Outdoor Regional

Page 61

Embora prenhe de crises, irremediavelmente cíclicas, a economia sempre conseguiu aprender com seus erros, tendo aperfeiçoado, sistematicamente, o jogo do mercado. Se tivesse uma natureza friamente exata, diante de tantas crises econômicas que o mundo já viveu, nadaríamos em águas plácidas. Mas o elemento humano, que para o bem e para o mal compõe a genética dos mercados, impede que a racionalidade sobreviva aos fantasmas da ganância, do medo da derrocada e falência, levando as crises a patamares em que a razão é apenas coadjuvante, e não elemento principal, em especial em mercados dominados pela insânia do pensamento único, batizado de “neoliberalismo”. Enquanto essa escola acenava com a possibilidade irreal de facilidades desenvolvimentistas propulsionadas por mercados autoregulamentados, a economia gerava, em seu ventre, uma das maiores crises de sua história. Mas essa crise, de forma consciente ou não, tem filhos medonhos (como outras) que, se não vestem a túnica do ditatorialismo, tocam as rédeas da intolerância.

França

A França conseguiu o recorde de expulsões de estrangeiros em 2011. Na balança de uma questionável justiça histórica, pesam 32.922 imigrantes a menos, o mais elevado índice de deportações de seus séculos de existência. O anúncio foi feito, com alarde, pelo ministro do Interior, Claude Guéant. O índice é 17,5% superior a 2010, sendo a meta para este ano de 35 mil. Seu alvo não se dirige apenas aos clandestinos, mas aos imigrantes legais também (com inúmeras dificuldades para renovação de documentos). Guéant relacionou os índices de violência no país à presença de imigrantes, que representam

6% da população francesa, maior população muçulmana da Europa, boa parte dela com laços familiares com antigas colônias francesas no norte da África. Em muitos países europeus, o imigrante é apontado como causador de desempregos e tumultos. Outros chegam a chamar de vagabundos seus vizinhos de porteira, imputando somente a eles uma culpa que deveria ser devidamente compartilhada. Planos econômicos e medidas políticas podem ser enterradas, com pás de cal, por nacionalismos irresponsáveis.

Israel

Já em Israel, o tradicional fracasso de sua política sobre imigração ilegal, levou o parlamento a endurecer as medidas contra os imigrantes ilegais e israelenses que os ajudarem. A nova lei permite que esses imigrantes sejam presos perpetuamente, caso cometam crimes contra a propriedade, e detidos por até três anos sem julgamento. Já os israelenses que os ajudarem podem ser condenados a até 15 anos de prisão.

Estados Unidos

Nos EUA, o conservadorismo rebrota nas palavras rocambolescas de Mitt Romney, que vem vencendo as primárias republicanas e deverá ser o opositor de um Obama mais conservador. A coletividade do “sim, nós podemos” está sendo trocada pela individualidade do “a culpa é sua”. E assim segue o combalido mercado internacional, para alegria dos apocalípticos. A economia aprende com os seus invernos. Se reinventa. Mas por melhores que sejam seus argumentos, jamais serão convincentes o bastante para que a natureza humana, em seu ponto mais íntimo, lhe dê ouvidos.

www.outdoorregional.com.br | 61


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.