Revista Power

Page 41

sucesso na periferia. Pois, de acordo com livro Assassinatos de Mulheres e Direitos Humanos, da professora Eva Blay, quase que a totalidade dos registros de ocorrência ligados a violência se originando das classes baixas; enquanto nas classes mais altas, as mulheres enfrentam a questão da violência no divã. O funk, vindo das mulheres, se tornou uma música de reação. Um som de mulheres que ao se erguerem, perceberam o seu valor e não admite homem nenhum – seja filho, amigo, namorado ou marido – erguendo a voz e a mão dentro e fora de casa. As composições musicais, por exemplo, de Anitta e Ludmilla brincam com a concorrência entre mulheres e com a vingança entre as ‘inimigas’, mas fortalecem a sororidade entre as mulheres, buscam uma aliança de irmandade e empatia, e ensinam as mulheres a destemer julgamentos, olhares e possíveis xingamentos.

“Me ensinaram que éramos insuficientes. Discordei! Pra ser ouvida, o grito tem que ser potente”

A funkeira Carol Bandida, por sua vez assumidamente feminista, incentiva a autoestima elevada e insubmissão das mulheres. Em suas letras, a niteroiense fala sobre abandono familiar, violência contra as mulheres e, com toda sua irreverência, ensina sobre empoderamento diante de discriminações que ela enfrenta em seu cotidiano, como machismo, gordofobia e racismo. Na música “meu namorado é mó otário, ele lava minhas calcinhas”, a cantora exalta o dever do homem em fazer as coisas dentro de casa. “Eu não aceito a minha submissão. Dentro da minha casa não tem isso. Meu namorado, por exemplo, ele é bolado com a música da calcinha. Mas a realidade é essa. Quem manda nessa porra sou eu. O homem tá acostumado com uma mulher que lava, passa, cozinha e tá ali

pra fazer o que ele quer… Mas não!”, afirmou em entrevista a UOL. O funk do século 21 se tornou a voz da mulher que assume seu real papel, desmistificando a ideia da mulher como inferior. Em vista de que ao longo dos anos as mulheres já se posicionaram como independentes em diversas áreas, chegando o momento de ratificar isso na música da periferia. Apesar de algumas reclamações relacionadas ao barulho que o grito de liberdade tem provocado, mulheres agradecem por ouvirem, na música, assuntos relacionados à sexualidade e ao prazer feminino. Ainda que, para isso, precise ser ‘queimada viva’ na fogueira do moralismo como bruxas da Idade Média.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.