O outro lado de coivaras o mundo

Page 204

oscar kellner neto

de voltar à região, não vendo nada ali. Até que hoje, estranha coincidência, colocaram seu plano em ação para a libertação da donzelinha cantadeira. Tinham já chegado muito passarim e passarão. Tudo sabedor da malvadeza! Tucanos, quero-quero, cará-carás, gaviões, urubus, sanhacinhos, coleiras, canários, tordinhos, melros, gente de cá e de lá detrás da Serra! Iam desfechar dali a pouco o Ataque da Libertação! Dariam o troco da natureza revoltada ao Homem Predador! Aquele grupinho que nos contatou estavam ali como sentinelas, para evitar possíveis testemunhas do massacre: seria desagradável - eles achavam - novas vítimas em troca de um silêncio. A seguir nos deu passagem. Se quiséssemos, nos autorizaram -, poderíamos tentar demover aquele cabeça dura do Rima daquela maluca empreitada de pegar curiós daquele jeito revoltante. Mas nem um pio sobre o ataque. Tinha que libertar a cativa na base do entendimento, por espontâneo, sem ameaças: salvaria assim a própria vida e a do negro. Saímos depressa daquela clareira chilreante, atravessamos um braço do riacho, escalamos um desbarrancado e chegamos até próximos ao famigerado caçador e seu assecla. Gritei: “Oh! Rima! O que faz por essas bandas sem curiós? Endoidou? Nunca vi dizer que se pega curió em beira de serra!” Ele replicou: “Ó Alemão, vá encher outro. Sei o que faço! Ocês tão atrapalhando a ‘chama’ aí perto. Cai fora! Se manda siô!” Ainda tentei: “Deixa disso, solta a bichinha, homem sem coração!”

204


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.