Edição 174_Primeira Impressão

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PRODUZIDO PELOS ALUNOS DO 3º ANO DE JORNALISMO DA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO DA UNISANTA

ANO XXIV - N° 174

basta de

Agosto/Setembro 2019

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

SANTOS (SP)

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VIOLeNCIA preconceito racismo feminicídio estupro intolerância bullying morte no trânsito tráfico de drogas desigualdade e insegurança


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Diagramação desta página: Eduardo Russo

PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

Ocupar espaços públicos pode ser eficiente estratégia contra insegurança EDITORIAL

Reféns do medo Esta edição do Primeira Impressão apresenta matérias que retratam a violência. Desde bairros mais nobres de Santos, como o Boqueirão, aos mais carentes como o de Cachoeira, no Guarujá. Os repórteres do jornal entrevistaram o morador de rua Marcelo, que convive com a violência das cidades durante a madrugada, e também o comandante interino do 6º Batalhão da Polícia Militar Major Terra, que revela os desafios para garantir a segurança da população. As reportagens mostram que a violência é uma das principais responsáveis pela queda na qualidade de vida dos cidadãos das grandes e pequenas cidades brasileiras. Invariavelmente, deriva de problemas sociais. A edição também destaca o desrespeito, que supera os limites das residências e chega até às salas de aula, invadindo ainda os espaços que deveriam ser utilizados para lazer, como as arquibancadas dos estádios de futebol. Mais do que mostrar a violência, o objetivo é que esta edição sirva de parâmetro para que a população e os políticos reflitam a respeito do papel de todos, embora o Poder Público tenha autonomia para mudar e aperfeiçoar a questão da segurança, uma das principais prioridades da região. No ano que vem, inclusive, haverá eleições municipais. É uma boa oportunidade para o surgimento de novas propostas, de modo a que esse tema não prejudique ainda mais a qualidade de vida. E sobretudo que a população deixe de ser refém do medo.

EXPEDIENTE Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da UNISANTA Diretor da FaAC: Prof. Humberto Iafullo Challoub Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos Professores responsáveis: Texto: Prof. Francisco La Scala Júnior, Prof. Dr. Fernando De Maria. Design Gráfico e diagramação: Prof. Fernando Cláudio Peel Infografia/Fotografia: Profª Nara Assunção Redação, fotos, edição e diagramação: Alunos do 3º de Jornalismo Coordenadora de Publicidade e Propaganda: Profª Drª Giovanna Capomaccio As matérias e artigos contidos nesse jornal são de responsabilidade de seus autores. Não representam, portanto, a opinião da instituição mantenedora – UNISANTA – UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA Rua Oswaldo Cruz, nº 266, Boqueirão, Santos (SP) Telefone: (13) 3202-7100, Ramal 191 – CEP 11045-101

Para o secretário municipal de segurança Sérgio Del Bel Júnior, a arquitetura pode ser uma aliada da polícia no combate ao crime Eduardo Russo As soluções mais modernas para a segurança pública podem ser encontradas na arquitetura. Para o secretário municipal de Segurança de Santos, Sérgio Del Bel Júnior, a ocupação dos espaços públicos durante o período noturno pode contribuir para a redução da criminalidade. Del Bel discutiu questões de segurança em uma entrevista coletiva realizada na UNISANTA. O secretário comentou sobre a contribuição da mídia na formação da opinião pública a respeito da atuação da polícia. “É mais fácil falar da polícia

Del Bel afirmou que falta uma discussão aprofundada sobre segurança

porque ela é a parte visível da sociedade. É um jeito concreto de dar uma porrada em alguém. A discussão relacionada com a segurança é rasa”, disse o coronel reformado da Polícia Militar. Em parte isso ocorre porque, segundo Del Bel, existem muitos comentaristas e poucos especialistas em segu-

rança pública na mídia. Del Bel foi enfático em afirmar que a Guarda Municipal de Santos foi uma das últimas da região a armar os policiais. Para ele, a guarda precisa ter uma cultura profissional que permita com que o integrante possa usar a arma com segurança. Pelo menos 70 civis

estão sendo preparados para andar armados. Mas o processo não é fácil. Del Bel explicou que não obrigará nenhum guarda a andar armado e que, mesmo que ele tenha interesse em portá-la, será submetido a dois testes psicológicos e deverá fazer um curso preparatório. Perguntado sobre os crimes ocorridos em maio de 2006, ocasião em que 74 pessoas morreram durante uma série de retaliações do PCC (Primeiro Comando da Capital) na Baixada Santista, o secretário afirmou que será difícil o caso ser totalmente esclarecido porque não há uma linha de investigação concreta sobre os responsáveis. “Até onde sei, nunca se chegou a uma linha de investigação efetiva dos crimes. Na época, fizemos revistas nos policiais militares, nas viaturas, nos armários e nos quarteis e nada foi encontrado”.

Para secretário, brasileiro não está preparado para portar armas Rafael Caldeira O secretário de segurança de Santos, Sérgio Del Bel, é contra o cidadão comum ter o porte e posse de armas de fogo, apesar de estar armando a Guarda Municipal(GM) da cidade. Segundo ele, isso não resolve o problema de segurança pública, mesmo que a pessoa passe nos testes para obter um revólver ou uma arma de grau maior, isso não garante que fará o uso correto. Para justificar este argumento contraditório durante uma coletiva para alunos de jornalismo da Universidade Santa Cecília, o secretário comparou os exames que habilitariam o civil a portar uma arma, com os de condução de automóveis, criticando o sistema das autoescolas, que, para ele, apenas ensinam a tirar a carta e não a dirigir corretamente. “Somos um povo que não tem educação para conduzir um

veículo e o transformamos em uma arma; agora imagina o mau uso que faríamos de um revólver”, disse Del Bel. Quanto à posse de armamento dentro de casa, o secretário também é contra. Citou um exemplo trágico que ocorreu com um colega, policial federal, que após uma discussão assassinou a esposa, os três filhos e depois se matou. “Mesmo que a pessoa guarde bem, esconda a munição em outro lugar, para evitar que as crianças usem a arma, isso não é totalmente seguro, pois elas observam muito o que os pais fazem e provavelmente conseguirão pegá-la”, disse Del Bel. No entanto, ele justifica que ainda é a favor da Guarda Municipal da cidade de Santos andar com armas de fogo e há uma iniciativa com base na lei federal 13.022, que instituiu o Estatuto Geral das Guardas Municipais do Brasil. Mas, segundo o secretário, ele não tem pressa para armar a GM. “Primeiro estamos preparando o

guarda e não iremos obrigar todos a portar uma arma. Os que querem irão passar por treinamento rigoroso”, afirmou o secretário que citou as cidades vizinhas que já possuem guardas portando armas de fogo, como Praia Grande, Bertioga e Itanhaém. Contudo, Del Bel garante que o problema de segurança pública não será resolvido apenas com mais policiais ou pessoas armadas, pois não há apenas um vetor para alguém cometer um crime. “Se tiver educação, lazer, cultura, atividade comercial, urbanização e melhor iluminação das calçadas, diminuiremos drasticamente a criminalidade”, argumentou o secretário. Um exemplo efetivo disso, é a cidade de Medelin na Colômbia que diminuiu os altos índices de homicídio e tráfico de drogas. “A polícia do município colombiano se preparou para expulsar e prender os traficantes dos cartéis associados ao Pablo Escobar, nos

morros. Além de mais órgãos do governo subir simultaneamente, implementando transporte público, áreas de lazer, escolas e gerando empregos”, ressaltou.

ANÁLISE DO PROFESSOR Segurança, ao lado de Saúde e Educação, são as áreas que mais preocupam a população. Por isso, ganha relevância a entrevista do secretário municipal de Segurança, coronel Sérgio Del Bel Júnior. Com um tema tão amplo, não faltaram questionamentos sobre o assunto, abordando o papel da Imprensa, os crimes de Maio de 2006 - até hoje não esclarecidos - objetos dos textos escolhidos para esta edição sobre o tema. Profº Fernando De Maria

PRATA DA CASA

Traskini, jornalista esportivo e escritor de ficção Caíque Stiva

DIVULGAÇÃO

UEPG, em Ponta Grossa, mas tive que voltar. Então, decidi Eder Traskini é a prova viva me arriscar. Consegui uma bolde que não se deve ter pressa sa no Espaço Unisanta e vim para se conseguir realizar seus para Santos”, conta. sonhos. O importante é buscar Formado, decidiu fazer pósse qualificar e correr atrás. -graduação em São Paulo, onde Aos 27 anos, Traskini é forteve aulas com referências no mado em Jornalismo pela Unijornalismo esportivo. versidade Santa Cecília e, atuEder Traskini ficou um ano almente, é setorista do Santos desempregado, até que conseFutebol Clube pelo portal UOL, guiu uma vaga na assessoria de cargo que almejava desde a comunicação da Ecovias. adolescência. No entanto, a traEle ficou um ano na emprejetória de Eder no jornalismo sa e deixou o cargo quando foi esportivo começou muito antes convidado a trabalhar no site Eder Traskini cobre o Santos F.C. Diário do Peixe. da cobertura diária do Peixe. Ainda na juventude, Traski“Meu sonho sempre foi ni já escrevia sobre esporte em blogs e gostei de escrever sobre cobrir o Santos. Foi compliblogs e a paixão pela profissão esporte. O interesse pelo jorna- cado ficar um ano desemveio justamente por meio do lismo veio por isso. Na verdade, pregado, mas foi tudo muito futebol. Para isso, o jornalista, não foi minha primeira opção. rápido. Cheguei na cobertura nascido em Marília, no interior Comecei a fazer Ciência da Com- do clube dois anos depois de de São Paulo, precisou procu- putação. Não era legal, larguei e formado. Foi um tiro no esrar uma cidade que oferecesse voltei para o cursinho. Depois, curo ir para o Diário do Peio curso na área. “Sempre tive fiz três anos de Jornalismo na xe, mas fui para dar meu me-

lhor e abrir portas. Vi jogos do sub-13, futebol feminino, e até outras modalidades. Fiz de tudo para me destacar e deu certo”. Após dois anos de trabalho no site, Traskini recebeu uma proposta do UOL para ser setorista do Santos FC, com um salário melhor e maior visibilidade. Literatura Mas quem pensa que Traskini é só jornalista esportivo, engana-se. Ele também é escritor. Já lançou dos livros na Bienal e pretende concluir a trilogia em breve. “Eu tenho dois livros lançados e estou escrevendo o terceiro. A temática das obras é de fantasia medieval. Tenho vários projetos fantasiosos. Gosto de escrever histórias reais no jornalismo e fictícias nos livros”, enfatiza.


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Diagramação desta página: Mariana Saitta

Violência: a gênese da questão

MARIANA SAITTA

Seria o fenômeno inerente ao comportamento humano?

Mariana Saitta A violência está em todo lugar, (...) é nossa vizinha, não é só por culpa sua, nem é só por culpa minha; como diz a música Violência, da banda Titãs, lançada no final dos anos 80. Encontrar a origem desta questão social que criou raízes na humanidade desde o pulsar da civilização é uma tarefa difícil. Percorre caminhos tortuosos, passando por diversas áreas das ciências humanas, a exemplo da Filosofia e Psicologia. E assim como a origem, sua definição é também incerta. Segundo o psicanalista Zeferino Rocha, em Violência, paixão e solidão, publicado em 1996, “(...) a violência, sob todas as suas formas, desrespeita os direitos fundamentais do ser humano, sem os quais o homem deixa de ser considerado como sujeito de direitos e de deveres, e passa a ser olhado como um puro e simples objeto”, escreve. O autor ainda considera o fenômeno como uma força que viola os limites dos indivíduos tanto nas esferas física e psíquica, quanto no âmbito político, social e religioso. Já para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito de violência pode

ser caracterizado pelo uso intencional da força física, de maneira efetiva ou em forma de ameaça, contra o próprio indivíduo e/ou demais pessoas; que possa provocar danos físicos, psicológicos ou mesmo levar à morte. Entretanto, é importante considerar que nem todo uso proposital da força física tem o objetivo de ocasionar danos. O agressor pode praticar uma ação nociva à saúde da vítima, mas não percebê-la como tal. Linda L. Dahlberg e Etienne G. Krug, autores do relatório Violência: um problema global de saúde pública, divulgado pela OMS, exemplificam a situação: “Um pai ou mãe pode sacudir vigorosamente um bebê que chora com a intenção de acalmá-lo. Este ato, contudo, pode causar-lhe um dano cerebral. A força foi usada, mas sem a intenção de causar dano físico”, afirmam. De acordo com o professor de Filosofia e Sociologia Leandro Romanini, sob a ótica destas duas áreas, a violência é vista como uma atitude antiética, uma vez que trata-se da violação física ou moral de alguém. Para a Sociologia, ela, além de ser um conjunto de fatores históricos, sociais e culturais, também está relacionada ao meio ao qual o cidadão vive e é influenciado.

A violência é intrínseca ao ser humano e advém de vários fatores e áreas do conhecimento

De onde vem a violência? No relatório divulgado pela OMS, criou-se um modelo com o intuito de descobrir a gênese da violência. Dividido em quatro níveis, explora a maneira como cada qual contribui para o crescimento do fenômeno estudado. O primeiro busca compreender os motivos pelos quais a pessoa torna-se vítima ou agressora, levando em conta, por exemplo, o baixo nível de escolaridade, uso de drogas e as possíveis agressões sofridas ao longo da vida. No segundo, analisa-se o grau de influência que as relações sociais próximas ao indivíduo detêm em seu comportamento violento. Por sua vez, o nível seguinte considera qual o possível impacto que a comunidade traz para

as pessoas ali inseridas. Já o último, leva em conta as normas sociais vigentes e de que forma interferem nos índices de violência. Para a psicóloga Cláudia Danielle Patrocínio, a violência, além de ser uma característica intrínseca ao ser humano, advém de um conjunto de fatores externos e internos ao indivíduo. “Lesões em áreas pré-frontais do cérebro prejudicam as atividades cerebrais, o que provoca o aumento de reações emocionais e comportamentos violentos.” Ainda segundo ela, quem apresenta tais lesões geralmente não é capaz de interpretar as consequências de suas ações de forma coerente, já que possui déficits relativos ao processamento

Crescimento da violência contra homossexuais no Brasil

de informações. Cláudia diz que esta questão também está ligada à exposição materna, durante e após o período gestacional. Ela explica que a ausência da figura materna influi no desenvolvimento da criança. A falta de estímulos ao indivíduo acaba por refletir em aspectos físicos, cognitivos e emocionais deste, acarretados pelo afastamento da mãe da vida da criança. A historiadora Marli Pereira do Nascimento reitera a violência como aspecto inerente à raça humana e ao processo civilizatório. “A violência faz parte da evolução. Enquanto os mais fortes conseguiram evoluir, os mais fracos, por outro lado, foram extintos”, conclui.

420 Crimes contra homossexuais no Brasil Crescimento da violência contra crescem HOMENS

Raquel Pinheiro Escolher o caminho pelo qual irá percorrer durante a jornada da vida não é fácil. A escolha de profissão, a descoberta a respeito de si mesmo, entre outras questões, sempre foram passos difíceis a serem dados. Mas, assumir a sexualidade, em tempos de violência, mostra-se gradativamente mais arriscado. Desde 2001 houve aumento significativo no número de mortes causadas pela discriminação e intolerância às adversidades. Neste ano, já foram registrados no Brasil 130 mortes de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Em 2017, foram 445 óbitos, um número recorde no País. No ano passado, também foi elevado, com 420 mortes. Entre os segmentos da comunidade LGBT, os homens gays foram os mais atingidos. Eles equivalem a 39% das vítimas. Transexuais foram a segunda comunidade mais afetada, respondendo por 36% das estatísticas. Logo depois vêm as lésbicas (12%) e bissexuais (2%). Do total de vítimas, 58,4%

MORTES homossexuais no Brasil

420

GAYS

são os mais atingidos, representando 39% em 2018 Números da violência

MORTES em 2018

58,4% eram brancas, 29,3% pardas e 12.3% negras. O principal instrumento utilizado nesses crimes foi a arma de fogo. As regiões mais violentas para a população LGBT são o Norte e Centro-Oeste, que exibem taxas acima de 2,8 mortes por milhão de habitantes. De todos os estados, entretanto, Alagoas, no Nordeste, se destaca como a pior nesse sentido, com uma média de seis mortes a cada milhão de habitantes. Violência Na região, a situação não

HOMENS

58,4%

das agressões sofridas

GAYS

das vítimas são brancas, seguidas pela população são os mais atingidos, parda (29,3%). representando 39% das agressões sofridas Fonte: Grupo Gay da Bahia (GGB)

das vítimas são brancas, seguidas pela população parda (29,3%).

INFOGRAFIA: RAQUEL PINHEIRO

Fonte: Grupo Gay da Bahia (GGB) é diferente. Uma das vítimas

Fiquei me sentindo um lixo, e pensando que a minha vida é insignificante. A cada dia este sentimento se intensifica

Larissa

foi o estudante de Ciências Econômicas, G.B., em 2018. Ele estava voltando da faculdade com duas amigas, já próximo de embarcar na barquinha rumo ao Guarujá, quando foi abordado por um homem bêbado que começou a agredi-lo. A agressão continuou com palavras de ódio diretamente ligadas pela orientação sexual do estudante. Ele conta que apanhou muito por ser gay e que o homem não o conhecia. O estudante acrescenta que outra situação que o entristece, ao lembrar, aconteceu quando

estava abraçado com o namorado no lounge de um shopping. Foram abordados por um segurança que os convidou a se retirarem do local. Logo após o pedido ser recusado, começou a discussão. “O segurança nos disse que a orientação dos donos é não permitir demonstração de carinho. Foi decepcionante escutar essas palavras”, afirmou o estudante. No mesmo ano, outro caso chamou a atenção para o tema. A transexual Larissa voltava de uma festa com um amigo quando três rapazes os cercaram em uma rua no Centro de São Paulo. De acordo com ela, foram mais ou menos 20 minutos de violência entre xingamentos, chutes e socos. A violência fez com que Larissa quebrasse o braço esquerdo. A jovem afirma que denunciou a agressão na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, mas a investigação não teve sucesso. “Não aconteceu nada, eles não foram presos. Fiquei me sentindo um lixo, e pensando que a minha vida é insignificante. A cada dia esse sentimento se intensifica, assim como o número de mortes. Infelizmente”, desabafa.


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Diagramação desta página: Larissa ribeiro

As eleições de 2018 marcaram uma ofensiva de agressões que persistem, criando uma clima de intolerância

Na política, ameaças e ofensas se expandem nas redes sociais LARISSA RIBEIRO

Larissa Ribeiro A internet facilita a vida das pessoas e todos sabem disso. E veio para transformar a forma de comunicação também. Entretanto, frente ao cenário político atual, as diversidades de opiniões são motivo de polarização nas redes sociais. Defensores da direita manifestam-se e da esquerda revidam e vice-versa. O que mais se tem visto são discussões e polêmicas por motivações políticas nas páginas de relacionamento, principalmente as que estimulam a difusão de opiniões, como o Facebook. O pleito eleitoral de 2018 serviu de cenário para essas discussões, muitas delas blindadas nas redes sociais. Foi assim com a jornalista Carolina Bertholini, que retratou fazer parte de sua vida receber ameaças e violências pelo Facebook. As situações têm como ponto de partida fatores extremados em que foi ofendida por expor sua opinião sobre determinado tema ou partido político. Durante a campanha presidencial, foi xingada e isso prossegue até hoje. Sendo assim, não se mostra otimista em relação ao futuro. “Eu, sinceramente, vejo que estamos vivendo nas ruas essa intolerância. Um posicionamento político divergente levou um mestre de capoeira à morte por um homem que nunca havia cometido qualquer crime. Um empresário matou uma pessoa em situação de rua sem motivo algum para tanto. Para mim, uma guerra civil não

Carolina Bertholini Jornalista

você humilha e o ofende, sua justificativa o faz melhor. O que é, claro, um grande equívoco.” Carolina garante que a sociedade ainda não entende os limites necessários, de ser civilizado, mesmo em redes sociais e não estando frente a frente. Pessoas que não agem desta forma, são bloqueadas como medida de prevenção à violência, afirma a jornalista. “Minhas providências são sempre fechar as portas para a pessoa que atacou. O bloqueio é uma ferramenta incrível para barrar quem não sabe conversar com respeito”, acrescenta Carolina.

seria surpreendente. Duvido que o cenário amenize sem que muita coisa ruim aconteça.” Nas ruas também presenciam-se estas situações. Segundo registros na imprensa, todas pacíficas embora com um clima hostil e de agressividade com opositores, de ambos os lados. Contudo, a jornalista acredita que o desrespeito tem predominado, sendo motivado pela indignação social. “Sempre haverá divergências ideológicas, porém parece que a opinião do outro é ofensiva. Quanto mais

Medidas policiais O titular do Departamento de Polícia Judiciária do Interior - Deinter 6, delegado Manoel Gatto, observa que não há casos registrados de intolerância política, incluindo ameaças, na Baixada Santista e Vale do Ribeira. Entretanto, existe punição no Código Penal para essas infrações podendo ser registrados como lesão corporal, dano, calúnia, difamação, injúria, injúria racial, racismo (Lei 7.716/89) e Lei Maria da Penha. Gatto ainda informa que em qualquer caso de crime

Eu, sinceramente, vejo que estamos vivendo nas ruas essa intolerância. Um posicionamento político divergente levou um mestre de capoeira à morte por um homem que nunca havia cometido qualquer crime.

Jornalistas são ameaçados e agredidos em manifestações

AGÊNCIA BRASIL

João Pedro Bezerra Quando o assunto é política, os jornalistas sofrem com as críticas e agressões, independente da ideologia de “direita” ou “esquerda”. De um modo geral, as pessoas só querem ver o que interessa, se for ao contrário do que, pensam alguns partem para a violência verbal, virtual e física. Desde 2013, as manifestações contra e a favor dos governos se intensificaram em todo o País. Os veículos de comunicação fazem a cobertura e acompanham os principais pontos do evento; o problema é que grande parte da imprensa sofre com a violência nesses movimentos. Um dos casos mais graves aconteceu no Rio de Janeiro em 2014. O cinegrafista Santiago Ilídio Andrade da TV Bandeirantes foi atingido por um rojão e morreu durante o protesto que teve confronto entre manifestantes e policiais. Os autores do crime foram presos e houve suspeita da ligação com o grupo “Black Blocks”. Outra situação difícil para os jornalistas aconteceu no ano passado quando da prisão

Jornalistas prestam homenagem ao companheiro Santiago Ilídio Andrade

do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a cobertura do processo jurídico, vários profissionais sofreram violência dos militantes do PT e partidos simpatizantes que atacaram veículos como Globo, Bandeirantes, Rede TV, Correio Braziliense, entre outros. Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, 156 jornalistas foram agredidos no País por conta do contexto político. Além das agressões físicas e verbais, o fenômeno da internet com as redes sociais tem

criado um aumento da violência virtual. A jornalista Patrícia Campos Melo, da Folha de S. Paulo, foi alvo de ataques na internet por eleitores e simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro. Os usuários fizeram ameaças, xingaram e perseguiram a profissional nas redes sociais, após ela ter publicado a matéria, onde mostrava o movimento de empresários que espalharam notícias falsas contra o PT no whatsapp. A violência virtual acontece, pois as pessoas se sentem camufladas atrás da internet.

as vítimas devem procurar a Delegacia de Polícia mais próxima (não precisa ser especializada) e registrar o caso para que as autoridades policiais possam tipificá-lo e identificar os autores, para que eles sejam punidos. Com relação às violações cometidas por meios digitais, a orientação é fazer a impressão ou a imagem de um ‘print’ da tela com o conteúdo da ameaça, bem como a página do autor das mensagens. É importante incluir nessa impressão o endereço eletrônico do conteúdo e autor [URL da página]. Após as análises preliminares a vítima deverá comparecer a uma das delegacias de polícia de sua cidade e confirmar se quer ou não apresentar a ocorrência e com isso permitir ou não que as investigações continuem. O delegado salienta que a população deve sempre denunciar. Além disso, como medida preventiva de segurança, Gatto disse que as pessoas devem tomar cuidado ao se expor perante desconhecidos, bem como aspectos ligados à consciência da população perante a obrigação de respeitar as diferenças entre as pessoas.

Fatores positivos O contraponto positivo foi citado cientista político Rafael Dadarque. Ele defende o fato de que hoje discute-se política, o que não ocorria no passado. “O Brasil tem uma sociedade que nunca fomentou o debate, não só o político como em qualquer instância. O país é um dos poucos que acredita que política não se discute. Hoje em dia, há essa discussão, impondo a prática da argumentação e estimulando o diálogo”. Como motivação para estas discussões, Rafael acredita que em primeiro momento, o aumento de usuários nas redes sociais colaborou para estas frentes. Em 2014, o Facebook possuía 89 milhões de usuários e o ano passado este número subiu para 127 milhões. Além disso, nas redes sociais, as pessoas se sentem mais blindadas, externalizando sentimentos que o filtro social não libera. “Ser racista em uma rede social é tão ruim quanto ter um comportamento racista no convívio social”. Outro fator que contribui é o cenário político do governo atual afeito ao conceito de que as maiorias devem governar sobre as minorias. Quanto ao futuro, o cientista afirma ser difícil saber o que virá. Entretanto, as conjunturas de manifestações constantes tendem a fomentar o debate e trazer à tona o comportamento de pessoas intolerantes e agressivas, bem como os problemas sociais e aspectos que vão levar os brasileiros à reflexão. “Mas lidamos apenas com suposições, para ser mais específico seria necessário acompanhamento diário”, finaliza o cientista.

Protestos na Baixada Santista O jornalista Carlos Ratton, do Diário do Litoral, acredita que os veículos de comunicação com maior alcance se tornaram mais vulneráveis às agressões em manifestações políticas por conta da aproximação com o poder. O Primeira Impressão acompanhou as manifestações a favor do governo no dia 26 de maio e contra o contingenciamento de verbas da Educação quatro dias depois em Santos. Eliane Nakama, 56 anos, esteve presente no ato em apoio à reforma da Previdência e ao governo Bolsonaro na Praça da Independência. Segundo ela, a mídia faz um trabalho independente. No entanto, veículos como a Globo e a Folha S. Paulo manipulam a população. “A Rede Globo é totalmente contra o governo e ridiculariza o presidente durante a programação”. Já na manifestação a favor da Educação, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, Humberto Andrade, 49 anos, lamentou a postura da imprensa. “Infelizmente a mídia não se compromete com a verdade. É contra os movimentos sociais”. Nas duas manifestações, a equipe do Primeira Impressão sofreu ameaças. No domingo, uma senhora que se identificou como Roberta agrediu verbalmente a reportagem usando xingamentos como “burros” e “vagabundos”. Enquanto no protesto de quarta, um senhor com a camisa do Sindicato do Metalúrgicos que não quis se identificar tentou impedir a equipe de fazer imagens e ainda ameaçou: “Cuidado vocês vão se machucar aqui, caso não façam o credenciamento”. Vale ressaltar que o movimento foi em lugar público, ou seja, o credenciamento era uma forma de tentar censurar os jornalistas.

JOÃO PEDRO

Santos foi uma das cidades com manifestações pró e contra o governo


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Diagramação desta página: Henrique CB

Cyberbullying, trauma eterno

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Agressões contra jovens na Internet podem contribuir para práticas autodestrutivas, afirma psicóloga Lillian Cruz Seja para trabalhar, fazer compras, jogar ou manter contato com pessoas queridas, a Internet é algo cada vez mais presente no cotidiano da população. No Brasil, de acordo com dados divulgados pela agência de pesquisas We Are Social, o tempo médio que os brasileiros passam por dia conectados à rede já é superior a nove horas. Hoje, para as gerações mais jovens, a possibilidade de um mundo desconectado é quase irreal. Mas, ainda que os diversos sites e redes sociais apresentem inúmeros aspectos positivos, uma sociedade que dedica ao seu próprio sono um período menor do que aquele dedicado ao celular e ao computador enfrenta problemas causados pelo mundo digital. Além de doenças relacionadas à visão, desvio de coluna e estresse, a vida virtual também causa um tipo de violência que afeta principalmente crianças e adolescentes: o cyberbullying. Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Ipsos, a população jovem brasileira está em segundo lugar no ranking de maiores vítimas das práticas de bullying vir-

CYBERBULLYING

AGRESSÕES

verbais, ameaças e ofensas feitas por meio de sites e redes sociais caracterizam o bullying virtual.

1 entre 4 crianças

já sofreu ofensas na internet

Em um passado não muito distante, em meados de 1972, a violência era diretamente relacionada à televisão. Nos Estados Unidos, segundo os médicos da época, “a violência na televisão realmente tinha efeitos adversos em certos membros de nossa sociedade”. Atualmente, essa culpabilidade é repassada aos jogos eletrônicos, e, ironicamente, transmitida pela própria televisão que décadas atrás também já foi alvo. Esta atribuição da violência aos jogos teve uma maior repercussão após o massacre de Columbine, em 1999. Daquele tempo para cá, diversos estudos foram realizados para avaliar o assunto. Até hoje, nenhum deles conseguiu provar a relação dos jogos com ataques violentos. Apesar de tudo o que a televisão mostra, os jogos tornam as pessoas mais violentas? Na internet, a discussão atinge uma proporção ainda maior. O caso mais recente sobre índices de violência e a participação dos jogos foi o atentado de Suzano, no qual dois adolescentes invadiram uma escola deixando mortos e feridos. Tal fato, ocasionou uma repercussão sobre a imprensa e os políticos, e após as investigações da Polícia Militar, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, comentou:

ocupa o 2º lugar no ranking de maiores vítimas de cyberbullying

CONSEQUÊNCIAS

vítimas podem desenvolver problemas emocionais e baixa autoestima. INFOGRAFIA: LILLIAN CRUZ

tual, que consistem em agressões verbais, insultos, ameaças, adulteração de fotos e exposição de privacidade em ambientes virtuais, como é o caso das redes sociais. “Nossa presença digital é uma das maiores do mundo. Observando as principais redes sociais que existem, das mais profissionais até as focadas em entretenimento, o Brasil está presente em todas elas, o que é muito bom. O problema é que enxergamos a Internet como um lugar sem regras, o que torna um ambiente perigoso para quem é mais jovem”, conta Claudio

Jogos eletrônicos contribuem para a violência? Henrique CB

BraSIl

Oliveira, que atua como desenvolvedor de sistemas e games. A vulnerabilidade das crianças e adolescentes, para a psicóloga Juliana Ferreira, é o que torna o cyberbullying um dos maiores problemas da atualidade, visto que pode desencadear depressão, ansiedade e transtornos psicológicos que contribuem para que as vítimas realizem práticas autodestrutivas. Graças ao anonimato que pode existir no mundo virtual, o risco de adultos serem alvos de comentários ofensivos e atitudes violentas na Internet

também é alto. No entanto, os efeitos costumam ser menores quando comparados aos prejuízos causados pelo bullying contra a população mais jovem. “A infância e a adolescência são fases naturalmente difíceis. Como são etapas em que não temos nossa identidade completamente formada, há uma tendência maior para a falta de autoestima e distorções da própria imagem. Com isso, uma ofensa pode levar a situações graves, como automutilação, distúrbios alimentares e até suicídio”, afirma a psicóloga.

Buscando formas de amenizar o problema, o Brasil possui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), que abrange os atos violentos cometidos de forma física ou virtual e foi instituído em 2015. Porém, os traumas causados às vítimas impedem que muitos casos se tornem conhecidos pela sociedade. A estudante Mariana Arruda, de 23 anos, conta que foi vítima de cyberbullying ao longo da adolescência e, devido ao teor das ameaças feitas por um perfil anônimo, o silêncio foi sua única alternativa. “A pessoa que ameaçava sabia muito sobre mim e eu tinha medo de ter toda a minha vida exposta”, diz a estudante, que encontrou a solução em excluir suas contas nas redes sociais. Por esse motivo, a psicóloga Juliana Ferreira acredita que observar o comportamento dos adolescentes e orientar sobre a exposição de dados são tarefas importantes, mas que o diálogo e a conscientização são as melhores saídas. “A família precisa criar um ambiente de confiança, permitindo que os filhos não tenham um bloqueio e não sofram ainda mais”, conclui. HENRIQUE CUNHA BUENO

“Hoje a gente vê essa garotada viciada em videogames e videogames violentos. Só isso que fazem. Quando eu era criança e adolescente, jogava bola, soltava pipa, jogava bola de gude, hoje não vemos mais essas coisas. É com isso que temos de estar preocupados”. Discussão sobre violência E com este discurso, foi apontada certa responsabilidade, mesmo que parcial, aos jogos, de forma a desviar do Jogos eletrônicos viram alvo de críticas por supostamente estimular a violência, especialmente entre os jovens foco principal do atentado e causando uma discussão so- algum preconceito sobre essa uma rotina de jogos, o raciocí- temas, talvez até mesmo com bre a violência existente ou discussão, e, por conta disso, nio lógico é aprimorado, com ignorância e continuam a culnão sobre os jogos eletrônicos. podem ter tirados conclusões jogos de estratégia e quebra- par o mesmo pela violência. Alguns estudos feitos na distorcidas a respeito do tema, -cabeça, forçando o usuário a Universidade de Oxford, na como o caso do psicólogo Brad buscar alternativas para pas- Estabelecer horários Inglaterra, falam um pouco a J. Bushman e seu estudo so- sar de nível. A coordenação é No entanto, a psicóloga Karespeito de comportamento bre como jogos em primeira intensificada, com a assimila- roline Sampaio refere-se a jonos jogos, e assim o projeto pessoa ajudam a melhorar a ção de botões que fazem com gos como “maleáveis”, quando feito com mais de mil adoles- pontaria com armas na vida que o córtex cerebral fique atribuídos a crianças com hocentes e seus pais indica que real. Sua pesquisa foi barrada mais consistente. A atenção, rários. “Os jogos possuem muios jovens que jogam video- pela Associação Americana de por sua vez, é multiplicada. to a atribuir aos jovens, adultos game regularmente não são Psicologia (APA, na sigla em Isto porque, jogos forçam a e até mesmo idosos. Mas crianmais propensos à violência do Inglês) que a classificou como concentração do jogador. ças se influenciam facilmente e que aqueles que não o fazem. “pesquisa insuficiente para Uma pesquisa, realizada no precisam de horários e muita Segundo o professor e coor- vincular jogos violentos à vio- Centro Médico Beth Israel, de conversa para saber o que é a denador do projeto, Andrew lência criminal”. Nova York, descobriu que até realidade e ficção”, afirma. Przybylski, “os jogadores maPor muitos anos, os video- cirurgiões podem se benefiO analista financeiro, Rafanifestam sentimentos de raiva games também eram conside- ciar de uma boa partida de vi- el Ponciano, de 32 anos, natupor conta de alguma frustra- rados como “vilões da saúde”, deogame. Por fim, adquire-se ral de Maringá (PR) é um joção no jogo, mas esse compor- entretanto, com a evolução agilidade, pois dentro das par- gador casual e o seu ponto de tamento não tem relação di- dos consoles, as críticas sobre tidas, é preciso pensamentos vista como pai é mais liberal: reta com ações agressivas na os jogos se tornaram positivas, rápidos em um curto período “Eu cresci jogando, e não tive vida real”. tanto para crianças quanto de tempo. problemas. Sempre fui feliz Ele também aponta que adultos, com jogos que exerciMesmo com pesquisas e fa- com meus amigos e hoje tepesquisas que favorecem a tam o corpo e a mente. tos apontando os jogos eletrô- nho uma vida boa com minha culpa de jogos foram feitas por Entre alguns desses benefí- nicos de maneira benéfica, as mulher e filha que também pesquisadores que já tinham cios dados para quem possui pessoas ainda confundem os jogam”.


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Diagramação desta página: Davi Costa

PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro 2019

Deputados da região são a favor do projeto anticrime Rosana Valle e Júnior Bozzella consideram a legítima defesa o ponto mais polêmico do pacote de Moro

DIVULGAÇÃO

Davi Costa A Segurança Pública está em crise. Assaltos, furtos, latrocínios, homicídios, todos os dias uma nova manchete bárbara assusta os brasileiros. Hoje, o ministro Sérgio Moro tem a missão de impedir o crescimento da insegurança e, quem sabe, reduzi-la. Por isso, ele apresentou o Projeto de Lei Anticrime, que promove mudanças em 14 leis. As alterações combatem a corrupção, o crime organizado e sobretudo os crimes violentos. Um dos temas mais polêmicos é a mudança no artigo 23 do Código Penal, que abrange a legítima defesa. Atualmente, a legislação diz que o agente de segurança responde “pelo excesso doloso ou culposo”. Com a mudança aceita, o juiz pode reduzir a pena pela metade ou não aplicá-la, caso o agente tenha tomado a atitude pelo excesso de “medo, surpresa ou violenta emoção”. Para a deputada federal Rosana Valle (PSB-SP), as mudanças sugeridas pelo ministro Moro são bem vindas.

“Acho que as ações do Projeto de Lei Anticrime podem reduzir a violência urbana brasileira. A violência está em uma espiral de crescimento que tem que ser combatida com o aparelhamento das polícias e com mudanças na legislação, que inibam a iniciativa criminosa. Isso tem que ser feito”, responde a deputada quando perguntada se as mudanças servirão contra a redução da criminalidade. Sobre os pontos mais contestados, Rosana acredita que

o texto final será menos controverso. “O pacote em si tem pontos polêmicos, como a legítima defesa, condenação em segunda instância. Sabemos que o texto do ministro Moro com certeza sofrerá emendas e alterações. Mesmo assim, espero que o Projeto de Lei Anticrime conserve sua essência, para que possamos ter mais segurança em nossa vida cotidiana”, acrescenta. Outro representante da região, deputado Júnior Bozzella (PSL) julga que a le-

gislação mais rigorosa não só combate a criminalidade, como a diminui. “Reduzir a violência urbana passa, entre outras questões, por ter uma legislação mais rigorosa e eficiente no combate ao crime organizado, e o Projeto de Lei Anticrime trata, justamente, desta questão”, afirma, destacando que “o Projeto de Lei Anticrime do ministro Moro não vai resolver toda a complexa questão da violência no País, mas é, sem dúvida, um começo”.

Assim como a deputada, ele concorda com a maioria das mudanças, porém faz ressalvas, entre elas, a legítima defesa. “O projeto prevê importantes alterações em 14 leis. Dessas, meu olhar mais cuidadoso seria para as medidas relacionadas à legítima defesa, que tratam, dentre outras questões, de homicídios cometidos por policiais”, explica. No entanto, antes de concluir, ele emenda. “Entendo que alguns pontos precisam ser melhor esclarecidos”

Em discussão, a polêmica municipalização da Polícia DIOGO GAMBERINI

Diogo Gamberini As polícias militar e civil no Brasil estão sob o comando dos governadores de cada estado. Muito se fala sobre a eficácia e modo de agir da polícia e, muitas vezes, debate-se a municipalização da segurança pública e se seria melhor para a população. Juridicamente, a proposta é inconstitucional. Segundo o art. 144 da Constituição Federal, as polícias são garantidas de maneira mandatória ao Estado, sendo uma responsabilidade que eles são obrigados a adotar. A Carta Magna diz que: “As mandatórias consistem em disposições que, de maneira explícita e direta, determinam aos Estados a observância de princípios, de sorte que, na sua organização constitucional e normativa, hão que adotá-los , o que importa confranger sua liberdade organizatória aos limites positivamente determinados; assim o Constituinte Estadual tem que dispor: j) sobre segurança pública a ser garantida por organizações policiais civis (polícia civil) e militares (polícia militar) com as respectivas competências.” De acordo com a Nota Técnica emitida pela Câmara dos Deputados, esta limitação da Constituição chega a reduzir a capacidade de legislação da União, impedindo a criação de novos órgãos de seguran-

ça pública que estejam em desacordo com o artigo, e ainda proibindo a atribuição da função de um órgão de segurança pública Federal, Estadual e municipal a outro órgão. Portanto para que a municipalização da segurança pública aconteça será necessária uma proposta de emenda à Constituição. Até 2000 foram feitas 13 PECs sobre o assunto, sendo 12 da Câmara e uma do Senado Federal. O advogado Aulus Eduardo Teixeira de Souza, autor do livro Guarda Municipal: A responsabilidade dos municípios pela segurança pública, diz no blog Conjur, ao qual presta consultoria, que mesmo a Constituição impossibilitando a municipalização, ela ainda abre espaço para que a Guarda Municipal aja como uma polícia, permitindo ações mais ostensivas. O argumento é de que, segundo a Constituição, a guarda é feita somente para proteção de bens do município, definindo proteção como “um acervo de medidas contra agressões e danos.” E uma dessas medidas seria a prevenção. O advogado classifica prevenção como “destinada a evitar o dano ou agressão a fim de antecipar as ações danosas”, entendendo a vida dos munícipes como o bem mais importante a ser protegido.

A Polícia Militar age de maneira mais ostensiva que a Guarda Municipal

Mais custos Mas mesmo que a Constituição fosse alterada, a transição seria custosa e demandaria uma reformulação dos poderes do município, a começar pela implantação de um sistema judiciário municipal, pois as policias necessitam de uma Magistratura e Procuradoria. Além de que um efetivo policial mínimo (A ONU recomenda um policial para cada 450 habitantes) seria muito caro para um município pequeno. O especialista e responsável pelo programa de segurança pública da campanha presidencial de 2018 do ex-

-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), professor Leandro Piquet, tinha um plano de municipalizar a segurança pública. Segundo ele, a ideia era elaborar um projeto de lei que tornasse obrigatório para municípios com mais de 250 mil habitantes ter um plano de ação para atingir metas entre Estados e municípios para a redução de crimes. É como se as cidades passassem a ter um contrato com as polícias. Já as cidades menores poderiam se unir em consórcios. Hierarquia Já o custo com a policia po-

deria ser reduzido ao reduzir a quantidade de divisões e a hierarquia, como é nos Estados Unidos: o cargo mais alto na hierarquia da policia estadunidense é o prefeito da cidade, seguido pelo comissário, delegado administrativo, chefe de departamento, xerife, agente não fardado e especial e oficial da policia. Totalizando na cadeia de comando sete cargos até a menor patente. Além disso, eles só têm uma unidade especial, que é a SWAT. Já no Brasil só na Polícia Militar existem nessa hierarquia 11 cargos: governador; secretário de segurança; coronel; tenente-coronel; major; capitão; tenente; 1º, 2º e 3º sargentos e soldados. Além da polícia civil e das unidades especiais, que em São Paulo são cinco. Para o secretário de segurança de Santos, Sergio Del Bel, a municipalização não seria uma boa ideia no momento por que as polícias teriam uma jurisdição menor para trabalhar, mas que no futuro seria possível. As vantagens de se passar por esse processo é que a sociedade local consegue controlar melhor a atividade policial, e a polícia conseguiria prestar um serviço melhor, pois seu comando estaria descentralizado. Assim, há menos burocracia e dificuldade em ter acesso à polícia, aumentando a confiança.


PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

8,5% dos estupros acontecem dentro de relacionamentos

Este percentual cresceu quase sete vezes desde 2009

Luiza de Oliveira Um levantamento realizado pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo demonstra que, apenas nos primeiros cinco meses de 2019, na Baixada Santista, foram registrados 4.062 casos de estupro. Em 2018, foram 11.949 casos no ano. Dentre estas estatísticas, de acordo com Microdados do Sinan, analisados entre os anos de 2011 e 2014, e divulgados pelo Ipea, 8,5% dos estupros foram cometidos pelo cônjuge da vítima. Dados do Ministério da Saúde afirmam que, desde 2009, o número de notificações de estupros dentro de relacionamentos cresceu quase sete vezes mais. Foi a partir daquele ano que passou a ser reconhecido o conceito de estupro marital, isto é, violência sexual dentro do casamento. Presente na Lei 10.015, assim como na Lei Maria da Pe-

nha, o estupro marital, segundo a delegada Fernanda Dos Santos Souza, da Delegacia da Mulher de Santos, consiste em um dos casos mais comuns de subnotificação, ou seja, quando não se há o registro do boletim de ocorrência. “Ainda é muito difícil para a mulher casada entender que pode acontecer um estupro dentro do casamento”, afirma a delegada. Fernanda destaca, que, por questões de dependência da mulher perante o relacionamento inserido, as vítimas não conseguem romper tal círculo de violência, e, nestes casos, torna-se comum que a mulher em questão procure a delegacia a fim de denunciar casos de agressão física e, enquanto ela é ouvida, são relatados episódios nos quais ela sentiu-se constrangida a ter relações sexuais contra a sua vontade mediante a ameaça e violência física.

N. se viu em tal caso por 25 anos. Com um marido alcoólatra, hoje já falecido, sofreu episódios de agressão física e de violência sexual. “Quando se trata de uma pessoa agressiva, uma pessoa que bebe, você acaba consentindo por medo. Isso me deixou traumatizada”, declara. Segundo ela, durante estes anos, o que a motivava a permanecer no relacionamento era a dependência financeira em relação a criação de seus dois filhos. “Ele não deixava faltar nada em casa”, afirma. N. aponta como fator de ter permanecido em silêncio durante tais episódios o fato de ver-se em um ambiente familiar baseado em tabus, de maneira a não receber a instrução necessária com relação à prática sexual. Desta forma, o pensamento dominante, na época, era o de que a mulher tinha como dever servir sexualmente o homem.

Creas é referência assistencial Quanto ao acompanhamento de mulheres em situação de violência, no Brasil, as primeiras medidas voltadas especificamente para estes casos deu-se com a criação da Delegacia de Defesa da Mulher, em 1985, e o serviço de acolhimento para com estas mulheres, a Casa Abrigo, em 1986. Hoje, em muitos municípios, de acordo com a assistente social especialista em gênero e sexualidade, Thatiane Coghi Ladeira, as vítimas são atendidas nos chamados Centros de Referência Especializados de Assistência Social - CREAS, os quais integram o Sistema Único de Assistência Social - SUAS, implantados em 2005. Neles, são oferecidos auxílios para todas as situações de violência familiar, seja contra crianças, idosos, adolescentes ou mulheres. Thatiane afirma que tal atendimento é alvo de críticas de grupos considerados feministas, isto porque, segundo elas, há a necessidade de um serviço direcionado às mulheres, especificamente. Segundo a assistente, o auxílio às vítimas depende de um trabalho psicossocial para o reconhecimento da violência em questão,

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Diagramação desta página: Luiza de Oliveira

além de um trabalho direcionado à política de saúde, de maneira a facilitar o atendimento do aborto legal, a anticoncepção de emergência e a profilaxia contra HIV. “Esta rede ainda é muito fragilizada, sendo que os serviços passam por processos de sucateamento e as mulheres são completamente desassistidas neste aspecto”, denuncia. Em Santos, os casos específicos de abuso sexual são acompanhados pelo Programa de Atenção Integral às Vítimas de Abuso Sexual (Paivas). Nele, a vítima terá à sua disposição uma psicóloga e uma médica para que seja realizado o acompanhamento psicológico. Quanto aos episódios de violência sexual cometidos dentro da residência da vítima, o município de Santos dispõe de uma Casa Abrigo, na qual se concentram apenas vítimas de violência contra a mulher ou violência doméstica. O endereço do local é sigiloso e há a possibilidade de abrigo também aos filhos da vítima, podendo permanecer no mesmo pelo tempo necessário. Dessa forma, a Casa constitui mais um instrumento que reforça as condições para a realização das denúncias.

Vivemos em país com uma cultura machista e patriarcal, por isso, leis protetivas às mulheres são imprescindíveis. TaliTa SeSSa GaboS advoGada

Quando se trata de uma pessoa agressiva, uma pessoa que bebe, você acaba consentindo por medo N. apoSeNTada

Os serviços passam por processos de sucateamento e as ulheres são completamente desassistidas ThaTiaNe CoGhi aSSiTeNTe SoCial

Desafio é provar De acordo com a advogada Talita Sessa Gabos, o estupro é compreendido pelo artigo 5º da Lei Maria da Penha (Lei 11340/06), o qual configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Quanto ao estupro marital, de maneira específica, ele é contemplado a partir do momento que, segundo o Código Penal, há a possibilidade do aumento de pena se o crime for cometido pelo cônjuge da vítima. Entretanto, Talita acredita que, dada a relação com o marido, a questão probatória pode vir a se tornar prejudicada. “Vivemos em país com uma cultura machista e patriarcal. Por tal razão, leis protetivas às mulheres são imprescindíveis, tanto pelo caráter repressivo, mas também pelo caráter pedagógico, considerando que, pontualmente no caso de estupro dentro do casamento, é preciso uma conscientização de que ‘não é não’”, explica. Em março deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei o qual possibilita à vítima de violência doméstica solicitar a decretação imediata do divórcio ou do rompimento da união estável. Encaminhado para o Senado, o projeto não está vigente, de forma que ainda não há validade jurídica. Contudo, em 13 de maio de 2019, foi publicado, no Diário Oficial da União, o texto que altera a Lei Maria da Penha de maneira a facilitar a aplicação de medida de proteção de urgência à mulher e seus dependentes em casos de violência doméstica e familiar. A norma foi aprovada no Senado no mês de abril.


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Diagramação desta página: Luiza Pires

PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019 LUCAS FERREIRA

A despeito da Lei Maria da Penha, os casos de feminicídios crescem no País

Feminicídio aumenta 12% no Brasil Sancionada em 2006, Lei Maria da Penha foi alterada e aprimorada este ano

Lucas Ferreira Sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006, a Lei Maria da Penha - Lei 11340/06 | Lei nº 11.340 tem o propósito de punir atos violentos, criando mecanismos para impedir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Segundo o Datafolha, uma pesquisa de fevereiro deste ano revelou que nos 12 meses anteriores, mais de 1,5 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de assassinato no Brasil. Pelo menos 42% ocorreram em ambiente doméstico, porém mais da metade das mulheres não denunciaram o agres-

sor ou procuraram ajuda. Em 2019 ocorreu um aumento de 12% nos casos de feminicídio (agressão ocorrida com uma mulher de forma doméstica ou discriminação de gênero). Os relacionamentos abusivos não iniciam com agressões físicas, mas psicológicas, dessa forma, a vítima começa a se sentir menosprezada por seu parceiro que se torna cada vez mais violento até chegar ao ponto de se tornar mais um caso de feminicídio. “A sociedade é patriarcal e machista, não podemos negar isso. A mulher é vista como posse e objeto, mas é claro que nem todos os homens são perversos. Modificar esse pensamento requer muita mudança

cultural”, comentou a psicóloga Julia Paolucci Sampaio em relação a casos de relacionamentos abusivos que procuraram ajuda em seu consultório. A lei é exclusiva para mulheres. A proteção da mulher é muito mais necessária do que a de um homem, pois contém de forma natural o biofísico e o hormônio mais fortes, o que acaba se tornando um dos pontos principais para se tornar possessivo em relação à sua parceira, pois com este pensamento se entende que quem tem a maior força é quem manda, o que é visivelmente doentio e patético, avalia a profissional. O presidente Jair Bolsonaro sancionou no dia 14 de maio a Lei 13827, que forta-

lece a Lei Maria da Penha. O agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a pessoa agredida, possibilitando maior agilidade na decisão por autoridades da Justiça e da Polícia. Além disso o juiz deverá ser comunicado em um prazo de até 24 horas para ajudar e facilitar a proteção da mulher. Medo de procurar ajuda O medo e receio de procurar ajuda por conta das ameaças constantes é um dos piores inimigos da mulher agredida, entretanto é necessário muita coragem e confiança para dar o primeiro passo. Na Delegacia da Mulher, por exemplo, a

própria delegada pode pedir o afastamento do agressor do lar, pois existe uma medida protetiva para que ele fique longe da mulher agredida, de, no mínimo, 200 metros. Além dessa medida, há um processo criminal. Em caso de condenação, a pena pode chegar a 30 anos. Mas, esse tema vai muito mais além da agressão. Nos momentos posteriores, observa a psicóloga, a mulher que passa por uma situação de abuso enfrenta muitos distúrbios e transtornos psicológicos podendo chegar em situações como o uso de drogas e até tentativa de suicídio, ou seja, o trauma da agressão causa muito mais danos do que é imaginado para quem está vendo de fora. Assim, elas se sentem culpadas pelos momentos sofridos. O advogado Jefferson Espíndola da Silva explica que quando a agressão ocorre, a vítima se encontra sem estrutura psicológica para tratar do assunto. Por isso, ele e a psicóloga concordam que essa vítima precisa procurar ajuda acompanhada. “Caso vá com um advogado ou policial, ela será muito mais bem recebida na delegacia, pois eles irão se tratar de igual para igual e dificilmente tentarão fazê-la desistir da denúncia. É horrível dizer isso, porque mostra o quão despreparados eles estão para lidar com esse tipo de situação”, completou Jefferson. Além de mudanças na lei, desde 22 de maio começou a constar, no artigo 2º, que mulheres transsexuais e transgêneros podem se beneficiar da Lei Maria da Penha, pois conforme as transformações sociais avançam, direitos são gerados para melhores oportunidades e facilidades para se viver sem violência, preservando-se a saúde física e mental e também o aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Grupos restritos em redes sociais propõem segurança Luiza Pires O termo ‘sororidade’, da palavra em latim sóror, que significa “irmãs” em português, é definido como a união e aliança entre mulheres em prol da busca pela igualdade de gênero e da conquista pelo seu espaço na sociedade. É baseado na empatia e companheirismo e está presente fortemente no feminismo. Usando esse conceito como inspiração, cada vez mais grupos femininos restritos estão aparecendo no Facebook. Além de criarem uma rede de apoio e segurança entre mulheres, também incentivam o comércio online e empreendedorismo. Um desses exemplos é o “De Gótica para Gótica da Baixada Santista”, que tem vendas, compras, trocas e doação. O grupo foi criado em abril de 2016 por Wendy Borges, de 20 anos e estudante de Licenciatura em Música, e atualmente conta com mais de 16 mil membros, todas mulheres de cidades da região. A ideia da estudante de criar o grupo veio da quantidade de grupos de comércio livre na rede social, mas sem

positivos e negativos. Algumas das regras são não publicar algo não relacionado ao grupo, não divulgar trabalho de homens e respeitar a opinião alheia, onde Wendy explica “a menos que seja uma opinião que fere minorias, neste caso é importante desconstruir”.

INFOGRÁFICO: LUIZA PIRES

um espaço exclusivo somente para mulheres. “Elas se sentem mais seguras dentro de um espaço reservado apenas para elas” Entretanto, o grupo não foca apenas para o comércio e também serve como uma rede de apoio entre as participantes. Wendy explica que toda vez que surge um relato sobre assédio ou violência,

boa parte da comunidade se mobiliza e oferece ajuda. O acesso ao ‘Góticas’ é apenas para mulheres da Baixada Santista. Por ser um grupo fechado, é necessário mandar a solicitação e ser aprovada por uma das seis moderadoras, mas antes responder um questionário criado para manter a organização e evitar perfis falsos ou pessoas que

não sejam da região. Neste, tem as perguntas: “De que cidade você é? Tem Instagram? Se tiver, qual é? Você é mulher? Por onde descobriu o grupo?”. Além do questionário para entrar, também existe uma publicação fixada com as regras do grupo e links que direcionam para outras duas publicações para feedbacks

Desapego Outro exemplo que segue o mesmo conceito é o desapego Feminino Guarujá, criado pela produtora Verônica Brito, de 21 anos. “Queria um grupo onde eu e minhas colegas nos sentíssemos à vontade para vender coisas, trocar experiências com produtos ou fazer avisos importantes onde não se sintam mal por conta da presença de homens”, ela explica. O grupo, focado em Guarujá, conta com 210 membros e foi criado em agosto de 2016. Assim como o ‘Góticas’, o coletivo não foca apenas em vendas, trocas e doações de roupa ou produtos. Verônica diz que considera um local seguro e de apoio para mulheres: “Nós conseguimos desenvolver uma conversa melhor, é muito mais confortável manter contato dentro de um grupo onde todas falam a mesma língua sem preconceitos ou medo”.


PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

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Diagramação desta página: Luan Gabriel

GIULIANO LIGOTTE

Como prometido durante a campanha, o presidente Jair Bolsonaro flexibilizou o uso de armas de fogo. Medida provoca reações favoráveis e contrárias

Posse de armas:

mais segurança ou perigo?

Proposta que facilita posse de armas passou a valer em maio Giuliano Ligotte

No primeiro semestre ,o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou o decreto que facilitou a posse de armas em todo o país. A primeira medida de impacto adotada consistiu na reformulação das normas que regulamentam a posse de armas de fogo. Como já é comum sempre que o tema vem à tona, uma série de novos debates acerca do direito de autodefesa é gerado. Muito se questiona se a liberação da compra e porte de armas auxiliaria, de alguma forma, a diminuir violência social, ou, por outro lado, se aumentariam os casos de ho-

micídio e suicídio. No Estados Unidos, maior inspiração do atual presidente, utilizando parâmetros de análise referentes à última década, nota-se que os números de violência subiram, enquanto que as vendas de armas de fogo subiram consideravelmente. Nessa toada, percebe-se que países como Áustria, Suécia e Alemanha possuem taxas baixíssimas de homicídio, mesmo detendo um índice de 30 armas de fogo para cada cem habitantes. Para o advogado Milton Texado, com tanto que a lei seja seguida, o cidadão de bem deve ter a posse. “Todo cidadão apto psicologicamente, de conduta ilibada e com aptidão técnica atestada, deve ter o direito de legítima defesa devolvido.” O secretário de Segurança de Santos, Sérgio Del Bel,

tem visão distinta. “Como cidadão, eu gostaria que todas pessoas tivessem arma em horas de risco, mas pela minha experiência na área, sou contra. Ao meu ver, armar a população pode não ser a melhor solução.” Desde que o uso de armas para Guarda Municipal foi aprovado, Del Bel sempre se manteve cauteloso em armar os guardas de Santos. “Não tenho pressa em armá-los. Há todo um período de treinamento. A segurança pública não se resolve somente com armas, mas com ações socioeducativas.” Defensores do discurso inverso apontam que a maioria dos países considerados “pacíficos” proibiram armas para uso pessoal. A título exemplificativo, o Japão apresenta taxa de homicídios de 0,28 por 100 mil habitantes. Há quem diga que armar a

sociedade pode causar o efeito contrário da proposta de aumentar a segurança. Assim ressalta o professor Matheus Salgado. “Quanto mais armas, mais crimes. A tendência é de que suicídios e homicídios aumentem. A arma na mão do cidadão é a que o bandido rouba e usa.” Com o decreto, poderá adquirir uma arma quem morar em cidade ou estado onde a taxa de homicídios seja superior a 10 para cada 100 mil habitantes, morar em áreas rurais, for dono de estabelecimentos comerciais ou industriais, militares, for agente público que exerce funções da área de segurança pública, administração penitenciária, entre outros. A posse de arma de fogo de uso permitido pode ser concedida a quem atender aos requisitos necessários: declarar efetiva necessidade; ter, no

mínimo, 25 anos; apresentar original e cópia, ou cópia autenticada, de documento de identificação pessoal; comprovar, em seu pedido de aquisição do Certificado de Registro de Arma de Fogo e periodicamente, a idoneidade e a inexistência de inquérito policial ou processo criminal, por meio de certidões de antecedentes criminais da Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral; apresentar documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; comprovar, em seu pedido de aquisição do Certificado de Registro de Arma de Fogo e periodicamente, a capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo; comprovar aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestada em laudo conclusivo fornecido por psicólogo do quadro da Polícia Federal ou por estar credenciado.

Núcleo Especial procura solucionar delitos de menor gravidade LUAN GABRIEL

Luan Gabriel Na sociedade atual, a violência está presente de diversas formas, seja no trânsito ou ao redor de casa. Muitos desses conflitos são passíveis de conciliação, e para isso foi criado o Núcleo Especial Criminal, o Necrim. Único na Baixada Santista, o Necrim Santos surgiu em 2015, a partir de uma parceria da Universidade Católica de Santos com a Delegacia Seccional de Polícia de Santos. A iniciativa teve o intuito de mediar e promover a solução de conflitos de menor gravidade (com penas de até dois anos). Após a formalização do acordo entre as partes envolvidas, o processo é enviado para o juiz homologar a sentença. Vinculado à Policia Civil do Estado de São Paulo, o Núcleo atende casos como perturbação de sossego, ame-

Sem o núcleo seriam necessários dois processos, um de investigação criminal e outro de reparação cível

Leyner AnAche Gomes DeLeGADA Parceria com a UniSantos viabiliza resolução dos casos com a conciliação

aça, lesões leves e acidentes de trânsito, auxiliando a tornar mais rápida a solução dos conflitos. Com mais de 50 unidades espalhadas pelo Estado de São Paulo, o Necrim surgiu em 2003, quando alguns de-

legados perceberam que as vítimas muitas vezes tinham apenas interesse na reparação dos danos que sofreram, sejam morais ou materiais. A delegada responsável pelo Necrim Santos, Leyner Anache Gomes, explica como

são recebidas as denúncias: “Quando há um boletim de ocorrência, a delegacia avalia se o caso é cabível de tentativa de mediação. Se for, a documentação é enviada para nós e entramos em contato com as partes comunicando

a audiência. Isso não impede que a vítima também possa seguir com um processo criminal”, explicou. De acordo com a delegada, há uma comodidade para a vítima, uma vez que a resolução do caso ocorre em até dois meses. “Sem o Núcleo, precisaria ser feito dois processos, um de investigação criminal e outro de reparação cível, o que demoraria bem mais”. Segundo a assessoria da Polícia Civil, no ano passado o Necrim Santos realizou cerca de 1.770 atendimentos, sendo 291 conciliações, 810 renúncias e apenas 270 casos não concluídos. Além da ação ser ágil e sem custo, o Necrim traz vantagens para o Judiciário, que tem uma redução no número de processos; e também para as delegacias, que podem focar na investigação de crimes mais complexos.


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PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

Diagramação desta página: Mariane Luz

Santos terá 70 guardas municipais armados

Ainda sem data definitiva, os guardas municipais estão passando por preparações técnicas, físicas e psicológicas para lidar com esta nova realidade Mariane Luz A Guarda Municipal de Santos (GCM) passará a usar armas. Pelo menos, 70 dos mais de 500 servidores poderão se habilitar ao uso dos equipamentos. Apesar de já ter os direitos de polícia desde 2014, a GCM ainda não adotou os armamentos. Porém, já há verba exclusiva destinada à compra das armas e a licitação já foi concluída. Admitindo ter parte da culpa na demora da armamentização por achar a necessidade do processo ser cauteloso, o secretário de Segurança Pública de Santos, Sérgio Del Bel, afirma que o processo e a preparação dos guardas aptos a portar armas de fogo está sendo feito da maneira mais segura possível para que os candidatos à posse saibam da importância

de atuar de forma consciente. Hoje, os profissionais já passam por constantes treinamentos, inclusive de urgência e emergência, e sobre como lidar em situações de incêndios, além de diversas outras ocorrências do dia a dia. “O treinamento está sendo iniciado pelo psicológico dos guardas e depois serão realizados os treinamentos de manuseio da arma de fogo”, diz. Questionado sobre a segurança da corporação, Del Bel afirma que os coletes à prova de bala usados atualmente são altamente seguros e estão preparados para diversos tipos de confronto. Sem obrigação O secretário ressalta que a escolha dos 70 profissionais será rígida. “Ninguém será obrigado a portar arma”, salienta. Estão sujeitos ao teste de

MARIANE LUZ

Cassetete e colete à prova de balas são os únicos equipamentos de proteção dos guardas municipais

aptidão somente aqueles que ocuparam o cargo por meio de concurso onde já constava no edital o possível uso de arma de fogo, ou seja, os servidores mais antigos não serão atingidos pela mudança. Após todos treinamentos serem feitos assim como os testes físicos e psicológicos apontarem normalidade, os guardas assinarão um termo de responsabilidade antes de atender qualquer tipo de ocorrência portando uma arma de fogo. Del Bel garante que a Prefeitura está trabalhando com cautela para que a segurança da população e dos profissionais estejam em primeiro lugar, atuando de maneira correta e eficaz.

sobre como e desde quando esses treinamentos serão realizados, moradores declaram duvidar da preparação da GCM para andar armada. Outros acreditam que a segurança aumentará. É o caso de Lucas Silva, que acha que o uso de armas será importante para reforço do policiamento. “Segurança é um ponto que está em falta na Cidade. Caso se deparem com ocorrências mais graves, a Guarda Municipal será capaz de combater com o uso da arma de fogo”. “Não há competência, treinamento, nem preparo psicológico para eles estarem armados. A Guarda Municipal serve para preservar o patrimônio público. Não para ter poder de polícia”, declarou a Temor assistente editorial, Juliana Assustados com a novida- Dantas. de e sem muitas informações O mesmo temor tem uma

guarda, na função há 27 anos. Ela teme que a medida coloque em risco a vida de alguns profissionais, apesar do intuito de maior proteção. “Ao sair na rua, um guarda que não pertence a esse pelotão (formado pelos 70 com direito ao porte de armas) acabaria correndo risco justamente por não estar armado, pois todos somos guardas na visão dos bandidos”. Questionado sobre a proteção aos guardas municipais, DelW Bel afirmou que a corporação estará protegida com coletes à prova de balas de qualidade e que o período em salas de aula para preparação do uso dos armamentos será suficiente para que os profissionais estejam integralmente aptos a atuar em situações quando houver extrema necessidade da utilização da arma de fogo.

Krav-maga: segurança com as próprias mãos CAÍQUE STIVA

Caíque Stiva Sair de casa e conseguir retornar sem observar ou sofrer qualquer ato de violência urbana é uma missão cada vez mais difícil em locais onde a criminalidade cresce diariamente. Para tentar driblar a violência de modo saudável e prático, o Krav-maga (combate de contato, do hebraico) se tornou uma opção viável para quem presencia situações de risco com frequência. Para quem não conhece, o Krav-maga é uma arte marcial de defesa pessoal desenvolvida pelo exército israelense. Além de ser utilizada por órgãos internacionais de segurança, como o FBI e a Swat, a técnica se tornou comum nos últimos anos e é utilizada em situações de sobrevivência. O principal ideal do Krav-maga para cidadãos comuns é fornecer respostas simples, rápidas e objetivas, para que cada um possa exercer seu direito à vida em um cenário de violência. Em Santos há, pelo menos, três escolas especializadas na prática. Foi na Krav-maga Bukan Santos que Carlina de Almeida, de 32 anos, mais conhecida como Kakau, descobriu a arte e se apaixonou pela defesa pessoal. No entanto, antes de se descobrir no Krav-maga, Kakau teve um “susto”, que a fez refletir na vida e buscar alguma forma de se sentir menos vulnerável com a violência urbana.

rando por defesa pessoal, acabei esbarrando no Krav-maga, nome que até então não era conhecido por mim. Encontrei a escola onde atuo hoje e, por ser uma escola séria, eu acabei me tornando instrutora com o tempo, mas não foi esse o objetivo inicial”, explica. Mas, então, qual a diferença do rav-maga para qualquer outra arte marcial? De acordo com Kakau, o Krav-maga preza pela eficiência nos golpes, justamente por se tratar de uma modalidade para ser aplicada em situações reais. Por isso, além das técnicas de golpes, é importante conhecer o próprio corpo para derrotar o oponente. “Krav-maga é uma arte marcial voltada para defesa pessoal, ou seja, não existe competição. Ele é voltado a golpes contundentes, onde você não troca soco com o oponente. Por exemplo, eu, sendo mulher, se for competir força com um homem, obviamente vou perder em todas as ocasiões. Então, para que isso Kakau se tornou instrutora de Krav-maga em uma academia de Santos não aconteça, eu vou bater em pontos vitais, como articula“Meu interesse surgiu de- rém, quando descobriu a moções e olhos. Para isso, temos pois de ter passado por uma dalidade, gostou tanto que se que conhecer bem o corpo huviolência. Em 2010, quando dedicou a ponto de se tornar mano”, detalha. saí de uma festa, sofri uma profissional. tentativa de estupro, em Praia “Krav-maga não foi interes- Novos adeptos Grande. Graças a Deus não se imediato. Eu estava procuSe para Kakau, que já praaconteceu nada. Foi daí que rando uma defesa pessoal. Eu tica Krav-maga há oito anos, veio o interesse pelas artes já fazia capoeira, mas na situ- falar sobre a modalidade é marciais”, conta. ação em si eu escapei porque empolgante, para quem está Apesar de buscar alter- Deus quis, mas não por co- começando, a vontade de pranativas para se proteger de nhecimento. Então eu passei ticar é ainda maior. atos de violência, Kakau não a procurar uma atividade que Segundo Heitor Vitti Lima, encontrou o Krav-maga em realmente me desse segurança de 21 anos, que é recém-masua primeira tentativa. Po- pra sair de casa. Então, procu- triculado em uma academia

Sofri uma tentativa de estupro [...] daí veio o interesse em artes marciais.

Carolina de almeida

instrutora de Krav-maga

que oferece aulas de krav-maga em Santos, a arte marcial está diretamente ligada à vontade de tornar a sociedade mais segura. “Eu me interessei no Krav Maga após ter assistido inúmeros vídeos do exército israelense. Para quem gosta de luta, sabe o potencial desse exército na defesa pessoal, então juntou a minha paixão por artes marciais e a necessidade de se defender no nosso País”, conta. Mesmo com poucas aulas na bagagem, Lima explica que o conhecimento obtido nos treinamentos já aumentou sua confiança e o tornou um homem mais seguro. “Ainda não precisei utilizar a defesa pessoal na rua, apenas em treinamento. Mas elevou a minha confiança de sair com tranquilidade, sem precisar ficar me limitando a horários. Pode ter certeza que, se aparecerem dois bandidos na minha frente, consigo dar conta sozinho com muito treino”, esbanja confiança.


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PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

Trânsito mata 1.231 pessoas na Baixada em quatro anos As informações são da Infosiga SP, um banco de dados com informações de acidades no Estado

GABRIEL SOMENSARI

Gabriel Somensari De 2015 até abril de 2019, 1.231 pessoas morreram nas vias municipais ou rodovias em toda a Baixada Santista, vítimas de acidente de trânsito. A maioria dos casos envolve jovens entre 18 e 24 anos (13,48%), e se concentram principalmente no período noturno (32,98%). Entre as causas, a colisão é a principal. De acordo com o Infosiga SP, 94% dos acidentes fatais são causados por falha humana. Em relação aos veículos, os acidentes com motocicletas lideram a lista. Na Baixada Santista, 443 pessoas morreram em acidentes com motos. Em seguida, um veículo semelhante: as bicicletas. O registro de acidentes envolvendo automóveis são esporádicos, assim como com caminhões e ônibus. Os pedestres também figuram com relevância nas estatísticas. Segundo o Infosiga, na região, 363 morreram atropelados. Para Ruy Luis de Andrade, gestor educacional de trânsito da CET-SP, a solução para a redução dos números de acidentes está no trabalho de conscientização dos condutores. “Praticar a gentileza no trânsito e ter um comportamento seguro é essencial”, alertou. O mesmo perfil de vítimas também aparece em outras regiões administrativas do Estado, como a Metropolitana de São Paulo, Campinas, Araçatuba, São José dos Campos, Sorocaba, Franca e Registro. Preocupações

Praticar a gentileza no trânsito e ter um comportamento seguro é essecial

Ruy Luis de AndRAde GestoR de tRânsito

Acidentes fatais com motos lideram a lista na região: 443 mortos desde 2015

O avanço da tecnologia resultou em uma sociedade mais dependente dos telefones celulares e outros equipamentos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os motoristas que usam telefones celulares têm cerca de 4 vezes mais chances de se en-

volver em acidentes. O uso de drogas e consumo de bebidas alcoólicas também são fatores que contribuem para ampliar os riscos à vida. Responsabilidade Em São Paulo, apesar de as mulheres corresponderem a

37,5% do total de condutores habilitados, elas são responsáveis por somente 8% dos registros de acidentes fatais. Dados Os números do Infosiga SP são públicos e disponíveis no site www.segurancanotransito.

sp.gov.br. A ferramenta do site, traz mensalmente - todo dia 19 ou dia útil subsequente - informações sobre acidentes fatais de trânsito nos 645 municípios do Estado de São Paulo. Também é possível acessar a geolocalização das ocorrências.

Santistas não se sentem seguros, revela enquete DIVULGAÇÃO

O jornal Primeira Impressão realizou uma enquete com 51 pessoas, onde 64,7% dos entrevistados afirmaram que não se sentem seguros em Santos, 15,7% alegam se sentirem seguros, e 19,6% depende muito do lugar e da hora do dia em que estão nas ruas. Os motivos são diversos. Há pessoas que dizem não adiantar o monitoramento. Outras já se sentem seguras somente pelo fato de saber que há câmeras. Para o professor de Educação Física, Pedro Eduardo, de 23 anos, o medo de sair na rua à noite não existe. “Talvez por nunca ter acontecido nada comigo.” conta. Para o estudante Cícero Lira, de 22 anos, o resultado de tanta violência em Santos é o fato da falta de oportunidade, e que muitas vezes os bandidos roubam por necessidade e quando não conseguem, partem para a violência. Muitas pessoas se encontram apavoradas diante da insegurança. É o caso da estudante de teatro, Giulia Manzano de 16 anos. Ela relata que ao sair da escola volta correndo para casa com muito medo de que algo lhe

to segura”, conta Maria Inês Haddad, professora de dança, de 49 anos. Em seu prédio não há porteiro, nem portão eletrônico, e quando precisa sair do seu carro, à noite, para abrir o portão, são os 3 minutos de maior tensão do seu dia.

A maioria dos entrevistados afirma que não se sentem seguros em Santos, em diversos horários do dia

aconteça, e que muitos lugares que estão escuros deveriam estar iluminados. Já o músico Cláudio Augusto da Luz, de 38 anos, discorda. Ele acredita que o problema de Santos na segurança é a falta de comunicação entre a Guarda Civil e a Polícia Militar.

”O que eu realmente esperava em todas as cidades da Baixada é a ação conjnta da Guarda Civil com a Polícia Militar. Ela deveria ser mais conjunta, para que trabalhasse melhor essa ocupação. A gente percebe que as duas instituições não se conversam. Então é muito comum

vermos viaturas de ambas as instituições no mesmo lugar. Quando você poderia ter uma cobertura melhor de ostensividade, usando com certa inteligência a distribuição da força policial”, opina. “Há um batalhão de polícia a duas quadras da minha casa. Mesmo assim, não me sin-

Bandidos disfarçados A secretária aposentada Helena de Oliveira, 65 anos, conta que durante o dia se sente segura, mas em algumas situações se sente em risco. “No bairro do José Menino, há muitos ‘guardadores de carro’ e muitas vezes são bandidos disfarçados que se aproveitam da situação. Eu mesma já fui assaltada duas vezes à mão armada, mesmo já tendo acontecido há alguns anos, eu continuo com muito medo.” conta. Arlaine Gomes, de 62 anos, segue uma rotina toda regrada, sempre com os mesmos horários para evitar situações de risco. A pedagoga conta que à noite não se sente segura. “De uns anos pra cá, a cidade foi invadida por moradores de rua , bandidos e menores assaltando. Não me sinto segura sozinha à noite”, afirma a professora.


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Diagramação desta página: Julia Nascimento

PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

Julia Nascimento A sala de aula, um espaço que deveria ser exclusivo ao aprendizado e compartilhamento de conhecimentos, ganhou uma nova roupagem com o passar dos anos em algumas escolas: a violência. Segundo a última pesquisa feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é líder do ranking global de violência contra professores. Em 2018, foram 434 agressões, incluindo as verbais. Recentemente, vídeos feitos pelos próprios alunos da Escola Estadual Maria de Lourdes Teixeira, em Carapicuíba, mostravam jovens jogando cadeiras, xingando e ameaçando professores, e brigando entre si. Não se trata, porém, de um caso isolado. Na mesma pesquisa, da OCDE, com cerca de 100 mil professores, 12,5% dos profissionais ouvidos relataram casos de agressões verbais, físicas e intimidações semanais. As consequências dessa realidade são graves. Só em 2018, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro liberou mais de 3 mil licenças motivadas por doenças mentais, como transtorno ou reação ao estresse, depressão e esquizofrenia. Assim, o Brasil lidera o ranking de violência contra professores, dentre 34 nações avaliadas. Segundo a socióloga Miriam Abramovay, especialista em violência nas escolas, a persistência desses casos se deve à falta de dados sobre o tema. Ela afirma que como “praticamente nunca” são feitas pesquisas voltadas à experiência dos professores, o tema não parece ser importante, como se a violência praticada não afetasse o ensino. Algo comprovado, inclusive, pela pesquisa utilizada, que apesar de ter sido divulgada em abril passado, foi feita com base em dados coletados em 2013.

Brasil é reprovado em sala de aula As agressões contra educadores mantêm o Brasil na liderança dos rankings de violência contra professores

Triste realidade Por muito tempo, essa realidade faz parte da rotina de uma professora de Sociologia da rede estadual de ensino, de uma unidade localizada em São Vicente. Com medo de represálias, ela pediu para ter o seu nome omitido. Conta que os ataques variam bastante. De xingamentos até ameaças de morte. No seu estágio mais leve, são “meras” agressões verbais, como em uma aula da profissional, que foi interrompida por um aluno que tinha ‘muito’ a dizer: palavrões e ofensas. “Falou horrores. Ele me chamou de idiota, imprestável. Disse que a minha aula era inútil e nunca serviria para alguma coisa. Ele me tratou como se eu nem fosse uma pessoa, sabe?”, disse a educadora.

sões se tornam ameaças de morte. Esse foi o caso de outra professora da mesma instituição, que também pediu para não ser identificada. A história teve início em um grupo de WhatsApp, cujo propósito foi reservado a desferir comentários maldosos a respeito dela. Entre xingamentos, um aluno decidiu dar um passo (muito) à frente e começou a ameaçá-la de morte. Para um observador distante, pode parecer apenas palavras vazias, mas para um membro do grupo, foi uma situação alarmante o suficiente para alertar a professora. Nisso, ela seguiu até a coordenadoria para relatar o ocorrido e, como resposta, ouviu nada além de promessas vazias. “Não me deram detalhes, nem citaram qualquer punição. Simplesmente me informaram que iam conversar com os alunos e recomendaram que eu tirasse uma licença”, declara a profissional. E assim foi feito. Durante o afastamento, ela passou por tratamento psicológico e psiquiátrico. Após isso, foi readaptada — situação na qual ela,

Ameaças pelo celular No entanto, em seu nível mais grave, as agres-

impossibilitada de exercer as suas funções por razões de saúde, foi afastada da sala de aula e remanejada como auxiliar de coordenação da mesma escola. Por outro lado, nem todos têm o mesmo destino. Alguns decidem encarar as ameaças de frente, como foi o caso de uma docente, de 57 anos, cuja coragem e determinação quase custou-lhe a vida. As ameaças foram as mesmas, mas ao invés de se assustar e recorrer a seus superiores, ela decidiu resolver diretamente com o estudante, da 6ª série. A princípio, o caso parecia estar resolvido. Porém, na semana seguinte, durante a aplicação de sua prova, ela foi orientada a tomar cuidado com o mesmo aluno. “A coordenadora me pediu para não ficar sozinha com ele na sala de aula. De início, não entendi, mas atendi ao pedido. No final do dia, me disse o motivo: ele tinha levado um facão cerrado para a escola e falou para os colegas que ia usar contra mim”, declara. Mesmo assim, o diretor da instituição afirma não conhecer casos de violência praticados na escola, enquanto dois dos professores entrevistados relataram à Reportagem que são aconselhados a não registrarem o boletim de ocorrência, para evitar manchar a imagem da tradicional unidade escolar.

Professores da rede pública são os mais agredidos Fernanda Paes A maior parte das ocorrências policiais são registradas por professores que atuam em redes municipais e estaduais. Entretanto, os profissionais de escolas privadas também estão sujeitos a violência. Em 2012, a professora de inglês, Andréa Sá, foi vítima de agressão física. “A exposição na mídia e o julgamento das pessoas foram as maiores dificuldades na época. Ainda voltei para a instituição, mas comecei a ter crises de pânico por conta do ocorrido. A escola em nenhum momento me apoiou e não demorou para que me demitissem”, explicou. Além das violências enfrentadas pelos professores em sala de aula, os problemas psicológicos se tornaram recorrentes. Para o professor santista Bruno Alves, de 31 anos, a violência moral faz parte da

profissão. No Brasil, se tornou raro um docente que não tenha sofrido alguma violência. “Quando trabalhei em escolas mais carentes ou regiões mais afastadas, presenciei casos de agressões físicas em colega”, afirmou. Muitos pais também acabam agredindo professores. Com 60 anos, Ana Rosa Nini, coleciona histórias dos seus 34 anos como professora. Entre elas, a do pai que a enfrentou colocando um facão em seu pescoço. “Eu não trabalhava no horário de aula da filha dele e ele estava querendo saber o que aconteceu, mas não tinha como explicar sem saber o que houve”, lembra Ana. Prováveis soluções “Na minha época qualquer ato de falta de respeito o aluno seria, no mínimo, suspenso. Acredito que faltem mais punições para atos como esse”, explica Thiago Touguinha,

professor de inglês do Ensino Médio. Os ensinamentos da escola e a educação dada em casa são essenciais para que não haja tanta violência em sala de aula. A cada ano, o número de agressões contra professores aumenta. Mais de 50% dos docentes que trabalham em escolas públicas, afirmaram ter sofrido violência nos últimos anos. Para Bruno, os alunos se tornam violentos por viverem em ambientes iguais. A luta dos professores é diária, mas não tem como eles trabalharem a formação dos alunos sozinhos. Quanto mais investirem em psicopedagogia, menos comuns se tornarão os casos de violência. Para especialistas, os problemas dentro de sala de aula devem ser enfrentados, em conjunto, pela família, direção da escola, professores e Os problemas na escola devem ser enfrentados pelas famílias e docentes psicopedagogas.


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Diagramação desta página: Fernanda Paes & João Pedro

Massacre abre questionamentos sobre segurança no ambiente escolar Massacre na Escola Raul Brasil é tema de discussões nas universidades de Santos DIVULGAÇÃO/ AGÊNCIA BRASIL

Caio Bibiano

Rede pública Por sua vez, a Prefeitura de Santos já estuda formas de evitar tragédia semelhante. Segundo o secretário de Segurança, coronel Sérgio Del Bel, alguns meios estão sendo estudados. “Implantação de vídeo-monitoramento e alarmes até reconhecimento facial nas escolas”, destacou o secretário sobre estudos que estão sendo feitos para dotar os colégios

Acho que eles são vulneráveis. Não acho que estão preparados para situações quando pessoas invadem

O massacre de Suzano, no interior paulista, em 13 de março, abriu vários debates sobre a segurança em áreas públicas, em especial escolas e universidades. Na ocasião, a tragédia deixou 10 estudantes mortos e 11 feridos. A repercussão se refletiu em várias localidades, colocando em alerta dirigentes e instituições de ensino. Trotes e informações truncadas também foram comuns, como os ocorridos na Universidade São Judas e no campus Baixada da Unifesp, que interrompeu as aulas em razão de uma suposta ameaça publicada, de forma decifrada, nas redes sociais.

Fernando Guerra,

estudante de enGenharia Civil

Massacre ocorrido em escola de Suzano levantou riscos sobre este tipo de crime

com tais equipamentos. Responsável pela segurança no período da noite na Universidade Santa Cecília Gabriel Santos explica a responsabilidade dos profissionais que atuam neste setor. “Em períodos de turnos, os funcionários vão revezando nas catracas e somos instruí-

dos para deixar passar apenas quem tem carteirinha (somente estudantes)”, disse. O episódio do massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano, foi lamentado pelo profissional. O caso virou referência à equipe de segurança da Unisanta. “Depois deste episódio, os chefes da equipe passaram

a colocar os vídeos da tragédia para conscientizar os funcionários”, afirmou. Para o universitário Fernando Guerra, o trabalho de segurança na Unisanta é importante. No entanto, ele diz ser desnecessário armar os profissionais. “Acho que eles são vulneráveis. Não acho que

estão preparados para situações quando pessoas invadem”. Por fim, o estudante de Engenharia Civil diz que para evitar casos como o massacre que vitimou 10 alunos da Escola Raul Brasil se repita, reforçar os equipamentos dos seguranças pode ajudar. “É importante porque em uma situação dessa (Escola Raul Brasil) pode intimidar mais só que o agressor pode vir mais preparado. No caso de Suzano os dois entraram com a maior facilidade e fizeram o que aconteceu”, completou.

Onda de delitos causa preocupação no Boqueirão THAÍS NUNES

thais nunes

Bicicletas O roubo de bicicletas é muiO bairro do Boqueirão, em to comum. O jogador de futeSantos, conhecido por concen- bol Lucas Mendes foi mais um trar universitários, sofre com que entrou para a estatística. assaltos e furtos. “Eu venho treinar na faculdade Não importa a hora do dia, à tarde, mas em um dia depois os criminosos não se intimi- do treino dois homens armadam em cometer os delitos. dos me pararam quase na por“Três vezes por semana, eu ta, levaram meu celular e midescarrego mercadoria aqui no nha bicicleta. Tinha um bom meu estabelecimento e duas movimento na rua Oswaldo vezes fui abordada; da primei- Cruz, mas isso não atrapalhou ra só levaram meu celular, mas a ação dos bandidos”. na segunda, dinheiro”, conta Frequentadores do BoqueiPatrícia Abreu, proprietária de rão parecem já ter se acostumauma cantina em uma das fa- do com a violência em seu dia a culdades da região. dia. Quase todos revelam já ter “Eu estava voltando da aula presenciado ou sofrido com as com meu irmão, quando um ações da criminalidade em um grupo de meninos nos abor- bairro considerado nobre. dou para roubar nossos celulares, colocaram meu irmão de joelhos, apontando arma. Foi tudo muito rápido e isso a meEu estava voltando nos de uma quadra da faculdade”, contou a estudante Luiza da aula com meu Pires.

Sexta é pior Nas sexta-feiras, a situação piora. Muitos estudantes relatam que pessoas de fora do meio universitário circulam nas imediações com a finalidade de praticar furtos. Caroline Piffer, estudante e moradora do bairro, conta que mesmo com rondas frequentes da Polícia Militar os crimes acontecem quase que diariamente. “Moro na rua de trás da faculdade e tanto de tarde como a noite tenho medo de voltar sozinha”.

irmão, quando um grupo de meninos nos abordou para roubar nossos celulares e colocaram meu irmão de joelhos, apontando arma.

luiza Pires estudante

Moradores e estudantes temem circular pelo bairro em determinados horários.


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Diagramação desta página: Raphael Seroni e Pedro Donabela

PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

Apreensões de drogas no Porto podem superar recorde de 2018 No ano passado foram apreendidas 23.119 toneladas de entorpecentes, 11.669 a mais do que em 2017 FOTOS DIVULGAÇÃO

Raphael Seroni A Alfândega do Porto de Santos registrou até maio deste ano, 21 operações da Polícia Federal que resultaram na localização de toneladas substâncias ilícitas no cais santista. Foram interceptados 10.124 toneladas de cocaína até o dia 30 de maio. De 2015 a 2018 o número de apreensão de drogas no Porto de Santos cresceu 2.200%. A quantidade de drogas apreendidas com destino ao porto santista é maior do que a contabilizada pela Receita Federal. O delegado-chefe da Polícia Federal (PF) em Santos, Ciro Tadeu de Moura, Em 2019, o total de cocaína apreendida pode superar récorde de 2018, que registrou 23,1 toneladas afirma que muitas cargas ilícações e com isso embarcam citas são interceptadas no traas substâncias para o interior jeto antes mesmo de chegar à dos navios cargueiros. área portuária. Os cães de faro, conhecidos O porto é um dos prefecomo equipes K-9, são um dos ridos dos traficantes por se meios de investigação da fortratar do principal ponto de ça tarefa no combate ao tráfiexportação do País e por posco de drogas no porto. Além suir um maior número de disso, existem grupos dedirotas para a Europa; os princados à análise de risco de cipais países que recebem as exportações e inspeção, que drogas são: Bélgica, Espanha, utilizam escaners de raio X e Holanda, França, Alemanha A apreensão de 23.119 toneladas é a maior da história do cais santista câmeras de monitoramento. e Reino Unido. O Porto de Santos conta com Em alguns casos, a apreensão das drogas é efetuada, em contêineres em meio a rações. Já em outros casos, o uma estrutura de mais de mas o responsável pelo cri- mercadorias regulares sem tráfico é realizado com o navio 2.500 câmeras e 15 escaners me não é identificado. Isso o conhecimento das empre- em alto mar, o que dificulta o de contêineres instalados em acontece devido ao método sas exportadoras. Essas tran- trabalho da Polícia Federal pontos estratégicos. Uma dessas máquinas, conhecido como rip on/rip sações costumam envolver na interceptação das drogas. off loading. A tática consiste trabalhadores do setor, que Nesse método, os traficantes avaliada em R$ 4,5 milhões, em inserir os entorpecentes conhecem a rotina das ope- operam em pequenas embar- instalada no antigo terminal

Bernardo Martini

Uma guerra sem fim

Desde o seu surgimento em meados dos anos 70, a política contra a distribuição e o consumo de drogas ganhou proporções inimagináveis. Tornou-se então, uma grande dor de cabeça para as autoridades governamentais, visto que as leis antidrogas, bem como sua comercialização, envolvem fatores capazes de movimentar e de destruir um governo: política, dinheiro e armas. O “inimigo número um”, assim chamado pelo presidente americano Richard Nixon, no começo da década de 70, movimenta cerca de R$ 17 bilhões ao ano no Brasil, segundo o general da reserva

do Exército Alberto Mendes Cardoso, ex-ministro do GSI – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Mas como impedir um “mercado” como esse? Há quase meio século do início do que começou a ser chamado de guerra contra as drogas, nenhum país ou governo parece ter achado a solução eficaz, apesar das inúmeras tentativas. O secretário de Segurança da Prefeitura de Santos, coronel reformado Sérgio Del Bel, considera a guerra contra as drogas como perdida. “Não é a polícia nem o Estado que perdem. É a família [...]. Temos que restabelecer o elo familiar”. De acordo com o coronel da

reserva, a legalização implica em gastos com saúde e reabilitação por parte do Governo, mas também sofre com a repressão, que até hoje foi responsável por mais de 300 mil casos de desaparecimento e mortes no Brasil, de acordo com pesquisas realizadas pelo O Globo. O fato é que a criminalização da política e a politização do crime caminham juntas. Segundo Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA no documentário Quebrando o Tabu (2011, de Fernando Grostein Andrade), existem tanto políticos que se rendem ao crime quanto criminosos que ganham muito dinheiro e fama e acabam, direta ou indiretamente, tornando-se políticos.

Holanda – talvez o país mais liberal da Europa. Legalizou a maconha e a prostituição dentre outros assuntos considerados tabus. Os chamados coffee shops foram instituídos e assim seguiram-se os bordéis. Hoje, alguns bairros de Amsterdã tiveram desvalorização em valor de mercado, isso devido ao fato de restaurantes famosos e hotéis de luxo terem cedido espaço ao comércio legal de drogas. O governo cassou a licença de alguns bordéis e os coffee shops não podem mais vender bebidas alcoólicas ou cogumelos alucinógenos.

Suíça–

calcula-se que aproximadamente cinco toneladas de cocaína são consumidas anualmente na Suíça. Devido às políticas flexíveis ao consumo de drogas e o alto poder aquisitivo da sociedade, os negócios gerados pelo tráfico no país giram em torno de U$330 milhões anuais.

Uruguai – Um cálculo feito pelo sociólogo Sebastián Aguiar aponta que se todas as pessoas registradas no Uruguai (para compra de maconha legal) pudessem receber hoje os 40 gramas permitidos por mês, estaria-se arrebatando do mercado ilegal 50% da demanda anual de cannabis, convertido no valor aproximado de U$22,5 milhões.

da Libra é capaz de atravessar quase 30 centímetros de aço ou até três metros de sacas de café. Segundo Cleiton Alves, inspetor da Alfândega do Porto de Santos, 100% da carga de importação é escaneada. Na exportação, apenas aquilo que é considerado importante passa por vistoria. As mercadorias ficam alocados no porto cerca de 15 dias. No Brasil, 90% do comércio mundial se dão por meio de contêineres, mas menos de 2% são inspecionados. Os portos marítimos brasileiros se tornaram um ponto de acesso fundamental na rota do tráfico de cocaína. Maior porto do hemisfério sul e um dos maiores do mundo, o complexo santista é responsável por 1/4 da balança comercial brasileira. Só no ano passado foram movimentadas mais de 133 milhões de toneladas de cargas. O porto comporta 55 terminais marítimos e retroportuários e 66 berços de atracação. Além disso, possui uma extensão de mais de 16 quilômetros de área portuária, o que dificulta a fiscalização e ações de interceptação da droga por parte das autoridades responsáveis. “É um porto com muita movimentação e com favelas no seu entorno, o que facilita a logística dos traficantes”, explica o delegado-chefe da Polícia Federal em Santos.

Visão dos especialistas Pedro Donabela O jornalista que trabalha na editoria de Porto da A Tribuna desde junho de 2003, Leopoldo Figueiro, afirma que o aumento gradativo da exportação de drogas no Porto de Santos não se justifica, já que a Receita Federal e a Polícia Federal trabalham cada vez mais com dados e tem os melhores sistemas de segurança do país. “O que facilita o tráfico de drogas é o tamanho do porto, são mais de 6 milhões de metros quadrados, é o maior porto da América Latina”. “Outro fator é a facilidade de linhas de navegação, já que o porto da cidade tem as maiores linhas de navegação do Brasil”, completou o jornalista. Segundo sua avaliação, a quantidade de drogas, apesar de grande, ainda é pequena perante os 133 milhões de toneladas que circulam por ano no Porto de Santos.Ainda ressalta a razão do Porto de Roterdã ser o maior destino das drogas. “Holanda é o principal destino de cocaína de Santos, já que abriga um dos maiores portos do mundo, o de Roterdã”. Mas a quantidade de fraudes pode cair consideravelmente. A entidade ABTTC (Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e

das Transportadoras de Contêineres) criou um novo lacre eletrônico para agregar proteção as mercadorias. Esse equipamento dispara um alarme assim que o lacre for rompido. No ponto de vista do repórter policial há mais de 30 anos, Eduardo Veloso, também da A Tribuna, diz que o tráfico de drogas se valoriza dependendo do país onde a droga chegar. “Se os entorpecentes forem destinados a um lugar com moeda valorizada e estabilizada, o lucro poderá ser maior para o financiador”. Em sua concepção, o financiador do comércio paralelo de mercadorias ilícitas raramente é preso, já que eles ficam em locais seguros para manter o negócio. “Em mais de 25 anos de jornalismo policial, eu nunca vi algum financiador ser punido pelos seus crimes”, desabafou. “O artigo 36 da Lei de Drogas pune os bens materias do subsidiador dos produtos ilegais, infelizmente eles nunca são pegos”, queixou-se. A lei 11.343 - Lei de Drogas - diz que o crime de tráfico de drogas em território nacional tem pena de 5 a 15 anos de reclusão. Caso o criminoso esteja atuando em tráfico internacional, a pena sobe para 10 a 25 anos.


PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

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Diagramação desta página: Eduardo Russo

Polícia nega que Itanhaém seja a cidade mais violenta do Estado De acordo com a Polícia, os dados desconsideram a temporada de verão

Eduardo Russo A cidade de Itanhaém é considerada a mais violenta do Estado, conforme uma pesquisa divulgada pelo Instituto Sou da Paz. O índice leva em consideração a ocorrência de crimes graves nos municípios, como homicídios, estupros e roubos violentos, registrados em 2018. Porém, de acordo com a assessoria de imprensa do Departamento de Polícia Judiciária do Interior-6 (Deinter 6), a informação leva em conta apenas o número da população fixa do município, desconsiderando a temporada de verão e os feriados prolongados, onde a população

Eduardo Russo

chega a triplicar. Apesar da pesquisa desenvolvida pelo instituto, a Polícia Civil destaca que as ações efetivas contra o crime organizado na Baixada Santista estão sendo eficazes. Há registros de diminuição nos casos de homicídio, latrocínio, roubo e furto de veículos. Uma das preocupações principais do setor de segurança pública no Estado diz respeito ao tráfico de drogas. E diversos especialistas defendem, como medida para redução do tráfico, a descriminalização do uso de drogas. No entanto, o titular do Deinter-6, delegado Manoel Gatto Neto, por meio da assessoria de imprensa, afirma que não vê motivos para a liberação do uso recreativo de drogas. Ele exemplifica que, apesar de o cigarro ser liberado, uma das atividades mais fortes do crime organizado está exatamente ligada ao contrabando de cigarros, o que movimenta bilhões de reais.

Uma das atividades mais fortes do crime organizado está exatamente ligado ao contrabando de cigarros, o que movimenta

O projeto para a reforma do Palácio da Polícia está pronto

Reforma Outra prioridade da Polícia é a reforma, em Santos, do Palácio da Polícia, sede do Deinter-6, que foi construído por determinação do Governo do Estado em 1943, para que os departamentos de polícia fossem centralizados. Na época, eles se dividiam em edifícios alugados e na Praça

dos Andradas, local em que se encontrava a Cadeia Velha. Em 1956, o novo edifício na Avenida São Francisco, no Centro, foi concluído e os presos e as repartições da Polícia foram transferidas para o local. Passados 63 anos, a reforma é necessária. O projeto básico está pronto e a execução da obra custará R$ 28

Manoel Gatto neto DeleGaDo

milhões. Falta, todavia, a liberação dos recursos para o consequente processo licitatório. Outra necessidade do setor na região, que vai do litoral norte até a divisa do Paraná abrangendo 24 municípios, é a de pessoal. Para tanto, diversos concursos para a contratação de pessoal estão em fase final de elaboração.

“Praia Grande Segura” investe R$ 5 milhões no setor Vinícius Costa O prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, lançou recentemente o Programa Praia Grande, por meio de um planejamento estratégico, que permite investimentos de mais de R$ 5 milhões no setor de segurança pública. Pagamento de plantões extras que, nos últimos tempos só eram pagos em época de temporada, verão e feriados, mais viaturas e guardas municipais nas ruas. Para alguns moradores, o programa é importante, porém precisa de alguns ajustes. Helcio Dominguez, morador do bairro Balneário Flórida há 30 anos, conta que muitos investimentos não chegaram em seu bairro “Acredito que por ficarmos no final da cidade o

pessoal acaba esquecendo da gente porque só vejo essas coisas sendo colocadas em práticas em bairro comercial”. Ao reforçar que segurança pública não é apenas um problema de policiamento, mas também de tecnologia e solução de questões sociais, o prefeito explicou que o Praia Grande Segura, ainda este ano, vai instalar mais 600 câmeras de monitoramento, ampliando o sistema que atualmente conta com mais de 2.200 equipamentos. “Além disso, conseguimos um recurso de cerca de R$ 1 milhão que pleiteávamos há dois anos (por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública – Senasp) e que será utilizado para a compra de mais cinco viaturas para a Guarda

Civil Municipal e também de uniformes. E, a partir de setembro, integraremos mais 80 guardas à corporação, graças ao concurso público que está em andamento”. Mourão revelou ainda que, recentemente, apresentou uma proposta ao Governo do Estado para a construção de novos prédios para a instalação da Delegacia-sede, no Bairro Tupi, e do 2º DP, no Bairro Caiçara, além da nova Delegacia de Defesa da Mulher que já está em andamento no Boqueirão, um dos bairros mais frequentados da cidade. Cidade que, por sinal, é a que mais cresce na Baixada Santista. Praia Grande é a terceira mais populosa da região, ficando atrás de Santos e São Vicente.

Vinícius Costa

Monitoramento da Guarda Municipal no Terminal Rodoviário Tude Bastos


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Em Praia Grande, Conseg auxilia munícipes

Com finalidade de planejar e solucionar demandas do bairro, o município conta com dois grupos do Conseg Na prática, o Conseg – Conselho de Segurança Pública- é uma reunião de um grupo de pessoas da comunidade que se reúnem com o objetivo de planejar e solucionar demandas do bairro, assim como criar campanhas educativas referentes à Segurança Pública. As reuniões mensais são acompanhadas pelo comandante do batalhão das polícias Militar e Civil, além da Guarda Municipal e Agentes de Trânsito. Em Praia Grande, são dois grupos de Conseg: o Norte que atua da divisa de São Vicente ao bairro Vila Mirim, e o Sul, que atua a partir deste bairro até a divisa de Mongaguá. O presidente do Conseg Norte, Willian Oliveira Roemer, participa do grupo desde quando era menor de idade. Roemer, que é jornalista e servidor público, está no cargo há algumas William Roemer (no centro) enfatiza o papel do Conselho de Segurança Pública (Conseg) para ajudar a enfrentar problemas de segurança na cidade gestões. A falta de participação frequente da população gera Parcerias uma dificuldade na sucessão do O Conseg em Praia Grande cargo, que caso não tenha preganhou destaque e por isso os tendente pode ser extinto. parceiros pedem para que as Roemer vê o quanto o Conreuniões sejam feitas em seus seg contribui para a comunilocais. Entidades como a Asdade, pois são muitas as desociação Comercial de Praia mandas atendidas por meio Grande, a casa dos Conselhos de reuniões. “Um dos casos Municipais, a Seguradora Porrecentes é o de estacionamento to Seguro, e a sede principal de caminhões na cidade. É uma do CONSEG, que nasceu no preocupação em alguns bairLions Clube Ocian, abrigam os ros porque estacionados, eles encontros. se tornam abrigos para pessoas Essa variação de bairros é mal intencionadas. Elas se esimportante para que haja engacondem no caminhão para usar jamento dos moradores de todrogas ou até assaltar alguém. das as localidades da cidade em Todos esses detalhes são da prol de melhorias. área de Segurança Pública”. De acordo com a agente de A prefeitura atende várias trânsito, Regiane Roemer há solicitações de iluminação, coruma grande preocupação com te de árvores, buracos de rua as fake news dentro da Segupelo 162, canal de ouvidoria Agente de Trânsito Regiane Roemer é a primeira secretária no Conseg Norte de Praia Grande na gestão 2019/2021 rança Pública, e os moradores pública, mas são nas reuniões fazem denúncias sem checar do Conseg que o morador con- erto começou chamando moServidora pública, Regiane os meios necessários causansegue entender porque não há radores porta a porta e pela inatua como agente de trânsito. do transtornos aos próprios uma ronda na sua rua e como ternet para que integrassem o Como secretária, por vezes, munícipes. funciona este sistema. grupo de vizinhança solidária. age também representando o “Houve uma notícia falsa Existem, entretanto, outros “Juntei um pequeno grupo secretário de trânsito nas re- há um tempo de que estava Da iluminação temas como a falta de sinali- de moradores da minha quaduniões mensais. As maiores acontecendo um assalto numa zação viária. E assim, surgem ra e procurei o Conseg Norte. ao buraco de rua, demandas são referentes aos grande empresa de departatrocas de informações e até O Capitão Farias, que era o estacionados em mentos no bairro Ocian, e que tudo é Segurança caminhões mesmo a denúncia de algo il- Comandante da 1ª Companlocais ermos, carros com som os assaltantes estavam fazenícito no bairro. “Temos cui- hia da Policia Militar, nos ajualto, veículos abandonados, do funcionários reféns. Essa Pública dado em preservar a imagem dou e por meio de um ofício sinalização viária ineficaz e informação falsa gerou um e a identidade das pessoas que conseguimos a autorização. O colocação de lombadas. transtorno enorme, porque fazem uma denúncia. Porém, próximo passo foi chamar os “Muitos moradores solici- o esposo de uma das funWilliam RoemeR todas as questões moderadas moradores do bairro para uma tam a colocação de lombadas cionárias ficou transtornado, PResidente Conseg já são resolvidas na reunião e reunião maior e funcionou. e hoje é complicado porque saiu do trabalho e foi correndo as atas encaminhadas para a O grupo cresceu tanto que eu temos uma resolução que di- para a loja de departamentos. coordenadoria dos Consegs em não estava dando conta. Fiquei ficultou isso. Dependendo da Ao chegar lá, viu que a esSão Paulo assim como todas as como tutor da minha rua e cada endem prontamente. situação, nós vamos pessoal- posa estava trabalhando norsolicitações também”. via tem um tutor diferente”, exLopes acredita que o pro- mente falar com o secretário malmente. Por isso, sempre Roemer lembra que de plica Lopes. grama contribuiu para o bairro, de trânsito ou nós mesmos avisamos para que as pessoas acordo com o major Aires, hoje Os grupos de vizinhança porque os números de ocorrên- fazemos um ofício ou aciona- tomem cuidado. aposentado da Polícia Militar, solidária são organizados via cias reduziram drasticamente. mos a ouvidoria da prefeitura Hoje existem sites para o mínimo detalhe pode se tra- whats up, com comunicados “Gostaríamos de colocar faixas para que a pessoa possa ter checar essa informação, como o tar de Segurança Pública, “da e alertas de ocorrências feitos nas ruas e placas nos postes, de um retorno da solicitação”, www.boatos.org, www.e.farsas. iluminação ao buraco de rua , em tempo real. Cada residência ter uma base móvel, mas en- diz a agente. com, entre outros. “São sites tudo é Segurança Pública”. participante tem uma placa de tendemos que essa base móvel Há casos em que logo que você pode checar a inforO programa Vizinhança identificação fixada na frente da precisaria sempre de dois poli- após a reunião, o supervisor mação” , destaca Regiane. Solidária surgiu de uma re- casa. Isso inibe a ação dos me- ciais e isso seria complicado de trânsito vai pessoalmente Criados pelo Decreto Esunião de Conseg, no bairro liantes que percebem que a viz- porque não temos esse efetivo. verificar a reclamação de tadual nº 23.455, de 10 de Canto do Forte. Roberto Perei- inhança está atenta a qualquer Infelizmente, sabemos que o sinalização fraca. É feita uma maio de 1985, e regulamentado ra Lopes é tutor de uma das movimentação diferente. A custo é alto”. visita técnica ao local e de pela Resolução SSP-37, de 10 ruas do bairro. Participante das Polícia Militar disponibiliza A Secretaria de Trânsito acordo com o entendimento de maio de 1985, os Consegs reuniões há anos, o que o levou uma ronda no bairro durante tem função importante den- dele, ele comunica o setor de foram aperfeiçoados com a ima frequentar o grupo foi o mo- o dia, de 2ª a 6ª, de manhã até tro das reuniões do CON- Engenharia e já atende a so- plantação da Coordenadoria mento tenebroso que o bairro o final da tarde. Em qualquer SEG. A 1ª secretária Regiane licitação. Assim, o CONSEG Estadual dos Consegs pelo Depassava, com número crescente ocorrência, eles entram em Oliveira Roemer é partici- desburocratiza o processo creto Estadual nº 25.366, em 11 de assaltos às residências. Rob- contato direto e os policiais at- pante do grupo desde 2011. para o munícipe. de junho de 1986.


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904, a linha do medo

Entre as 65 linhas intermunicipais da região, a 904 é onde ocorrem mais assaltos

LUIZ NASCIMENTO

liderou o total de registros. Ou seja, de cada 1000 viagens em todas as linhas metropolitanas, 6 registraram roubos. O índice chegou a 30 vezes mais que a média de novembro do mesmo ano. O órgão não informou a quantidade de assaltos por linhas, apenas o ranking das mais assaltadas.

ranking das mais assaltadas. “Os ônibus, que deveriam ser ambientes mais seguros, geram insegurança, principalmente devido a todos os casos de assédio, furtos e roubos que acontecem com frequência no transporte público metropolitano”. Andressa Aricieri utiliza o 904 para se locomover de Praia Grande para Santos. Ela afirmou nunca ter presenciado Temor algum assalto, mas ouviu relaUsuária do transporte me- tos de outros passageiros que tropolitano entre Santos e Praia passaram pela experiência. “Eu Grande – e vice-versa, a estu- tive sorte de não ter sido assaldante de Jornalismo, Lillian tada quando usei os coletivos”. Cruz, diz não se sentir segura “No trecho da Vila Margarino transporte coletivo e afirma da, em São Vicente, a atenção ter presenciado alguns assaltos redobra. Acredito que seja por desde que iniciou a faculdade. ali que ocorrem os assaltos”, As linhas 904 e 934EX1 são disse Vinícius da Silva, analisas que ela mais utiliza, jus- ta de importação, em Santos, tamente as que compõem o usuário da mesma linha.

Usuários do transporte coletivo de Praia Grande e São Vicente são os mais vulneráveis a serem vítimas de assaltos dentro das 65 linhas dos ônibus intermunicipais. Com base na Lei de Acesso à Informação, de acordo com dados fornecidos pela Assessoria de Informações Estratégicas do Governo do Estado, a linha de ônibus intermunicipal 904, que percorre o trajeto entre Praia Grande e Santos, foi a que registrou o maior volume de assaltos no ano passado. Maio de 2018 foi o mês que

A linha 904, entre Santos e Praia Grande, é a que regista mais assaltos

Ranking das linhas mais assaltadas em 2018

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Outras cidades

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FONTE: ASSESSORIA DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS - GOVERNO DO ESTADO

O medo, porém, não se restringe somente às 10 linhas mais assaltadas. A universitária Sabrina da Cruz de Jesus precisa se deslocar todos os dias de Bertioga até a faculdade onde estuda em Santos. Ela utiliza o ônibus coletivo, em média, quatro por dia. Ela também afirma não se sentir segura. “Sempre acontecem assaltos”, diz. Ao ser questionada sobre medidas de segurança, Sabrina ressalta que “o único jeito é entregar tudo para o bandido para nossa segurança”.

O lado ‘oculto’ de São Vicente RAFAEL MEIRELES

Rafael Meireles O morador vicentino se preocupa cada vez mais com a falta de iluminação na orla da praia. Problema que dificulta a vida do cidadão que quer passear no final do dia naquele trecho que percorre a praia do Itararé até o Gonzaguinha. Roubos são cada vez mais frequentes e a atual situação pressiona o prefeito de São Vicente. Não é necessário muito tempo de caminhada pela orla da praia para notar luminárias apagadas e fiações expostas. O cidadão vicentino possui um tempo limitado para dar aquele passeio à tarde, sendo que, a partir das 18h, o indivíduo que andar por aquela região pode se tornar mais atrativo para os ladrões que atacam ao apagar das luzes. Assaltos são frequentes na praia e na maioria dos casos, justamente por conta da falta de iluminação. Fato que faz a área comercial das praias não funcionar tão bem, levando em conta que são poucos os comércios que ficam abertos

A má iluminação nas praias de São Vicente são motivo de preocupação para moradores e turistas

depois que o sol se põe. O presidente da Associação de Permissionários, Ambulantes e Lanchonetes de São Vicente, Marllon Campos de Oliveira, diz que orienta seus funcionários a se prevenirem de possíveis assaltos: “A gente (os comerciantes) orienta não vir com correntinhas, celular, não ir até à beira da água principalmente no período noturno que não tem

quase iluminação na praia”, comentou o comerciante. Além de assaltos também são registrados casos de agressão que ocorrem próximo à areia da praia. Caso que aconteceu com o universitário Lucas Calves, seu irmão e um amigo, na praia do, Itararé. “Estava próximo a areia (da praia do Itararé), em torno das 19h, com meu irmão, enquanto empurrava a bici-

cleta, até que percebemos a aproximação de seis ou mais garotos em nossa direção. Achamos estranho, e logo após, começaram a correr atrás da gente e fomos em direção ao calçadão. Um deles puxou minha mochila, cai e dois começaram a chutar minha cabeça enquanto outro levava minha bicicleta. Só acabou quando alguns jogadores de time de praia vieram

nos ajudar, e depois os bandidos correram”, explicou o estudante de 21 anos. Lucas ainda destaca a ineficiência da polícia quando se trata de roubos de bicicletas: “Pensei até em fazer o B.O. (Boletim de Ocorrência), mas a polícia parece não se importar com roubos de bikes na região”. O atual prefeito de São Vicente, Pedro Gouvêa, em entrevista feita ao Diário do Litoral, em maio deste ano, falou sobre a situação que atinge a praia do Itararé e do Gonzaguinha: “Estamos fazendo uma obra muito importante de iluminação pública em toda a faixa do Itararé e do Gonzaguinha. Até o fim do ano eu quero terminar essa iluminação. Teremos uma temporada com iluminação na faixa de areia, na faixa de jardim e na pista” Além das suas propostas para iluminação da praia, Gouvêa pretende usar o fator turístico da cidade para trazer mais movimentação para aquele trecho, como circos, shows e feiras gastronômicas.


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Diagramação desta página: Franciele Ferreira

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Moradores do bairro Cachoeira, em Guarujá, não temem violência Para os moradores, apesar da fama de violento, bairro é mais seguro do que outras localidades FRANCIELE FERREIRA

Franciele Ferreira Conhecida como Pérola do Atlântico pelos seus atrativos turísticos, Guarujá carrega uma simbologia que a coloca em ponto distante desta fama na atualidade. Segundo o Instituto Sou da Paz, a cidade ocupa o 77º lugar no ranking dos municípios paulistas mais seguros entre aqueles com mais de 50 mil habitantes. No ano passado, ela era a 72ª colocada. Apesar da diminuição no índice, de 21,1 para 17,5, a cidade foi ultrapassada por outros municípios. Ou seja, melhorou, porém ainda ostenta um índice preocupante na comparação com os demais. O índice considera crimes letais, sexuais e contra o patrimônio.Quanto maior, mais vulnerável está a população. Em 2014, a cidade detinha o índice de 29,1; em 2015, 17,5; em 2016, 21 e em 2017, 21,1. Se a situação não lembra os áureos e bucólicos tempos da Guarujá antiga, pelo menos entre os moradores de comunidades com moradias precárias ou/e aglomerados, a violência nelas é menor que externamente. Pelo menos, aparentemente e na visão dos moradores. Em uma delas, o Bairro Cachoeira, que fica na entrada da cidade, os moradores alegam que o local é tranquilo, a despeito de munícipes de outros bairros terem opinião contrária.

Mal treinados Morador do bairro, o soldado F.M (abreviação fictícia) acredita que existem vários pontos de tráfico pelo bairro e até com crianças envolvidas. Ele comenta que o atendimento da Polícia Militar na localidade é raso. “Eles fazem ronda, mas são mal treinados e mal remunerados. As atitudes que acontecem aqui não aconteceriam em um bairro nobre”, diz. Tanto o soldado como a estudante Kamila são taxativos: o bairro deixou de ser violento. Os casos que acontecem nesta localidades são provocados por pessoas de fora ou pela própria polícia. “Não tenho uma visão muito boa. Acredito que eles acabam se aproveitando minimamente da autoridade que possuem”, afirma a estudante.

Segundo moradores, as atitudes violentas que acontecem no bairro são feitas por pessoas de fora

frido qualquer outro tipo de atentado nos últimos anos. Mas lembro do caso de um morador alvejado perto de casa há uns 10 anos e de uma mercearia que foi queimada porque o dono era parente de policial”, disse Kamila Evangelista, 22 anos, estudante de Sem perigo Para os moradores, alguns Artes Visuais. O antropólogo Fernando casos até hoje não foram esclarecidos, e mesmo com Martins afirma que a sensafama de violento, o bairro ção de segurança aos moranão apresenta perigos a quem dores decorre da relação de convivência que eles possuem mora. “Eu nunca fui assaltada com o bairro onde moram, aqui. Também não conheço formado por pessoas trabaalguém que tenha sido ou so- lhadoras ou não. E assim, o

As atitudes que a Polícia tem aqui não aconteceriam em um bairro nobre

F.M

Soldado e Morador

munícipe não se sentiria em perigo. Para o antropólogo, esse contexto positivo se dá por conta da confiança que as “autoridades” da comunidade passam. “É como um elo invisível entre a população. Eles não atentam contra alguém, porém, ainda assim todos compreendem que a justiça por ali é olho por olho, dente por dente. A violência urbana dentro de conglomerados periféricos prega um código Hamurábi (conjunto de leis escritas, oriundos da Mesopotâmia)”, aponta Martins.

Números Apesar dos índices divulgados pelo Instituto Sou da Paz, as medidas tomadas pelo município em relação à prevenção da violência urbana na cidade vão desde projetos que dispõem sobre programas de melhorias na iluminação pública de todos os bairros e até a Guarda Civil Municipal ter agentes armados circulando pela cidade. “Muitas favelas foram urbanizadas nas últimas décadas, alguns projetos de leis, no Legislativo foram criados, e assim, contribuindo para melhorar a segurança local”, disse a assessoria da Câmara Municipal sobre projetos que se baseiam nos cuidados com a violência urbana. A Reportagem contatou a Delegacia do Guarujá, mas o investigador responsável pela organização das rondas da cidade não retornou as ligações até o fechamento da edição.

Programa de segurança é implantado em Cubatão

REPRODUÇÃO

Maria Anielle A partir de agora, os moradores e empresários de Cubatão já têm importante instrumento para participar de ações voltadas para a melhoria das condições de segurança da cidade. Trata-se do Programa Vigilância Amiga, que possibilita a pessoas físicas e jurídicas integrarem seus sistemas de videomonitoramento ao sistema mantido pela Prefeitura sob coordenação da Secretaria Municipal de Segurança e Cidadania. Permite, também, o compartilhamento de imagens com órgãos de segurança pública. O Programa Vigilância Amiga foi criado pela lei 3.887, sancionada pelo prefeito Ademário Oliveira. Agora, falta somente o decreto de regulamentação para que a lei entre em vigor. O projeto que originou a lei, aprovado pela Câmara Mu-

nicipal, é de autoria do vereador Rodrigo Ramos Soares, o Rodrigo Alemão. Ao se cadastrar no programa, as pessoas físicas ou empresas devem informar quantas câmeras de vigilância possuem, com visões externas ou direcionadas para as vias públicas. As imagens captadas por esses equipamentos poderão ser requisitadas pelo setor de inteligência da Polícia Civil, para ações preventivas, ou em casos de investigações de delitos. As imagens serão distribuídas somente para órgãos ou pessoas com competência legal para atuarem em trabalhos de segurança pública ou judiciária. A adesão dos municípes ao Programa Vigilância Amiga é voluntária e sem limite de tempo. O morador ou empresário poderá rescindi-la a qualquer momento, bastando, para isso,

apresentar um requerimento. Classificado de "extrema importância" pelo prefeito, o projeto Vigilância Amiga é um grande reforço no combate ao crime no município com a possibilidade real de ampliar o monitoramento das ruas, praças e avenidas de Cubatão. "Quanto mais olhos tivermos na cidade, maior será a inibição de agir dos bandidos, resultando em maior segurança para a sociedade", explicou o prefeito. O vereador Rodrigo Alemão afirmou que "poucas vezes na política se vê a regulamentação de lei de autoria do Legislativo". Para o vereador, o gesto do prefeito "nada mais é do que a demonstração do respeito que tem pelos vereadores da cidade".Rodrigo Alemão ressaltou que não tem nenhuma dúvida de que o programa trará maior segurança à sociedade cubatense.

Sistema de videomonitoramento ajudará na resolução de crimes


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Diagramação desta página: Rafael Caldeira

19 RAFAEL CALDEIRA

Desabrigados e desprotegidos Moradores de rua convivem com a violência cotidiana. Por isso, tentam dormir em grupos

Rafael Caldeira A hora mais perigosa e aterrorizante para os moradores de rua é quando estão dormindo, pois nesse momento de vulnerabilidade, sem poder reagir ou observar o que está acontecendo ao seu redor, eles temem que alguém possa roubar os poucos pertences que possuem ou até mesmo atacá-los. Tal episódio ocorreu com Marcelo Alves dos Santos, 39 anos, vítima de três facadas no ano passado, enquanto dormia em um banco, junto ao jardim da orla da praia, próximo ao Canal 1. Ele acordou assim que foi golpeado pelos dois agressores que, em seguida, fugiram de bicicleta. O morador de rua, que saiu de casa aos 10 anos, andou até um quiosque próximo para pedir ajuda, até que uma mulher ligou para o Samu ao vê-lo sangrando. Marcelo foi socorrido e levado para o hospital Santa Casa, onde levou cerca de 10 pontos. “Desde então, eu comecei a dormir de tarde próximo das pessoas”, contou o morador de rua mostrando as cicatrizes das facadas na lateral da barriga, ombro e pescoço. Além dessa agressão, Marcelo também já levou socos de um Guarda Civil Municipal que pediu para ele se retirar de um determinado local. “Eu falei uma gracinha e por isso ele me deu um soco”, relembra. Segundo o secretário de segurança, Sérgio Del Bel, os guardas são instruídos a abor-

dar com respeito e sem qualquer tipo de violência. Em seguida, verificam se a pessoa é procurada pela Justiça ou se está portando algo ilícito. “Temos uma Ouvidoria e Corregedoria que apuram todo e qualquer desvio de conduta. Dependendo do desvio, as sanções administrativas vão de advertência até expulsão, fora as penalidades aplicadas pelo Código Penal”, relatou Del Bel. O morador de rua César Aparecido dos Santos, 44 anos, ressalta que nas imediações do Canal 1 alguns guardas municipais já agrediram colegas seus e é por isso que ele evita se abrigar neste local. “Eu acho os bairros do José Menino e próximo ao Mercado Municipal (Vila Nova) perigosos”, explica César, que tem medo de ser assassinado. Ele vive nas ruas há pelo menos uma década “ou mais”, ressalta. A psicóloga Julia Paolucci Sampaio fez um trabalho com os guardas municipais de Santos em 2011 para mediação de conflitos e um dos temas abor-

A violência

sofrida pelos

moradores de rua

é inimaginável e os danos ao psicológico são inúmeros

Julia Paolucci SamPaio PSicóloga

dados foi a população de rua. “A violência sofrida pelos moradores de rua é inimaginável e os danos ao psicológico são inúmeros. Por isso, os moradores de rua precisam de cuidados e tratamentos social, psicológico, médico, psiquiátrico, de capacitação profissional e, principalmente, de acolhimento”, afirma Julia. César já viu um morador de rua assassinar outro que estava dormindo com um pedaço de madeira, quando morava nos arredores da Praça da Sé, em São Paulo, e após testemunhar essa e outras cenas de violência, César decidiu vir para Santos, achando que seria menos perigoso. “Eu tomo muito cuidado enquanto durmo, mas mesmo assim, já roubaram a minha mochila, inclusive os documentos”, disse o morador de rua, que também veio para a cidade encontrar algum emprego. Foi por causa do ambiente violento e pela cobrança que César saiu de casa em Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, para morar na rua. Ele estava cansado de discutir com a família por estar desempregado. “Todos os dias eu brigava com meu irmão e minha mãe que me chamavam de vagabundo e mandavam eu procurar emprego”, disse, indignado.. O morador de rua apanhou muito do pai, alcoólatra. Por isso, nunca cogitou morar com ele e com a nova esposa dele. “Eu o odeio por ter batido muito em mim e minha mãe”, contou César.

Por que vivem nas ruas? Segundo a psicóloga, são inúmeros motivos para que uma pessoa se encontre sem uma renda e acabe não tendo uma moradia, como o desemprego constante e o uso abusivo de álcool e outras drogas, além de transtornos psiquiátricos que os tiram muitas vezes de suas famílias e assim encontram nas ruas o único lugar para se abrigar. “É complexo falar as causas de uma pessoa morar nas ruas e muitas vezes permanecer por lá, mesmo quando tentam resgatá-la, pois as histórias são individuais e com componentes cheios de violências, abandonos, traumas e tantos detalhes que precisam ser analisados”, explica Julia Paolucci A população de rua é em maior número masculina, mas para a mulher a violência e o descaso são muito mais graves e constantes. “As mulheres correm riscos de serem, além de tudo que um homem passa, estupradas e mortas pelo fato de estarem mais desprotegidas” diz. Ela acredita que precisam existir mais recursos para a sociedade enfrentar esse problema, levando atendimentos à população de rua, além de campanhas de conscientização à população em geral sobre o tema. A profissional crê que o maior problema é a invisibilidade que estes cidadãos representam à sociedade, sofrendo preconceito e discriminação. “Apesar de pouco abordado, muitos sofrem transtornos mentais, por conta de abusos de drogas ou por uma não identificação anterior, como esquizofrenia, por exemplo”, explica a psicóloga. RAFAEL CALDEIRA

Moradores de rua dormindo em plena luz do dia na orla da praia


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PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

Ações preventivas não impedem violência nos estádios Setores especificos estão sendo criados em alguns estádios do País e dão resultado

Nara Vasconcelos

Nara Vasconcelos

“Eu acredito que essa tenha sido a melhor medida tomada Violência nos estádios é, já que a violência nos estádios com certeza, um tema recor- se tornou uma coisa recorrenrente e de difícil solução. Algo te”, opinou Leticia Fontes que não é exclusividade do Mesmo com essas restriBrasil, mas visto no mundo in- ções, em 2019 casos de vioteiro. Quando se mistura a pai- lência foram registrados. O xão do torcedor com questões ônibus da delegação do Palcomo a derrota em uma parti- meiras foi apedrejado no cada decisiva ou não saber lidar minho para o estádio no dia com provocações, o resultado do jogo contra os colombianos quase sempre é a violência. do Junior Barranquilla, pela Paulo César dos Santos, san- Libertadores. Os torcedores tista fanático, afirma ter deixa- estavam descontentes com a do de ir aos estádios com sua desclassificação no Campeofamília por medo da violência nato Paulista, quando a equique acontece. “Minha esposa e pe perdeu para o São Paulo filho amam futebol tanto quan- nos pênaltis. A final do torto eu, mas jamais colocaria a neio estadual também regisvida deles em risco”. trou brigas entre torcidas na No Estado de São Paulo, cidade de Ferraz de Vasconcedesde abril de 2016, todos os los, na Grande São Paulo. clássicos (partidas que envolNo Rio de Janeiro, não há vem os grandes clubes da Capi- torcida única, mas confrontos tal, o Santos e, ainda, os jogos são registrados constantanteentre Guarani e Ponte Preta, mente; em Minas Gerais, os em Campinas) são disputados jogos entre Cruzeiro e Atlético com torcida única – apenas só tem torcedores de uma das quem tem o mando de jogo equipes. No Nordeste, clássileva torcedores ao estádio. cos locais contem com fãs dos Essa medida foi adotada times envolvidos, mas, em alem resposta aos confrontos guns casos, a Polícia costuma entre integrantes de torcidas ter mais trabalho para conter organizadas do Palmeiras e do os ânimos exaltados. Corinthians que, naquele ano, Augusto Silva membro de protagonizaram diversos con- uma torcida organizada muito frontos em vários pontos da conhecida no País, comentou Capital. Os conflitos deixaram que nem tudo é o que parece. dezenas de feridos e uma pes- “Confrontos acontecem muisoa morta. tas vezes e isso é a mais pura

verdade, mas nem sempre por parte das organizadas, e sim por torcedores comuns, que começam a fazer confusão quando ficam descontentes com o resultado do jogo”. No exterior, o caso mais recente e emblemático, envolveu os argentinos Boca Juniors e River Plate, na final da Libertadores de 2018. A segunda partida não pode ser realizada no Monumental de Nuñes por que torcedores do River apedrejaram o ônibus da delegação do Boca no caminho para o estádio. A violência dentro e ao redor dos estádios é assunto constante, mas que aparentemente ainda não tem solução. Exemplo a ser seguido Um bom exemplo recente veio do Rio Grande do Sul. Grêmio e Internacional criaram um setor específico nos respectivos estádios para a torcida mista. A experiência deu certo e os locais ficaram repletos de famílias seguidoras das duas equipes que acompanharam as partidas juntas, sem confusões. Esse tipo de açaõ tem sido estudada por outros estados para serem implantadas por todo Brasil, já que todo torcedor merece assistir seu time jogar, sem medo ou preocupações com a segurança.

O Pacaembu tem sido sede de diversos clássicos, com torcida única

Lei pune maus tratos a animais

Os animais sempre fizeram parte da vida das pessoas, desde que o mundo é mundo. Sejam domesticados ou não, sempre estarão por perto. Por isso, a legislação em vigor pune com rigor os agressores. Sancionada em 2011, a lei estabelece que o tempo mínimo de prisão passa de três meses (conforme fixava a legislação anterior, de 1998) para três anos, podendo ser agravado quando o ato de violência é considerado cruel. O tempo máximo de prisão pode chegar a 10 anos. Assim, quem mantém animais presos com correntes, sem água e comida, que não recebem atendimento veterinário, com espaço limitado, e que sofrem agressões, abandono, entre outros maus tratos, corre o risco de ser processado e condenado. Mesmo que para muitas famílias os cães e gatos sejam como filhos, para outras não, e os tratam com desdém e agressividade. Quando um caso de agressão ou abandono chega às clinicas veterinárias, normalmente é dali em diante que terão uma mudança de vida. Para o médico Fernando Brito, o pior de tudo é o estado psicológico do animal. “Quando animais que sofreram maus tratos chegam aqui o primeiro passo é cuidar dos ferimentos e fazer exames para ver se está

O maior tratamento para um animal que sofreu agressões é o amor e carinho

Fernando Brito, Veterinário

Em diversas ruas de Santos pode-se ver animais em estado de abandono e que esperam por adoção e lares aconchegantes

tudo certo com órgãos e sangue. Mas o maior tratamento para um animal que sofreu agressões é amor e carinho, até porque você descobre os traumas com o tempo, não é algo de imediato”. Em Santos pode-se ver, diariamente, cães abando-

nados nas ruas. A Prefeitura realiza cerca de 10 mil atendimentos anuais na Codevida, onde são atendidos todos os tipos de animais. Atualmente, segundo Leila Abreu, coordenadora da Codevida, existem cerca de 150 animais entre cães e ga-

tos para adoção. Mesmo oferecendo todo atendimento veterinário e cirúrgico necessários, eles não resgatam por entenderem que baias são confinamentos que agravam a vida emocional dos animais, cuja maioria nunca mais sairá de lá.

Quem ver um animal em situação precária de rua, sofrendo maus tratos e agressões, pode ligar em várias instituições: Corpo de Bombeiros (193); Ibama-Linha verde (0800 11 35 60); Polícia Militar (190) ou Ministério da Justiça (www.mj.gov.br).


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Diagramação desta página: Luis Gustavo

Polícia investiga injúria racial em rede social Universitária registrou boletim de ocorrência e o acadêmico acusado nega ato racista.

Luis Gustavo A Polícia Civil investiga um caso de injúria racial cometido por um professor contra uma universitária em Santos. O docente afirmou, em rede social, que não conseguia assistir a uma partida de vôlei durante os jogos universitários. Segundo o autor, os cabelos da moça estavam atrapalhando a sua visão do jogo. “Eu não sabia o que estava acontecendo”, conta a universitária de 18 anos. Ela soube da publicação por meio de outra postagem denunciando a primeira, enquanto voltava de viagem em família. “Eu nunca saberia porque a conta dele é trancada. Só grupo de amigos dele teriam acesso” A responsável pela postagem denunciando o caso, a fisioterapeuta Vanessa Teodoro, estava procurando a estudante para que a ela tomasse as providências cabíveis. Disse ter ficado entristecida com os comentários escritos na publicação. “Racismo e o preconceito estão em evidência e a publicação dele dá margem às pessoas racistas e preconceituosas aparecerem”. Também disse que copiou a foto e comentários em sequência para dar elementos de modo a que a universitária pudesse formalizar a denúncia. A situação foi registrada pela delegada Lyvia Cristina Bonella, de Praia Grande, como injúria racial. O caso segue em investigação, segundo a Secretaria de Segurança Pública. O Código Penal prevê pena de reclusão de um a três anos e multa para este tipo de crime. Em nota publicada em outra rede social, o professor se defendeu das acusações feitas , destacando sua carreira, postura profissional e índole como ser humano. Nega a acusação e aproveita para

O O Q Q UE UE

Obra que é referência do Movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, de Norman Rockwell, datada de 1964

pedir desculpas a todos que se sentiram ofendidos, não havendo a intenção de fazê-lo. A universidade onde o professor leciona e onde ocorreu o jogo não quis se manifestar. Educação Um dos desafios de uma educação inclusiva é reconhecer que muitas salas de aula no Brasil precisam se comprometer com o ensino antirracista e a não resumir a história dos negros à escravidão. Em 2018, a Lei 10.639, que inclui a história e a cultura afro-brasileira no âmbito de todo currículo escolar, completou 15 anos. “Se temos uma formação eurocêntrica nas nossas escolas evidentemente as nossas crianças não vão se identificar

1. Acesse a página da SAFERNET 2. Selecione o motivo da denúncia 3. Insira a URL do site em que crime foi cometido 4. Faça comentário sobre a denúncia

Fonte: SAFERNET

5. Guarde o protocolo para acompanhar o andamento da queixa

FA FA ZER ZER ??

com a sua própria etnia”, adverte o advogado e ex-secretário especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Brasil, Douglas Souza. A professora de Literatura, Beatriz de Souza, recorda que Machado de Assis era negro e foi o primeiro ocupante da Academia Brasileira de Letras. “Para começar a trabalhar a Lei 10.639 como ela tem que ser feita, comece dizendo que o primeiro ocupante e presidente da Academia Brasileira de Letras é negro”, enfatiza a professora. Durante o período de vigência da lei, alguns colégios reformularam o currículo para incluir os temas, mas a verdade é que isso ainda não foi plenamente cumprido. “Eu só fui aprender sobre

história africana durante a minha graduação, em 2011, no segundo ano da faculdade”, lembrou o professor de História, Wellington Santos, durante audiência pública em que recordou ainda o caso de impedimento da rematrícula de um estudante, em 2015, por adotar o cabelo no estilo ‘black power’. Também a representante da Secretaria de Educação de Santos na audiência, Sandra Cristina, destacou que os professores possuem formação adequada e integrada seguindo as diretrizes curriculares. “Acredito que isso é um trabalho constante. Porque ainda não conseguimos atingir 100% dos nossos professores sobre preconceito e cultura afro-brasileira de uma vez. Então, isso está sendo feito paulatinamente.”

O que fazer? Segundo o advogado e membro do Comissão de Igualdade Racial da OAB/ Santos, Júlio Evangelista, podem ser formalizadas denúncias de injúria racial em vários pontos da rede antirracista da Cidade (veja quadro). As vítimas podem fazer um boletim de ocorrência com todas as informações na delegacia mais próxima. Ele reforça a necessidade de publicizar os casos. “São inúmeros locais que a pessoa pode levar essa denúncia e a comnicação entra com a divulgação em todos os espaços e lugares possíveis de disseminação do ato e sua sanção”.

Áudio racista exonera secretário-adjunto de Turismo de Santos Um caso que recentemente movimentou as redes sociais foi a exoneração do cargo de secretário-adjunto de Turismo de Santos, Adilson Durante Filho, em razão de ter um áudio vazado em maio, onde fez comentários racistas. Apesar dele ter pedido licença não remunerada, a Administração Municipal optou pela sua exoneração devido a gravidade do caso. “O que nós queríamos é que o prefeito, além de uma nota de repúdio, tomasse uma atitude condizente com a função que representa em uma Cidade que aparece no ranking de segregação racial no País”, disse a advogada Débora Camilo em audiência pública realizada na Câmara. Ela mencionou pesquisa feita pelo

IBGE que classifica as respos- é imprescindível que no mínitas de acordo com a autode- mo 20 membros do Conselho claração dos entrevistados. O solicitem a investigação. estudo considera “espaços seCom o pedido acatado, o gregados”, lugares nos quais caso passa para a Comissão grupos sociais diferentes não de Inquérito e Sindicância, se misturam. que tem até 30 dias para apreO militante da Juventude sentar um parecer, tempo que do Partido dos Trabalhadores Adilson teria para apresentar (PT), Tarcísio Andrade, pre- uma defesa. sente na audiência, sugeriu enPorém, segundo o memcaminhamento de documento bro do Conselho de Cultura assinado pelas entidades pre- de Santos, Junior Brassalotsentes exigindo a expulsão do ti, acontecimentos desse tipo ex secretário-adjunto do cargo não são novidades para quem de conselheiro no Santos FC. atua minimamente com funCom isso, ele ficaria impossibi- cionalismo público. Ele ainda litado de ocupar qualquer car- complementa: “Infelizmente go diretivo dentro do clube é um tipo de coisa que existe. De acordo com o Artigo Muitas manifestações racistas 20 do Regimento Interno do e de homofobia partem tamSantos, para que o Conselho bém de funcionários públicos. Deliberativo apure responsa- É necessário mais cultura e bilidade de qualquer membro educação”, ressalta.


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Diagramação desta página: Rafaélla Mantovani

PRIMEIRA IMPRESSÃO | AGOSTO/SETEMBRO 2019

Intolerância religiosa afeta ritos afrobrasileiros

O número de denúncias de desrespeito às crenças aumentou nos últimos anos, segundo a Secretaria de Direitos Humanos Rafaélla Mantovani A face sombria da perseguição religiosa pairou sobre o Brasil nos últimos anos e o forte desrespeito às crenças afrobrasileiras aumentou o número de denúncias nos últimos anos, de acordo com o Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos. Todos os dias, religiosos sofrem com olhares de julgamento e comentários desnecessários. A Intolerância é um termo que descreve a atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças ou crenças religiosas dos indivíduos. Desde o início do tráfego negreiro no Brasil no século XVI até XIV, os praticantes já se escondiam e buscavam fazer os cultos após os Senhores de Engenho se recolherem. O Candomblé é a raiz mais forte vinda da África. Praticada por negros que eram escravos, deu origem no século XX à Umbanda, religião nascida no Brasil e que também é alvo de preconceito. O que não as difere é a necessidade de respeito, já que são

588.797 mil pessoas no Brasil são das religiões umbanda e candomblé

duas religiões que enfrentam dificuldades para se manterem vivas. Seus cultos envolvem cantos e ritos destinados aos Orixás, que são suas divindades e entidades. Utilizam imagens, atabaques, roupas brancas ou coloridas e suas guias que servem como uma proteção. O tipo de violência mais praticado atualmente é a discriminação. Depois, aparecem depredação de lugares ou imagens e difamação. O estado que mais houve aumento no ano de 2019 foi o Rio de Janeiro, de janeiro a março cerca de 56% de casos foram registrados. O número subiu de 16 para 25 denúncias no período, segundo a secretaria. Um problema recorrente para quem procura a Justiça é a incapacidade de as autoridades em reconhecer um crime de intolerância religiosa quando estão diante dele. Há lei, mas não há jurisprudência. Nenhum recurso do tipo foi julgado pelo STF ou STJ, o que torna difícil a aplicação de penas para esse crime que é inafiançável e não prescreve. Segundo o advogado Raphael Feitosa, o crime de intolerância religiosa se enquadra no “Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.”. Além disso, ainda há o artigo 5° da Constituição Federal

brasileira que fala sobre os direitos de liberdade religiosa. Para o advogado, a pena para este delito é ínfima. “Mas por haver a existência de um crime para tutelar o sentimento religioso acredito que seja um enorme passo para uma sociedade democrática”. Além de crimes como a discriminação religiosa, o racismo também se entrelaça nessa vertente. A praticante da Umbanda Aline Alves, de 32 anos, conta que já sofreu preconceito por ser negra e umbandista. Desde pequena conviveu com as injúrias raciais e depois de mais velha, as religiosas. Ela conta que conheceu a religião através de problemas pessoais que teve em sua vida e afirmou o quanto a religião é capaz de salvar os seres humanos, “Muitas pessoas te julgam pelo que vêem e não pela sua fé”. Os casos de violência contra os terreiros assusta religiosos e praticantes, como o caso que ocorreu no Rio de Janeiro em que bandidos depredaram um terreiro. Esses e muitos outros casos mostram o quanto o assunto torna-se discutível, é o que diz o pai de santo do terreiro “Tenda de Umbanda Caboclo Pena Branca e Pai Tomé de Aruanda”. Odair dos Santos, é umbandista há 30 anos, e diz que sempre existiu preconceito. “A minha batalha é constante, tanto espiritual quanto contra os preconceitos e suposições que fazem da nossa religião”. Dono de um terreiro, Odair não nega ajuda a ninguém pois diz que os que mais precisam chegarão até ele e prega o que a própria religião é: amor e caridade.


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PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

FOTOS DIVULGAÇÃO

Google

O cinema, como um dos principais veículos de grande penetração no mundo inteiro, apresenta em diversas obras, algumas clássicas, cenas de extrema e exagerada violência

Filmes agressivos geram violência na vida real? Debate sobre o tema no cinema ganha força em razão de tragédias e massacres ocorridos no País

Cada vez em que ocorre um massacre de inocentes na vida real, o debate entre a linha tênue entre o que acontece nas telas do cinema com a realidade ganha força. Com o Massacre de Suzano, foi relançada a questão sobre se a violência na cultura do entretenimento influencia a concretização da violência no mundo real. A discussão sobre o assunto é complexa. Psicólogos, sociólogos e educadores debatem intensamente e o tema gera reflexões contraditórias. Há pessoas que sustentam que a violência na cultura pop não gera violência real, enquanto, de outro lado, há a defesa que a violência no cinema pode ocasionar influências psicológicas e emocionais graves. Casos como a tentativa de assassinato do presidente norte-americano Ronald Reagan, em 1981, foi ocasionado pela obsessão doentia de John Hinckley pelo filme Taxi Driver, dirigido por Martin Scorcese, com Robert De Niro no papel

principal. Em outro caso, um jovem doutorando de neurociências, James Eagan Holmes, adentrou a estreia do filme Batman – O Cavaleiro das Trevas Renasce e matou 12 pessoas, afirmando ser o personagem Coringa. A violência mostrada pelo cinema pode fomentar não apenas admiração ou repulsa de quem assiste, mas também novas formas de se pensar a sociedade. Diretores consagrados como Quentin Tarantino em Kill Bill, Brian De Palma com Scarface, Tom Kaye em A Outra História Americana e James Wan com a franquia Jogos Mortais são alguns dos que não desperdiçam cenas de sangue, mortes, tiros e abusos psicológicos. Em alguns casos, pessoas passavam mal na sala de cinema. Laranja Mecânica Em 1971, Stanley Kubrick lançava o clássico Laranja Mecânica, sendo para alguns o maior de todos quando o

assunto é violência psicológica e física. O longa conta com imagens perturbadoras para comentar sobre psiquiatria, delinquência e, também, assuntos políticos e econômicos que rondavam a Grã-Bretanha. Com o papel de Alex DeLarge sendo vivido pelo então jovem ator, Malcolm McDowell, Laranja Mecânica foi marcado pelas cenas onde o personagem era preso em Laranja Mecânica, dirigido por Stanley Kubrick (1971) uma cadeira de cinema, com grampos fincados nos olhos para não serem fechados, obrigando-o a assistir imagens de violência, enquanto o fundo musical reproduz obras de Beethoven. Em outra cena, o personagem violenta e mata uma mulher com uma escultura de pênis enquanto canta a música Signin’ In The Rain, do clássico Cantando Na Chuva, dando uma nova ideia sobre a música, uma idéia sarcástica de que tudo que é bonito tem um lado ruim. Al Pacino em cena de Scarface, dirigido por Brian De Palma (1984)

Psicóloga aponta riscos em desenhos infantis DIVULGAÇÃO

Felipy Brandão

Crianças devem assistir desenhos acompanhadas de seus pais

Os desenhos animados para crianças são mais violentos que os filmes para adultos. Isso porque, nas produções infantis, os personagens protagonistas correm quase três vezes mais riscos de morte do que nos filmes comuns, segundo estudo desenvolvido pela psicóloga infantil Caroline Andalaft. Segundo ela, a morte de um personagem importante para a história ocorre em dois terços dos desenhos animados para crianças. “Ao invés de serem alternativas inofensivas e mais suaves que os filmes de terror e os dramas, os desenhos animados para crianças mostram, de fato, assassinatos e desordens”, como explica Caroline, ressaltando que isso produz efeitos

danosos às crianças. Ela analisou os desenhos animados de grande êxito, como “Branca de Neve e os Sete Anões” e “Frozen - Uma Aventura Congelante”, comparando com as mortes de personagens principais de filmes para outras faixas etárias e que obtiveram sucesso de bilheteria nos mesmos anos, excetuando os filmes de ação ou aventura concebidos para crianças. Uma das conclusões do estudo é a de que os pais dos protagonistas tinham cinco vezes mais chances de morrer nos desenhos animados. Lista ampla A lista de mortes tocantes é ampla, salienta a psicóloga. É o caso de mortes por tiros de armas de fogo em “Bambi”, “Pocahontas” e “Peter Pan”; com

arma branca em “A Pequena Sereia” e “A Bela Adormecida”; ou por ataques de animais em “Procurando Nemo” e “Tarzan”. Os filmes em que carros e brinquedos são protagonistas não foram levados em consideração. Com isso pode-se notar que as crianças estão totalmente vulneráveis e expostas ao contato de violência, podendo gerar consequências por toda a vida. A psicológa orienta os pais a estar perto dos filhos quando eles estiverem assistindo desenhos, seja na televisão ou nas plataformas digitais e sugeriu que permitam que as crianças assistam desenhos que sejam adequados à idade. Muitos dos desenhos que contém classificação livre apresentam algum tipo de violência, mesmo que de forma indireta.


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Diagramação desta página: Ana Carolina Faccioli

PRIMEIRA IMPRESSÃO | Agosto/Setembro de 2019

Mobilização coletiva garante maior segurança, diz comandante da PM DIVULGAÇÃO

Comandante interino afirma que tecnologia é uma aliada da população contra a violência Carolina Faccioli O papel da Polícia Militar na sociedade vai além de combater crimes e engana-se quem acredita que a população não pode ajudar na preservação da ordem pública. Em Santos, existe um programa chamado Vizinhança Solidária que aproxima a polícia e os moradores da cidade com a ajuda do whatsapp e câmeras de segurança. Assim, os delitos que acontecem em uma determinada região chegam ao conhecimento da polícia de forma mais rápida e prática. Porém, existem fatores que ainda não podem ser resolvidos apenas com essa interação, que é o caso dos problemas relacionados ao Poder Público, com ausência de investimentos em saneamento básico e lazer, por exemplo. Para o comandante interino do 6° Batalhão da Polícia Militar de Santos, major César Major Terra substituiu a tenente-coronel Silvia Perpétua Costa, em março Sampaio Terra - quando da realização desta entrevista em me não existe. Ele está ligado junho -, para que haja uma ao ambiente, então a prevensociedade segura é necessária No nosso Cuidar ção primária atua principala mobilização de todos, mas de atendimento mente nele. da segurança diferentes maneiras. O reconhecimento do po190, 70% das pública não PI - E como acontecem essas licial pelos munícipes dos ligações são ações de prevenção? bairros onde atua também é só papel do CT - A Polícia Militar atua com contribui para a motivação chamados Estado. É direito, a Prefeitura em algumas ações, deste profissional procurando diariamente, como uma limpemelhorar os problemas e apripara mas também za no túnel do VLT no José Memorar o que está dando certo. ocorrências não Confira a entrevista do maresponsabilidade nino (Nota da Redação: Local com concentração de usuários jor Terra. policiais de todos de crack), cadastramento do pessoal que utiliza um abrigo, Primeira Impressão- O sr. notifica a Prefeitura sobre falta acha que a porte ou a posse de iluminação ou carros abandas armas de fogo ajudariam ou atrapalhariam no traba- isso mostra uma queda nas donados. E hoje nós temos uma É direito, mas também restaxas de homicídios, mas só ferramenta muito importante, ponsabilidade de todos. Seja lho da polícia? César Terra- A nossa legis- quando houver uma aprova- que é o programa Vizinhança do município, nas ações de Solidária e já temos em Santos prevenções primárias, como lação foi sofrendo várias alte- ção definitiva. iluminação pública, seja do mais de 50 núcleos. rações e antes não era crime, cidadão na participação em mas uma contravenção penal. PI - O sr. acha que as pessoas se sentem mais seguras com PI - Como o projeto funciona? conjunto nas reuniões do Foram criando novas leis e a CT - O projeto junta um gru- Conseg ou nos programas de gente crê bastante nas pesso- os armamentos? CT A percepção de segupo de pessoas de um bairro, Vizinhança Solidária. as que foram escolhidas para estar lá (no governo) para dis- rança está ligada à prevenção que se reúnem por intermédio primária, ações que a polícia de um aplicativo de mensa- PI - O instituto Sou da Paz fez cutir essas ideias. Agora temos um novo esta- faz com a Prefeitura. Mas isso gens. Qualquer problema que uma pesquisa em que mostra tuto em discussão, que é o do depende de cada pessoa. Al- ocorrer, o cidadão pode avisar que Santos é a cidade mais controle de armas e não mais gumas vão se sentir seguras o grupo e em cada área há um segura da região. Como o sr. um estatuto do desarmamen- com outros seres armados por tutor (policial) responsável. analisa essa marca? Temos o Conseg também, que CT - Independente da quanto. Então, está tudo em dis- perto. Outras, inseguras. A sensação de segurança é é uma bela ferramenta, mas tidade, o que será notado é a cussão ainda. A instituição vai cumprir a lei, muito particular. Quem mora esse projeto é muito mais di- percepção de segurança. Um mas se vai dar certo ou não nós em um local bem iluminado, nâmico. A tecnologia é fun- crime divulgado, às vezes, não sabemos e também não sa- com jardim bem cuidado, vai damental hoje em dia. Temos tem uma mobilização maior, ferramentas tecnológicas que criando um maior medo nas bemos se esta é a solução. Te- se sentir mais seguro. têm ajudado neste trabalho pessoas. mos como exemplo alguns esPI E o que são essas prevende prevenção da polícia. Tantados americanos onde a arma ções primárias? to que atingimos os menores PI - E qual é o crime que mais está liberada em alguns e em CT - Para entender a preíndices de violência em dez tem na cidade? outros não, como no Texas, e venção primária, nós sempre CT - Verificando o site da Seanos. Illinois, respectivamente. usamos a teoria do triângulo E para isso é necessário uma cretaria de Segurança Pública O estatuto do desarmamento do crime. Para ele acontecer é série de ações em conjun- do Estado de São Paulo, os deevoluiu bastante ao longo do preciso um autor, um ambiento para melhorar a região. litos que mais aparecem são tempo. Temos contravenções te e uma vítima. Se eu não teCuidar da segurança públi- os dos furtos simples. Esse que restringem o uso das arnho algum deles, então o crica não é só papel do Estado. delito se previne com duas mas para algumas pessoas e

ações: prevenções primárias e uma série de campanhas. PI – A Baixada Santista tem a maior comunidade de palafitas do País. Como agir nestas localidades? CT - Nós temos um treinamento específico para isso e um batalhão de ações especiais, o 2º Baep, que atua nesses locais. Os profissionais são treinados para agir por causa dos riscos que se podem ter por conta também da estrutura de uma comunidade de palafitas, que é diferente de uma favela. PI - O sr. acha que o Policial Militar tem uma remuneração que condiz com a valorização profissional? CT - O reconhecimento é a melhor forma de estimular esse funcionário. Quem entra em um cargo como funcionário público, entra por gostar da causa, por atender o público para fazer o melhor e não pelo dinheiro. A gente verifica hoje que a melhor forma de estimular o profissional é sendo justo e reconhecê-lo pelo seu trabalho para se sentir valorizado. PI - Mas o salário de um policial militar também define a segurança dele, por exemplo. Ele pode ter que morar em uma área violenta por falta de opção. Como fica a situação deste profissional? CT - Eu acho que é uma questão de escolha. Temos programas do Estado que possibilitam comprar uma casa com um desconto maior. Então, ele tem que escolher o que é melhor para família dele, mas para isso há toda uma parte de assistencialismo dentro da polícia. PI - Quando o policial está à paisana, quais são os principais cuidados? CT - Temos uma vida normal. Adotamos as mesmas cautelas que a gente orienta os demais a tomarem. O fato de ser policial ou não, acho que não influencia. Como ele lida com a violência todos os dias, a cautela acaba sendo maior, mas é natural. PI - O sr. acha que para a criminalidade diminuir é preciso melhorar fatores indiretos, como investimentos em educação e saúde? CT - Sim, onde não há lazer, por exemplo, o jovem não tem o que fazer no final de semana. E se não tem saneamento e a rua está esburacada, a viatura tem dificuldade para acessar aquela via. Então, está tudo interligado. Por exemplo, no nosso atendimento 190, 70% das ligações são chamados para ocorrências não policiais, principalmente às sextas e sábados perto das faculdades. PI - E isso não atrapalha o trabalho policial? CT - Atrapalha de certa forma, mas o nosso trabalho também é preventivo, então faz parte.


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