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Demóstenes Torres (ex-DEM), o senador que representou, por alguns anos, a direita raivosa que salivou diante do banquete de denúncias contra o PT que a imprensa serviu durante a crise do Mensalão, é considerado, hoje, um cadáver político, cuja reputação foi assassinada pelas suas ligações com o acusado de contravenções e bicheiro Carlos Cachoeira. Demóstenes Torres, hoje, é um solitário entre iguais.

As reações

Diferentemente das reações que a maior parte da esquerda teve quando das acusações contra o PT e partidos aliados, saindo em defesa dos mensaleiros canhestros do partido e citando hipocritamente Max Weber, para quem a ética é dividida em duas - a ética do cidadão comum (ética das convicções) e a ética da responsabilidade, ou dos governantes, que podem “violar” a ética comum em prol da “responsabilidade” - a direita tratou de pedir o extermínio da reputação de Demóstenes.

O Democratas

O Democratas, partido do Senador-moribundo, afirmou estridentemente que expulsar Demóstenes de suas fileiras tratava-se de uma questão fundamental para o partido, que não comporta nenhum “criminoso” na legenda, esta “baluarte da ética e reserva moral do nosso país”. Trata-se na verdade, antes, de uma questão de sobrevivência, que quase toca a hipocrisia: se o maior algoz da corrupção mantiver um “criminoso” (assim pré-julgado para ser expulso do partido, antes das investigações chegarem a conclusões de fato e incriminá-lo de forma contundente – ou não) sob sua legenda, como poderá responder às demandas da sociedade, que exige ética e moral elevadas dos nossos mandatários? O acaso não deixou de mostrar seu humor na escolha do relator do Conselho de Ética do Senado, quando, por sorteio, sugeriu o nome de Renan Calheiros (PMDB, que não aceitou o cargo) para a vaga “maldita”. O Conselho é o responsável por avaliar as cir-

cunstâncias que envolvem Demóstenes e se deve-se abrir um processo de quebra de decoro parlamentar, resultando em cassação de mandato. Hoje o processo está aberto, e a defesa do Senador-cadavérico afirma que faltam provas para se proceder ao processo de quebra de decoro.

Enquanto isso...

O Democratas, atrás das cortinas políticas, cogita uma fusão com o PSDB, como forma de sobreviver. Mas o tucanato também vive às voltas com um de seus políticos: Carlos Alberto Leréia, que teria recebido propina de Carlos Cachoeira, preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo. O relatório da PF mostra de forma esmiuçada as relações de proximidade do parlamentar tucano e de Cachoeira. Os dados constam no capítulo intitulado “Transações Financeiras”, do relatório da PF. Novamente, foram os grampos, ou interceptações telefônicas, como gostam os mais preciosistas, que flagraram os diálogos entre os dois. As investigações envolvendo Cachoeira tocam os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Ministros do Supremo Tribunal Federal estão assombrados com a possibilidade de serem atingidos pelas investigações, uma vez que gravações telefônicas mostram um Demóstenes comprometido em intervir junto a Corte Suprema para favorecer o grupo de Cachoeira. Demóstenes tinha trânsito no Judiciário. Os ministros que recebiam o Senador eram Gilmar Mendes, o controverso ex-Presidente do STF, José Antonio Dias Tofolli e Luiz Fux. A Presidente Dilma Rousseff também anda perdendo o sono com as investigações, pois acredita que elas podem impactar de duas formas diferentes: primeiro, a CPI pode levar o escândalo para dentro de seu governo, por meio do Ministério dos Transportes, segundo, porque pode paralisar o Congresso, atrasando votações importantes. Fato é que, quando a política foi definida como a arte do possível e aceita como tal, a moral deixou de ser um órgão vital e passou ao nível de acessório, posto e deposto ao sabor dos ventos, como o termo “possível” exige.

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