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FIGURA 18 - Cabeça de Medusa
Em seus quadros o mundo foi suprimido e imergiu na escuridão”. (Mestres da Pintura - CARAVAGGIO,1978, p.8).
Figura 18 - Cabeça de Medusa
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Fonte: Caravaggio (1958).
Medusa representa o absolutamente inacessível, uma vez que olhá-la significa morrer. Encarar Medusa é encarar a própria morte, ter o corpo petrificado de espanto e horror para sempre. Foi na condição de decapitada, estampada no escudo de Atena que Caravaggio escolheu representar Medusa e não no exercício de sua monstruosidade.
Cabeça de Medusa (Figura 18) é uma das obras-primas do pintor Caravaggio. Foi pintada reproduzindo o escudo de Atena em uma tela montada sobre um pedaço convexo de madeira e enviado de presente pelo cardeal Del Monte a Fernando I, arquiduque de Toscana em 1598. Caravaggio captou o momento em que a espada de Perseu acaba de degolar Medusa com o sangue ainda jorrando. Em seu rosto permanece o grito de terror ao ver a própria monstruosidade refletida. Olhos esbugalhados com órbitas que saltam para fora da tela, boca aberta e paralisada, testa franzida com as sobrancelhas fechando o olhar aterrorizado, dentes e língua em evidencia e sangue de um extremo vermelho nos levam a sentir a agonia e o espanto de Medusa no ato da própria morte. A realidade do momento é reforçada pelas serpentes vivas que se contorcem, em plena atividade e que parecem sair para o espaço de fora. O horror da puniçãotransformar o movimento dos cabelos no movimento peçonhento das serpentes. A criação da ilusão da cabeça saindo para o espaço real, espaço ocupado pelo espectador, dá à obra o aspecto tridimensional e realista. Expõe uma Medusa aterrorizada, mais humana, espantada com a monstruosidade recebida como castigo e com medo da morte. Nesta pintura ela aterroriza o espectador não por sua monstruosidade, mas pela proximidade do sentimento de horror e temor a morte.
6 MARIA ANTONIETA
Primeira preocupação do dia- vestidos, segunda- penteados, terceira- joias. A moda, com seus penteados exagerados foi o meio de afirmação e de destruição de Maria Antonieta. O espetáculo de sua própria beleza se contrapõe com a fome e a miséria do povo. O cabelo como forma de se sobressair e de demonstração de poder hierárquico.
6.1 O cabelo e a peruca – vaidade, poder e hierarquia
Há muitos registros históricos da modificação da aparência do homem. Inicialmente o homem buscou se diferenciar do animal peludo e construir sua identidade. Com o tempo, a moda trouxe em si a possibilidade desta transformação, sendo o cabelo a forma mais rápida e fácil de operar esta mudança. Sendo o corpo nosso território, lugar primeiro de demonstração de nossa identidade e personalidade, os elementos que o cobrem serviram, ao longo da história, para ocultar defeitos, inferioridades e partes depreciadas. Segundo Flávio de Carvalho, o indivíduo é o vencedor ou o vencido de acordo com a sua capacidade de ocultar as suas inferioridades ou compensá-las. Assim, a moda, que a princípio poderia funcionar apenas como uma demonstração de gosto apurado, foi muito além, exercendo o papel de uma manifestação fácil e rápida de poder e depreciação do indivíduo. No momento em que o homem começa a cobrir seu corpo nu, utilizando-se de adornos e vestimentas, começa a separação de classes. Criada por um acordo social tácito, esta separação tem a moda como um agente poderoso. Ela passa a agir como fator de nivelamento. A hierarquia é mantida, infundindo uma perspectiva de poder, conforme a posição do indivíduo na estrutura social. Dentro deste quadro, a forma, o penteado, o corte, a cor e o tamanho dos cabelos são elementos que contribuem e muitas vezes definem esta distinção.
O corte e a disposição da cabeleira sempre foram elementos determinantes não só da personalidade, como também de uma função social ou espiritual, individual ou coletiva. O penteado revestia-se de extrema importância na casta guerreira nipônica. Mesmo na França, quando se começou a cortar os cabelos, somente os reis e os príncipes conservaram o privilégio do uso de
cabelos longos, que eram insígnia de poderio. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2005, p. 153).
Frazer sublinha que, frequentemente os cabelos dos reis, dos sacerdotes e de outras pessoas são objeto de um tabu e jamais podem ser cortados.
O cabelo comprido tinha tanta importância para o homem como a cauda tinha para o animal. Os reis Merovingianos, até a morte, nunca cortavam o cabelo pois temiam que, ao cortar um pouco que fosse perderiam uma parte de seu poder e de seus direitos á soberania. A cabeleira da dignidade real substituía a coroa que não era usada. (CARVALHO, 2010, p. 59).
Ao longo da história os cabelos e os penteados funcionaram como uma forma de identificação, mostrando a que grupo, idade, sexo, religião ou lugar da hierarquia social o indivíduo ou a coletividade pertenciam em diferentes sociedade e épocas.
A fantasia e a imaginação é aquilo que o homem tem de mais precioso porque representa não somente os seus anseios mais profundos mas também mostra alguma coisa dos limites de capacidade emotiva e cerebral ou da falta de limites. (CARVALHO, 2010, p.21).
Neste contexto, as perucas como máscaras poderosas, exerceram papel de destaque na demonstração de poder e hierarquia. Surgiram no século XVI como solução para disfarçar a perda dos cabelos oriunda da sífilis, que se tornara epidemia na Europa. Na época, os cabelos longos eram sinônimos de status social. Posteriormente, a peruca masculina foi usada para esconder a calvície, que trazia a imagem de perda de potência sexual. Ao longo dos tempos foi utilizada como forma de distinção de juízes, médicos, imperadores e reis em diferentes sociedades (Figura 19).
“Primeiro vieram perucas de fio natural para nobres, juízes e clérigos: quanto mais poder, mais elaboradas. Depois as de crina animal, as de seda e as de lã, de segunda mão, usadas por marinheiros, pedreiros e coveiros”. (ARAUJO, 2012, p. 134).