Livro Pessoas de Santa Maria

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Pessoas de

Santa Maria DA VEN IDA IB PRO

Marcelo De Franceschi dos Santos

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No inverno de 2014, um novo projeto fotográfico surgiu em Santa Maria. O jornalista Marcelo De Franceschi dos Santos passou a publicar, em uma página no Facebook, fotos e entrevistas que realizava com os cidadãos na rua, no dia-a-dia, no improviso, com a voz transcrita de cada um. Como resultado de dois anos de perseverança, mais de 17 mil perfis passaram a apoiar a causa, rendendo esta obra física contemplada pela política pública cultural da Lei do Livro.

Os santa-marienses são captados por essas 270 fotos em preto-e-branco, que formam uma coleção de imagens valorizando a personalidade e a diversidade do povo. Para demonstrar que Santa Maria não é só uma cidade povoada por labirintos, mas também, um estudo sobre a vida. //LEONARDO PEREIRA CÔRTES// Jornalista formado pela UFSM e estudante de Letras – Espanhol na mesma instituição.

Dado o seu caráter estudantil que a torna uma cidade de população passageira, Santa Maria se parece muito com um labirinto, no qual os caminhos que seguimos podem ou não nos levar a determinados fins. Às vezes, permanecemos parados em um canto, não como alguém que não quer conhecer outras veredas, porém, como alguém que não pode sair para conhecê-las. Investigando o labirinto, estamos em busca de quem somos, numa reflexão permanente acerca do ser, sua realidade e suas possibilidades. Querendo desbravá-lo e provar que somos tão parecidos em nossos rumos, Marcelo quis mostrar a todos nós, que ficamos parados pela rotina, como Santa Maria possui tantas histórias que se cruzam e se parecem. Nada mais certo para se aplicar do que na fotografia de retratos, onde pessoas são representadas, ao mesmo tempo, com intimidade e estranhamento. As linhas separando o estranho e o íntimo são embaçadas pela lente fotográfica do autor, em consequência, para nós o diferente não é mais inacessível, se torna real.

Marcelo De Franceschi dos Santos nasceu em São Sepé, Rio Grande do Sul, em 1989. Cursou os estudos fundamental e médio no sistema de ensino público e graduou-se em Jornalismo pela UFSM no ano de 2011. Integrou as redações dos jornais Ibiá de Montenegro, zona metropolitana de Porto Alegre, e A Razão, em Santa Maria (RS). Desde o início de sua atuação no campo do jornalismo, expôs seu trabalho em blogs e sites de redes sociais. Entrou para o serviço público em junho de 2012, trabalhando como locutor na Rádio Universidade 800 AM, pertencente à UFSM. A partir de 2016, passou a pesquisar fotojornalismo no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo na UFSC.


Pessoas de Santa Maria

Marcelo De Franceschi dos Santos


MAPA DOS LUGARES ONDE ALGUMAS FOTOS E ENTREVISTAS FORAM REALIZADAS



Publicação da Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria que promove a cultura local por meio de publicações anuais, através do Projeto Lei do Livro, que incentiva a divulgação de temas relevantes relacionados à cultura e história santa-mariense. De acordo com a Resolução Legislativa nº 22/2004, a obra foi selecionada por uma comissão integrada pelo Conselho de Cultura do Município, Academia Santa-Mariense de Letras e Casa do Poeta de Santa Maria. Serão distribuídas gratuitamente para a comunidade, escolas, bibliotecas, instituições culturais, educacionais e de pesquisa. Mesa Diretora – Gestão 2017 Presidente: Ver. Admar Pozzobom (PSDB) 1º Vice - presidente: Ver. Francisco Harrison de Souza (PMDB) 2º Vice - presidente: Ver. Ovidio da Silva Mayer (PTB) 1º Secretário: Manoel Badke (DEM) 2º Secretário: Ver. Cel. João Ricardo Baptista Vargas (PSDB) 1º Suplente: Ver. Marion Mortari (PSD) 2ª Suplente: Verª. Maria Aparecida Brizola Mayer (PP) Direitos de reprodução reservados à Câmara de Vereadores de Santa Maria, RS. Comissão Julgadora 12ª Edição Conselho Municipal de Cultura – Daniel Coronel Arruda Academia Santa-mariense de Letras – Humberto Gabbi Zanatta Casa do Poeta – Denise Reis Projeto gráfico, capa e diagramação: Pablo Moreira de Mello Revisão: Giuliana Matiuzzi Seerig Tratamento de imagens: Elias Maroso Fotografias e transcrição dos textos: Marcelo De Franceschi dos Santos

S237p

Santos, Marcelo De Franceschi dos Pessoas de Santa Maria/ Marcelo De Franceschi dos Santos. Santa Maria: Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria, 2017. 256 p. : il. ; 484mm x 230mm ISBN 978-85-66758-06-1 1. Pessoas 2. Cidade 3. Fotografia 4. História Oral 5. Cotidiano I. Título CDU 77.03

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Trilce Morales – CRB 10/2209


DE VOLTA PARA AS PESSOAS DE SANTA MARIA, VINDAS DE QUALQUER LUGAR.



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ma cidade facilmente se esconde. Não apenas atrás de ruas estreitas, de muros, dos condomínios, dos morros ao seu redor, dos bairros distantes. Uma cidade se oculta, de modo ainda mais cerrado, detrás do hábito de vê-la. Se cobrem também os rostos e olhares daqueles pelos quais passamos: uma família, um palhaço, um vendedor, uma criança, alguém que tem seu trabalho na rua, aquele que precisa fazer da rua sua casa. Muitas vezes, temos conosco uma benigna curiosidade – desejo de conhecimento, sem juízos ou lições - mas nos vemos sem saber como romper a distância que o costume nos obriga a manter. Que grata surpresa, no entanto, quando algo faz esse véu cair; quando nos é posto ao alcance histórias e eventos, públicos ou muito particulares, capazes de trazer esse lugar e essas pessoas à vista novamente. O projeto Pessoas de Santa Maria, nascido como um trabalho de fotojornalismo publicado na internet, se propôs a esse desafio: conhecer as pessoas que vivem em uma cidade; conhecer a cidade que, talvez, nossos olhos já tenham visto. Seus instrumentos foram a fotografia e a entrevista, o olhar e a escuta. Como costuma acontecer, a proposta mais simples é sempre mais difícil – às vezes, propriamente impossível. Não se podem conhecer as pessoas de Santa Maria, mas a tentativa é sempre necessária. O que se conseguiu alcançar, ao longo do tempo em que se publicou, possui todo o merecimento do registro que se concretiza nesse livro. Santa Maria, centro do Rio Grande do Sul, concentra em si diversas rotas de vida. Desde sua fundação, foi um local estratégico geograficamente e cresceu, tempos depois, em função das vias ferroviárias que ali se cruzavam. Desativadas as linhas sobre trilhos, comporta hoje a maior universidade pública brasileira fora das capitais e da costa do país. Como um eixo regional, é destino para aqueles dos municípios vizinhos e para pessoas de todo o Brasil, muitas em


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função das autarquias que concentra. Como tantas cidades brasileiras, tornouse também rumo de migrações e refúgios – desde os vizinhos Uruguai e Argentina, dada a proximidade, até pessoas de todas as partes do globo. É a cidade dos universitários, certamente. Daqueles que não raro buscam na formação uma forma de refazer sua história e de sua família. Uma cidade de recomeços e esperanças, assim como de expectativas que se perdem e vidas que se descaminham, algumas vezes na pobreza e no esquecimento. Sem escapar às contradições e aos problemas sociais endêmicos do país, ela exclui e delimita muitos: conhecer e frequentar certas regiões é, para alguns, um privilégio. Sobre fachadas e muros, espreitamos uma cidade pela qual se contam histórias que muitos não estão dispostos a ouvir. Desde a tragédia de 2013, Santa Maria é também um lugar onde se vive por entre feridas abertas: uma cidade que se pergunta, desde aquele fatídico 27 de janeiro, como é possível seguir vivendo com perdas que o tempo não consola nem explica – a resposta, esse livro também quer ajudar a encontrar. Nesses relatos e fotografias, podemos entrever, seja de modo direto ou no plano de fundo, todos esses percursos. A cidade se dá a conhecer desde uma perspectiva do que se passa na rua, ao sabor da oralidade daqueles que contam o que vivem. Um conhecimento que vai se descobrindo na medida em que se procura; o acaso está presente, mas somente auxiliando as escolhas que se dão por uma preocupação de ampliar o modo como nossas préconcepções nos deixam ver o outro – um objetivo manifesto desde o início das publicações. Conhecer uma cidade, mais do que saber sua geografia, seu clima ou o traçado de suas ruas, implica em conhecer as pessoas e os laços e os conflitos que as unem e separam, as fronteiras que se desenham para além dos bairros, os fluxos de motivações e desistências, aquilo que as fazem ficar ou partir, os lutos que tentam completar e as razões para suas alegrias. Quando conheci o autor, em meados de 2009, frequentávamos a Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria. Desde aquela época, Marcelo já se destacava por seu trabalho com fotografias e reportagens, sempre desenvolvendo sua perspectiva social de exercer o jornalismo. Passado algum tempo, já trabalhando como locutor na Rádio Universidade, nunca se distanciou do fazer fotográfico, acompanhando as movimentações comunitárias, protestos e eventos de forma independente. Todo projeto começa a ser preparado antes mesmo da proposta vir à luz. Esse trabalho nasce como resultado de um exercício de alguém que estava, há anos, atento ao local onde vivia. Marcelo, generosamente, credita a mim a sugestão de criação do projeto, porém sua caminhada já possuía todo o direcionamento para realizar as fotos e entrevistas que compõem o Pessoas de Santa Maria. Tratava-se, somente, de começar.


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A replicação de iniciativas de fotos e entrevistas em Amsterdam, Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro, entre tantas outras, impulsionada pelo êxito do trabalho do fotógrafo Brandon Stanton em Humans of New York, nos leva, cada um à sua maneira, a uma certeza: que as histórias das pessoas nos importam. Contrariando as perspectivas mais pessimistas a respeito de como nos relacionamos nos centros urbanos, acredito que nossa inclinação é para a compreensão e a compaixão, não o contrário. A narratividade e a curiosidade fazem parte da nossa natureza, e trabalhos como esses são capazes de multiplicar a identificação e a empatia, fazendo com que passemos a pressupor naquele que nos é estranho razões e motivações que não estariam ao nosso alcance. Aprendemos a pressupor: o que vive o outro quando o encontro? Tudo aquilo que desacomoda as nossas certezas ou impressões falhas, nos enriquece; como a arte e a literatura, tudo o que nos nutre de histórias e visões, suscita em nós um olhar mais pleno e generoso. Este livro pode ser tomado em seu conjunto como uma única fotografia do cotidiano em uma cidade ao sul da América Latina no começo dessa última década, como um passeio observador por praças e ruas. Por vezes, miradas de um passante, em outras, a marcha se detém para ouvir mais, para conversas estendidas. É esse ritmo e essa busca que põe a descoberto a cidade, que revela nela o que há de mais importante: a vida humana que ali se desdobra. Desprendendo-se de um aparente localismo, um livro sobre pessoas de uma cidade acaba sendo, ao final, um livro sobre pessoas – e essa é, sobretudo, uma virtude que aqui se conseguiu alcançar.

//GIULIANA MATIUZZI// São Paulo, fevereiro de 2017


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ais do que ver as fotos e ler os textos, gostaria de propor três ideias que norteiam a história deste livro: todas as pessoas são importantes; as diferenças humanas precisam ser apoiadas e as diferenças das outras pessoas nos fazem pensar sobre nós mesmos. Essas noções parecem iguais, mas tem suas parciais separações. Considero que elas são cruciais para nossa emancipação pessoal e convívio social. Tudo começou quando me mudei para o centro da cidade, passando a dividir um apartamento com três desconhecidos que logo se tornaram amigos. Em julho de 2014, Giuliana, autora do prefácio, e eu conversávamos online sobre uma publicação do Humans of New York e, nesse papo, ela sugeriu que eu fizesse algo do gênero em Santa Maria. Fiquei em dúvida se seria possível e consultei outros amigos que me incentivaram. Decidido a tentar, no dia seguinte, 25, saí na rua um tanto perdido à procura de alguém que aceitasse falar algo e ser fotografado. No meio da Praça Saldanha Marinho, vi a estudante Flávia Nascimento, que entendeu a proposta do projeto e aceitou participar. Essa foi a primeira produção da iniciativa que leva o nome do município, mas não abarca exclusivamente seus moradores. Dessa forma plural, procurei enxergar importância em todas as pessoas. Muitas vezes, os grandes feitos são reconhecidos em nossa sociedade. Isso faz com que algumas pessoas passem a não perceber a relevância de suas histórias e sonhos, de seus pequenos atos ou do simples e complexo fato de existirem. Perspectivas de passado e futuro nos ajudam na formação de nossa consciência. Com elas, constatamos que a vida requer coragem para encarar nossas histórias e quem somos. Só que o mundo não gira ao nosso redor: existem mais 7 bilhões de indivíduos por aí, e aumentando.


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Tanto que o número de opções de pessoas fotografáveis me deixava bastante ansioso – “qual a próxima foto?”, eu vivia me perguntando – exigindo algumas delimitações para sistematizar os trabalhos. Afinal, eu levava em conta que o número de histórias tende ao infinito; que a maioria das histórias me tomava horas de transcrição; e, por último, as limitações particulares da minha vida contando as histórias possíveis a cada dois dias. Pensando nisso, achei melhor priorizar algumas pessoas que representassem determinados grupos sociais ou que pudessem ter ideias progressistas que não fossem muito divulgadas pelos meios de comunicação. Por esses cálculos, eu teria relatos e fotos com grande carga emocional. Passava horas ouvindo e transcrevendo entrevistas, imaginando se aquilo estava compreensível. Se carregava algo de relevante ainda que falasse de situações difíceis. Se não acarretaria em problemas para a pessoa retratada. Como retorno imediato disso, havia os que comentavam ter um pouco da curiosidade satisfeita ao conhecer a história de alguém que viam todo dia, mas nunca tinham parado para conversar. E havia os que chegavam falando “como eu não vejo isso?”. Após finalizar algumas conversas, lembro de que sentia um alívio no coração. Uma sensação de que algo verdadeiro foi compartilhado e que poderia ser lido, relido e repensado com gosto pelos leitores. Espero que todas e todos, não só os 17 mil perfis que apreciavam a página no site de rede social, sintam pelo menos um pouco disso. Não só passem os olhos nos textos, não só admirem as fotos, não só “entre por um ouvido e saia por outro”, mas pensem por si. Para que isso ocorra, as diferenças humanas precisam ser apoiadas. Em um centro urbano que todos os dias atrai pessoas de vários locais, a diversidade se faz presente. E deve ser registrada e impulsionada para percebermos como nossas diferenças e equidades se relacionam nesse mundo socialmente desigual que às vezes nos confunde com tantas culturas e migrações. Então, um dos objetivos era este: retratar os mais diversos modos de ser e falar para termos um conhecimento sobre as variações humanas. Cada pessoa possui origens e condições diferentes, mas pode ter necessidades como as nossas. Cada um vive como pode e/ou como quer – ainda assim aqui estamos nós respirando o mesmo ar e nossas individualidades convergindo na totalidade. Não é possível comparar nenhuma pessoa com outra, tampouco nos compararmos, como se todos partíssemos de iguais circunstâncias materiais e pudéssemos chegar num modo “bem sucedido” de “vencer na vida”. Portanto, precisamos reconhecer nossas diferenças humanas, pois, se não o fizermos, promovemos a invisibilidade, a anulação da diversidade, uma violência com os outros e conosco. Porém, claro, não se


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pode reduzir ninguém a uma diferença estereotipada. Este é o denominador comum: antes de tudo, pessoas, com diferenças. E chegamos a última compreensão que gostaria de destacar: as diferenças das outras pessoas nos fazem pensar sobre nós mesmos. O reconhecimento traz autoconhecimento. Pode surgir a questão: não seríamos “todos humanos”? É preciso ultrapassar o senso comum e buscar um pensamento não excludente. Nós não somos uma pessoa só, de uma única história. Nós somos seres complexos e, em vários momentos, contraditórios. Quando pensamos em mulheres e homens não podemos apenas ter em mente uma definição biológica, mas, sim, as diversas possibilidades culturais, familiares, profissionais, e um emaranhado de tudo isso. Esse reconhecimento expande a compreensão das nossas potencialidades como indivíduos. Ser um trabalhador, ter uma deficiência, possuir uma família, gostar de determinadas coisas, são possibilidades de diferenças as quais nós e os outros estamos propensos. Vamos constituindo nossa identidade a partir do reconhecimento das outras identidades, assumindo que somos parte sim e parte não delas. Essa identificação ocorre por meio da empatia: a compreensão da situação de quem está fora baseada em quem somos internamente. Mas podemos ir além. Não adianta nada apenas olharmos os outros se não conseguimos nos comunicar e nos organizar para superar as opressões e dificuldades a que somos submetidos. Não basta assistir e se colocar mentalmente no lugar do outro, é preciso fazer algo, mantendo consciência de nossas falas e ações no dia-a-dia. Em suma, essas foram as três impressões que surgiram ao longo do processo de toda a produção dessa obra selecionada pelo edital da Lei do Livro. Posso dizer que era o meio de publicação mais coerente que eu planejava, do público para o público, pois dizia a todos os fotografados que gostaria de fazer um livro gratuito com as fotos. Já tinha desistido de publicar por alguma editora quando recebi a notícia que fui contemplado por essa política pública cultural, na qual o poder legislativo municipal cumpre a obrigação de fornecer cultura ao trabalhador que o sustenta. Dessa maneira gratuita e inclusiva, pessoas que não têm acesso à internet e que não possuem condições de comprar um fotolivro, podem acessar esse item de valor de impressão alto por si. Ainda deixo aqui minha sugestão de que o edital seja mais elaborado e que passe a reservar parte dos recursos para o trabalho de diagramação e de revisão da obra. Nesta versão física, as fotos são apresentadas com as datas de publicação e com trechos das entrevistas – o espaço do papel obrigou essa seleção. Agradeço a todos os retratados pelos ensinamentos, pela confiança na minha responsabilidade e por posarem para esse estranho que eu era até


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me conhecerem. Não gosto de dar garantias quando não tenho certeza, por isso não sei se um dia voltarei a realizar o projeto da forma como era inicialmente. Todas as fotos publicadas são trabalhos meus, mas não me sentiria bem lucrando com essa produção comunitária, pois acredito que existem coisas que vão além do dinheiro. Evitando me contradizer futuramente (o que sempre é possível de acontecer), deixo em aberto e afirmo que estou satisfeito – por agora acho melhor assim. Vamos ver. Vamos fazer nossas histórias, ideias e vidas por enquanto. A História foi e é realizada tanto por líderes e coletivos quanto pelas pessoas que os apoiaram. Cada um do seu jeito: autônomos, mas conscientes de serem importantes uns para os outros. Sem medo de pensar e mostrar quem somos, vamos viver tudo que há pra viver. Ainda há tempo.

//MARCELO DE FRANCESCHI DOS SANTOS// São Sepé, dezembro de 2016


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Uma vez uma menininha negra tava andando com a mãe dela e me viu e falou “olha, mãe, que massa”. //FLÁVIA NASCIMENTO// 25 DE JULHO DE 2014


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Aqui é mucho mejor. Em nova York, las personas no conversam. No hacen como eu e você. Se no se conhecem, no conversam. Ningum palestino está facendo festa. O pior é Israel está atirando bomba em escolas, crianças. Estas no tem culpa de nada. O SENHOR TEM PARENTES, RELATIVES, LÁ? COMO ESTÃO? Tenho, estão a três horas de Gaza. So, I hope this stop. //NADIO ZEYAD, LOLO DARAGHMEH E FAMÍLIA// 26 DE JULHO DE 2014


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COMO A SENHORA ESTÁ, NO QUE TEM MAIS PENSADO NESSE UM ANO E MEIO? Pra mim, é como se o mundo tivesse parado. A gente fica se perguntando e não acha uma resposta. E só vamos achar uma resposta quando estivermos juntos com eles. Eu não perdi um filho, eu perdi 242 filhos. Como a gente colocou ali, a gente só volta a sorrir depois que a Justiça tiver sido feita. Pra uma mãe, é muito duro aceitar isso. É um pedaço da gente que vai embora. E a gente fica se perguntando: por que não nós ao invés deles? A SENHORA PERDEU QUEM? O Leandro, militar da Base, tava no segundo ano da arquivologia da UFSM. //NEUSA NUNES// 27 DE JULHO DE 2014


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VOCÊS ESTÃO JUNTOS HÁ QUANTO TEMPO? MARIA CHAGAS: 44 anos juntos. É uma vida, né? E QUAL O SEGREDO PRA SE MANTEREM TANTO TEMPO JUNTOS? MARIA CHAGAS: O segredo? Compreensão, carinho e muito amor, principalmente. JOSÉ CHAGAS: Amor e também tolerância. 28 DE JULHO DE 2014


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O serviço, independente de tu ser homem ou mulher, eles não vão te escalar por tu ser mulher ou por tu ser homem. Eles só procuram não escalar só mulher. Colocam mulher e homem no serviço junto, né? Mas não fazem distinção nenhuma dentro da Brigada. //LETIELE VIANA// 29 DE JULHO DE 2014

POR QUE TU ADORA JOY DIVISION? Porque é uma banda muito boa, que marcou uns tempos atrás. Isso eu aprendi com meu tio que morreu. O nome dele era Melvin Ruviaro. Uma das maiores saudades é quando passávamos a madrugada inteira olhando filmes, jogando videogame e também do abraço apertado, da risada e do carinho dele por mim. //EDUARDA REIS// 06 DE AGOSTO DE 2014


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O morango tá vinte a caixa e cinco a bandeja. Trabalhamos o dia todo, até terminar as frutas. Se não vender, não ganha. Sempre foi assim a venda do morango, nas ruas, nas casas. Nós somos colegas de trabalho, de Carazinho. Viemos e voltamos no mesmo dia. Tem bastante concorrência. É um risco né, que tu corre. Se tu perder, tem que pagar pro produtor. Mas é bem mais fácil vender na rua do que numa fruteira. Tá na rua, tá à mostra, né? //TIAGO MARTINS E GUSTAVO OLIVEIRA// 31 DE JULHO DE 2014


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Eu sou de Santa Maria, tô sempre aqui, só quando chove que não estou. TU NÃO TE ARREPENDE DE TER COMEÇADO A FAZER ARTESANATO? Não, nem um pouco. Me arrependo de não ter começado antes. QUANDO FOI QUE TE SENTIU MAIS FELIZ NA TUA VIDA? [Ri] Que viagem. Ah, não sei. Hoje, acordei [Sorri]. //DENISE LOVATTO// 01 DE AGOSTO DE 2014


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Sempre quis ser promotor [de Justiça]. Me lembro que na sala de aula, desde o pré [escola], nas brigas, eu queria ser o conciliador dos meus colegas. Sempre tava fazendo a mediação, e depois fui conselheiro escolar. E nos chamavam, ficávamos conversando sobre esses problemas grandes que tinha, que era de brigas entre alunos e acabávamos separando, não dando suspensão, que eu achava massacrante. E isso me puxou pro Direito. Acho que se fazer justiça é importante. //DION RIBEIRO// 02 DE AGOSTO DE 2014


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Só ando de longboard [esqueite com formato mais alongado projetado para velocidades maiores]. Porque ele desenvolve melhor em qualquer lugar. Qualquer degrauzinho ele não trava. E é bom porque anda, é mais de velocidade, não é de ficar parado fazendo manobra. Até tem manobras que se chamam drifts e slides, que a gente vem embalado e desliza com a mão no chão. A gente tem luva. É só tomar cuidado, a maioria dos lugares que a gente anda quase não tem movimento de carro. E a gente tem capacete também que é pra segurança de todo mundo. //DIEGO MILANI// 04 DE AGOSTO DE 2014


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O SENHOR NÃO TEM CAVALO? Não. A única coisa que eu queria ter na vida era um cavalo e uma carroça. Pra trabalhar, né? Porque isso aí o cara cansa na volta do dia. Eu às vezes eu chego em casa tomo um banho, descanso, tomo o meu chimarrão. Mas também quando eu vou dormir é uma paulada. E eu queria ter porque a gente puxa bem, trabalha bem. Eu nunca tive essa oportunidade de ter uma carroça. O SENHOR MORA EM QUE BAIRRO DAQUI? Bairro Perpétuo Socorro. //GILMAR MARTINS SOARES// 05 DE AGOSTO DE 2014


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QUAL SEU NOME? Claudião, o tubarão, o torcedor do periquito leão, o time do nosso coração. //CLAÚDIO DE LIMA// 07 DE AGOSTO DE 2014

Foi difícil conseguir o skate. Meu pai não queria me dar. Mas daí eu roubei o cartão dele e comprei. Ele não falou nada, ele só me xingou. Daí ele queria quebrar o skate, daí eu falei que ia embora, daí ele falou ‘tá, deixa ela ficar com o skate’. E deu. COMO TU TE SENTIU QUANDO CONSEGUIU O SKATE? Uou! [Levanta os braços] Legal! //THAMIRES SODRÉ// 12 DE AGOSTO DE 2014


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A minha mãe ela falou que, demorou uma semana, daí ela já conseguia diferenciar pelo choro. As pessoas elas geralmente demoram, uns três meses, pra ver quem é quem. É que como a gente é Ana, chamam a gente de Ana, daí não confundem. E OS PAIS DE VOCÊS BOTARAM O NOME PRA ISSO? Acho que não, sei lá, acho que mais pra combinar mesmo. Só facilitaram. As pessoas sempre tentam achar alguma coisa, pra diferenciar. //ANA PAULA E ANA LUIZA CEOLIN POLO// 08 DE AGOSTO DE 2014


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TU ACHA CANTADA DE RUA LEGAL? Não, não, é péssima. É uma falta de respeito. Eles fazem isso muito pouco pra querer realmente demonstrar o interesse na menina e mais porque querem demonstrar que mandam na rua, que eles ainda são os donos daquele espaço público e as mulheres inseridas nesse espaço público, então também fariam parte desse domínio, né, dos homens. Eu vejo um pouco assim. O QUE TU GOSTARIA QUE OS HOMENS TIVESSEM EM MENTE ANTES DE AGIREM ASSIM? Acima de tudo tem que pensar que ninguém tem o direito de te chamar de qualquer coisa na rua porque tu tá na rua, é uma questão de que ninguém merece isso. Não é porque poderia ser tua mãe, tua irmã ou tua tia. Se isso te faz pensar que tá errado, tudo bem. Mas desde que parem de fazer isso. //LÚRIAN POZZOBON// 20 DE MARÇO DE 2015


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POR QUE DO NOME AMENDOIM VS NUTS? É que meu sogro começou o negócio com um colombiano, no Chile. E eles tavam juntos e o cara viu que deu certo, em Santiago do Chile, e tirou o meu sogro fora. Deu uma sacanagem. Se espalhou, o cara ficou bem. E meu sogro pensou o seguinte ‘Vou ir pro Brasil, vou me instalar lá, vou por o nome de Amendoim versus Nuts’, aí vai ficar o nome do Amendoim aqui do Brasil versus o Nuts daquele lá, entende? //BARBARA PIRES E NATAN NASCIMENTO// 13 DE AGOSTO DE 2014


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COMO FOI A REAÇÃO DA TUA MÃE QUANDO TU COMEÇOU A TE INTERESSAR POR TRICÔ? Primeiro ela disse ‘ah, pega lá e faz’. Minha mãe é que nem eu né. Daí eu comecei a pegar daí ela começou a me ensinar. Daí ela viu que eu queria mesmo aprender. O resto flui. Mas ela ficou contente. Porque antes a gente tinha um certo distanciamento, sei lá, porque parece que... Foi uma forma de desobediência não seguir os caminhos assim. Mas, depois tu vê que aquilo é massa, entendeu? Valoriza. Mas é no decorrer da vida que a gente vai valorizando as coisas. //GRAZIELE ROSSI// 15 DE AGOSTO DE 2014


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COMO O SENHOR ANUNCIA O SEU PRODUTO? GRITA OU SÓ BUZINA? Ó [Pressiona a buzina]: pé, pé, pé. Só buzino e aí o pessoal já vem. Vendo pra criança, adultos e até idosos. Aqui eu ando por tudo. Pra cá é melhor, né, as pessoas a gente se dá mais. //PEDRO RODRIGUES// 16 DE AGOSTO DE 2014


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COMO TU TE SENTE E PORQUE TU FAZ COSPLAY [ATIVIDADE DE SE VESTIR COMO UM PERSONAGEM REAL OU FICCIONAL PARA INTERPRETÁ-LO]? Eu gosto de desenho, vou trabalhar com ilustração. É um mundo que liberta da realidade chata daí tu vai pros livros, vai pros desenhos. É um jeito de se divertir mesmo, um hobby. Até te possibilita criar coisas. Se tu gosta de costurar, fazer maquiagem; aprendi muita coisa de maquiagem por causa do cosplay. Eu não usava maquiagem nenhuma antes, mas pro cosplay eu aprendi um monte de coisa legal. //TERESA KUREK// 17 DE AGOSTO DE 2014


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Uma coisa boa é o apoio dos outros praticantes [do Parkour, esporte que consiste em se deslocar de um ponto a outro da maneira mais rápida e eficiente possível] em relação ao que tu vai fazer. No máximo a gente só se esfolou, nunca ninguém quebrou nada. A gente fica tentando um movimento várias e várias vezes, nem sempre a gente consegue naquele dia. Pelo menos pra mim me ajudou bastante na questão da persistência, sabe? De tu não desistir na primeira tentativa, eu levei isso pra outros aspectos da minha vida. //PRISCILA DOTTO BALBINOT// 18 DE AGOSTO DE 2014


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TUA REVOLTA VEM DE ONDE? Sei lá, da exclusão. Somos bem pobres, moro com meus pais até hoje. Casinha simples, meu quarto é de madeira. É pobreza mesmo, mas estamos aí na luta. Sempre me senti sozinho mesmo. Desde o colégio. Tinha uns mais ricos, o cara sempre queria ter o que o outro tinha e não podia, essas coisa. Mas nunca fui de roubar o que o outro tem. Tem muitos que eu conheço “ah hoje eu tô de cara, tenho que pixar”, sabe? Briga com a família e vai pixar. Melhor do que tá usando droga, tá cheirando. Nós, os pixadores, só fumamos uma macoinha, toma uma cerveja. Tanto pobre quanto rico. Tem amigo bem de vida que pixa. 19 DE AGOSTO DE 2014


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A Alice tem 10 meses e nesse tempo nunca percebi nenhum olhar de reprovação. Mas eu não tenho vergonha, não. Sim, em outros lugares foi até proibido, eu li isso. Que foi até criticado, que é proibido, que não se pode dar de mamar em público. Eu acho que não tem nada a ver. Acho que não deveria ser proibido por que como é que vai deixar uma criança com fome, sendo que ela se alimenta do peito? Tem gente que tem preconceitos, né? Não ligo pro que os outros pensam, se importam ou o que falam. Não vou mudar o meu jeito de pensar por causa dos outros. É uma coisa boa pro filho da gente. Na verdade, nós somos o país que é puro preconceito. ‘Ai porque é lésbica, ou é bissexual, ou é travesti, ou é isso, aquilo’. Cabeça muito fechada eu acho. Já a minha não é assim. //LUANA BALLESTEROS// 22 DE AGOSTO DE 2014


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TU ACHA MUITO DIFÍCIL, NA TUA IDADE, ESCOLHER QUAL CURSO FAZER? Muito. Como abriu o edital pra UFSM, eu não sei bem ainda o que eu quero. É uma situação bem complicada. Porque são muitos cursos e os interesses são variados. Tu não sabe exatamente o que tu quer, sabe? QUAIS CURSOS TU TÁ EM DÚVIDA? Agropecuária e Artes Cênicas. Bem diferentes também. Pra ver né, perdida. E SE ERRAR NA ESCOLHA? Daí tenta de novo. O bom seria acertar logo de primeira, mas pode ser que isso não aconteça. //MELINE SCHULLER// 24 DE AGOSTO DE 2014


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O SENHOR SE IMPORTA DOS SEUS FILHOS NÃO TEREM SEGUIDO A CARREIRA DE FARMACÊUTICO? Não, não, isso aí cada um segue o que quer, né? Cada um segue, segue o que já tá traçado na tua vida. Antes de tu começar a engatinhar “ah esse guri aí vai ser atleta, vai ser corredor”. Já tá traçado. //JOÃO SOUZA MARQUES// 25 DE AGOSTO DE 2014


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O QUE SENHORA ACHA DA IDEIA DE QUE NÃO SE DEVE FALAR SOBRE A TRAGÉDIA DA BOATE KISS? Eu acho que tem que falar pra não cair no esquecimento. Nós não podemos fingir uma coisa que é real. Que foi a ganância. Que foi o trocatroca que levou acontecer isso aí né. A SENHORA PERDEU QUEM? Augusto César Neves. Estava cheio de sonhos, de projetos. E simplesmente esses projetos foram junto com ele. Eu sonhei na minha vida um dia eu ter netos. Porque eu acho a coisa mais linda. Neto é a continuação da minha vida. E essa continuação eu não vou ter mais porque foi nos arrancada essa continuação. //MARIA APARECIDA NEVES// 27 DE AGOSTO DE 2014


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COMO É A RELAÇÃO COM A TUA FILHA E OS QUADRINHOS? Eu acho que qualquer leitura, independente de qual ela seja, passando uma mensagem legal é super proveitosa. Ela começou a ter contato com mangá com as feiras que a gente faz. Então ela acabou vendo e participando da feira e jogando video game. Às vezes, quando eu chego em casa, ela tá lendo mangá e eu pergunto pra ela “quem é esse personagem, o que ele faz?” e ela fala e a gente conversa sobre isso. É bem legal. Eu dou margem pra ela expressar os mangás que ela gosta. A escolha é dela. //LUIZ ABEL DE OLIVEIRA// 31 DE AGOSTO DE 2014


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Eu sou do movimento sindical, do SinproRS, sindicato dos professores privados, há 10 anos. E tu sabe que o movimento sindical está sempre lutando. Ou é questões salariais ou é melhores condições de trabalho. Principalmente professor que é uma categoria ao longo desses anos todos tá muito desmoralizada. Não tem aquele reconhecimento que professor deveria ter. O movimento sindical faz com que a gente esteja sempre na busca de melhorias não só para nós mas para o povo em geral. É uma formação de não concordar com tudo que é imposto só porque vem de alguém lá de cima, de uma autoridade de dentro do teu trabalho. //MARIA LÚCIA COELHO CORRÊA// 01 DE SETEMBRO DE 2014


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Às vezes eu brinco, “ah vou te botar num container de novo na rua” mas ele que aproximou a mãe e todo mundo. Ele que fez o diferencial lá em casa. A galera aqui toda conhece. Eu cheguei aqui, ele tava sem nome, e os guris começaram a dar nome de tudo que é coisa que tu imaginar. Aí um falou assim “o meu, esse bicho tem cara de murruga, tá sempre no meio da galera, sempre incomodando, bota o nome de Murruga”. E eu fiquei meio assim até explicar pra mãe, mas rolou, a mãe gostou. E eu acho incrível, tipo, quando a mãe bota a chave no portão da frente e eu sei que é ela, e ele antes de ela botar a chave, já tá levantando e indo pra porta esperar. //WILLIAM VINDERFELTS// 02 DE SETEMBRO DE 2014


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PRA TI, O QUE É O CO-RAP? O nome é Coletivo de Resistência Artística Periférica, né? Eu dizia prum amigo meu “tá, sabe uma roda gigante? Imagina ela. Ela é o hip hop e se for multiplicada em 10 em 1000, então o Co-rap é uma parte ali, assim como tantos coletivos e pessoas, que ajudam a girar esse movimento gigantesco”. O Co-rap eu vejo como uma fonte que dá um movimento também pra essa roda gigante. Eu não saberia descrever o Co-rap em si. É tudo junto, é rua, é periferia, é luta, tem tantas outras lutas no meio. Sei que é uma ferramenta que me potencializa assim como potencializa o hip hop também. //LETÍCIA PRATES// 05 DE SETEMBRO DE 2014


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Ele vai fazer dois anos, a mãe dele que fez o penteado. O cabelo dele já tava grande, ficava um pouco arrepiado dos lados, e a gente pensou: “ah, vamos passar a máquina pra ver como é que fica”, e ficou legal. Agora tá sem nada, mas quando põe o gel fica espetadão, só que hoje a gente saiu na correria. //DANILO BACHINSKI// 07 DE SETEMBRO DE 2014

A minha mãe me ensinou de um jeito: “meu filho, uma palavra é mais doída que um tapa no teu rosto”. É aquele ditado: “eu sou pelo direito”. O senhor errou, eu posso lhe repreender. Eu errei, pode me repreender, eu vou aceitar, mas aí tem que ter cabeça pra aceitar, né? //GETÚLIO RAMOS MACHADO// 14 DE JULHO DE 2016


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Esse momento tá sendo muito bacana, tu vê que como estudante tu tá inserido num grupo, tu se sente representado, todo mundo tá aqui lutando pela mesma causa, a gente tá lutando contra alguma coisa que fere a autonomia dos estudantes, tu vê que como grupo tu reage, sabe? //JOÃO PEDRO THEOBALD// 08 DE OUTUBRO DE 2014


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Se criar com mentira e aceitar tudo que tão nos impondo? E tudo que acontece? Tem muitas coisas aí que acontece que parece que o ser humano já se acostumou a ouvir e nem dá bola. Muitas coisas que acontecem de bom pra gente que eles dizem que fazem não é nada mais nada menos que reflexo do nosso próprio trabalho, velho. Porque a gente vai trabalhar tanto tempo e não vai receber nada, a gente tem que receber algo. Já que nos tiram tanto. Tu tá num país democrático e tu manda dois jovens se criar, sendo que a gente tem o argumento. A gente não tá só mandando ninguém a merda, não tem escrito merda nem nada aí. Eu prefiro fazer a nossa política punk, essa política suja, contracultura, do que fazer aquela política que eles mentem um monte e só impõem ideia pra gente aceitar, entende? //LEONIDAS CABIDE E ISADORA PODRERA// 09 DE SETEMBRO DE 2014


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JÁ PEDIRAM PRA SENHORA FAZER UMA BONECA NEGRA OU ÍNDIA? Sim, eu faço também, agora eu tô sem nenhuma, mas eu tinha umas quatro. E já vendi também pra pessoas brancas que encomendaram. Uma vez, uma avó disse assim “ah eu vou levar pra minha neta porque eu quero que ela veja que a cor não é só branca de boneca que tem. Eu quero mostrar pra ela que a gente tem que dar valor pros dois tipos de boneca”. //LENITA ROZIN DOS SANTOS// 12 DE SETEMBRO DE 2014


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Pero, bueno, continuamos la gira, la gente es muy cojedora, le gusta lo que hacemos de trabajo, que desempenãmos, y bueno, no nos podemos quejar, la gente ha sido muy generosa también. Los niños estan más tranquilitos, las personas adultas se encantan y siempre nos pidem que regresemos. Todas las cosas así. Todos los músicos buscamos eso: que la gente se sienta bien, que no se sienta molesta. //YAWAR MAYU// 14 DE SETEMBRO DE 2014


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CRISTIAN FLORES: Nossa compañía es Circo Corsápio. Corsápio es un animal de fantasía. Es um sapo-escorpion con dientes que vive en el bosque. E el Corsápio se alimenta de buena energía, positiva, e es el guardíon del bosque. E nosotros cuidamos del mundo, no nos gusta la mala energia, nosotros vamos a lugares e vamos con buena energia. SOL SCHNEE: A mí, me encanta que la gente le guste, que sonríe, que te aplauda, eso me llena, es como que están valorando un montao lo que yo estoy haciendo, esto me encanta. Eso esta bueno porque yo voy caminando por la calle e “ô moça, me empresta o isqueiro?”, e capaz que la moça segue falando conmigo. E terminamos tenendo muchas cosas en común. 28 DE DEZEMBRO DE 2015


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TEM ALGUM MOMENTO LEGAL QUE VOCÊS GOSTAM DE LEMBRAR? ROBERTO OLIVEIRA: Ah, não sei. Foi um dia que a gente tava ali no lado daí a gente fez umas garrafinhas de nebulosa, que põe algodão. TAIS TASSINARI: Imita a visão duma nebulosa, né? No caso aí se faz com água engarrafada e corante. Daí a gente se pintou tudo, e fomos no mercado cheios de glitter. Foi um dia bem legal. 17 DE SETEMBRO DE 2014


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O QUE VOCÊS DIRIAM PRA QUEM TEM DIFICULDADES EM SE ACEITAR OU TEM PROBLEMAS DE FALAR PRA FAMÍLIA? RODRIGO ARNOLD: Não esperar nada fácil no caminho, mas não tem como tu esconder isso por muito tempo. E se esconder tu não vai ser uma pessoa completamente feliz. JOSIMAR VALCARENGHI: Olha, que não é fácil. Mas é libertador. Se tu ficar dentro do armário, tu vai levar uma vida a parte. Tu não vai levar a vida que tu levaria se tu fosse tu mesmo. E a partir do momento que tu faz isso, tu se condiciona a ela e acaba aderindo ao que a sociedade impõe. É sufocante. Ninguém escolhe ser gay. Eu acho que a partir do momento que a pessoa invade o teu espaço e te afeta de alguma maneira, tu tem o direito de se defender. Agora, a orientação sexual não interfere em nada na vida de ninguém. Eu não preciso que ninguém pague minhas contas e quem me ajuda são pessoas que me aceitam, porque é minha família. Eu não tô afetando a sociedade em nada e o fato de ser gay também não afeta. 18 DE SETEMBRO DE 2014


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COMO VOCÊS SE CONHECERAM? ELOISA VIERA: Nós nos conhecemos na época, tinha aquelas festas infantis no Caixeral. Eu fui pra levar alguém, ela foi pra levar alguém, e daí nós nos conhecemos lá. Nós tínhamos o quê? Catorze anos. LILIANI ALVES: Nós começamos nos falando via internet. E a gente começou a namorar quinze dias depois. E continuamos. A gente nem se conhecia direito, e deu certo. 19 DE SETEMBRO DE 2014


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A gente tem uma gincana no colégio Fátima que a gente participa entre as turmas e aí com isso a gente ganha pontos dependendo do alimento e aí a gente ganha com a turma entendeu? A gente doa tudo que é arrecadado das turmas pra uma instituição de caridade. Teve um senhor ontem que ele era desses que ficam aí e não tem nada e ele tirou dez centavos do bolso e deu pra nós e eu pensei “meu Deus, ele não tinha como jantar e deu pra nós um dinheiro que ele tinha”. Isso pra mim um negócio que me deixou meio... E uma mulher também ela pegou e tava passando, viu, e deu dez pila. E eu fiquei “pô, me dá um abraço”. //MARIANA MIOLO, MARIANA IRIARTE, MAIANE ALMEIDA, VITÓRIA HUSEIN E JOÃO PEDRO MAIA// 23 DE SETEMBRO DE 2014


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Tem muitos mapas históricos que às vezes o cara precisa eu consigo pra ele. E o pessoal emoldura, dá até um serviço a mais pro pessoal das vidraçarias. O mapa em geral o povo vê ele, quer saber qual é a dimensão do mundo todo ali. Quer saber onde é a Europa, a África, a Ásia, então tem tudo ali. Ele te projeta, tem um campo, uma visão, né? E na internet o cara “ah, eu quero ver tal lugar”, aí ele vai lá e puxa tal lugar ele vai ver a rua ali, não vai ter a dimensão de como é que é tal lugar. E eu fico aí, oferecendo mapa e contagiando com alegria nesse mundo que a gente tá levando aí é uma selva de pedra, ninguém quer se entender com ninguém. //LUIS SIQUEIRA// 24 DE SETEMBRO DE 2014


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Estamos com um problema de fiscalização. Estavam alegando concorrência com os lojistas. Todo mundo tava conversando na boa, tanto que a gente perguntou pra eles “não, mas quem sabe a gente propondo lugares até a gente conseguir uma audiência na Câmara de Vereadores a gente trabalha” e daí o representante da Prefeitura disse assim: “mas por que vocês não arranjam um trabalho mais digno?”. Daí chegamos a levantar a voz “O que que tu tá dizendo?” daí ele disse: “não, vocês me entenderam mal”. E algumas pessoas que tavam cruzando pararam e disseram “não, deixa eles trabalhar”. A gente só quer nosso espaço que a gente trabalhava antes, sabe? E esse é o nosso sustento, a gente só quer trabalhar e eles tão empacando e ficam nos enrolando. A gente tá nessa luta aí. //DENISE LOVATTO E DANIELE BROMBERG// 26 DE SETEMBRO DE 2014


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Se a gente não reagir as coisas continuam acontecendo. A SENHORA PERDEU QUEM? Eu perdi o meu filho, de vinte e três anos, Ericson Avila dos Santos. //JANDIRA AVILA DOS SANTOS// 28 DE SETEMBRO DE 2014

TU PERCEBE A REAÇÃO DAS PESSOAS OU DE CRIANÇAS? Mais pela barba, às vezes. Eu lembro uma vez no [Colégio Estadual Coronel] Pilar a gente foi lá e um piazinho veio assim “Ei, mas que barba grande! Eu nunca vi alguém nessa idade com a barba tão grande!”. Sabe uns negócio assim, mas nada demais. E no trabalho em seguida volta e meia vem uma tia e fala “ah, vamos fazer um banho de creme nesse teu cabelo aí”. //CASSIO LEMOS// 30 DE SETEMBRO DE 2014


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Eu venho estudar por causa dela. Eu gosto daqui porque aqui tu vê nichos diferentes, pessoas diferentes, fazendo coisas diferentes. Por exemplo, aqui agora o pessoal tá fazendo um encontro bem legal acho que é sobre Hip Hop eles tão conversando, e eu vejo aqui seguido que acontece os eventos pra cachorrinhos que fazem dos projetos pra cães. E a gente já veio várias vezes aqui com violão e começa a tocar e quando vê todo mundo se junta e começa a cantar junto. Tem essa integração das pessoas, elas não tem diferença aqui, sabe? É como se todos fossem pessoas buscando por uma área de lazer pra ter um momento legal no dia. //RAQUEL MARTINS// 02 DE OUTUBRO DE 2014


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Quando eu comecei a cantar era muito criminalizado quem cantava rap. Hoje, qualquer evento cultural, nós somos bem recebidos. Já participamos de várias palestras na UFSM, na Unifra. Fui até numa palestra na UFSM sobre pichação e grafite e era no curso de Educação Física e fizeram uma roda de debate, eu e mais outros, e eu falei: “pô, como é que tu vai ser professor”, falei prum cara que estava mais alterado, “vai se formar e tu vai dar aula num colégio de uma vila e vai ser contra uma cultura que é de quase todos que estão na tua sala de aula, é bom que tu procure conhecer o porquê daquilo, entendeu?”. //CAUE JAQUES// 04 DE OUTUBRO DE 2014


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Outro dia teve um outro que vinha vindo e daí quando chegou aqui disse: “eu quero um churros daquela tia” daí a mulher olhou pra mim e disse: “ele parou em tudo que é canto desde lá do começo da [Rua do] Acampamento e não quis churros em lugar nenhum. É que tu é uma pessoa boa, tu tem uma aura boa por isso que ele quis um”, a mulher disse pra mim. Tem gente que vem de Restinga Seca, São Pedro, Santiago, Cacequi, Tupã, Porto Alegre que não vai embora sem comer um churros. //JACIMARA MESQUITA MARQUES// 07 DE OUTUBRO DE 2014


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O contato com a natureza, coisas assim, me fizeram entrar pro Escotismo. Eu até conseguia amizades no colégio, mas o que eu sinto falta é que, por exemplo, num grupo de escoteiro todo mundo vira quase uma família. Também as coisas que o escotismo prega, boas ações. Tu aprende a trabalhar em grupo. É um grupo e dentro desse grupo tem a tua patrulha, daí tu aprende a trabalhar com a patrulha e com o teu ramo. E coisas de competição, que no fim não importa a competição, é tá junto ali, praticar o escotismo. //ARIEL CARDOSO// 08 DE SETEMBRO DE 2014

Eu gosto muito de brincar com as palavras. E eu também faço oficinas de criações poéticas, porque na verdade eu só mostro pras pessoas que elas são capazes de criar poesias, tipo, tem pessoas que falam “Ah não sou criativa”. É mostrar que a poesia é acessível pra qualquer pessoa fazer. //MAURA NASCIMENTO// 07 DE JANEIRO DE 2016


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Se nós tivéssemos uma maneira de chegar a um acordo antes, não haveria necessidade, mas [a greve] é um meio que a gente tem, e todos os anos acontece por quê? Porque o banco e seus diretores não estão preocupados com as reivindicações. E não tem nada assim que seja fora do alcance. Eu sou bancária há 29 anos, sempre participei, desde o início da carreira. Sempre tivemos as conquistas através de lutas. Eu digo que as pessoas não tem que se acomodar. Tem dificuldade? Tem. É tenso? É tenso negociação, mas acho que se a gente quer, a gente tem que lutar. //MARGARETE ZABERLAN TOMASI// 10 DE OUTUBRO DE 2014


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O QUE VOCÊS MAIS GOSTAM NOS TEUS IRMÃOS? JAMILI: Brincar de pega-pega. ANDREI: Jogar futebol. OS DOIS SE DÃO BEM? PAIS: São quatro, na verdade. Às vezes, eles se pegam, por causa de brinquedo. Mas aí dois minutos depois já estão bem, já retomam a amizade de novo e estão tudo na brincadeira. 12 DE OUTUBRO DE 2014

É meu primeiro trabalho, meu problema era mais falar em público, mas tô tranquila agora. Eu estou gostando, quero seguir nessa carreira, fazer mestrado, doutorado. Tento produzir alguns artigos em casa, enviar pra revistas. É o que eu quero pra minha vida. //FRANCIELLE BUENO// 25 DE OUTUBRO DE 2014


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Eu gosto de vender, sempre trabalhei. Sábado e quando chove eu não vendo. Enquanto der, vou vendendo. Eu tô com setenta e cinco já, então pra ficar parado em casa tu morre, tu ficar atirado, vendo televisão. Tu não aguenta né, eu penso assim. //IVO FERNANDES RIBEIRO// 14 DE OUTUBRO DE 2014

A gente trabalhando sério, tudo se resolve. A gente faz o que gosta, sempre com carinho e com amor. Pra eu voltar, só se for um trabalho muito sério, um projeto que considere o operador [de áudio] como integrante principal, como uma peça chave na coisa. Eu conheço sete estados do Brasil. Tudo trabalhando com áudio. //CARLOS AUGUSTO SANTOS DA SILVA// 13 DE JANEIRO DE 2016


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Procuro ler bastante durante o trabalho. Eu gosto de livro, alugo e compro. Sou sócio da Biblioteca Pública Municipal. Lá tem bastante livro bom. Um livro pra mim dura uma, duas semanas no máximo. Em casa tenho mais ou menos uns 100. O meu filho, de 11 anos, também gosta de ler, mais coisa da idade dele, ele também vai na Biblioteca. Quando tem a Feira do Livro ele fica empolgado, procura, lê bastante. Ele vê eu lendo, ele gosta. //ADRIANO SUTIL// 16 DE OUTUBRO DE 2014


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Eu penso assim que eu sou uma travesti privilegiada em ter a família que eu tenho. Que ao invés de me tirar eles querem me dar, eu é que não aceito. Eu levo um pão, frutas pra minha mãe e ela diz “não precisa”. Mas sabe o que é tu levar aquilo com amor? Se eu pudesse dar o mundo pra ela, eu daria. A gente quer sempre o melhor. Eu peço que os pais amem os seus filhos. Pode não parecer, mas eles têm sentimentos. Sofrem, e muito. Eu falo porque eu já senti na pele e já conversei com muitas. O amor supera muita coisa, dá força também. É o que os pais devem fazer, amar seus filhos de qualquer forma. Quem sabe não vai ser esse filho, esse gay que vai cuidar deles mais tarde, né? Depois do show da festa do vizinho sem preconceito, uma travesti pediu o microfone e desabafou “Não dê as costas pra uma travesti, pra um gay, dê a mão”. //CILENE ROSSI// 18 DE OUTUBRO DE 2014


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Eu recomendaria Swordplay [esporte que simula uma luta medieval] pra depois dos dezoito anos. Antes disso eu acho melhor uma arte marcial mais padrão. Porque primeiro a criança tem que ter a noção do corpo, tem que separar bem o corpo e o outro. Eu faço Psicologia na UFSM. Ele faz Veterinária. Aí vem toda uma questão, quando tu tá com uma arma tu não tá entrando em contato com o adversário, tu não se importa. E fica complicado tu deixar uma criança pequena se distanciar tanto do outro. //FILIPE SILVA E GUILHERME DALCIN// 23 DE OUTUBRO DE 2014


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Tem uma simpatia que dizem né, que o nenê se a gente botar só roupa nova não é bom, diz que é bom tu botar uma coisinha usada. E depois que eu comecei a comprar roupas usadas, eu só tive sorte, minha vida só deslanchou. E adoro sabe, eu adoro tá envolvida aqui com as minhas cliente que vêm. Mas é isso daí, não dá pra ficar rico mas dá pra ter um dinheirinho, viver bem, a gente tem que fazer da profissão da gente uma coisa que a gente se sinta bem. Não adianta tu ganhar muito dinheiro, mas assim tu ser infeliz. Nós estamos aqui no mundo pra fazer a diferença. //DIONÉIA TEIXEIRA// 25 DE JUNHO DE 2016


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Eu digo, as gurias faziam o trabalho de forma bem anônima, mas agora a gente tem que aparecer, mas aparecer não é a gente, é o trabalho. É o motivo que nos faz viver, sabe? Tem que aparecer porque a ONG tem que se perpetuar pelo trabalho que elas faziam. A SENHORA PERDEU QUEM? Vitória Dacorso Saccol. //VANDA DACORSO// 27 DE OUTUBRO DE 2014

Foi atividade da escola, toda turma da pré-escola dela foi fantasiada. Hoje em dia dificilmente fazem algo sobre o dia das bruxas, mas a escola dela faz. E ELA GOSTOU? Tanto que tá aí, nem tirou ainda. //JUJU VICENTE// 03 DE NOVEMBRO DE 2014


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PARA AS GURIAS QUE POSSAM DESCOBRIR QUE TÊM CÂNCER, O QUE TU DIRIA? Tem três coisas que foram fundamentais pra mim: amor, coragem e fé. O amor dos amigos, dos pais. Algumas mulheres não contam pras pessoas mais próximas com o intuito de protegê-las. Não façam isso! Tem que ter o apoio das pessoas que te amam. Outra coisa: tu vai ter que ter coragem. Vai chorar, vai ler coisas no google e se desesperar. Mas tu tem que ir em frente. Não pode fugir. E fé. Independente de religião, ter fé em alguma coisa, sabe, “isso veio pra me mostrar alguma coisa”, “foi pra melhorar, foi pra não me acontecer nada pior depois”. Tu tem que acreditar em alguma coisa, senão fica muito mais difícil. Tenham certeza que é possível vencer essa dor e que a vida melhora muito depois de um choque desses. //CAMILA MARQUES// 31 DE OUTUBRO DE 2014


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Eu sou camelô, eu tenho banca. Adoro a rua, adoro o ar, adoro ficar no meio da natureza, eu sou do povo, sabe? Não sou passarinho pra andar trancada. As crianças se atiram no chão por causa dos balões. Dali um minuto pode estourar mas eles só por verem um personagem que eles veem na televisão, eu acho que eles materializam na cabeça, né? Agora quero ver se eu consigo comprar uma motinho pra mim, porque da rua realmente eu consegui construir minha casa. //CLAUDIA SEVERO// 21 DE JANEIRO DE 2016


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Hay gente que recebe muito buona las personas, hay outra gente que no, que briga com um. Mas o povo brasileiro tem que trocar muitas cosas de pensamento. Em muitas partes, Rio, San Paulo, y aqui en sur, pensa que porque trabajo em la rua és um vagabundo y las cosas no son así. Yo faço malabares porque me gusta facer malabares, todo mundo tem que comer, procurar estar vestido, limpo, mesma coisa que todo mundo faz. La gente aqui pensa de forma diferente, pensa porque está em um auto que é melhor que qualquer pessoa. Falta tolerância um poquinho, tem que trocar essas cosas. Brasil é um povo que tiene que melhorar, como toda Latinoamérica. Gente que tem um poquinho de dinero piensa que és mais que los demais. //EDWIN ORDONEZ// 05 DE NOVEMBRO DE 2014


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No Uruguai tu vai fazer malabares no sinal, tu tá poluindo a cidade. Lá não deixam, é proibido, tu vai preso. Já fui preso duas vez. Foi mais por “desacato” entendeu, porque eu no aceito que eles venham me mandar. Aqui, até os PM me cumprimentam todo dia. Claro, tudo tem dificuldade, se não tivesse dificuldade no seria vida. Meu país tem bonitas praias, é liberado de cassinos. O vício das apostas é... Eu não sei eu tenho o vício de ser um palhaço. Tenho que me enxergar eu primeiro pra enxergar os outros. //ALEX// 07 DE NOVEMBRO DE 2014


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Eu fui fã do Mazzaropi desde guri. Eu ia no Cinema Imperial e ali tinha filme do Mazzaropi, Grande Otelo, Oscarito então eu vivia assistindo. Aí um dia em Tramandaí tomei uma cervejada e disse pro meu primo “Hoje eu vou imitar o Mazzaropi no centro”. Botei umas bota de borracha, uma bermuda, e fui fazer o show e recebi um bilhete. Comecei a dançar digo “tô contratado” que coisa boa. Que nada, me deram 5 minutos pra sair lá de dentro se não iam chamar a polícia. // ELENI GONÇALVES ZAHN E DEOCLIDES FLORES// 10 DE NOVEMBRO DE 2014


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Nós não viene aqui para motivo de nada. Nós vem aqui só para imigrante, para sair trabalhando. Para procurar cidade melhor para trabalho. Tem brasileiro saiu Portugal, mora Italia, mora Espanha porque eles forem lá, vivem lá? Procurar vida melhor para trabalho. Esse é imigrante. Nós também é só isso. Brasil é más forte que nosso país, a gente vem aqui para trabalhar, ganha alguma coisa, volta para seu país, pero no é coisa de guerra ou de passa fome. África é muito grande, nosso país nunca aconteceu guerra, no Senegal. O único país que não tem problema é nosso país. Imigrante tem em todo o lado do mundo. Americano, Estados Unidos, mora aqui no Brasil, brasileiro mora na Itália, italiano mora aqui no Brasil, esse é imigrante. Cada um tem o derecho de viver melhor. 11 DE NOVEMBRO DE 2014


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O que eu gostaria é que o pessoal continue com imagens boas na cabeça e sem preconceito contra ninguém que isso aí não leva nada, ninguém a lugar nenhum. Pelo contrário, só gera violência em cima de outras pessoas. E continuem a vida normal que nem todo mundo. E quem tiver a oportunidade de conhecer o nordeste lá é um dos melhores lugar mais bonitos que existe no Brasil pra se conhecer, aqui no sul também tem muito lugar bonito. Nós vamos dar uma melhorada aí nesse Brasil. //JOSENILDO CAVALCANTI// 14 DE NOVEMBRO DE 2014


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Eu sempre trabalhei com honestidade. Só que depois fiquei sozinha, parei de trabalhar, eles não queriam que eu trabalhasse aí eu digo: “que que eu vou fazer? Não sei fazer mais nada, não sou dondoca. Vou vender churrasquinho”. Aí faz oito anos que tô vendendo churrasquinho. Já briguei com muitos seguranças de ver darem laço nas criatura. Por mais que seja um marginal, ele tem direito de tu chamar a Brigada e entregar. Já comprei muita briga na rua. Já me disseram assim: “tu tem muita pena de pessoas que usam drogas porque teus filhos já usaram” e eu digo “Graças a Deus que não”. Cada um aproveitou as oportunidades, né? Então eu sou uma pessoa feliz. //OLGA BITTENCOURT// 17 DE NOVEMBRO DE 2014


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Eu gosto do meu trabalho porque o carrinho é meu mesmo. Se eu quiser trabalhar, eu trabalho; se eu não quiser, eu descanso. A gurizada hoje não ouve muito a gente. Não adianta, eles brigam quando a gente aconselha eles. Eu sou de Caçapava do Sul, vim pra cidade e me dou com todo mundo, não me envolvo com nada de errado. //ANTÔNIO RODRIGUES// 19 DE NOVEMBRO DE 2014

Logo que eu comecei, eram poucas mulheres, daí as pessoas “Ah, isso é serviço de homem, que tu quer?”. Mas eu resolvi começar. //EVA JANDIMARA MACHADO// 08 DE MARÇO DE 2016


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PARA TI, QUAL A IMPORTÂNCIA DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA? A importância da gente tá sempre valorizando essa nossa identidade negra que é muito estereotipada e marginalizada. É continuar dando essa visibilidade, por mais que seja um dia só no ano, é o dia da gente mostrar a nossa estética, a nossa cultura, mostrar nossa ancestralidade. Não necessariamente que o negro tenha que cultuar todas as suas ancestralidades, fazer parte de todas, mas creio que seja algo importante já que a gente sente uma certa opressão dessa cultura, dessas estéticas até hoje por mais que tenha passado tanto tempo da escravidão. É aquilo que eu te disse: nada impede de alisar um cabelo, mas desde que não venha de uma opressão. //ROZAN BORGES// 20 DE NOVEMBRO DE 2014


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TEM ALGUMA HISTÓRIA INTERESSANTE QUE TU TENHA PASSADO? Eu trabalho numa loja, infantil. Então eu percebo que as pessoas ainda não sabem o que é, tipo acham esquisito, ou olha na rua por eu ser albino, sabe? Na loja mesmo, teve uma cliente que perguntou de que raça eu era. Sabe? Tipo “ai que raça que tu é?”, aí eu falei: “a mesma que a senhora é”, e daí ela “eu não entendo porquê”, “eu não sei lhe explicar”, eu estava atendendo, estava na correria. Mas eu não dou bola sabe, é tri tranquilo. O QUE TU ACHA DAQUELA IDEIA DE QUE “SE TEM COTA PARA NEGRO TINHA QUE TER COTA PARA ALBINO TAMBÉM”? Ah, (ri) eu acho um absurdo porque, tipo, o negro tem toda sua história, e o albino não passou a história que o negro passou, sabe? Até porque a gente tem que deixar pra quem precisa. Enfim, eu acho que eu não preciso. Mas eu acho um absurdo. //FELIPE MACHADO// 22 DE NOVEMBRO DE 2014


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Há cinco anos por aí que trabalho aqui na serralheria. É do meu pai, daí eu trabalho junto com ele. Eu sou formada em Arquitetura na Ulbra. Não vejo muita dificuldade, até porque eu não sou uma mulher muito delicada, então não tem problema. É um pouco sujo, mas no geral é bem bom, uma rotina bem variada. Gosto mais da diversidade que é o dia-a-dia. //DANIELE TREVISAN SBEGHEN// 07 DE JANEIRO DE 2015


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FIZ UMA FOTO DELA, ACHEI BONITA A CENA, LEGAL ELA BRINCANDO COM O CARRINHO. PAIS: Ah, a gente comprou agora de um casal que andava vendendo. POSSO PUBLICAR A FOTO DELA NO MEU PROJETO? PAIS: Pode, sim. Mas aí coloca assim “essa é de Alegrete”. //PAULA MARQUES// 26 DE NOVEMBRO DE 2014


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Acho muito cruel a gente ser julgado por uma coisa que a gente não teve culpa. Virem aqui e dizerem que os pais têm culpa. Eu de forma alguma me sinto culpada. Tu vai impedir a tua filha de vinte e dois anos sair pra comemorar o aniversário com as amigas? Ano passado outro passou berrando aqui “vocês querem dinheiro, depois que vocês ganharem dinheiro vocês esquecem dos filhos”. O que que eu quero com dinheiro? Dinheiro nenhum traz a minha filha de volta. As pessoas acham que é tudo em função de dinheiro. A SENHORA PERDEU QUEM? Andrielle Righi da Silva. //LIGIANE RIGHI DA SILVA// 27 DE NOVEMBRO DE 2014


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O SENHOR TAMBÉM JÁ FEZ O EXAME DO TOQUE? Claro, claro, todos os urologistas acima de quarenta anos têm que dar o exemplo e ser coerente com o que eu peço aos meus pacientes. Tem que fazer o PSA [exame Antígeno Prostático Específico] e o toque retal. Aí não constando nada só no próximo ano tu fazes novamente. O exame é de dez segundos, indolor, respeitoso e necessário. É importante enfatizar que não se deve deixar de, após os quarenta anos, fazer as suas avaliações porque não se pode perder a oportunidade de curar um problema se ele existir. //JAIME LUTZKY// 01 DE DEZEMBRO DE 2014


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O QUE A SENHORA TÁ ACHANDO DA MARCHA DAS VADIAS? Ah, tô achando muito bonito. Demais. E as mulheres tem que fazer isso aí. Porque os homens são muito machistas. A mulher bota um calçãozinho é porque tá se assanhando, né? Eu acho que tinha que ser tudo liberado. POR QUE A SENHORA ACHA IMPORTANTE TRAZER SEUS FILHOS? É bom porque, quando eles crescerem, eles não ficam machistas. Daí eles já sabem desde pequeno, né, que a sociedade é pra todos. E estão bem felizes, até queriam escrever todo o corpo. É A PRIMEIRA VEZ QUE A SENHORA VEM NA MARCHA? Primeira vez e tá muito bom. Isso que é a primeira vez que eu venho pro centro caminhar com os meus filhos e adorei. //MARIA CLEUSA PERES E FILHOS// 02 DE DEZEMBRO DE 2014


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Eu estou sempre de bem com a vida, não desejo mal pra ninguém. Eu não me importo. O que eu preservo é a minha integridade física. Eu não invado o espaço de ninguém. Não gosto que invadam meu espaço. Eu moro lá na Tancredo Neves, eu venho de lá andando. Eu amo Santa Maria. Moro aqui há quarenta e sete anos. Claro tem seus prós, tem seus contra, mas eu faço parte da sociedade. //PAULO ROBERTO MORAIS// 03 DE FEVEREIRO DE 2016


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A minha militância é desde 1985, logo que surgiu a Aids, na minha adolescência. Que os meus amigos morriam e a gente não sabia o porquê, o que era, e acusavam – foi estigmatizado, né? – de “câncer gay”. E nós não sabíamos nem o que era Aids. Hoje infelizmente ainda tem esse índice muito alto entre a população LGBT, mas em compensação foi o que fez a gente se agregar e ter também essa questão de conscientização pelos nossos amigos que se foram. Eu tinha dezesseis, dezessete anos e a gente passava na rua, no calçadão, e as pessoas gritavam pra nós “olha a Aids!”. Gritavam pra nós gays. Nós tínhamos um bar em Santa Maria que era aqui embaixo e era assim, pra tu ter noção, eles nos serviam em copos descartáveis na época, porque alguns de nós tinham Aids. E os outros de vidro. //MARQUITA QUEVEDO// 03 DE DEZEMBRO DE 2014


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Que eu tinha um emprego bom e tudo, aí queriam que eu continuasse de empregado. Por causa dos benefícios, aposentadoria e tudo. Algumas pessoas falavam pra mim assim, que isso não dava nada, sabe, aquelas injetadas de desanimo, querendo tirar a força. Aí minha esposa olhou pra mim um dia e falou “tu acredita em ti? eu acredito.” Aí passamos tudo juntos. E tinha aquela certa discriminação por estar trabalhando na rua, devido a não conhecer, a não ter uma cultura que hoje eles têm, que viram como é a arte hoje em dia. O que eu consegui hoje com a arte, trabalhando, eu acho que duzentos anos da minha vida eu não conseguiria o que eu consegui hoje. Não só em termos de grana, mas eu falo em termos de conhecimento, em sabedoria, em humildade, então esses foram os grandes valores e a maior riqueza que eu consegui com a arte foi isso. //JANDSON MOTTA// 05 DE DEZEMBRO DE 2014


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VOCÊS PROCURAM TER ALGUMA RESPONSABILIDADE NAS BRINCADEIRAS QUE FAZEM DURANTE AS AULAS? A gente fala em termos de não se podar, em conseguir conversar abertamente, mas tem que ter uma responsabilidade em relação ao que a gente está passando adiante. Bom, piada machista até que ponto é uma piada? Até quando tu não leva isso adiante quando tu faz uma “piada”? Então, acho que isso tem que ter um cuidado muito grande especialmente nas aulas por exemplo. Eu sinto isso bastante na Universidade até. Talvez algumas pessoas não percebam o quanto eles tão na posição de formação de opinião. Isso eu acho fundamental a gente ter consciência disso e ser coerente nas coisas ditas em sala de aula. //BARBARA RIGHI CENCI// ESTUDANTE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E PROFESSORA NO CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO POPULAR ALTERNATIVA 07 DE DEZEMBRO DE 2014


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TU ACHA IMPORTANTE PARTICIPAR DE MOVIMENTOS E MANIFESTAÇÕES? Eu acho que quem participa, participa por algum motivo. Tipo, algo de injusto tu viveu ou presenciou que te fez pensar que aquilo não podia ser assim, certo? Por estar envolvido mesmo, por não ficar na inércia, por sair do comodismo de que as coisas são assim porque são e sempre foram. Já existiu dois casos de separação de mulheres que, eram nossas alunas e se separaram dos maridos. Mas eram situações que elas eram oprimidas dentro de casa. De relacionamentos totalmente abusivos, de os caras não quererem que elas viessem estudar, dos caras não colaborarem em nada. Delas além de trabalhar e estudar, terem que cuidar da casa, terem que cuidar dos filhos sem auxílio nenhum. E aí no decorrer do ano, nas conversas que se tinham, elas foram percebendo que não era aquilo ali. Não pense que foram grandes formações feministas. Mas ver que existem resultados desse nível, de tu transformar a vida de uma mulher através desse empoderamento, dessa discussão que se faz em cima. //LARA COLVERO ROCKENBACH// ESTUDANTE DE QUÍMICA E PROFESSORA NO CURSO PRÁXIS POPULAR 10 DE DEZEMBRO DE 2014


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Somos irmãos, de Canoas. Estou aqui em Santa Maria porque é uma cidade bem hospitaleira. E aí trouxe meu irmão pra cá também. Aqui fomos melhores atendidos. Tanto pela parte da prefeitura, quanto a parte de saúde e geral né. Lá às vezes esperávamos três, quatro horas pra ser atendidos e nem dava. Somos um pelo outro né. Estamos ficando negros velhos também, tem que um reparar pelo outro. Estou aqui, então vou ali, tirar o pé, botar uma prótese e vou voltar a vida normal, com setenta e um anos eu vou tá correndo jogando uma bolinha aí. //JORGE E FLÁVIO ITAMAR FERREIRA// 11 DE DEZEMBRO DE 2014


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Teve uma menina que ela falou que a mãe foi presa, que ela mora com os avós agora, pediu uma sapatilha. Quem adotou essa foi uma das meninas que trabalham aqui. Tem várias assim que a gente lê, tem que parar, respirar e continuar. Eu queria que todas as cartinhas fossem adotadas. Teve um menininho que vinha aqui e disse que queria entregar todos os presentes com o Papai Noel. E a gente [servidores dos Correios] ficou, né, o que a gente vai fazer. 12 DE DEZEMBRO DE 2014


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Temos que aguardar e não adianta deixar ele nervoso [pela prova de seleção para a Universidade]. Eu faço de tudo pra ele, a única coisa que eu posso deixar pra ele é o estudo, né? Eu digo pra ele: “isso ninguém vai te tirar”. É a herança que eu vou deixar, né? Nem que eu ande de pé descalço na rua, do jeito que for, mas eu vou formar meu filho. Porque meu filho vem de um passado bem brabo, eu e o pai dele nos separamos, fiquei com ele nos braços e eu digo muito: “eu vou mostrar que meu filho vai ser criado por mim e vai ser um grande homem. Vai sentar numa mesa redonda e numa cadeira de arrodear.” //BENTA E BIBIANA SANTOS// 12 DE DEZEMBRO DE 2014


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Faz umas três semanas, duas delas com gesso. Vai passar natal, ano novo assim. Não pode entrar em piscina, não pode andar de bicicleta. Agora ano que vem ele vai pra primeira série. Aí ele deixou as colegas do pré [escola] assinarem no gesso, só menina, a mãe desenhou um coração. //DIUNELE CONCEIÇÃO OLIVEIRA SOBRE O FILHO KAUA OLIVEIRA// 13 DE DEZEMBRO DE 2014

O QUE TU QUER SER QUANDO CRESCER, LAVÍNEA? Professora. De português ou de matemática. 13 DE JUNHO DE 2016


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Uma vez que eu achei, assim, o fim, um amigo que faleceu anos atrás e eu fui na missa de sétimo dia e dentro da igreja eu fui xingada. Essas coisas de “que coisa horrível”, ficam te olhando, resmungando. Tu vai te acostumando, é uma questão de tu pensar “é isso que eu quero e acabou”, não me interessa o que o fulano vai pensar. TEM ALGUMA TATUAGEM QUE TU TE ARREPENDA DE TER FEITO EM TI? Hm. Não. TEM ALGUMA PRÓXIMA EM MENTE? Ah, tenho várias. Por mim não tinha mais espaço. //LUCIANA DE CAMPOS// 15 DE DEZEMBRO DE 2014


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Primeiramente, eu danço com o coração, entendeu? Tipo assim, eu procuro sempre buscar evoluir o melhor possível. Tu tem que dançar pra tu te sentir bem. Quando eu danço eu esqueço dos problemas do dia-a-dia, me concentro só naquilo que estou fazendo naquele momento. A diversão pra mim é a dança, eu vou dançar enquanto eu tiver vivo, se eu tiver cinquenta, sessenta anos eu vou estar dançando igual. //VANDERLI RAMOS// 17 DE DEZEMBRO DE 2014


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COMO A SENHORA FICOU SABENDO DO GRUPO? Assim, por convite das amigas, né? “Ah, vamos lá, Lídia, vamos lá. Pra ti é bom, sair de dentro dessa casa, sai, vamos lá, vai te distrair”. E eu comecei a ir, primeira vez que eu fui na ginástica, bah, saí toda dolorida, não podia encostar roupa na perna. A segunda vez já fui, já me achei melhor, já vi que a minha autoestima começou a melhorar e dali ó, só foi. E eu sou a mais divertida dentro do grupo, já ganhei diploma por estar no grupo das Marias de eu ser a mulher mais aperfeiçoada. //LIDIA AZEVEDO// 18 DE DEZEMBRO DE 2014


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Pra concentração, eu acredito que seja muito bom. No corpo, trabalha todos os músculos, desde os pés até o tronco, braço, quadril, tudo. A intenção [do Slackline, modalidade esportiva na qual o objetivo é a manutenção do equilíbrio sobre a fita de diversas formas] é de tu juntar a galera e daí tu adquirir experiência. Se tu não tem experiência, eu vou te passar o que eu conheço. Agora vá que eu chamo uma pessoa lá que entende muito de slackline, bah, então eu vou pegar mais experiência com ele, entendeu? É tipo aquela coisa, como se fosse chimarrão, sabe? “Vem aí vamos tomar um chimarrão”? É aquele negócio, de fazer mais amizade, mais parceria. //UBIRATAN VANINI// 21 DE DEZEMBRO DE 2014


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Eu escolhi Arquitetura porque sempre tive noção do que ela pode disponibilizar para as pessoas, sabe? Acho muito importante a questão de trabalhar a cidade porque a gente vê que, só pelo poder público, as coisas não acontecem. Então é importante que nós, como futuros profissionais, levarmos o conhecimento acadêmico para o meio prático. Esse foi meu maior desejo quando escolhi Arquitetura. Não só projetar arquitetura de interiores, mas trabalhar a cidade em geral. Vejo que aqui em Santa Maria temos um problema muito grande de mobilidade. //ANDRESSA OSORIO// 22 DE DEZEMBRO DE 2014


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ALGUNS PAIS FICAM TRISTES QUANDO OS FILHOS SAEM DE CASA, VOCÊS NÃO SE SENTIRAM ASSIM? LORENILCE: Pois é, eu não dá nem tempo de ficar triste, porque falta tempo. Eu tenho que trabalhar sempre se não trabalho eu enlouqueço, daí eu fico doente. Agora que a gente quer parar um pouco, talvez ano que vem, um pouco. Sempre trabalhando a vida inteira. Eu gosto de fazer muita coisa de cozinha, doce, salgado. Eu ia fazer vestibular pra faculdade e não fui no vestibular porque tive que trabalhar, perdi. Me inscrevi e não fui. Mas o que eu quero fazer não tem aqui. Gastronomia ou Hotelaria. //NELSON FENALTI HOEHR E LORENILCE BUENO CHAVES// 24 DE DEZEMBRO DE 2014


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Se a pessoa me dá um dinheiro, é porque ela achou legal o trabalho. Pra alguns não é digno né? Mas pra mim é bem honesto. Eu não faço maldade pra ninguém. Se eu ganhar hoje, está bom; se eu não ganhar, mesma coisa. Dificuldade vou passar igual. Uma vez um cachorro veio pra mijar e aí eu me mexi na hora e ele se assustou, lá em Florianópolis. O SENHOR TEM ALGUM SONHO NO MOMENTO? Eu queria ter a minha casa legalizada. Com escritura, tudo. A gente não sabe o dia de amanhã. //LEANDRO GEMERASCA RIBEIRO// 26 DE DEZEMBRO DE 2014


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Nunca quis saber se era menino ou menina, e ganhei, a minha filha era linda, linda, por dentro e por fora. Eu sempre falava quando me referia a ela: “a minha filha é de ouro”. E ela foi, nunca me incomodou. Nunca briguei, nunca bati nela. Essa camiseta nós mandamos fazer agora. Então eu digo é a única maneira de nós estarmos em pé é trabalhando fazendo isso aí, juntando, arrecadando, conversando com uma pessoa e com outra e levando adiante. E quando eu tô envolvida, eu tô enxergando elas, porque elas eram assim. Vai fazer dois anos, mas pra gente parece que foi ontem. A minha filha ia se formar agora em Pedagogia. A SENHORA PERDEU QUEM? Flávia Maria Torres Lemos. //FANI VILANOVA TORRES// 27 DE DEZEMBRO DE 2014


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A gente não sabe dançar, sabe aquelas pessoas que não nasceram pra dançar? É a gente. Então a gente começa a dançar. E daí a gente fica feliz. A Luiza, ela é a psicóloga, ela dá os melhores conselhos nas situações de ser trouxa. Cada uma faz a outra feliz quando uma de nós está triste. //LUIZA SENNA, ANA CECÍLIA MONTEDO, FERNANDA SANGER E ISA MISUKI// 31 DE DEZEMBRO DE 2014


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O cabelo grande é porque eu gosto dos cachinhos dele e ele também não gosta de cortar, eu só corto as pontinhas. Ele aprendeu a andar desde um aninho e daí um ano pra cá ele aprendeu sem rodinhas. Eu achei que fosse ser difícil pra ele aprender, porque o pai dele deu a bicicleta antes de ele fazer um aninho. E aí como ele não sabia pedalar, ele fazia pra frente e pra trás com os pés nos pedais, e daí a bicicleta ia, e foi assim que ele começou. E aí ele viu as outras crianças aqui andando sem as rodinhas e quis andar. Eu tirei uma rodinha e depois tirei a outra e ele se foi e anda por tudo. //KAROLINA GARCIA SOBRE O FILHO MIKAEL// 02 DE JANEIRO DE 2015


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Trabalho aqui há trinta e dois anos e faço aniversário no dia dois de novembro. Fiz cinquenta e quatro anos. Eu nasci no dia de finados e onde é que eu trabalho hoje? Dentro do Cemitério Municipal lidando com os mortos. Então eu acho que eu já vim com esse destino. //BRASIL OLIVEIRA PEREIRA// 05 DE JANEIRO DE 2015


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O QUE TU ACHA DE QUEM JOGA LIXO NO CHÃO E ACHA QUE TÁ DANDO EMPREGO PRA VOCÊS? Ah, isso daí é mal educado, né? Tem as lixeiras por tudo aí. Só de vez em quando, alguns ainda têm a cara de pau de dizer pra gente “Ai, pelo menos vocês tão trabalhando”. Eu acho que deveriam ter mais educação. Outra coisa são as crianças que jogam lixo na frente dos pais. E eles têm que falar, né? Eu educo o meu pelo menos. //ALESSANDRA BRITES// 25 DE NOVEMBRO DE 2014

Essa minha companheira me acompanha há catorze anos. Então quando aconteceu esse fato comigo, se nós não fôssemos amigos mesmo, fiéis, ela poderia ter me largado. “É, tomou catorze facadas, tá inválido, ali em cima duma cama”. Ela podia ter me abandonado, arrumado um outro cara. Então ela continuou, firme, batalhando. Mas vamos batalhando, não desisto, acho que a gente não pode desistir, né? Perseverança toda a vida. //ADRIANO MATOS KRAUS// 09 DE JANEIRO DE 2015


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As pessoas vão pra praia e levam, ele joga areia e água pra cima quando anda. As crianças adoram os carrinhos. Esses dias eu dei um carrinho, pra uma pobrezinha. As crianças pobres geralmente olham mais pros carrinhos. Daí às vezes a gente doa. A gente vendeu cinco, seis que a gente já ganhou nosso dinheiro e doamos um, dois. No mais, tudo tranquilo. A gente ganha pra sobreviver. É eu, ela e um gurizinho só. Pra nós comer e viver, dá. O objetivo é ir sobrevivendo, né? Depois mais além vou fazer os documentos pra a carteira de trabalho. Trabalhar numa firma de servente. Vou fazendo os carrinhos por enquanto. //ANDRÉ E JANICE// 13 DE JANEIRO DE 2015


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Faço Desenho Industrial na UFSM. E um dos motivos de eu ter procurado fazer um curso pra eu conseguir um emprego foi pra poder montar uma bicicleta, entendeu? Isso aí eu vejo que se não fosse a bicicleta, eu não ia ser tão interessado em querer estudar pra conseguir uma capacitação pra poder montar uma bicicleta e andar. A gente tem uma política assim: quem não cava, não anda. Eu estou no quarto semestre do meu curso e penso um dia em tá projetando pista pra galera andar. Eu pretendo ficar andando pra sempre assim, até meu corpo aguentar. //JOEL DUARTE FERREIRA// 15 DE JANEIRO DE 2015


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A arte também pergunta muito. Não é só um fazer, né? E com os alunos tem todo um processo de planejar o que tu vai dar pros teus alunos, tu vai ensinar eles a pensar. De formar pessoas com mais criticidade, para o mundo de hoje que exige isso. Eu sempre tive uma busca muito intensa nesse sentido de querer saber “como?”, “por quê?”. Até o meu professor Alfonso da Universidade, ele dizia assim: “Nani, já começou com os porquês, tu tens que fazer Filosofia também”. //ELIANE ONDINA AMORETTI// 18 DE JANEIRO DE 2015


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TEVE ALGUMA FAIXA QUE MARCOU O SENHOR? Várias, se deixar a gente fica um dia inteiro aqui contando causo. Fiz uma faixa pra arrecadarem fundos pra um senhor que perdeu as duas filhas na Kiss, as gurias tavam em Porto Alegre e deixaram as filhas com o rapaz, as netas com ele, e o cara tava sobrevivendo meio precário, e me perguntaram quanto eu ia cobrar. Eu disse: “isso aí não tem nem como cobrar. Nem se quiserem me pagar”. Aí fiz uma faxinha numa correria ali. Teve uma mulher que recicla que mora lá perto de casa também que a filha dela passou pra Educação Física, cobrei dez pila. Só o tecido. Depois me arrependi. Mas eu achei bonito assim, a mulher reciclando e ela vai ter o filho na faculdade. //JAIRO MATIUZZI// 19 DE JANEIRO DE 2015


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O objetivo aqui é manter o pessoal em forma, ter uma equipe grande. Hoje nós tivemos a grata satisfação de dois atletas que pesavam cento e cinco quilos e hoje estão com sessenta e poucos. Disseram assim: “ó comecei com vocês, me empolguei, comecei a correr, correr”, e eu disse: “olha, isso aí que é gratificante pra gente”, porque a gente não ganha nada. //MARCOS ACOSTA VINICIUS E JULIANA BELMONTE// 22 DE JANEIRO DE 2015


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Estou terminando o curso técnico de Enfermagem. O que eu mais gosto é quando tu consegue ajudar uma pessoa e aquela pessoa te agradece assim. Tu se sente útil. Gosto muito da área materna, centro materno. Claro que quando acontece aqueles problemas que dá o acaso da criança falecer ou a mãe é muito triste, mas eu gosto muito dessa área, me sinto... ajudo uma pessoa a vir ao mundo, sabe? É a emoção da mãe vendo o seu, geralmente, primeiro filho nascer. //HELOISA MACHADO// 23 DE JANEIRO DE 2015


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Então é a velha história de poder ver que existem sim pessoas com potencial aqui dentro que precisam apenas que acredite nisso. E o acreditar é incentivar, é ensinar, é educar, porque não adianta, se você não ensinou não tem como aquela pessoa saber. //RENATA DOMINGUES CAUDURO// 30 DE JUNHO DE 2016


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TU ACHA IMPORTANTE A PRESENÇA FEMININA NO ESTÁDIO? Com certeza, na arbitragem, no meio do futebol, tá crescendo mas é pouquinho ainda. Mas tem muita mulher lutando. E com certeza com o passar do tempo a gente vai conseguir conquistar mais espaço ainda. E pelo trabalho, tem que ser pela dedicação. //MAÍRA MASTELLA MOREIRA// 10 DE MARÇO DE 2015


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27/01/2015


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Se você trabalha com seriedade, você tem um futuro. Na arte marcial, normalmente, você desenvolve o autocontrole, a sua disciplina pessoal. Você desenvolve, além da qualidade de vida, a parte emocional também, o controle das emoções, do medo, da ansiedade, e quanto mais você treina você vê que pode melhorar. Uma das coisas que não tem como você esquecer é quando você recebe a sua faixa preta, né? E ter conquistado a minha certificação de instrutor. //GUSTAVO BOLZAN// 30 DE JANEIRO DE 2015


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O teatro ele te dá a liberdade de imaginação também, dependendo do tipo de espetáculo que tu vai assistir, não é como um filme ou a televisão que muitas coisas estão ali mostrando na cara. Te instiga a curiosidade, de querer saber como que fizeram isso em cena e depois tu poder conversar com os atores nos bastidores e saber o que está acontecendo, o porquê daquilo. É um espaço de convivência, então tu conversa com uma pessoa, você reencontra algumas pessoas. Tu vai entrar no teatro e muitas coisas podem acontecer contigo até tu ser tocado, as coisas te invadirem dependendo da linguagem. O espetáculo que o ator invade a plateia e fala direto contigo ou te dá uma coisa pra provar. Então, tu vai realmente mexer com o espectador. //MARCELE NASCIMENTO// 01 DE FEVEREIRO DE 2015


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Muita gente diz: “olha, eu não tenho dinheiro agora, mas eu vou comprar algo no mercado e volto pra te ajudar”. E realmente voltam. O pessoal hippie também me deu uma pedrinha xamânica, que diz que é um amuleto que vai me ajudar nessa empreitada e estou usando e tá dando certo. Graças a Deus, não teve nada de problema com Brigada, com fiscal. Então é assim, a interação com as pessoas é o maior ganho que a gente tem, né? //MARCELO DEMICHELLI// 03 DE FEVEREIRO DE 2015


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Faz mais de cinquenta anos que vendemos aqui. Vendemos desde que nós casamos, em 1961. Quando começamos não tinha nem a faixa ainda, era tudo terra. Eu sou de Silveira Martins e ele é daqui. Trabalhava na lavoura. Serviço pesado, de batata, milho, de tudo. Com oito anos, nós íamos na lavoura. Aquelas amostras ali é por causa da caminhoneta que fica pra trás, a prefeitura não deixa vender mais perto da faixa. A cada três dias a gente corta uma em quatro, cinco pedaços. Chama atenção de longe. Tem banquinho aqui atrás também, pessoal que quiser comer melancia aqui, come. //EMILIA E ANTÔNIO AMARAL COLPO// 04 DE FEVEREIRO DE 2015


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O futebol americano é um dos mais democráticos porque aceita o baixo, o alto, o gordo, o magro, porque é preciso que tenha todos os tipos porque se eu tiver um cara magro bloqueando pra mim, ele não vai conseguir bloquear como um cara gordo, ou um alto. No futebol, um cara gordo só vai pro gol justamente porque é gordo. No futebol americano, ele é essencial pro time. É o esporte que todo mundo pode jogar pra aprender e ter essa noção de respeito. No futebol, tu erra um passe, o cara te xinga e tu fica com aquilo na cabeça. No futebol americano, tu erra, apaga a jogada e começa de novo. Mas tem essa questão do respeito e de tu conseguir apagar e ir pra batalha de novo. //WAGNER FREITAS// 06 DE FEVEREIRO DE 2015


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Me senti bem, é meu primeiro filho então se viesse menino ou menina ia ser bem vindo de qualquer maneira. E depois, quando crescer, ele escolhe se vai ser menino ou menina. Já não depende da gente. E COMO É A REAÇÃO DAS PESSOAS QUANDO TE VEEM? Sempre perguntam se eu preciso de alguma coisa, tipo, “já tem roupinha?”, essas coisas. Ou tipo “ai, teu pé tá inchado, como tu consegue caminhar com esse barrigão?”, “Mas eu não tô doente, eu tô gravida, é diferente, mas é bem legal”. //FRANCINE CARVALHO// 08 DE FEVEREIRO DE 2015

//GAEL, FILHO DE FRANCINE CARVALHO E TIAGO KANALETA, ALGUNS MESES DEPOIS DE NASCER//


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MARCO: Aqui quem vende côco gelado é só eu e meu cunhado em Camobi. Mas, nós não temos muita coisa interessante pra contar. NÃO, MAS TEM SIM, TODO MUNDO TEM. POR QUE CASARAM TÃO CEDO? ELIZA: Porque é cidade do interior daí todo mundo é vizinho todo mundo casa cedo, né? Antigamente, era o costume. Hoje em dia é bem raro. A SENHORA ACHA QUE É UMA MUDANÇA POSITIVA ISSO DE NÃO TER QUE CASAR MAIS TÃO CEDO? ELIZA: Eu não me arrependo de ter casado, entendeu? Mas eu não deixaria as minhas duas filhas hoje casar com essa idade porque eu acho que primeiro tem que estudar, ter uma profissão, tudo, pra depois pensar em casar. 10 DE FEVEREIRO DE 2015


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TU SABERIA ME DIZER QUAL FOI O DIA MAIS FELIZ DA TUA VIDA? Cara foi dia 16 de maio de 2000 quando eu morava em Florianópolis sem pai, sem mãe, sem irmão e um ser humano chegou e disse: “olha, eu vou te dar um presente. Cê tá de aniversário hoje, Lizandro”. Ele veio com um pedacinho de bolo da confeitaria e me deu. Meu irmão morou lá e ele me conhecia através do meu irmão. Mas ele queria me conhecer e me ajudou na hora que eu mais precisava. E ESSAS MANCHAS NO TEU BRAÇO? É da diabete. Eu pegava e tomava um litro de coca-cola como se fosse água. Não me cuidava. Cegueira, tontura, dormência nos pés são os sintomas. Faz uns quatro anos, eu fui procurei um clínico geral e ele disse: “ó, tu tá uma bomba ambulante Vai tá brincando vestido de palhaço, vai apagar e as pessoas vão achar que é brincadeira”. Estou tratando, né? //LIZANDRO SOUTO// 12 DE FEVEREIRO DE 2015


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Eu sou a palhaça Preciosa. Faço esse trabalho já há doze anos. Quando eu e meu marido fazíamos era o Plim-Plim e a Preciosa. Enquanto eu ver crianças, eu vou ficando aqui. Eu tenho uma história, quando faço os balões de cachorrinho, que há anos eu conto: ‘Ele não solta pelo, não solta pulga, não faz xixi dentro de casa e não precisa dar comidinha pra ele’. Por enquanto a gente tá lutando pra conseguir a nossa casa. Agora a gente vai correr atrás disso, de tentar concluir ela com o básico de dignidade pra uma família. É o que a gente tá batalhando no momento porque não é fácil construir uma casa, não é só tijolos, areia e cimento, é muito mais que isso, né? Mas a gente vai conseguir, a gente vai chegar lá. //MARISA ZEPPENFELD// 15 DE FEVEREIRO DE 2015


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A gente mora perto e gostamos de cozinhar e fazemos ou na minha casa ou na dela. A chuva não atrapalha o jogo, tá fraquinha. A gente grita “carro” quando tá vindo. A bolinha já foi parar ali em cima da árvore e ficamos jogando pedra pra ver se ela caía, e caiu. Compramos hoje uma bolinha nova. Na praia, tem o sol né? Mas é bom de jogar aqui. //EMILY MAUS E MIRELLA CORREA// 18 DE FEVEREIRO DE 2015


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MÃE DE OTÁVIO: Eles fazem as garagens de goleiras. Já chutaram lá em cima, já chutaram pra dentro desse edifício. Eles deixam um bilhetinho ali “tio, a bola é nossa”. Aí quando os vizinhos entram, atiram a bola pra cá. Já furaram umas duas ou três bolas. E eu sirvo de juíza e às vezes sirvo de goleira pra eles. Mas eu me divirto, sabe? Eu quando tirei um rim, tirei um câncer, né? Tirei um carcinoma. E o que me dá força é eles, que eu não fico pensando nas bobagens. //YBERTI SILVIO E OTÁVIO ALEJANDRO// 20 DE FEVEREIRO DE 2015


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Vai fazer um ano que meu visual é esse, meu estilo é esse. Porque eu gosto, sou feliz assim, tenho orgulho de mim, então cada um faz o estilo. Quando eu não me aceitava assim ninguém me aceitava, então no momento em que eu me aceitei, todo mundo me olha assim, compreende, normal, entendeu? //FRANCIELE BRAGA// 25 DE FEVEREIRO DE 2015


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Às vezes eu vejo uma menina na rua parecida com ela. Esses dias eu encontrei uma bonita e tal, olhei assim, a cara dela. Porque ela era muito grudada em mim. Ela saía comigo grudada no meu braço. Ela tinha um ciúme da mãe dela. Um juiz nunca chegou e falou: “ó pessoal vocês aguardem que eu vou resolver, quem deve vai pagar pelo que fez. Tem crime.”. O juiz nunca falou isso pra gente. Nos ajudava e muito, porque nós não temos resposta de nada. E essa resposta não pode ser daqui dez anos. Tem que ser pra ontem. Vai melhorar a cidade noventa por cento. Santa Maria chora ainda hoje. “Ah, mas é uma meia dúzia de pessoas”, não, não é uma meia dúzia de pessoas, são muitas pessoas. Essa gurizada tinha muitos amigos, muitos parentes. O SENHOR PERDEU QUEM? Pâmella Lopes. //NEI LOPES// 27 DE FEVEREIRO DE 2015


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O QUE VOCÊS ACHAM DA VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS? - Eu participava em torcidas organizadas do Grêmio, e eu sempre vi briga acontecer. Agora tá bem mais calmo, tá bem melhor, parou um pouco. Tá bem mais tranquila a cidade. - Completamente desnecessária. Não leva a nada. Pra quê isso, né? Não tem necessidade nenhuma. //JUSSIANE DALLA POSSA E STEPHANIE BRUM// 01 DE MARÇO DE 2015


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TU ACHA QUE ESSA DEFINIÇÃO DE COR, “COR DE MENINA” E “COR DE MENINO”, COMEÇA QUANDO? COM OS BRINQUEDOS, AS ROUPAS DE CRIANÇA? É, começa desde os brinquedos, as roupas. No começo, quando nasce, já vem as cores, né? Mas depois de uma certa idade já não tenho preconceito mais de usar. Todo mundo tá usando agora. Acho que não tem problema nenhum. Não tem regra pra usar camiseta. Cor também não tem regra. A pessoa que escolhe, é o gosto de cada um. QUAL A SUA PROFISSÃO? Sou jogador de futebol, estou no Inter de Santa Maria como volante. Eu comecei nesse ano, nessa temporada. Meu sonho é subir e levar o nome de Santa Maria lá pra cima. //RAFAEL RODRIGUES, VESTIA CAMISETA COR DE ROSA// 02 DE MARÇO DE 2015


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Fazer uma coisa pra integrar, pra receber a galera e problematizar essas questões que são tão pesadas dentro da Universidade. Então, a galera chegou esperando fazer festa mas sabendo que em nenhum momento aquilo ia ser obrigado, imposto pra eles. Teve bixo que disse assim: “ah, mas vocês são bonzinhos demais”. Mas não é uma questão de ser bonzinho, é uma questão de respeitar quem tá chegando, se aproximando desse mundo totalmente diferente que é a Universidade. E vai ter várias coisas na semana da calourada que a galera traz pra combater tradições que não são tradições legais, né? Nem toda tradição é boa. //DIENIFER VIANNA, CAROLINA ORQUEN E TAMARA JURIATTI// 03 DE MARÇO DE 2015


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Ai, ficam enrolando, embromando, o Ministério Público cruza os braços, né? Mas a passagenzinha sobe. Não tem concorrente. Há quanto tempo não existe licitação? É um monopólio, cara, eles são donos da linha. Eles fazem exatamente aquilo que eles acham que tem que fazer. E o povo pagando. Iluminação falta aqui também. O aumento eu ainda não calculei, mas eu fico imaginando assim que uma cidade como a nossa com um fluxo de gente que transita, anda pra cima e pra baixo, são verdadeiras fortunas por dia, né? Tu tira de quem já tem pouco, qualquer aumento faz bastante diferença. Passagem pra filhos, pra trabalho. Infelizmente, a gente só vê a classe estudantil se levantar [contra o aumento]. Isso aí é a consciência, um país tem que ter consciência. São eles que vão mudar o país. //USUÁRIO DO TRANSPORTE PÚBLICO// 06 DE MARÇO DE 2015


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O QUE TE FEZ DESPERTAR, MARI? Eu sempre fui uma pessoa muito indignada internamente e não aceitava as coisas, sempre fui diferente dentro da família. Daí eu não sou mais consumista, porque eu quero uma vida sustentável. Tu vai tendo tantas diferenças que tu vai ter que se achar com os teus iguais daí os teus iguais tá aqui. //MARILDA PEREIRA DA SILVA// 08 DE MARÇO DE 2015


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ACHEI O SENHOR MUITO ELEGANTE, VEJO QUE O SENHOR NÃO TEM PRECONCEITO COM COR DE ROUPA. QUAL O CRITÉRIO PRO SENHOR ESCOLHER SUAS ROUPAS? Não, não tem muito mistério. Tendo bombacha, camisa, lenço, chapéu e bota tá bom. Não tenho nada contra outras cores. Tô sempre pilchado. Porque eu sou lá de fora, é o costume. Sou agricultor, de Santa Flora. Tão tudo bem. Só melhorar a estrada que tá ruim lá. É que é muita chuva, né? Tem soja de baixo d’água já. O SENHOR TEM ALGUM SONHO? A gente tem que sonhar pra adquirir mais umas coisas. O sonho da gente é crescer mais um pouco. Se Deus quiser, vou comprar uma máquina pra esquilar ovelha. //ALAIR AQUINO CHAVES, VESTIA CHAPÉU VERDE, CAMISA VERMELHA E BOMBACHA ROXA// 09 DE MARÇO DE 2015


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Como o homem do campo depende da natureza pra viver, a cidade depende do homem do campo. Porque no momento que faltar comida lá, nosso povo vai perecer aqui. É nós que colocamos aquela comidinha de cada dia na mesa, né? Então não adianta, a gente não pode meter a mão em tudo, né? Tem que ter um “até ali eu vou, dali pra lá é com a natureza”. //JOSÉ ANTÔNIO MACHADO// 03 DE ABRIL DE 2015


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O mestre-sala é um beija-flor e a porta-bandeira é uma flor. E há aquele caminho que marca um tipo de um entusiasmo, como se um fosse um ritual. O QUE FAZ UMA PESSOA POSAR NO PAVILHÃO, SE DOAR TANTO PRO CARNAVAL? Muitas pessoas, elas dizem assim: “eu sou determinada escola”. Elas trazem pra si, está dentro delas, faz parte da alma delas, do coração delas aquela escola. Todo esse trabalho de organizar, de botar uma escola na avenida. De construir um carro alegórico, uma fantasia, uma ala. Isso tudo vai criando amor, realmente por aquilo. //LEONARDO MONTI E ANELISE COSTA// 12 DE MARÇO DE 2015


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OS ÓCULOS NÃO VÃO TE ATRAPALHAR DURANTE O DESFILE? Não, é normal, eu sempre usei óculos. Se eu for desfilar sem óculos eu não enxergo nada, tudo embaçado. Tenho cinco graus de miopia num e cinco e meio noutro. Os óculos só descem um pouquinho, tem que tá arrumando, porque não fica totalmente parado. É meu primeiro ano porque minha mãe nunca deixou, sabe? Porque ela acha muito perigoso. Minha mãe é uma mãe que, tem que saber onde vai, com quem anda, que horas vai voltar, se vai a pé, se vai de carro. Então eu quero crescer, é meu primeiro ano, e vou arrasar! //ANDRIELLE CAMPOS// 14 DE MARÇO DE 2015


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//VISTO NA AVENIDA MEDIANEIRA// EM 15/03/2015


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O quanto é cômodo pra algumas pessoas falarem que a tua luta nem é tão importante assim, que tu tá se vitimizando, só que é realmente aquela coisa: não tá na tua pele. O QUE TU RECOMENDARIA PRAS PESSOAS QUE NÃO QUEREM SER RACISTAS FAZEREM PRA SEREM MENOS PRECONCEITUOSAS? Olha, só de uma pessoa pensar em não ser racista, sair dessa zona de conforto, sair do privilégio dela... Só da pessoa pensar em mudar isso, em querer mudar, ela pode começar a olhar no dia-a-dia essas expressões. Tomar consciência de onde está. Olhar mais ao seu redor, ao seu ambiente de trabalho e ver a diferença de cor. Não ficar com uma visão única que tu cresce de que a mulher negra ela é faxineira porque ela quer, porque “pretopobre é vagabundo”, coisa mais senso comum que se tem. Mas, não é assim. //ALINE ESCOBAR// 23 DE MARÇO DE 2015


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O QUE VOCÊS QUEREM DIZER COM A PRESENÇA DE VOCÊS AQUI? A gente tá de braços atados, como se diz, para o Judiciário. A gente não tem mais como acreditar neles, que eles possam fazer alguma coisa. Aí a gente veio aqui porque acho que é uma maneira da gente se expressar, que a gente tá em busca de justiça, quer que os culpados sejam julgados. Tem que haver justiça. A SENHORA PERDEU QUEM? Danrlei Darin, ele tinha dezeoito anos, tentou vestibular pra Arquitetura, não passou, e era dançarino. Ele tinha um projeto de dança então agora em sonhos ele apareceu pra mim e disse pra mim: “Mãe, eu quero que tu ajude os sobreviventes. A minha amiguinha aquela morreu e eu quero que tu ajude os outros sobreviventes”. Então eu tenho essa missão pra cumprir agora. //JENECI BICA OLIVEIRA// 27 DE MARÇO DE 2015


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Esse ponto aqui tem a minha idade. Cinquenta anos. O meu pai nunca teve empregado, o único que ele ensinou fui eu, que nem eu que só ensinei meus filhos. Dois motivos: tu não tem como controlar o que o cara tá fazendo, e tu tá criando mais um concorrente. Já tive proposta, mas nunca ensinei. Ensinei pros meus filhos e pronto. Querem seguir, sigam; não querem, não sigam. Eu gosto da minha profissão. Não dá pra ficar rico, mas dá pra viver. Não tenho porque não me sentir realizado. Sou dono de mim mesmo, tenho meus horários. Tem suas dificuldades, tem. Mas qual emprego que não tem? //ROGÉRIO RODRIGUES SIQUEIRA// 31 DE MARÇO DE 2015


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QUEREM QUE COLOQUE ALGUMA LEGENDA? O QUE VOCÊS QUEREM DIZER COM ISSO? Se pá bota, até pra não tomarem como algo sendo a favor. Somos a dupla de arte Subverso. A gente não tá lembrando só dum passado, não, a Ditadura ainda segue só que disfarçada e pra alguns, né? A nossa memória não esquece, isso ainda acontece. //MARÍLIA JEFFMAN E EDUARDO MOREIRA// 01 DE ABRIL DE 2015


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Ô, tu não trabalha com negócio de desaparecidos? Meu irmão tá desaparecido desde 2012 e eu não tenho foto, eu perdi a foto dele. Ele foi cuidar de outro irmão meu que estava com um câncer na perna, em Porto Alegre. Depois que o meu irmão morreu, ele desapareceu. E os que moram lá ninguém sabe de nada. //LUCIMAR GARCIA// 06 DE ABRIL DE 2015

Santa Maria é uma cidade que joga livro fora. E é legal, sabe por quê? Porque não tá fazendo falta praquela pessoa, e aí o catador de papel que é um cara que precisa de grana vem aqui me vender. Mas eu queria que a galera de Santa Maria se conscientizasse. Não quer o livro, vai botar fora? Não quer trazer no sebo? Bota num saquinho e deixa no lado do container ou então dá na mão da pessoa, é gente, não é bicho. E a pessoa vai trazer aqui. //DANIEL SOUZA// 11 DE FEVEREIRO DE 2016


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O balé é para os fortes. Só os fortes resistem. Porque o balé tem que realmente gostar e tem que dar tudo de ti, senão tu não fica. Tem que ter disciplina, a postura. Mas é algo que é divertido também. A [professora] Daniela fala pra gente não desistir, que a vida continua e pra gente continuar na dança. Pretendo me formar e dar aula aqui ainda. //LAYANA FERREIRA// 15 DE FEVEREIRO DE 2016


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Então eu estou feliz. Levanto a mão pro céu, agradeço a Deus sempre. Não tenho vergonha de nada. Uma moça queria tirar foto de mim pra fazer um trabalho aí do colégio e disse que conseguiu. Disse que colocou a foto minha que ela tirou lá no colégio. Gente que nunca vai ter nojo daquele ser humano, porque a gente não pode ter nojo do outro ser humano porque a gente é um ser humano também. Não sou aquela pessoa que todo mundo diz, que não presto, que me chamam de fedorenta, que viro os lixos. Eu não sou isso. Eu tomo banho todo dia e eu não faço bagunça nos contêineres. Eu sou uma pessoa, meu amigo, aquela pessoa honrada. Eu deixo a cidade limpa. //CLAUDIA BARBOSA DA SILVA// 07 DE ABRIL DE 2015


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Eu acho que a prefeitura tem que mandar gente revisar as calçadas e as rampas. Porque não é por nós querer ser cadeirante, nós não queria. Eu sou diabético, eu tomo insulina de manhã e à noite. Eu só digo pros jovens não comer doçura, porque a diabetes vem da doçura e a gordura. Então tem que se cuidar. E ir no médico fazer exame. Que eu não ia. Eu não sabia que tinha, daí quando deu, deu pra matar mesmo. Eu trabalhava, eu era gari aqui. Quando eu parei... me deu, me trancou uma perna e já não me equilibrei mais. Faz catorze anos. //DARCY OLIVEIRA DA SILVEIRA// 11 DE ABRIL DE 2015


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Nosso sonho é mínimo dentro do ponto que a gente quer que os povos indígenas tenham um mínimo de terra pra poderem se desenvolver, mas é máximo frente a dificuldade com que isso é colocado. E o que se sonha é que o Brasil pudesse desenvolver um estado diferente, multiétnico e que esses valores fossem colocados em prática, que a gente pudesse viver nas diferenças, que existisse terra pra todo mundo, e da terra tivesse sustento pra todo mundo, e que essas pequenas elites parassem de dominar a sua vontade em detrimento do sofrimento de tanto povo. Essa luta por território não é só uma luta por terra. Mas é pra manter viva algo que o mundo aos poucos tá esquecendo. //MATHIAS REMPEL// 13 DE ABRIL DE 2015


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Nessa região aqui de Santa Maria – que os nossos antepassados sempre passaram por aqui – e é uma pergunta que nunca se calou, e nunca vai se calar com certeza, é “de onde é que vocês vieram?”. E é uma resposta bem simples: nós sempre estivemos por aqui. VOCÊS TÊM SUAS PRÓPRIAS CRENÇAS? Tem uma crença pra mim que tu é o próximo. Se tu é humano, eu também sou humano. Se tu tem direito, eu também tenho. E se eu tenho o direito de não sofrer repressão e de não sofrer coisas que possam me deixar cicatrizes, o outro também tem. Eu tenho essa crença: se Deus me colocou aqui, ele também te colocou aqui. Se Deus fez a natureza, que hoje é linda, até o próprio homem tá terminando com isso. Nós cremos no ser vivente do mundo. MAIS ALGUMA COISA QUE O SENHOR GOSTARIA DE DIZER? Eu acho que não só eu, toda a comunidade, não só os kaingang, acho que querem ser tratados como um ser humano. //NATANAEL CLAUDINO// 15 DE ABRIL DE 2015


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Eu saí da Coreia em 2009. Faz uns cinco anos por aí e eu venho viajando. Tudo que eu sei fazer, eu aprendi na rua. Até falar português. Tudo que eu uso pra sobreviver na vida diária. Eu fui da Coreia para o Estados Unidos, eu queria estudar pintura. E resolvi ir pra lá e não era tudo que eu expectei. E daí eu comecei a viajar pelos Estados Unidos e Latinoamérica. TU FALOU QUE FAZIA PINTURAS, QUE TIPO DE PINTURA ERA? Ah, a óleo. Eu gostava de pintar pássaros. //SEJU IM// 18 DE ABRIL DE 2015

Até uns anos atrás, minha prima foi pro Japão, ela dizia que as japonesas ganhavam metade do salário do homem. Por que, se a mulher é a mesma coisa que o homem? Se a mulher pode fazer tanto quanto o homem? //NAOMI HAYASHIDA// 21 DE ABRIL DE 2015


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Então o que eu tenho pra dizer pra todos aqueles que querem ser professores, sejam professores. Mas tenham convicção e tenham foco de que ser professor não é ter apenas alunos. Ser professor é carregar uma comunidade nos seus ombros. É construir um estado, uma cidade e um país. //MARIANE DENARDIN// 03 DE MAIO DE 2015

Eu falo muito pouco até. Eu guardo mais pra mim. Não sou de falar muito. O SENHOR PERDEU QUEM? Mirela Rosa da Cruz e José Manuel Rosa da Cruz. //DELÇON MOSSI DA CRUZ// 27 DE JUNHO DE 2015


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Normalmente é o jeito do artista usar os óculos escuros. Os óculos escuros também tiram a timidez um pouco, né? O artista de rua ele não pode contar que ele vai receber só elogio, ele vai receber mais desprezo que elogio. Então a gente não pode dar bola. Tenho duas filhas, uma com um ano e dez meses e uma com nove anos. Quando essa entrou no curso de música do colégio, no primeiro dia de aula, ela já sabia uns quantos acordes musicais. Eu queria uma vida melhor pra família. Um alimento melhor pra mesa, móveis melhor pra dentro de casa. Não é fácil. //SILVIO QUEVEDO// 24 DE ABRIL DE 2015


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TU COMO SOBREVIVENTE, O QUE ACHA DA PRESENÇA DOS PAIS [DE VÍTIMAS DA KISS] LÁ NA TENDA? Acho muito importante porque já tá esquecido. Então por mais que a gente receba crítica e seja xingado como a gente já foi várias vezes, a gente não vai desistir porque foram 242 pessoas numa noite horrível. Por mais que não tivesse acontecido comigo, eu acho digno estar ali. Porque foram nossos amigos, são os filhos deles. Eu acho que as pessoas deveriam ser mais empáticas com relação ao que a gente tá fazendo, porque só quem perdeu um filho sabe. //RAFAELA CRUZ// 27 DE ABRIL DE 2015


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Eu ofereço arrumação de cadeira, eu troco fecho em jaqueta, bolso, barra em calça, capa pra sela de cavalo, afio faca, tesoura, serrote, conserto martelo, machado, tudo eu faço. Estou aqui vai fazer dez anos. Adaptei a Kombi, a porta fica alevantada pra cima, e adaptei a máquina, o esmerilho pra afiar a faca. O SENHOR TEM ALGUM SONHO, ALGUM PLANO PRO FUTURO? Sonho a gente tem né, mas realizar é que é difícil. Porque quanta gente aí tu vê, liga o rádio pra tu ver, gente que às vezes não tem nem o que botar no fogo, pedindo alimentação pras crianças. O importante é ter saúde. E principalmente ser honesto. Honestidade em primeiro lugar. //CELCO SENANDES DE OLIVEIRA// 28 DE ABRIL DE 2015


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PODE DIZER UMA LEMBRANÇA DA TUA MÃE? A última conversa com a minha mãe antes dela morrer, porque ela estava no hospital, tinha câncer e a gente estava planejando o futuro, só que eu já tinha descoberto que não tinha mais futuro, entendeu? Eu penso que eu tenho que correr atrás das minhas coisas porque deve ter um futuro bom na frente, deve ter alguma coisa boa. Depois de tanta cacetada na vida. //LUANA SANTOS// 30 DE ABRIL DE 2015

Agora tem um cliente que não é preconceito por andar com mulher, mas porque a namorada dele é ciumenta, não gosta. Já aconteceu de eu chegar e largar a pessoa numa esquina de casa. Pra não ter esse problema. De repente, se eu não virasse telemoto, eu também pensaria dessa forma, né? Então a gente se coloca dos dois lados. A gente respeita bastante. //CARLA LEMOS DA ROSA// 08 DE MAIO DE 2015


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EU VI ESSES TEMPOS A SENHORA DANDO UM PAR DE BOTAS PRA UMA AMIGA SUA AQUI NA PARADA. Ah, dei, coitada. Ela ficou de pé no chão. Esfolou todo o calçado dela. Vinha vindo na rua e daí eu digo “Não, mas pega as botas. Não vou levar porque não me servem”. Aí cheguei ali, ela foi lá e serviu. Porque pra mim não servia, 34, 36, e ela 37, ela foi faceira pra casa. E pronto, doutor, tá tudo feliz. A SENHORA PROCURA AJUDAR OS OUTROS SEMPRE QUE PODE, COMO FEZ COM A SUA AMIGA? A gente tem que ajudar, né, vizinho. Aquilo ali estava na lixeira, botaram pra quem quisesse. //DONA MARIA// 22 DE ABRIL DE 2015


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Eu comecei a pensar “Por mais que eu trabalhe, por mais que meu salário seja bom, que eu possa ter ganhos com essa minha profissão, eu nunca vou ser dono disso aqui”. E a razão sempre vai estar com o dono disso aqui. Isso foi a parte do estalo de um final um determinado momento que percebi que todo mundo percebe que tem coisa errada no mundo, né? Tu só não consegue as respostas do que está errado. Aí a identificação com a esquerda foi isso, justamente tu ver que tem coisa errada e tu não aceita que está errada, isso é o que faz tu jogar pra esse lado. //CAIO PICARELLI// 05 DE MAIO DE 2015


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TEVE ALGUMA COISA DELA QUE TE DEIXOU MUITO FELIZ, ULTIMAMENTE? Na escola. Ela tava trabalhando com um trabalho diferenciado, daí ela conseguiu atingir uma meta e foi pro nível normal da turma dela. Ela tem perda auditiva, total profunda. O QUE A SENHORA ESPERA DO FUTURO DELA? Coisas boas. O que ela escolher a gente vai aceitar. A gente espera que seja tudo de bom pra ela. //NICOLE E DORVALINA KEMERICH// 10 DE MAIO DE 2015, DIA DAS MÃES


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A coluna tá bem agora. Não sei, isso foi de repente, não sei se foi das radio[terapias] que eu fiz ano passado, ou a osteoporose, vai enfraquecendo, né, o osso aí qualquer coisinha amassa as vértebra, né? Amassou duas vértebra. Então tenho que cuidar pra não erguer muito peso agora, o menos possível. Não dá pra fazer fisioterapia, cirurgia não tem. Então tem que deixar sarar e ficar ali daí. Eu fiz rádio porque eu tive câncer de pâncreas ano passado. Eu operei daí eu tive que fazer umas trinta radio. Radio dá muito vômito, muita complicação, mas tem que passar, né? Ainda bem que a gente passa e melhora. //ALFONSO WOLTMANN// 24 DE NOVEMBRO DE 2016


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São tantas situações ruins que tu acaba esquecendo as piores. Agora eu fui ali comprar uma coisa e não tinha rampa. Tiveram que chamar o vendedor lá atrás pro vendedor ajudar a subir a cadeira. Raramente tu vê uma pessoa com deficiência na rua. Não sai de casa porque não tem onde ir. Todos os lugares se tornam difíceis. //MARCELO PINTO DE OLIVEIRA// 14 DE MAIO DE 2015


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Então tem que aceitar a minha cor e eu aceito com todo o carinho. Mas a gente fica meio assim porque os italianos mesmo eles gostam de humilhar. Mas quando a gente está trabalhando pra eles, eles não falam. Não é necessário, né? Tu pode ser pobre, tu não roubando e não tirando nada de ninguém já é um passo que tu dá na frente. Só o ensino que os meus pais me ensinaram já basta. E respeito o branco, o rico, o pobre, tudo igual. Eu gosto de ter a minha casa. Eu pago as minhas contas e como e bebo do que eu tenho sem preocupar ninguém, e nem incomodar ninguém.

//TEREZINHA BRITO// 12 DE MAIO DE 2015


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Porque tem muito pai que eu conheço, que vai lá na Associação de Cegos e Deficientes de Santa Maria, que tem as crianças pequenas e tal, que eles colocam as crianças como se fossem incapazes. Então coloca na redoma lá, o mundo é conto de fadas e todo mundo vai acabar feliz pra sempre. E não é assim, deixa as crianças fazer as coisas que elas têm que fazer. Deixa as pessoas tentarem ser quem elas são. Incentivem elas a sair de casa, andar sozinho, incentivem elas a serem independentes. Hoje em dia, eu tenho que ir em tal lugar e eu vou. Então isso dá uma vivência muito maior das coisas. Deficiente ou não, cada um tem a sua vida e tem que seguir a sua vida. E as pessoas não podem viver dependentes umas pras outras, senão elas não vão viver a vida delas. //DAVERLAN DALLA LANA// 16 DE MAIO DE 2015


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De nada adianta a gente construir Caps [Centros de Atenção Psicossocial], construir reforma psiquiátrica, política, no papel, se a gente não consegue tocar isso nas relações. A gente não consegue ver outro na sua diferença. Acho interessante uma expressão de que “parte da minha loucura também é loucura sua”. Que a loucura está nas relações. Ela diz uma relação de capital, de mercado, diz uma relação de produção. Mas eu acho que a grande loucura mesmo é viver o dia-a-dia, o cotidiano das várias expressões que a gente acaba tendo que se debruçar. A gente tem que negar o sofrimento em busca de uma felicidade, aí tem que se dopar, com o excessivo uso de medicação, de drogas, então acho que a grande loucura é essa contradição diária, de tu ter que estar bem apesar das várias coisas que te atravessam no teu dia-a-dia. //THIAGO ALVES// 19 DE MAIO DE 2015


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Te digo cara: valeu a pena ter trabalhado tanto. Tchê, com treze anos, como eu incomodava muito em tempo de colégio, ele dizia “Ou tu aprende a trabalhar ou tu vai ter que estudar”. O cliente ele vem uma vez, ele é teu cliente. A segunda ele gostou, a terceira ele virou teu amigo. Esse é o mais legal do comércio. A amizade e o carinho das pessoas. //BRUNO FERRARI// 21 DE MAIO DE 2015


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Sou vegana, tem poucos meses. Mas é mais porque eu acredito que a minha luta ia ser muito incoerente se eu não avançasse. Eu comecei no feminismo, depois fui pro movimento negro, pra outros movimentos populares e eu não ia me sentir bem se eu não avançasse mais, entende? E eu achei que a emancipação, a questão da autonomia, que a gente estuda e tenta por em prática, ela tem que ser pra todo mundo, a libertação é pra todo mundo ou não é real, então partindo do princípio da interseccionalidade que junta todas as opressões e especificidades, eu acho que foi por conta disso mesmo. //ALICE CARVALHO// 22 DE MAIO DE 2015


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POR QUE TU TÁ SEMPRE AQUI, VEM AQUI DEPOIS DO ALMOÇO, TOMAR UM CAFÉ? Olhar o movimento, ficar pensando. Não tenho nenhuma razão especial. Dar uma espairecida. Parece que a gente faz um monte de coisa no automático sempre. Tudo bem, tem coisas, sei lá, como escovar os dentes, normal, no automático, mas tem muita coisa que a gente fala sem pensar. Sem se conter. TU TEM ALGUM SONHO? Nah, eu quero viver a minha vida tranquilamente, não ambiciono muita coisa. Poder ter a tranquilidade de ter os meus amigos, estar saudável sempre. Ter paciência pra enfrentar os problemas que aparecem. //DOUGLAS RIBAS// 26 DE MAIO DE 2015


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Quem perdeu foi nós [pais, familiares e vítimas da Boate Kiss], né? Nós é que sabemos aonde a gente tem que ir. Mas eu já disse pro pessoal, eu não me importo com os outros. Eu faço a minha parte. Cada um faz a sua, o que acha que é certo. Eu estou fazendo a minha, não me importo se o pessoal está falando que é pra eu parar, que é pra eu desistir, que chega, que a gente está incomodando. Eu não me importo com isso. Nem se tem pouca gente ou não. Se nós formos um, dois, três, quatro, cinco, nós somos cinco. A SENHORA PERDEU QUEM? O meu filho Augusto Malezan. //JACQUELINE MALEZAN// 28 DE MAIO DE 2015


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Eu tenho um sonho de ver a cidade onde a gente mora com o mínimo de déficit de habitação. Isso dói muito a gente saber que - eu trabalho em obra. E às vezes vejo servente meu se queixando que ganha aí 800 reais e paga 400, 500 de aluguel. Então acho que isso aí é desproporcional. O meu sonho era ver a regularização completa em Santa Maria, de todas as áreas ocupadas. Isso geraria mais imposto, e esse imposto retornaria mais na saúde, na educação, no transporte, em todas as áreas que os pobres precisam. //VANDERLEI DOS SANTOS// 29 DE MAIO DE 2015


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QUAL SEU NOME? É Franciele Silbershlach, mas na capoeira a gente não é chamado pelo nome, o meu é graduada “Lagosta”. Não é a gente que escolhe, o mestre que olha pra cara e dá os apelidos. Porque na época dos escravos era proibida a capoeira, então os negros jogavam capoeira e quando a polícia vinha, eles usavam apelidos. 30 DE MAIO DE 2015

Às vezes eu também entendo as pessoas porque eu também quando me deparo com algo diferente em qualquer sentido, pra tu mostrar que tu não tem preconceito, tu quer ser querida, sabe? E, às vezes força. Eu entendo. Mas não precisa. //EVELINE GRUSPAN// 31 DE MAIO DE 2015


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“Ah, os Direitos Humanos é o direito do bandido”. Não, os Direitos Humanos é um processo de luta, para que sejam garantidos os direitos mínimos da cidadania, independente do lugar em que tu estejas, inclusive se tu cometeres um delito, de tu ter direito ao processo legal, ao não linchamento das pessoas. //MARIA BEATRIZ OLIVEIRA DA SILVA// 09 DE JUNHO DE 2015


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Tu sabe que eu sou um cidadão que tem a sensibilidade. Eu penso o seguinte: todo mundo tem a sensibilidade, entendeu? Só que tem uns que colocam mais à flor essa sensibilidade e trabalham em cima dela. Eu luto para verem o negro como um ser humano como qualquer um, como um alemão, como um italiano, como qualquer um outro. Um ser humano. Entendeu? Não melhor nem pior. //MARCELO NOGUEIRA DE MELLO// 17 DE MAIO DE 2016


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A minha mulher ela era vigilante, ela me conheceu aqui. Me conheceu como Gato primeiro. Essa histรณria a gente tรก escrevendo no papel pra depois no dia do casamento a gente fazer uma historinha, sabe? A vigilante que se apaixonou por um gato-de-botas. //VALMIR POMPEO DE OLIVEIRA// 01 DE JUNHO DE 2015


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O nome dela é Amanda. Ela sempre fala kaingang comigo. Ela sabe dizer “bonito”, sabe dizer “flor”, “borboleta”. Ela sabe dizer um monte de coisa que eu ensinei ela a dizer. A gente ensina um monte de coisa pras crianças. Não é só uma coisa. Porque eles têm que saber tudo sobre os kaingangs, sabe? E é muito importante ser e saber falar kaingang, a nossa língua. 18 DE JUNHO DE 2016


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Quando eu comecei a usar o lenço, tinham várias que não usavam aqui em Santa Maria ainda. Graças a Deus, de repente eu fiz um bem pra um monte de gente. Várias e várias aconteceram, umas quatro pessoas começaram a usar depois que eu comecei a usar o lenço. //AMINAH MOHAMMED// 02 DE JUNHO DE 2015

Em 25 de março, nós recebemos a aliança da incorporação perpétua, sinal da nossa fidelidade a nossa vocação e a comunidade. Então foi um momento muito, muito especial realmente que com certeza eu vou levar pro resto da vida, porque foi uma hora de graças, e é pena que as pessoas desconhecem aquilo que acontece no silêncio, né? Porque foi um dia de graças pra toda a comunidade, pra nossa família de irmãs e pra cada uma de nós individualmente. //IRMÃ ELIANE MARIA// 03 DE JUNHO DE 2015


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Então da mesma forma nós temos esse corpo, que tem suas necessidades que nós precisamos suprir até certo ponto pra manter a vida, mas ao mesmo tempo você deve entender que você, dentro do corpo, você tem você como alma, você tem que suprir suas necessidades caso contrário você não vai ser feliz por melhor que você cuide do corpo. //CAITANYA CANDRA// 04 DE JUNHO DE 2015

Eu tenho como missão de escurecer, pretear, enegrecer o cenário cultural santamariense. E a maior felicidade é quando eu vejo na minha doce favela “Parabéns Rafaela Bixo Música UFSM”. Daí eu danço na rua, daí vale a pena isto. Essas ações me deixam felizes. Pequenas ações são capazes de mudar o mundo. //NEI D’OGUM// 05 DE JUNHO DE 2015


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Eu saí pra ganhar nenê daqui de dentro do trailer. Ela tá com dois anos e dez meses. Ser humano tem história, né? As minhas gurias se criaram dentro dum Fiat 147. Pra nós vai ser o maior orgulho da nossa vida quando se formarem. E tu vê que as pessoas não confiam mais em ninguém. Quando elas veem a honestidade elas ficam impressionadas de ver assim “meu Deus”. Teria que ser uma coisa normal, né? Eu penso. //VERA BEATRIZ MEDEIROS E CLAUDIO MEDEIROS// 23 DE JUNHO DE 2016


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Eu sou concursado na Superintendência dos Serviços Penitenciários [Susepe]. É complicado, né? Tem um lado que acha que todo mundo é bandido, e tem o outro lado que acha que as pessoas tão lá injustamente. Isso aí é bem relativo. Às vezes, tu é réu primário, tu nunca teve contato com o crime, foi preso por tráfico. Aí tu vai ter contato com tudo, com traficantes, cara que assalta, cara que rouba. Aquilo lá é uma escola cara, infelizmente. De tudo. TU GOSTA DO TEU TRABALHO LÁ? Cara, não é o melhor trabalho do mundo, né? Mas alguém tem que fazer. //RENATO CRUZ// 10 DE JUNHO DE 2015


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Até hoje ainda tem pessoas que dizem “Ah lá em cima no sem-teto”. Tem nome, tem já registrado. Eu gostaria que fosse assim mais um... como é que se diz... um respeito, né? //IRENE ROSA// 06 DE JUNHO DE 2015

Não gosto de ficar na casa. Se fica na casa, nossa cabeça, cuca, pára. Se pára, a rede elétrica, que tá sempre a conectar, apodrece. COMO A SENHORA PERCEBE A DIFERENÇA DA CULTURA DA ÍNDIA PRA CULTURA DO BRASIL? Bom, regra é uma: não faz mal a ninguém, não mentira, não engana outros. //POORNAM RAMASWAMI// 11 DE JUNHO DE 2015


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Aqui na Tancredo Neves, por ser bairro e pelas pessoas serem vizinhas, é uma realidade mais próxima, até porque a gente se importa mais com as pessoas. No Centro, tem mais aquela coisa “ah, eu vi, mas fingi que eu não vi”. Realidade de drogas, de violência, existe em qualquer lugar. Mas aqui é um bairro muito tranquilo pra morar. Não pensaria em largar pra ir pro Centro, justamente por esse contato que a gente tem maior com as pessoas, mais confiança nos vizinhos por ter esse laço. //JULIANA PALAR// 07 DE JUNHO DE 2015


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Cada um busca um tipo de felicidade, entendeu? Mas aí é como diz um cantor lá antigão: não existe felicidade, existem momentos felizes. AIRTO, O QUE É A VIDA? Tem a sobrevivência e tem a vida, né? Sobrevivência é isso que as pessoas fazem na parte 3D do planeta Terra. E pra sentir o que é a vida você tem que aprender a sair, se projetar pra fora do corpo. E conquistar a parte ultra do planeta Terra, que é a parte extra-física. Aí começa a vida. Aí você sai da sobrevivência e entra na vida. Ainda tem poesia, música pra pessoa conseguir isso aí que eu falei pra ti. //AIRTO MADDALOZZO// 08 DE JUNHO DE 2015


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O pai dela está pro Haiti. É direto, é agarrada no pai. Em mim também, mas se ela vê o pai dela, bã. É mais com ele do que comigo. Na volta então vou ficar com ciúme, né? Só o pai e a mãe não. Bem séria ela, é difícil de fazer ela rir. Tinha mais flores, mas ela tirou. Ela tá sempre bem arrumadinha, adora se arrumar. //MARIA CRISTINA MELO DE OLIVEIRA E FILHA// 08 DE JUNHO DE 2015


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Deus permanece em todas as pessoas. Vivi aquela existência que Deus me fez compreender “Ama teu próximo como a ti mesmo”. Aí que está a vivência, a vida está aí. Portanto, muito obrigado, peço desculpas pelo prolongamento da minha palestra. //MARIA CONCEIÇÃO OLIVEIRA// 07 DE SETEMBRO DE 2015


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A gente abraça e as pessoas simplesmente “Ah, que legal vocês distribuindo abraço”, aí a gente explica também a causa que a gente está juntando e elas ficam mais felizes ainda. Pessoal está ajudando bastante. E a gente está agradecendo bastante também. 07 DE MAIO DE 2016


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Os meus dias felizes da minha vida é sempre um dia após o outro. O meu sonho que eu batalho há horas: adquirir a minha casa própria. Ter um terreninho pra mim. Vamos dizer que médio, não falta muito e nem pouco, tô no meio. Quero ver se adquiro, ter a minha independência, “ó, isso aqui é meu”. //LUIS FERNANDO GARCIA DOS SANTOS// 08 DE DEZEMBRO DE 2015


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COMO É QUE TU TE SENTE AQUI NA BATALHA [DOS BOMBEIROS]? Eu me sinto legal. Se dá de cantar eu não tenho vergonha, se dá de se apresentar, eu não tenho vergonha, se dá de perder, eu não tenho vergonha. Mesmo assim eu vou sair feliz. TU PODE MANDAR UMA RIMA? Então eu tô chegando, eu tô mandando o meu som Aqui na praça dos Bombeiro com meus aliado na mão É pode crer que tem várias mina os mano que tão comigo no clima Não importa se é da zona sul, da zona leste Da zona norte, da zona oeste Pode crer que eu tô ligado Agora eu já cheguei nesse barato O dia a dia já passou, já choveu Então já escureceu Mesmo assim eu vou devagar Pra não derreter, pra não vacilar Tomando bira, curtindo o som Mandando pras mina, mandado pros mano que tão de moletom //TIAGO PIRES// 13 DE JUNHO DE 2015


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Eu sou a favor da legalização. Porque vai diminuir a venda dos traficantes. Briga por ponto de venda. Faz que nem eu: vai lá no mercado ó [mostra uma carteira de cigarros comuns]. Compra. Se quer usar, usa. Os prós e os contras tu sabe. E o Governo vai ter que um dia pagar por isso e não tá ganhando nada. Isso aí ó, tudo é do proibido. Aí depois cada um ia pro seu lugar. “Com o andar da carruagem”, como diz o meu pai, “os mogango vão pro lugar” (risos). //CLEONE DODA PEREIRA// 14 DE JUNHO DE 2015


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É assim que eu ensinei os meus filhos: o respeito com o ser humano, com os idosos, com o animal, com as árvores. Todos eles sabem lavar roupa, cozinhar, limpar a casa, costurar, trocar tomada, trocar torneira, arrumar ferro elétrico, trocar resistência do chuveiro. Por que aí eles não têm que pagar, né? A vida né, tu nunca sabe o que te aguarda pra frente. E aprender não ocupa lugar. //MARLENE BORBA DOS SANTOS// 16 DE JUNHO DE 2015


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Ser uma mulher gorda na sociedade atualmente é muito difícil, especialmente se tu foi uma criança gorda. Tu já cresceu ouvindo que tu estava doente, que isso era uma doença, que tu precisava ter amor por si. E isso faz com que tu se afaste um pouco do amor próprio. Todo o corpo é bonito, todo corpo é belo, sabe? A gente tem que aceitar o jeito que a gente é, e mudar se a gente quiser mudar, mas isso tem que vir de dentro de si e não fazer isso porque a tua mãe pede, o teu pai pede, o teu namorado, a tua namorada pede. E de modo geral se amar do jeito que tu é. Porque as pessoas esperam muito da gente e no fim das contas a única pessoa que deve esperar alguma coisa de nós mesmos somos nós. //KAMYLA CLAUDINO BELLI// 22 DE JUNHO DE 2015


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Eu tenho o sonho de ter uma casinha lá na Vila Brenner e ficar por lá e me aposentar. Eu vou viver minha vida melhor sozinho que mal acompanhado. Eu quero paz. As minhas coisas que sejam minhas, porque usar coisa dos outros é a pior bucha. Eu sou um cara assim que eu sou pelo certo. //ALCEMAR DE OLIVEIRA DOMINGUES// 26 DE JUNHO DE 2015


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Ninguém tem o direito de interferir no corpo do outro sem o consentimento. //MARINA LIMA// 17 DE JULHO DE 2015

Não é por falta de opção, é por opção minha. Tenho uma família estruturada. Cada dia eu vou aprendendo uma coisa nova, uma coisa diferente. Eu nunca vou dizer que eu sei muito, porque a gente tá aprendendo todo o dia, né? Através da arte, ter uma mente aberta, sabe? Pra entender as pessoas, entender as coisas da vida. Que ninguém é igual, né? Lidar com o ser humano, aturar o ser humano, tem que tá em contato com a natureza, tem que tá com energia. //ÍCARO SILVA// 11 DE JUNHO DE 2016


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Um curto-circuito incendiou a casa da minha família, lá em Cruz Alta. O bom é que não tinha ninguém em casa, né? Minha mãe e meus irmãos não tavam em casa e aí, quando eles chegaram, eles se depararam com aquilo. A minha turma de Relações Públicas da UFSM se organizou e preparou uma rifa. Eu consigo falar do que tá sendo feito, não consigo falar de como era. A família Morati é a força e a luta. Nunca foi fácil, então não vai ser agora que vai ser, e a gente vai seguir e a gente vai conseguir tudo de novo. //GREICE MORATI// 03 DE JULHO DE 2015


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A gente vai tá com o Sopão Solidário sempre quarta-feira, mais pela sete e meia [da noite] pra dar tempo do pessoal sair do trabalho e vir ajudar, e dar tempo de fazer a sopa, a gente vai tá pela praça, pra distribuir pro pessoal da rua, que cuida carro, pessoal que se esforça, não tem uma vida mais... seletiva, depende mais de doações então a gente vai tá distribuindo essa sopa. Não tem muito mistério fazer doação, só que alguém tem que fazer. Fora a energia que tu chega em casa e tu tem que ajudar o próximo porque se a gente não fizer um pouquinho, vai chegar uma hora que ninguém vai fazer mais por ninguém, porque não existe mais isso, entendeu? E é bacana tu chegar e ver todo mundo mobilizado aqui, mesmo com chuva. //INTEGRANTE DO GRUPO SOPÃO SOLIDÁRIO// 08 DE JULHO DE 2015


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TEM ALGUM MOMENTO QUE A SENHORA GOSTA DE LEMBRAR DELE? Quando ele me chama de “mamãe”. O que a gente puder fazer pra ele progredir, pra ele seguir em frente, pra ele ser o mais independente possível ele vai ser. Dentro do limite dele eu quero que ele seja feliz, é só isso que eu quero. O resto ele vai conquistando todo dia. O QUE RECOMENDARIA PRA PAIS QUE VEJAM QUE SEUS FILHOS PODEM SER AUTISTAS OU QUE TENHAM DIAGNÓSTICO? Que procurem, que não desistam e que vá em frente. Antes eu sofria muito porque eu queria que ele fosse igual aos outros. Só que eu percebi que ninguém é igual a ninguém. Então cada um tem as suas diferenças, né? Eu sou eu, você é você. O que é difícil pra ti, é fácil pra mim, então ele é assim. //DANIELA TONETTO E FILHO PEDRO// 09 DE JULHO DE 2015


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Eu pretendo voltar a estudar, me formar professora de História, aprender sobre história africana e aprender sobre gestão alimentar. Eu queria até ser chef de cozinha, mas acho que não vou cozinhar mais, quero voltar a estudar, fazer supletivo, terminar, fazer magistério, depois fazer uma faculdade. Trabalhar longe das panelas. Com as panelas, só em casa. //CARMEM LÚCIA DOS SANTOS// 11 DE JULHO DE 2015


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Moro desde o princípio na ocupação do Km3, o nome da comunidade é Estação dos Ventos, se formou lá em 2001. É normal que se diga que “é mais fácil dar o peixe do que se ensinar a pescar”. Mas tem que se pensar sobre isso. Tem casos e tem casos. Porque assim, num caso da pobreza, o mais urgente ali é eliminar a fome. Porque a fome leva a pessoa a coisas absurdas. Roubar, matar. Então, aplique o castigo depois, mas acima de tudo a pessoa tem que tá alimentada. O pior de todos crimes seria a fome. E a fome não necessariamente aquela de comer o pão. Mas a fome da verdade, a fome da justiça, a fome da necessidade. Se tu tem condições de comprar um lápis e um caderno, ó que maravilha, mas e se o outro não tem, o que eu faço com ele? Então tem que procurar uma forma de lidar com igualdade mas sabendo lidar com a diferença. //ROGÉRIO RODRIGUES// 13 DE JULHO DE 2015


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O meu pai teve vários AVCs isquêmicos. Como se o cérebro fosse assim... uma vez o médico me falou que era assim como uma noz, sabe, e aí vai secando. Isquemia, né, vai moendo as células ali. Eu por exemplo, eu acho uma coisa... sem propósito, uma pessoa estar naquele estado ali. Eu acho que é como tu morrer, é morrer criança. Pra mim não consigo entender qual o propósito da morte. Mas aí se eu vou questionar a morte, eu vou questionar a vida também. “Por que vim, por que estou aqui, por que eu tenho que ir, em que hora eu tenho que ir”, então eu acho que tem que encarar e fazer o melhor que puder, e quem sabe um dia a gente vai entender, por que tem que passar por isso. //ANA MATIUZZI// 15 DE JULHO DE 2015


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Ele falou: “É fácil, mãe, eu sei”. Já tava na terceira partida, ele ganhou uma e agora tá ensinando a irmã dele. Ele aprende rápido. É bom pro raciocínio, né? É bom porque eles fazem uma atividade e não ficam pensando besteira. Eles fazem parte do projeto Orquestrando Arte também, lá na Ulbra, começaram esse ano no clarinete. //ANA PAULA SANTOS SOBRE OS FILHOS GABRIELLA E GUILHERME// 18 DE JULHO DE 2015


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Em primeiro lugar a gente diz assim ó: estuda, estuda pra tu ter um futuro melhor. Depois vai na sequência, é o esporte, música. //ADEMIR PAIM DE SOUZA E JOÃO PEDRO MARQUES// 18 DE OUTUBRO DE 2015


201

O meu vô mesmo ele era Guarani, veio do Paraguai. Ser sempre trabalhador e honesto e o resto a gente corre atrás. Eu tenho um guri que é paraplégico, sofreu um acidente com dezoito anos. Agora ele tá com vinte e três, tá se recuperando. Mais uma guriazinha que a gente tem. Queria ter a minha casinha, um carrinho pra não forcejar de lá pra cá. Mas a gente nunca se desespera, que sempre um dia é melhor que o outro. Não pode se apavora, a vida ainda continua. //SÉRGIO E ROSA DE OLIVEIRA// 20 DE JULHO DE 2015


202

Eu faço mais pintura, mas quem trabalha mesmo e bota o solado é o sapateiro, é o Magno. Quem começou a sapataria foi meu esposo, mas deu derrame nele e ele tá impossibilitado de trabalhar. Ficou paralisado o lado direito. O que me marca é quando uma criança vem aqui e tem aparelho na perna e a gente tem que botar diferença no calçado dela. //NEUSA SILVA DE FREITAS// 24 DE JULHO DE 2015


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- Ela também precisava desabafar e queria conversar, daí eu vim encontrar ela. Escutar. - Ah, eu também escuto. //CAROL MORIM E PAMELA MOURA// 09 DE AGOSTO DE 2015


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Do dia 25 em diante a gente já começa, pelo menos comigo acontece isso, a reportar naquele dia 26, porque o dia 26 foi um dia muito marcante. Foi o último dia que eu vi o meu filho com vida, né? E ninguém mais quer, pelo menos nós, que nenhuma criança, que nenhuma outra família passe por isso. É... impensável uma coisa dessa. Agora eu estava fazendo umas lembrancinhas do dia 27, alguma coisa pras famílias levarem pra casa, uma mensagem bíblica, pra deixar marcado aquele dia. Isso aqui por uns dias na casa deles vai ficar cheirosinho. A SENHORA PERDEU QUEM? Silvio Mourão Beuren Junior. //IRA MARTA MOURÃO BEUREN// 27 DE JULHO DE 2015


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- Eu gosto do rap pela inteligência e criatividade. Eu gostei muito da batalha [dos bombeiros]. O meu cabelo eu alisava, aí fiz a transição, do liso pro crespo. No começo eu não gostei muito, mas a gente vai percebendo que fica volumoso o cabelo. - Eu acho tão mais bonito, mais natural. Não é imposto. //GRAZIELA PORTO E GABRIELE PORTO VAZ// 10 DE SETEMBRO DE 2015


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Hay mรกs formas de vivir la vida. //ROMINA TURRA E ANIBAL ESPINOZA, EL DUO ARREBOL// 04 DE JANEIRO DE 2015


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Com quinze anos, fui registrado como recém-nascido. Meus pais trabalhavam na roça. Desde dos dez anos, eu trabalhava com eles. //ADENIR MOURA DA SILVA// 03 DE AGOSTO DE 2015

Lidar com cabelo me ajudou bastante, eu era meio fechado, meio tímido demais, muito na minha. E cabelo tu tem que conversar com a pessoa, tem que soltar a língua, não adianta. Eu e meu irmão cortamos cabelo no quartel. Trabalhávamos no quartel e depois vínhamos trabalhar no salão. É bom, mas ser cabeleireiro não é barbada. //EDSON MARIANO// 26 DE JULHO DE 2015


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Tem gente que não sabe vender, o vendedor tem que saber dar atenção pras pessoas, senão tu não arruma nada, como diz o outro. Meu sonho é comprar uma moto pra mim e botar essas rapadura em cima duma moto aí e vender em tudo quanto é canto. //VENDEDOR DE RAPADURAS// 11 DE AGOSTO DE 2015

Porque as pessoas tem que ser livres para amar, pra gostar de quem elas gostam, de fazer suas próprias escolhas e não serem ditadas por escolhas de outras pessoas. //FELICIA FINAMOUR// 14 DE AGOSTO DE 2015


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Mostrar que é um trabalho e o respeito começa a vir. Isso, várias vezes a gente viu nas festas aqui em Santa Maria e que tá mudando aos poucos. Graças às drags. Tu pode tirar uma foto de nós três juntas? É que se ficar só eu, elas vão ficar chateadas, a gente anda sempre juntas. //THAYLLA FARIAS FENIX, LILI SAFRA E FELICIA FINAMOUR// 14 DE AGOSTO DE 2015


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//FELIPE LIMA E GABRIELA DA SILVA// VISTO NA PRAÇA DOS BOMBEIROS 15 DE AGOSTO DE 2015


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Crianรงada brincou, jogou bola; pessoas de idade, com todo o frio, adoraram. Tinha vizinhos que moram aqui e nรฃo se conheciam. Todo mundo colaborou. Ano que vem eu vou me organizar antes. Vale a pena. //TERESA MARIA SHAMA// 16 DE AGOSTO DE 2015


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Tem que refletir, pensar antes de fazer. Tu sabe que às vezes as pessoas dizem pra mim que nunca me viram triste e eu digo “Mas nem tem porquê”. E aí dizem “Qual é a razão?”, “De bem com a vida”. //DILCEU CHAGAS// 20 DE AGOSTO DE 2015

Faço Odontologia, estou no 8º semestre. Foi uma descoberta porque a princípio eu não sabia se era o curso certo, daí eu fui fazendo e descobri que tinha habilidade e hoje em dia eu sou apaixonada pelo curso. //MARIANA FREITAS// 24 DE AGOSTO DE 2015


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A gente não vai parar enquanto nós não tivermos uma resposta. Só vamos parar depois que não tiver mais o que fazer. Mas enquanto tiver força, estamos indo. VOCÊS PERDERAM QUEM? Rafaela Schmitt Nunes. Ela tinha sonhos. Ela sempre dizia pra gente “Eu tenho um sonho de mudar esse mundo”. //JORGE ALBERTO DOS SANTOS NUNES E LENIR SCHMITT NUNES// 27 DE AGOSTO DE 2015


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VISTO NO LOTEAMENTO CIPRIANO DA ROCHA EM 29 DE AGOSTO DE 2015


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Eu já tô ensinando, eles não conheciam, eles nem sabiam o que era pipa, pandorga. A primeira vez que eu fiz ficaram, bei, maravilhados, olhando e fazem um gritedo. //MARCELO QUINHONES MACIEL E SOBRINHO// 31 DE AGOSTO DE 2015


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Eu aprendi a criar uma criança dessa forma: se tu vai agradar um e não vai agradar o outro, não agrada, porque o sentimento vai ficar guardado pra sempre no coração. Vai se criar com aquele sentimento. Tem que dar opções. Tem que induzir a criança a ser pelo justo. //CESAR OLIVEIRA// 04 DE SETEMBRO DE 2015


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Eu sempre grito assim: obrigado, Yeshua por ter me ensinado a fazer um instrumento pra tocar pra levar alegria pro povo! E assim mesmo eles me proíbem de tocar. Eu gostaria que as pessoas procurem a se conscientizar mais e buscar mais o ser humano. As pessoas tão muito individual, muito individualista. Nessa civilização, os filhos são inimigos dos pais e os pais são inimigos dos filhos. A educação vem de berço, jamais uma escola vai dar uma educação pra ninguém. Os filhos não têm atenção dos pais. O pai não tem tempo de dá carinho pro filho porque na hora que o filho tá em casa é a hora que ele tá na frente da televisão, ele tem que assistir a novela e aquilo ali é gostoso e emociona ele, ou o futebol. E se o filho atrapalha, manda ficar quieto. Então na hora que não deve mandar o filho ficar quieto, é que ele manda. //ARLINDO FREITAS// 06 DE JUNHO DE 2016


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COMO ERA TRABALHAR NA FERROVIA? Bãi, naquela época era coisa muito boa. Mas credo. Eu até tenho um DVD, a última viagem do trem passageiro. Eu ali eu trabalhava como auxiliar e chefe de trem. Cobrava a passagem nas viagem. Eu não gosto nem de olhar esse filme, cara. Chega a dar um treco no cara, sabe? Porque tu ficava trabalhando ali, tu via como é que funcionava, e ver no estado que ficou, no que acabou. //LUIS CARLOS OLIVEIRA// 30 DE JULHO DE 2015

Meu sonho é que os meus filhos sejam bem criados e que eu possa servir de exemplo. Tenho seis filhos. Tenho dois de vinte um, dois de doze e dois de seis. O mundo é feito por atitude, né cara, tendo atitude correta que as coisas acontecem. //ALEXANDRE LEMOS// 13 DE SETEMBRO DE 2015


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A gente não quer mudar tudo aqui, a gente quer mudar tudo o que der. A gente tá nessa luta pra ver se a gente consegue ajudar os professores a melhorar as condições deles, por causa que o professor é a base fundamental na sociedade, que é quem nos ensina tudo. Se não fosse os professores, tu não estaria aqui, a gente não estaria aqui, a gente não ia saber nada, nem ler, nem se comunicar. E também o salário deles, é muito injusto o que eles recebem, eles recebem pouco pra tanto que eles fazem. Sem os professores ninguém seria nada. //THALITA FOGAÇA E LUANA DORNELLES SOBRE A OCUPAÇÃO NA ESCOLA AUGUSTO RUSCHI// 24 DE MAIO DE 2016


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A SENHORA TAMBÉM FALOU DO CIÚME. O QUE A SENHORA ACHA DISSO? Ai, eu acho horrível. Eu não sou tua propriedade pra tu querer me mandar. Daí tenho faxinas pra fazer, com o tempo eu vou começar a ir em baile de terceira idade, vou conhecer gente boa, quem sabe a gente pode namorar. //MARIA ISABEL DA SILVA// 16 DE SETEMBRO DE 2015

O que eu mais gostei foi ter aprendido desde pequena o que é tu viver lá fora, no campo, tu saber trabalhar. Eu tive esse aprendizado de pai pra filha, desde pequena envolvida nisso, acho que é o que mais marca. //ADRIELI LINHAT// 20 DE SETEMBRO DE 2015


221

Uma senhora comprou um algodão doce pra sobrinha e tirou uma foto minha bem na frente da Feisma. E depois me deu a foto. Tenho lá guardada. POR QUE O SENHOR ACHA IMPORTANTE FAZEREM UMA FOTO DO SENHOR? É... é uma admiração, né? //PAULO ROBERTO CARVALHO DE QUADROS// 07 DE OUTUBRO DE 2015


222

//WILLIAM FRANCISCO COSTA DOS SANTOS, RAQUEL LANES BARBOZA, SABRINE WEBER, LUANA OLIVEIRA, BRENDA BOPP BATISTA, RUÃ ALVES// VISITA À ESCOLA BÁSICA ESTADUAL CÍCERO BARRETO PARA CONVERSAR COM ALUNOS. 23 DE SETEMBRO DE 2015


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Teve uma senhora uma vez na Vila Belga, foi legal a reação dela, que ela veio parabenizar e disse que nunca tinha visto isso na cidade, que ela tinha setenta e poucos, e nunca tinha visto, só tinha visto em filme, que ela achava bonito, e aí quando nos viu ela achou muito legal. //JÚNIOR KANOPF, MAICOM REZA, JOÃO BONORINO E ALDÊBAR MARIANO - BANDA S.O.S BLUES// 24 DE SETEMBRO DE 2015


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Agora dia 17 de junho de 2015 eu terminei o Ensino Médio. Aí quando eu tinha vontade de desistir, me lembrava daquilo que ela dizia “Mãe, vamos comprar teu material escolar”. Ela queria que eu continuasse estudando. A SENHORA PERDEU QUEM? A Nathiele dos Santos Soares. //MARILENE DE OLIVEIRA DOS SANTOS// 27 DE SETEMBRO DE 2015


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Chega uma hora que cai a ficha, tu vê “Pô, o que eu tava fazendo não é legal, tem que fazer diferente”. E é aí que tu pensa que, se tu fizesse diferente desde o início, tu não taria numa cadeira de roda. Eu posso dizer que sou feliz porque não uso droga, não bebo, não fumo. Eu sou uma pessoa consciente. Estava aqui comendo uma laranjinha no sol. //CLEBIO BALDINI DA SILVA// 30 DE SETEMBRO DE 2015

Porque não é só o fato de atender [no Centro de Valorização da Vida], a gente tem que atender bem. Então tu tem que saber o que dizer pra uma pessoa, tu não pode julgar. O aprendizado maior que eu tive foi esse fato de aprender a ouvir melhor as pessoas. //EUNICE PEDRAZZA// 01 DE OUTUBRO DE 2015


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A SENHORA TEM ALGUM SONHO? Tinha, sair daqui, trabalhar e ganhar bem. Todo mundo tem sonho, né? Mas tá difícil. Só queria arrumar um emprego pra mim. 04 DE OUTUBRO DE 2015

A coisa mais marcante é o público reconhecer que você fez um bom trabalho, que você tocou no coração dessas pessoas, isso aí não tem preço. E os aplausos também. //LUÍS SILVA// 18 DE SETEMBRO DE 2015


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Moro com a minha esposa aqui no Km3 faz seis anos já. Eu mesmo fiz a casa. Pois é, nós acordamos com o vizinho chamando por causa da água. Invadiu tudo ali a água. É brabo, não é fácil. //DENILSON GONÇALVES// 09 DE OUTUBRO DE 2015

A SENHORA PERDEU QUEM? Melissa do Amaral Dalforno. Ela era aquela coisa maravilhosa. Ela era alegre, faceira, vaidosa, sabe? Gostava muito dos animais, eu tenho quatro cachorros dentro de casa que dormem conosco. Eu nunca comprei cachorro, mas se ela enxergava na estrada um cachorro ela queria pegar. //MARA AMARAL DALFORNO// 27 DE MAIO DE 2016


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Ela toca flauta na Ulbra. A gente tem uma associação e ela mora comigo. Então ela é muito quieta como eu te falei, mas essa parte ela adora e adora tocar. Ela não gosta de mostrar a cara pra ninguém, mas é uma excelente guria. Ela agora ganhou um prêmio por ser a melhor aluna da escola do Pão dos Pobres. //JANDIRA DE SOUZA DE OLIVEIRA// 12 DE OUTUBRO DE 2015


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Ele tem onze anos. Ganhou os campeonatos Sul-Brasileiro, Sul-Americano e o Gaúcho. Ela também foi campeã gaúcha. Agora eu quero ver se eu boto aquele nanico. Pra mim é um orgulho, né? //EDER LUIZ REZENDE CORREA SOBRE OS FILHOS JUDOCAS// 14 DE OUTUBRO DE 2015


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Meu nome é Viviane Marconato, sou professora da Escola Pão dos Pobres Santo Antônio, trabalho com os quintos anos, onde desenvolvo oficinas de poesias, contações de histórias, criações de fábulas, histórias infantis e recitação de poesias entre outras produções literárias, nas aulas de Português. 19 DE JULHO DE 2015

O nome dele é Jaxel. Ele está na pré-escola, faz dois anos que a gente mora aqui na Cipriano. As crianças não tem nada para incentivar. Não tem uma pracinha, nada. Aqui é o Centro Comunitário não tem nada, principalmente pras crianças. Esse meu por enquanto é bem inocente. Aonde ele vai eu estou sempre de olho. Mas é bom o lugar, falta incentivo mais. 12 DE JUNHO DE 2016


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Meu pai sempre leu muito. Ele sempre nos incentivou, eu e meus irmãos, a ler e sempre dizia que a única coisa que podia deixar pra nós era o estudo, e outra coisa que ele sempre dizia é que por nós sermos negros nós tínhamos que nos empenharmos bem mais, nos ensinou a sermos negros, não temos vergonha da nossa cor, a nunca baixar a cabeça e uma coisa que eu carrego comigo, né, ninguém me chama de morena, me chamam de negra. //ELISANDRA MOREIRA// 20 DE OUTUBRO DE 2015


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Se nasce uma criança surda, é importante que os pais aprendam a Libras [Língua Brasileira de Sinais] pra criança entender a sua identidade porque senão ela vai achar que ela tá vivendo num outro mundo, vivendo num mundo falso de ouvintes. Então ela precisa conhecer o mundo próprio dos surdos, se sentir como surda. //SILVIA NARA DOMINGUES E LENNY SANDERSON// 24 DE OUTUBRO DE 2015


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A única coisa que me faz feliz é estar com as minhas amigas ali, as gurias. Agora a gente inventou os artesanatos lá na Associação, isso é muito bom. A gente tá sempre ali num grupo bem coeso, e de respeito. As gurias hoje em dia são como irmãs pra mim. A SENHORA PERDEU QUEM? Lucas Dias de Oliveira. Era aniversário da namorada. De vez em quando ela me pede desculpa, eu disse: “não, não. O Lucas tinha perna, tinha braço, tinha cabeça. Ele foi porque quis. Não tem nada a ver culpa tua, tira isso da cabeça”. Jamais vou culpar ela, não. Eu tenho entendimento das coisas. //MARISE DIAS DE OLIVEIRA// 27 DE OUTUBRO DE 2015


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Eu faço um trabalho com a Associação de Pais, Pacientes e Apoiadores da Hemato-Oncologia [APPAHO], formada por grupos de pacientes, devido a necessidade de muitas família vinham pra Santa Maria e não tinham a quem recorrer. Porque eu tive um filho que se tratou com câncer. A doença voltou quatro vezes nele. E aí desde esse tempo que o meu filho tava internado, eu comecei a ver a situação daquelas famílias que não eram daqui ficavam desesperadas na porta dos hospitais, dentro do próprio leito, sem saída, entendeu? E aí a gente começou a ver como era importante tanto pros outros quanto pro meu filho. Ele fez um tratamento dos oito anos até os dezeoito e infelizmente ele não conseguiu, entendeu? Mas a parte da gente, a gente fez. //MARCO ANTÔNIO DOS SANTOS// 31 DE OUTUBRO DE 2015


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Nos mantemos com reciclagem. Eu era auxiliar de enfermagem. Trabalhei vinte e cinco anos, me aposentei por isso. Nos damos com todo mundo aqui, amizade com todo mundo. //CARLOS E CLEONIR RODRIGUES// 24 DE NOVEMBRO DE 2015


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Tem os meninos que entram na banda depois vão pro quartel, seguem carreira militar. Tem um menino que foi da banda e que é sargento da Aeronáutica. A maioria quem sai daqui, se for seguir a carreira de músico, segue certo. O professor dos meninos, ele tem faculdade na Federal de música e ele começou aqui como aluno. //GEISOM NIELSEN, COORDENADOR DA BANDA MARCIAL MANOEL RIBAS// 03 DE NOVEMBRO DE 2015


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LISIANE RIBEIRO: Ser baliza é bom, é tipo uma terapia pra gente, sabe? Eu entrei porque ela, minha mãe, me obrigou. Porque ela disse que se eu entrasse na banda eu ia poder viajar. CARMEN RIBEIRO: E é uma boa porque a gente se distrai. Aprendi muito com eles e eles com a gente. Uma energia muito boa, muito legal. Pra cabeça da gente também, não é só trabalho, trabalho, trabalho. 04 DE NOVEMBRO DE 2015


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DIEGO OLIVEIRA: Tem bastante gente que troca a ideia, sabe, isso que é o massa. O importante é passar a ideia adiante. Dez centavos que seja já é um apoio. Tentando estimular as pessoas a abrir os olhos, né? 05 DE NOVEMBRO DE 2015

O movimento punk é total combate ao fascismo. Danem-se compactuantes com a ideia totalitária e ignorante que acham que poder, que acham que ser mais que os outros é ser alguém na vida, tá ligado? //DIEGO OLIVEIRA E ELVISKUSTELA DA ROSA// 05 DE NOVEMBRO DE 2015


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GEOVANI MARTINS SILVEIRA: Quero fazer um curso de culinária depois. Gosto de cozinhar. Mas é bom trabalhar aqui e ter o meu dinheiro e não depender dos outros. FABIANE NUNES: Ele pode sair, ele deixa o jornal dele ali, eu vendo, dou dinheiro pra ele. Se eu sair, ele fica vendendo pra mim. Tem que ser na parceria. 10 DE NOVEMBRO DE 2015


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Estou nos Bombeiros desde 2008, mas entrei na Brigada em 2006. Foi sempre um sonho salvar vidas, né? Desde criança assim, aí sempre me motivou. Salvar vidas não tem preço né? //CLAUDIA ZASSO// 12 DE NOVEMBRO DE 2015

Se der, um dia, queria conseguir um serviço melhor. Qualquer um pra mim seria bom. Eu ganhando meu dinheiro, por mim tá valendo. Em obra, mercado, qualquer lugar. Eu penso assim, como é que querem que o povo que tá aí no centro, tá roubando, tão indo preso e falam que é porque eles querem. Não é porque eles querem, é que eles não tem oportunidade. //ADRIANO ALVES DE SOUZA// 17 DE NOVEMBRO DE 2015


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MARCIO CAMPANA: Tenho um amigo meu que se veste de Wolverine e tem 57 anos. Já vi médico, advogado e padre fazendo cosplay. FELIX FAGUNDES LEAL: Faço mecânica de carro no Senai. 14 DE NOVEMBRO DE 2015


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Você fica sempre cuidando todas as coisas, porque tu quer que de alguma maneira o mundo seja melhor e que ele veja bons exemplos, sabe, e que ele viva num lugar melhor do que o lugar que a gente vive. E muitas pessoas veem até como uma coisa boa “Ah, ele tem duas mães”. //BRUNA SURDI, AUGUSTO E JAÍNE VASCONCELLOS// 08 DE MAIO DE 2016, DIA DAS MÃES


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Eu tenho a filha com problema, mas jamais eu vou fazer sujeira pros outros, assim como eu não gosto que façam pra mim. 02 DE NOVEMBRO DE 2015

Eu pra mim as questões de marca de escravidão são questões muito particulares, muito individuais e que devem ser resolvidas na individualidade. Porque no coletivo já tivemos bastante avanços. Nós somos capazes, somos pessoas inteligentes, nós somos senhores dos nossos destinos, sabe? //MARIA RITA PY DUTRA// 20 DE NOVEMBRO DE 2015


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É possível ser diferente. Não existe só um padrão e talvez isso tenha uma coisa importante na sociedade, saber que é possível o diferente, saber conviver com essas diversidades. Uma coisa que o meu pai me falava, ele dizia assim ó ‘não é com o trabalho que tu ganha dinheiro’. E se tu conseguir ao mesmo tempo comercializar o teu trabalho, aí sim tu pode agregar valor. E aí uma coisa que eu acho: não podemos perder as nossas raízes. Não podemos perder as nossas referências. Todo mundo tem uma história, e se tu negar tua história tu nega a tua identidade, tu nega o teu ser. Não tem como fugir disso. //IVAN ZOLIN// 03 DE MAIO DE 2016

O que o mais sinto falta é o “mãe, mãe, mãe, cheguei!”. “onde tu tá mãe?”, que o meu marido trabalhava fora, aí quem convivia mais era eu. Daí era tudo a mãe. A SENHORA PERDEU QUEM? Alexandre Ames Prado. //VELEDA AMES// 27 DE NOVEMBRO DE 2015


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A gente vinha com cobertor sempre aqui, aí ela deu a ideia de comprar uma rede pra vir. Dá pra aproveitar as árvores. Aproveitar o tempo livre de meio-dia até a próxima aula de tarde. //CASAL DE ESTUDANTES NO CAMPUS DA UFSM// 25 DE NOVEMBRO DE 2015


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O que eu não sei fazer, a pessoa se tiver paciência pra me ensinar, eu aprendo também. Todo mundo nasceu sem aprender, né? Minha mão é bem bonitinha, eu não uso droga. Não faço essas porcarias, eu tenho uma família também. Ainda vão resultar sendo morto de dever pra alguém, alguma coisa assim, então não quero isso pra minha família. //SUELEN// 01 DE DEZEMBRO DE 2015

Eu sou de Manaus. Eu cheguei em Santa Maria em 2003. E dei aula de teatro e dei aula de dança, certo? Porque o ator ele tá sempre estudando, ele nunca está pronto. Só o que me deixa um pouco tocada é que o povo precisa de arte. //AUXILIADORA GOMES// 05 DE DEZEMBRO DE 2015


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Somos Kaingangs da Reserva do Guarita, de Redentora. É a maior reserva indígena do estado. Tem aldeias que não aprovam, né? Mulheres indígenas estudarem, elas têm que ficar em casa e só os homens podem. Mas não é o que acontece na minha. A gente é livre pra fazer o que quer. Eu acho que a gente tem que falar o que a gente quer falar. A mulher tem que procurar seus direitos porque a gente pode também, a gente é capaz. E é por causa do meu filho que eu estou aqui. Ele tem dois anos e quando tiver maiorzinho, ele me olhar e pensar: “minha mãe é professora, conseguiu se formar numa Universidade Federal ainda”. Eu quero um futuro melhor pra ele. //DINARA PATRÍCIA BENTO// 19 DE ABRIL DE 2016


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Achamos essa roupa agora e o Lucas foi provar e já saiu usando. Sabe o que eu aprendi? A gente tem que parar e prestar atenção no que eles falam. A gente não dá bola “ah, depois”, mas não, tem que parar e prestar atenção, é bem interessante. 30 DE ABRIL DE 2016


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Eu acho que todas as pessoas de uma forma geral tem que conhecer minimamente a situação e se colocar no lugar dessa mulher [que aborta], acho que julgamento não cabe a ninguém mesmo, mas de compreender esse contexto dela. E também de encarar como uma questão que determina a morte de mulheres e deve ser pensado como uma garantia de um direito sobre o seu corpo, sobre uma escolha, né, autonomia. É uma questão que exige uma política pública pra que essas mulheres não continuem morrendo. //LAURA FERREIRA CORTES// 16 DE DEZEMBRO DE 2015

Antigamente vendia bem mais. Às vezes os homens querem dar e as mulheres não aceitam. Às vezes eles não dão mesmo – elas querem e eles não, não e não. Eu vendo por tudo. //CORALINA SALETE// 12 DE JUNHO DE 2015


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//VISTO NO BRIQUE DA VILA BELGA// 21 DE DEZEMBRO DE 2015


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Sou de Valência, Espanha. E, por exemplo, a mim chama muita atenção que, sei lá, jovens estudantes classe média, gente que quando junta um pouco de grana quer viajar pra Europa no verão. Mas um pouco é do senso comum que todo mundo acha que lá na Europa é tudo melhor. Aproveitem que vocês tem muito mais coisas interessantes por acá. E, bah, o Brasil é um país imenso. //JULIO SOUTO// 26 DE FEVEREIRO DE 2016

Eu vim de Osasco, São Paulo. Eu vim na cara e na coragem. Eu fiz seleção para me transferir pra cá e passei, foi uma alegria, glória. A coisa quando eu vim pra cá foi tão doida, porque eu ainda não acreditava que eu tava no Sul. Ou que eu tava numa Federal e no Sul fazendo o que amo e no que acredito. Parece que por mais que a gente faça uma escolha a gente não sabe aonde chega com ela. //CARLOS LUCIO FARIAS// 12 DE MARÇO DE 2016


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Eu tenho esclerose múltipla, faz dez anos. Faz nove anos que estou na cadeira de roda. Eu não estou incomodando ninguém, apenas estou vendendo uma rifa. Ainda bem que eu consegui ter uma filha antes de ter a doença. Ela me cuida, ela não tem vergonha da mãe. Melhor filha do mundo, ela anda comigo em qualquer lugar. Tá sempre junto. Não tenho queixa de nada, minha filha e minha família são o que me dão força pra lutar pela vida. //LAUREANE SANTOS SOARES// 02 DE ABRIL DE 2016


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ALGUM SONHO TEU, ALGUMA MENSAGEM? Ah, sonho meu é que – ainda quero estar viva pra viver num mundo que a aparência não vai dizer nada sobre a pessoa. Tanto um negro, quanto um branco, quando uma pessoa com alargador, quanto sei lá, um gordinho, uma gordinha, vai andar na rua e as pessoas vão ter a imagem igual como se ela fosse... uma pessoa assim... porque o esqueleto é o mesmo pra todas as pessoas. E o sangue é da mesma cor também. Só muda a forminha ali. E também muda o coração, assim, a índole da pessoa, etc, mas isso não tem nem como saber baseado na aparência da pessoa. //CAMILA MULLER// 01 DE AGOSTO DE 2015


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agra deci men tos

A

os que apoiaram a ideia antes de ser posta em prática: Giuliana Matiuzzi Seerig, Eduardo Covalesky Dias, Ítalo Holanda Padilha, Nathália Drey Costa e Leonardo Pereira Côrtes. Aos meus pais Fátima de Franceschi dos Santos e Hélio Gonçalves dos Santos e meus irmãos Gabriel de Franceschi dos Santos e Hélio Gonçalves dos Santos Filho. A minha prima Fernanda Gonçalves Dos Santos por ter doado uma bicicleta a um dos entrevistados, a Maria Carolina Zanini por ter organizado uma mobilização social para uma das entrevistadas, e a quem fez algo para algum fotografado que precisava, mas não fiquei sabendo. Publicar o relato e a imagem de pessoas reais implica numa grande responsabilidade. Por isso, agradeço ainda a quem me ajudou a tomar melhores decisões na revisão dos textos e na escolha das fotos através do chat do facebook, sugeriu entrevistados ou a quem deu uma força desde o começo: William Ricardo Boessio, Alessandra Giovanella, Luiz Henrique Coletto, Laíssa Sardiglia, Arianne Teixeira De Lima, Aderlaine Nogueira dos Santos, Ana Lúcia Bighelini de Oliveira, Andressa da Costa Farias, Fernanda Nunes Arispe, Elias Maroso, Maiara Fontoura Almeida, Luciele e Franciele Rocha de Oliveira, Carolina Gasparetto Barin, Felipe Toniolo, Daniele Pincolini Pendeza, Mariana Cervi Soares, Guilherme Moreira, Fabiani Gonzaga Noronha, Mary Torres Ribeiro, Henrique Heinrich, Marcelo Alves, Flávio Laureano, Saul Elias Pranke, Milena Boemo Jeanisch, Mariana Flores Pinto, Natascha Carvalho, Thiago Comin, Francine Nunes da Silva, Celina Goes, Andressa do Amaral, Atílio Alencar, Jeferson Santos, Jessica Gustafson Costa, Luciane Treulieb, Luara Mayer, Matheus Rizzatti, Maurício Dias Souza e Pablo Mello.


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Muito obrigado a todos que curtiram, compartilharam, comentaram, aceitaram ser fotografados e/ou contribuĂ­ram de alguma forma para que o projeto se realizasse.



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