Oficina de Teatro - TPE | Alice de Jesus Santiago

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1. Nome e espaço cultural de atuação

Antes de começar… um respiro. Peço licença para me apresentar!

“Povoada

Quem falou que eu ando só?

Nessa terra, nesse chão de meu deus Sou uma mas não sou só” (Povoada - Sued Nunes)

Alice Santiago é atriz, produtora cultural, pernalta e percussionista. Nascida e criada no Jardim Ângela, bairro periférico no extremo sul da cidade de São Paulo, sempre teve a certeza de que seu caminho era ser uma trabalhadora da arte e da cultura, antes mesmo de saber que trabalhar com arte e cultura era trabalho. E assim como a grande maioria dos jovens que atuam nesta política pública, e que são trabalhadores da arte e da cultura, ainda se encontra num lugar de entender quais as possibilidades de se trabalhar com arte e cultura no Brasil, em São Paulo, em 2022, em meio a uma (ainda) pandemia.

É formada em Técnico em Teatro pela instituição SENAC/SP (2018) e em Produção Cultural pela mesma instituição (2020). Integra desde 2018 o Coletivo Charanga Pindorama, integra atualmente o Coletivo Error 404, integrou a Cia de Artes do Baque Bolado como pernalta, percussionista e intérprete-criadora em diversos espetáculos. Atuou em espetáculos teatrais e musicais como artista convidada. Gosta de brincar com as possibilidades e encontros entre as linguagens artísticas, de brincar a cultura popular e de tocar em muitos blocos de carnaval de rua. Em 2022 está feliz demais em integrar o núcleo de pesquisa em Teatro e Rua da Escola Livre de Teatro de Santo André, e acredita que é possível criar arte com luta, responsabilidade e afeto.

RELATÓRIO FINAL - PAC: OFICINA DE TEATRO - TPE
Alice Santiago - Teatro Paulo Eiró

2. Apresentação do PAC

O PAC e PIAC “Oficina de Teatro TPE” foi realizado em parceria, sendo um braço do PIAC da jovem monitora continuísta Tati Limão. Tati Limão é formada em Letras na Universidade de São Paulo e se interessa por linguagens artísticas variadas. Achamos interessante juntar as vontades e saberes (e não saberes) de uma atriz e de uma letróloga para que juntas pudéssemos desbravar os caminhos de estruturar uma oficina de teatro que dialogasse com a juventude do território.

Este projeto estava previsto para acontecer presencialmente do dia 04/05 ao dia 29/06 durante as quartas-feiras, totalizando 8 encontros. A oficina propunha desde um tour pelo teatro e pela praça do teatro onde está localizado o painel “Homenagem às Artes” de Júlio Guerra até vivências práticas com exercícios e jogos teatrais que dialogassem com temas como: feminismo, sexualidade, respeito às diferenças, respeito à individualidade, que eram temáticas ligadas ao que os alunos estavam trabalhando na escola.

O projeto contou não somente como a parceria entre as duas jovens monitoras culturais, mas também com a parceria temporária e acompanhamento da professora Ana Paula, professora de sociologia da EMEFM Professor Linneu Prestes, escola que está localizada ao lado do Teatro Paulo Eiró.

3. Qual o objetivo do PAC

Este PAC (Plano de Ação Cultural) tinha por objetivo proporcionar uma vivência de teatro aos adolescentes estudantes da EMEFM Professor Linneu Prestes, para promover o sentimento de pertencimento deste e de outros equipamentos públicos aos alunos, fomentando assim, a apropriação e utilização dos equipamentos culturais da cidade. O nosso desejo era que durante a oficina, os laços entre os alunos e o Teatro Paulo Eiró se estreitassem a ponto de que de maneira natural, esses estudantes tivessem vontade de visitar o teatro com mais frequência, assistir os espetáculos, e utilizarem mais a praça como espaço de convivência e não somente como espaço de passagem.

Entendemos que as relações afetivas com os espaços da cidade estão diretamente ligados às nossas vivências como pessoas de direito à cidade, bem como à formação de público dos equipamentos de cultura, sendo assim, entendemos que trabalhando com este coletivo (escola) e fortalecendo o entendimento dos estudantes enquanto indivíduos que merecem ser escutados, poderíamos também dialogar com eles sobre a necessidade de parar, respirar, observar o tempo das coisas para depois agir, pensando também em como essa curta vivência em teatro poderia impactar no dia a dia desses estudantes, uma vez que os mesmos são diretamente impactados pela necessidade de apressar as coisas, e pela impaciência gerada com o avanço da internet.

4. O que motivou a escolher a linguagem ou tema

O PAC/PIAC “Oficina de Teatro TPE” foi motivado a princípio pela observação dos nossos interesses comuns no dia a dia da atuação prática no equipamento. A partir desse encontro, observamos as dificuldades também do território, que acaba sendo um lugar de passagem, de trabalho e não visto como espaço de lazer. Partindo desse ponto, pensamos que seria de grande valia, executar algo que visasse suprir - ainda que em pequena escala - a demanda por opções gratuitas de experimentação em teatro para jovens na região de Santo Amaro. Como opções gratuitas, existem o Centro Cultural Santo Amaro e a Casa de Cultura Manoel Mendonça que já oferecem oficinas teatrais. Porém, como constatado em pesquisa, um grande número dos jovens que estudam em Santo Amaro não conhecem os espaços públicos culturais, mesmo os que se interessaram por frequentá-los. Sendo assim, em parceria com a professora de sociologia Ana Paula da EMEFM Linneu Prestes, escolhemos fazer uma oficina fechada, trazendo 30 alunos do 1° ano do ensino médio até o Teatro Paulo Eiró para realizar uma oficina teatral com duração de oito encontros. O diferencial das "Oficinas de Teatro TPE" é que a parceria com a escola faz com que essa vivência seja oferecida para todos os adolescentes da turma, enquanto as demais são apenas para interessados. Partimos do pressuposto que o aluno não sabe se gosta de teatro se ele não experimentou antes e não tem o hábito de frequentar espetáculos, trazendo assim uma possibilidade de solução para esta problemática.

5. O que já foi realizado

Dos 8 encontros previstos, realizamos 3. O projeto foi interrompido após o terceiro encontro com os alunos/alunas/alunes por iniciativa da professora que os acompanhava nas atividades. A mesma alegou que gostaria de seguir o projeto sozinha não possibilitando um encontro com ela ou com os alunos/alunas/alunes para conversarmos sobre o processo. Infelizmente o projeto não aconteceu da maneira como gostaríamos, mas posso afirmar que até mesmo os grandes contratempos trazem aprendizados. E neste caso, o que me tranquilizou foi saber que estava em um processo onde não era necessário acertar o tempo todo.

Os 3 encontros que tivemos foram muito positivos, e estávamos aos poucos conseguindo nos aproximar dos estudantes. Todos foram acolhedores conosco, nos escutavam quando estávamos dialogando, e se sentiam confortáveis individualmente também para nos dizer quando não estavam afim de fazer x exercício. Grande parte do nosso planejamento foi realizado, mesmo que em pouco tempo, e com a finalização precoce da oficina.

1º dia: Conseguimos realizar o tour pela praça, pelo teatro, conversamos sobre a estrutura do teatro, sobre o funcionamento e processos para utilização do espaço, e o Calício (nosso técnico de luz da casa) conseguiu dar um showzinho de luz que cativou a todes. O tour realmente foi algo que impressionou muito todos eles. Foi importante que eles estivessem naquele dia sozinhos visitando o espaço, descobrindo cada parte do Teatro Paulo Eiró, os detalhes escondidos que nós só descobrimos no dia a dia, os olhos brilhavam, o teatro foi tomado por gargalhadas, cochichos, e passos apressados de quem tem pressa de descobrir o mundo. Apesar do frio e da chuva, foi um dia prazeroso.

2º dia: Eles chegaram atrasados por causa do deslocamento entre a escola e o teatro. Os alunos estavam bastante enérgicos e falantes. Propusemos uma apresentação misturada com percussão corporal, em roda, e em formato com um beat “fácil” (fácil aqui entre aspas, pois não é possível medir a facilidade ou dificuldade de cada indivíduo). A apresentação foi uma parte que eles gostaram bastante, mas teve que ser adaptada pela versão de falar apenas o nome dentro do beat. A maioria teve medo de tentar. É difícil mantê-los focados no exercício. Talvez uma saída seja fazer exercícios mais rápidos, que requeiram agilidade e atenção. Há uma dificuldade de se apropriar dos movimentos e de comprar as propostas.

3º dia: Foi um dia em que pensamos em uma aula mais trabalhada, com nuances de intensidade, com exercícios que variariam entre agitados e mais lentos, para observarmos como os estudantes reagiriam, e qual formato agradava mais. Infelizmente não conseguimos fazer a maior parte do que foi proposto no roteiro. A professora passou cerca de 40min do encontro conversando com os alunos/alunas/alunes sobre comportamentos que não necessariamente tinham a ver com a oficina e falando de sua experiência. A conversa teve pontos interessantes, mas acabou tomando muito tempo e só conseguimos fazer alguns exercícios básicos no final da oficina, pois após a conversa, a professora propôs um exercício.

6.

Histórico de desenvolvimento (O que mudou no PAC desde o Planejamento à realização)

O projeto iniciou com reuniões internas, Tati e eu pensando juntas o que gostaríamos de fazer e quais eram as opções viáveis. Pensamos primeiramente em oficinas para mulheres, mas fomos atravessadas pela realidade com a dificuldade de encontrar horários possíveis no nosso equipamento, que fizessem sentido para o público de mulheres que gostaríamos de atingir.

Depois decidimos aproveitar a proximidade geográfica com a EMEF Linneu Prestes, já tínhamos também contato com o coordenador do EJA, que eu havia a algum tempo feito parceria para levar os alunos do EJA aos espetáculos que acontecem às sextas-feiras durante a noite. Isso foi um facilitador e uma porta de entrada para um contato mais direto com a professora de sociologia, que já sabíamos que gostava de propor atividades fora do espaço sala de aula aos estudantes.

A partir daí fizemos uma reunião com a professora no Teatro Paulo Eiró, na presença de nosso gestor Geondes, explicamos sobre o Programa Jovem Monitor Cultural, sobre o PAC/PIAC e sobre nossa vontade de executar essa oficina com/para eles. Ela gostou muito, e disse também que já fazia algum tempo que queria fazer algo em parceria com o Teatro, pois os alunos tinham muita disposição e facilidade com várias linguagens artísticas, mas precisavam de um direcionamento mais objetivo.

Passamos a conversar sobre agendas e disponibilidades, isso foi um longo processo, pois a professora precisaria mudar sua escala na escola, e trocar aulas com outros professores, ao fim, tudo deu certo, e conseguimos iniciar no dia 04/05/2022 com 27 estudantes + a professora. O número previsto de alunos era 30, mas 3 alunos não participaram dos encontros segundo a professora, pois alguns não tinham comprovante de vacina, e eventualmente algum aluno ficava na escola por mau comportamento.

Muita coisa mudou entre o planejamento e o desenvolvimento do projeto. Principalmente as expectativas. Foi importante observar e valorizar o processo de criação do projeto, pensar cuidadosamente em cada detalhe, mas também aproveitar que esse projeto possibilitava alterações no meio do percurso e principalmente, entender mais uma vez que não é possível abraçar o mundo e que fazer escolhas automaticamente trazem renúncias de outras boas ideias, e está tudo bem.

7. O impacto do PAC no Espaço Cultural e/ou no Território

Um acontecimento incomum…

O impacto da Oficina de Teatro TPE é um impacto pequeno, mas ainda assim, muito grande. O Espaço Cultural em si foi transformado, mesmo que em pouco tempo, pois fizemos um trabalho interno de entender e acolher junto com a equipe de seguranças a chegança desses estudantes - um acontecimento incomum: pessoas jovens, em bando, adentrando em um dia de semana um equipamento cercado de barreiras físicas (vidros transparentes cercam as entradas do Teatro).

Mesmo que pouco, sabemos que os estudantes foram transformados, infelizmente ainda não os recebemos espontaneamente indo assistir algum espetáculo, mas as tentativas não pararão por aqui. Um dia desses, encontrei 3 dos estudantes juntos andando na rua, e mesmo depois de alguns meses, eu ouvi de longe, do outro lado da rua “...olha lá, a Alice do Teatro Paulo Eiró”. Atravessei a rua e conversei um pouco com eles, ressaltei o convite para irem ao teatro. Acredito que a lembrança em si, acompanhada de um sorriso, já seja uma transformação. Quantas outras estudantes terão a chance de conhecer tão bem um teatro ou melhor, o segundo maior teatro municipal de São Paulo? Eu, sinceramente, espero que muitas.

Para além do PAC, nossa parceria com o coordenador de EJA na EMEF Linneu Prestes segue de pé, recebemos a turma de EJA nos espetáculos com frequência e também os recebemos na 1ª sessão no Cineclube SPCINE.

8. Registros e Prints
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