Caderno de produção e negócios

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PRODUCÃO & NEGÓCIOS ANO 1 - NÚMERO 32 RIO BRANCO, DOMINGO, 26.08.2012

Esperança vêm do campo e o encanto da floresta

Comércio de Epitaciolândia cresce apoiado nos produtores rurais, nos turistas e inova com a beleza das orquídeas acreanas


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A multiplicação dos peixes Senar ensina novas técnicas de piscicultura aos produtores familiares de Epitaciolândia para abastecer o mercado

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ezessete produtores rurais de Epitaciolândia receberam 32 horas de curso para aprender desde a construção de açudes, como manter a qualidade da água, tipos de ração, alimentar e manejar os peixes para conseguir maior rendimento e assim lucros mais compensadores. O treinamento foi oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, o Senar, em parceria com o governo do Estado e o Ministério Público Estadual para reduzir impactos da produção no meio ambiente. Na escola Bela Flor, os 17 produtores receberam os treinamentos ministrados pelo instrutor do Senar, Luciano Pereira, o qual esclareceu que: “A maioria destes agricultores e pequenos pecuaristas já cria peixes de maneira improvisada, mas agora estão investindo para fazer criames comerciais de pescado e isso é bem diferente da maneira tradicional à qual estão acostumados, então é preciso aprender quase tudo de novo. Eles querem criar peixes para abastecer o mercado local de Brasiléia e Epitaciolândia, com a vantagem de que aqui eles contam com os mercados alternativos da Bolívia e também do Peru que são grandes consumidores de pescado!” Ele esclarece que este foi o primeiro curso reallizado em Epitaciolândia, contra três já realizados em Brasiléia, três em Assis Brasil, Bujari, Rio Branco e Senador Guiomard. “A piscicultura do Acre está dando um grande salto de qualidade graças ao incentivo que vem sendo dado pelo governo do Estado, mas temos de reconhecer que só o treinamento não basta, o maior desafio continua sendo como garantir assistência técnica a todos esses piscicultores que ewstão surgindo, a fim de garantir qualidade no produto final que é a carne. Por isso, eu acredito que o segredo está na organização dos produtores para que logo eles mesmos possam contratar os serviços de técnicos especializados para atendê-los com exclusividade!”

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Rosemira vende toda sua produção da horta e do pomar no mercado municipal e tem bolivianos como os seus principais clientes

Senar treina produtores de Epoitaciolândia para melhorar sua produtividade para aumentar os lucros da propriedade rural

Piscicultura alternativa Diferentemente dos produtores do baixo Acre que tem investido maiormente na criação de tambaquis, curimatãs e piaus, os do alto Acre investem em outras variedades regionais de peixes de couro e escamas. Esse é o caso de Antônio Barbosa de Lima que já está com os açudes peixados em sua colônia Santa Fé localizada no quilômetro 50 da estrada velha de Brasiléia, o qual explicou que: “Tambaqui já tem demais, antão eu decidi investir na criação de pirapitinga e tambatinga que já estou até vendendo. Estou

Luciano treinou produtores para criar peixes comercialmente

Uma publicação de responsabilidade de Rede de Comunicação da Floresta LTDA C.N.P.J. 06.226.994/0001-45, I.M. 1215590, I.E. 01.016.188/001-87

aproveitando o curso para aprender a criar mais e melhor. Nele entendi que preciso fazer várias mudanças no meu sistema de criação, mas se é para melhorar é preciso investir, então vou aumentar mais um açude e isso com certeza vai aumentar minha rendinha!” Nos 20 hectares da colônia Santa Fé seu Antônio cria gado de leite e carne. Já plantei muita banana, macaxeira e milho, mas agora trabalho sozinho e a idade pesa, me resta apenas um hectare de mata que não quero derrubar e a mecanização é difícil, então a gente tem de buscar outro meio para sobreviver e o peixe me parece uma boa alternativa.

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Mercado Internacional de Epitaciolândia Brasileiros e bolivianos compram e vendem no mercado municipal de Epitaciolândia onde é possível achar de tudo

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mistura de sotaques nortistas e sulistas soma-se o espanhol, convertido em portunhol na Feira Municipal Walter Fernandes Farias, em Epitaciolândia, onde todos falam a linguagem comum do lucro quando se trata de vender seus produtos aos clientes de ambos países. Rosemira de Souza Freitas traz todas as quintas e sextas-feiras sua produção da colônia Esperança Renovada, que está localizada no Quintal Florestal da cidade. “Trago verduras e frutas, principalmente alface, couve, pimenta, jambu e maxixe. Tem dia que vende muito bem, quando não, durmo aqui mesmo para vender no dia seguinte, mas tem gente que já traz a produção para entregar direto aos bolivianos, são eles os que compram mais, já eu prefiro vender picadinho, demora um pouco mais, mas dá mais lucro e vendo tudo sempre!” Da colocação Nova Vida, no seringal Cachoeira, Clemilda Roque da Silva Santiago parte uma vez por mês para o mercado de Epitaciolândia a

fim de vender sua produção. “Trago banana, macaxeira, arroz e feijão, quando dá. É só trazer e vender porque os bolivianos compram tudo, de tudo e pagam sem reclamar. Hoje mesmo já vendi tudo que eu trouxe e a gente só não produz mais porque o ramal Chora Menino está muito ruim, então é difícil pra tirar a produção de lá, outra coisa que desanima é que a nossa escola está sem luz há três meses e essas coisas tiram o ânimo da gente!” A boliviana Merced Carola desceu de La Paz para viver em Cobija, no Departamento de Pando e faz suas vendas em Cobija e no Mercado de Epitaciolândia. “Graças a Deus as autoridades brasileiras não nos impedem de vender aqui para sustentar nossos filhos. Durante o dia trabalho em vendas e à noite estou fazendo faculdade de contabilidade em Cobija. As vendas garantem o sustento de meus dois filhos e o pagamento da faculdade. Aqui vendo o que trago e compro mandioca e banana para vender em Cobija, assim nós vamos todos ganhando a vida”.

Merced sustenta a família e faz faculdade de Contabilidade em Cobija


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Um caso de amor que virou negócio Encantado pela beleza das orquídeas, Valdemar Maffi que veio para o Acre trabalhar como madeireiro hoje é um preservacionista que faz as coisas acontecerem Juracy Xangai

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paranaense Valdemar Maffi não abre mão de um bom gole de vinho à hora do almoço ao lado da família inteira como convêm à raiz italiana, mas nem a esposa esconde seu ciúme da paixão que o marido cultiva pelas mais de 180 variedades pertencentes a 120 diferentes espécies que ele foi coletando em derrubadas e que agora se espalham e se reproduzem no viveiro e por todos os lados de sua chácara localizada em Epitaciolândia. A enorme variedade de flores, algumas delas nem foram ainda identificadas pela ciência, fazem de Maffi constante citação em revistas e livros especializados. “Para mim que vim para o Acre derrubar a floresta é um orgulho estar salvando espécies que seriam facilmente consumidas pelo fogo, nos privando para sempre de sua graça e beleza. Cuidando destas maravilhas eu me sinto muito feliz e até a esposa já tem ciúmes delas!” Reconhece.

Orquidófilo Valdemar Maffi é um apaixonado pelas orquídeas acreanas que ele preserva

No terreno baldio e abarrancado pelo qual ninguém queria dar coisa alguma, Maffi consumiu alguns anos de paciência e constância na arborização com espécies regionais que depois receberam trepadeiras, cipós e orquídeas, muitas orquídeas de todos os tamanhos, cores e perfumes. Criou ainda tanques e açudes onde produz peixes para a família e clientes esporádicos do pesque e pague. De repente Maffi salta da linguagem popular para se embrenhar pela fala ciêntífica destacando gêneros e espécies de Cathleyas, Epidêndruns e outros latinórios que identificam com precisão as muitas espécies e suas variedades de plantas que apesar de nem sempre parecidas pertencem a um mesmo gênero ou família, todas surpreendentemente encantadoras.

Exageradas Aportuguesando, dentre as mais vendidas destaca ele, estão a Catléia violácea, as epidendrum enciclia cromática, vespa e africana. Catacetum sapatinho e a grande famílias das oncídeas que chegam a produzir cachos

de até três metros de comprimento e uma panícula de flores que mais parece uma bandeira ao vento. Amarelas, violeta, vermelhas, azuis, coloridas, puramente brancas ou totalmente negras a imensa variedade de orquídeas vale pela sua raridade e temperamento florando cada uma em um período do ano, para então produzir cartuchos carregados com sementes de esperança. Há até variedades mais radicais como a Brássia rex com suas fllores cabeludas ou a tubarão martelo e a linguaruda assim apelidadas por Maffi porque ainda não tem qualquer tipo de identificação científica precisa. Enquanto o trabalho solitário floresce ao sabor da natureza, ele ainda espera por apoio científico para conseguir reproduzir algumas variedade que possivelmente só ele tenha e que ainda se resume a um único exemplar. “A luz da minha esperança se acendeu quando conheci o Paulo Arthur que está pesquisando a clonagem e reprodução de orquídeas no laboratório da Funtac. Foi o único que demonstrou interesse no nosso trabalho, mas sei que essas coisas de labo-

ratório exigem apoio, tempo e dinheiro!” Sorri para dentro e afirma taxativamente:”A preservação das espécies de orquídeas existentes no Acre é uma riqueza que vocês nem imaginam!”


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Texas Country: Pioneirimo T Primeira loja de produtos agropecuários de Epitaciolândia sobreviveu às crises pela persistência e criatividade

udo começou com a idéia de montar uma boutique de roupas em 1997, momento em que também ganhava força a moda das roupas country no melhor estilo vaqueira e a loja foi acompanhando a tendência que acabou dominando o estoque e ao lado deles também se ampliavam os produtos agropecuários, utensílios, sementes e outros produtos para o campo e assim foi se construindo naturalmente a loja Texas Country Agropastoril que ao longo desse tempo se transformou numa rede de cinco lojas. “No mundo dos negócios nem tudo é maré alta, nestes últimos sete anos a crise no preço do gado assustou muita gente e várias lojas daqui, Brasiléia, Xapuri, Rio Branco e Plácido de Castro fecharam”. Como se não bastasse a dificuldade pela qual passaram os pecuaristas com o encolhimento de seus lucros, as lojas enfrentam ainda a concorrência da internet através da qual os laboratórios vendem direto aos fazendeiros seus produtos ao mesmo preço que repassam para revenda nas lojas e com as mesmas condições de pagamento à vista e a prazo. A salvação do negócio foi investir na diversidade de produtos com seto-

Botas para todos os gostos e bolsos estão entre a variedade de produtos oferecidos pela Texas Country

res para roupas e acessórios masculinos e femininos da moda country, roupas e botas para vaqueiro no trabalho do dia-a-dia e para as festas de

gala nos rodeios e vaquejadas, utensílios de cozinha e decoração rural, defensivos, fertilizantes e sementes de uso agrícola e pecuário, máquinas

equipamentos e ferramentas até para pescaria, em fim, uma infinidade de ofertas para todos os usos, gostos e bolsos.

“Agora quando tudo começa a se estabilizar de novo, ganhamos a concorrência das lojas de produtos agropecuários que estão se estabelecendo em Cobija aproveitando os benefícios da Zona Franca, enquanto nós aqui aguardamos há mais de 20 pela consolidação de nossa Área de Livre Comércio, mas tenho fé que vamos continuar sobrevivendo a tudo isso com persistência e criatividade”. E isso vem demonstrado na recente instalação dos serviços de pet shop que além das rações e produtos medicinais e de beleza, também oferece banho, tosa e outros atendimentos dos clientes cada vez mais exigentes. Mas é do campo que ainda vem a esperança de quem vive e investe na cidade de Epitaciolândia. “Aqui quem nos salva é a agropecuária, é ela quem sustenta tudo com o dinheiro do gado. A grande maioria dos produtores são os colonos que vieram do sul, quem não fugiu da malária e veio pra cidade continuou nas propriedades que tem em média 60 a 85 hectares, como a terra era barata, cada um deles tem em média duas a cinco colônias onde criam uma base de 200 a 500 animais, com isso conseguem uma boa renda e movimentam todo o nosso comércio e vivem melhor do que na cidade!”

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O Super Negão Uma guerreira comanda um dos maiores supermercados de Epitaciolândia e reconhece que sobrevive graças aos produtores rurais

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Ivone criou relacionamento de confiança com produtores rurais

cossada pela alta carga tributária, além de fiscalizações de toda sorte e pressões trabalhistas, Ivone Vasconcelos Correia da Silva, recorre constantemente às orientações e consultorias do Sebrae para manter de pé o supermercado Super Negão que comemora seus 20 anos a serviço da população de Epitaciolândia. “Investimos quando poucos acreditavam no desenvolvimento de Epitaciolândia e sempre tivemos o produtor rural como nosso aliado de todas as horas. Nestes 20 anos sempre encontrei as portas dos bancos fechadas pra apoiar nossos investimentos, então aprendemos a tirar dinheiro do mercado criando uma relação de confiança com as pessoas”, explica Ivone. E essa relação de confiança foi sendo construída com os agricultores e pecuaristas. “A população rural é que sustenta o Brasil, sem ela não temos nem

o que comer, mas é uma gente sem voz, que ninguém escuta, mesmo assim trabalham e produzem. São um número menor de clientes, mas que compram bem e pagam honestamente, por isso, com dinheiro ou sem dinheiro a gente vende porque são fiéis e isso faz uma grande diferença para o comércio!” Destaca ela. Mas nestes 20 anos surgiu uma novidade que poucos se deram conta, como esclarece Ivone. “A criação da Universidade Amazônia de Pando, a UAP, estimulou a vinda de estudantes de todo o Brasil, tanto que hoje 80% de seus alunos são brasileiros e com eles vieram muitas famílias inteiras o que gerou uma movimentação nos hotéis e a valorização de casas para aluguel. Muitos deles estão montando negócios que ainda não existiam aqui e em Cobija. Isso tudo contribui para o desenvolvimento da nossa cidade!”


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Esperança na arte Jovens e donas de casa aprendem marchetaria com objetivo de fazer negócios para melhorar sua renda familiar

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ontando um quebra cabeças de lâminas de madeiras coloridas jovens e donas de casa de Epitaciolândia vão criando verdadeiras obras de arte que já caíram no gosto dos acreanos por sua beleza e utilidade na decoração e em objetos utilitários como caixinhas, móveis, baús e marcadores de livro. São 40 aprendizes divididos em duas turmas que durante 40 dias receberam treinamento oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem da Indústria (Senai)em parceria com o governo do Estado que banca os custos do curso com dinheiro do governo Federal, repassados pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, o Pronatec. Para isso o Senai enviou a Epitaciolândia seu instrutor Udson Telles Diniz que ministrou o curso na escola Joana Ribeiro Amed explicou: “O maior interesse de todos eles é aprender arte para ganhar dinheiro. Essa motivação é tão forte que alguns queriam vir na turma da manhã e à tarde, mas isso não é possível, então se aplicam o máximo possível no período. Embora alguns não conhecessem esta arte, a maioria já tinha visto alguns traalho e sabem da valorização destes trabalhos que ganharam simpatia dos compradores e assim cresce cada vez mais no Acre, por isso mesmo, nós programamos a realização de uma ex-

posição para venda das peças no final do curso!” Udson esclarece que: “Mais do que ensinar uma nova arte, cursos como este vem ampliar os conhecimentos dos artesãos que assim encontram mais uma possibilidade de ganhar dinheiro trabalhando em casa na produção de objetos decorativos e utilitários!”

Uma nova oportunidade Clícia Paula Pires Tavares, mãe de quatro filhos explica que: “Já fiz vários cursos de pintura, bordado e alimentação, quando soube deste curso me ofereci para participar porque entendo que quanto mais conhecimento você têm melhor. Gostei muito do que aprendi e tenho certeza que dá para ganhar dinheiro com este trabalho, nosso único problema é conseguir o material porque pelo que nos disseram, no Acre não há muita variedade de lâminas de madeira pra gente trabalhar, mas vamos dar nosso jeito de pedir de São Paulo porque o que a gente não pode é ficar parado!” Já Telesson Cândido de Araújo, 15 anos que cursa o primeiro ano do ensino médio declarou: “Só tinha visto este tipo de trabalho na internet, achei muito bonito, mas n]ão tinha idéia de como era feito, até que surgiu esta oportunidade que estou aproveitando da melhor maneira possível. Não é um trabalho pesado, nem muito difícil, mas exige muito cuidado e paciência para ficar bem feito.


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