Revista Convivência n. 5 / 2015

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Dramaturgo Cláudio de Souza com fardão da ABL. Posse em 1924. (Foto: Acervo PEN Clube).

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ão existe nada mais fugaz do que uma peça de teatro. Um livro permanece na memória, repousa pleno em uma estante ao alcance da mão, por mais que despenquem e–books do teto ou da mídia; um filme permanece em nossas retinas pelos cinemas e dvds, um disco permanece, não importa que formato tenha: CD, vinil, ou mesmo acetato, para fazermos uma viagem no tempo; uma tela permanece nos museus, nas paredes das casas, nas galerias de arte, em nossos olhos por Matisses, Picassos, Portinaris e todos mais. Uma peça de teatro, não. Dura uma, duas, talvez três horas, envolve e revolve nossa emoção a partir da entonação de um artista, guarda–se um movimento de olhar ou de andar dentro de um palco, ou um grito, num riso, um abraço comovente entre dois personagens que se amam, uma luz. Ela dura apenas um período, esta luz. É rápido. Quando acaba uma sessão, só existe a palavra Fim em nosso pensamento. E quando

acaba uma temporada existe aquela precisão: definitivamente Fim. Uma peça de teatro é uma história que passa, uma fagulha de memória, nada mais. Se uma peça de teatro não dura nada, quanto durará um homem de teatro? Ah, este pode durar mais, dependendo de suas ideias, de suas atitudes, de sua obra, de seu legado. Aí, sim, então, o teatro fica mais forte, mais duradouro. Aí, sim, nós encontramos, por exemplo, o dono desta Casa, o verdadeiro dono desta Casa em que estamos agora: linda, humana, refinada e... permanente, o PEN Clube do Brasil, legado de Cláudio de Sousa à cultura nacional, que aqui morou com sua esposa, D. Luiza, durante muitos anos até seus últimos dias. Deu grandes festas, reuniu os mais expressivos intelectuais do país e mesmo do mundo, algumas vezes, iluminou mentes, promoveu encontros, discussões. Fez a sua história ajudando a construir a história de muitos. Foi um grande médico e um dramaturgo de enorme projeção em sua época. Escreveu dezenas de peças e uma delas, Flores de sombra, da qual falaremos um pouco mais adiante, foi o seu maior sucesso. Mas antes, falemos do homem, do paulista Cláudio de Souza. Ele nasce em São Roque, a 20 de outubro de 1876, e morre no Rio de Janeiro, a 28 de junho de 1954, portanto, há 60 anos, efeméride que hoje, nesta tarde, o PEN Clube relembra e rende as merecidas homenagens. Cláudio forma–se em Medicina e inicia carreira em São Paulo, chegando a dar aulas de terapêutica, mas abandona a profissão em 1913 e entra de vez para as letras, quando cria romances, contos, ensaios, artigos e textos teatrais, além de volumes ligados à área médica. Sua vocação para o exercício da palavra, no entanto, vinha de longe, pois, já aos 16 anos, enviava colaborações para jornais cariocas, sendo redator do Correio da Tarde aos 17 e, em seguida, do jornal Cidade do Rio. Escreve nada menos que 31 peças e 29 livros, muitos desses trabalhos com edições ou encenações na França, Espanha e Itália. Entre seus livros estão As mulheres fatais, de 1928, com 15 edições no Brasil, As conquistas amorosas de Casanova (1931), O humorismo de Machado de Assis (1939), O teatro luso–brasileiro do século XVI ao XIX (1941), Os últimos dias de Stefan Zweig (1942) e Pirandello e seu teatro, em 1946. No teatro sua obra é vasta, porém, pouco conhecida, embora tenha sido ele o autor de Flores de sombra, um dos maiores sucessos do ator Leopoldo Fróes. Ainda com

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