oscar kellner neto
pequeno canto da terra
poemas
delfin贸polisdelfin贸polis-mg - 2009 -
oscar kellner neto
Ilustrações de Odilon José Rosa Nascido em 2020-1111-1935 Falecido em 1414-0606-1980
2
pequeno canto da terra
para delfin贸polis - mg
para as esposas
para os filhos
para as fam铆lias
para os amigos
3
oscar kellner neto
“nada mais fácil que escrever difícil; na simplicidade está a grande complicação que dificulta o ofício.” Bastos Tigre
4
pequeno canto da terra
pequeno canto da terra
5
oscar kellner neto
6
pequeno canto da terra
Fazenda Santa Adélia
feminina muito mística minha terra é alguém cujo nome e origem se encontram no Além
7
oscar kellner neto
8
pequeno canto da terra
Filial
minha terra sempre em vida foi a paixão de Amazílio motivo pelo qual a elegemos nosso exílio...
9
oscar kellner neto
10
pequeno canto da terra
FamĂlia
minha terra muito humana teve pais e tem sua filha apesar de ser solteira sua herdeira ĂŠ uma ilha...
11
oscar kellner neto
12
pequeno canto da terra
Represa
minha terra a um só tempo innundação e remanescência aumenta ou diminui mas nunca muda sua essência
13
oscar kellner neto
14
pequeno canto da terra
Sede
minha terra uma fazenda com sua sede num declive bem distante da cidade ali ĂŠ que se vive!
15
oscar kellner neto
16
pequeno canto da terra
Arrendamentos
minha terra uma trama: meu pertence, me engana. minha terra uma dama: em cada sombra, uma cama...
17
oscar kellner neto
18
pequeno canto da terra
ConfissĂŁo
minha toca escondida meu deslise preferido minha terra ĂŠ mulher por esta amante estou perdido...
19
oscar kellner neto
20
pequeno canto da terra
Rede ElĂŠtrica
minha terra ĂŠ um lugar com sinaleiros nos tapumes sĂŁo suas ruas e avenidas iluminadas por vagalumes...
21
oscar kellner neto
22
pequeno canto da terra
Primavera
o verde-azul de minha terra ressona em aquarela embaixo รกgua em cima serra em cada flor uma janela...
23
oscar kellner neto
24
pequeno canto da terra
Pontos de Vista
o sol se deita estranho em minha terra no poente atĂŠ o gado lĂĄ rumina um pouco bicho, um pouco gente...
25
oscar kellner neto
26
pequeno canto da terra
Momento
o silêncio em minha terra após ter escurecido é o da pauta sem música do realejo adormecido...
27
oscar kellner neto
28
pequeno canto da terra
Episódio
o caboclo sai à noite sem juízo a buscar mel logo volta: vem correndo! ouviu o guizo da cascavel...
29
oscar kellner neto
30
pequeno canto da terra
FĂŠ
o vento varre minha terra e tudo voa, desaparece clareando a escuridĂŁo um pirilampo permanece
31
oscar kellner neto
32
pequeno canto da terra
Menino da Porteira
hoje é velho o rapaz e não entendo por que razão ainda dão cartaz praquele boi sem coração...
33
oscar kellner neto
34
pequeno canto da terra
Imaginação
sexta-feira da Paixão olhava o céu a todo instante buscando lá nas núvens um esquife navegante...
35
oscar kellner neto
36
pequeno canto da terra
Gurita
o caminho oscilando no sacolejo do animal dobra serra sobe e desce ida e volta ĂŠ sempre igual.
37
oscar kellner neto
38
pequeno canto da terra
Balsa
minha terra um espaço aberto no coração sua estrada é n'água um traço rastro de embarcação.
39
oscar kellner neto
40
pequeno canto da terra
Imagens
na lamparina do poema submerso ĂŠ meu pavio ancorada em minha terra uma ilha ĂŠ meu navio.
41
oscar kellner neto
42
pequeno canto da terra
Dist창ncia
minha terra com seu mapa debaixo do entardecer tem flores nos recantos e na dist창ncia o meu sofrer...
43
oscar kellner neto
44
pequeno canto da terra
Farol
quando o dia finda triste e minha terra escurece espargindo muita luz logo VĂŠsper aparece...
45
oscar kellner neto
46
pequeno canto da terra
Mágica
minha terra transforma o ritmo das teclas em murmúrio de brejos mais ainda: o som de minha máquina no canto de seus Tejos...
47
oscar kellner neto
48
pequeno canto da terra
Causa Ganha
minha terra tem quitandas dois bobos e bacharĂŠis minha terra tem demandas onde adejam os mil-rĂŠis...
49
oscar kellner neto
50
pequeno canto da terra
Natal
minha terra Ê um presÊpio a todo instante abençoado tem sempre um Menino Jesus na casinha do agregado..
51
oscar kellner neto
52
pequeno canto da terra
Festa
nos "anos" de minha terra surgem bolos e balĂľes risonhos de muito amor os doces cubro e de delĂrio rubro o glacĂŞ dos sonhos!
53
oscar kellner neto
54
pequeno canto da terra
Calor
foi no cio das ovelhas que tosamos nossa l達 teceremos manta sexy para o frio do amanh達...
55
oscar kellner neto
56
pequeno canto da terra
As Cercas
em minha terra os tapumes são simples fatos demarcatórios... mas não denotam as evidências registradas nos cartórios!
57
oscar kellner neto
58
pequeno canto da terra
Nostalgia
uma tristeza, minha terra: você Jane eu Tarzan só seu nome restará nos quadrinhos do amanhã...
59
oscar kellner neto
60
pequeno canto da terra
Chuvarada
numa รกrvore desfolhada uma ave arrepiada espera paciente o sol hรก muito ausente...
61
oscar kellner neto
62
pequeno canto da terra
Inquilinos
os p谩ssaros de minha terra e seus vizinhos do nascente alugam do p么r-do-sol os mesmos ninhos de antigamente...
63
oscar kellner neto
64
pequeno canto da terra
Consolo
o trabalho em minha terra devagar caleja a mão e na liturgia dum poema ele se torna uma oração...
65
oscar kellner neto
66
pequeno canto da terra
Ruralvorada
quando a lua vai fugindo as estrelas se esgueirando um sol-moleza se impĂľe meus pĂĄsssaros bronzeando...
67
oscar kellner neto
68
pequeno canto da terra
Pastor
meu espantalho se agita assustando os passarinhos quando Ă tarde a hora tarda de voltarem aos seus ninhos!
69
oscar kellner neto
70
pequeno canto da terra
Ecologia
no horizonte calmo do rio pelo chumbo despertada a alva ave mergulha chorando a asa quebrada
71
oscar kellner neto
72
pequeno canto da terra
Didática
em vôo raso, a garça branca vai planando e leve pousa na escolinha da fazenda ela é o giz da minha lousa!
73
oscar kellner neto
74
pequeno canto da terra
Vazio
ah! minha terra! em suas tardes dantes fagueiras, Ă sombra dos coqueirais voavam pombas ligeiras que hoje nĂŁo existem mais...
75
oscar kellner neto
76
pequeno canto da terra
Sonho
boa-noite, minha terra me despeço com carinho vou dormir, sonhar você qual canário no seu ninho...
77
oscar kellner neto
78
pequeno canto da terra
Violência
após um estilingue assassinar meu sabiá espantei lá do quintal o meu amigo "piriá"...
79
oscar kellner neto
80
pequeno canto da terra
Kolynos
é manhã: há um hálito de bom-dia nas bocas em geral no sorriso dos animais o bom-dia é sempre igual...
81
oscar kellner neto
82
pequeno canto da terra
Descanso
o touro cambaleia ap贸s o transe cotidiano e resfolega, sacudindo o vasto saco indiano...
83
oscar kellner neto
84
pequeno canto da terra
Fecundidade
os bezerros em minha terra se multiplicam num repente pois as vacas lรก se entregam de um modo diferente...
85
oscar kellner neto
86
pequeno canto da terra
Colostro
em minha terra n達o se bebe da cria nova o leite quente: dona porca, com o resto, seus porquinhos alimente...
87
oscar kellner neto
88
pequeno canto da terra
Cascavelmente
no caos do campo o nada vive, a naja sobra: resta no ch達o a novilha ofendida pela cobra...
89
oscar kellner neto
90
pequeno canto da terra
Pescaria para Arnolfo e Edgard
os pequenos lambaris fisgaram-me o verso! ah! borboletas fictĂcias desse mundo submerso...
91
oscar kellner neto
92
pequeno canto da terra
Fonte
em minha terra medito sonhos mil quimeras e ilusão os poemas, como galinhas, me ciscando a imaginação!
93
oscar kellner neto
94
pequeno canto da terra
Equus
em minha terra minha égua suspira satisfação ouvindo felicidade no relincho do alazão...
95
oscar kellner neto
96
pequeno canto da terra
Lida
o cĂŁo pastor mais parece palha pendurada na venta ferida da rĂŞs tresmalhada!
97
oscar kellner neto
98
pequeno canto da terra
Refeição
eu me sento no borralho vigiado pelo gato esperando minha vez de encher o meu prato...
99
oscar kellner neto
100
pequeno canto da terra
Refeição 2
paçoca de carne-seca eu como com os dedos e emborcando litro d'água arroto mudo meus segredos
101
oscar kellner neto
102
pequeno canto da terra
Vis達o
em minha terra a lavoura lambe longe as fronteiras pra mais plantio destocamos o velho pasto de goiabeiras
103
oscar kellner neto
104
pequeno canto da terra
FeiraFeira-Livre
os palmitos reservados - antigo luxo do patrão na falta de “mistura” encheram o bucho do peão...
105
oscar kellner neto
106
pequeno canto da terra
Ventania
bananeiras desmanteladas pela fĂşria do vendaval quanta telha galho e ninho espalhados no quintal...
107
oscar kellner neto
108
pequeno canto da terra
Poemel
com rainha e princesa o enxame ĂŠ uma zoeira fecundando a natureza nas flores da laranjeira!
109
oscar kellner neto
110
pequeno canto da terra
Ofício
como o húmus que percorre a seiva-sangue da macega a poesia da fazenda em meu corpo já navega
111
oscar kellner neto
112
pequeno canto da terra
Medieval
os coqueiros s찾o castelos com bandeiras verde-amarelas fincados nas amuradas os moir천es s찾o sentinelas
113
oscar kellner neto
114
pequeno canto da terra
Choro
ah! minha terra! é lágrimade gratidão ofertada a você a pétala jogada ao chão pelo galho do ipê!
115
oscar kellner neto
116
pequeno canto da terra
Temporal
o ronco do trov達o e a luz do corisco festejam no sert達o a silhueta do aprisco.
117
oscar kellner neto
118
pequeno canto da terra
ArcoArco-íris
minha terra tão criança me segreda ao coração que o sinal da aliança é um arco de ilusão...
119
oscar kellner neto
120
pequeno canto da terra
O Inimigo
para plantio em minha terra basta hora e pura chuva s贸 uma estimativa apavora: olhadura de sa煤va...
121
oscar kellner neto
122
pequeno canto da terra
Aração
o trator velho em minha terra rasga o chão com força calma: tão macio ele imita a ação da Graça em nossa alma...
123
oscar kellner neto
124
pequeno canto da terra
Bilhetes
são recados telefônicos como fios prateados as chuvas vindas do céu para os chãos desterroados...
125
oscar kellner neto
126
pequeno canto da terra
Lavrador
sol a sol o suor corre tempo falta o calo sobra no amanho da forte terra o homem forte se desdobra!
127
oscar kellner neto
128
pequeno canto da terra
Irrigação
nosso homem se integra no processo da lavração penetra o seio da terra deixando o suor no chão...
129
oscar kellner neto
130
pequeno canto da terra
Rebentos
a esperança depositada no peito do semeador morre presto, germina logo, raĂzes deita brotando amor!
131
oscar kellner neto
132
pequeno canto da terra
Ervas
ressuscitam as sementes sepultadas na aração... despertam sonolentas as enxadas de arrastão...
133
oscar kellner neto
134
pequeno canto da terra
Garra
esperando na colheita aquele gr達o que me sustenta minhas unhas se fincaram nessa terra poeirenta...
135
oscar kellner neto
136
pequeno canto da terra
Revanche
terminada a colheita recupero meu juízo: cada espiga, cada grão me livrou dum prejuízo!
137
oscar kellner neto
138
pequeno canto da terra
Safra
meu produto espera preço guardado num barracão pois nas águas de minha terra também existe o "tubarão"...
139
oscar kellner neto
140
pequeno canto da terra
Fidelidade
minha terra vai mostrando a quem lĂĄ chega comovido que ao cantar sua beleza tambĂŠm sou correspondido!
141
oscar kellner neto
142
pequeno canto da terra
Exemplo
“nós plantamos lá em casa muitos pés de algodão pois aquecer o pobrezinho é a nossa vocação!”
143
oscar kellner neto
144
pequeno canto da terra
Devoção
minha terra, minha terra! meu ofício de poeta faz-me ver em suas curvas meu ideal de vida reta!
145
oscar kellner neto
146
pequeno canto da terra
Incógnita
minha terra gorda e verde de céu mineiro e chão sem muro seus lençóis de diamante me agasalham o futuro...
147
oscar kellner neto
148
pequeno canto da terra
Noturno
mais lindas que na cidade suas estrelas de vĂĄria luz ah! minha terra e suas noites: ĂŠ seu luar quem me seduz...
149
oscar kellner neto
150
pequeno canto da terra
Ciranda
e de noite, lampeão clareando os medos, conto causos aos adultos e às crianças os segredos...
151
oscar kellner neto
152
pequeno canto da terra
Marcação
fere o couro um prazer de possuir. fede a marca uma dor de pertencer.
153
oscar kellner neto
154
pequeno canto da terra
Junina
de saudades da velha infância, mais que o quentão nos arde no peito a fogueira do coração...
155
oscar kellner neto
156
pequeno canto da terra
Arrimo
ando sempre poetando minha terra t達o querida: nela tenho um cajado pro percurso dessa vida...
157
oscar kellner neto
158
pequeno canto da terra
Coautoria Coautoria
enquanto escrevo esses versos e a tosse vem a galope logo aflita à minha mesa a Ãmãe chega com o xarope...
159
oscar kellner neto
160
pequeno canto da terra
Boca de Pito
pelo coador-de-pano da vida na infusĂŁo que nos acalma passa o aroma doce do cafĂŠ da nossa alma...
161
oscar kellner neto
162
pequeno canto da terra
Truco
no baralho ensebado da vida iluminado pelo lampe達o do tempo o rei imperceptivelmente se descarta da rainha...
163
oscar kellner neto
164
pequeno canto da terra
Outono
em minha terra quando enxergo a folha morta ao chão caída vejo a história que se perde de uma vida resumida...
165
oscar kellner neto
166
pequeno canto da terra
Ordenha
nas gordas tetas do sortilĂŠgio meus dedos de sonho se esfregam no mar escuro do curral meus barcos de chifres navegam...
167
oscar kellner neto
168
pequeno canto da terra
Destilação
eu moldo minha dor no aroma do jasmim apuro meu amor no perfume do alecrim
169
oscar kellner neto
170
pequeno canto da terra
Porteiras
as porteiras d達o passagem aos caminhos de velho ch達o. na estrada desta vida, a porteira do amor nos conduz ao cora巽達o...
171
oscar kellner neto
172
pequeno canto da terra
Desconsolo
no mugido das conjeturas digladiando-se entre o bem e o mal, as verdades s茫o hip贸teses no concreto do curral...
173
oscar kellner neto
174
pequeno canto da terra
CadĂŞncia
meu monjolo preguiçoso soca a vida num esquema afinando a melodia com a marreta do poema...
175
oscar kellner neto
176
pequeno canto da terra
Adubação
no passado remoto -contam as lendashaviam tocaias na encosta das serras e, antes da lei mostrar seus frutos, o sangue dos brutos fertilizou minhas terras.
177
oscar kellner neto
178
pequeno canto da terra
Oprรณbio
a velha canga do pecado que oprimiu jรก tanto "boi", hoje serve quem ficou como serviu quem jรก se foi...
179
oscar kellner neto
180
pequeno canto da terra
Receita
eu me aproximo dos homens que principiam a embrutecer lhes apresento a sugest達o de um poema por fazer...
181
oscar kellner neto
182
pequeno canto da terra
GratidĂŁo
obrigado, minha terra, tratamento sem igual! remĂŠdio que curou minha crise cerebral!
183
oscar kellner neto
184
pequeno canto da terra
Revolta
minha terra me pergunta porque estou contrariado... é que vejo injustiça no salário do empregado...
185
oscar kellner neto
186
pequeno canto da terra
Bateia
busco o meu poema num papel nem sempre limpo mas o barro Ê necessårio no serviço do garimpo...
187
oscar kellner neto
188
pequeno canto da terra
CinematogrĂĄfica
os cupins boiam no pasto empalhados com detritos relembram chapĂŠus-de-coco daqueles filmes de Carlitos...
189
oscar kellner neto
190
pequeno canto da terra
Transplante
a roda do velho carro que cantava com tristeza hoje enfeita a minha sala transformada em uma mesa...
191
oscar kellner neto
192
pequeno canto da terra
Cadentes
minha terra testemunha o desfalecimento das estrelas: em seu seio quer sepultĂĄ-las sem, contudo, nunca tĂŞ-las!
193
oscar kellner neto
194
pequeno canto da terra
Ocaso
quando a noite em minha terra lenta vem e finda o dia no cair do sol poente flutua muita poesia...
195
oscar kellner neto
196
pequeno canto da terra
Oriente
quando o dia doma a noite sorrateiro e inda crianรงa no sorriso do sol nascente vejo a marca da esperanรงa.
197
oscar kellner neto
198
pequeno canto da terra
Acalanto
ah! minha terra, meu verso hoje plantado florirĂĄ num grande hino e nas raĂzes do futuro moldarĂĄ nosso destino!
199
oscar kellner neto
200
pequeno canto da terra
Pelo Rádio
crimes, seca, inundação, terremoto a toda hora! (não é nesse meu mundo é no mundo lá de fora...)
201
oscar kellner neto
202
pequeno canto da terra
Domingo
a igrejinha azul-e-prata com seu sino bimbalhando nos convida no domingo pro ofĂcio religioso
203
oscar kellner neto
204
pequeno canto da terra
Domingo 2
muita gente vem de longe e no altar provinciano o povo assiste a missa celebrada pelo monge...
205
oscar kellner neto
206
pequeno canto da terra
Os Donos
doada do passado numa estranha escritura minha terra não é minha: sua posse é futura...
207
oscar kellner neto
208
pequeno canto da terra
Tempo
no passado estarei ausente no futuro nĂŁo ĂŠ minha no presente minha terra foi histĂłria da carochinha
209
oscar kellner neto
210
pequeno canto da terra
Esta parte do livro foi terminada em Delfin贸polisDelfin贸polis-MG no ano de 1976
211
oscar kellner neto
A seguir, poemas póspós-odilon que ainda é grande amigo meu (já os deve ter ilustrado em sua glória lá no céu...)
212
pequeno canto da terra
Sincronia
em minha terra os telhados se transmudam em sanhaçus dando azul em revoada nossas casas vão pro espaço!
213
oscar kellner neto
Féretro
na balsa da ilusão embarquei minha tristeza sepultei a a solidão lá no meio da represa
214
pequeno canto da terra
Mormaço
pelas campinas de minha terra ao meio-dia o sol dardeja o gado procura a sombra e a cigara aĂ solfeja...
215
oscar kellner neto
Fênix
num fogaréu é calcinada a macega do campo vasto das cinzas da paisagem brotará um novo pasto
216
pequeno canto da terra
Riqueza
reunida no curralão a boiada alegre berra mas no baú do coração meu tesouro é minha terra...
217
oscar kellner neto
Paisagem
assisto tanta beleza no horizonte, lá na serra mas na tela do coração o melhor filme é minha terra
218
pequeno canto da terra
Tanatos
minha terra me ensina na morte dos animais que morrer ĂŠ apenas dormir pra nunca mais
219
oscar kellner neto
Labuta
minha terra se renova a cada ano em cada fruta me ensina o seu exemplo: a vida vale se existe luta
220
pequeno canto da terra
Tesouro
minha terra em cada safra faz do homem a semente cada pessoa vale ouro sua riqueza ĂŠ sua gente.
221
oscar kellner neto
222
pequeno canto da terra
Posfácio
Cumpre informar ao leitor sobre a gênese deste livro, tão artisticamente adornado pelas belíssimas ilustrações do Odilon José Rosa. Nessa linha simplista de versejar, após passar por uma depuração literária, desde 1975 compusera eu já uns 50 poemas avulsos, que nem pensava ainda em reunir em livro. Certo dia, nos longes de 1976, mostrei-os ao Odilon, que se entusiasmou com o conteúdo, que lhe dizia ao coração coisas de sua vida campesina. Para minha alegria, pediu-me para ilustrar cada um deles. Conhecendo a simplicidade dos traços do desenhista e pintor que era, imediatamente aceitei a oferta. Poucos dias depois, vem o artista à minha casa, trazendo o resultado magnífico de sua interpretação pictórica dos poemas... E surpreendentemente, pediu-me que escrevesse novos poemas para que pudesse ilustrar, num exercício artístico que muito lhe agradava. E assim, de poema em poema, surgiram as lindas ilustrações que, mais que ornamentar, integram indissoluvelmente com os textos o presente trabalho poético. Infelizmente, quando novos poemas surgiram, Odilon já havia partido. Cada um, seguindo as lições do mestre, imagine uma ilustração ao lê-los, em homenagem ao querido amigo Dillon. 223
oscar kellner neto
Biografia
ODILON JOSÉ ROSA nasceu em 20 de novembro de 1935 em Delfinópolis(MG), onde sempre morou. Professor de Geografia e Educação Moral e Cívica, sempre foi admirado pelos alunos por seu carinho e sua didática sui-generis: tinha de cor a matéria que lecionava, dispensando em classe o livro do mestre. Pessoa afável, homem do campo, gostava do gado e das plantas. Inspirou-se na vida da roça para ilustrar os poemas deste livro. Falava francês fluentemente, apreciava os clássicos da literatura universal, acompanhava a evolução da pintura e cultivava a arte moderna. Odilon escrevia poesias, pintava telas com apurado estilo, fazia belas esculturas em argila, sempre imprimindo um toque inconfundível às suas obras. Deixou muitos quadros e desenhos sempre apreciados por seus conhecidos, amigos e por admiradores de sua arte que não o conheceram pessoalmente. Um repertório considerável de seus desenhos repousa nas finas ilustrações expostas no presente volume. Com traços rápidos, sutileza e arte, Dillon, mostrando seus dotes de refinado desenhista, interpreta com sabedoria a alma cada um dos poemas ilustrados. Odilon faleceu em sua cidade natal em 14 de junho de 1980, deixando a esposa, Regina Luiz de Freitas Rosa e quatro filhos: Juliano, Maria Letícia, Aluízio e Sérgio. Reconhecendo-o cidadão emérito e prestativo, o poder público local homenageou sua memória, dando a uma das vias de Delfinópolis que contorna os Bairros Bela Vista e Espírito Santo o nome Rua Professor Odilon José Rosa.
224
pequeno canto da terra
Trabalhos de Odilon presenteados ao amigo Oscar Kellner Neto
reprodução em preto e branco do quadro “o descanso dos lavradores” - Dillon/78
225
oscar kellner neto
reprodução em preto e branco do quadro “mãe e filhos” - Dillon/78
226
pequeno canto da terra
reprodução em preto e branco do quadro “praça da matriz” - Dillon/78 227
oscar kellner neto
Um poema ilustrado dedicado por Odilon José Rosa em 1977 ao amigo Oscar Kellner Neto
Mon Portrait (Le Portrait Psifisique)
mon corps est fort comme le rocher que retiens tout le défant e nom apparence c´este d´un giante en verité je suis plus haut mais dans ce corps il y a mon âme bien fragile comme la fête elle s´agite pleure et chante: je suis poete...
228
pequeno canto da terra
Tradução livre:
Meu Retrato (O Retrato Psifísico)
meu corpo é forte como o rochedo que resiste a todo defeito minha figura é dum gigante e meu trabalho faço bem feito mas neste corpo escondo a alma muito frágil mas completa ela se agita chora e canta: eu sou poeta...
229
oscar kellner neto
Muito obrigado, Odilon, Poeta Gigante ĂŠ vocĂŞ!
230
pequeno canto da terra
Biobibliografia OSCAR KELLNER NETO é natural de Franca/SP (1949), casado, pai de dois filhos, avô de três netos e vive em Delfinópolis/MG, entre serras, cachoeiras e lagos, desde 1975. Arte-Educador, Professor de Gramática e Redação, Técnico em Contabilidade e Advogado atuante, Kellner também se dedica à pintura e à escultura, áreas artísticas em que sempre logrou êxito. Nas horas vagas, inda cuida de terras, gado, peixe e gente. Gosta de sumir pelos vãos da Serra da Canastra, onde cavalga, conversa, joga truco, sonda falares, respira cores e transpira poesia. O Autor, míope, curioso e astigmático, começou a escrever em 1963. Seus primeiros versos foram para a musa eterna, hoje sua esposa: Maria Alcina. Sempre colaborando em suplementos literários de vários jornais com seus textos poéticos, foi premiado na 1.ª Semana de Arte Moderna de Franca, em 1966, com o poema Beatniks. Em 1967, seu poema Do Mágico e seu aprendiz, recebeu o 1.º lugar em outro concurso francano. Publicou seu primeiro livro de poesias em 1968: CANTO DE BUSCA, em edição mimeografada e com lançamento nacional. Em 1969 editou e lançou seu segundo livro, MURAL, com poesias concretistas. Seu poema-processo RELÓGICAS, elaborado a partir de carimbos confeccionados com peças de relógio, em parceria com Antônio de Pádua Primon recebeu o 1.º Prêmio no Concurso Nacional Souzandrade, em Divinópolis(MG), em junho de 1969. Nesse ano - o de 231
oscar kellner neto
seu casamento - o Autor recebeu da imprensa francana o título de Intelectual do Ano. Desde então, vem organizando seu livro-objeto, de poemas-processo, FLASH! ainda inédito e em constante evolução. A partir de 1970, Kellner passou a coletar seus contos e a divulgar seus textos em prosa, colaborando em jornais, suplementos e páginas literárias de toda parte e participando de algumas antologias nacionais e de fora. Em 1975 lançou cópias de seu texto concretista FOSSAPOGEU - (epistolas aos coivarenses - textos do hospício) - , de circulação restrita. Em 1977 divulgou seu primeiro romance: O CRIME PERFEITO DE SEZOGLA SUEM, em pequena edição oferecida à crítica do círculo de amigos-leitores fiéis. Participou, em 1979, com o conto O Espetáculo, da antologia A PRESENÇA DO CONTO, organizada pela Editora do Escritor, de São Paulo. Seu primeiro livro de contos O OUTRO LADO DE COIVARAS : O MUNDO foi publicado pela Editora Pirata, de Recife, em 1984. A revista Globo Rural publicou seu conto Paz-sarinha, sob o título “O touro Charuto” em sua edição do mês de setembro de 1994. Em 2009, em comemoração ao seu 60º aniversário, Kellner relança a obra MURAL em conjunto com FOSSAPOGEU, na obra poética MURAL & FOSSAPOGEU, pela Editora Clube de Autores, de São Paulo. Ainda em 2009, pela mesma editora, lança o livro de contos O JUIZ E OUTROS CONTOS, o romance O REINO DE COIVARAS, a novela TOCAIAS E DUELOS e o volume de poemas VISITAÇÃO. Também em 2009, pela mesma editora paulista, lança a obra COIVARAS (cantos), onde reuniu os trabalhos O JUIZ E OUTROS CONTOS – contos -, 232
pequeno canto da terra
ROSALDA GENTIL - romance – e TOCAIAS E DUELOS – novela. Também em 2009, pela Editora Clube de Autores, relançou o livro O CRIME PERFEITO DE SEZOGLA SUEM. No final de 2009, em regozijo pelo jubileu de diamante de seu nascimento, Kellner lança pela Editora Casa do Novo Autor, de São Paulo(SP) o livro FAZENDA INTERIOR. Em março de 2010 Kellner lança pela Editora Clube de Autores, o livro-conto OS AMARRADORES DE PATAS. Na gaveta, ainda inédito, O QUILOMBO DE PALMIRA (flash contos). Alhures, seu livro-objeto, de poemas-processo, FLASH! em fase de acabamento. Também nas letras jurídicas, Kellner produziu alguns textos. A monografia A CAUSA CURIANA, no campo do Direito Romano; O PROCESSO CAUTELAR E A COISA JULGADA, monografia na área do Direito Cautelar; e, na área do Direito Penal, desenvolveu trabalho em parceria com Juliano Quireza Pereira e Lúcio Augusto Malagoli tratando do PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. Todos estes permanecem inéditos. Kellner proclama a volta à Natureza. Prepara um reino de pedra, água e sol: Coivaras.
233
oscar kellner neto
Apreciação de escritores, críticos e amigos que puderam ler os originais deste livro:
ALCIDES VILLAÇA - escritor, crítico literário, Campinas-SP:
“Oscar Tive o prazer de ler o seu Pequeno Canto da Terra. Não vai aqui nenhum juízo crítico propriamente formulado; vão impressões de leitura e algumas (atrevidas) sugestões. Para começar pelo início, o ‘prefácio’ (na verdade uma epígrafe) não poderia ter sido mais conveniente: alerta para as dificuldades da linguagem simples que é também a sua. Simples, mas não banal: muitas imagens de seus poemas abrigam, com singeleza, efeitos mágicos de poesia. Exemplo: “em cada flor / uma janela” – transfiguração feliz de seu referente popular ‘uma flor em cada janela’. Não é incomum, aliás, em seus versos, a retomada vigorosa e criativa de expressões já ouvidas. Trai-se, assim, de forma fecunda, uma linguagem popular sob as sutis projeções poéticas que você lhe imprime. A terra, fulcro temático dos poemas, tem dessa forma uma expressão direta – como sabemos que é a expressão da poesia. Terra que você, algumas vezes, traz apenas descrita, como no ‘Ventania”, mas que em outras assume a função subjetiva de um processo sensível e eng: ‘Pescaria’, por exemplo.
234
pequeno canto da terra Decisiva, para muitos poemas, é a participação do título. O poema ‘Represa’ (que eu não considero dos mais felizes) atinge alguma expressividade por causa do título, razão da vida ambígua de seus versos. Poemas melhores também se tocam por esse agenciamento do título: ‘Rede elétrica’, ‘Fé’, ‘Balsa’, ‘Chuvarada’, ‘Praga’, e outros. Fico em dúvida se não seria melhor para os poemas sua realização em uma quadra, simplesmente... Em alguns poemas sinto mesmo que a disposição em duas quadras violenta um pouco a natureza rítimica dos versos. Fica a sugestão. Outra: não seria melhor subtrair algumas peças, que parecem desmerecer o nível de tantas outras?... Poemas há em que você abandona a simplicidade poética para incorrer na simplicidade prosaica (como ‘Sede’, ‘Coautoria’, ‘Noturno’); outros, em que você parece excessivamente apegado a um conceito (que pode dar aos versos um registro intelectual indesejável) ... (nestes) o tom crítico parece-me não haver logrado conquistar a poesia apreendida por poemas, digamos, mais ingênuos e descomprometidos. Por último, o que me é mais grato: apontar o que mais me sensibilizou em seu livro (veja que esta indicação traz apenas a diretriz de um gosto): são os poemas ‘Primavera’, ‘Pontos de vista’, ‘Balsa’, ‘Inquilinos’, ‘Pastor’, ‘Didática’, ‘Pescaria’, ‘Feira-livre’, ‘Marcação’, ‘Truco’, ‘Ordenha’, ‘Bateia’, ‘Tempo’. Um abraço. ”
Alcides Villaça Campinas, 04/09/1976
235
oscar kellner neto
WILSON CASTELO BRANCO - escritor, crítico literário, redator no Suplemento Literário do Minas Gerais, Belo Horizonte-MG:
“Acabo de ler seus poemas em trissílabos rígidos e quadrissílabos e dissílabos lentos que me lembram não a métrica, mas a cadência de “Juca Mulato” e me recordam a delícia bucólica dos “Cromos” de Abílio Barreto...”
Wilson 30/09/1976
NOTA DO AUTOR: na época dos registros apreciativos acima, o livro ainda não fora enriquecido pelas ilustrações do Dillon.
236
pequeno canto da terra WALTER PERES CHIMELLO - advogado, escritor - de Franca-SP, em maio/2008:
vicentino,
“Querido confrade e amigo OSCAR: Acabei de ler o seu belo livro, PEQUENO CANTO DA TERRA e fiquei emocionado ao saborear dois ou três poemas por dia. Você, com rara sensibilidade, homenageia a querida Delfinópolis, sua terra de coração: “Minha terra sempre em vida... a elegemos nosso exílio” e dedica a ela preciosos versos, definindo-a como um pequeno lugar deste mundo, mas que das suas entranhas nasce um belo canto, uma canção de amor – numa metáfora encantadora. Descreve, com sutileza e lirismo, diversos locais e momentos da bela estância, onde o poeta encontrou alegria e paz, quando encerra um poema com os versos “ali é que se vive”. Os belos versos enaltecem a terra que o acolheu, encontrou consolo, belezas naturais: “Ah! Minha terra! Em
suas tardes/ dantes fagueiras,/à sombra dos coqueirais/ voavam pombas ligeiras/ que hoje não existem mais”. Fala da simplicidade do homem do campo, da espiritualidade do poeta, de sua gratidão a essa terra, por várias razões, enfim, o livro se lê com muito agrado e prazer, além de inserir ilustrações magníficas de ilustre artista que habitou também nesse pequeno canto da terra. Parabéns meu caro!!! Do amigo e irmão,
Waltinho, poeta menor – 04/09/2008.
237
oscar kellner neto
238