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BRASIL, CHEGOU A VEZ DE OUVIR AS MARIAS, MAHINS, MARIELLES, MALÊS!¹

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REFERÊNCIAS

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Uma ferida colonial, causada por uma herança escravocrata, marca o Brasil em seus diversos âmbitos: o silenciamento e apagamento de mulheres negras. Com esse trabalho, subvertemos isso fazendo uma louvação à essas mulheres e revelando o que se cala.

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"Mil nações moldaram minha cara / Minha voz uso pra dizer o que se cala / O meu país é meu lugar de fala" (DEUS É MULHER/2018). É com esse trecho que Elza Soares começa a cantar "O Que se Cala". Nessa música, Elza expõe o fato de que o Brasil foi formado por pessoas de múltiplas nações, principalmente pelos diversos grupos étnico-linguísticos trazidos de África. "Nunca é demais lembrar que o Brasil recebeu, entre meados do século XVI e meados do XIX, aproximadamente quatro milhões de cativos, 40% de todos os africanos transportados através do Atlântico entre os séculos XV e XIX" (MAMIGONIAN, 2009, p. 213). Esses cativos advinham de diversas regiões de África: vinham trazidos dos portos da região centro-ocidental (Angola, Congo), da Costa da Mina, do Golfo do Benin, de Bissau, do arquipélago do Cabo Verde na Senegâmbia e de Moçambique. Mas, é preciso atentar-se que esse processo de constituição de uma nação brasileira, iniciado no período imperial, não foi em algum momento harmonioso. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravização, criando articulações, a partir de interesses de uma elite escravocrata, para manter a mão de obra escrava até o quanto fosse possível. E, mesmo após a abolição, nenhum tipo de assistência foi concedida a essa população recém-liberta. Esses ex-escravizados foram jogados às margens da sociedade. Ao mesmo tempo, como bem diz Ângela Alonso em seu artigo "O abolicionismo como movimento social" (2014), lhes era imposta à exaltação de sua suposta redentora: a branca Isabel. Mas essa liberdade não veio do céu nem das mãos de Isabel. Foi uma luta árdua. Essa ideia da Isabel salvadora é mais um método violento para apagar figuras negras da história, principalmente mulheres negras, que foram importantes na luta pelo fim da escravização e na constituição desse país. Esse trabalho tem o intuito de romper com isso, invocando uma memória ancestral por meio da música e dos festejos. É uma ode às mulheres negras. Ou seja, uma canção e uma louvação à elas. Afinal, o que você sabe sobre as manifestações religiosas e culturais de matrizes africanas? Sabia que o candomblé nasceu em meio ao protagonismo de mulheres negras? E quantas mulheres negras você escuta no seu cotidiano? E elas estão presentes em suas playlists? Já é tempo de celebrar essas mulheres.

Essa obra faz referência ao assentamento da cultura africana, que foi violentamente transportada ao Brasil e, ainda assim, consegue refazer-se e enraizar-se nesse território.

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