cestas nos bairros. Isto foi possível, graças à colaboração da Igreja Católica que nos cedeu o salão dos Vicentinos. Essa mudança favoreceu um acompanhamento mais direto das pessoas que estavam sendo assistidas. Paralelamente, esta aproximação nos levou à prática de visitas mais constantes, bem como um atendimento espiritual às pessoas. Considerando o grande número de crianças ali residentes, foi possível iniciar um trabalho missionário com as mesmas, a partir do ano de 2002. Inicialmente, os encontros eram realizados aos sábados à tarde, na sala de uma pequena e simples residência de família carente. Este trabalho foi gradativamente sendo ampliado e a partir de setembro de 2002, foi necessário alugar um pequeno salão para as reuniões (Rua 9, nº 474), uma vez que já era possível reunir , em média, 40 crianças/encontro. Meses depois foi

49

Primeiro local de trabalho com crianças no Jardim Bonsucesso


necessário alugar um espaço mais adequado e maior ( Rua 8, nº 367). Para a continuidade e ampliação do projeto, tornouSegundo local de trabalho com crianças no Jardim Bonsucesso

se evidente a necessidade de se dispor de um local próprio, adequado às propostas de ação que tínhamos a desenvolver junto às famílias menos favorecidas. Assim, em

2004, foi elaborado um projeto

denominado ALVO – “Ação Luterana de Voluntariado”. Este tinha por objetivo a construção de uma sede que abrigasse toda a infraestrutura para a prática de atendimento social e o exercício do testemunho prático da fé cristã, promovendo o Terceiro local de trabalho com crianças no Jardim Bonsucesso

bem estar integral das pessoas. Inicialmente a Comunidade angariou recursos para a aquisição de quatro terrenos contíguos (total de 1.065,23m2), no bairro “Jardim Novo Wenzel” (Av. 13, n. 155), e já no ano seguinte, foi feita a cerimônia de lançamento da campanha de arrecadação de fundos para a construção. Graças à colaboração dos membros da Comunidade (através de diversas promoções, rifas, doações, ofertas), aos 17 de dezembro de 2006, decorrido apenas um ano, foi possível celebrar a inauguração e consagração do prédio com a

Fachada do prédio do Projeto Alvo Jardim Novo Wenzel

presença de 253 pessoas, entre membros da comunidade, moradores do local e autoridades. Em 2007, a ediicação foi efetivamente concluída (pavimento térreo 384,51m2 e superior 153,94m2), adquirido o mobiliário e o equipamento necessário para desenvolver os trabalhos programados (recebemos doações do Rotary Clube de Rio Claro no valor de US$ 12.000 e da Harpex Artefatos de Madeira). A partir de então, foi possível aprimorar os projetos: “Educação Cristã para crianças”, cujas reuniões acontecem

Culto de inauguração das instalações do Projeto Alvo

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todos os sábados à tarde reunindo, em média, 80 crianças; e “Doação de cestas básicas”, atendendo 30 famílias/mês. Além dos projetos acima citados e, graças ao trabalho do Grupo Gestor ; parcerias com instituições da iniciativa pública e privada e do trabalho voluntário de pessoas da própria Comunidade ou de fora dela, outros projetos sociais vinculados ao Projeto ALVO foram implantados, conforme apresentados a seguir:

Encontro de crianças no prédio do Projeto Alvo

Projeto 1 - Vibraton Kids: Este trabalho é dedicado a crianças com idade entre 7 e 10 anos. As atividades desenvolvidas são experiências signiicativas a partir da escuta musical, das expressões vocal, instrumental e corporal, e da interação. Parceria do Projeto ALVO com a empresa JOG - Instrumentos Musicais de Rio Claro. Projeto 2 - EPA - Educação, Periferia e Arte: O trabalho é coordenado por estagiárias do Departamento de Educação da UNESP – Universidade Estadual Paulista (Campus de Rio Claro) e destina-se a crianças, adolescentes e jovens. As atividades oferecidas incluem: Oicinas de dança (Break), música, pintura, fotograia, ilmes, dinâmicas, textos em educação não formal com enfoque em temas de linguagem, meio ambiente e sexualidade. Parceria do Projeto ALVO / Departamento de Educação da UNESP – Campus de Rio Claro e o Laboratório de Análises Clínicas - São Lucas de Rio Claro. Projeto

3

-

Construindo

Pontes:

Trabalho

direcionado à capacitação e geração de renda, com cursos de corte-costura e processos de tingir tecidos, além de

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Entrega de cestas básicas no prédio do Projeto Alvo


discussão de temas variados ligados à mulher. Na medida do possível, inclui atividades com as crianças. Parceria do Projeto ALVO com o Consulado da Mulher; SENAC; Casa das Crianças e voluntários. Projeto

4

-

Grupo

de

Gestantes:

Neste

projeto é dado especial atendimento às gestantes, com acompanhamento e orientação sobre diversos temas como: saúde; planejamento familiar; maternidade; família; educação de ilhos; etc. Parceria do Projeto ALVO com o Programa Saúde da Família, Pastoral da Criança, Casa da Gestante e PROAMA (Programa de Aleitamento Materno). Projeto 5 - Ginástica, expressão corporal e dança: Envolve atividades desenvolvidas com crianças e senhoras. Parceria do Projeto ALVO, com o Departamento de Educação Física da UNESP – Campus de Rio Claro. Projeto 6 - Projeto do Consulado da Mulher: Todas as sextas-feiras, orientadoras do Consulado da Mulher desenvolvem atividades com pessoas interessadas, incluindo cursos diversos onde ensinam preparar alimentos para comercializar e técnicas especíicas para cabeleireira e manicure. Estão previstos, em futuro próximo, cursos básicos de informática. O Projeto Alvo é coordenado por um Grupo Gestor e se mantém inanceiramente por meio de doações de pessoas da Comunidade e de empresas. Os planos futuros são de expansão das atividades do Projeto.

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Os pregadores leigos

“A tarefa de pessoas colaboradoras leigas consiste em colaborar com os ministérios especíicos, segundo o ministério compartilhado, na realização de cultos e ofícios, na instrução cristã, assistência, orientação de grupos, visitação, música, administração e em outros campos de ação, conforme a necessidade e possibilidade” (NOSSA FÉ NOSSA VIDA, pag. 13). Desde o início do processo de formação da Comunidade, até os dias de hoje, foi muito importante a atuação do pregador leigo (membro da Comunidade que tem certa maturidade espiritual, formação bíblica e teológica). O primeiro atendimento espiritual que os alemães evangélicos tiveram foi através do comerciante Sr. Eduard Bohn, a partir do dia 27 de outubro de 1866. O segundo pregador leigo que marcou a Comunidade foi o professor Theodor A. Koelle. Com a transferência do Pastor Johannes J. Zink para Campinas em 1891, Rio Claro icou sem pastor residente durante seis anos. Neste período, o Pastor Friedrich Müller residente em Pires visitava Rio Claro de três em três semanas. Nos domingos restantes o professor Koelle celebrava cultos de leitura. Nos anos 18921896, o lagelo da febre amarela vitimou também membros da Comunidade e o professor Koelle visitou as vítimas no seu leito de agonia, enterrou os mortos e consolou os que icaram. A Comunidade sempre contou com a colaboração e participação de pessoas leigas na realização de cultos e ofícios. Entre eles, incluímos: Sr. Paulo Koelle, Sr. Frederico Schneider; Sr. Henrique Höling; Sr. Jorge Antonio

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Eichenberger; Sr. José M. Palota; Sr. Mario Wehmuth Rosseti; Sr. Franz Bauermeister; Sr. Theodoro Paulo Koelle; Sr. Augusto Krügner; Sr. Valter Beig; Sr. Gerhard Otto Haupt; Sr. Otto Danielli Cerri; Sr. Gerhard D. Graetz; Sr. Luiz Fernando Guilherme; Sra. Maria Cristina B. Guilherme; Sra. Helen R. C. Catarino. Alguns continuam colaborando até os dias de hoje, contando com a orientação dos Pastores Eldo Krüger e Mauri Kappel.

Vocação Pastoral na Comunidade

A primeira pessoa da Comunidade a se tornar pastor foi o Sr. Theodor A. Koelle. Desde que chegou a Rio Claro, em 1883, para assumir a função de professor na Escola Alemã, envolveu-se bastante na vida da Comunidade. Assumiu várias funções, principalmente a partir de 1891, data em que o P. Johann J. Zink mudou-se para Campinas. Motivado pela Comunidade e tendo a aprovação de todos os pastores do Estado de São Paulo, Theodor A. Koelle aceitou o chamado de se tornar pastor. Foi encorajado pelo Sr. Präelat Von Burk, primeiro dignatário da Igreja em Stuttgart – Alemanha, a quem apresentou a questão. Em abril de 1897 foi para a Alemanha e lá prestou exame teológico diante do Consistório de Wuerttemberg. Foi aprovado e em 11 de julho de 1897, foi ordenado pastor. Em agosto do mesmo ano retornou ao Brasil e no dia 11 de setembro foi instituído pastor da Comunidade Alemã de Rio Claro. Mais tarde, outras duas pessoas seguiram o chamado ao ministério pastoral. A primeira foi o Sr. Ernst Fischer, nascido aos 19 de maio de 1904 em Rio Claro, SP. Alcançou sua formação através do Curso Teológico

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Complementar, tendo sido ordenado pastor aos 20 de fevereiro de 1954, em Lomba Grande, RS. Durante sua atuação na função de pastor, trabalhou durante 27 anos (1942-1969) em Comunidades do Rio Grande do Sul. A partir de 01 de janeiro de 1970, requereu sua aposentadoria e tornou-se pastor emérito. A segunda pessoa foi a senhorita Edna Moga, que na época (1973), era membro integrante da “Mocidade Evangélica Luterana de Rio Claro”. Após ter concluído o curso de Teologia na Faculdade de Teologia de São Leopoldo, RS no ano de 1977, assumiu o seu primeiro pastorado. Foi ordenada pastora aos 13 de novembro de 1982, em Vilhena - RO. Trabalhou por 26 anos em diferentes Paróquias dos estados de Rondônia, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Licenciou-se por 3 anos (2003-2005) e aposentou-se no ano de 2006.

Ministério Compartilhado

A amplitude da missão de Cristo requer que a Comunidade realize o Ministério cristão de forma compartilhada. Além de obreiros ordenados, a Comunidade envolve pessoas leigas na realização de cultos e ofícios, na instrução cristã, acompanhamento pastoral, orientação de grupos, visitação, música, administração e em outros campos de ação, conforme a necessidade e possibilidade. Esta colaboração com os ministérios especíicos foi e continua sendo marcante na Comunidade, através dos seguintes departamentos ou grupos:

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– OASE – Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas Este segmento da história da Comunidade reúne suas particularidades, não só pela inestimável dedicação e colaboração das senhoras, mas também porque o que aconteceu aqui em Rio Claro foi começar a organizar a solidariedade que já existia entre as mulheres luteranas. E como tudo aconteceu? A notícia da fundação de uma organização de mulheres evangélicas na Alemanha, publicada no mensageiro cristão Christenbote, levou o P. Theodor A. Koelle a reletir Casal Julie e Pastor Theodor A. Koelle, fundadores do primeiro grupo de senhoras evangélicas no Brasil, em Rio Claro (Sínodo Sudeste)

sobre o assunto. Inspirado nesta iniciativa, o Pastor e sua esposa Julie reuniram senhoras da Comunidade a im de discutir o assunto e estimular a formação de algo semelhante aqui na Comunidade. Esta reunião aconteceu no dia 15 de agosto de 1899, ocasião em que fundaram o “Frauenverein de Rio Claro”

(Associação Feminina ou Sociedade de

Senhoras). Este representa um fato histórico importante para a Comunidade, uma vez que estava sendo estabelecido o primeiro grupo da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas no Brasil. Hoje com 119 anos de existência, teve a oportunidade de comemorar o seu centenário no ano de 1999, com a realização de um grande evento reunindo mais de duas mil pessoas oriundas de todo Brasil e até do exterior. Os registros encontrados informam que naquela época, as senhoras se reuniam apenas uma vez ao ano, Festa de comemoração do Centenário da OASE de Rio Claro Agosto de 1999

ocasião em que o pastor passava as tarefas a serem cumpridas. Na verdade, a tarefa principal consistia em preparar trabalhos manuais em casa e vendê-los, de casa em casa, durante o ano. Logo elegeram uma diretoria para

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coordenar o trabalho e orientar as participantes. Todo dinheiro arrecadado era então encaminhado para o Fundo que a Comunidade havia criado para a construção da torre da Igreja e a aquisição dos sinos, um desejo de longa data da Comunidade. Uma vez concretizado este objetivo e amortizada a dívida, icou a questão da continuidade ou não do grupo. Por unanimidade de votos das 20 senhoras que compareceram à reunião do dia 08 de janeiro de 1905, icou decidido continuar o trabalho, embora com reuniões esporádicas. A meta então estabelecida foi a de continuar a produção de trabalhos manuais, de organizar promoções, de angariar fundos para a construção de um novo templo (1924) e construção da casa pastoral (1932). Com a chegada do P. Gerhard J. P. Graetz (1930), iniciou-se uma nova fase. Foram instituídas reuniões semanais, numa das salas da escola, na casa de senhoras participantes e mesmo na casa pastoral. As reuniões incluíam como programa: meditações, cantos, discussão de artigos de revistas e jornais e trabalhos manuais em grupo. A renda dos artigos produzidos revertia em benefício da Igreja, do Cemitério, da Escola e de outras instituições beneicentes. No ano de 1963, a Associação criou o serviço de assistência social, destinando campanhas especiais de Natal e de inverno (alimento, roupas, cobertores) para aquele im. O trabalho social foi ampliado e intensiicado a partir de 1996. A OASE, sigla adotada a partir de 1941, é um setor de trabalho da Igreja que proporciona a participação ativa das mulheres na vida e na missão da Comunidade. Esta participação se expressa nos três aspectos da vida cristã: COMUNHÃO, TESTEMUNHO e SERVIÇO. Hoje, ela

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representa uma associação organizada no âmbito de toda IECLB, tem seu Regimento Interno consolidado desde 1985, funcionando nas comunidades, Paróquias, Sínodos, ou seja, em toda a Igreja Evangélica de Conissão Luterana no Brasil. Conta atualmente com um mil e duzentos grupos e mais de quarenta mil participantes.

– Grupo de mulheres A partir do ano de 2004, a Comunidade vinha

Integrantes da Diretoria da OASE - 2008

promovendo retiro anual de mulheres. Como as mulheres manifestaram o desejo de se reunir mais vezes ao ano, no retiro de 2006 decidiram pela realização de encontros mensais. Sob a coordenação das senhoras Suely M. Kappel; Maria Cristina Guilherme e Beatriz B.Felicíssimo Narkewitz, o grupo tem se destacado em sua atuação com o objetivo de reunir, confraternizar, conversar sobre temas gerais e especíicos que dizem respeito a mulher. O programa das reuniões é bastante variado, incluindo breves meditações, palestras, oicinas de artesanato e um gostoso lanche. Os encontros acontecem toda quarta 5ª feira do mês, das 18h às 20h e tem reunido cerca de trinta participantes Coordenadoras do Grupo de Mulheres

entre senhoras da Comunidade e suas convidadas.

– Coral A música na forma de hinos e cantos religiosos faz parte da fé e da vida da Igreja, principalmente na celebração dos cultos. O gosto pela música, especialmente o canto coral, esteve presente na vida da Comunidade desde o seu início. No culto de inauguração do primeiro “templo” - aos 09

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de março de 1884, os luteranos tiveram a oportunidade de assistir a uma apresentação de um conjunto coral masculino e outro misto. O “Kirchenchor” (Coral da Igreja) iniciou as suas atividades aos 03 de abril de 1892. A partir de então, seus componentes, além de participarem de muitas festas e apresentações, sempre colaboravam em outras atividades na igreja. Podemos dizer que a vida cultural e religiosa da Comunidade foi enriquecida. O seu primeiro regente foi o Pastor Theodor A. Koelle, que atuou no período de 1892 - 1920, com ensaios

Coral da Igreja Alemã de Rio Claro - 1897

nas terças e quintas-feiras à noite. De 1920 a 1927, devido a sua enfermidade, assumiu a regência sua ilha, a professora Christina Koelle. Com a vinda do professor Alfred Roth (1927), e sendo ele um bom organista, ele passou a reger o Coral. A sua colaboração foi especial no sentido de despertar em alguns dos componentes o dom de cantar solos. Em junho de 1929, ele retornou à Alemanha e foi substituído pelo professor Carlos Klein, que permaneceu como regente até 1932. Neste ano, assumiu a regência a Sra. Julia Koelle, que permaneceu até 1939. Ela foi substituída pelo Pastor Gerhard J. P. Graetz, pastor da Comunidade, que permaneceu como regente até o ano de 1982. Nos últimos vinte e sete anos (1982-2009) a professora Lizelote A. Eichenberger Palota, colaborou e se dedicou muito, não só como regente do coral, mas também como organista. Neste último ano a jovem pianista Eliane Bergmann Fernandes assumiu a regência do Coral. O Coral, em atividade ininterrupta desde o ano de 1892, teve oportunidade de gravar dois discos (um no ano de

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Coral da Igreja Ev. Conf. Luterana de Rio Claro - SP, regente Pastor Gerhard J. P. Graetz


1975 e outro em 1992) e participar da gravação, ao vivo, de um CD, fato que aconteceu por ocasião do “25º Encontro de Corais da União Paroquial da região de Campinas” (Advento de 2007), realizado no “Lar Belém” em Campinas – SP. Hoje, conta com mais de 20 integrantes, realiza os ensaios às quintas-feiras e desempenha um importante ministério na Igreja. Participa de cultos na Comunidade, de cultos ecumênicos, em casamentos, em celebrações festivas, em encontros de Corais dentro e fora da Comunidade Coral da igreja, regentes Sra.Lizelote A. E. Palota, Srta. Eliane B. Fernandes

Luterana. O seu lema tem sido: “Unidos em uma só voz, em harmonia com todos”.

– Conjunto Vocal e Instrumental A iniciativa de constituir um “Grupo de Canto” surgiu entre as senhoras da OASE, no ano de 1982. Segundo a coordenadora e regente do grupo, Sra. Suely M. Kappel, a inalidade principal seria de participar nos cultos dominicais, em dias festivos e programas especiais. Em 1983 juntaram-se ao grupo algumas pessoas que tocavam algum instrumento (xilofone, metalofone, violão, lauta, escaleta). Alguns dos instrumentos eram dos próprios integrantes, outros foram adquiridos com recurso proveniente de rifas. A partir de então, o grupo passou a ser conhecido como “Conjunto Vocal e Instrumental”. Os ensaios aconteciam às segundas-feiras, das 19h às 21h, sempre na igreja. Os ilhos pequenos de casais Conjunto vocal e instrumental - anos 80

participantes acompanhavam os pais durante os ensaios. Cansados, depois das brincadeiras, não raro, dormiam nos bancos da igreja. O grupo teve oportunidade de tornar-se muito coeso e alegre.

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O aprimoramento no canto ou no desempenho com os instrumentos (lautas, principalmente) era a tônica do grupo. Para isto, a convite, puderam contar com a colaboração espontânea da Sra. Gisa Volkmann, que dedicou uma semana trabalhando nos arranjos e no desempenho vocal dos integrantes. Outra colaboração especial foi do Sr. José Guilherme, que durante cinco anos (1993 – 1998) fez muitos arranjos para instrumentos, adaptando-os para harmonizar com as vozes. Num período de seis anos, contando com a participação de 26 pessoas, o grupo conseguiu montar um repertório de 100 músicas (sendo duas composições inéditas). As apresentações na Comunidade foram sempre muito bem recebidas, além de participações especiais em encontro de corais da UPLRC – “União Paroquial Luterana da Região de Campinas” e encontros de Advento na Igreja Matriz de Rio Claro.

– Grupo de Louvor No ano de 1995 o P. Eldo Krüger tomou a iniciativa de reunir jovens da Comunidade a im de formar um Grupo de Louvor. Este ministério foi criado com o propósito de enriquecer a hinologia e o louvor da Igreja através de novos hinos e cantos. Os ensaios do Grupo aconteceram semanalmente, aos domingos, das 18h às 20h. O Grupo assumiu a responsabilidade de coordenar o culto jovem que era celebrado no terceiro domingo de cada mês, às 19h30h. Além desta atividade, colaborou na Comunidade de Rio Claro, participando nos cultos dominicais, bem como nos cultos de Advento e de Páscoa, na Floresta

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Grupo de Louvor


Estadual de Rio Claro. Participações especiais tiveram lugar em cultos na Comunidade de Ferraz, Piracicaba e São Carlos; no Encontro de Grupos de Louvor da União Paroquial e em cultos nas Comunidades da UP, – União Paroquial da Região de Campinas – SP. Além do Grupo de Louvor, outros grupos vocais e instrumentais foram formados na Comunidade, ora para auxiliar na condução dos hinos cantados e/ou na liturgia dos cultos, ora como conjunto instrumental (banda) criado por alguns jovens que se apresentavam com violão, teclado, guitarra, contra-baixo, bateria, etc. Alguns músicos, membros da Comunidade, organizaram um grupo instrumental e vocal que participa em cultos festivos e/ou de Santa Ceia.

– Culto das Crianças e Ensino Religioso A “Instrução Infantil” foi introduzida, na Comunidade, pelo Pastor Theodor A. Koelle (1891) e acontecia aos domingos à tarde. Essa prática de ensino cristão para as crianças está sendo mantida até os dias de hoje. Importante destacar que, desde 1910, data do início do Internato na Escola Alemã de Rio Claro, os alunos internos, ilhos de alemães que residiram fora da cidade de Rio Claro, também participaram da “Escola Dominical”. Muitos chegaram a fazer a Conirmação. Hoje, o trabalho com crianças é oicialmente conhecido como “Culto das Crianças” e acontece no mesmo horário do culto dominical, porém em local próprio, devidamente preparado e com um formato condizente com a idade das crianças. Além desta atividade aos domingos, são realizadas, entre outras, três atividades anuais muito

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especiais: A “Escola Bíblica de Férias” (Julho); um Retiro e um Culto de Advento. Como uma extensão do trabalho com crianças, há vários anos existe o “berçário”, onde mães voluntárias cuidam das crianças menores, e há também um grupo, que reúne os pré-adolescentes, o “JJ” (Junto a Jesus), como é conhecido. Pode-se dizer que a Igreja realizou uma importante missão na área da educação e formação cristã. Além do

Crianças participantes da Escola Bíblica de Férias

ensino cristão proporcionado através da Escola Dominical, durante um período de 106 anos (1882 – 1988), os pastores puderam testemunhar o evangelho, através das “aulas de ensino religioso”, ministradas na Escola Alemã (hoje Colégio Koelle), Rio Claro – SP.

– Ensino Conirmatório Nos primórdios, anos 1866 a 1875, os jovens eram conirmados após 15 dias de preparação. A conirmação acontecia no culto anual, celebrado na Sexta-feira Santa. Enquanto o Pastor Theodor A. Koelle trabalhou na Comunidade de Rio Claro, este ensino tinha início seis semanas antes da Páscoa, período em que os alunos tinham duas horas diárias de encontro, sendo uma de manhã e outra à tarde. Com o início dos trabalhos pastorais do Pastor Gerhard Graetz (1932), o ensino passou a ser anual. No sábado que antecedia o Culto de Conirmação, os alunos eram “sabatinados” oralmente, diante de toda Comunidade. Como essa prática às vezes trazia constrangimentos para o conirmando e sua família, a partir de 1981, por orientação da IECLB e aprovação do Presbitério da Comunidade, o “exame

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Retiro das crianças


oral de conirmação” foi substituído por uma prova escrita. Além disso, os alunos são envolvidos na celebração do Culto de Conirmação. Mais recentemente, o Ensino Conirmatório é realizado num período de dois anos (quatro semestres) e os encontros são semanais, coordenados pelo pastor e colaboradores leigos. Ao longo do curso, são feitas avaliações (orais e por escrito), encontro de pais, retiros. Os “conirmandos” também são solicitados a participar dos cultos dominicais. Antes do Culto de Conirmação, os mesmos elaboram e celebram um culto com a presença dos seus pais e familiares, padrinhos e madrinhas de batismo e a Comunidade em geral.

– Grupo de Oração A oração é fundamental na vida do cristão e da Igreja. Sobretudo nos momentos de sofrimento, doença e morte. O pastor Theodor A. Koelle, que tinha o dom da poimênica (consolar e confortar pessoas), o dom de cuidar e assistir com amor e compaixão as pessoas nos seus sofrimentos, sempre se dedicou e as ajudou na sua dor; em especial, quando aconteceu a epidemia da febre amarela (1892, 1893, 1896). Nesse difícil período enfrentado pelas famílias, ele visitou, incansavelmente, os doentes e enlutados, e nas quartas-feiras, em substituição da “Hora Bíblica” era realizada uma celebração com ênfase na oração. As pessoas se reuniam para orar e ouvir a Palavra de Deus. Não havia pregação, apenas leitura de trechos da Bíblia. Através da oração e da Palavra de Deus, as pessoas experimentavam apoio, encorajamento e consolo, da parte de Deus e da

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Comunidade. Depois dessa primeira iniciativa de criar um espaço de oração, no ano de 1991, as mulheres do grupo de OASE transformaram uma de suas reuniões normais em reunião de oração. Em agosto de 1999, logo depois da comemoração do centenário da OASE, por iniciativa das senhoras Wanda S. Haupt e Ana Cláudia Madeira de Oliveira foi criado um “Grupo de Oração”, aberto a toda Comunidade. Este grupo, muito ativo até hoje, se reúne todas às segundas-feiras à noite, na Igreja ou na casa de membros.

– Formação • Cultos Um ponto forte dos cultos da Igreja Evangélica de Conissão Luterana é a pregação da Palavra de Deus. Através dela a maioria dos seus membros realiza a sua formação continuada – bíblica e teológica. Além dos cultos normais aos domingos, a Comunidade tem promovido esporadicamente “Ciclos de Palestras”, com a participação de pastores de outras Comunidades, especialmente convidados. • Estudo Bíblico A Igreja Luterana, herdeira da Reforma, caracterizase por dar grande valor à Palavra de Deus. A Palavra é critério e norma de vida e fé cristã. Uma das orientações e compromissos da Igreja é a “formação continuada” dos membros. É muito importante que as pessoas ouçam, leiam e estudem a Bíblia – individualmente e em grupo. Na Comunidade de Rio Claro, a prática de se reunir para o Estudo Bíblico e Teológico acontece, a rigor, desde

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1899. Naquele ano, o Pastor Theodor A. Koelle começou a reunir os membros da comunidade para participar da “Hora Bíblica”. As reuniões aconteciam às quartas-feiras à noite, prática que, coincidentemente, continua acontecendo no mesmo dia e horário. • Cursos Sempre que necessário, a Comunidade tem promovido

encontros

de

planejamento

e

cursos

de

capacitação para as lideranças que atuam nos seus diferentes departamentos (ministérios). Os membros em geral, além das reuniões de Estudo Bíblico, podem participar de cursos ocasionais, como: “Curso Básico da Fé” (trata das questões básicas da fé cristã) e curso “Alpha” (tem um propósito mais evangelizador). As pessoas que desejam conhecer e/ou tornarse membros da Comunidade Luterana, são convidadas a participar de um curso ministrado em seis encontros, no qual é transmitido o conhecimento da história, estrutura, doutrina e teologia da Igreja Luterana. Para aquelas pessoas que ainda não izeram sua “Proissão de Fé”, sejam elas luteranas ou membros de outras Igrejas cristãs, o curso serve para transmitir a necessária instrução sobre a doutrina e vida comunitária da IECLB. Muitas pessoas têm se tornado membros da Comunidade através desta prática. • Banca de Livro e Vídeo-biblioteca A Comunidade houve por bem dispor a seus membros literatura cristã (livros, bíblias, hinários e outros materiais

cristãos)

para

eventual

aquisição.

Mantém

igualmente uma estante com livros e itas de vídeo (usados)

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para empréstimo. Esses serviços contam com a colaboração de duas pessoas voluntárias. • Trabalho com jovens O Sr. Frederico Schneider, membro ativo, presbítero e pregador leigo da Comunidade, citou em um relatório que, no ano de 1926, participou do “Evangelischer Jugendbund” (União dos Moços Evangélicos), fundado e dirigido pelo Sr. Alfred Roth, na oportunidade, professor da Escola Alemã. Mais tarde, em 1937, a professora Julia Koelle organizou e coordenou o “Maedschenbund” (União das Moças), que em junho de 1939 se uniu ao “Jugendbund” (União da Mocidade). Com reuniões semanais, o grupo de jovens passou a representar a “Mocidade da Igreja”. Mais tarde, passou a ser conhecida como a UMEL “União da Mocidade Evangélica Luterana”, com diretoria própria e coordenação do pastor. Hoje os jovens da Comunidade estão representados pela “JERC” (Juventude Evangélica de Rio Claro), com diretoria própria, coordenação do P. Eldo Krüger e apoio de alguns casais da Comunidade. O grupo realiza encontros semanais, organiza retiros, excursões e participa de atividades diversas na Comunidade, além de todas as atividades promovidas pelo Conselho de Jovens da União Paroquial da região de Campinas (reuniões do Conselho, retiro, noite do louvor e do teatro...). Alguns jovens participam de outros grupos criados na Comunidade: o “Grupo de Teatro”, o “Grupo de Palhaços” e o “Grupo de Louvor”. Esses grupos desenvolvem um importante trabalho dentro e fora da Comunidade. É importante ressaltar que muitos dos que participaram dos trabalhos com jovens se tornaram

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Grupo de Jovens de Rio Claro - 2009


destacadas lideranças na Comunidade.

– Grupo de Idosos Por iniciativa do Pastor Eldo Krüger e com o apoio de senhoras da OASE, a primeira reunião com idosos aconteceu no dia 19 de abril de 1995, reunindo 43 pessoas. Essas reuniões foram programadas para serem bimestrais. Todavia, dado ao interesse dos participantes e a sugestão de maior número de encontros, estes passaram a ser mensais, sempre na primeira quarta-feira do mês, das 15:00 às 17:00 horas. Este trabalho tem um caráter ecumênico, aberto a todos. Os encontros são diversiicados, alternando com momentos de espiritualidade (cantos, mensagem e oração), relexões diversas, vivências de grupo, dinâmicas e brincadeiras, exercícios físicos, participações espontâneas, apresentações culturais de pessoas de fora do grupo, palestras sobre assuntos relacionados com a terceira idade, ilmes, passeios, viagens, etc. Interessante destacar o papel que o grupo tem exercido na União Paroquial, pois, graças ao estímulo do grupo, outras comunidades introduziram em sua programação atividades com integrantes da terceira idade. Há alguns anos tem acontecido um dia especial de congraçamento de todos os grupos de idosos das Comunidades que constituem a União Paroquial. Sem dúvida o “Grupo Emanuel”, como passou Encontro de Idosos

a ser conhecido, desenvolve um ministério cristão muito importante. Tem sido uma bênção na vida de quem participa.

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– Dados Complementares Além do que já foi considerado sobre o trabalho de colaboradores leigos que atuam na Comunidade segundo o ministério compartilhado, achamos interessante acrescentar outras atividades que julgamos ser muito importantes, a saber: . Celebrações de Advento Cultos especiais acontecem à noite, nos quatro domingos que antecedem o dia 25 de dezembro – Natal. A Igreja recebe uma decoração natalina, geralmente preparada por senhoras e os cultos são realizados por integrantes dos departamentos. No primeiro domingo, após a celebração, tem lugar uma confraternização de todas as pessoas presentes. Há alguns anos um grupo de pessoas tem se empenhado na realização de serenatas que são oferecidas a novos membros, pessoas idosas, pessoas doentes e acamadas. . Celebração de Quaresma e Culto da Páscoa Durante todo o período de Quaresma, às quartasfeiras à noite são celebrados cultos especiais, em que são adotadas simbologias apropriadas às mensagens transmitidas. Há muitos anos, no Domingo de Páscoa tem sido celebrado um culto especial na Floresta Estadual de Rio Claro, às 6h da manhã, que tem contado com uma boa frequência. Este culto tem sido enriquecido com encenações e simbologias relacionadas à Ressurreição de Jesus Cristo. . Mês da Família e Encontros Fraternos “Entre os muitos planos dinâmicos de Deus para o seu mundo e sua criação, está a família cristã. Deus instituiu

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o matrimônio e estabeleceu a família. Para que o homem tenha um lar feliz é necessário que a família tenha como sua base a Palavra de Deus”. (Rev. Bernhard Johnson). Todos os anos, durante um mês, a Comunidade realiza o mês da Família. Os cultos dominicais são voltados para a Família (Liturgia, incluindo prédica, orações, hinos...). Membros da Comunidade participam da “Família Secreta”, onde uma família ora por outra sem que esta saiba quem está orando por ela. Para fortalecer a amizade e a unidade entre os membros, todos são convidados a participar de encontros que acontecem em casas previamente escolhidas. Estes encontros são chamados de “Encontros Fraternos”. . Dia da Paróquia Desde o ano de 2004, quando foi iniciado o trabalho missionário em São Carlos e Piracicaba, a Comunidade de Rio Claro, que ao mesmo tempo tinha função de Paróquia, passou a realizar reuniões incluindo representantes da Comunidade de Ferraz e das Comunidades em Formação de São Carlos e Piracicaba. A estrutura eclesial foi alterada, foi criado o Conselho Paroquial e elaborado um Estatuto da Paróquia. . Grupo de Casais A Comunidade de Rio Claro sempre deu uma atenção especial a “Família” e para apoiá-la e fortalecê-la sempre, foi criado um trabalho especial voltado para casais, com encontros mensais, jantares especiais e retiros. Este trabalho aconteceu entre os anos de 1995 a 2007.

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. Grupo de Finanças Desde 2004, o Presbitério de Rio Claro aprovou a criação de um grupo para reletir e planejar a questão das inanças da Comunidade. Este grupo tem exercido um importante trabalho de apoio à tesouraria e de conscientização e motivação dos membros em relação à questão da oferta e das contribuições. . Retiro de Homens Este retiro é anual e teve início no ano de 2002. É aberto a todos os homens da Comunidade. A partir de 2009 os participantes decidiram que, além do retiro anual, deveriam ser realizados encontros mensais, sempre com um jantar e alguma programação especial (palestras, estudos, mensagens . . .). . Pastoral da acolhida Aos domingos, as pessoas que vêm participar do culto são acolhidas por “plantonistas”. Estes também auxiliam o Pastor na preparação do ambiente do culto e duas vezes ao ano, participam de reuniões especíicas para tratar deste ministério. A responsabilidade de colocar as lores no altar vem sendo assumida pelos departamentos e Comunidade. Após os cultos é servido um gostoso café, o qual oportuniza a comunhão entre os membros. . Comunicação Anualmente é elaborado e distribuído a todos os membros da Comunidade, um Calendário com todas

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as atividades programadas para o ano. Em todo culto é distribuída a Folha Dominical contendo informações sobre o culto, avisos, notícias e relexões. Duas vezes ao ano é elaborado e distribuído o FICO ( Folheto Informativo da Comunidade). . Promoções de eventos Os eventos especiais promovidos pelo Presbitério (almoços e outros estão sob responsabilidade de um grupo de pessoas especialmente escolhidas para essa tarefa. . Secretaria Por muitos anos os pastores, além de se preocupar com a pregação pública do evangelho, a administração dos sacramentos e o aconselhamento pastoral, cuidavam também da parte burocrática dos registros e guarda de documentos importantes, sempre contando com a colaboração de membros do Conselho Administrativo. Com o aumento da demanda de trabalho foi necessária a estruturação de uma Secretaria e a contratação de uma secretária, fato que se deu no ano de 2000. Esta se desincumbe das funções especiicas do serviço administrativo e no atendimento aos membros da Comunidade.

7. Patrimônio “A Comunidade de Rio Claro desenvolveu-se a partir de um modesto início, transformando-se numa grande realidade, que possui um patrimônio apreciável. Em 50 anos, construiu ela duas igrejas; uma torre com três sinos;

Fachada da Igreja atual de Rio Claro - SP

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um belo prédio escolar com terraço, e uma imponente casa pastoral, adquirindo também um terreno anexo de apreciável tamanho”. Esses foram dados encontrados em um relatório Fachada da Casa Pastoral

elaborado pelo P. Theodor A. Koelle, no ano de 1932. O “Cemitério Alemão”, depois Cemitério Evangélico, por força de Estatuto, passou a fazer parte do patrimônio da Comunidade a partir de 1930. Na década de 50, a Comunidade fez uma permuta com o Colégio Koelle, de uma parte de seu patrimônio (um terreno e antigo prédio da Escola adjacente à Igreja) recebendo em troca cinco casas recém construídas em terreno da Avenida 18, esquina com a rua 4. O seu patrimônio foi ampliado no ano de 1964, com a construção de um “Centro Paroquial”, atrás do templo. Este

Fachada do Cemitério Evangélico

foi projetado para ter duas salas, uma secretaria e uma sala maior (piso superior) para ser utilizado como auditório. Tanto o projeto inicial como o acompanhamento da execução da obra foi feito gratuitamente pelo engenheiro Sr. Vital Pereira Lima. No ano de 1997 o prédio acima referido foi reformado e ampliado com a construção de um Salão Social, erguido no espaço ao lado direito do templo. Além de um amplo espaço, a ediicação inclue uma cozinha muito bem montada, duas salas e quatro banheiros.

Conjunto de casas da Avenida 18 com Rua 4

No ano de 2006, com a aquisição de um terreno de 1.065,23m2 no Bairro “Jardim Novo Wenzel” (periferia da cidade de Rio Claro), foi possivel dar seqüência ao projeto de construção de uma sede para ampliar o Projeto Diaconal junto às pessoas empobrecidas daquela área. O projeto foi elaborado pelos engenheiros Sr. Alexandre Zanão e Sra.

Fachada do primeiro Centro Paroquial anexo à Igreja

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Miriam de Souza Alvarez Zanão, que também acessoraram durante a construção e acabamento da obra. Considerando que a Comunidade não dispõe de receita própria, acumular este complexo de bens materiais só foi possível graças à generosidade dos membros que sempre responderam aos apelos, apoiando com suas Foto do atual Salão anexo à igreja

contribuições mensais e/ou doações especíicas para garantir a continuidade dos projetos. Além dessas contribuições a Comunidade conta com a receita do aluguel de quatro imóveis e sempre que necessário, realiza eventos especíicos a im de cobrir as despesas. Acrescente-se ainda como parte do patrimônio os dois carros que são colocados a disposição dos pastores para o desempenho de suas atividades.

8. Considerações Finais Fachada do prédio do Projeto Alvo Jardim Bonsucesso

Esta é a história da Comunidade Evangélica de Conissão Luterana na cidade de Rio Claro e região. Damos graças em poder airmar que, se a pregação da Palavra de Deus foi uma constante na Comunidade, na Paróquia de Rio Claro, bem como nas áreas de missão, também os seus departamentos sempre foram atuantes e colaboraram na formação das crianças, dos jovens, mulheres, casais, idosos. E, se os membros sempre se preocuparam com os assuntos da boa administração local, nunca deixaram de colaborar, aceitar e acatar decisões ou, de coração aberto colaborar para minorar diiculdades e sofrimentos de outras Comunidades necessitadas de nossa solidariedade.

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Destaca-se a importante participação da Comunidade junto com a Comunidade de Campinas na criação da União Paroquial da região de Campinas, SP (1982), entidade que procura promover o trabalho missionário na região. Nestes 125 anos de existência, obstáculos foram vencidos, planos foram feitos, sonhos foram realizados. Tudo foi feito no sentido de procurar transformar sonhos em realidade, ou seja, consolidar a Comunidade Luterana em Rio Claro e região. Entretanto, analisando melhor podemos concluir que conseguimos muito mais, pois a ventura de viver a realidade foi além do nosso sonho. Somamos hoje duas Comunidades estruturadas e atuantes, temos dois pastorados em exercício, respondemos por uma Paróquia e abrimos outras frentes de trabalho que correspondem ao Ministério de Missão e ao Ministério Diaconal. A Comunidade de Rio Claro, em sua Assembléia em março de 2009, aprovou a criação de um terceiro campo de atividade ministerial associado ao trabalho de diaconia. Agradecemos a Deus, aquele que conduziu e abençoou a Comunidade Evangélica de Conissão Luterana de Rio Claro em seus 125 anos de existência. Agradecemos a todas as pessoas que de alguma forma colaboraram para a realização deste livro, através de testemunho oral, empréstimo de documentos e fotos, traduções de documentos originais, etc. Elevamos a Deus a nossa gratidão e oração, suplicando que a Comunidade continue sendo um testemunho vivo do Evangelho de Cristo.

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9. Referências Bibliográicas - DAVATZ, Thomas – Memórias de um colono no Brasil – Ed. Itatiaia, SP – USP – 1980. - DE CASTRO, Jeanne B. e Suzana B. Wehmuth Arrolamento das fontes primárias do Cemitério Evangélico de Rio Claro – SP, 1866 – 1967. Anais do VISimpósio Nacional dos Professores Universitários e História, São Paulo-USP, 1973. - DE MATOS, Alderi. S. – IV. Os Companheiros de Simonton. Brasil Presbiteriano. Setembro. 2008. - DIETRICH, Ana Maria – Imigração suíça e protestantismo no sec. XIX. Imagens de São Paulo – SP. Gaenly no acervo da Light (1899-1925), 21p. - GRAETZ, Gerhard – Relatório publicado na Edição Comemorativa do 5º Aniversáriode fundação do Sínodo Evangélico do Brasil. 1962. 3p. - HASLER, Evelin – Ibicaba: o paraíso em mente. Tradução de Elizabete Hubert. Indaiatuba (SP). Rumograf Editora. 2007. 260p. - IECLB – http://www.luteranos.com.br/. - IECLB – Nossa Fé - Nossa Vida. 6ª Edição. Editora Sinodal, 2002. 47p. - IECLBRC – Livros de Atas do Conselho Administrativo da Comunidade -1852 - 2008. - IECLBRC - Livros de Atas de Assembléias da Comunidade de Rio Claro - 1852 – 2008. - IECLBRC - Livros de Registros de óbitos do Cemitério Evangélico de Rio Claro. 1866 – 1967. - IECLBRC - Livros Administrativos do Cemitério Evangélico

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de Rio Claro 1913 – 1967. - HEFLINGER Jr., José Eduardo – Ibicaba: o Berço da Imigração Européia de Cunho Particular. Editora Unigráica, Limeira – SP. 2007. 198 p. - JOST, Elsbeth – Carta particular. Original se encontra no Arquivo Federal, Berna – Suíça. Tradução de Elézer Puglia Jost. 1855. 8 p. KOELLE, Theodor A. – Relatório do P. Theodor A. KoelleHistória da Igreja Evangélica Alemã de Rio Claro. 1930. 9 p. - MUSEU THEODOR KOELLE. Centro de Estudos de Imigração Alemã na região de Rio Claro – Costa, 1966 - PIGNATARO, Licia Capri – Imigrantes alemães em Rio Claro e seus descendentes. Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro. 1983. 58 p. WEHMUTH, Suzana Barthmann – Presença de Imigrantes alemães em Rio Claro (SP). III Colóquio de estudos TeutoBrasileiros. Porto Alegre. Ed. da URGS - 198 p, 517-520.

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