PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Pós-graduação Instituto de Educação Continuada (IEC PUC Minas)
Patrícia Costa Siqueira de Carvalho
O PODER DO CABELO VISTO ATRAVÉS DA ARTE
Belo Horizonte 2016
Patrícia Costa Siqueira de Carvalho
O PODER DO CABELO VISTO ATRAVÉS DA ARTE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de MA em Arte Contemporânea da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista.
Orientadora: Profª Zahira Souki
Belo Horizonte 2016
“Pela cabeça se conhecem as nações”. (CARDIM)
RESUMO
Pensar o cabelo como signo e expandir seus significados. O cabelo e seu poder. O cabelo como expressão e as suas diversas formas de manifestação ao longo da história da humanidade. A arte como reflexo desta história, como meio potente de revelar a sociedade e trazer entendimento das questões sociais de seu tempo. O cabelo, assim como a arte, deixa pistas valiosas sobre o movimento do homem em uma sociedade. Investigar as relações de poder que se estabeleceram através do cabelo e como isto se manifestou na arte em determinados momentos da história Analisar e relacionar estes momentos.
Palavras-chave: Poder. Cabelo. Arte Sociedade
ABSTRACT
Thinking hair as a sign and expand its meanings. The hair and its power. The hair as an expression and its various manifestations throughout the history of the humanity. Art as a reflection of such history, as a powerful instrument of revealing the society and bring understanding of the social issues of its times. The hair, as well as art, leaves valuable clues about the human development in a society. Investigating the power relations that were established through the hair and how it manifested itself in art at certain times in history. Analyze and relate these times
Keywords: Power. Hair. Art. Society
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Sansão e Dalila...................................................................................... 19
FIGURA 2 - Desenho para a alegoria A Escultura (detalhe) 22
FIGURA 3 - Nuda Veritas.......................................................................... ................23
FIGURA 4 - Nuda Veritas (detalhe) ........................................................................... 23
FIGURA 5 - A Esperança I ............25
FIGURA 6 - Ondinas ................................................................................................. 25
FIGURA 7 - Peixes Dourados ..26
FIGURA 8 - As Serpentes de Água I ......................................................................... 26
FIGURA 9 - Serpentes de Água II ou Água em Movimento 27
FIGURA 10 - O Bando dos Mortos 28
FIGURA 11 - A mulher e o diabo ............................................................................... 30
FIGURA 12 - Linda maestra 36
FIGURA 13 - Sabbath das Bruxas ............................................................................ 36
FIGURA 14 - El gran Cabrón, umas das pinturas negras de Goya 37
FIGURA 15 - As Velhas ou Tempo 38
FIGURA 16 - Autorretrato com o cabelo cortado ....................................................... 40
FIGURA 17 - Foto de Robert Capa 42
FIGURA 18 - Cabeça de Medusa .............................................................................. 44
FIGURA 19 - Modelos de perucas 48
FIGURA 20 - Pouf à I'indépendance...................................... ...................................49
FIGURA 21 - Pouf 49
FIGURA 22 - Maria Antonieta, rainha da França 51
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Coord. Coordenador Ed. Editor Ex. Exemplo Org. Organizador Trad. Tradução
1 INTRODUÇÃO
2 SANSÃO E DALILA
2.1 O poder do cabelo como símbolo de força e virilidade................................ 16 2.2 Sansão e Dalila pintura de Rubens 18
3 SERPENTES DE ÁGUA II OU ÁGUA EM MOVIMENTO
3.1 O poder de sensualidade dos cabelos na obra de Klimt.............................. 21 3.2 O erotismo visto em Serpentes de Água II .................................................... 26 3.3 O cabelo como arma de sensualidade ........................................................... 29
4 AS VELHAS
4.1 O poder do cabelo como elemento de magia e a figura da bruxa ............... 32 4.2 A magia na obra de Goya ................................................................................ 34 4.3 As Velhas e a passagem do Tempo ............................................................... 37
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A CABEÇA DE MEDUSA
5.1 O poder do cabelo como forma de punição e castigo.................................. 40 5.2 A cabeça de Medusa por Caravaggio ............................................................ 43
6 MARIA ANTONIETA
6.1 O cabelo e a peruca – vaidade, poder e hierarquia ...................................... 46 6.2 Cabelo – símbolo de poder hierárquico de Maria Antonieta ........................ 48 7 CONCLUSÃO
SUMÁRIO
..................................................................................................... 15
............................................................................................ 16
.................................... 21
......................................................................................................... 32
.................................................................................... 40
............................................................................................ 46
...................................................................................................... 53 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 54
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como perspectiva a abordagem do poder do cabelo em diferentes momentos da história e como esse fenômeno se refletiu e foi identificado, exposto e denunciado na arte.
Os cabelos, assim como a arte, deixam pistas valiosas sobre uma sociedade. Revelam o movimento do homem, dos rituais, dos costumes, dos pensamentos e das mudanças na sociedade ao longo dos tempos.
Nosso corpo é a nossa casa, nosso território. Tudo é nele mostrado, sendo o primeiro e último lugar de expressão revelador da nossa história. O cabelo é a coroa deste território e por isso, mais que um ornamento ele é um símbolo, um símbolo de poder. Abriga nosso cérebro, é a morada da nossa alma, nos conecta com o cosmo, detém o nosso poder vital mesmo após a morte e contém o nosso DNA. Considerase que o conceito da força vital nele contida traz consigo os da alma e do destino. O cabelo foi a parte do corpo que mais se modificou ao longo da história. Ele é revelador de inúmeros símbolos e significados. Símbolo de poder, sedução, domínio, humilhação, resistência, afirmação, força, virilidade, conquista, disponibilidade sexual, hierarquia, revolução, protesto, beleza, vigor, fertilidade, renúncia, castigo, punição, sacrifício, tabu, luto, submissão, proibição, intolerância social, ritual religioso, objeto de magia, usado como máscara, transformado em perucas, carregado de significados através dos penteados, nas tranças, nos cabelos das gueixas, soltos, presos, pintados, modificados, cobertos por véus, raspados, arrancados e ornados.
A arte sempre se mostrou importante no sentido de tornar explícitos problemas sociais velados. Tem se mostrado uma via direta e eficiente para propor uma mudança de paradigma e iniciar a superação de problemas sociais. Ela traz provocações sutis e às vezes escancaradas a respeito de problemas existentes na sociedade, trazendo entendimento nas questões sociais de seu tempo. As relações de poder são mostradas através de aspectos raciais, religiosos, econômicos, políticos, ideológicos, filosóficos, antropológicos. O propósito é fazer a investigação das relações de poder que se estabeleceram através do cabelo e como isto se manifestou na arte. Para isto, escolhi alguns itens dentre os acima relacionados e cinco obras de arte para serem analisadas e relacionadas, sendo que outras ilustrarão todo o conteúdo.
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SANSÃO E DALILA
“Ô, Dalila. Porque cortastes os dreads de Sansão? Tão grande era sua força que os reis queriam saber Sansão apenas com as mãos matou um leão A força de Sansão estava contida em seus cabelos Sansão confiou demais em Dalila e lhe contou o segredo.” (DIAS, Maico; FONTES, André Ras; REBEQUE, Thiago, [20 ]).
A história bíblica de Sansão e Dalila é contada, recitada, pintada, musicada e citada até os dias de hoje Revela a potência dos cabelos na força, vigor e virilidade de um homem. A pintura de Rubens ilustra com maestria esta história.
2.1 O poder do cabelo como símbolo de força e virilidade
Sansão foi um homem narizeu (separado, consagrado, para prestar serviços a Deus) dotado de uma força extraordinária. Sua mãe era estéril e recebeu um anjo do Senhor, que anunciou que ela teria um filho que começaria a livrar o povo de Israel do poder dos filisteus. Sua história está relatada na Bíblia (Juízes 13,14,15,16). Em virtude desta consagração, tanto ele como sua mãe, durante a gravidez, deveriam abster-se de comer determinados alimentos, beber bebidas fermentadas, de cortar o cabelo e tocar em cadáveres. Segundo a Bíblia, o Espírito do Senhor fazia Sansão ficar forte enquanto ele se mantivesse obediente. Dominava os inimigos com facilidade e produzia feitos extraordinários para um homem comum, como rasgar um leão ao meio, enfrentar um exército inteiro e matar uma multidão de filisteus.
Sansão foi um homem contraditório: foi consagrado para Deus, mas viveu uma vida dissoluta e imoral. Ele se uniu a uma mulher chamada Dalila que, em troca de algumas moedas de prata, contou aos líderes filisteus o seu segredo: que sua força estava em seus cabelos. Dalila era sua fraqueza! Por três vezes Sansão a enganou. Por fim, Sansão confidenciou a Dalila que se seus cabelos fossem cortados perderia sua força. Sansão dormiu no colo de Dalila e foram cortadas as sete tranças de Sansão. O forte tornou-se fraco. Algum tempo depois, já com o cabelo crescido, pediu a Deus que o deixasse vingar seus inimigos, ainda que isto o levasse à morte. Diante o arrependimento, Deus devolveu-lhe a força e ele sacudiu as colunas do tempo, destruindo todos a sua volta.
Significados doutrinários das sete tranças de Sansão: obediência, fé, missão, santidade, prudência, vigilância, falta da virtude.
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A força de Sansão poderia ter sido colocada em qualquer outra parte do corpo, mas foi colocada em seus cabelos. Suas sete tranças, foram significadas conforme acima descrito como virtudes a serem seguidas. A falta de comprometimento de Sansão com as regras impostas foram causa da perda de seus cabelos, de sua força, de sua virilidade. O comportamento de Sansão ditou o corte de seus cabelos.
Sansão e Dalila. É força. Os hebreus têm uma especificidade que é determinação de território e força de corpo. Eles são pobres, o território deles é insignificante. A conquista do território para eles é fundamental. O que é o território? É o corpo. Ele era um homem forte e dominador. Ela precisava dominá-lo. Era uma luta de território. Como ela o dominou? (Informação verbal). 1
A retirada de seus cabelos foi um castigo. Em diversas ocasiões na história da humanidade ter os cabelos retirados e raspados foi uma forma de punição. O cabelo é a coroa do corpo, a forma de mostrar o esplendor, a individualidade, a personalidade. E é na adolescência, idade da virilidade, que se deixam crescer os cabelos.
Na história de Sansão, o poder do cabelo está significado na força, na fertilidade e na virilidade. Acredita-se que os cabelos sejam detentores da essência vital, que podem conservar as virtudes espirituais e representam os poderes do ser humano como força e virilidade. Ao cortar ou raspar, sentenciam a renúncia e o despojamento, como fazem os budistas.
Na realidade ele foi castrado. O que está dizendo é que o cabelo é a virilidade, são as grutas, que na mitologia grega, são áreas de sensualidade cobertas por vegetação. O pelo genital é como uma vegetação que cobre, protege e que também contamina. Não teve os cabelos cortados, foi uma metáfora, perdeu a força, o vigor. O vigor está no cabelo. Se tivermos alguma doença, o cabelo denuncia, ele é o vigor do corpo. Ela seduziu, trouxe, veja a Rapunzel, essa história da mulher trazer pelo cabelo. Ela não foi à guerra. Na guerra da sensualidade, ela não foi agressivamente, ela trouxe. (GOUVEIA, 2016).
Na Grécia antiga, os cabelos eram ofertados para os deuses em troca de força e fertilidade para a terra. A força divina e a virilidade expressa na longa cabeleira de Sansão serão posteriormente a marca dos guerreiros, nobres, reis e imperadores
1 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com a pedagoga Maria de Lourdes Caldas Gouveia em 05 jul. 2016. Todas as demais citações referentes a essa entrevista far-se-ão pelo termo “ (GOUVEIA, 2016) ”.
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durante séculos de domínio da civilização europeia cristã. Cortar ou perder os cabelos significará perda de potência e desonra, uma forma de escravizar, submeter o mais fraco e castigar os inimigos.
Os homens usaram os cabelos como forma de domínio, de poder, humilhação e como arma de guerra. Segundos relatos romanos, os celtas não só utilizavam suas táticas e sua coragem para guerrear. Além de serem altos e musculosos, raspavam os corpos, pintavam de anil e usavam tatuagens com desenhos abstratos e figuras de animais. Como forma de aterrorizar o inimigo, usavam os cabelos compridos, clareados com água e cal e os colocavam para o alto da cabeça, ou o prendiam para trás, de modo que parecesse uma juba. Não se barbeavam, não tinham aparência de homens civilizados. Eram considerados bárbaros.
Os conquistadores e soberanos mudavam a aparência dos cabelos, dos cortes e dos pelos dos rostos de seus conquistados, servos e súditos, para que se parecesse com os seus novos senhores. Consideravam-se vencedores com esta prática, que era vista como uma conquista pela força, como o uso da trança larga imposto aos chineses por seus invasores manchus
Os cabelos já foram também utilizados como troféu de guerra. Escalpo é como os índios norte-americanos chamavam o couro cabeludo arrancado ainda com os cabelos. Eles acreditavam que assim, tiravam toda a força e a coragem do inimigo. Inicialmente, esta prática era uma maneira dos caçadores ganharem dinheiro por cada índio morto, depois tornou- se sinônimo de força, poder e vitória, principalmente entre índios apaches, conhecidos pela forma violenta de guerrear. Na Antiguidade já existia esta maneira de demonstrar conquista, domínio, poder entre os povos visigodos e germânicos.
Anteriormente, na China, cortar os cabelos bem curtos significava uma mutilação, uma emasculação. O ato de cortar os cabelos voluntaria ou involuntariamente remetia a um sacrifício, a uma rendição, a uma renúncia às virtudes, às prerrogativas e à própria personalidade.
2.2 Sansão e Dalila pintura de Rubens
Peter Paul Rubens (1577-1640) nasceu em um pequeno povoado da Alemanha. Foi considerado o maior pintor flamengo do século e o representante do
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gosto barroco na Europa. Culto e carismático foi o artista mais influente da era barroca. Viveu na Itália de 1600 a 1608 e fez uma ponte entre a Europa do sul e do norte. Com apenas 31 anos pintou esta magnífica obra-prima (Figura 1), que traz influência de sua estada na Itália – Tinoretto, Michelangelo e Caravaggio. É uma pintura barroca que tem como principal característica estabelecer uma nova relação entre as figuras e o espaço em que aparecem. Explora volumes, cores, luz, mostrando e escondendo o lhe convém.
Figura 1 - Sansão e Dalila
A cena revela a hora em que Sansão começa a ter seus cabelos cortados. Completamente entregue a Dalila, Sansão dorme profunda e relaxadamente em seu colo. Seu corpo extremamente musculoso e bem delineado é indicativo de sua força. A luz que realça seus músculos nos conduz aos rostos dos personagens colocados
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Fonte: Rubens (1609).
logo acima. Dalila voluptuosa, com seios à mostra, formas roliças, pele sedosa e translúcida, cabelos longos e penteados de uma forma despretensiosa, vestes mais íntimas brancas e vestido vermelho, traz à cena o erotismo do momento anterior. Os cabelos dos personagens principais são cuidadosamente detalhados e vibram em suas cores e formas. Dalila tem a cabeça inclinada como a de Vênus que está no nicho, e, juntamente com Cupido, compõe o simbolismo erótico da cena. O vermelho do vestido é vibrante e simboliza a paixão acontecida e o sangue que virá. Sua juventude é realçada pela figura da velha com o rosto marcado pelo tempo, cabelos sem vigor, portanto escondidos. Ela usa vestes escuras, segura uma vela e participa, como cúmplice, da traição a Sansão.
A luz utilizada contrastando claro e escuro mostra a influência de Caravaggio. A que escorre do cortinado roxo à esquerda incide diretamente sobre Dalila, revelando toda sua sensualidade, juventude e beleza. O barbeiro concentrado em seu fazer, entrecruza as mãos criando uma metáfora visual para nos mostrar a trama enganadora do ato. Na porta, mais ao fundo estão os filisteus carregando uma tocha, prontos para furar os olhos de Sansão. Os tecidos que compõe a cena são ricossedas, cetins e bordados com cores vibrantes e reluzentes. O ambiente é sensualmente composto pelos tecidos, cores e luzes, que contrasta com o fundo marrom.
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3 SERPENTES DE ÁGUA II OU ÁGUA EM MOVIMENTO
Klimt traduziu o esplendor da sensualidade feminina. Mostrou a mulher na sua essência, desnuda, mesmo que vestida. Os cabelos femininos compõem suas obras, envolvendo-as. Sua pintura mostra o poder de sensualidade e de erotismo presente no cabelo.
3.1 O poder de sensualidade dos cabelos na obra de Klimt
Bela, sensual e erótica, a pintura de Klimt traz a opulência e o ócio, se distancia de referências do mundo exterior e induz a admirar a beleza como sua forma dominante. As cores, os padrões, a perspectiva de suas pinturas e a estilização de suas imagens remete a obras de profunda sensualidade, onde a mulher é exposta com toda sua volúpia. Os cabelos femininos exercem um papel preponderante na composição de suas figuras. Cabelos soltos e exuberantes muitas vezes tentam dissimular o sexo e ao mesmo tempo leva o olhar a fixar-se nele. Mesmo quando a mulher é representada vestida e com seus cabelos contidos, suas obras trazem um traço de sensualidade escondida. Verifica-se que o cabelo é um elemento que grita em todas as suas obras.
Aqui, escolheu-se analisar em maior escala a obra “Serpentes Aquáticas II”. Far-se-á uma breve relação desta obra com “Serpentes Aquáticas I” e com “O Bando dos Mortos”. Ainda assim, o mundo dos cabelos de Klimt sugere algumas outras obras, nas quais a forte presença dos cabelos como símbolo de sensualidade e erotismo se mostram destacadas.
Gustav Klimt (1862-1918) nascido em Viena e ali falecido, foi o maior pintor da época em que viveu. Sua vida coincidiu com a fase de ouro de Viena na virada do século, quando era a capital de um grande império. Segundo Carl Schorske, Klimt voltou-se para a mulher como para uma criatura sensual e extraiu tudo o que podia ai encontrar de prazer e dor, de vida e de morte.
Klimt, assim como outros artistas secessionistas, criaram uma arte que espelhou a sociedade vienense assim como ela era e não maquiada e hipócrita. Renunciando ao papel de decorador da burguesia e de legitimador do Império, conseguiu algo maior- mudar a sociedade através da arte.
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Em 1896 ele começa a explicitar mais a figura humana, principalmente nos desenhos feitos para as pinturas, que se diferenciam entre si. Nos desenhos os cabelos estão soltos e revoltos e já há traços de pelos pubianos. Klimt começa a retratar a mulher de uma maneira diferente do estilo acadêmico do século XIX. Não apresenta mais mulheres roliças e sim mulheres magras, esguias, de cabelos compridos, libertas, e que expunham a sexualidade aparente e provocante.
Viena do fim do século contava com uma sociedade extremamente conservadora, de um catolicismo rigoroso, acompanhado de normas sociais rígidas. Ceder a prazeres sensuais censurados é enfim saboreado através dos quadros de Klimt. Entretanto, ver expostos objetos eróticos e considerados de mau gosto, inspiram o horror e gera um contraste na moralidade em vigor. Viena estaria destinada a sofrer profundas perturbações históricas.
As figuras femininas começam a apresentar um olhar vivo e não ausente como antes. O leve sorriso procura seduzir o espectador, nos trazendo para a realidade. (Figura 2)
Figura 2 - Desenho para a alegoria A Escultura (detalhe)
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Fonte: Klimt (1986)
Em a Nuda Veritas (1899) Klimt inicia a sua rebelião traduzindo-a na forma feminina em toda a sua dimensão sedutora, e, principalmente, erótica. Observem a serpente. A figura feminina sempre foi representada na arte clássica mascarada em deusas assexuadas. Klimt expõe este feminino que faz carne, vísceras e líquidos no imaginário do espectador. Não mais harmonizará, más provocará o espectador. A nova ordem artística está em mostrar não só aquilo que se queria ver, a beleza e a harmonia, mas a fealdade e a agressividade, distanciando-se dos ideais iluministas. (MOLINA; JUSTO, 2010, p.118)
Na Verdade Nua (Figuras 3 e 4), a mulher desconcerta o público de Viena com sua nudez crua. O tufo pubiano espesso é uma declaração de guerra contra o ideal clássico. Os cabelos displicentemente caídos ornado com flores salpicadas e o olhar grande e aparentemente sem expressão nos dá a impressão que ela vê tudo, sabe de tudo e será vista como uma mulher desejável, e não como uma figura alegórica.
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Figura 3 - Nuda Veritas Figura 4 - Nuda Veritas (detalhe)
Fonte: Klimt (1899)
Fonte: Klimt (1899)
Nas obras de Klimt, em geral, os homens são figuras periféricas. O monopólio é da mulher, que paga com sua demonização, mitificação ou fetichização. Os homens aparecem como observadores ou parceiros físicos de um ato sexual, seus rostos raramente são mostrados e a mulher é sempre o centro da obra. Os retratos das mulheres de Klimt contrastam com os retratos das mulheres da alta sociedade vienense. Suas personagens estão livres, livres de constrangimento, sejam pelos efeitos provocados por suas roupas bem elaboradas, quando presentes, ou por estarem envoltas em um mar de motivos e ornamentos. Seus rostos são sempre destacados, tranquilos, frágeis e solitários. Os cabelos em evidência, as bocas entreabertas, o olhar direto, sugerem disponibilidade sexual. Os cabelos, os tecidos, e os ornamentos são utilizados para obter um efeito erótico e colocam em destaque a nudez do corpo ao invés de disfarçá-lo. Os vestidos tem uma função primordial: funcionam como os órgãos do corpo. É com a alternância de coisas escondidas e mostradas que surge o potencial erótico de suas obras. A sobrecarga decorativa evidencia o real, fazendo entrar a vida inconsciente no consciente. As mulheres estão sempre aprisionadas por estes acessórios decorativos e seus nus são tranquilos, sonhadores e delicados. Assim, as figuras estão protegidas contra a possibilidade de definição exata, rodeadas por uma aura de distância que simultaneamente nos aproxima.
No quadro A esperança I (Figura 5), a modelo está nua, no final da gravidez. Esta mulher, que olha o observador nos olhos com seu olhar aparentemente frágil, mas franco, não tem nada de maternal. Exprime a coroação do ato amoroso. Mesmo com o ventre distendido, a mulher é magra, tem cabelos despojados e livres como de uma noiva que são coroados com flores. Os cabelos ruivos, espalhados, considerados em outras obras como sinal de erotismo e ameaça, aqui é relativizado pelos elementos alegóricos que aparecem no quadro, que parecem se referir a outros aspectos da vida como a doença, a miséria, a morte e o vício, fazendo com que o nu desponte no aspecto simbólico. A imagem da mãe e da mulher erótica. Ela segue imperturbável, imaculada, cheia de esperança.
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Em Ondinas (Figura 6) as formas aquáticas são definidas no formato dos cabelos que engolfam os rostos das mulheres, sugerindo a construção do corpo de desejo na representação dos cabelos. É uma das diversas pinturas de Klimt que associa a figura feminina à água. Ondina, na mitologia germânica e escandinava, são ninfas perigosas, agradáveis, maliciosas e cruéis que se oferecem para levar os viajantes, mas os extraviam e os afogam. Simbolizam feitiço de água e amor ligados à morte. São os perigos de sedução.
A arte nova é, de facto, apreciadora de mundos aquáticos atapetados de conchas, de algas castanhas ou douradas que crescem sobre os búzios venusinos, conchas bivalves que se abrem sobre as carnes delicadas que tingem o coral dos trópicos ou a cor púrpura de Sídon, tudo em linguagem codificada que nos transporta irresistivelmente para sua inspiradora: a mulher. Sonhos de água, nos quais as cabeleiras e os tufos da púbis se confundem com as algas. As mulheres peixe de Klimt manifestam a sua sensualidade húmida sem rodeios. (NÉRET, 2011, p. 26).
Em Peixes Dourados (Figura 7), a mulher apresenta todo o seu fulgor erótico.
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Figura 5 - A Esperança I Figura 6 - Ondinas
Fonte: Klimt (1903a) Fonte: Klimt ([1899?])
Um mundo narciso povoado de lésbicas. A composição de mulheres cercadas, emaranhadas, envoltas em seus cabelos em um mundo aquático pode ser vista em “Peixes Dourados”, “Serpentes de Água I” (Figura 8) e “Serpentes de Água II” (Figura 9).
3.2 O erotismo visto em Serpentes de Água II
Na obra Serpentes de Água II (Figura 9), Klimt pinta um universo exclusivamente feminino, que abdica do encontro do homem. As mulheres são mostradas enfatizando a sinuosidade de suas figuras e de seus cabelos. A composição de “Serpentes de Água I” (Figura 8) é vertical e seu caráter sensual foi parcialmente purificado pelo gesto carinhoso do abraço, pelo sussurro intimista, sendo que a figura feminina que olha para o exterior nos convida a entrar na atmosfera lascivo trazida pelo meio aquático e pelos cabelos dourados que é afastado pela mão em um gesto suave. Nesta pintura o espaço da tela é sufocado por infinitos detalhes de mosaico, com um cenário imaginário de cobras que nos faz regredir ao meio
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Figura 7 - Peixes Dourados Figura 8 - As Serpentes de Água I
Fonte: Klimt (1902). Fonte: Klimt (1904-1907a).
primitivo e com a presença de uma pequena baleia na parte inferior da figura, que pode simbolizar o elemento masculino como voyeur.
Em “Serpentes de Água II” a composição é horizontal, ousada e arriscada. Um casal de mulheres é arremessado à agua, acompanhadas de outros dois rostos semiescondidos, trazem corpos mais alongados, com cores mais vivas, cabelos de tons variados, do claro ao escuro. A disposição dos corpos remete o olhar para direita, onde as faces se concentram, nos presenteando com a carga expressiva da tela. O título da obra traz dois elementos aos quais Freud atribui um significado de forte apelo sexual – serpente e água. As quatro figuras femininas se entrelaçam com algas, confundidas com uma massa de cabelos e tufos púbicos, como símbolo erótico. Elementos decorativos apropriam-se da cena e elas se enrolam em espirais, correntes, algas, círculos, flores e sonhos aquáticos. Os elementos- a água, o movimento, as correntes, a leveza, as cores dos cabelos selvagens, a nudez branca, a expressão dos rostos, o rubor das faces, as narinas dilatadas, o fechar e abrir de olhos, a languidez preguiçosa dos corpos, a maciez da carne e o ambiente colorido, juntamente com a mulher que está em primeiro plano nos convida a contemplar o clímax sexual e fazem do espectador um voyeur. O rosto da mulher na imagem é doce e amável e parece ser indolente, com um ligeiro toque de luxúria, como se tivesse
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Figura 9 - Serpentes de Água II ou Água em Movimento
Fonte: Klimt (1904-1907b).
acabado de acordar de um sonho ardente. A alma das serpentes é estampada nas mulheres lascivas e escorregadias. Foi enfatizado o caráter sensual da obra, que não cessou de perturbar o público com estas criaturas do mar, seres aquáticos, que ondulam em curvas flexíveis, mostrando velada, mas explicitamente a natureza ilusória da tentação do amor. Talvez esta seja a sua obra mais explicitamente erótica. Suas formas aquáticas fizeram com que o público entrasse em um mundo de evocações e sugestões sexuais, colocadas em paralelo com a simbologia de Freud.
Klimt pinta a mulher da sua época. Ele perseguiu até ao ínfimo detalhe dos filamentos do seu ser a estrutura da sua ossatura, o contorno das suas formas, a modelagem da sua carne, a maquinaria dos seus movimentos, marcando para sempre a sua memória...O tom cintilante de seu corpo elegante, o brilho florescente da pele, o corte quadrado do crânio largamente arredondado e as arruivadas crinas do pecado conferem ao todo um efeito profundamente psicológico e pictórico. (FLIEDL, 1992, p.204-205).
A sensualidade, o erotismo, estão presentes em todos os lados, mas estas mulheres quase despidas, estas mulheres adormecidas, foram finalmente aceitas pela burguesia e aristocracia vienenses. Klimt forçava os preconceitos morais graças à riqueza e à decoração. O abraço e o corpo nu sobressaem de um fundo de ouro e azul-velho; as vestes das mulheres misturam-se com as flores coloridas da pradaria, a impressão de uma beleza frondosa, de uma riqueza ilimitada que caracteriza todos os quadros de Klimt, fazem esquecer a nudez que se transforma num elemento decorativo deste conjunto prestigioso. (PALMIER apud FLIEDL, 1992, p. 208).
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Figura 10 - O Bando dos Mortos
Fonte: Klimt (1903b).
Por fim, penso ser interessante trazer a falta dos cabelos no quadro O Bando dos Mortos (Figura 10). Ausência do elemento potente, erótico, de sensualidade, de disponibilidade para o prazer, da coroa do nosso corpo. Este quadro retrata a morte. Aqui, a pintura “As Serpentes de Água II” parece-me invertida. Os corpos estão se dirigindo rumo ao universo, ao vazio, à imensidão, estão transcendendo. Estão no sentido contrário das Serpentes de Água II, com as cabeças viradas para o infinito, vagas, sem possibilidades. Os corpos vagam soltos, constituídos apenas de ossos, e o que os une é uma espécie de conjunto fibroso, desprendido de seus corpos, que os levam a um mesmo lugar- à impossibilidade de sonhar. Adormecidas, as figuras femininas, com suas genitálias desnudas, desprovidas de pelos, tem em seus corpos uma uniformidade inalterável e, destituídas de seus sonhos, não se preocupam com a proximidade da morte. Desaparecem as cores, os cabelos, as águas, o fluxo, a vida. É a crueldade da morte. Já não existem mais os ornamentos, nem as cabeças coroadas pelos longos cabelos sedutores. Já são descartáveis.
3.3 O cabelo como arma de sensualidade
No conto de fadas “Rapunzel” o poder e a beleza do cabelo são mostrados como forma de atrair e trazer o príncipe amado para junto de si. Uma jovem aprisionada no alto de uma torre joga suas longas tranças cor de mel para que o príncipe suba até o alto da torre. Por meio dos cabelos, seu amor se concretiza.
Rapunzel joga o cabelo, joga a sensualidade, ele navega na sensualidade dela, nas tranças dela. Joga suas tranças cor de mel. Com o que ela o atrai? Com a sensualidade. O cabelo, sem qualquer dúvida é o grande traço de sensualidade no corpo feminino, muito mais que no corpo masculino. (GOUVEIA, 2016)
Os cabelos são uma das principais armas da mulher. Arma de sedução, de atração. O medo do feminino, o mistério da fertilidade, o pecado, o medo da morte e da infelicidade sempre estiveram por todos os lugares, e afirmados por lendas, histórias, mitos e sabedorias religiosas, encontra-se uma palavra comum para a sedução feminina: o cabelo.
O imaginário nos quatro cantos do planeta está povoado pelas tranças douradas de Lorelei e de Rapunzel, pelas madeixas transformadas em
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serpentes da Medusa grega e pelos cabelos das concubinas e esposas rivais japonesas. Espelhos sempre à mão, os pentes mágicos percorrem os longos fios da mães d`água, sereias, ondinas e melusinas medievais, levando os homens à perdição.
Nas sociedades tradicionais, os rituais demonstram quase sempre uma ligação entre a opulência do cabelo solto e longo com a capacidade de atração sexual e fertilidade. O curto e amarrado, em oposição, revelam restrição da atividade sexual, enquanto o raspado é praticamente uma declaração de celibato. (ARAÚJO, 2012, p. 34).
Estando à mostra ou escondidos, atados ou desatados, funcionam como sinal de disponibilidade ou não de entrega sexual de uma mulher. O cabelo preso, partido ao meio significava retidão.
As senhoras do século XIX brasileiro, elas são severas com os cabelos, puxam os cabelos para trás e prendem. Uma senhora não vai à rua de cabelos soltos, pois é sinal de intimidade. Quando as mulheres chegam nas alcovas elas soltam os seus cabelos para receber os seus amados. Com o cabelo preso, ela não é receptiva, elas têm a sensualidade fechada. Quando ela solta, ela solta... isto é um código, um acordo tácito. (GOUVEIA, 2016).
Alguns destes códigos serviram para demonizar a figura feminina. A vaidade feminina simbolizada pelo ato de pentear na frente do espelho é considerada um ato obsceno em ilustração do sec. XV. (Figura 11)
Figura 11 - A mulher e o diabo
Ela tem que se produzir para que ele olhado nela, ele se sinta seduzido. Qual é o maior elemento? O cabelo. É por isso que as mulheres de cabelo branco são descartáveis. Quando você é descartada, você sai do jogo. Isto não é antecipação da morte. (GOUVEIA, 2016).
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Fonte: Durer (1943)
Eva foi a introdutora do pecado e responsável pela condenação do homem aos tormentos do mundo. Maria Madalena, na iconografia cristã é sempre representada com cabelos soltos e longos. O cabelo solto marca prostitutas e pecadoras, capazes de tirarem o homem do caminho reto. A repressão será duradoura e as mulheres se veem obrigadas a cobrir a cabeça com véus, toucas e chapéus para saírem de casa, como se pode observar até os dias de hoje em algumas religiões. O véu cobre a cabeça da mulher mulçumana e a principal razão é esconder a beleza do cabelo, capaz de despertar desejos carnais nos homens.
Na Rússia, a mulher casada costumava esconder seus cabelos, e há um provérbio que afirma: uma moca pode divertir-se, contanto que sua cabeça não esteja coberta. A noção de provocação sensual, ligada à cabeleira feminina, está igualmente na origem da tradição cristã segundo a qual as mulheres não podem entrar na igreja com a cabeça descoberta: se o fizessem, seria pretender a uma liberdade não somente de direito, mas de costumes. Na Rússia, a trança grossa e única é usada só pelas donzelas: é um signo de virgindade; depois de casada, a mulher usa duas tranças. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005, p. 155).
A variedade de cortes, arranjos, cores e maneiras de mostrar o cabelo em público de uma maneira autônoma é recente. O cabelo feminino sempre foi marcado por tabus, tradições, símbolos e proibições, devido principalmente à condição de inferioridade vivida pela mulher em relação aos homens da casa (a cabeça do casal) durante muitos séculos.
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VELHAS
“Velha viciosa, pérfida e daninha Do bem inimiga, má e invejosa, ès bruxa feiticeira e maliciosa, perversa, louca e coberta de tinha”. (Burchiello, séc. XV - ECO, 2014, p. 163).
O cabelo como elemento de magia. A magia como ritual humano para se alcançar o desejado. A figura da bruxa como fazedora da magia. A velha vista como bruxa. E a obra de Goya sintetizando tudo isto.
4.1 O poder do cabelo como elemento de magia e a figura da bruxa
Os fios do cabelo preservam muitas de suas propriedades mesmo quando fora do corpo do dono. Em virtude disto é objeto obrigatório nos feitiços, no interior de amuletos, medalhões e caixinhas de guardados. Entende-se que pela intimidade que tem com o corpo, o cabelo retém restos de força vital, lhe conferindo poderes mágicos de ligação do mundo dos vivos com o mundo sobrenatural.
Acredita-se que os cabelos, assim como as unhas e os membros de um ser humano, possuam o dom de conservar relações íntimas com esse ser, mesmo depois de separados do corpo. Simbolizam suas propriedades ao conservar espiritualmente suas virtudes: permanecem unidos ao ser, através de um vínculo de simpatia. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005, p. 153)
Mais recentemente soube-se que no cabelo está o DNA, constituído de moléculas que contêm instruções que coordenam o desenvolvimento e funcionamento do ser vivo e onde estão armazenadas as informações genéticas.
Foi graças a um tufo de cabelos encontrado numa escavação, na década de 1980, e guardado num museu da Dinamarca que pesquisadores da Universidade da Copenhague puderam reconstruir, pela primeira vez, o genoma de um homem de 4 mil anos de idade: um esquimó, que viva na Groelândia, batizado de Inuk. (ARAUJO, 2012, p. 132).
O exemplo mais conhecido de magia contagiosa é a simpatia mágica, que acredita na ligação entre o homem e a parte separada de seu corpo como cabelo e unha. É uma superstição mundial. Têm-se muitos exemplos de tradições culturais que acreditam neste poder sobrenatural do cabelo, onde cortar ou queimar o cabelo pode
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AS
expulsar malefícios, desencantar feitiços, e ainda servir de oferenda tão valiosa quanto dinheiro e joias. No Vietnã não se jogam fora os cabelos, por receio que influencie, de uma maneira mágica, o destino de seu dono. Existe a crença que tudo que se faça a um determinado objeto afetará a pessoa a quem ele pertence ou com quem tem ligação.
O cabelo da cabeça, enquanto parte do corpo, é tratado com grande carinho, untado e escovado, penteado da maneira mais elaborada possível, mas assim que é cortado se torna “sujo” e é explícita e conscientemente associado com as (para nós obvias) substâncias impuras: fezes, urina, sêmen e suor. Mais do que isto, a potencialidade possuída por este “sujo” não tem nenhuma relação particular com a pessoa da qual deriva o sujo. O “sujo” é nitidamente um assunto mágico; dota o barbeiro e o lavadeiro de um perigoso poder agressivo...o cabelo da cabeça é amplamente usado como símbolo ritual com conotações genitais e anais. (LEACH, 1983, p. 157).
Segundo Freud o poder mágico é uma variedade especial da libido sublimada. Ele explica a forma dos atos mágicos como determinada por desejos reprimidos do tipo oral, anal ou sexual. Na feitiçaria, “prender o ser amado” é o feitiço mais procurado.
A magia é a solução para todos os problemas quando a força do homem não consegue controlar a natureza das coisas. Através das curas, predições, graças e vidências a magia se impõe. Existem entendimentos de que a magia veio antes da religião. Considera-se que o que vem das trevas é magia e da luz é religião. O mal é sempre magia e deve ser feito escondido, ocorrendo normalmente nos bosques, nas sombras, na noite e em lugares isolados.
As loucas. No imaginário do Goya, todas estão descabeladas, os cabelos não são sedosos. Nos lugares de atenção à saúde mental as mulheres são todas descabeladas. É assim que elas são - descuidadas, feias, sujas, aqui e ali tem alguma que tem um traço agradável, mas está atingida, pois a loucura é no corpo também. O cabelo é um raio, ele fica em pé. Quando você está assustado falamos que está de “cabelo em pé”. O corpo está dizendo, que internamente sua emoção está em ebulição diante de algum perigo, seu cabelo perdeu a maciez, o contorno da cabeça. As pessoas enlouquecidas são assim. (GOUVEIA, 2016).
Os autores reconhecem que quem pratica magia são seres possuídos, nervosos, agitados, o exótico, as mulheres, em especial as velhas ou as virgens, as histéricas. A magia é privada, secreta, misteriosa e por vezes ilícita. Devido ao caráter orgânico da bruxaria, quanto mais velho é uma bruxa mais poderosa é sua magia. As
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bruxas também possuem a fama de tratar com demônios e sua imagem ficou fixada como a mulher má que voa à noite montada em uma vassoura e que atravessa janelas e paredes para participar de Sabbath. As viúvas, isoladas, idosas e mais pobres, muitas possuidoras de uma sabedoria oral da medicina empírica, conheciam os segredos da cura e do feitiço. Entre os Ewe de Gana uma mecha de cabelo é o elemento primordial para o preparo da magia, seja ela branca ou negra.
“As bruxas cozinham em caldeirões, sobre um fogo maldito, ervas venenosas e substâncias oriundas de animais ou corpos humanos”. (SALLMANN, 2002, p.81). 2
O problema da bruxaria levantou o problema da posição da mulher na sociedade cristã. Do ponto de vista teológico, a mulher é marcada pelo pecado original. Ela permanece sendo o agente do Diabo. Mas também é o seu corpo que inquieta. O desconhecimento da fisiologia do seu corpo dá livre curso a todas as extravagâncias da imaginação. (SALLMANN, 2002, p.105).
Assim, aponta-se para o cabelo como elemento essencial para a magia e observa-se na figura da bruxa velha um cabelo ralo, seco, desgrenhado, sem vida e beleza. Os cabelos desgrenhados parecem fazer parte das sociedades secretas das bruxas e feiticeiras, por se tratar de uma renúncia às convenções da ordem social.
4.2 A magia na obra de Goya
Goya viveu em um século de crises e contradições: a volta da Santa Inquisição, a perseguição aos liberais e o governo absolutista de Fernando VII. A arte tinha que expressar este momento de crise e foi Goya quem demonstrou quais seriam os novos caminhos da pintura. Muito mais que um pintor, Goya foi um pensador profundo de seu tempo, trazendo em sua obra a lucidez da grandeza e da miséria humana.
Goya (1746-1828) nasceu em Fuentedetodos, província de Zaragoza. Começou sua formação artística aos 5 anos e foi discípulo de José Luzán, com quem aprendeu os princípios do desenho. Prosseguiu sua formação com o artista Francisco Bayeu, que o apresentou à corte. Segundo Goya, ele não teve outro mestre além de suas observações dos pintores e quadros celebres de Roma e Espanha.
Em 1792 ficou surdo. Perdeu a vivacidade e a autoconfiança. A tragédia da doença mudou sua pintura. Passou a buscar o mundo interno. Aos 50 anos de idade,
2 Depoimento de Anne-Marie G.julgada pela Inquisição de Toulouse
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Goya iniciou Os Caprichos, série de 80 gravuras em água-forte que levou seis anos para terminar. Essas gravuras representam bem o espírito do artista nesta época de sua vida. Segundo Angel Sánchez Rivero “não há na história da arte exemplo mais atrevido de rebeldia contra o meio”. Nela se podem distinguir dois conjuntos: no primeiro a sátira dos costumes e vícios sociais (incluindo o clero) e no segundo a sátira das superstições populares sobre as bruxarias.
Aqui a abordagem é sobre o segundo conjunto. A análise é sobre a obra “As velhas” ou “Tempo”, tratando também de outras obras que remetam ao tema da bruxaria. As cenas de feitiçaria era uma fixação da cultura popular na Espanha do século XVIII. A feiticeira como ladra de crianças era uma imagem poderosa e as obras de Goya dão ênfase ao rapto, tortura e morte com sacrifício de bebês. As imagens das velhas megeras da meia-noite com seus cabelos desgrenhados e sua deprimente falta de dentaduras são recorrentes.
As feiticeiras eram tão reais quanto os gatos (e frequentemente disfarçadas como tal), e a pessoa que negasse a existência real e verdadeira do demônio e de suas legiões estava se arriscando a surpresas póstumas desagradáveis. Goya não acreditava em feiticeiras....”eu não tenho medo de bruxas, diabretes, duendes, aparições gigantes orgulhosos, velhacos ou biltres etc, de fato nem de nenhuma espécie de seres, exceto de seres humanos.” (HUGHES, 2007, p.183).
Goya une a fantasia à razão, lançando mão da imaginação para escancarar tudo que existe de abominável e destrutivo dentro das pessoas. E para isto ele nomeia e dá forma à hipocrisia cínica da ignorância, crueldade e violência humana. Assim, sua arte se torna atemporal, transcendendo o momento histórico e social da época.
Goya abre as comportas de nosso mundo inconsciente, um mundo incomensurável de luz e sombras. Nele encontra um turbilhão de forças ocultas, de desejos inconfessos, de prazeres e tentações, das bruxas que habitam dentro de nós... As bruxas não são apenas fantasias ou alucinações. Não, elas fazem parte de nossa realidade. Incorporam uma magia íntima da vida; nunca deixaram de existir com sua magia. Através delas, os homens procuram desesperadamente descobrir algum sentido, algum fio que os oriente no labirinto da vida e os ajude diante de um destino, cujo mistério não consegue decifrar. (OSTROWER, 1997, p. 16,17)
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Figura 12 - Linda maestra
A gravura Linda maestra (Figura 12) ilustra bem a figura da velha bruxa com suas carnes murchas, que voa à noite em sua vassoura mágica levando a aprendiz, uma jovem com as pernas roliças e mamas firmes, para a reunião das bruxas.
13 - Sabbath das Bruxas
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Fonte: Goya (1796)
Figura
Fonte: Goya (1798).
Na pintura Sabbath das Bruxas (Figura 13), as feiticeiras com seus cabelos amassados e sem brilho se reúnem para prestar homenagem ao diabo, aqui visto na forma de um bode com chifres curvos, oferecendo-lhe cadáver de criança, crianças recém- capturadas e fetos mortos.
Figura 14 - El gran Cabrón, umas das pinturas negras de Goya
El gran Cabrón (Figura 14) é o símbolo da sociedade feia e besta da época, dominada pela violência e pelo crime. É uma composição satânica, onde o poderoso bode na figura do demônio, domina uma massa de velhas bruxas com olhos esbugalhados, bocas torcidas, rostos disformes e cabelos escondidos, onde certamente triunfará o noturno macabro da irracionalidade e a persistência do mal.
4.3 As Velhas e a passagem do Tempo
O quadro As Velhas (Figura 15) foi pintado durante a guerra (entre 1808 e 1814), onde reinava doença e fome. Duas velhas, uma supostamente serva da outra, se olham no espelho que tem no verso a inscrição: “o que acham de mim?”. Estão acompanhadas de perto pela figura de um homem de cabelos e barbas brancas com grandes asas, significando o tempo. Este homem segura em suas mãos uma vassoura, elemento utilizado pelas bruxas, e as observa com curiosidade.
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Fonte: Goya (1823).
Figura 15 - As Velhas ou Tempo
As velhas são magras, órbitas profundas, olhares vazios, dedos deformados, cabelos ralos. A senhora de vestido claro, vestida a rigor, tem os cabelos de um louro ruivo descorado adornado por uma fecha de diamantes (tipo comum de enfeite da época) e usa brincos e anéis. Tem as orbitas fundas, pálpebras vermelhas, lábios afundados para dentro da boca desdentada. Os artefatos persistem, mas seus donos
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Fonte: Goya (1814)
decaem. Sua serva cadavérica tem o nariz comido pela varíola, lábios e olhos encovados, dentes descoloridos e rosto emplastado de batom. Com a pele acinzentada, ela é a própria figura do cadáver que foi enfeitado para ser colocado no caixão e que ainda sustenta o cabelo, que continua a crescer após a morte.
A aparência diabólica das velhas fantasmagóricas nos remete às bruxas que se utilizam de elementos mágicos, como o espelho e o cabelo, para modificarem os fatos. A bruxaria é feita no lugar de dentro, no interior do quarto, escondida. O quadro mostra que elas contam com seu símbolo maior- a vassoura. A vassoura que estará simbolicamente contra ou a seu favor, não se sabe. A vassoura que irá levá-las para o Sabbath ou as varrerão para sempre.
Quando você envelhece, o cabelo diminui em quantidade, em espessura. São os sinais da sua vitalidade no cabelo. Perde proteínas. Cabelo branco é uma bandeira, bandeira da vulnerabilidade. Socialmente são pessoas frágeis, passíveis de enganar. Elemento de comunicação. As mulheres são as mesmas em qualquer lugar. Elas partem de uma negação. Pintam os cabelos. Veja as aves que morrem as vésperas das festas- o peru. No olhar comum, chamam a estas mulheres de peruas. Elas têm dificuldades com o tempo, antes da festa acontecer, elas morrem para promover a festa. A festa comemora o tempo. As pessoas comuns olham com muita sabedoria e veem que elas têm um excesso de ornamento. É quase universal- nenhuma delas tem a cor autentica do cabelo, pois negam a si mesmo, negando o tempo. Como o corpo é ligado à estrutura do tempo e o cabelo é a grande enciclopédia do corpo, tudo entra no jogo e ela se torna uma pessoa falsa, uma perua. Você não pode enganar o tempo. O que nós somos? Somos o tempo. Então quando nega o tempo, nega a si mesmo. E qual é a arma maior para isto? O cabelo. (GOUVEIA, 2016).
As Velhas procuram no espelho mágico a juventude perdida, como nos contos de fadas. O tempo passou. Os cabelos, assim como suas carnes, suas peles e seus corpos denunciam a idade. O tempo não perdoa. Elas virarão pó e certamente serão varridas, apesar da resistência dos cabelos que ainda crescerão após a morte.
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5 A CABEÇA DE MEDUSA
“Olha, se te amei foi por teu cabelo/ Agora que estás careca, já não te quero”. (ARAÚJO, 2012, p. 89).
Os cabelos como a coroa do nosso corpo exerce um poder imediato aos olhos do outro. Para o indivíduo é sinal de identificação. A retirada involuntária dos cabelos serve como forma de punição e castigo.
5.1 O poder do cabelo como forma de punição e castigo
Os versos acima citados e traduzidos são de uma canção popular mexicana dos anos 40 transcritos em um autorretrato da artista mexicana Frida Khalo (Figura 16). Na pintura ela corta os seus longos e volumosos cabelos, como forma de se punir diante da separação do amante. Neste ato ela abandona a sua feminilidade.
Figura 16 - Autorretrato com o cabelo cortado
Algumas histórias amorosas tumultuadas costumam terminar com gestos extremos como este. Em julho deste ano, uma reportagem jornalística trouxe a notícia de que uma mulher em Guarulhos tinha sido presa, torturada e teve seus cabelos raspados pelo marido que não aceitava o fim do relacionamento.
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Fonte: Khalo (1939).
Na Idade Média a “laçada” era uma forma de tortura feminina, onde os carrascos prendiam os cabelos das mulheres em pedaços de metal e os torciam até que o couro cabeludo fosse arrancado. Este tipo de escalpo foi utilizado na Rússia até início do século XX. As viúvas indianas sofrem de uma morte social com a morte do marido, tendo que raspar a cabeça, ficar sem suas joias e se vestir de um pano branco sujo. Em algumas religiões as pessoas são encorajadas a cortar seus cabelos, como forma de penitência. Assim também as mulheres da época de Clemente de Alexandria e Tertuliano eram proibidas de tingir os cabelos ou usar perucas, pelo espírito de penitência no sentido de abolir o artifício da sedução.
Sinal de vergonha e humilhação, ter os cabelos raspados em público tornou-se sinal de punição. Na Babilônia as crianças que desobedecessem a seus pais eram assim castigadas. Cortar ou raspar os cabelos sem consentimento e ter intervenções sobre a aparência do cabelo é uma forma de dominar, podar, punir, restringir e enquadrar o indivíduo às regras dominantes. Foi o que aconteceu com os índios brasileiros com a chegada dos portugueses. Ao serem colonizados foi feita a uniformização do corte de cabelo de 300 nações, cerca de 5 milhões de habitantes que aqui viviam, tirando-lhes a singularidade, a identidade.
“Quando um povo perde e abandona os seus costumes ancestrais ele perde os seus pontos de apoio e está em eminente perigo de se desintegrar”. (FRAZER, 1982, p. 29).
O corte involuntário do cabelo ocorre ainda em nossos dias: prisioneiros em campos de concentração, presidiários, menores infratores e crianças em abrigos são submetidos a essa desmoralização, justificada pela necessidade de higienização. Na realidade, nunca deixou de ser castigo moral e forma de apagar identidades: individual, ética e religiosa. (ARAÚJO, 2012, p. 90).
Em 1944, na França, vinte mil mulheres tiveram suas cabeças raspadas acusadas de terem mantido relações amorosas ou sexuais com soldados alemães durante a ocupação nazista. As mulheres eram obrigadas a caminhar pela cidade, sendo hostilizadas (Figuras 17). Raspar os cabelos é privar a mulher de um de seus principais atrativos. Ao longo do tempo os cabelos passaram a individualizar a mulher, sendo cortados, alisados, remexidos, presos, soltos e pintados de maneiras diferentes.
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A foto em destaque mostra a punição e o castigo exercido através dos cabelos, como ocorrido na figura do mito grego Medusa. Quando se pergunta às mulheres qual figura representa a ira feminina, a resposta é a Medusa. Muitas não conseguem se lembrar de detalhes do mito, mas concordam que Medusa, o monstro de cabelo de cobras é a mulher mais horrível do mundo. Medusa era uma mulher deslumbrante, invejada por sua beleza e desejada pelos homens. Era sacerdotisa de Atena, a sempre virgem, a deusa da guerra e da sabedoria. Na condição de sacerdotisa, Medusa deveria manter-se virgem. Sua excepcional beleza, seu perfil perfeito e seus lindos cabelos chamaram a atenção dos adoradores de Atena, deixando-a enciumada. Poseidon- o grande deus dos maresenlouquecido de desejo violentou Medusa dentro do templo de Atena, despertando assim a sua ira por ter tido seu templo profanado.
A maldição foi na figura da Medusa. O masculino é ameaçado pelo cabelo feminino. O cabelo feminino é o chamariz. É a trança da Rapunzel. São as mulheres atraindo os homens para os seus cabelos. Ela envolve nos seus cabelos, nos seus pelos (música do Chico Buarque). A punição da Atena é sobre a Medusa que atrai os homens pelos cabelos. Os olhos são paralisantes, não são mortais. A consciência masculina se torna petrificada, paralisada pelos movimentos dos cabelos e pelos olhos terríveis. (GOUVEIA, 2016)
Outra versão conta que Medusa era muito orgulhosa de seus lindos cabelos e teve a ousadia de competir com Atena – a grande deusa. Esta, por vingança, transformou os cabelos de Medusa em terríveis serpentes, tornando-a um monstro
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Figura 17 - Foto de Robert Capa
Fonte: CAPA (1944).
mortal e impossível de se olhar sem ser petrificado. Posteriormente, Atena mandou Perseu decepar a cabeça de Medusa e a fixou em seu escudo de guerra, usando-a para aterrorizar seus inimigos.
A Medusa foi amaldiçoada. Tinha lindos cabelos arruivados. Ela é do norte. Os cabelos foram transformados em serpentes cobreadas. O homem não se deve mostrar. Não é ela quem olha, é ele que deve evitar o olhar dela. Ela vai dar um jeito de olhar e ele de se livrar. O espelhamento. Ele tem que matála. O patriarcado deve eliminar o matriarcado. O homem tem que eliminar a mulher para que ele se imponha como poderoso. Se ele olhar nos olhos dela, ele é petrificado. Como ele vai matá-la? Ele oferece o escudo. Ela se produz no espelho e ele a matou pelo olhar. Ela estava espelhada. Então veja os artifícios. Porque ela tinha cabelos de serpente? Ela era uma serpente, a grande denominação e a simbolização do desejo. A Medusa petrifica porque estimula no masculino o desejo. Ele como desejante está paralisado diante dela. Somente ela vai responder e retornar a ele o movimento. A serpente como símbolo do desejo. Adão e Eva, cabelos esvoaçantes. O corpo tem este ornamento desejante, mas é o lugar que vai se transformar em serpente, ele é movimento. (GOUVEIA, 2016)
Segundo o psicanalista Junh a serpente é um vertebrado que encara a psique inferior, o psiquismo obscuro, o que é raro, incompreensível e misterioso. Além de ter seus cabelos retirados, Medusa passou a ter uma cabeça coroada de serpentes, criaturas peçonhentas, frias, sem pelos, sem patas, animal primário, situado no início do esforço genético de evolução. Um verdadeiro escândalo para o seu espírito.
5.2 A cabeça de Medusa por Caravaggio
Caravaggio (1571-1610) é conhecido pelo nome de sua cidade natal. Michelangelo Merisi foi morar em Roma em plena adolescência e de lá fugiu após uma sucessão de escândalos. Inspirado pelas obras dos mestres renascentistas Leonardo da Vinci e Michelangelo, anunciou o nascimento do Barroco. Considerado “grotescamente naturalista”, não fazia desenhos prévios para suas obras, pois considerava que uma ideia preconcebida falsificaria a veracidade da obra. Para criação de suas figuras, se inspirava em modelos que encontrava nas ruas, mostrando uma realidade crua. Eles traziam expressões, rostos, gestos e olhares que refletiam o desespero da luta pela sobrevivência em um lugar dominado pela miséria.
“Foi também um inovador na utilização da luz, desenvolvendo uma concepção que, jogando com o espaço, dava a cada detalhe da pintura o máximo de expressão.
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Em seus quadros o mundo foi suprimido e imergiu na escuridão”. (Mestres da Pintura - CARAVAGGIO,1978, p.8).
Figura 18 - Cabeça de Medusa
Fonte: Caravaggio (1958).
Medusa representa o absolutamente inacessível, uma vez que olhá-la significa morrer. Encarar Medusa é encarar a própria morte, ter o corpo petrificado de espanto e horror para sempre. Foi na condição de decapitada, estampada no escudo de Atena que Caravaggio escolheu representar Medusa e não no exercício de sua monstruosidade.
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Cabeça de Medusa (Figura 18) é uma das obras-primas do pintor Caravaggio. Foi pintada reproduzindo o escudo de Atena em uma tela montada sobre um pedaço convexo de madeira e enviado de presente pelo cardeal Del Monte a Fernando I, arquiduque de Toscana em 1598.
Caravaggio captou o momento em que a espada de Perseu acaba de degolar Medusa com o sangue ainda jorrando. Em seu rosto permanece o grito de terror ao ver a própria monstruosidade refletida. Olhos esbugalhados com órbitas que saltam para fora da tela, boca aberta e paralisada, testa franzida com as sobrancelhas fechando o olhar aterrorizado, dentes e língua em evidencia e sangue de um extremo vermelho nos levam a sentir a agonia e o espanto de Medusa no ato da própria morte. A realidade do momento é reforçada pelas serpentes vivas que se contorcem, em plena atividade e que parecem sair para o espaço de fora. O horror da puniçãotransformar o movimento dos cabelos no movimento peçonhento das serpentes.
A criação da ilusão da cabeça saindo para o espaço real, espaço ocupado pelo espectador, dá à obra o aspecto tridimensional e realista. Expõe uma Medusa aterrorizada, mais humana, espantada com a monstruosidade recebida como castigo e com medo da morte. Nesta pintura ela aterroriza o espectador não por sua monstruosidade, mas pela proximidade do sentimento de horror e temor a morte.
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MARIA ANTONIETA
Primeira preocupação do dia- vestidos, segunda- penteados, terceira- joias. A moda, com seus penteados exagerados foi o meio de afirmação e de destruição de Maria Antonieta. O espetáculo de sua própria beleza se contrapõe com a fome e a miséria do povo. O cabelo como forma de se sobressair e de demonstração de poder hierárquico.
6.1 O cabelo e a peruca – vaidade, poder e hierarquia
Há muitos registros históricos da modificação da aparência do homem. Inicialmente o homem buscou se diferenciar do animal peludo e construir sua identidade. Com o tempo, a moda trouxe em si a possibilidade desta transformação, sendo o cabelo a forma mais rápida e fácil de operar esta mudança.
Sendo o corpo nosso território, lugar primeiro de demonstração de nossa identidade e personalidade, os elementos que o cobrem serviram, ao longo da história, para ocultar defeitos, inferioridades e partes depreciadas. Segundo Flávio de Carvalho, o indivíduo é o vencedor ou o vencido de acordo com a sua capacidade de ocultar as suas inferioridades ou compensá-las.
Assim, a moda, que a princípio poderia funcionar apenas como uma demonstração de gosto apurado, foi muito além, exercendo o papel de uma manifestação fácil e rápida de poder e depreciação do indivíduo.
No momento em que o homem começa a cobrir seu corpo nu, utilizando-se de adornos e vestimentas, começa a separação de classes. Criada por um acordo social tácito, esta separação tem a moda como um agente poderoso. Ela passa a agir como fator de nivelamento. A hierarquia é mantida, infundindo uma perspectiva de poder, conforme a posição do indivíduo na estrutura social. Dentro deste quadro, a forma, o penteado, o corte, a cor e o tamanho dos cabelos são elementos que contribuem e muitas vezes definem esta distinção.
O corte e a disposição da cabeleira sempre foram elementos determinantes não só da personalidade, como também de uma função social ou espiritual, individual ou coletiva. O penteado revestia-se de extrema importância na casta guerreira nipônica. Mesmo na França, quando se começou a cortar os cabelos, somente os reis e os príncipes conservaram o privilégio do uso de
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cabelos longos, que eram insígnia de poderio. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005, p. 153).
Frazer sublinha que, frequentemente os cabelos dos reis, dos sacerdotes e de outras pessoas são objeto de um tabu e jamais podem ser cortados.
O cabelo comprido tinha tanta importância para o homem como a cauda tinha para o animal. Os reis Merovingianos, até a morte, nunca cortavam o cabelo pois temiam que, ao cortar um pouco que fosse perderiam uma parte de seu poder e de seus direitos á soberania. A cabeleira da dignidade real substituía a coroa que não era usada. (CARVALHO, 2010, p. 59).
Ao longo da história os cabelos e os penteados funcionaram como uma forma de identificação, mostrando a que grupo, idade, sexo, religião ou lugar da hierarquia social o indivíduo ou a coletividade pertenciam em diferentes sociedade e épocas.
A fantasia e a imaginação é aquilo que o homem tem de mais precioso porque representa não somente os seus anseios mais profundos mas também mostra alguma coisa dos limites de capacidade emotiva e cerebral ou da falta de limites. (CARVALHO, 2010, p.21)
Neste contexto, as perucas como máscaras poderosas, exerceram papel de destaque na demonstração de poder e hierarquia. Surgiram no século XVI como solução para disfarçar a perda dos cabelos oriunda da sífilis, que se tornara epidemia na Europa. Na época, os cabelos longos eram sinônimos de status social. Posteriormente, a peruca masculina foi usada para esconder a calvície, que trazia a imagem de perda de potência sexual. Ao longo dos tempos foi utilizada como forma de distinção de juízes, médicos, imperadores e reis em diferentes sociedades (Figura 19).
“Primeiro vieram perucas de fio natural para nobres, juízes e clérigos: quanto mais poder, mais elaboradas. Depois as de crina animal, as de seda e as de lã, de segunda mão, usadas por marinheiros, pedreiros e coveiros”. (ARAUJO, 2012, p. 134).
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Figura 19 - Modelos de perucas
As perucas se tornaram mais elaboradas quando Luís XIV, rei da França começou a perder seus cabelos com apenas com 35 anos. Com medo da falta de prestígio, o Rei Sol empregou 40 peruqueiros para manter seu esplendor inigualável, utilizando-se do luxo como forma de poder. Como a corte europeia agradou da moda, seguiram-se 200 anos de cabelos falsos.
6.2 Cabelo – símbolo de poder hierárquico de Maria Antonieta
Naquela época a moda foi muito influenciada pelas mudanças no trono. Assim, entra em cena Marie Antonieta. Austríaca, aos catorze anos casa-se com o herdeiro da coroa francesa Luís XVI, torna-se rainha aos 18 anos e exerce grande influência por toda a nobreza até ser guilhotinada em 1793. Considerada frívola e superficial, foi acusada de traição e de ser responsável por todos os males ocorridos na França desde sua chegada, dando início à Revolução Francesa. Ela teve seu cabelo cortado grosseiramente e sua cabeça apresentada ao povo que gritava: Viva a República!
Alguns ritos antigos sobreviveram aos costumes modernos, como o peso da realeza.
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Fonte: MODELOS ([16--]).
“Se o rei é o seu deus, é, ou deveria ser, capaz também de ser seu protetor; se não for capaz de proteger seu povo, deve dar lugar a outro que tenha condições de fazê-lo.” (FRAZER, 1982, p.195-196).
Novamente o poder e a vaidade. Os penteados-esculturas de Maria Antonieta foram admirados, copiados e entraram para a história. Seu cabelereiro Leonard era responsável pela criação dos “poufs”, enorme estrutura de arame coberta de lã, tecido, crina de cavalo, gaze, cabelo falso e cabelos naturais, presos e firmados com pomada, talco ou farinha. Para se obter uma peruca de qualidade era preciso que seis pessoas ficassem por uma semana executando-a. Eram adornadas com todos os tipos de materiais como pedras preciosas, plumas, espelhos, flores, frutas, legumes, dentre outros. Eram verdadeiras obras de arte que formavam gaiolas com pássaros vivos, quartos, jardins e navios (Figura 20). O visual de Maria Antonieta inspirou toda a corte e as perucas podiam pesar mais de oito quilos e ultrapassar três metros de altura (Figura 21).
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Figura 20 - Pouf à I'indépendance
Figura 21 - Pouf
Fonte: POUF (1778). Fonte: POUF ([17--).
Os penteados cresceram a uma altura tal, que foi preciso rebaixar o assento das carruagens. Algumas mulheres viajavam de joelhos ou colocavam a cabeça para fora e foram proibidas de entrar em teatros por obstruírem a vista do palco. Nesta ocasião foi inventado um penteado mecânico que baixava 30 a 60 centímetros, através de uma mola.
Como diziam os eclesiásticos, para enganar, a mulher se pinta, se maquia e chega até a colocar na cabeça a cabeleira dos mortos.
A rainha fashionista ditava moda com suas extravagâncias e seus penteados imponentes, mostrando status e poder. Entrou para a história por usar a moda como um instrumento político. Conquistou uma aparência de prestígio como forma de aumentar ou sustentar sua autoridade através de roupas, sapatos e penteados. Assim compensava a falta de privilégio em outros setores, como em seu casamento, que só foi consumado somente após sete anos.
Em vez de derramar bênçãos sobre a terra faminta, Maria Antonieta havia roubado farinha de trigo da boca de seu povo e conduzido suas imitadoras a um abismo financeiro e moral. Em vez de apoiar a autoridade sagrada do rei, ela a entregara a uma cambada de novos-ricos e meretrizes. (WEBER, 2008, p. 149).
Cabelereiro e modista foram elevados à categoria dos nobres, sugerindo um governo paralelo, onde a frivolidade distorcia negócios de Estado. Mulheres dilapidaram fortunas e fizeram dívidas para estar à altura da rainha. As distinções sociais mostradas através das roupas e dos cabelos começaram a se apagar, uma vez que tudo era copiado nos mínimos detalhes, não se distinguindo mais uma duquesa de uma prostituta.
Entretanto, segundo Caroline Weber os franceses desconfiavam profundamente de qualquer mulher que lhes parecesse estar tentando usurpar a autoridade de seu monarca.
Maria Antonieta ajudou a inventar a moda como um jogo político de apostas altas- um jogo de que ela participou com toda a seriedade, e com resultados fatais... Um espelho da história, realmente, que engolfou Maria Antonieta por completo em sua moldura, como o lago espelhado que capturou o infortunado amante de si mesmo, Narciso. (WEBER, 2008, p. 325).
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O legado de Maria Antonieta está ligado a sua imagem poderosa. Quando se pensa no número de cosméticos utilizados, nos tratamentos de cabelos, nas cirurgias, nas roupas e no valor dispendido por homens e mulheres para ter uma aparência de acordo com a imagem do poder, percebe-se a herança do gosto pelos artifícios estéticos para transmitir o poder.
Os aristocratas não mostravam seus cabelos e sim suas perucas. Arranca a maquiagem. Cosmética como a possibilidade de você integrar o mundo ao seu corpo. O cosmo, a cosmética é uma leitura do mundo. Como os outros te veem e como você vê os outros. Monta uma máscara Corrige seus traços, corrige alguma imperfeição. Você fica linda para ser vista pelos outros. Nesta mascara o cabelo é fundamental. (GOUVEIA, 2016)
Figura 22 - Maria Antonieta, rainha da França
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Fonte: Dagoty (1775).
A retratista favorita de Maria Antonieta foi Élisabeth Vigée Le Brun, mas a pintura que escolhi para demonstrá-la é datada de 1775, de autoria de Jean-Baptiste Gautier-Dagoty (Figura 22). A imagem de Maria Antonieta com o olhar poderoso, misto de domínio e sedução, cercada de tecidos ricos, com um vestido que é quase um monumento e pousando sua mão no mundo, fala por si só.
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CONCLUSÃO
Sendo o cabelo elemento particular da coroação do nosso corpo, corpo este entendido como território da nossa consciência e lugar de manifestação direta de tudo que é nele significado, consegue-se elaborar o entendimento da simbologia de seu poder. A compreensão que emana dos cabelos como elemento de poder e o seu reflexo nas artes descortina um universo ainda não totalmente desvendado. Pode-se ver o quão íntimo ele é de nós, como ele está potencialmente presente ou ausente, mas jamais ignorado. Lugar de encontros, de perdições, de medos, de afirmações, de localização, de desorientação, de estado de espírito, revelador da alma, detentor de florestas, grutas, cavernas escondidas e mostradas, lugar de transcender, de ganhar força, de posição, de embelezamento, de atração, de prisão e libertação, de carícias, de domínio e de definição de território. Lugar de pertencimento e poder.
As obras de artes pesquisadas traduzem em sua expressão máxima o vínculo essencial do cabelo como elemento de poder. Em Sansão e Dalila de Rubens, vê-se claramente a demonstração do poder do cabelo como forma de força e virilidade. A obra de Klimt traz um forte apelo sexual, o que nos leva a acreditar no poder do cabelo como arma de sedução e símbolo erótico. Goya nos remete a um lugar da magia e de bruxas, e o que se depreende é que o cabelo é um poderoso elemento de magia por sua força vital, capaz de modificar destinos. Nota-se também nele o poder de identificação da idade, configurado na obra de Goya, As Velhas. A Cabeça de Medusa de Caravaggio revela o poder de desmoralização, punição e castigo através da retirada dos cabelos. Na pintura de Maria Antonieta feita por Jean-Baptiste GautierDagoty infere-se que o cabelo é um elemento potente na hierarquia social e na vaidade pessoal.
É possível concluir da pesquisa realizada que as diferentes variedades de expressão nas artes, tendo o cabelo como elemento de poder contribuiu para a compreensão das questões do homem. Traduziu em suas diversas formas de manifestações, condições e aspectos da dimensão humana ao longo da história.
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