Caderno_Produção e negócios

Page 1

PRODUCÃO & NEGÓCIOS ANO 1 - NÚMERO 4 RIO BRANCO, DOMINGO, 05.02.2012

Movimento comunitário no mapa dos pequenos negócios

Página 7

Múltiplos negócios, inúmeros desafios

A história de quem começou com uma banquinha de bombons e se transformou em um dos maiores empresários do Acre Páginas 4, 5 e 6


PRODUCÃO & NEGÓCIOS

2 Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.2012

Atacadão está gerando 300 empregos Empresa ligada ao grupo francês Carrefour entrevista uma média de 30 candidatos a emprego por dia Juracy Xangai

C

ursos, palestras, treinamento e experiência medida pelo tempo de permanência nos empregos são alguns dos itens que pesam na hora de uma empresa contratar trabalhadores. O crescimento econômico que acontece no Acre gera cada vez mais oportunidades de emprego, mas as pessoas precisam estar preparadas para aproveitá-las. Exemplo disso é a entrada do Atacadão, empresa do “atacarejo” (atacado e varejo) integrante do grupo francês Carrefour, que juntos formam hoje a 34ª maior empresa do Brasil com 80 lojas. Elas geram mais de 24 empregos no país, fora as da argentina, colômbia e outros países da América do Sul. A inauguração de sua loja em Rio Branco está prevista para março ou abril deste ano, e para isso está oferecendo 300 empregos diretos e seu funcionamento vai gerar outros 500 indiretos. O processo de seleção de candidatos já começou, como esclarece o analista-coordenador de recursos humanos

Tempo de permanência em empregos passados é critério importante na hora da contratação

do Atacadão, Flávio Nunes. “Estamos realizando uma média de 50 a 60 entrevistas de candidatos a emprego todos os dias. Além disso, recebemos uma quantidade muito grande de currículos para analisar. Notamos que as pessoas gostam de estudar, a maioria fez vários cursos. Muitos têm nível superior e alguma experiência, mas percebemos que tem pouca estabilidade no emprego e atuaram em ativi-

dades muito diferentes, o que faz deles conhecedores superficiais de muita coisa, mas que não conhecem uma atividade mais a fundo”, diz Nunes. Ele esclarece que a estabilidade no trabalho e a experiência são fatores que pesam na hora de a empresa selecionar um trabalhador. “O mais importante, porém, é a pessoa não mentir no currículo nem na entrevista, que seja ela mesma, demonstre vontade

de trabalhar e disposição de aprender, e nós cuidamos do resto. Nós do atacadão temos orgulho de dizer que cem por cento das nossas gerências é composta de pessoas formadas na empresa. Esse processo é um benefício para quem gosta do que faz”. A preocupação com o social leva a empresa a não se conter na quota mínima de empregos a deficientes físicos. “O importante para nós é que

as pessoas demonstrem vontade de trabalhar e disposição para aprender. Muitas funções são exercidas exclusivamente por deficientes físicos. Outras vagas são específicas para trabalhadores com mais de 50 anos”, explica Nunes. Nesse processo de abertura do Atacadão em Rio Branco, parte dos 300 que serão selecionados receberão treinamento aqui mesmo, e os demais serão treinados em outros estados. O treinamento e formação continuada fazem parte da política da empresa, que investe em quem se dedica ao trabalho e quer crescer com a rede de lojas. Há muitos casos em que o atacadão paga metade da faculdade de seus empregados. Flávio Nunes relata a dificuldade para encontrar profissionais operadores de empilhadeira, nutricionistas e pessoas com conhecimento em hortaliças e frutas (hortifruti). “O importante é demonstramos respeito às pessoas nas entrevistas e examinamos com cuidado seus currículos. Nós arquivamos todos, mesmo dos que não estão sendo chamados”, afirma.

CURSOS 2012 O Plantec estará oferecendo neste ano cursos de Operador de empilhadeiras, Supervisor de vendas, Decorador de vitrines, Auxiliar Orçamentista da construção civil, Instalador hidráulico, Eletricista, Pedreiro, Babá, Panificação e massas, Montagem e manutenção de microcomputador, Armador

PRODUCÃO & NEGÓCIOS

de ferro, Pintor de obra, Assentador de esquadrias, Pedreiro revestidor (azulejista), Pedreiro, Operador de caixa, Informática básica, Mecânico e eletricista de moto, Empreendedorismo, Recepcionista/secretariado, Informática, Lacticínio caseiro, Técnicas de vendas, Culinária regional, Qualidade

no atendimento ao cliente, Manipulação de alimentos, Cuidador de idosos, Organização de eventos, Auxiliar administrativo e Técnico em contabilidade. O estímulo a cadeias produtivas específicas como piscicultura ou madeira e móveis também gerou novas necessidades de cursos

Uma publicação de responsabilidade de Rede de Comunicação da Floresta LTDA C.N.P.J. 06.226.994/0001-45, I.M. 1215590, I.E. 01.016.188/001-87

de especialização de cursos, tais como: Produção de embutidos de peixe, que acontecerão em Bujari e Cruzeiro do Sul; Fabricação de ração e insumos para peixes em Rio Branco, Bujari e Cruzeiro do Sul. Já os equipamentos domésticos e os eletroeletrônicos geraram necessidades de cursos de Manutenção e

instalação de equipamentos de refrigeração e eletroeletrônicos em Feijó e Tarauacá, onde também acontecerá um de operador de empilhadeira. Já os cursos de Auxiliar de produção de Marcenaria acontecerão em Rio Branco, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul.

Textos, fotografias e demais criações intelectuais publicadas neste exemplar, não podem ser utilizados, reproduzidos, apropriados ou estocados em sistema de bancos de dados ou processo similar, em qualquer processo ou meio (mecânico, eletrônico, microfilmagem, fotocópia, gravações e outros), sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais. Não devolvemos originais, publicados ou não. IMPORTANTE - Matérias, colunas e artigos assinados, são de responsabilidade de seus autores e não traduzem necessariamente a opinião do jornal


PRODUCÃO & NEGÓCIOS

Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.2012 3

Precisa-se de trabalhadores

Empresas procuram trabalhadores qualificados e desempregados buscam o emprego tão sonhado, mas os dois lados sofrem com os desencontros Uma média de 85 pessoas passa todos os dias pelo Serviço Nacional de Empregos (Sine-Acre) em busca de uma colocação no mercado de trabalho. Funcionando junto ao Departamento de Mobilização pelo Emprego da Secretaria de Estado da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia (Sedict), o Sine é mais do a “porta da esperança” para quem sonha com um emprego: ele identifica necessidades do mercado, as novas profissões que estão surgindo e oferece cursos para que as pessoas estejam em condições de ocupar essas funções. “Trabalhando em parceria com instituições como a Fundação Bradesco, Instituto Dom Moacir e o Serviço de Aprendizagem do Cooperativismo, OCB/Sescoop, e todo o sistema “S” constituído pelo Sebrae, Sesc, Senai, Senac, Senar e Sest/Senat, preparamos

uma grade de cursos que estão oferecendo aos desempregados para que possam ser recolocados no mercado de trabalho ou conquistem seu primeiro emprego”, explica Inácio Alves Moreira Neto, assessor de planejamento da Sedict, órgão que mantêm relacionamento direto com o Sine-Acre. Os cursos são organizados dentro do Plano de Qualificação Territorial, o Plantec, criado para corrigir as chamadas distorções territoriais de conhecimento e qualificação profissional dos trabalhadores. O diferencial é que eles têm obrigação de colocar no mercado de trabalho 70% dos treinados. Já Jorgiane Moura, do Departamento de Mobilização Para o Trabalho da Sedict, esclarece o seguinte: “Atendemos uma média de 853 pessoas por dia, e a maioria está em busca de seu primeiro emprego. Notamos que a busca por emprego de babá

Sempre alerta

Sine é mais que uma porta de entrada para o mercado de trabalho

e doméstica caiu muito. Outro fator importante nessa mudança é a terceirização de serviços de faxina, vigilância e outros pelo poder público, o que gerou novas oportunidades de emprego. Neste momento estamos carreando uma média de 30 candidatos a emprego para serem selecionados pelo Atacadão/ Carrefour”, diz ela.

“Ter o ensino fundamental completo hoje é básico para conseguir um emprego, exige-se segundo grau até para domésticas. Em São Paulo se oferecem cursos técnicos para domésticas e babás com salários superiores a R$ 1.500 por mês. Até as patroas recebem treinamento para saber gerenciar a casa e dar ordens sem desrespeitar as pessoas”.

Jorgiane esclarece que um dos maiores problemas enfrentados pelo setor é a dificuldade para contatar os candidatos a emprego quando surge a tão esperada vaga. “As pessoas trocam seus telefones e mudam e-mail com muita facilidade, e isso é um problema para nós, que queremos ajudá-las. Para que as pessoas mantenham seu cadastro atualizado, basta acessar o site http://.maisemprego.mte.gov.br”. Você também pode contatar o Sine-Acre utilizando telefone gratuito 0800-6478182, bem como o 3224-3622. Para se cadastrar deve ter à mão documentos originais de identidade, CPF, comprovante de escolaridade e o comprovante de endereço com CEP.


PRODUCÃO & NEGÓCIOS

4 Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.2012

Máquinas pesadas tornam mais ágil a colheita de grãos e aumentam a produtividade por hectare plantado

A saga empresarial de Raiolando e seus múltiplos empreendimentos Desde menino o senso de oportunidade fez de Raiolando um negociante que aprendeu a crescer junto com o Acre Juracy Xangai

D

a banquinha em que vendia bombons e cigarros aos 12 anos de idade, em Sena Madureira, às fazendas de gado e grãos, postos de combustíveis a maior indústria de produtos plásticos da Amazônia, a história de vida de Raiolando Costa de Oliveira, 55 anos, demonstra seu senso de oportunidade e capacidade para solucionar problemas imprevistos. Em Sena, Raiolando também montou seu primeiro posto de lavagem de carros, borracharia e um cinema. Mas essa história começa bem antes. Em 1902, quando o avô paterno Francisco Costa de Oliveira e a esposa Joaquina Xavier de Oliveira

vieram do Ceará na comitiva do coronel Siqueira de Menezes para abrir uma empresa às margens do Rio Iaco. O local serviria de ponto de apoio à ocupação dos seringais daquela região, onde está hoje a cidade e o município de Sena Madureira, que logo ficou cheia de imigrantes sírio-libaneses que estimulavam o comércio. Em pleno ciclo de ouro da borracha, isso a transformou na cidade mais importante do Acre. Os tempos áureos acabaram, e o pai de Raiolando, Raimundo Costa de Oliveira, trabalhou como operário na construção da pista de pouso do aeroporto de Sena Madureira arrastando terra e areia amontoados sobre couros de boi puxados por juntas de animais, num tempo em que nem se sonhava com tratores.

Empreendedor ao modo de seu tempo, Raimundo Costa de Oliveira aplicou o dinheiro apurado com os carretos nas obras da pista, para montar sua primeira loja de compra e venda de produtos vindos de navio para “aviar” os regatões. Com a quebra do sistema da borracha, ele percebeu, na falta de moradias, a oportunidade de iniciar a construção do primeiro conjunto habitacional às margens do igarapé Cafezal, na periferia da cidade de Sena Madureira, para onde migravam os seringueiros retirantes dos seringais desativados já na década de 60. “Construiu 14 casas de paxiúba com cobertura de palha de jaci, e as vendeu aos seringueiros, manteve o comércio que minha mãe cuidava, mas animou-se com o ramo da

Sempre atento às novidades do mercado e seus produtos que levam a novas oportunidades

construção, organizou uma olaria e fazia os tijolos que assava na caieira e usava nas obras das 33 casas de alvenaria que construiu. Adoeceu, teve de fazer uma operação,

mas faleceu por causa de um acidente durante sua recuperação da cirurgia, Deixou a esposa grávida, mais sete filhos todos menores”, recorda Raiolando.


PRODUCÃO & NEGÓCIOS

Empreendedorismo no sangue O espírito negociante de Raiolando, que na época da morte de seu pai contava apenas 12 anos, aflorou ao ver as dificuldades da mãe. Ele então decidiu ajudar no orçamento doméstico, montando uma banquinha para vender bombons e cigarros. “Cada filho ajudava como podia, no comércio, com o gado da colônia. Comecei vendendo bombons, logo montei uma borracharia em parceria com um amigo que também era menino, a primeira borracharia da cidade, ele era de família seringalista, foi estudar em Brasília, encerramos aquele negócio e resolvi montar um posto de lavagem de carros”, lembra. Em meados dos anos 70 praticamente não existiam carros em Sena, então arrumava muita roda de bicicleta, mas nunca tinha trocado um pneu de verdade. Até que chegaram uns caminhões carregando as máquinas para construir a usina de energia de Sena. “O motorista deixou um pneu pra eu consertar, comecei a bater e me assustei ao ver que o aro estava partido, quando o motorista chegou pra buscar , quatro horas depois, expliquei que tinha quebrado a roda, ele riu, então me mostrou como se fazia, aprendi, mas entendi que aquele não seria o meu negócio e mudei de ramo”, conta. Raiolando montou o primeiro lavador de carros da cidade, onde só havia três caminhonetes, uma delas da prefeitura, que praticamente só circulava na cidade, mas o prefeito Remarques de Queiroz mandava lavar de manhã e à tarde. “Nessa época o IBGE começou a chamar gente pra trabalhar no censo. Fui selecionado e com um amigo meu, nos deram o trecho do seringal Guanabara até o rio Macauã, em Sena Madureira, para recensear. Disseram para ir a Xapuri, contratar um carro pra nos levar até o Guanabara

Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.2012 5

e iniciar o trabalho. Lá descobrimos que pela falta de conservação, a estrada que tinha sido aberta pelo Jorge Kalume tinha samaúma com tronco de meio metro de grossura bem no meio de onde era a pista, então carro não andava. Contratamos duas mulas que nos levaram até uma colocação nos fundos do seringal Nova Olinda e ali começamos a recensear, tomando carona no comboio. Quando chegamos ao Iaco compramos duas canoas e descemos no remo 45 dias, visitando as colocações. Um trabalho de doido, mas valeu a pena. Era 1977 e com o dinheiro montei um bar em Sena”.

Distribuidora de bebidas A partir do bar ele criou uma distribuidora de bebidas, e para atender a freguesia foi a Porto Velho, de lá, por estrada, até Manaus, onde comprou uma carga de cerveja. Essa foi a primeira e última viagem com bebidas. O negócio das bebidas ia bem até Raiolando contratar um motorista vindo do Paraná que estava vivendo havia poucos dias na cidade. “Ele tinha um caminhão Mercedes cara chata, fomos pra Manaus e na volta ele e o caminhão foram presos porque descobriram que tinha roubado o caminhão no Paraná. A polícia entendeu que eu não tinha má-fé, mandou entregar a cerveja em Rio Branco, onde fiz um mau negócio vendendo para um comerciante que não me devolveu os engradados nem as garrafas”, conta o empresário.

Loja das novidades Em 1978 Raiolando vendeu tudo que tinha e partiu para São Paulo e ao chegar lá se encantou com a quantidade de brinquedos e objetos domésticos, um mundo praticamente desconhecido para ele e para a população de Sena Madureira. “Eu tinha meu dinheiro e um talão de 50 folhas

Raiolando exibe com orgulho a plantação de grãos em sua fazenda

Diversificação dos negócios foi a opção de quem sempre ousou enfrentar novos desafios

de cheques do Banacre, lotei dois caminhões de mercadorias, e quando cheguei a Sena foi uma festa. Quando era criança eu nunca tive um brinquedo, por isso é que fiquei tão encantado quando vi aquilo tudo em São Paulo. Pensei que aquelas pessoas também ficariam tão encantadas quanto eu. Deu certo, vendi tudo muito rápido, cobri os cheques e voltei pra São Paulo pra buscar mais. As mercadorias vinham pela estrada até Rio Branco e subiam de barco pelo rio até Sena Madureira”. Em 1984, Raiolando já estava muito bem de vida com seus negócios, mas uma compra feita em fevereiro só chegaria ao Acre em pleno período de vazante, quando a embarcação que trazia as mercadorias afundou no Rio Purus. “Perdi todo o dinheiro que tinha, fiz a ocorrência na polícia, entrei em contato com as lojas fornecedoras de São Paulo e eles me deram crédito, enviando mais mercadoria para que pudesse ir quitando os débitos. Assim recuperei

tudo, trabalhei desse modo até 1985, quando vendi tudo e vim para Rio Branco, onde montei outra loja”, lembra.

Fábrica de Papelim Ainda em 82, ao ir fazer compras na loja dos Kassias Nahas, em São Paulo, Raiolando foi convidado para conhecer o Rio de Janeiro fazendo companhia a um cunhado do lojista que tinha acabado de chegar do Líbano, e concordou. No caminho pararam em uma gráfica, onde viu os funcionários cortando papel para fazer cigarro, interessou-se pelo produto, pegou telefone da fábrica de papel e já de volta a São Paulo comprou, de segunda mão, uma guilhotina semiautomática da Catu. Isso daria origem à sua fábrica de papelim Oliveira, que chegou a vender até 15 toneladas de papel por mês aos fumantes de tabaco do Acre, Rondônia e Amazonas. Em 84 ele tinha montado um cinema em Sena Madureira. Na mesma semana em que inaugurou o novo em-

preendimento, o governador Nabor Júnior montou uma antena parabólica na cidade pra transmitir a programação das televisões. “Eu não botava fé naquilo”, recorda. “Pouco antes tinha ido a São Paulo e comprado uma daquelas antenas e não tinha funcionado, talvez por falta de sinal de satélite, mas a do governo funcionou, a Globo estava apresentando o filme Aladim e os Trapalhões, o mesmo que estava em cartaz no meu cinema. Trouxe depois o Dia Seguinte (Day after), não deu certo. Alguém me deu a dica de apresentar filme pornográfico, mandei vir o Garganta Profunda, então a juíza da cidade fez plantão para impedir a entrada de menores, já um padre dizia que o cinema estava acabando com a moral da família. Vendi as máquinas do cinema para o Osmeth Duque, que as usou para recuperar o cine Recreio. O galpão foi vendido para ser distribuidora de bebidas. Com o dinheiro comprei uma casa no Bairro do Bosque, em Rio Branco”.


PRODUCÃO & NEGÓCIOS

6 Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.2012

Acreplast foi a aposta mais ousada de empresário acreano Juracy Xangay

P

ara realizar o sonho de montar a fábrica de plástico, Raiolando vendeu o que era possível, além de dar o galpão e outros bens, entre eles a própria casa onde vivia com a esposa no bairro do Bosque. Passou a tocar uma loja para bancar as despesas pessoais. Com muito sacrifício, nascia a Acreplast, empresa que hoje gera 80 empregos diretos e fabrica sacos, sacolas e outras embalagens plásticas, além de forros de PVC. Com as máquinas montadas no galpão, faltava capital de giro para comprar o polietileno, matéria-prima básica para a fabricação de produtos plásticos. “Em 1990 vendi até a fábrica de papelim, mas já não tinha mais de onde tirar dinheiro. Então procurei o genro do Osmeth, que era meu amigo e gerente do banco, que acreditou no negócio e me fez um empréstimo de emergência para comprar minha quota de 15 mil quilos de polietileno. Transformei tudo em saquinhos para sorvete dindim, que estava na moda e que vendeu como água. Foi minha salvação. Em seguida iniciei a produção de sacolas artesa-

Para montar o empreendimento, Raiolando precisou vender até a casa em que morava, no Bosque

nalmente. Até a pintura da marca das empresas era feita a mão, e aos poucos fomos comprando outras máquinas e diversificando a produção. Só em 1994 é que conseguimos comprar a máquina que produzia as sacolas com impressão”, diz Raiolando.

Busca de incentivos Voltando a 1992, Raiolando lembra que o então recém-empossado governador Edmundo Pinto visitou sua fábrica de plásticos e na ocasião, ouvindo seus apelos para criar mecanismos que

favorecessem a industrialização do Acre, prometeu ajudar quando voltasse de sua viagem a Brasília. “Edmundo nunca mais voltou, mas seu vice, Romildo, que tinha participado da visita à fábrica, reafirmou o compromisso de ajudar e me disse para procurar o secretário de Fazenda da época, o qual marcou dia e hora, mas nunca me recebeu. Continuei trabalhando por conta e risco”, diz.

O Pior negócio

De uma simples banca de bombos ao mais ousado dos empreendimentos da sua carrreira empresarial

Naquele ano, Raiolando tinha comprado um conjunto de máquinas e fôrmas para montar uma fábrica de espuma para fazer colchões e estofados no Acre. Sem incentivo, desistiu da ideia e vendeu tudo para um empresário de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, que em troca lhe repassou um fábrica de reciclagem de plásticos. “A fábrica de reciclagem me interessava para reaproveitar as aparas de plástico, mas foi o pior negócio que fiz na vida, aquilo me deu muita dor de cabeça. Logo apareceu uma ONG que propôs reali-

zar uma campanha piloto no Conjunto Tucumã com o tema Trocando Lixo Por Livro. Me perguntaram se receberia o lixo plástico, e aceitei. Com uma semana começaram a pesar para me cobrar, desistiram de cobrar, continuei recebendo. Fiquei com o depósito cheio de lixo que não podia processar, então decidi queimar, levei uma multa e proibiram a reciclagem dizendo que poluía a água. Só cobravam, mas não davam nenhuma orientação”, diz. Por fim, Raiolando decidiu moer os resíduos plásticos, prensar e pagar o frete dos caminhões para levar o lixo para fora do Estado. “Parei com aquilo porque os resíduos estavam contaminando a resina plástica e com isso causava problemas na fabricação dos sacos e sacolas. Hoje tenho seis pessoas trabalhando na reciclagem. Reciclo mais de dez mil quilos de resíduos por mês, mas só da nossa fábrica em sistema de circuito fechado, ecologicamente correto, e que é um dos mais modernos do Brasil”, afirma.


PRODUCÃO & NEGÓCIOS

Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.2012 7

Secretaria de Pequenos Negócios monta parcerias com movimento comunitário Dirigentes de associações de moradores devem indicar as pessoas mais necessitadas para cursos profissionalizantes que vão resultar em novos empreendimentos criados, só em Rio Branco, pelo menos 1,5 mil novos negócios. No ano passado, quando a SEPN foi criada, o órgão conseguiu criar 1,2 mil negócios em todo o Estado. “Nossa meta é ousada. Temos, até 2014, o compromisso de criar pelo menos cinco mil novos negócios. E os estudos apontam que, para atingir essa meta, nosso trabalho passa, primeiro, pela qualificação das pessoas interessadas”, afirmou. Na semana que passou, tanto José Carlos dos Reis como Sílvia Monteiro, acompanhados de técnicos e assessores para a área de criação de novos negócios, se reuniram com dirigentes de pelo menos 30 bairros de Rio Branco. A ideia é estender as reuniões para todos os bairros.

Tião Maia

“V

o c ê s s e rão os nossos olhos e os nossos guias para nos levarem até quem mais precisa”, disse a secretária-adjunta de Pequenos Negócios, Sílvia Monteiro, durante reunião com dirigentes do movimento comunitário com atuação no Segundo Distrito de Rio Branco, no “Centro Cultural Dona Neném Sombra”, bairro Quinze, ao abrir uma série de discussões com presidentes e outros dirigentes de associações de moradores. As discussões visam definir, com a participação do movimento comunitário, quais os cursos profissionalizantes que devem ser proporcionados pela Secretaria de Estado de Pequenos Negócios (SEPN) nos bairros às pessoas de baixíssima ou de nenhuma renda. São cursos nas mais diversas áreas como de costureiras, cabeleleiros, açougueiros, pedreiros, serralheiros, encanadores, mecânica de moto e bicicleta e outros que os líderes comunitários apontarem. “Dispomos de recursos não só para financiar esses cursos como também para a aquisição dos equipamentos

Líderes do movimento comunitário com secretário José Carlos Reis e técnicos da Secretaria de Pequenos Negócios

com os quais as pessoas vão trabalhar”, anunciou o secretário de Pequenos Negócios, José Carlos dos Reis, ao participar de outra reunião, no centro cultural do bairro das Placas, na Estrada Apolônio Sales, ao se reunir com outro grupo de dirigentes de associações de moradores. Segundo ele, a SEPN dispõe, para 2012, de pelo menos R$ 5 milhões para este tipo de atividade, dos quais, R$ 1,5

milhão serão gastos com o financiamento dos cursos e o restante, na compra dos equipamentos. “Por isso é importante que os senhores e as senhoras nos auxiliem na listagem das pessoas que precisam fazer esses cursos”, disse José Carlos dos Reis. “Nós estamos trabalhando com os cadastros do governo, que apontam aquelas pessoas que vivem abaixo da linha de

pobreza. Mas o problema é que, em muitos bairros, há pessoas que, de tão excluídas, não estão sequer dentro dos programas assistenciais do governo. Por isso precisamos do auxílio do movimento comunitário na indicação de quem são e onde estão essas pessoas”, disse. De acordo com José Carlos dos Reis, a determinação do governador Tião Viana é para que, em 2012, sejam

Maria José Lopes Experiência na venda de bombos de chocolate de porta em porta

Líderes comunitários manifestam apoio à iniciativa Os líderes do movimento comunitário receberam bem as propostas da Secretaria de Estado de Pequenos Negócios. Em todas as reuniões, eles apontam quais as maiores demandas por cursos em seus bairros e sinalizam os nomes das pessoas que devem participar. “Fiquei muito feliz com esta iniciativa porque, além de valorizar o movimento comunitário, o governo está mostrando que trabalha com responsabilidade”, disse o presidente da Associação de Moradores do Bairro Taquari, Salim Manasfi da Silva. “Afinal, somos nós que vivemos nos bairros e que conhecemos de perto as pessoas e suas necessidades”, elogiou. “Eu sobrevivi, quando estava desempregada, por mais de um ano, vendendo, de por-

ta em porta, bombons de chocolate que eu mesmo fazia”, revelou a presidente da Associação de Moradores do bairro Bahia Nova, Maria José Lopes, durante uma das reuniões dos dirigentes da SEPN com dirigentes do movimento comunitário dos bairros da localidade conhecida como “Baixada do Sol”. “Por isso, eu acho que um curso sobre como fazer essas iguarias é uma boa iniciativa e vou incentivar para que as pessoas mais pobres que moram no meu bairro possam aprender e sobreviver como eu sobrevivo no momento mais difícil da minha vida”, afirmou. “Cabo Oliveira”, presidente da Associação de Moradores do Tancredo Neves, também elogiou a iniciativa da

Dirigentes de associações de bairros do Segundo Distrito de Rio Branco

Secretaria de Pequenos Negócios em procurar os dirigentes do movimento comunitário para o estabelecimento dessas

parcerias. “Mesmo sendo uma secretaria nova, este setor do governo inspira muita confiança. A gente percebe que as

pessoas envolvidas nesta relação estão de fato interessadas em ajudar a quem mais precisa”, disse.


PRODUCÃO & NEGÓCIOS

8 Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.2012

Quem tem conhecimento

vai pra frente!

Empreendedorismo acreano é destaque nacional Mais 2.500 empreendedores individuais formalizaram seus negócios na Capital em 2011 e podem movimentar até R$ 250 milhões por ano sentar do governo e trabalhar com a produção de sacaria, pois hoje meus bicos já rendem mais dinheiro que o emprego!”

Juracy Xangai

C

om um total de 7.399 empreendedores individuais o Estado do Acre vem se destacando no cadastro nacional de formalização de pequenos negócios considerado o maior programa de inclusão social e financeira já realizado no Brasil e que já começa a ser reproduzido em outros países. Dentre os 7.399 empreendedores acreanos, 5.160 estão em Rio Branco, 760 em Cruzeiro do Sul e o restante distribuído pelos 20 municípios. O desempenho acreano foi elogiado pelo presidente Nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Sebrae, Luiz Barreto que destacou: “Mais de 2.500 pequenos empresários surgiram na cidade de Rio Branco nos últimos 12 meses. São Empreendedores individuais que formalizaram negócios como a venda de roupas, salões de beleza, pequenas lanchonetes e etc.” Barreto lembra que em janeiro de 2011, a capital tinha 2,6 mil empreendedores individuais e no fim do ano já ultrapassava os 5,1 mil, praticamente o dobro do início do ano. “Supondo que cada um fature os R$ 5 mil mensais previstos em lei, eles podem movimentar até R$ 300 milhões por ano”. Impulso econômico A posição de destaque é garantida por pessoas como Francisco Brito Correa, 31 proprietário da bicicletaria Ciclo Correa que funciona no bairro da Vila Ivonete que esExpediente:

Construindo um novo Acre

EMPREENDEDOR individual Francisco Correia foi ao Sebrae buscar orientação sobre declarações

tão dando esse novo impulso econômico ao Acre formalizando seus pequenos negócios. “Durante nove anos eu trabalhei como empregado em uma bicicletaria, até o dia em que pedi as contas e há sete anos trabalho por conta própria e minha vida melhorou muito mesmo!” Mas a decisão de tocar seu próprio negócio também gerou uma série de transtornos para sua vida, conforme relata Francisco: “Pouco tempo depois que comecei a trabalhar, lá veio a fiscalização, pediram documentos que eu não tinha, então fui multado várias vezes até descobrir que podia registrar o negócio no Sebrae. Fui lá, o pessoal me atendeu muito bem, hoje tenho tudo legalizado, sou empreendedor individual e hoje procurei orientação pra fazer minha declaração do imposto de renda. Gostei do atendimento que recebo aqui e hoje eu

trabalho com tudo legalizado, sem problemas!” O espírito empreendedor também desponta em pessoas como a funcionária pública Pedrina Ramalho moradora do bairro Ruy Lino que há 27 anos trabalha na Secretaria Estadual da Educação. “O salário de funcionária não é lá essas coisas, então eu me viro fazendo serviços de contabilidade para algumas pessoas e, à noite vendo churrasquinho na porta de casa. Hoje procurei o Sebrae para ajudar um amigo deficiente auditivo que quer montar uma fábrica de sacos de ráfia para embalar grãos e outras mercadorias. A gente sabe que no Acre não há nenhuma fábrica dessas, mas precisam deles para muitas coisas. Temos o terreno e o galpão, falta realizar a pesquisa de preço das máquinas e preparar um plano de viabilidade pra ver se compensa. Se der certo, acho que vou me apo-

O superintendente do Sebrae no Acre, João Fecury destacou que: “A formalização de negócios que até há pouco recebiam pouca atenção, demonstram o quanto eles são importantes enquanto geradores de emprego e renda capaz de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nossa missão, enquanto Sebrae é apoiar e orientar esses empreendedores para que tenham sucesso nos seus negócios. Quando vemos as ações da Secretaria dos Micro e Pequenos Negócios estimulando esse espírito empreendedor vemos que estamos no caminho certo para construir um novo Acre mais produtivo e mais rico pelo trabalho. O que a sociedade espera dos empresários grandes e pequenos é a geração de emprego e renda para que as pessoas possam viver melhor e com dignidade!” Fecury lembra que sempre que um empreendedor informal formaliza seu negócio tornando-se um Empreendedor Individual que evolui tornando-se um micro empresário, ele serve de exemplo e estímulo para que outras pessoas também tomem coragem para montar seu próprio negócio. “Um EI que cresce vira micro empreendedor abre espaço para novos empreendedores num círculo virtuoso que se multiplica beneficiando toda a sociedade pela geração de negócios que geram empregos e fazem o dinheiro circular cada vez mais porque o micro vira Empresa de Pequeno Porte e daí por diante o céu é o limite!”

Lenha de ouro

Bancário deixou o emprego para trabalhar com a venda de lenha e está se dando bem com o negócio Depois de trabalhar sete anos no atendimento aos clientes Lucimaro Rodrigues Leal decidiu abandonar o emprego para começar a recolher as aparas de madeira das serrarias e vender para padarias e empresas que usam caldeiras alimentando sua linha de produção. Hoje Lucimaro tem dois empregados e entrega cinco caminhões de lenha por semana só para o frigorífico Friboi, também atende outras empresas. “Sempre acreditei que era possível ganhar mais tocando meu próprio negócio. Depois de trabalhar sete anos no atendimento aos clientes do Banco do Brasil decidi montar meu próprio negócio que está funcionando há um ano e vai muito bem, não me arrependo de jeito nenhum!” Durante seis meses ele atuou informalmente, até que em julho do ano passado procurou o Sebrae para formalizar sua atividade. “Ganhei experiência trabalhando, mas gosto de fazer as coisas direito, então fiz questão de legalizar o negócio e só trabalho com madeira documentada para não ter dor de cabeça”. Evolução da empresa Agora, seis meses depois de ter formalizado a venda de lenha, Lucimaro voltou a procurar orientação do Sebrae: “O negócio vai muito bem, graças a Deus, tanto que ultrapassei a renda mensal de R$ 5 mil permitida para os Empreendedores Individuais, com isso vou ter que migrar para o sistema de micro empresa, sei que isso vai trazer novas obrigações, mas é assim mesmo, quanto mais a gente cresce, mais responsabilidades vão chegando. Estou animado, até comecei a diversificar o negócio pra criar um pouco de gado, já tenho 50 cabeças e vou comprar mais!”

LUCIMARO Leal: de empreendedor individual a micro empreendedor

Textos publicados nesta página são de responsabilidade da Assessoria de Comunicação do Sebrae no Acre Jornalista Responsável: Lula Melo MTB 015/90 - e-mail: lula@ac.sebrae.com.br. Colaboradores: Juracy Xangai, Vanessa França e Evandro Souza. Sugestões, comentários e-mail para ascom1@ac.sebrae.com.br. Central de atendimento: 0800-5700800


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.