#OCaminhoDoCoração 9: “Uma rede mundial de oração e serviço atenta às necessidades da humanidade"

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QUERIDOS AMIGOS NO SENHOR

O Caminho do Coração é o itinerário espiritual proposto pela Rede Mundial de Oração do Papa. É o fundamento da nossa missão, uma missão de compaixão pelo mundo. Inscreve-se no processo iniciado pelo Papa Francisco com a Exortação Apostólica Evangelii gaudium, «A Alegria do Evangelho»

Constitui o resultado de um longo processo impulsionado pelo P Adolfo Nicolás, então Superior Geral da Companhia de Jesus No início elaborou-se um esquema, designado então de marco referencial, com uma equipa internacional liderada pelo P Claudio Barriga SJ Este itinerário foi apresentado ao Papa Francisco num documento intitulado

Um caminho com Jesus em disponibilidade apostólica (agosto de 2014) Apresentava-se uma nova forma de compreender a missão do Apostolado da Oração, numa dinâmica de disponibilidade apostólica

O Santo Padre aprovou-o em dezembro de 2014

O Caminho do Coração é essencial para a recriação desta Obra Pontifícia como Rede Mundial de Oração do Papa Constitui um aprofundamento, para os nossos dias, da tradição espiritual do Apostolado da Oração, e articula, de uma forma original, elementos essenciais deste tesouro espiritual com a dinâmica do Coração de Jesus É a chave de interpretação da nossa missão Por isso apresentamos em 2017 um comentário a este itinerário espiritual, designado agora «Dinâmica interna do passo», para ajudar as equipas nacionais da Rede Mundial de Oração do Papa a entrar na dinâmica interior do Caminho do Coração e a aprofundá-lo

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Com o desejo de desenvolver o processo de recriação, sentimos a necessidade de ampliar os conteúdos escritos. Assim, iniciamos em 2017 um trabalho de elaboração e organização dos materiais que constituem hoje os 11 livros de O Caminho do Coração. Este trabalho realizou-se com uma equipa internacional liderada por Bettina Raed, diretora regional da Rede Mundial de Oração do Papa na Argentina e Uruguai. Assim, a partir da pátria do Papa Francisco, e com o apoio de diversos companheiros, quer jesuítas quer leigos, foi articulado este trabalho. Agradeço de modo particular a Bettina por toda a sua disponibilidade e pelo seu trabalho de elaboração e coordenação.

Agradeço também a TeleVid, das Congregações Marianas da Colômbia, pelo seu apoio na conversão deste material num suporte acessível ao nível digital e visual. www.caminodelcorazon.church (em castelhano).

Espero que estes conteúdos ajudem a propor a missão de compaixão pelo mundo com criatividade (em retiros espirituais, sessões de formação, os encontros das Primeiras Sextas-feiras, etc.).

É o fundamento da nossa missão, o nosso modo específico de entrar na dinâmica do Coração de Jesus.

– inclui o Movimento Eucarístico Juvenil

Papa

Cidade do Vaticano, 3 de dezembro de 2019, Dia de São Francisco Xavier e dos 175 anos do Apostolado da Oração

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Esquema para orientar o passo

Palavra-chave: SOMOS REDE

Objetivo: Mobilizar-se, mediante a oração e a ação, diante dos desafios com que se confronta a humanidade e a missão da Igreja

Atitudes-chave: Cooperação em rede, segundo diversas modalidades

O que se pretende alcançar – Fruto: Sair da «globalização da indiferença»

Dinâmica interna do passo: Com outros, na missão da Rede Mundial de Oração do Papa – Sentir com a Igreja

Marco referencial

A Rede Mundial de Oração do Papa está ao serviço dos desafios da humanidade e da missão da Igreja que reconhecemos e se concretizam para nós nas intenções mensais de oração propostas pelo Papa Estas intenções exprimem as preocupações do Santo Padre sobre o mundo e a Igreja de hoje e deverão orientar a nossa oração e a nossa ação durante cada mês

Esta rede é formada por aqueles que, mediante o oferecimento quotidiano das suas vidas, se disponibilizam para colaborar na missão de compaixão de Cristo Ressuscitado, em qualquer situação ou estado de vida em que se encontrem O chamamento para a missão é o fogo que faz de nós apóstolos, enviados pelo Coração do Pai para o coração do mundo

Dinâmica interna do passo

Na sua mensagem de Quaresma (2015), Francisco diz-nos: «Também temos, como indivíduos, a tentação da indiferença Estamos saturados de notícias e imagens tremendas que nos narram o sofrimento humano e, ao mesmo tempo, sentimos a nossa incapacidade total para intervir Que podemos fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de horror e de impotência? Em primeiro lugar, podemos orar, na comunhão da Igreja terrena e celeste Não esqueçamos a força da oração de tanta gente»

Com a Rede Mundial de Oração do Papa – Apostolado da Oração – entramos numa rede global de milhões de irmãos e irmãs que rezam e se mobilizam, em cada mês, em prol dos desafios com que se confronta a humanidade e a missão da Igreja. São diretrizes para a nossa vida e para a missão da Igreja, que o Papa, no seu olhar universal, nos confia nas suas intenções de oração. É uma maneira muito simples de «sentir com a Igreja» (EE 352-370), unidos ao Coração de Jesus. É uma janela aberta sobre o mundo As intenções de oração do Santo Padre abrem o nosso coração às necessidades mais urgentes da humanidade e da Igreja, levando-nos a empenhar as

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nossas vidas em prol da justiça do Reino. Esta missão diante dos desafios da humanidade, vivemo-la com todos aqueles que desejam mais fraternidade, justiça e paz no mundo, incluindo os que pertencem a outras tradições religiosas Possa este Caminho do Coração fazer nossa a compaixão de Jesus e despertar em nós o desejo de estarmos cada vez mais disponíveis para o serviço da sua missão, perante os desafios com que se confronta a humanidade e a missão da Igreja

O Papa Francisco convida-nos a participar na sua rede de oração: «Gostaria de vos convidar a unir-vos à Rede Mundial de Oração do Papa, que difunde, inclusive através das redes sociais, as intenções de oração que proponho em cada mês a toda a Igreja Assim se leva por diante o Apostolado da Oração e se faz crescer a comunhão» –Angelus de 8 de janeiro de 2017

Disse-nos também o Santo Padre, a 28 de junho de 2019, na Solenidade do Coração de Jesus e por ocasião da celebração, em Roma, do 175º aniversário do Apostolado da Oração, hoje convertido em Rede Mundial de Oração do Papa: «É bom, neste dia da solenidade do Sagrado Coração de Jesus, recordar o fundamento da nossa missão… Trata-se de uma missão de compaixão pelo mundo, de um Caminho do Coração, poderíamos dizer, ou seja, de um itinerário de oração que transforma as vidas das pessoas»

E acrescentou: «O Apostolado da Oração, com a sua Rede Mundial de Oração do Papa e em comunhão com ele, recorda que o coração da missão da Igreja é a oração Prestai atenção: o coração da missão da Igreja é a oração Podemos fazer muitas coisas, mas sem oração não funciona O coração é a oração Animo-vos a continuar com alegria, conscientes da importância e da necessidade do vosso trabalho Ajudais as pessoas a ter um olhar espiritual, um olhar de fé sobre a realidade que as rodeia, para reconhecerem aquilo que o próprio Deus realiza nelas É um grande olhar de esperança!».

Confiemos esta Rede de Oração a Nossa Senhora, Maria, estrela da nova evangelização, que, movida pelo Espírito Santo, sempre esteve disponível para o seu Filho e para a missão da Igreja.

Para aprofundar Recursos Anexo cinco: «Discurso do Santo Padre a 28 de junho de 2019».

Para aprofundar. Recursos. Anexo um. «A Rede Mundial de Oração do Papa. Trinta, sessenta e até cem por um»

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Entrada segundo a perspetiva bíblica

Antropólogos e psicólogos advertem-nos acerca de duas necessidades básicas das pessoas, sem descartar a existência de uma lista maior Por um lado, a necessidade de pertença, a experiência de pertencer a algo maior que nos contenha e nos confira identidade: um espaço no qual a pessoa se possa desenvolver e desenvolver os seus projetos, como parte integrante e significativa dessa realidade que a contém e a apoia. Por outro, conservar uma quota-parte de autonomia e de liberdade de decisão ao nível dos seus próprios projetos e da sua própria pessoa, embora faça parte de uma realidade maior. Estas duas necessidades configuram uma sã tensão que devemos aprender a equilibrar: a pertença e a liberdade.

Se traduzíssemos estes postulados para a linguagem da vida espiritual e da Igreja, falaríamos da missão pessoal e da pertença a uma comunidade E assim como, no campo do desenvolvimento comportamental em ambientes educativos ou empresariais, falamos de suscitar motivos para despertar uma motivação que leve as pessoas a comprometerem-se com os projetos institucionais, também na nossa Igreja falamos de despertar grandes desejos para nos juntarmos à missão de Cristo Só os grandes desejos nos movem, os grandes desejos determinam-nos, os grandes desejos nos tornam capazes de heroísmo

Dois ingredientes ajudam-nos a alimentar os desejos de cultivar um espírito de discípulo missionário, comprometido com a missão de compaixão de Jesus Cristo: que esta missão faça parte do nosso projeto pessoal e que a levemos por diante numa comunidade que nos apoie e nos fortaleça e em que sintamos que o nosso contributo para ela é significativo. Terá sido esta a experiência dos primeiros discípulos que se decidiram a seguir Jesus e que, depois da sua Ressurreição, se lançaram a anunciar aquilo que tinham visto e ouvido? E se não tiver sido esta experiência, qual terá sido? Quais terão sido os seus grandes desejos, para se unirem à missão de Jesus Cristo Ressuscitado?

Se continuarmos com o nosso percurso pelas páginas da Bíblia, veremos que Jesus envia os seus acompanhados por outros, não vão sós; assim como Jesus procurou amigos, os seus amigos são enviados também entre amigos Um envio em missão que o próprio Jesus recebeu de seu Pai e que agora, depois da Ressurreição, confia aos seus discípulos: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21) Nos seus primeiros passos missionários, as primeiras comunidades cultivaram a oração, o encontro pessoal e comunitário com Deus Pai e com Jesus Cristo Ressuscitado, em oração movida pelo Espírito Santo. O livro dos Atos dos Apóstolos conta-nos que «todos unidos pelo mesmo sentimento,

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entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus» (At 1, 14)

O Evangelho de São Lucas refere um número superior ao do envio dos primeiros

Doze O número setenta e dois poderia aludir à universalidade do envio e da mensagem de Jesus e à urgência do mesmo até aos confins do mundo, onde o próprio Jesus «primeiriará» com a sua presença Um chamamento dirigido a todos os homens e mulheres que se queiram juntar à missão de compaixão, em todo o tempo e lugar em que o Ressuscitado os espera e os acompanhará: «Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir» (Lc 10, 1) «Eu estarei sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20)

São Paulo, apóstolo itinerante, descreve, nas suas cartas, a construção de um primeiro tempo de missão sustentado pelo seu acompanhamento a diferentes comunidades através de visitas e das suas epístolas. As cartas de Paulo não são simples cartas, mas constituem um estilo de missão, um modo que o Apóstolo encontrou para ajudar a gerir e a acompanhar comunidades afastadas entre si, numa época em que a itinerância implicava percursos a pé ou estava marcada pelas dificuldades das viagens e das travessias de barco «Paulo, apóstolo – não da parte dos homens, nem por meio de homem algum, mas por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos – e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia» (Gl 1, 1-2)

Assim nos descreve Paulo o seu apostolado: «Pois aquele que operou em Pedro, para o apostolado dos circuncisos, operou também em mim, em favor dos gentios – e tendo reconhecido a graça que me havia sido dada, Tiago, Cefas e João, que eram considerados as colunas, deram-nos a mão direita, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão, para irmos, nós aos gentios e eles aos circuncisos. Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres – o que procurei fazer com o maior empenho» (Gl 2, 8-10).

Paulo exorta, acompanha, anima, vai levando a boa notícia a todos os pagãos daquele tempo, e recorda-nos que estamos unidos e salvos em Cristo Jesus, sem distinção alguma «Porque é por Ele que uns e outros, num só Espírito, temos acesso ao Pai Portanto, já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus» (Ef 2, 18-19) Todos somos um corpo que Jesus Cristo mantém coeso e cada ato de amor dos seus membros junta-se a esse corpo e fá-lo crescer «É a partir dele que o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de toda a espécie de articulações que o sustentam, segundo uma força à medida de cada

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uma das partes, realiza o seu crescimento como Corpo, para se construir a si próprio no amor» (Ef 4, 16)

Nas suas viagens, Paulo vai formando e ajudando as comunidades com outros irmãos enviados e colaboradores seus na missão de Cristo Jesus, que se aproximam das comunidades e lhes levam notícias, mantendo, com as suas visitas, os laços entre os seus membros Companheiros de caminho daqui e dali, enviados e chegados que levam e trazem notícias, criando laços, ajudando-se, velando uns pelos outros, animando-se mutuamente e corrigindo-se fraternalmente; neste santo itinerário, vão espalhando, à sua passagem, as sementes do reino do Pai, colaborando com Jesus Cristo na sua missão de compaixão pelo mundo «De tudo vos informará Tíquico, o irmão querido e servidor fiel no Senhor. Foi para isso mesmo que eu vo-lo enviei: para que tomeis conhecimento do que é feito de nós e console os vossos corações» (Ef 6, 21-22). «Espero, no Senhor Jesus, enviar-vos em breve Timóteo, para que também eu fique bem disposto, ao saber da vossa vida» (Flp 2, 19).

«Exorto Evódia e exorto Síntique a terem o mesmo pensamento no Senhor. Sim, e a ti, fiel Sízigo, peço-te que as acolhas; são pessoas que, em conjunto, lutaram comigo pelo Evangelho, juntamente com Clemente e os meus restantes colaboradores, cujos nomes estão no livro da Vida» (Flp 4, 2-3)

«Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, bem como Marcos, primo de Barnabé. Recebestes instruções a respeito dele; se for ter convosco, recebei-o bem. Também Jesus, chamado Justo, vos saúda. São os únicos judeus circuncisos que colaboram comigo no reino de Deus; têm sido uma consolação para mim. Saúda-vos Epafras, que é um dos vossos, um servo de Cristo Jesus, que continuamente luta por vós nas suas orações, para que vos mantenhais no aperfeiçoamento e no pleno cumprimento da vontade de Deus» (Cl 4, 10-12)

Em cada época, o Evangelho de Jesus tem inspirado um modo de tornar realidade –nas circunstâncias vigentes de tempo, do lugar e das pessoas –, ações concretas para colaborar com a missão do reino de Deus. Paulo, Tiago, Pedro, João e os primeiros encontraram, cada um, a sua forma de fazer comunidade, levando a Boa Nova do Reino e tornando fecunda a missão que lhes fora confiada

De igual modo, também nós somos convidados, nesta Rede Mundial de Oração do Papa, a escrever a parte da história que nos compete, a juntar-nos à missão de compaixão de Jesus pelo mundo, orando e mobilizando-nos pelos desafios desta época, que o Papa nos confia Assim como noutros tempos Jesus – e, depois, os seus discípulos – deram resposta aos desafios da sua época, também agora nos compete

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a nós, discípulos dos nossos dias, dar a nossa resposta, como discípulos missionários do reino de Deus, aos desafios de compaixão Compete-nos a nós escrever os capítulos, as cartas deste tempo histórico, ser evangelhos vivos ao serviço da missão de Jesus Cristo, para que os desafios com que se confronta a humanidade e a missão da Igreja sejam os temas das próximas páginas da história da salvação que nos toca a nós viver e relatar Queres juntar-te à missão de Cristo na Rede Mundial de Oração do Papa?

Chamados e enviados

O Evangelho de Lucas, capítulo 10, 1-12 diz-nos:

«Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir». E o evangelista continua, pondo nas palavras de Jesus conselhos e recomendações para este envio.

Este relato da vida de Jesus recolhe palavras que hoje são dirigidas, não já ao grupo dos doze Apóstolos, mas a um grupo numeroso de discípulos a quem o Senhor envia para que colaborem com Ele na sua missão, no projeto do reino de Deus

Podemos tomar as palavras do Mestre como uma magna carta para a nossa própria vida Tanto a Igreja como cada um de nós estamos marcados pelo envio de Jesus O desejo original do próprio Jesus era que os seus discípulos «se pusessem a caminho», desdobrassem o movimento profético de uma Igreja que sai de si mesma ao encontro dos irmãos, colocando-se ao serviço dos outros.

Jesus envia-nos a curar os doentes e a anunciar que o Reino de Deus está próximo. E esta é a grande notícia, que Ele está perto, animando-nos a humanizar a vida. Contudo, não se trata de uma pregação teórica, sendo necessário torná-la compreensível para todos O Senhor deve tornar-se compreensível, todos devem ser capazes de apreender a pregação como uma coisa nova e boa Que gestos e palavras poderiam transmitir esta realidade? É necessário escutar, acolher, curar as feridas dos que sofrem, resgatar os que estão caídos nas sargetas da existência Só assim o amor do Coração de Jesus poderá manifestar-se e tornar-se visível aos olhos dos homens: através dos nossos gestos concretos A pregação do Reino de Deus só se poderá tornar compreensível se as pessoas que formos encontrando se sentirem compreendidas e acolhidas pelos nossos gestos

Jesus diz-nos que a paz é o primeiro sinal do Reino, é dom do Senhor pelo qual devemos velar e que devemos dar a quem nos receber. Se essa paz for acolhida,

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ficará com quem a acolhe, se não for acolhida, voltará para nós, pois é um dom que nunca se perde

O Senhor recomenda-nos que não enchamos a transbordar a nossa mochila, que levemos uma bagagem ligeira Não nos diz o que devemos levar, mas o que não devemos levar: aquilo que nos afaste dos mais pobres O nosso estilo de vida, o nosso comportamento deverá identificar-nos com os mais pobres Com feito, aquilo que nos define será o nosso testemunho Os nossos meios devem ser pobres, os pobres meios de que Jesus se valeu, o amor solidário aos desvalidos e aos mais abandonados, o acolhimento a cada pessoa, o perdão a quem nos ofende, a criação de uma comunidade fraterna, a tolerância mútua

Não pregamos uma doutrina, mas sim uma pessoa, a experiência humanizadora de entrar em contacto com Jesus Cristo. Somos enviados a irradiar «qualidade de vida evangélica» que ponha os irmãos em contacto com a força humanizadora de Jesus, que os reconstrói e os devolve à vida. E este chamamento é dirigido a todos e a cada um, formando uma numerosa comunidade simbolizada no número evangélico dos setenta e dois Hoje, a Rede de Oração do Papa reúne dezenas de milhares de católicos, a maioria invisíveis aos olhos do mundo, que, através da oferenda das suas vidas, mediante a oração e a ação, se tornam solidários com os que sofrem, com os últimos Esta rede de corações é chamada e enviada a levar ao mundo a força curativa de Cristo, com o testemunho da sua qualidade de vida evangélica, como resposta concreta ao envio: «O Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir»

● «Vós, os que tudo recordais ao Senhor, não repouseis! Não o deixeis descansar. (...) Até que apareça a aurora da sua justiça e a sua salvação brilhe como uma chama» (Is 62:6-71)

● «Abraão aproximou-se e disse: "E será que vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o culpado? Talvez haja cinquenta justos na cidade" […] O Senhor disse: "Se encontrar cinquenta [ou quarenta, ou trinta, ou vinte ou dez], não destruirei a cidade"» (Gn 18:23-33).

● «Todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus» (At 1:14 )

● «Também vós – como pedras vivas – entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus»(1 Pe 2,5 )

● «Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir» (Lu 10:1 )

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● «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20:21 )

Para aprofundar. Recursos. Anexo três: «São Francisco Xavier, um homem de grandes desejos».

Para aprofundar. Recursos. Anexo quatro: «Teresinha de Lisieux, a grandeza do pequeno».

ÀS
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Entrada segundo a perspetiva da fé

Somos uma rede para a missão

A Rede Mundial de Oração do Papa faz parte da Igreja, é uma Obra Pontifícia ao serviço da missão da Igreja Neste sentido, somos um corpo que adota a configuração de uma rede e fazemos parte de um corpo maior, que é a Igreja Para podermos entender-nos como corpo e como parte de uma comunidade maior, vejamos alguns traços que definem o espírito desta pertença.

Jesus não atuou sozinho, procurou homens e mulheres, formou-os e fez-se ajudar por eles, a fim de tornar possível o anúncio do reino de Deus. Esta comunidade dos primeiros discípulos viria a entender aquilo para que tinha sido chamada com a vinda do Espírito Santo, que foi derramado sobre ela, como Igreja Logo ali acolheram a missão que lhes fora deixada pelo Mestre A esta Igreja, que compreende a mensagem de Jesus graças ao Espírito Santo, está ligado o misterioso plano de Deus de nos tornar seus colaboradores Não há Jesus Cristo Salvador sem Igreja de colaboradores, constituem um único sonho do Pai, estas duas realidades são inseparáveis no mistério da salvação O Pai envia o seu Filho e este envia a sua Igreja de discípulos, colaboradores na sua missão Somos um corpo solidamente unido em Cristo Jesus

Falar de Igreja de discípulos também é falar de carismas e de diversidade O corpo-Igreja sustenta, no seu interior, a diversidade de carismas como manifestação da graça do Espírito de Jesus que a anima. «Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum.» (1 Cor 12, 4-7). Assim, todos nós formamos um só corpo em Cristo, que é a cabeça «Pois, como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo. De facto, num só Espírito, fomos todos batizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito» (1 Cor 12, 12-13)

Na sua diversidade, a Igreja tem, portanto, uma unidade interna, diversos carismas e funções e uma cabeça que presta um serviço de governo, o Papa representante de Cristo na terra Isto não significa que a Igreja seja apenas a hierarquia; como diz São Paulo, a Igreja é o corpo diferenciado e hierarquizado

Não percamos de vista que a graça do Senhor só atua em realidades concretas, torna-se visível através de sinais sensíveis. Quer dizer que a Igreja tem uma realidade

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encarnada, através de homens e mulheres reais que atuam nela em circunstâncias concretas de tempo e lugar Sendo assim, a ambiguidade e a fragilidade são próprias da sua existência Nela há pecado, visto que o há nos homens que nela atuam Por isso a Igreja, o Corpo que colabora na missão de Cristo, precisa continuamente de conversão

Devemos cuidar da vida e da unidade do corpo Devemos pôr sempre em prática a lucidez racional e o amor à verdade, que não é o mesmo que acusar os males e as fragilidades do corpo A atitude acusatória ou divisória é típica de Satanás Se é necessário fazer uma crítica, devemos ter em conta que deve haver maior bem em falar do que em calar; devemos evitar o escândalo, evitar, pelas nossas palavras, fomentar falatórios Devemos falar de modo e em tempo oportunos e a quem possa remediar o mal que denunciamos. Uma crítica indiscriminada ou feita de um modo inconveniente, mesmo que seja justa, faz mal inclusive a quem tece a crítica. Não se trata de ocultar, mas de construir, de cuidar da unidade e de providenciar a harmonia e a paz. Os membros mais débeis devem ser ajudados e corrigidos, nunca descartados nem simplesmente tolerados. Diz-nos São Paulo: «Pelo contrário, quanto mais fracos parecem ser os membros do corpo, tanto mais são necessários, e aqueles que parecem ser os menos honrosos do corpo, a esses rodeamos de maior honra, e aqueles que são menos decentes, nós os tratamos com mais decoro; os que são decentes, não têm necessidade disso. Mas Deus dispôs o corpo de modo a dar maior honra ao que dela carecia, para não haver divisão no corpo e os membros terem a mesma solicitude uns para com os outros. Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 22-26)

A Igreja é corpo, é comunidade e é comunhão Ela é um povo onde todos nós somos chamados à santidade e a participar da mesma vocação que o Batismo nos confere Hoje, mais do que nunca, o leigo é Igreja no sentido mais pleno da palavra, sendo chamado a uma santidade radical – como qualquer religioso ou sacerdote – neste corpo, em vista da missão.

Esta Igreja

corpo, rede para a missão – deve estar aberta ao mundo e empenhada nos desafios que a humanidade enfrenta A Igreja não é Igreja para si mesma mas para o mundo, nós não somos um corpo-rede para nós mesmos, mas para servir e amar os nossos irmãos, sobretudo os mais vulneráveis Neste sentido, as comunidades que fazem parte de um corpo devem estar abertas ao intercâmbio, a sair e a acolher, a dar e a receber, a entrar em reciprocidade com o contexto, a viver mergulhadas na realidade quotidiana, mesmo que esta lhes inflija feridas Porque, como nos diz o Papa: «Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído

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pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças» (Evangelii gaudium, 49)

Somos chamados a ser uma rede para a missão, unidos no Coração de Cristo, velando pela unidade e pela paz, em permanente atitude de conversão, em saída e em abertura às necessidades dos homens e das mulheres que sofrem

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Entrada segundo a perspetiva espiritual

Sentir com a Igreja

Fazer parte da Igreja e sentirmo-nos Igreja constitui hoje, para muitos crentes, um enorme desafio Somos testemunhas de que, em muitos lugares e por diversas razões, a vida eclesial ou a participação ad intra na instituição que é a Igreja tem vindo a ser desvalorizada, não sendo desejada por numerosas pessoas crentes em Deus. Por essa razão, pelo menos em parte, surgiram propostas espirituais mais individualistas, nas quais as práticas religiosas e a formação da consciência não signifiquem menosprezo pela responsabilidade pessoal e pelo exercício da liberdade, nem estejam sujeitas a um mandato eclesial. Muita gente tem perdido o sentido de pertença

Será possível recuperar critérios que nos permitam um discernimento maduro para conservar o sentido de pertença, o sentirmo-nos Igreja e com a Igreja, sem que, por isso, sejamos privados do uso da nossa liberdade?

A primeira resposta consiste em que a pertença à Igreja deve fortalecer a prática da nossa liberdade, a responsabilidade pelas nossas decisões e o discernimento na formação da consciência ao longo do caminho do nosso crescimento espiritual, e que assim os devemos viver

No seu livro dos Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loiola oferece-nos, a partir do número 352, algumas orientações para olharmos a Igreja, amá-la e integrarmo-nos nela. Tais conselhos podem-nos ajudar a viver, em liberdade e responsabilidade, a nossa pertença à Rede Mundial de Oração do Papa como Obra Pontifícia.

Uma primeira ideia consiste na necessidade da mediação eclesial para o pleno cumprimento da própria missão Significa que não podemos conceber nem viver autenticamente o seguimento de Jesus Cristo e a colaboração com a sua missão de compaixão pelo mundo sem o fazer «dentro» da Igreja e no exercício da nossa liberdade

Como fruto da sua experiência pessoal em relação ao vínculo com a Madre Igreja, Santo Inácio desejará que, em relação à Igreja, moldemos a nossa afetividade e sejamos capazes de lhe querer bem e de a amar Quer dizer que não se trata de «aceitar de má vontade os seus mandatos», mas sobretudo de a amar, de sentir afeto por ela, de lhe querer bem, de sentir «com ela» Amar a Igreja supõe trabalhar dentro dela e a partir do seu interior. Unir o nosso coração ao coração da Igreja, deixar-nos tocar por ela. Este sentimento, porém, não é míope perante os defeitos da Igreja, pelo

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contrário: é realista e fixa um olhar de verdade sobre as suas falhas. Contudo, como o amor define o nosso vínculo com a Igreja, podemos estar abertos a sofrer com ela e a agir de forma responsável para emendar as suas falhas

É muito importante não olharmos a Igreja a partir de fora, mas de dentro e por dentro Caso contrário, podemos errar na construção do vínculo com ela É algo que devemos descobrir, visto que a Igreja nos pertence e que nós lhe pertencemos Devemos eliminar toda a alteridade: «somos a Igreja», e não «é a Igreja» Os erros dos pastores, das comunidades e dos fiéis em certa medida também são meus: é isso que significa viver por dentro a realidade eclesial

A fé cristã é essencialmente eclesial Não pode ser vivida a sós, não é cristã se não se vive em comunidade, pois assim a viveu Jesus Cristo. A fé é pessoal, mas vive-se em comunidade eclesial. Recebe-se na Igreja, transmite-se e vive-se na Igreja, não se pode viver isoladamente.

Será que a fé em Jesus Cristo e a obediência à Madre Igreja estão interligadas? Acreditar supõe obedecer com criatividade Pode ajudar-nos a viver a obediência na Igreja o modo como Santo Inácio a concebeu para os Jesuítas Ele formou um corpo móvel, ágil e com iniciativas Insistiu muito na obediência, mas exercida com uma profunda maturidade e liberdade Para ele era necessário assumir íntima e criativamente o que era mandado Trata-se de uma posição ativa e não de um mero cumprimento Era necessário que cada um fosse bem formado, com espírito de iniciativa e personalidade, e que fosse capaz de formar uma opinião e de dá-la É a capacidade para ajudar, com todas as luzes e todo o potencial pessoal, a que os superiores possam determinar bem Não se trata de um súbdito e de um patrão, mas de uma «obediência discernida» A obediência está em função da missão e do bem do corpo a que pertencemos Por isso, obedecer supõe desenvolver a criatividade e o amor, para estabelecer critérios e para aderir com os afetos àqueles conselhos que mais ajudem a comunidade e a missão por nós assumida. O discernimento orante é fundamental.

A Igreja não está só, desprovida de assistência ou dependendo apenas das ações humanas Se assim fosse, estaria perdida É o próprio Senhor que a leva e a conduz É o Espírito Santo que protagoniza a missão

No Evangelho encontramos alguns relatos que nos podem ajudar a apreender esta presença do Espírito Santo no seio da Igreja «"Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós". Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo"» (Jo 20, 21-22) Noutro momento da sua vida terrena e antes da sua Paixão,

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Morte e Ressurreição, o Senhor disse a Pedro: «Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela» (Mt 16, 18) E, ainda, no fim da sua vida terrena e antes deixar os seus amigos, Jesus disse-lhes: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19-20)

Assim, podemos estar certos de que Jesus Cristo nos deixou um Defensor, o Paráclito, que permanece com a Igreja e na Igreja, assistindo-a sempre Por isso, e mesmo com dificuldades, erros e desentendimentos na missão, que não nos serão poupados, devemos estar certos – porque o próprio Jesus Cristo no-lo disse –, de que o Espírito Santo nos assiste e estará presente sempre até ao fim. Nesta certeza nos apoiamos e confiamos, é o Espírito do Senhor que conduz a Igreja, e também é Ele o protagonista da missão em que colaboramos. A assistência e inspiração do Espírito garante-nos que a vida tem a última palavra, mesmo quando nós, homens, cometemos erros.

Por isso, o que nos compete a nós é a docilidade para acolher a voz do Espírito Santo que nos conduz e que leva à missão, sendo, assim, instrumentos nas mãos do Senhor, quais pincéis nas mãos de um artista Para que, através de nós, seja o próprio Senhor a abrir o caminho do reino do Pai

Na Rede Mundial de Oração do Papa, vivemos assim o sentido de Igreja e de pertença a um corpo destinado à missão Aderimos às intenções de oração que o Papa nos confia em cada mês, certos de que o Espírito de Jesus inspira os desafios pelos quais rezar ao Santo Padre e aos que com ele os propõem E embora seja o Espírito Santo a conduzir a missão, isso não nos impede de agir com criatividade e amor Muito pelo contrário, a sua assistência impele-nos a trabalhar com liberdade e amor, sob a sua inspiração, sem medir perigos, êxitos ou fracassos, mas arriscando a nossa total disponibilidade e amor.

Por isso, devemos levar às nossas comunidades as iniciativas, para que os desafios deem lugar à obra na vida concreta das mesmas. Por outro lado, devemos incluir o amor, a fim de aderirmos mediante os afetos àquilo que mais contribua para a missão e para a comunidade, mesmo que não corresponda às nossas ideias pessoais Somos um corpo e aquilo que nos define, nas nossas ações, é o interesse maior da missão de Cristo

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Entrada segundo as palavras do Papa

«Neste tempo em que as redes e demais instrumentos da comunicação humana alcançaram progressos inauditos, sentimos o desafio de descobrir e transmitir a "mística" de viver juntos, misturarmo-nos, encontrarmo-nos, darmos o braço, apoiarmo-nos, participarmos nesta maré um pouco caótica que pode transformar-se numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caravana solidária, numa peregrinação sagrada. Assim, as maiores possibilidades de comunicação traduzir-se-ão em novas oportunidades de encontro e solidariedade entre todos. Como seria bom, salutar, libertador, esperançoso, se pudéssemos trilhar este caminho! Sair de si mesmo para se unir aos outros faz bem. Fechar-se em si mesmo é provar o veneno amargo do imanentismo, e a humanidade perderá com cada opção egoísta que fizermos

O ideal cristão convidará sempre a superar a suspeita, a desconfiança permanente, o medo de sermos invadidos, as atitudes defensivas que nos impõe o mundo atual Muitos tentam escapar dos outros fechando-se na sua privacidade confortável ou no círculo reduzido dos mais íntimos, e renunciam ao realismo da dimensão social do Evangelho Porque, assim como alguns quiseram um Cristo puramente espiritual, sem carne nem cruz, também se pretendem relações interpessoais mediadas apenas por sofisticados aparatos, por ecrãs e sistemas que se podem ligar e desligar à vontade Entretanto, o Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e as suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa, permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura.

O isolamento, que é uma concretização do imanentismo, pode exprimir-se numa falsa autonomia que exclui Deus, mas pode também encontrar na religião uma forma de consumismo espiritual à medida do próprio individualismo doentio O regresso ao sagrado e a busca espiritual, que caracterizam a nossa época, são fenómenos ambíguos Mais do que o ateísmo, o desafio que hoje se nos apresenta é responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo desencarnado e sem compromisso com o outro Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que as cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que as chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganadas por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus.

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As formas próprias da religiosidade popular são encarnadas, porque brotaram da encarnação da fé cristã numa cultura popular Por isso mesmo, incluem uma relação pessoal, não com energias harmonizadoras, mas com Deus, Jesus Cristo, Maria, um Santo Têm carne, têm rostos Estão aptas para alimentar potencialidades relacionais e não tanto fugas individualistas Noutros setores da nossa sociedade, cresce o apreço por várias formas de "espiritualidade do bem-estar" sem comunidade, por uma "teologia da prosperidade" sem compromissos fraternos ou por experiências subjetivas sem rostos, que se reduzem a uma busca interior imanentista

Um desafio importante é mostrar que a solução nunca consistirá em escapar de uma relação pessoal e comprometida com Deus, que ao mesmo tempo nos comprometa com os outros Isto é o que se verifica hoje quando os crentes procuram esconder-se e livrar-se dos outros e quando subtilmente escapam de um lugar para outro ou de uma tarefa para outra, sem criar vínculos profundos e estáveis: "A imaginação e mudança de lugares enganou a muitos". É um remédio falso que faz adoecer o coração e, às vezes, o corpo. Faz falta ajudar a reconhecer que o único caminho é aprender a encontrar os demais com a atitude adequada, que é valorizá-los e aceitá-los como companheiros de estrada, sem resistências interiores Melhor ainda, trata-se de aprender a descobrir Jesus no rosto dos outros, na sua voz, nas suas reivindicações; e aprender também a sofrer, num abraço com Jesus crucificado, quando recebemos agressões injustas ou ingratidões, sem nos cansarmos jamais de optar pela fraternidade

Nisto está a verdadeira cura: de facto, o modo de nos relacionarmos com os outros que, em vez de nos adoecer, nos cura, é uma fraternidade mística, contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom. Precisamente nesta época, inclusive onde são um "pequenino rebanho" (Lc 12, 32), os discípulos do Senhor são chamados a viver como comunidade que seja sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16). São chamados a testemunhar, de forma sempre nova, uma pertença evangelizadora. Não deixemos que nos roubem a comunidade!»

(Papa Francisco, Evangelii gaudium, 87-92)

Para aprofundar. Recursos. Anexo dois: «A Rede Mundial de Oração do Papa e os desafios relacionados com a construção do Reino».

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Entrada segundo a oração

Parte do todo

Para concluir este itinerário espiritual do Caminho do Coração que temos vindo a percorrer, parecem-me muito apropriadas as palavras de Paulo (Rm 12, 1-2) porque são um convite a viver de uma maneira completamente nova É uma exortação a «oferecer-se como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus». Convida-nos a viver como um corpo que, tendo muitos membros e nem todos com a mesma função, constituem e estão unidos uns aos outros como partes de um mesmo corpo. Somos parte do todo.

Predispomo-nos, nesta época, a ser sujeitos a uma transformação silenciosa, a uma revolução sem estridências Esta revolução, que é uma evolução do pensamento, caracteriza-se por uma renovação da consciência e maturação na fé que passa do isolamento e da separação à unidade e à unicidade Este processo maravilhoso não está limitado a uma idade nem a uma cultura ou religião É uma experiência global que tem vindo a transformar a cultura planetária e que envolve diversos povos, culturas e religiões Nós, seres humanos, começamos hoje a pensar de um modo diferente porque nos conhecemos de maneira diferente Do fundo do ser humano está a emergir uma nova maneira de compreender a realidade, com uma perspetiva que não é completamente nova, mas que traz dentro de si uma energia renovada: nisto consiste a rede O paradigma da «rede» é uma nova maneira de pensarmos e de nos relacionarmos. Somos rede, habitamos o espaço da rede e vamo-nos configurando nela. Estamos mais ligados uns aos outros através dos meios digitais e da comunicação online, e isso vai moldando os nossos vínculos. O grande desafio que se nos abre como rede é que esta ligação seja comunicação, unidade e empenhamento mútuo em prol uns dos outros. É o desafio da humanização da rede e das novas formas de nos vincularmos

Por isso dizemos que esta renovação do Apostolado da Oração em Rede Mundial de Oração do Papa tem lugar, em primeiro lugar, no interior das pessoas E torna-se visível naqueles que encontraram nos desafios da humanidade e da Igreja uma forma de colaborar na missão de compaixão que Jesus inaugurou com a sua Encarnação Compromisso de humanização da nossa casa comum

Atualmente, são cada vez mais as pessoas que começam a pensar e a proceder de maneira distinta dos velhos esquemas de individualismo e indiferença Animam-se a deixar-se envolver nos desafios que a humanidade e a Igreja têm para melhorar a vida. Pensam e agem de maneira corporativa e sentem-se parte de um todo maior que elas mesmas. Estas pessoas talvez não compreendam perfeitamente aquilo que

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está a brotar dentro delas, mas a verdade é que desejam fazer alguma coisa pelos outros porque se sentem parte da missão de compaixão que a Igreja leva por diante, segundo o espírito de Jesus ressuscitado

Fomos desbaratados por uma corrente individualista que nos mergulhou na solidão e no vazio Levou-nos a adotar comportamentos destrutivos para o planeta, dividiu-nos e suscitou confrontos entre os seres humanos, fazendo-nos crer que somos inimigos uns dos outros De certo modo, começámos a entrar em sintonia com o Coração de Jesus e a escutar a voz do Espírito de Deus, para levar a cabo a recuperação da semelhança que nos devolve a identidade de filhos de Deus e de irmãos uns dos outros Vamos abandonando velhas ideias de medo e de separação e substituindo-as por pensamentos de amor e de unidade, de paz e de concórdia, de reconciliação e de oportunidade. Já existe um número significativo de pessoas – mesmo que não tenham visibilidade – que cultivam este novo nível de consciência e empenhamento perante os grandes desafios com que nos confrontamos enquanto humanidade e Igreja, tornando possível uma mudança à sua volta. Todavia, chegará um momento em que haverá uma consciência corporativa e crítica, e então a mudança será experimentada por todos

Nós fazemos parte do destino que alcançaremos Diz G K Chesterton: «Não acredito num destino que atinja os seres humanos independentemente da forma como eles atuem; creio, isso sim, num destino que os atingirá, inevitavelmente, se não atuarem»

Devemos sentir-nos parte de um processo de transformação do mundo Se cada um de nós mudar, o nosso ambiente e o nosso mundo também mudarão Na Rede Mundial de Oração existem várias formas de nos sentirmos unidos num mesmo corpo que é Cristo, na sua Igreja Tais modalidades, distintas entre si, fazem parte de um único corpo e estão unidas umas às outras como partes de um mesmo corpo

O Apostolado da Oração, hoje configurado como Rede Mundial de Oração do Papa, oferece duas modalidades de participação: uma forma «aberta» e outra de «pertença e compromisso», considerando a Eucaristia como modelo de oferenda e disponibilidade, para viver ao estilo de Jesus.

1 A modalidade de participação aberta, acessível a todos os batizados, consiste em assumir como parte da sua oração diária a Deus, podendo fazê-lo ao celebrar a Eucaristia, a prece pelas intenções de oração do Papa Aos que assumem esta modalidade, de forma especial, pede-se que, nas primeiras sextas-feiras de cada mês, se integrem na Rede Mundial de Oração do Papa, tendo particularmente presentes as intenções do Santo Padre Esse dia será considerado como o «dia

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mensal de oração pelas intenções do Papa». Esta modalidade pode ser assumida espontaneamente por pessoas, grupos ou movimentos

2. A modalidade de pertença e compromisso requer uma intervenção mais ativa, sendo necessário estabelecer um vínculo com o centro responsável da RMOP no país ou na região, habitualmente chamado de Secretariado Nacional Este vínculo pode concretizar-se participando nas atividades propostas a partir do Secretariado Nacional (eventos de formação, encontros nacionais, jornadas de oração, etc ) e mantendo-se informado através das redes sociais Esta pertença e compromisso podem ser vividos a nível pessoal ou também a nível de grupo ou comunitário Podem, inclusive, assumir a forma de consagração pessoal

2.1. A nível pessoal, a modalidade de pertença e compromisso requer que se assumam, como parte da vida quotidiana, três momentos de oração ao Senhor Jesus: um de manhã, com a Oração de Oferecimento, outro a meio do dia, e outro à noite, podendo situar-se um deles na própria celebração eucarística. O essencial, através deste ritmo diário de oração, é consolidar a amizade íntima com o Senhor e encontrar a maneira pessoal de colaborar com a missão da Igreja, no horizonte dos desafios recolhidos nas intenções da oração que o Papa nos confia Esta oração e disponibilidade apostólica estão sempre unidas a Maria, Rainha dos Apóstolos

2.2. A nível de grupo ou comunitário, a modalidade de pertença e compromisso, pode ser concretizada através de alguma das três opções seguintes:

- As paróquias, as comunidades cristãs e os diversos grupos podem manifestar o seu compromisso para com a RMOP reunindo-se especificamente para rezar pelas intenções do Papa e, em particular, escolhendo as primeiras sextas-feiras de cada mês como dia destinado a esse fim. Informar-se-á o Secretariado Nacional do seu compromisso, para que haja uma consciência e uma integração real na rede.

- As comunidades da RMOP, constituídas com essa finalidade em paróquias, colégios e outros espaços. Estas comunidades não só oram e assumem uma atitude interior de disponibilidade para colaborar com a missão da Igreja, mas mobilizam-se, procurando a melhor forma de se colocarem ao serviço dos desafios com que a humanidade e as necessidades da Igreja se confrontam As pessoas que integram estas comunidades comprometem-se, pessoalmente e em grupo, a seguir o itinerário das suas vidas segundo a espiritualidade do Coração de Jesus De igual modo, apoiarão o nosso ramo juvenil, o MEJ, onde este exista, ou a pastoral juvenil (paróquia ou colégio, etc )

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- Os grupos do AO nascidos da nossa tradição e presentes nas paróquias, constituem também outra forma comunitária de compromisso com a RMOP Têm uma estrutura diocesana e dispõem das suas instruções ou regulamento interno Poderão apoiar-se nestas orientações, enquanto considerarem que os ajudam a organizarem-se, e são convidados a integrarem-se no processo de «Recriação»

- Os grupos do MEJ – Movimento Eucarístico Juvenil – como consta dos estatutos aprovados pelo Santo Padre em março de 2018

2.3. A consagração pessoal, ou «aliança» com Jesus destina-se aos que sentem um chamamento a viver mais estreitamente unidos ao Coração de Jesus e desejam formalizar a sua entrega pessoal, o seu compromisso e o seu serviço neste sentido A consagração faz dos que a professam «apóstolos da oração», assumindo, através dela, o compromisso de estarem disponíveis para o serviço das comunidades da RMOP e do MEJ, na missão da Igreja local.

O ser humano, o cristão, ainda não deu o melhor de si mesmo. Ainda tem potencialidades a descobrir, metas a alcançar e limites a superar Reconstruir a nossa identidade de «seres humanos» é um dos carismas do dom da criação A forma de o fazer é perscrutando as profundezas do nosso ser mediante a oração, habitando o silêncio ensurdecedor que nos grita, com voz forte e firme, quem somos Só assim o projeto humanizante do mundo será uma realidade à nossa volta Isto significa fazê-lo com as mesmas pessoas que vão adquirindo uma consciência nova A voz interior que nos tem vindo a falar há já algum tempo também vai sussurrando ao coração dos outros

Proposta de exercício

Exercício

Convidamos-te a realizar um exercício de missão em comunidade. Convidamos-te a aproximares-te de uma comunidade da Rede de Oração do Papa ou a entrares em contacto com o Secretariado Nacional do teu país e a ofereceres-te para colaborar na missão que ali se leva por diante. Os Secretariados promovem atividades orientadas para a missão e poderão informar-te sobre como poderás colaborar com eles no ramo adulto ou no MEJ (Movimento Eucarístico Juvenil), o seu ramo juvenil

1.- Serviço eucarístico aos doentes. (Ministros Extraordinários da Eucaristia)

Oferecer-se para ser missionários da eucaristia

2.- Open Chapel: oferecer-se como missionários de Igreja aberta Pessoas que vão com amigos, familiares, pessoas da sua comunidade, para abrir igrejas e capelas e

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rezar juntamente com outros.

3 - Missionários do Vídeo do Papa Duas ou três pessoas que visitem as pessoas nas suas casas, para lhes mostrar o vídeo, sobretudo quando o tema está ligado à sua realidade

4.- Equipas de apoio ao MEJ. Pessoas que trabalham em diversos serviços – cozinha, logística, organização, formação – para as diversas atividades que as comunidades MEJ levam por diante As pessoas que desejem apoiar o MEJ são convidadas a fazer parte de uma comunidade da Rede de Oração do Papa ou a criá-la, se ainda não existe no lugar onde se encontram Estas comunidades são um apoio espiritual para a missão (ver modalidades de participação)

5.- Adoradores. Pessoas que se oferecem para garantir o serviço de adoração eucarística em paróquias, capelas e santuários

6.- Equipas de formação e animação do Caminho do Coração. Pessoas que se oferecem para receber e dar formação relativa ao Caminho do Coração em diversas modalidades: curso, retiros, palestras em paróquias, colégios e comunidades.

Outros serviços prestados pelos Secretariados Nacionais da Rede Mundial de Oração do Papa

Prática do Exame Temático

Reler o Caminho do Coração

Chegámos ao fim deste percurso Certamente, ao longo do mesmo, o Senhor terá semeado no teu coração inúmeras graças É hora de fazer a colheita Convidamos-te a encher a tua cesta com aquilo que reconheces como graças recebidas das mãos do Senhor neste itinerário

Este exercício pode demorar bastante tempo, podendo por isso ser realizado por etapas.

1. Entra em clima de oração, dispondo-te a viver um tempo de silêncio e encontro com o Senhor Respira fundo várias vezes seguidas, aquieta as ideias, entra em contacto com o teu coração

2 Agradece ao Senhor o tempo que te ofereceu, permitindo-te viver o Caminho do Coração, passa como em filme os momentos, os sentimentos, as ideias, a experiência que viveste ao longo deste percurso Gasta o tempo necessário para agradeceres e saboreares aquilo que viveste

3 Pega no teu caderno ou bloco em que tiveres anotado as ressonâncias que cada um dos passos foi deixando no teu coração Regressa às palavras mais fortes, às imagens que ficaram gravadas, às frases, à música, à leitura que fez eco no teu coração Não te apresses, percorre passo a passo o que tiver

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produzido maior impacto em ti.

4 À medida que fores regressando a cada passo, e quando já tiveres esgotado a releitura do mesmo, atribuir-lhe-ás um nome Darás nome à experiência de ter passado por ele Que nome atribuirias à experiência de ter passado pelo Passo Um, pelo Passo Dois, Três, Quatro, e assim de seguida?

5 Quando tiveres dado um nome a cada Passo e o tiveres anotado, deixarás que os Passos ressoem no teu coração

6 Agradece ao Senhor o dom destas experiências

7 Pede luz para reconheceres a graça de teres concluído este itinerário, o nome da experiência completa Como denominarias a experiência no seu todo? Pede ao Senhor que te sugira um nome Espera pela palavra que Ele te inspire e anota-a no teu caderno Esse nome deverá ser uma frase curta, não mais de cinco ou seis palavras muito significativas para ti, ou então uma imagem, uma cena do Evangelho.

8. Esta frase será o teu lema ou moção fundamental. Será uma frase que, cada vez que a repitas, te ajudará a repassar de novo pelo teu coração a experiência vivida. Será a tua própria jaculatória, essa palavra de amor que o Senhor quer deixar impressa no teu coração como recordação deste caminho que percorrestes juntos

9 Agradece as graças recebidas e guarda no teu coração esse lema que te acompanhará até à próxima vez que inicies este percurso

10 Apoiando-te no documento que apresenta as diversas modalidades de participação, escuta o teu coração para reconheceres de que modo o Senhor te chama a encarnar este desejo mediante uma decisão Como desejas continuar este caminho? Sentes-te chamado a comprometeres-te nesta missão de compaixão mediante a aliança com Jesus Cristo?

Para aprofundar. Recursos. Anexo seis: «A Rede Mundial de Oração do Papa, uma participação na dinâmica do Coração de Jesus»

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Recursos Anexo um

A Rede Mundial de Oração do Papa. «Trinta, sessenta e até cem por um»

A Rede Mundial de Oração do Papa celebrou o 175º aniversário nos dias 28 e 29 de junho de 2019, com mais de 6000 pessoas procedentes de 52 delegações de todo o mundo (sem contar 7500 que assistiram através de vídeo online) Desde março de 2018, é uma Obra Pontifícia instituída pelo Papa Francisco, com o número 49 no registo de pessoas jurídicas vaticanas Um evento bastante raro É uma recriação do Apostolado da Oração O que sucedeu para que este serviço eclesial – que em muitos países do mundo tinha vindo a desaparecer aos poucos e que muitas vezes era visto como uma fotografia a preto e branco, que nos recordava a preciosa e antiga história da missão da Igreja – pudesse renascer hoje? Retrocedamos um pouco Recordemos o que se passou

A plataforma digital Click To Pray

A 20 de janeiro de 2019 anunciava o Papa Francisco, da janela onde reza o Angelus em cada domingo: «Gostaria de vos apresentar a plataforma oficial da Rede Mundial de Oração do Papa: Click To Pray. Aqui incluirei as intenções e pedidos de oração pela missão da Igreja»

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) estava para começar e o Papa convidou especialmente os jovens a descarregar a aplicação Click To Pray para rezar, com ele, o Rosário pela Paz Muitos ouviram falar de Click To Pray, «Clique para rezar», pela primeira vez Poder-se-ia pensar que se tratava apenas de um apoio a uma plataforma de oração para a JMJ Panamá No entanto, com este Angelus, passou a ser a terceira rede social do Santo Padre Juntamente com Twitter (@Pontifex), e Instagram (@Franciscus), agora o Papa tem o seu perfil pessoal de oração em Click To Pray (Papa Francisco)

Click To Pray não era uma plataforma digital desconhecida na Igreja Católica, mas existia juntamente com muitas outras de grande qualidade e mais antigas. Era a plataforma oficial da Rede Mundial de Oração do Papa e já tinha história, construída com uma comunidade digital, até então de mais de um milhão de pessoas, em seis línguas. Além disso, já era a plataforma de oração oficial da JMJ Panamá. Contudo, a criação da conta de oração pessoal do Papa em Click To Pray deu-lhe um impacto imenso

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A notícia deu rapidamente a volta ao mundo através de televisões, redes sociais e noticiários que geralmente não difundem notícias católicas: do Japão à Austrália, do Gabão à África do Sul, passando pela Índia e pelos Estados Unidos, sem contar numerosos países europeus e latino-americanos, como o Brasil, por exemplo A BBC World anunciou: «O Papa Francisco lançou uma app para animar os católicos de todo o mundo a rezar com ele»

Em poucos dias, dezenas de milhares de jovens já a estavam a usar, duplicando assim a sua capacidade e alcançando mais de 420 000 descargas e mais de 4 milhões de orações É difícil medir a fecundidade da oração, que é sempre invisível, como o processo de germinação nas profundidades da terra, que dá fruto a seu tempo No entanto, o impacto é evidente Os desafios técnicos que o funcionamento ajustado da plataforma supõe (app com Android e IOS, endereço de internet, blog, redes sociais, correio eletrónico quotidiano), perante as dezenas de milhares de ligações, tornam patente o impacto.

Não admira que Francisco abra o seu perfil de oração em Click To Pray. Quantas vezes o ouvimos pedir: «por favor, rezem por mim!» Francisco acredita na força da oração É um homem de oração e o seu ministério só se pode entender com e a partir desta parte invisível, mas tão essencial: a oração

A oração é essencial para a missão da Igreja e o Santo Padre está convicto disso mesmo Por essa razão, desde há vários anos, não só impulsiona a sua Rede Mundial de Oração, mas deixa-nos mensalmente a sua mensagem sobre a sua intenção de oração através do Vídeo do Papa Francisco sabe muito bem que a fecundidade da missão da Igreja vem da oração, da nossa relação pessoal com o Senhor

Não é a primeira vez que fala da sua Rede de Oração Recordemos o Angelus, em janeiro de 2017: «Gostaria de vos convidar a que vos unais à Rede Mundial de Oração do Papa, que difunde, inclusive através das redes sociais, as intenções de oração que proponho, mensalmente, a toda a Igreja. Assim é levado por diante o Apostolado da Oração e se faz crescer a comunhão».

Das suas palavras entende-se claramente que a Rede Mundial de Oração do Papa não nasceu com Francisco Este serviço da Igreja existe há mais de 175 anos, com o nome de Apostolado da Oração Francisco, porém, apoiou a sua refundação

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O Apostolado da Oração

O Apostolado da Oração tem uma longa história Nasceu em França, com os jesuítas, no ano de 1844, como ajuda a quem quisesse participar na missão da Igreja na sua vida quotidiana Expandiu-se muito rapidamente pelo mundo Em 1861, o P Henri Ramière SJ imprimiu-lhe um novo dinamismo, articulando-o com a devoção ao Coração de Jesus, numa perspetiva missionária, e pouco depois o Papa Leão XIII confiou-lhe as suas intenções de oração

Ao longo da sua história, divulgou-se em mais de cem países, com mais de 50 milhões de membros, promovendo o Sagrado Coração de Jesus Contudo, ao fim de muitos anos, o Apostolado da Oração foi perdendo a sua força, ficando reduzido a um conjunto de «formas e linguagens» ou de práticas piedosas que se iam transformando em obstáculo para comunicar a novas gerações o tesouro que lhe tinha sido confiado.

Em muitos países, este apostolado estava a desmoronar-se e ia ficando reduzido a alguns grupos de pessoas mais idosas que, apesar do seu amor à obra, não encontravam maneira de lhe dar continuidade com gerações mais jovens

Em 2009, o P Adolfo Nicolás SJ, Superior Geral da Companhia de Jesus, quis impulsionar a recriação deste serviço eclesial Iniciou-se, assim, um longo processo em que ainda hoje estamos mergulhados Nos seus inícios, a recriação exigiu muitas consultas, encontros, oração e discernimento, realizados em diversas culturas e línguas do mundo, com todos os mal-entendidos que se podem esperar

Também foi necessário um tempo para discernir em profundidade e descobrir, em fidelidade às origens, aquilo que constituía o aspeto essencial e original da nossa missão Trata-se de processos espirituais demorados, que não dependem das nossas forças ou capacidades, mas da nossa disponibilidade diante do Espírito do Senhor, pois é Ele que conduz a marcha. O que implica, da nossa parte, tentarmos ser o menor obstáculo possível à ação de Deus.

Além disso, são processos que podem gerar tensões e medos, pois é sempre difícil compreender a continuidade e a novidade em simultâneo Não é isso que Jesus diz quando fala do pano novo no vestido velho (Mc 2, 21)? Como nos mostra o Evangelho, sempre que o Espírito do Senhor faz coisas novas surgem mal-entendidos Todavia, a sabedoria do Senhor tem os seus próprios caminhos, e é Ele quem está a levar por diante esta refundação

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A refundação

O P Cláudio Barriga SJ, delegado do Superior Geral, conduziu a primeira fase do processo com uma equipa internacional, da qual fiz parte O trabalho realizado nesta primeira fase permitiu-nos, em 2014, apresentar ao Papa Francisco um documento tendo em vista a recriação do Apostolado da Oração: «Um caminho com Jesus, em disponibilidade apostólica» Este documento foi aprovado pelo Papa

A segunda fase centrou-se em duas ações principais Por um lado, ajudar os noventa e oito diretores e coordenadores nacionais, com as suas equipas, a entrar numa nova compreensão da nossa missão Isto exigiu que eu viajasse por mais de setenta países do mundo, pois um processo espiritual desta magnitude só se pode iniciar com o encontro pessoal e ouvindo as pessoas, a partir dos seus diferentes contextos culturais, sociais e eclesiais. Por outro lado, exigiu reorganizar a nossa rede mundial, que estava então fragmentada e com pouco sinergia. Trabalhámos no novo nome comum a toda a rede de oração, no seu logotipo e no correspondente manual de marca.

A pergunta era, então: o que se poderia fazer para dar a conhecer este tesouro espiritual que nos fora confiado e para facilitar a recriação deste serviço eclesial? A resposta chegou com o Jubileu da Misericórdia Era o momento ideal Para que os peregrinos recebessem a indulgência plenária, deveriam rezar pelas intenções de oração do Papa Era a ocasião de nos pormos ao serviço, segundo as novas orientações do processo de recriação e utilizando novas linguagens Nos nossos países-piloto, França e Portugal, já tínhamos entrado no mundo digital e das novas comunicações sociais Não se tratava unicamente de comunicar a mesma coisa através de um meio digital, mas de incorporar uma nova compreensão, novas linguagens e novas formas de nos relacionarmos com as pessoas, e sobretudo com os jovens. O mundo digital era um novo continente e a recriação deste serviço eclesial devia ser iniciada com ele.

Precisávamos de uma agência de comunicação para nos ajudar; de facto, neste mundo onde a exigência visual é muito elevada, não basta trabalhar com voluntários e com boa vontade, são necessários profissionais Não procurámos uns profissionais quaisquer, mas pessoas qualificadas, com vida espiritual e experiência católica Foi assim que contactámos uma agência Eram jovens adultos, alguns deles da Argentina, que, após a eleição do Papa Francisco, tinham fundado uma agência, no intuito de colocar o melhor da comunicação profissional ao serviço da missão da Igreja Assim nasceu O Vídeo do Papa e também o Click To Pray Em quatro anos, O Vídeo do Papa viria a tornar-se o vídeo mais procurado nas redes sociais do Vaticano,

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com milhões de visualizações. Desde janeiro de 2016 até hoje, conta com mais de cento e dez milhões de visualizações nas nossas próprias redes e em catorze línguas

É um projeto que tenta usar uma linguagem universal e, ao mesmo tempo, anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo Num mundo dividido e fragmentado, é bom que os cristãos, juntamente com os que seguem outras tradições religiosas, e com todas as pessoas de boa vontade, se mobilizem em torno da oração e do serviço pelos desafios comuns da humanidade, promovendo uma fraternidade humana em favor da paz

Em seguida, o Papa Francisco apoiou o Vídeo do Papa, envolvendo-se sempre muito na sua preparação e gravação Francisco é um homem de relação, de encontro pessoal: penso que por esta razão o vídeo agrada-lhe imenso. Constitui uma forma simples e direta de entrar em relação com todos, de falar de coração a coração.

Lançamos o Click To Pray como projeto internacional, em março de 2016, com a então Secretaria para a Comunicação do Vaticano, agora Dicastério. Já existia uma versão portuguesa, iniciada pela nossa equipa desse país, e tínhamos apresentado o projeto ao Papa Francisco, durante o centenário do Movimento Eucarístico Juvenil, em agosto de 2015

O MEJ, com mais de 1 600 000 crianças e jovens, é o ramo juvenil da Rede Mundial de Oração do Papa Por esta razão, o Click To Pray foi especialmente pensado para jovens e jovens adultos, a fim de os ajudar a rezar pela missão da Igreja, e em particular pelas intenções de oração do Papa Mais tarde, este projeto internacional viria a ter uma versão espanhola, inglesa, francesa, alemã e italiana Em março de 2019 foi lançada uma versão em chinês tradicional e uma versão vietnamita

Abrir o nosso coração aos outros e ao mundo Click To Pray ajuda-nos a sair da «globalização da indiferença» para acolhermos a cultura do encontro, abrindo o nosso coração aos outros e ao mundo. A oração surge como uma forma de solidariedade e de apoio. Para corroborar esta afirmação, basta olhar o número de pessoas que participam na secção «rezar em rede» de Click To Pray, onde cada um pode apresentar a sua intenção de oração pessoal e rezar pelos outros Dizia-me uma mulher salvadorenha: «Quero agradecer a Click To Pray porque, em 2017, estávamos a viver momentos muito difíceis na minha família, e eu pedi ajuda Muitas pessoas uniram-se à nossa oração, de maneira comunitária, sem nos conhecermos nem falarmos a mesma língua, mas sentimos a força das suas orações Obrigada pela oração comunitária que é escutada por Deus e que transmite consolação aos irmãos»

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Hoje, a Rede Mundial de Oração do Papa é uma Obra Pontifícia erigida pelo Santo Padre em março de 2018, com a sua sede na Cidade do Vaticano A sua missão é orar e viver os desafios com que se confronta a humanidade e a missão da Igreja, expressos nas intenções de oração do Papa Tal não é possível sem entrar na dinâmica espiritual do Coração de Jesus, que leva o nosso coração a unir-se profundamente a Ele, numa missão de compaixão pelo mundo Esta rede de oração, sobretudo paroquial e popular, é formada por centenas de milhares de «invisíveis»: pessoas que não aparecem nos meios de comunicação mas que, com a sua generosidade, fé profunda e oferecimento de vida e oração, levam a missão da Igreja por diante

A oração constitui uma dimensão invisível da nossa vida Muitas vezes pode ser esquecida porque não se veem imediatamente os seus frutos e a sua fecundidade. Tal como a semente na terra, também precisa de tempo… mas a sua fecundidade é imensa, como diz o Evangelho: produz trinta, sessenta e até cem por um (Mc 4, 20). A oração é essencial para a missão da Igreja.

Por outras palavras, como nos disse Francisco, a 28 de junho de 2019, na audiência com as delegações da Rede Mundial de Oração do Papa: «A oração é o coração da missão da Igreja»

Internacional Rede Mundial de Oração do Papa Artigo publicado na Civilta Cattolica em junho de 2019 Atualizado em dezembro de 2019

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Anexo dois

A Rede Mundial de Oração do Papa e os desafios na construção do Reino

No âmbito do processo de recriação desenvolvido ao longo de dez anos, foram envidados esforços constantes para construir uma linguagem comum que nos ajude a continuar a reforçar uma Rede Mundial ao serviço dos desafios da humanidade e da Igreja, capaz de convocar e de oferecer espaços de crescimento. Este processo e tudo o que nele se viveu cristalizou-se nos Estatutos aprovados por Francisco em 2018.

A pergunta que surge é: o que é que vem a seguir aos Estatutos? Alcançámos uma linguagem que nos identifique como Rede Mundial de Oração do Papa? Já está terminado o processo de recriação, tendo nós entrado agora numa nova etapa? No âmbito desta continuidade, gostaríamos de partilhar algumas reflexões

Em primeiro lugar, dizemos que a Rede Mundial de Oração do Papa encontrou, nos Estatutos, a formalização de uma nova maneira de ser e de estar, de uma nova estrutura, de um novo paradigma de ser, de estar, de vincular-se e de atuar Uma definição renovada que a identifica como nova modalidade e lhe abre a possibilidade de uma nova atuação no mundo, uma nova participação na rede e um novo estabelecimento de vínculos Os Estatutos dizem-nos o que é a Rede Mundial de Oração do Papa, qual é a sua configuração, as suas formas de participação, a sua missão e para onde se dirige. Aquilo que a define, a identifica e a faz ser o que é e não outra coisa. A partir da vivência ao longo do processo de recriação e olhando para um futuro que se nos abre a partir dos Estatutos, é conveniente tecer algumas reflexões que nos ajudem a consolidar a história e a abrir passagem ao futuro.

1 Contexto Quadro humano-existencial e evangélico da recriação

Apresentamos um quadro que ajude a entrar numa compreensão humano-existencial da recriação, iluminada por sua vez pelo Evangelho

Comecemos por afirmar que as atitudes, as decisões e as ações que empreendemos são resultado do significado que atribuímos à realidade que vivemos Por outras palavras, se estamos interessados em modificar as nossas atitudes e as nossas decisões, devemos rever o nosso modo de entender, sentir e interpretar a realidade como plataforma a partir da qual se desenvolvem os nossos comportamentos

Poderíamos dizer que as nossas atitudes são o resultado da forma como olhamos, sentimos e interpretamos as vivências que passam por nós, à nossa frente e dentro

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de nós.

Tentemos encontrar na vida de Jesus algum episódio que nos ilumine um pouco mais

Se tomarmos a passagem do Evangelho dos Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), podemos ver como Jesus utilizou este modo para ajudar os seus amigos a dar um novo significado à realidade que estavam a viver

Segundo o Evangelho, estes dois discípulos iam de Jerusalém para Emaús, com o semblante triste Tinham vivido com Jesus, tinham feito parte do grupo de amigos que o acompanharam durante a sua vida na terra, mas «o acontecimento da Cruz» tinha-os entristecido e provocado um sentimento de fracasso, pois eles tinham interpretado a Cruz como o fim da história com o seu Mestre.

Jesus sai-lhes ao encontro e questiona-os acerca daquilo «de que iam a falar enquanto caminhavam». E eles contam, sem o reconhecerem, o que tinham vivido, como se sentiam, e como toda a sua experiência chegara ao fim. Por outras palavras, falaram-lhe dos acontecimentos, dos sentimentos que esses acontecimentos tinham provocado neles e que interpretação eles próprios lhes davam

Na sua delicada pedagogia, Jesus corrige-os, embora sem os contradizer sobre os seus sentimentos e os acontecimentos por eles narrados; limita-se a «interpretar-lhes» as Escrituras naquilo que a Ele se referia, diz o Evangelho Quer dizer, Jesus apresenta-lhes um novo significado para o que tinha acontecido, dá-lhes um novo sentido para aquilo que estão a viver Diz Lucas que eles se interrogam: «Não ardia o nosso coração enquanto Ele falava?» É como se dissessem: «não mudaram os nossos sentimentos enquanto escutávamos Jesus a atribuir um significado diferente aos factos?»

Assim, quando Jesus os reinterpretou, lhes deu outro significado e uma nova perspetiva, um novo olhar com um sentido novo, os seus sentimentos de frustração mudaram: «ardia-lhes o coração», tanto e de tal maneira, que da atitude de fugir para Emaús, passaram à atitude de regressar à comunidade, para anunciar o sucedido. Mudando o significado, mudam os sentimentos e assim, também, as suas decisões e atitudes

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2. Rede Mundial de Oração do Papa. Quem somos?

Dêmos, juntos, mais um passo Que tem tudo isto a ver com a RMOP? Bem como dissemos, toda a experiência humana pode ser lida e interpretada a partir deste paradigma de acontecimento + atribuição de significado, que será a plataforma destinada a dar forma às nossas decisões e atitudes Também parece ter sido essa a pedagogia usada por Jesus com os Discípulos de Emaús

O Apostolado da Oração foi o resultado de uma experiência vivida por um grupo de estudantes da Companhia de Jesus que, juntamente com o seu formador, deram um novo significado, para eles e para o mundo, ao espírito missionário

Em 1844, um grupo de estudantes da Companhia de Jesus, desejosos de partir em missão, sentiram-se impedidos de satisfazer esse seu desejo, porque se encontravam numa etapa de estudo e formação relacionada com a sua vocação. Os seus sentimentos de frustração levaram-nos a sentir que a sua missão e a sua vocação missionária, próprias da Companhia, não se podiam concretizar, e que os estudos constituíam um obstáculo para tal fim. Perante esta situação, o seu formador propôs-lhes um novo sentido e um novo significado para a sua realidade; em termos evangélicos, poderíamos dizer que «lhes interpretou» a sua vivência de um modo diferente e assim conseguiu suscitar neles outras atitudes e decisões que, em suma, deram origem àquilo que, durante muitos anos, seria o Apostolado da Oração

Este sacerdote disse-lhes que podiam oferecer o seu estudo por todas as missões do mundo e esses pequenos deveres, renúncias, sacrifícios, diariamente oferecidos pelas missões e pelos missionários do mundo, durante aquela etapa de estudos, poderiam ser o seu valioso contributo para a vida de missão do mundo inteiro Disse-lhes que podiam ser missionários na sua vida quotidiana, através do cumprimento amoroso das suas obrigações de estado oferecidas com esse fim, sem saírem do lugar onde se encontravam. Assim nasceu e cresceu o Apostolado da Oração, a partir de uma reinterpretação do significado da vida quotidiana destes estudantes que, entusiasmados por este novo modo de olhar e sentir, fizeram da sua realidade uma oferenda às missões do mundo.

Esta experiência, que deu origem ao Apostolado da Oração, aconteceu em circunstâncias específicas de tempo, de lugar e de pessoas

Podemos dizer que aquele modo novo de interpretar a experiência dos referidos estudantes – que deu origem à criação do Apostolado da Oração e que, durante cento e setenta e cinco anos, constituiu uma experiência enriquecedora para a Igreja –, mobilizou milhões de pessoas para rezar pelas intenções confiadas mensalmente

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pelo Papa ao Apostolado da Oração. Assim, este serviço eclesial atribuído à Companhia de Jesus foi abrindo passagem através do mundo inteiro e encontrando caminhos – mediante várias modalidades e diversos meios –, para se unir em oração às intenções da Igreja

A centralidade da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a oração do Santo Rosário, a Hora Santa, a consagração ao Sagrado Coração de Jesus, a devoção das Primeiras Sextas-Feiras do Mês e tantas outras práticas têm sido, durante todo este tempo, ícones deste serviço que tanto bem tem feito à Igreja e que se enraizou em numerosos países do mundo

Todavia, a partir do ano 2009, o Apostolado da Oração iniciou um processo de busca de um novo modo de ser e estar no mundo como serviço eclesial, fundado nas mudanças verificadas no mundo ao cabo de todos estes anos. O mundo é outro, diferente do daquele tempo, a convivência humana mudou, o modo de ser e de estar das pessoas no nosso planeta é distinto, e a resposta que a Igreja encontrou no Apostolado no início não é a mesma de que o mundo necessita, hoje, nem a que a Igreja lhe quer dar Tornava-se necessária uma revisão de sentido e de significado perante este «sentimento institucional» de insatisfação, por assim dizer, relativamente à resposta que este serviço estava a dar não só à Igreja, mas à humanidade

Nesta busca de um novo sentido e significado que suscitasse novas decisões e atitudes deste serviço, no ano de 2015, entendemos que seria conveniente mudar-lhe o nome: de Apostolado da Oração, passou a ser Rede Mundial de Oração do Papa Esta mudança não supunha abandonar o caminho feito, mas adicionar novas realidades e meios que dessem resposta às novas leituras e significados das novas realidades que a Igreja, como titular do serviço, considerava oportuno oferecer ao mundo Hoje, além dos conteúdos históricos próprios do Apostolado da Oração, a RMOP incorpora novos conteúdos, novos meios de oração e mobilização, novas maneiras de ser e de estar na Rede e de colocar este serviço à disposição da Igreja e da humanidade.

O nome das coisas não é apenas uma questão de denominação: ao denominar, o nome também confere identidade e conteúdo à realidade; por isso, quando dizemos Rede Mundial de Oração do Papa, estamos a fazer alusão a uma realidade nova, que inclui a história e os antecedentes daquilo que foi, ao longo de cento e setenta e cinco anos, o Apostolado da Oração, acrescidos do resultado das novas decisões que a Igreja, encabeçada pelo Papa e nesta Rede de Oração, tem vindo a tomar, graças à presença do Espírito de Jesus, que habita na Igreja e nos inspira

A Rede Mundial de Oração do Papa é o Apostolado da Oração em toda a sua

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plenitude. O Espírito inspira-nos a continuar com a herança dos conteúdos do tradicional Apostolado da Oração, somando-lhes novas realidades que esperam ir dando resposta às necessidades do mundo e das pessoas de hoje, tal como há cento e setenta e cinco anos foi dada resposta à necessidade de missionar daqueles estudantes, crescendo, depois, como serviço eclesial

O Papa Francisco não só entendeu este processo, mas também o aprovou e apoiou, tendo pedido à equipa internacional que elaborasse novos Estatutos para sua aprovação

Assim, podemos dizer que somos a Rede Mundial de Oração para orar e mobilizarmo-nos pelos desafios da humanidade e da missão da Igreja, desafios esses que a Igreja nos apresenta através do Papa, inspirados pelo Espírito Santo, que nos convoca como seus discípulos e missionários seus

3. Qual é o estilo da Rede Mundial de Oração do Papa? Referência evangélica à construção do Reino e atualização do estilo de missão

Na Rede de Oração do Papa não atendemos os desafios de qualquer maneira, fazemo-lo com um estilo particular, que cultivamos entrando em sintonia com o Coração de Jesus Dando continuidade aos ensinamentos de Jesus, o nosso estilo cultiva-se através do vínculo pessoal a Jesus Cristo, na relação pessoal com Ele mediante a oração, tal como Jesus cultivou o seu estilo na relação pessoal que tinha com o Pai.

Muitos dos desafios que a Igreja nos propõe hoje são partilhados com outras instituições, ONGs e fundações, que também lhes tentam dar resposta, pois os desafios de que falamos são desafios que dizem respeito à Igreja e à humanidade Basta pensar que o desejo de que o mundo se torne mais justo e mais fraterno não tem que ver apenas com a religião, mas com a humanidade Contudo, nós tentamos viver e mobilizar-nos em prol destes desafios com um modo e um estilo que brotam da relação pessoal com Cristo, e não movidos apenas por um espírito humanitário Oramos e mobilizamo-nos pelos desafios que o Papa nos apresenta, porque vemos neles os desafios propostos por Jesus, atualizados segundo a nossa época Oramos e mobilizamo-nos pelos nossos irmãos, filhos de um Pai comum, tentando fitá-los com o olhar compassivo de Jesus

Procuramos cultivar o estilo do discípulo de Jesus que, em sintonia com o seu Coração compassivo, assume os desafios que a Igreja propõe na pessoa do Papa, compreendendo, com a sua inteligência, e anunciando, com as suas atitudes de vida,

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que os conteúdos propostos constituem desafios que constroem o reino de Deus.

Recordamos Santo Inácio, a propósito deste tema, quando ele, no ponto 93 do seu livro dos Exercícios Espirituais, imita o convite dirigido pelo Rei aos seus seguidores, utilizando a expressão «como eu», e diz que «quem quiser vir comigo, há de estar contente de comer como eu, e também de beber e vestir», em suma, seguir Jesus com o «seu» estilo O estilo de Jesus é o mesmo que nós devemos forjar

Assim, vamos entrando na dimensão apostólica da Rede de Oração do Papa, que não reduz a relação com o Coração de Jesus a uma relação intimista e particular, mas que a concebe como uma relação pessoal que «dá a conhecer ao mundo» o Coração de Jesus, através do seu estilo de vida A relação pessoal com Jesus, quando é autêntica, traduz-se, em toda a sua extensão, numa relação de saída para o mundo, de compromisso com as realidades do nosso tempo, de vida e ação de transformação. É uma relação pessoal, chamada a colaborar na missão de Jesus Cristo de construção do Reino.

Este apóstolo tem um estilo próprio, e é um estilo que vai melhorando, questionando e permeando as estruturas, disponível para colaborar na missão de Cristo na construção de um mundo mais humano e mais fraterno É o estilo de Cristo, o estilo do seu Coração compassivo e misericordioso

A vida do discípulo-apóstolo deve ser uma «alternativa» no mundo Uma vida que anuncia a possibilidade de se viver de outra maneira A vida do apóstolo deve ser uma alternativa capaz de pôr em questão, com uma tal magnitude e força, as estruturas hoje dominantes no mundo onde não há Reino, que permita aos que o vejam acreditar naquele por quem o apóstolo faz aquilo que faz

O discípulo-apóstolo da RMOP faz seus os referidos desafios na sua vida quotidiana, mediante a sua oração e as suas atitudes de vida nos contextos em que atua. Orar e mobilizar-se pelos desafios significa encarná-los e transformá-los em atitudes que construam o Reino. Pensemos, como exemplo, que quando nos propõem orar pelos irmãos perseguidos e martirizados, também o desafio nos propõe que revejamos as nossas «perseguições» quotidianas, quando as nossas atitudes perseguem e martirizam os nossos irmãos, e que as transformemos em atitudes capazes de construir o Reino

O desafio interpela a estrutura reinante, tornando patente uma atitude antirreino –como a perseguição e o martírio – e, ao mesmo tempo, está grávido de uma atitude própria do Reino Assim, a nossa missão, na hora de orar e de nos mobilizarmos em

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prol dos desafios, consiste em extrair a atitude evangélica do Reino, que o desafio proposto supõe Se contemplamos Jesus na sua vida, quando Ele nos relata, por exemplo, a passagem do Bom Samaritano, somos convidados a questionar a atitude daqueles que passam ao largo perante a dor e a extrair daí a atitude do Reino de nos comprometermos com o sofrimento do irmão

Cultivamos este desabrochar da atitude evangélica do Reino em sintonia com o Coração de Jesus (atitude do discípulo) e encarnando-a em atitudes quotidianas concretas (atitude do apóstolo) Assim, a vida do apóstolo constitui uma alternativa que desafia as estruturas antirreino dominantes

Se o Papa nos propõe, anualmente, doze desafios, quer dizer que somos chamados a cultivar doze atitudes evangélicas que, no âmbito das ideias que temos vindo a desenvolver, constituem doze atitudes inspiradas no Espírito de Jesus, que devemos aperfeiçoar nesta época.

Em suma, perante as atitudes antievangélicas reinantes, a missão é ser uma alternativa de vida, ser uma mensagem de que se pode viver no mundo a partir de outra perspetiva de vida, e não apenas segundo aquela que o mundo oferece hoje

Em suma orar e mobilizar as nossas vidas Orar diz respeito à atitude do discípulo, mobilizar diz respeito à atitude do apóstolo São duas dimensões do seguimento de Jesus interligadas, que se cultivam em conjunto

4. O que fazemos na RMOP? Oração, formação, serviço.

Cada atividade desenvolvida deve ser encadeada neste processo Algumas estão mais ligadas ao caráter de discípulo; outras, ao caráter de apóstolo

De discípulo, a maneira de rezar, os modos de orar, a adoração, a presença de Jesus na Eucaristia, a consagração ao Coração de Jesus, a aliança espiritual com o Coração de Jesus, com o seu estilo de vida, o trabalho de discernimento, as tentações do apóstolo no dia de hoje, as tentações mais comuns na vida quotidiana, os nove reptos, os nove pensamentos stressantes do apóstolo.

Trabalho de liderança: como liderar este desafio, como construir o Reino com outros. A liderança é isso: a liderança é comunidade

Os livros que sistematizem a produção da plataforma de oração CTP também devem estar em sintonia com este documento

5. Quais são os meios com que conta a RMOP para orar e se mobilizar em prol dos

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desafios que o Papa formula em cada mês?

Assim como, nas origens, o Apostolado da Oração foi encontrando meios para levar por diante a sua missão, hoje acrescentamos aos meios históricos novos meios

Podemos orar e mobilizar as nossas vidas contando com meios históricos atualizados, com novos sentidos, em muitos casos, e com novos meios desenvolvidos nesta nova época

O VÍDEO DO PAPA: É o meio pelo qual o Papa nos apresenta o desafio É um modo de comunicar, de dar a conhecer Por meio dos vídeos, todo o mundo se inteira de qual é o desafio de cada mês No vídeo mensal, o Papa mostra-nos o modo como a Igreja pensa e sente o desafio em questão e por isso o propõe É uma mensagem pessoal de Francisco, uma explicação em primeira pessoa, cara a cara, daquilo que preocupa o Papa.

CLICK TO PRAY: é a plataforma de oração do Papa que nos convida a percorrer este caminho, facilitando-nos a oração diária em sintonia com os desafios propostos. É uma maneira de os aprofundar diariamente, com propostas simples de oração que nos ajudem a sintonizar com Jesus, e atitudes concretas que nos convidam a cultivar atitudes evangélicas O CTP propõe viver o desafio em cada dia do mês, cultivando diversos aspetos, dimensões e atitudes do mesmo, através da meditação, reflexão, contemplação, atitude evangélica e exame do dia Ajuda-nos a rezar nos três momentos de oração, atentos ao sentido de cada um e à sua relação com a intenção de oração do mês

O CAMINHO DO CORAÇÃO: É o itinerário espiritual de formação que nos ajuda a entrar numa missão de compaixão pelo mundo Pode assumir a forma de seminário, retiro ou palestra Cada país escolhe como comunicar e compartilhar este Caminho do Coração, que é uma forma de entrar em sintonia com o Coração de Jesus e de sair ao encontro dos irmãos Atualmente também é uma plataforma digital de oração

MOMENTOS DE ADORAÇÃO: é o cultivo do encontro pessoal com Jesus na Eucaristia, na sua presença real eucarística. Um modo de cultivar o amor pela presença eucarística de Jesus e que é o centro do nosso carisma. A Eucaristia é a entrega do Filho que quis ficar connosco, convite a que nos tornemos pão partido e repartido pelos outros. É convite a sair ao encontro dos irmãos. Estar com Jesus ali, para Ele, para que nos inunde com a sua presença e nos inspire a saída em direção aos irmãos

CONSAGRAÇÃO OU ALIANÇA PESSOAL: é uma resposta de maior entrega e serviço ao amor do Pai, para «consagrar a nossa pessoa» a fim de que seja oferenda viva com o Filho e colabore com Ele na sua missão de compaixão Hoje tentamos que a consagração seja o resultado de um processo de amadurecimento no compromisso apostólico, de tal modo que quem desejar consagrar-se tenha discernido o objeto do compromisso, tarefa ou missão e o seu lugar de realização, consagrando o resultado

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dessa decisão ao Coração de Jesus. A pessoa compromete-se a levar por diante a missão discernida, segundo o estilo de Jesus

Anexo três

São Francisco Xavier, um homem de grandes desejos

«Ouvi dizer ao nosso grande modelador de homens, Inácio, que a pasta mais dura que tinha passado pelas suas mãos foi, nos começos, o jovem Francisco Xavier, do qual, no entanto, Deus se valeu mais do que de nenhum outro do nosso tempo (…) para tomar posse de quase uma quarta parte do mundo para a cruz de seu Filho» (F

Francisco Xavier era um atraente jovem biscainho, amigo íntimo de Iñigo (Inácio) de Loiola, a quem conheceu enquanto estudava na Universidade de Paris O jovem Francisco, juntamente com mais cinco homens e pela mão de Iñigo, consagrará a sua vida ao serviço do Senhor, com votos de obediência, pobreza e castidade: semente de entrega que, anos mais tarde, dará origem à Companhia de Jesus

Francisco era um jovem presunçoso, de grandes ambições, a quem Inácio lembrava, com frequência, nas suas conversas de amizade: «Francisco, Francisco de que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se perde a sua alma?» Esta amizade, forjada nas aulas da universidade, transformou a vida de Francisco Xavier para sempre. Realizou os seus Exercícios Espirituais sob o acompanhamento de Inácio e neles sentiu a mão do Senhor que tira do barro o seu escolhido e o consagra ao serviço do Reino. A partir desse momento, tudo na sua vida tomará outra cor e outra orientação, pois toda a sua atividade será guiada por um único desejo que tudo ordena: dar a Deus a maior glória possível, e a sua única preocupação será escolher onde poderá servir mais a Deus nosso Senhor

A conversão de Francisco Xavier, amassada por Jesus através de Inácio no crisol da amizade e dos Exercícios Espirituais, tocou o mais íntimo dos seus desejos e das suas ambições Este santo varão experimentou a morte desse «homem velho» vaidoso e cheio de si, que gostava de ser admirado e elogiado pelos seus pares e alunos, na Universidade de Paris; e viu nascer uma «pasta» nova de apóstolo enamorado do projeto de Jesus Na experiência desta morte, surge a figura do Senhor e, com ela, o seu caráter e temperamento transfigurados e os seus desejos evangelizados

O ambicioso Francisco Xavier vai-se transformando, assim, num homem de desejos e de profunda oração. No deserto da oração, descobre que não há limites para Deus e

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que os horizontes do mundo que ambicionava conquistar ficavam reduzidos a nada perante os desejos místicos de conquistar o mundo para o Senhor Francisco Xavier descobre que os seus desejos místicos são habitados pelos desejos do próprio Deus

Francisco Xavier levou, gravado a fogo no seu coração, o «sempre mais» de Santo Inácio, o maior serviço, a maior entrega, o bem mais universal, para servir somente a maior glória de Deus nosso Senhor Estes desejos impeliram-no para as fronteiras de missão mais longínquas e mais extremas, no Japão e na Índia, e a viver em condições de pobreza e de austeridade impensáveis Este apóstolo manifestava que a força para a sua missão lhe vinha de Deus e não das suas forças humanas

Aconselhava os noviços do Japão: «Lembrai-vos sempre que Deus tem mais em conta a boa vontade cheia de humildade com que os homens se oferecem a Ele, fazendo oblação das suas vidas somente pelo seu amor e glória, do que aprecia e estima os serviços que lhe fazem, por muitos que sejam» (5 de novembro de 1549).

Francisco Xavier é o padroeiro da Rede Mundial de Oração do Papa, apóstolo missionário comprometido com a missão de Cristo Desde a conversão do seu coração ao Coração de Jesus, viveu somente para Cristo e para levar a Boa Nova aonde esta ainda não era conhecida Comprometeu-se até ao ponto de dar a vida na missão que lhe tinha sido encomendada por Inácio, deixando-se guiar sempre pelo amor pessoal que sentia de Jesus e pela amizade com o Mestre

A relação com Jesus levou-o até onde não tinha imaginado, transformou os seus desejos de conquistar o mundo e o seu ímpeto juvenil em desejos do Reino e frutos de evangelização A sua entrega e a sua disponibilidade incondicional a Cristo tornaram fecunda a missão do seu Mestre

Peçamos a Francisco Xavier que nos enamoremos de Jesus como ele o fez, para que todos os nossos desejos cobrem sentido num único grande desejo de servir somente a Cristo, colaborando com Ele onde mais ajudemos a sua missão de compaixão pelo mundo. Que São Francisco Xavier vele pela missão da Rede Mundial de Oração do Papa.

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Anexo quatro

Teresinha de Lisieux, a grandeza do pequeno

Se alguma coisa carateriza esta Santa, é que não se conformou com pouco: quis todo o amor do Senhor, para o transmitir aos homens O P Kolvenbach, superior geral dos Jesuítas, declarou que o Apostolado da Oração beneficiaria se percorresse o caminho de Santa Teresa de Lisieux, «feito de oração, caridade, humildade e simplicidade evangélica, oferecendo-se em cada dia, no Coração da Igreja, pela vida do mundo».

Ela quis «ser filha da Igreja e orar pelas intenções do Santo Padre, sabendo que as intenções deste abraçam o universo» Precisamente por isso, continua hoje a colaborar, mais do que nunca, nesta Rede de Oração do Papa pela missão da Igreja Esta Santa, aos doze anos, já participava com os seus pais no Apostolado da Oração, que, antes da criação da Cruzada Eucarística, era o que mais se assemelhava a ser membro do Movimento Eucarístico Juvenil, ramo juvenil da Rede Mundial de Oração do Papa

Numa das suas cartas, Santa Teresinha manifestou que rezava pela missão da Igreja e pelas intenções da Oração do Santo Padre Como membro do Apostolado da Oração, vivia profundamente a sua espiritualidade, orientada para o assumir dos gestos de compaixão do Coração de Cristo, que sai ao encontro do que sofre curando as suas feridas e resgatando os que «estão estendidos nas sarjetas da existência».

A compaixão de Jesus ao serviço dos desafios da humanidade, vivida no oferecimento quotidiano da sua vida, longe de todos os olhares, foi o que Santa Teresa do Menino Jesus soube encarnar: «Entendi que somente o amor impulsiona a agir os membros da Igreja e que, se faltasse este amor, nem os apóstolos anunciariam o Evangelho, nem os mártires derramariam o seu sangue Reconheci claramente e convenci-me que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, que abarca todos os tempos e lugares; numa palavra, que o amor é eterno Então, cheia de uma alegria transbordante, exclamei: "Ó Jesus, meu amor, por fim encontrei a minha vocação: a minha vocação é o amor Sim, encontrei o meu próprio lugar na Igreja, e este lugar é o que tu me assinalaste, meu Deus No coração da Igreja, que é minha mãe, eu serei o amor; deste modo serei tudo, e o meu desejo ver-se-á consumado"»

Teresinha tinha consciência de que, vivendo o ordinário de forma extraordinária, seria tão missionária como aquele que entregava a sua vida em países remotos Ela não queria dar ponto sem nó, desejava que «o martírio da vida quotidiana» não fosse em vão e servisse para colaborar na missão de Cristo e da sua Igreja em favor dos

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desafios da humanidade. «Jesus não olha tanto à grandeza das obras, nem tampouco à sua dificuldade, mas sim ao amor com que tais obras se fazem» Deste modo, estava sempre voltada para Deus e para os que estavam a seu lado, em quem via o rosto de Cristo O amor do Coração de Jesus impulsionou-a a viver a espiritualidade do pequeno de cada dia de forma grande, através de gestos visíveis ou invisíveis, traduzidos na oferta da sua vida, da sua oração e da sua ação O seu amor ultrapassou as paredes do seu mosteiro e estendeu-se universalmente, atravessando mesmo as barreiras do espaço e do tempo Por isso, foi proclamada padroeira das missões e, mais tarde, da Rede Mundial de Oração do Papa em favor dos desafios da humanidade

Se há alguém que nos precede neste Caminho do Coração que somos chamados a percorrer, é a «Pequena Grande Teresa», que nos convida, hoje, a continuar a sair da «globalização da indiferença», para levar ao mundo inteiro a força curativa e salvadora do Coração do Ressuscitado sem necessidade de viajar muito mas, pelo contrário, mantendo-nos ali onde Deus nos colocou. A ela nos encomendamos para viver esta missão.

Anexo cinco

Encontro internacional da Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração), por ocasião do seu 175º aniversário

DISCURSO DO SANTO PADRE FRANCISCO

Salão Paulo VI, Sexta-Feira, 28 de junho de 2019

Queridos irmãos e irmãs:

Obrigado pela visita Aproveito esta oportunidade para vos reiterar a minha gratidão pelo vosso compromisso de oração e apostolado em favor da missão da Igreja

Agradeço-vos também os testemunhos, que já tinha lido, pois de outra forma não teria entendido o chinês Por isso responderei, mais ou menos, ou darei continuidade à reflexão de todos vós O serviço que prestais é um serviço necessário, pois sublinha a primazia de Deus nas vidas das pessoas, favorecendo a comunhão na Igreja

1 O padre Matthew, que trabalha em Taiwan, comunicou-nos informações interessantes sobre a versão de Click To Pray em chinês É bonito saber que os chineses, para lá das suas dificuldades de diversos tipos, se podem sentir realmente unidos na oração, encontrando nela um apoio válido para o conhecimento e o testemunho do Evangelho. A oração desperta sempre sentimentos e pensamentos

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de fraternidade, quebra barreiras, supera fronteiras, cria pontes invisíveis mas reais e efetivas, abre horizontes de esperança

2 Marie Dominique contou-nos sobre a missão do Apostolado da Oração em França, onde esta realidade surgiu há cento e setenta e cinco anos Com o seu testemunho, entendemos que as intenções de oração tornam concreta a missão de Jesus no mundo A Igreja, através da sua rede de oração e das intenções que propõe em cada mês, fala aos corações dos homens e mulheres do nosso tempo Todos nós, pastores, consagrados e fiéis leigos, somos chamados a penetrar na história concreta das pessoas que estão ao nosso lado, sobretudo rezando por elas e assumindo, na oração, as suas alegrias e os seus sofrimentos Assim, responderemos ao apelo de Jesus que nos pede que abramos os nossos corações aos irmãos, de modo especial aos que são provados no corpo e no espírito. É importante falar dos irmãos, mas há duas maneiras de falar deles: bendizer os irmãos, que é falar bem deles, ou mexericar, falar mal deles. Mexericar, neste sentido, é mau, não é próprio de Jesus. Jesus nunca mexericava. Falava, isso sim. E a oração é falar a Jesus sobre os irmãos, dizendo: «Senhor, peço-te por este problema, por esta dificuldade, por esta situação…». Trata-se de um caminho de união, de comunidade Falar mal dos outros, pelo contrário, é um caminho de destruição

3 É bom, neste dia da solenidade do Sagrado Coração de Jesus, recordar o fundamento da nossa missão, como fez Bettina (Argentina) Trata-se de uma missão de compaixão pelo mundo, poderíamos dizer um «Caminho do Coração», quer dizer, um itinerário de oração que transforma as vidas das pessoas O Coração de Cristo é tão grande que deseja acolher-nos a todos na revolução da ternura A proximidade do Coração de Jesus anima os nossos corações a aproximarem-se, com amor, do irmão, e ajuda-nos a entrar nesta compaixão pelo mundo Somos chamados a ser testemunhas e mensageiros da misericórdia de Deus, a oferecer ao mundo uma perspetiva da luz onde há trevas, de esperança onde reina o desespero, de salvação onde abunda o pecado. Entrar em oração é entrar com o meu coração no Coração de Jesus, abrir um caminho dentro do Coração de Jesus, daquilo que Jesus sente, dos sentimentos de compaixão de Jesus, e também fazer uma viagem dentro do meu coração para o mudar nesta relação com o Coração de Jesus.

4 O testemunho da Irmã Selam (Etiópia) com os jovens do Movimento Eucarístico Juvenil ajuda-nos a contemplar a ação do Espírito Santo nessa terra É importante ajudar as novas gerações a crescer em amizade com Jesus através de um encontro íntimo com Ele na oração, na escuta da sua Palavra, aproximando-nos da Eucaristia para nos tornarmos dom de amor ao próximo A oração pessoal ou comunitária anima-nos a dedicarmo-nos à evangelização e impele-nos a procurar o bem dos

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outros. Devemos oferecer aos jovens oportunidades de interioridade, momentos de espiritualidade, escolas da Palavra, para que possam ser missionários entusiastas nos seus diversos ambientes Assim descobrirão que rezar não os separa da vida real, mas os ajuda a interpretar os acontecimentos existenciais à luz de Deus Ensinar as crianças a rezar Dói-me muito quando vejo tantas crianças que nem sequer se sabem benzer Digo: «Faz o sinal da cruz» e fazem assim [um gesto confuso] Não sabem Ensinai as crianças a rezar, porque elas chegam logo ao Coração de Jesus Jesus quer-lhes bem E, aos jovens, ensinai que a oração é um grande caminho para seguir em frente na vida Obrigado, irmã, pelo que faz Obrigado

5 Gostei de ouvir o entusiasmo do Diego (Guatemala) por favorecer o encontro entre avós e netos, em oração pela paz no mundo e pelos grandes desafios da humanidade de hoje. Várias gerações se encontram na Rede de Oração do Papa; é bom pensar que os avós podem dar exemplo aos jovens, aconselhando-os a caminhar pela senda da oração. A sabedoria dos idosos, a sua experiência e a sua capacidade de «raciocinar» com o coração. Alguém poderia dizer: «Mas, padre, raciocina-se com a cabeça». Não, não é verdade: raciocina-se com a cabeça e com o coração, é uma capacidade que precisamos de desenvolver Capacidade de raciocinar com o coração E estas experiências dos idosos constituem um ensinamento precioso para se aprender uma metodologia fecunda na oração de intercessão A intercessão é uma grande oração: «Senhor, peço-te por este, por aquele, por aqueloutro » Interceder é o que Jesus faz no Céu, porque a Bíblia diz-nos que Jesus está diante do Pai e intercede por nós, é nosso intercessor, e nós devemos imitar Jesus, ser intercessores Ao longo da história, os maiores homens e mulheres de Deus foram intercessores como Jesus Intercedei

6 Finalmente, obrigado ao Padre António (Portugal) Contou-nos como o Apostolado da Oração, entrando no mundo digital, aproxima idosos e jovens, ajudando-os a dar nova vitalidade ao apostolado tradicional da oração. É preciso que a missão da Igreja se adapte aos tempos e utilize as ferramentas modernas que a técnica coloca à sua disposição. Trata-se de entrar no areópago moderno para anunciar a misericórdia e a bondade de Deus. Contudo, é preciso estarem atentos quando utilizam estes meios, sobretudo a Internet, para não se transformarem em seus escravos. Devemos evitar converter-nos em reféns de uma rede que nos aprisiona, em vez de «pescar peixes», quer dizer, de atrair almas para as levar ao Senhor

Renovo o meu sincero agradecimento a cada um de vós pela sua preciosa atividade, que brota de um coração verdadeiramente atento aos outros O Apostolado da Oração, com a sua Rede Mundial de Oração do Papa e em comunhão com ele, recorda que o coração da missão da Igreja é a oração Prestai atenção: o coração da

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missão da Igreja é a oração. Podemos fazer muitas coisas, mas sem oração não funciona O coração é a oração Animo-vos a continuar com alegria na consciência do vosso trabalho Ajudais as pessoas a fixar um olhar espiritual, um olhar de fé sobre a realidade que as rodeia, para reconhecer o que o próprio Deus realiza nelas É um grande olhar de esperança! Obrigado

Também gostaria de agradecer à Companhia de Jesus Julga-se que os Jesuítas são os intelectuais, os que pensam Mas foram os Jesuítas que criaram esta rede de oração Os Jesuítas são homens que rezam, e isso é grande E depois, de uma maneira especial, gostaria de agradecer a dedicação e a criatividade do Padre Fornos: obrigado, irmão!

Agora, teremos um momento de oração, todos juntos, para indicar a sua importância e para interceder, unânimes, dirigindo-nos a Jesus. Em primeiro lugar, fá-lo-emos todos em silêncio; cada um reza no seu coração.

E agora, rezemos pelas intenções que propus a toda a Igreja para o mês de julho:

«Oremos pelos sacerdotes, para que, com a sobriedade e a humildade das suas vidas, se empenhem numa solidariedade ativa, especialmente em favor dos pobres» Todos juntos dizemos: «Oremos» E, em silêncio, rezamos

«Oremos para que todos os que administram a justiça trabalhem com integridade, e para que a injustiça, que corre pelo mundo, não tenha a última palavra» Oremos

Boletim do Gabinete de Imprensa da Santa Sé, 28 de junho de 2019.

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Anexo seis

A Rede Mundial de Oração do Papa, uma participação na dinâmica do Coração de Jesus

Iniciámos a recriação do Apostolado da Oração há quase dez anos São processos espirituais longos que não dependem das nossas forças ou capacidades, mas da nossa disponibilidade para o Espírito do Senhor, pois é Ele que conduz. Esta recriação foi necessária para que este tesouro espiritual da Igreja se possa comunicar a mais pessoas, em particular às novas gerações, e também para que sejamos mais fiéis à missão que a Santa Sé nos confia desde finais do século XIX. A nossa missão é orar e viver os desafios da humanidade e da missão da Igreja expressos nas intenções de oração do Papa Isto não é possível sem uma profunda comunhão com o Coração de Jesus; por isso, propomos aos que querem fazer parte desta Rede um itinerário espiritual, o Caminho do Coração, que leva o nosso coração a estar profundamente unido ao Coração de Jesus, numa missão de compaixão pelo mundo

Este processo de recriação não transforma o Apostolado da Oração numa realidade completamente nova ou diferente; ajuda-nos a aprofundar ainda mais a fidelidade ao Coração de Jesus. Muitas vezes geram-se mal-entendidos relacionados com medos e inseguranças Isto é normal e expectável, pois nestes processos é difícil compreender a seguinte dinâmica: a continuidade está associada à novidade. Quer dizer que o novo vem dar continuidade ao que já existe. Não é o que diz Jesus, quando fala do pano novo no vestido velho (Mc 2, 8-22)? Como nos mostra o Evangelho, há sempre mal-entendidos quando o Espírito do Senhor faz coisas novas.

O atual processo de recriação levado por diante e conduzido pelo Espírito do Senhor encontra a sua fonte na reforma levada a cabo pelo Padre Henri Ramière, em 1861 Este sacerdote jesuíta teve de imprimir um novo dinamismo ao Apostolado da Oração, explicando aos seus membros que a devoção ao Coração de Jesus fazia parte do caminho proposto Com a publicação da primeira revista do Mensageiro do Coração de Jesus, convidou a orar pelas intenções do Coração de Jesus A partir de 1879, estas intenções passaram a ser formuladas, em cada mês, pelo Papa e confiadas ao Apostolado da Oração Através deste convite, Ramière tornou patente que esta oração era apostólica e aberta ao mundo e que, mediante a Oração de Oferecimento, nos unimos ao Coração de Jesus, ao serviço da sua missão

A oração apostólica ou missionária é uma oração que nos predispõe para a missão de Cristo na nossa vida quotidiana. Pela oração de oferecimento, tornamo-nos

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disponíveis para cumprir a sua missão. Esta atitude de disponibilidade interior para a missão é abertura do coração e docilidade ao Espírito do Senhor Por isso, o título do documento de recriação do Apostolado da Oração recebeu o nome de «Um caminho com Jesus, em disponibilidade apostólica» Aquilo a que o Padre Ramière chamava de «oração e zelo» (no sentido de cuidado, diligência, compromisso) pelo reino de Cristo, hoje denominamos «oração e ação», pois a verdadeira oração dispõe-nos para a ação, abrindo-nos aos outros e ao mundo

Ramière sintetizou o Apostolado da Oração em três caraterísticas: «[a] a oração, como meio universal de ação; [b] a associação, como condição necessária para que a oração seja eficaz: [c] a união com o Coração de Jesus, como fonte de vida para a associação»

Ao que se chamava «associação» hoje chamamos-lhe «rede», palavra que exprime melhor a intenção original. Ramière explicava-o claramente, ao dizer que «não é uma associação como outra qualquer nem uma obra nova que se viria a somar às já existentes, mas uma nova ligação que une todas as associações eclesiais numa mesma perspetiva», orientada para a missão da Igreja (Ver publicação L’Apostolat de la Prière, 1861). A sua expressão de que o Apostolado da Oração era a «Santa liga de corações cristãos unidos ao Coração de Jesus» equivale à expressão atual «uma rede de corações unidos ao Coração de Jesus»

Esta rede de corações é a Rede Mundial de Oração do Papa, à qual o Santo Padre confia as suas intenções de oração, que exprimem os desafios da humanidade e da missão da Igreja Desafios que são fruto do seu olhar e discernimento universais e que correspondem às intenções do Coração de Jesus Fazer parte desta Rede de Oração torna-nos mais disponíveis para cumprir a missão de compaixão de Jesus pelo mundo, a entrar na dinâmica do Coração de Jesus

Todo o processo de recriação pode criar mal-entendidos, tensões e medos O importante é pôr a nossa confiança no Senhor, pois é Ele quem nos conduz. A Rede Mundial de Oração do Papa é essencial para a missão da Igreja, pois não há missão, dócil ao Espírito, sem oração. Hoje como ontem, o Senhor transmite-lhe o seu fogo, o fogo do seu Coração.

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