Nós, da Power, interessados em discutir o mercado de beleza de uma forma mais democrática, batemos um papo com a Afrô para entendermos as suas dificuldades, subjetividades e a importância do recorte racial no que diz respeito à indústria da beleza no Brasil. Power: Ao contrário do que se vê em outros países, onde existem as mesmas marcas que atuam no cenário brasileiro, as grandes marcas de cosmético desenvolvem uma gama pequena de produtos específicos para mulheres negras no Brasil. Você acredita que este problema pode está ligado a visão de que esse público possui menor poder de consumo? Bárbara: Em pesquisa recente da Nielsen, foi divulgado o poder de influência de mulheres negras em serem “trendsetters”, de influenciarem, conduzirem e modificarem a cultura
de consumo norte-americana. As preferências das mulheres negras ressoam no mainstream e vão gerar USD 1,5 trilhão até 2021. É mais do que hora do mercado brasileiro começar a enxergar a mesma coisa. Não só consumimos como ditamos tendência. A quantidade de cosméticos para cabelos cacheados baseado no que blogueiras costumam consumir nas prateleiras atualmente é algo que não poderíamos nem imaginar anos atrás. Élida: Com certeza! E o estereótipo da mulher negra, sem condições de consumir,
também sem bom gosto e senso crítico para selecionar bons produtos, influencia diretamente no comportamento do mercado. Marcas mais caras – o que eu chamaria de marcas de luxo – nem se preocupam muito em ter representação negra em sua comunicação. Quando o assunto é fórmula e conteúdo... Entender que entre mulheres negras, especialmente, há mudança no perfil social, econômico, cultural e de comportamento, é um exercício urgente. Um segundo passo é trazer mulheres negras, crespas, cacheadas, etc. para dentro da criação dos produtos, da comunicação de marcas e produtos. Power: Como a Afrô se vê, e principalmente se sente, sendo o primeiro clube de assinatura, portanto pioneira, específico para o público negro? O que essa representatividade, tão negada pelo mercado, impacta na forma que a empresa se desenvolve? Bárbara: Acredito que a existência da AfrôBox, em si,
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