Caderno de produção e negócio

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PRODUCÃO & NEGÓCIOS ANO 1 - NÚMERO 39 RIO BRANCO, DOMINGO, 07.10.2012

O Acre está mais bonito

Cultivo de flores apoiado pela prefeitura e Sebrae gera ocupação e renda além de embelezar a vida das pessoas


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Boutique das flores Projeto iniciado pela prefeitura com objetivo de embelezar a Capital e gerar renda para mulheres virou um grande negócio

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uem vê o caminhão enfeitado vendendo mudas e flores, toda terça-feira, em frente ao quartel da Polícia Militar, não tem a menor idéia de que são produzidas por donas de casa que acreditaram e investiram na idéia de produzir para ganhar dinheiro e assim melhorar suas condições de vida. O projeto Jardinagem nos Bairros de Rio Branco foi iniciado no final de 2005 pela prefeitura de Rio Branco em parceria com o Sebrae, Embrapa, Seaprof e outras instituições apoiadoras que ofereceram cursos e treinamentos para que donas de casa pudessem produzir folhagens e flores que seriam usadas no paisagismo que enfeita praças, ruas e parques da Capital acreana. Nascia então a Associação Florescer que conta com 23 sócias produtoras e os resultados positivos da atividade as estimularam a iniciar o processo de formação de uma cooperativa para fazer a comercialização da sua produção. Libaneiva Silva, presidente da Associação Florescer dá os toques finais na formação de sua cooperativa lembra que: “Quando este projeto foi iniciado nós não tínhamos a menor ideia de como cultivar flores, principalmente para vender, então tivemos de aprender tudo passo a passo desde o começo. Nosso interesse era muito grande porque significava a opor-

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Libaneiva cuida das vendas das flores no caminhão da Associação Florescer

tunidade de ganhar dinheiro sem ter que sair de casa nos afastando de nossos filhos e também pra nos tornarmos menos dependentes dos salários de nossos maridos. O que era um sonho, hoje é realidade!” Hoje as 23 ex-donas de casa são também floricultoras e vendem sua produção em Rio Branco e participam de feiras e eventos nos municípios.

“O apoio da prefeitura vem sendo fundamental para o sucesso que estamos alcançando. Cada uma tem seu viveiro, mas no começo o maior problema era dentro de casa onde alguns maridos não queriam que as esposas participassem dos treinamentos, teve caso em que eles chegaram a quebrar plantas e vasos que as mulheres estavam plantando. A situação mudou muito quando elas co-

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meçaram a vender suas flores, houve casos em que alguns maridos, que eram contra, até abandonaram o antigo emprego e passaram a trabalhar nos viveiros”, recorda Libaneiva. O primeiro ponto de venda foi uma banquinha instalada no mercado Elias Mansour, que hoje é quase uma lojinha como a inaugurada no ano passado no mercado dos Colonos. Há três anos a pre-

feitura cedeu o caminhão especialmente preparado para fazer a venda ambulante nas ruas. Caminhão que tem cinco pontos fixos de venda na cidade, estacionando toda terça-feira em frente ao quartel da PM, no calçadão do Colégio Acreano às quartas e sábados, na área comercial do Marcarenhas de Morais no bairro da Floresta toda quinta e na sexta fica em frente à Funbesa na Estação Experimental. “Neste ano, o Sebrae está nos apoiando através do Projeto de fortalecimento de Fortalecimento da Floricultura do Baixo Acre. Através dele estamos recebendo orientação sobre logística e mercado, ou seja, a ideia é fortalecer cada vez mais a comercialização das nossas plantas para melhorar cada vez mais a renda das viveiristas. Isto é muito importante para todas nós!” Afima a presidente. Apoiados pelo Sebrae e prefeitura de Rio Branco, elas estão realizando mais uma feira das flores que está acontecendo das oito da manhã às dez da noite, desde quinta-feira (11/10) até este domingo (14/10) ao lado da concha acústica do Parque da Maternidade. “Eventos como esta feira que já acontece duas vezes por ano, em Rio Branco, são fundamentais para gente mostrar e vender nossa produção, afinal de contas, a venda das flores é a maior renda de nossas famílias disto!”

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Fortalecimento da floricultura Sebrae apóia o pequeno negócio da floricultura desde o início e garante que há muito espaço para o crescimento da atividade

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e repente, mulheres que em muitos casos nem tinham flores em casa abraçaram a proposta da prefeitura de

produzir flores para vender e o desafio lançado recebeu apoio do Sebrae que as levou para conhecer projetos de sucesso da floricultura tropical em Rondônia e no Tocantins

Caminhão cedido pela prefeitura às mulheres que cultivam flores

onde pequenos produtores estão ganhando muito dinheiro com mais essa produção. “Nosso apoio às mulheres viveiristas tem como objetivo fortalecer os pequenos negócios que gerem renda e ocupação nas famílias, mas a tendência e de que alguns desses viveiros cresçam tanto que se transformem em empresas mesmo. O importante neste momento é fortalecer o setor estimulando sua organização pela formação de uma cooperativa através da qual elas poderão comercializar sua produção de forma planejada e permanente!” Afirma Franciney Santos o gestor deste projeto pelo Sebrae no Acre. Além de oferecer assistên-

Sebrae e prefeitura apoiam as floricultoras que geram ocupação e renda

cia técnica a 31 produtoras, o Sebrae está trabalhando a questão mercadológica das flores e folhagens com ações que vão da constituição de sua cooperativa, construção de seu plano de marketing, além da construção de um viveiro modelo que está sendo instalado no ramal Bom Jesus dentro do Polo Agroflorestal Benfica. Para dar mais visibilidade e construir uma identidade da floricultura, o Sebrae realizou

neste ano a revitalização do caminhão que está enfeitado com desenhos de folhas e flores para chamar mais atenção dos clientes. “Atividades como esta merecem muita atenção do poder público incluindo os viveiristas locais, como aconteceu no paisagismo da Rodoviária Internacional de Rio Branco, onde os passeios e jardins foram enfeitados com as plantas e flores produzidas pelas mulheres da Associação Florescer!”


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Biotecnologia a serviço da floricultura acreana

Nada é fácil

Pesquisador da Funtac desenvolveu os protocolos científicos necessários para clonar as orquídeas típicas da floresta Juracy Xangai

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Beleza das orquídeas nativas surpreende

s orquídeas encantam os olhos de homens e mulheres em todo o mundo tanto pela beleza de suas flores quando pelas formas exóticas e exuberantes, perfumes raros e também pelo sabor como é o caso da baunilha muito usada na culinária para o preparo de doces, bolos e sorvetes. Quando uma orquídea floresce, suas flores polinizadas naturalmente pelas abelhas, pássaros e insetos, frutifica produzindo um cartucho que chega a conter mais de 25 mil sementes. Com o amadurecimento, esses cartuchos se abrem e uma verdadeira nuvem de sementes se espalha pela floresta, mas pouquíssimas conseguem as condições mínimas para germinar e somente uma pequeníssima parte das que nasceram vão

se transformar em plantas adultas. A maioria das espécies são muito exigentes com relação à iluminação e umidade, nascendo apenas em ambientes muito específicos, por isso é que a maioria das plantas colhidas na floresta raramente sobrevivem quando as pessoas tentam cultivá-las em casa. Mas esse fato desanimador para a maioria das pessoas, é justamente o que faz sucesso entre os viveiristas que cultivam as mais de 25 mil espécies de orquídeas já identificadas no mundo inteiro. E nas florestas do Acre onde esta cultura ainda está começando, há muitas e muitas orquídeas ainda desconhecidas pela ciência e que por isso nem foram identificadas pelos botânicos. Foi por isso que, em 2006, os técnicos do projeto de Fortalecimento da Floricultura do Baixo Acre, pelo Se-

Paulo Arthur coletou espécies e desenvolveu protocolos para clonar orquídeas acreanas

brae firmaram convênio com a Funtac para que o biólogo Paulo Arthur desenvolvesse protocolos para a reprodução das orquídeas em laboratório usando o sistema de clonagem. “Cada espécie de planta tem exigências específicas para germinar e se desenvolver, então, quando o Sebrae nos pediu apoio para reproduzir as mudas de orquídeas nós organizamos coletas de espécies acreanas na floresta do Antimari e lá encontramos muitas variedades novas que nem tem identificação cien-

tífica. Com elas montamos nosso orquidário para que as espécies estivessem próximas ao laboratório onde fazemos sua reprodução in vitro!” Paulo esclareceu que em condições naturais a reprodução da maioria das orquídeas é muito difícil e demorara, já nos viveiros tradicionais onde essa reprodução é feita a partir da divisão das touceiras, a produção de uma nova planta adulta consome pelo menos dois anos. “Já no laboratório nós podemos fazer a clonagem a partir de tecidos retirados das

folhas, raízes e até de flores de uma única planta que vai se transformar em milhares de plantas adultas em dois anos. Outra vantagem é semear as sementes no meio de cultura, que é um meio gelatinoso cheio de nutriente pás alimentá-las, assim também conseguimos milhares de mudas de um único cartucho. As duas formas facilitam sua reprodução e permitem a produção de muitos milhares de mudas de espécies de orquídeas muitas vezes ameaçadas de extinção!” Adverte o pesquisador Paulo Arthur.

O cultivo in vitro não é difícil, como explicou Paulo Arthur, mas esbarra no problema das diferentes exigências de cada espécie de planta, o que pode variar ainda entre as variedades de uma mesma espécie. Por isso é necessário desenvolver protocolos específicos para cada espécie, o protocolo é a receita da fórmula que contém os nutrientes necessários para seu nascimento e crescimento até se transformar numa planta adulta para ser comercializada. “Nosso trabalho aqui na Funtac é desenvolver técnicas que potencializem o uso comercial dos produtos da floresta e, as orquídeas são muito vendáveis. Pouca gente sabe, mas 60% das flores produzidas e comercializadas pela Holambra, em São Paulo, são orquídeas. A pedido do Sebrae, eu consegui desenvolver os protocolos que garantem a reprodução em escala industrial de várias espécies acreanas, então a tecnologia está pronta, só falta alguém se interessar em aplicá-las na prática para transformar mais esta riqueza da floresta, em dinheiro!”

Sementes de orquídea germinam em laboratório Acreana de pétalas verde e branco

Candura das flores do Antimari

Multiplicação dos clones

Sementes de o. germinadas em laboratório

Micro orquídea acreana com cachos de flores

Orelha de anta é uma das orquídeas raras nativas do Acre

Orquídea nativa que não tem folhas, só raizes e flores

Orquídea cebolácea é novidade

Formação do clone a partir de tecidos extraídos da planta mãe

Orquídeas cultivadas in vitro


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Tradição a serviço da beleza Funbesa é referência no ensino das técnicas para a produção de cerâmica com finalidades decorativas e utilitárias

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produção de cerâmica começou como atividade ocupacional e profissionalizante durante o processo de reeducação de jovens em situação de risco pela extinta Fundação do

Bem Estar da Criança e do Adolescente, a Funbesa, cuja olaria ainda funciona na Estação Experimental com apoio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, a Seds. Hoje, a olaria já não fun-

Olaria atende a todos os gostos e encomendas

ciona mais como centro de ensino, mas sua oficina e fornos são utilizados por seis ceramistas, a maioria ex-alunos da antiga instituição, que fizeram da arte seu meio de vida. “A oficina de cerâmica é hoje uma estrutura de apoio para o fortalecimento do artesanato regional como atividade econômica geradora de emprego e renda. Aqui fazemos vasos, objetos decorativos e especialmente as panelas de barro utilizadas pela maioria dos bons restaurantes de Rio Branco!” Explica Ana Cleide Paiva responsável pela área da produção e comercialização de artesanato da “Funbesa”. Além de atender os restaurantes e lojas de decoração, a olaria é a principal fornecedora de vasos para as viveiristas e floriculturas da Capital e interior. Seus ceramistas também participam de todas as feiras da economia solidária, da Expoacre, feira das flores, feira de Holambra/Apae e ainda mantêm abastecida a lojinha que funciona numa das salas da Funbesa.

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Vivendo para as flores Ex-dona de casa teve a vida de sua família transformada a partir do momento em que aprendeu a plantar

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uando ainda morava no bairro Mocinha Magalhães, Márcia Bocard Nascimento da Silva recebeu o convite para participar do treinamento para a produção de folhagens e flores que estava sendo oferecido

Ceramistas produzem peças de arte utilitária na Funbesa

pela prefeitura de Rio Branco em Parceria com o Sebrae e, nem poderia imaginar que aquele treinamento transformaria totalmente sua vida. “Eu nunca nem saía de casa, vivia só para o marido e as crianças, dependia totalmente do salário do marido para tudo que a gente preci-

sasse. Ele estranhou quando resolvi participar do curso e até nem gostava muito da ideia, mas quando comecei a vender e ganhar dinheiro, ele passou a me apoiar. Tempos depois ele deixou o emprego para me ajudar, se empolgou tanto que nós decidimos vender a casa e mudar aqui pro

seringal Itucumã onde montamos nosso viveiro e hoje vivemos das plantas que nós cultivamos!” Explica Márcia. A vida na colônia onde criou o viveiro Plantas e Flores exige muito trabalho, mas é dali que ela tira o sustento da família onde duas das três filhas já estão na faculdade e

se dedicam totalmente aos estudos. “Eu posso dizer que a plantação de flores transformou totalmente a nossa vida para melhor. A gente não enricou, mas temos renda que garante uma condição de vida muito melhor que a que a gente tinha antes de aprender a plantar flores. Então eu sempre digo que hoje eu vivo para as flores e considero que a gente não teria conseguido tudo isso se não fosse o apoio que recebemos da prefeitura e do Sebrae!” Márcia lembra que depois de receberem vários treinamentos, foram convidadas a conhecer outros viveiros de plantas e flores existentes em Rondônia e Tocantins. “Eu que nunca tinha saído de casa, fui conhecer os viveiros do Tocantins onde eles cultivam flores tropicais, lá vi como é que as coisas tem de ser feitas para dar certo e aproveitei para conseguir mudas que estou reproduzindo aqui no Acre porque sei que isso dá dinheiro!”

Cultivo das flores transformou totalmente a vida da família de Márcia Cultivo de plantas e flores sustenta a casa e duas filhas na faculdade


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Plantando florestas lucrativas Viveiro criado em 1998 acompanhou as transformações produtivas pelas quais passa o Acre e ajuda a plantar o futuro

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viveiro Florestar que está completando 14 anos de funcionamento na Vila Acre, iniciou com a proposta de trabalhar projetos de reflorestamento para o Acre, mas durante anos seu forte era mesmo a venda de plantas, flores e folhagens para jardins e só nestes últimos quatro anos veio retomar com mais força o projeto inicial de plantar florestas lucrativas. “Na verdade quando nós criamos o Florestar o Acre ainda não tinha um rumo definido para os setores rural e florestal, então tivemos de ir trabalhando nossas idéias aos poucos. Desde então o Estado passou por uma verdadeira transformação positiva tanto na sua infraestrutura que hoje é outra, como também no pensamento das pessoas que já projetam idéias e investimentos para colher lucros a longo prazo”, explica Kleber Barbosa proprietário do viveiro Florestar. A definição do perfil agroflorestal do Estado como modelo econômico mais lucrativo e de menor impacto ao meio ambiente, no que se inclui o manejo florestal e o plantio de florestas intercalando variedades madeireiras e espécies vegetais não madeireiras, como é o caso da seringueira reavivaram os planos da empresa. “Quando o Estado define seu rumo, a gente que também consegue dar um

norte aos nossos negócios e o viveiro que até há pouco tempo funcionava só nesta chácara, hoje já tem uma grande área em Senador Guiomard onde estamos produzindo alguns milhares de mudas florestais nativas, mas principalmente mudas de seringueira”. Informa Kleber. Esse salto qualitativo e a rápida expansão do viveiro aconteceu graças a uma parceria entre o Florestar e a Empresa de Produção Agropecuária, a Embrapa, que prepara os clones de seringueira que ele usa na formação das mudas que estão destinadas a atender o Projeto Florestas Plantadas em execução pelo governo do Estado. “Há muito espaço para ampliarmos o trabalho da floresta plantada no Acre onde há quase três milhões de hectares de terras degradas. Além de recuperar o solo dessas áreas, nós estaremos criando florestas lucrativas de onde os investidores vão começar a tirar bons lucros em sete ou oito anos. O segredo para que tudo dê certo é o apoio ao produtor com assistência técnica para suas lavouras”, explica. O próprio Florestar é um exemplo do crescimento desse setor que começa a tomar força: “Criei a empresa porque sempre acreditei que quem quer colher tem que plantar, no começo não foi fácil, nós iniciamos com quatro pessoas trabalhando no viveiro, hoje temos mais de 50 trabalhando aqui e na unidade produtiva de seringueiras clonadas e sei que vai dar certo!”

Reflorestamento é o caminho da nova economia que se inicia

Florestar produz mudas de flores e, principalmente, seringueiras


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