Plantio Direto na Palha: Cerrados - a natureza agradece Manchete Rural 135

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CERRADOS a natureza agradece Revista Manchete Rural (Empresas Bloch, Rio de Janeiro, RJ) Ano 11, número 135, setembro de 1998. Páginas 75 a 82.

Mais do que uma técnica, o plantio direto na palha vem se tornando uma verdadeira filosofia de vida para o Centro-Oeste brasileiro, que tem no desenvolvimento de uma agricultura sustentável seu mais importante objetivo. Aliar produtividade a técnicas que permitam a exploração racional do solo é apenas um aspecto do sistema, que depende fundamentalmente da reestruturação da maneira de pensar do produtor, na medida em que isso representa a manutenção da capacidade produtiva da terra. As vantagens são muitas. O plantio direto elimina a erosão; minimiza a necessidade de replantio e as perdas de insumos pela enxurrada; reduz a temperatura do solo, proporcionando maior crescimento de raízes, maior atividade biológica e uma melhor fixação de nitrogênio, no caso de leguminosas. Permite ainda a eliminação das operações de preparo do solo, aumentando o tempo de plantio, simplificando o gerenciamento em épocas mais críticas e reduzindo os custos de produção; melhora a fertilidade do solo proporciona a reciclagem de nutrientes; diminui a lixiviação; favorece a decomposição aeróbica e a liberação de nutrientes em quantidades homeopáticas; entre outros. Falar atualmente da produção de grãos na região é falar do sistema. Trazido por agricultores vindos do Sul do país, onde o sistema foi introduzido há 27 anos, o plantio direto cresce rapidamente, ocupando cerca de 3 milhões de hectares na região, o que corresponde de 20 a 25% da área agricultável dos Cerrados. Em determinadas áreas, por exemplo, a técnica, de tão difundida, é considerada sistema convencional. Por trás desse desenvolvimento há uma estrutura eficiente, formada por entidades, como a Associação de Plantio Direto no Cerrado (APDC), a Embrapa, o Clube Amigos da Terra (CAT) e as Fundações MS e MT, que, dia a dia, lutam para difundir, melhorar e adequar a técnica às condições de solo e clima do Centro-Oeste e da região dos Cerrados. As conquistas obtidas nesses campos tornam possível o avanço global do sistema, haja vista o significativo crescimento em culturas anuais como soja (mais de 50% da área plantada), milho, arroz, feijão, café e, mais recentemente, algodão. Nas áreas de pecuária, onde as pastagens encontram-se degradadas, a integração com a lavoura, via plantio direto, tem permitido a recuperação do solo, além de garantir maior renda ao produtor, que passa a ganhar também com a atividade agrícola. O sistema, entretanto, não se limita a grandes lavouras e às áreas de pecuária. Pequenos agricultores usam máquinas específicas com tração animal ou pequenas plantadeiras mecanizadas em suas terras para o cultivo de culturas anuais. A técnica também vem sendo usada para reflorestamentos, através do plantio direto de mudas em covas, a exemplo das experiências no Sul do país. “A tendência da agricultura no Centro-Oeste está, sem dúvida, no sistema de plantio direto e no uso de braquiárias para cobertura” O uso de gramíneas (sorgo, milheto, milho etc.) como adubo verde e/ou cultura de cobertura viabiliza a técnica. De uma forma comum, todas essas experiências se aproveitam da eficiente cobertura proporcionada pela braquiária, que consegue fixar e disponibilizar o silício para as culturas subsequentes, gerando proteção contra o ataque de pragas e doenças. As braquiárias provocam um equilíbrio de nutrientes, difícil de ser obtido artificialmente com adubos químicos. No entanto, é importante ressaltar que não são todas as braquiárias que podem ser utilizadas, mas principalmente a B. ruziziensis, B. brizantha e o capim marmelada (B. plantaginea). "A tendência da agricultura no Centro-Oeste está, sem dúvida, no sistema de plantio direto e no uso de braquiárias como planta de cobertura para formação de palhada", explica Pedro Freitas, agrônomo da Embrapa Solos e da APDC.


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