Plantar floresta, pra quê?

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Opiniões

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www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 19 • número 67 • Divisão F • mar-mai-2022

plantar floresta, pra quê?


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instruções IMPORTANTE • IMPORTANT • WICHTIG • First of all, before any action, please touch in the flag of your language. • Tout d'abord, avant toute action, veuillez toucher le drapeau de votre langue. • Primero, antes de realizar cualquier acción, toque la bandera de su idioma. • Bitte berühren sie vor jeder aktion die flagge ihrer sprache. • Para que obtenha o melhor aproveitamento dos recursos que a Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões pode lhe oferecer, solicitamos que assista ao video abaixo. Nele estão contidos alguns recursos que lhe serão úteis neste momento. Ao acionar o play, o video abaixo será iniciado. Ao chegar no final, o video das instruções será iniciado novamente.

Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões


Chegou Fusilade. Eucalipto saudável, produção protegida. Seletividade: aplicação over the top

Eliminar as plantas daninhas na fase inicial de desenvolvimento da floresta é essencial – e a solução precisa contar com rápida absorção, além de não causar

Flexibilidade: rápida absorção e uso sequencial

injúria às mudas de eucalipto.

Fusilade é um herbicida seletivo sistêmico que atende a essas necessidades, protegendo a cultura

Sustentabilidade: formulação EW à base d’água, reduzindo o uso de solventes

do eucalipto.

Para restrição de uso nos Estados, consulte a bula.


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66 Capa: Acervo Embrapa Florestas - Pinhão precoce por Katia Pichelli Índice: Acervo Embrapa Florestas - Pinus por André Kaskzeszen

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índice EDITORIAL DE ABERTURA: 10. Germano Aguiar Vieira, Eldorado

ENSAIO ESPECIAL: 14. José Carlos Carvalho, Ex-Ministro do Ministério do Meio Ambiente ENTIDADES: 16. Paulo Hartung, Ibá PRODUTORES DE FLORESTAS: 20. Kazuhiko Kamada, Cenibra 22. Sharlles Christian Moreira Dias, Eldorado 26. Edimar de Melo Cardoso, AMIF e Aperam BioEnergia CIENTISTAS: 28. Washington Luiz Esteves Magalhães, Embrapa Florestas 32. Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, Esalq-USP 36. Saulo Philipe Guerra, UNESP-AUIN e PCMAF/IPEF 38. Caroline Dias de Souza e Carlos Frederico Wilcken, IPEF-UNESP 42. Erich Schaitza, Embrapa Florestas 46. Silvio Frosini de Barros Ferraz, Esalq-USP CONSULTORES E ESPECIALISTAS: 50. Nelson Barboza Leite, Teca, Daplan e ComunidadeDeSilvicultura 52. Jefferson Bueno Mendes, BM2C 56 Celso Foelkel, Consultor e Escritor 58. Marcelo Langer, ESG Tech 62. Milton Dino Frank Junior, ABPMA 66. Katia Pichelli, Embrapa Florestas

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áudios

Sua próxima viagem de carro Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada, folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente terá ouvido toda a revista. Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, lido com voz nativa, localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir. Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês, em espanhol, em francês e em alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições. É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto. O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa. Boa leitura ou boa audição, como preferir. 01. Germano Aguiar Vieira, Eldorado 02. José Carlos Carvalho, Ex-Ministro do Ministério do Meio Ambiente 03. Paulo Hartung, Ibá 04. Kazuhiko Kamada, Cenibra 05. Sharlles Christian Moreira Dias, Eldorado 06. Edimar de Melo Cardoso, AMIF e Aperam BioEnergia 07. Washington Luiz Esteves Magalhães, Embrapa Florestas 08. Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, Esalq-USP 09. Saulo Philipe Guerra, UNESP-AUIN e PCMAF/IPEF 10. Caroline Dias de Souza e Carlos Frederico Wilcken, IPEF-UNESP 11. Erich Schaitza, Embrapa Florestas 12. Silvio Frosini de Barros Ferraz, Esalq-USP 13. Nelson Barboza Leite, Teca, Daplan e ComunidadeDeSilvicultura 14. Jefferson Bueno Mendes, BM2C 15. Celso Foelkel, Consultor e Escritor 16. Marcelo Langer, ESG Tech 17. Milton Dino Frank Junior, ABPMA 18. Katia Pichelli, Embrapa Florestas

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Você constrói um novo futuro.

Principais benefícios: Gestão de resíduos Tratamento de efluentes Consumo de água Autossuficiência em energia limpa Sistema de tratamento de gases Investimento de 2,75 bilhões de reais Geração de 7.500 empregos durante a obra

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cmpc Juntos construímos o futuro. Hoje. O que faz a diferença para um mundo mais sustentável são as atitudes. Por isso, estamos lançando o Projeto BioCMPC, um conjunto de 31 ações ligadas à sustentabilidade e à modernização das nossas operações da Unidade Industrial no Rio Grande do Sul, trazendo benefícios ambientais e sociais, além de um aumento de 18% na capacidade produtiva. Um projeto que trará desenvolvimento local e está alinhado às melhores práticas de ESG, tornando a CMPC uma das empresas de celulose mais sustentáveis do Brasil.

Saiba mais em cmpcbrasil.com.br/bio


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editorial de abertura

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m minha opinião, a resposta a essa pergunta deve atender a duas premissas básicas: ganhar dinheiro e também fazer o uso mais eficiente de cada fazenda; primeiro, porque o investimento em terra é muito alto e, segundo, porque a terra, sendo um bem finito, deve responder a uma função social importante para a civilização e produzir bens necessários, de forma mais racional possível. No Brasil, deve-se plantar floresta por quê? São cinco os pontos que respondem a essa pergunta: 1) é o país que mais produz madeira por hectare do mundo, ou seja, tem uma vocação natural para essa atividade; 2) possui uma grande quantidade de áreas disponíveis e vocacionadas para plantio de vegetais de ciclo longo, ou seja, inaptas para produção de grãos, e muitas delas se encontram em algum estado de degradação; 3) existe um grande mercado consumidor de produtos madeireiros e não madeireiros no Brasil e no mundo; 4) uma floresta de eucalipto madura sequestra cerca de 150 t de CO² equivalente por hectare, uma importante contribuição para a saúde do planeta; e 5) é uma grande oportunidade de geração

Opiniões

de renda para produtores independentes, além da geração de novos postos de trabalho. Mas, da mesma forma que plantar cana, soja, milho ou arroz, plantar florestas requer técnica específica e não é para amadores. Algumas premissas devem ser respeitadas como escolha correta da espécie de árvore a ser plantada para cada produto que se quer produzir, conhecer o manejo mais adequado para cada tipo de floresta e o ambiente edafoclimático da região a ser plantada. Como é um plantio de ciclo longo, um investimento em plantação de árvores deve ser precedido de um estudo bem-feito do mercado, histórico de preços dos produtos e os fundamentos que o regem. Atualmente, o mercado de madeira oriundo de florestas plantadas no Brasil atende às grandes indústrias consumidoras de celulose, painéis e carvão vegetal, entregando madeira não elaborada

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para cada processo industrial, e o frete é um fator decisivo no sucesso de cada projeto. Isso significa que plantar floresta a uma distância superior a 200 km de um mercado consumidor maduro não seria recomendado. Em algumas regiões brasileiras, no entanto, se encontra um mercado mais pulverizado e, nesse caso, a qualidade da floresta tem um peso maior ─ estamos falando de produzir madeira para serraria, laminados e madeira tratada. Apesar de representar apenas cerca de 3% da exportação de produtos florestais brasileiros, os produtos não madeireiros, como taninos, borracha, ceras, óleos, resinoides florestais, também ocupam papel importante na receita florestal em algumas regiões do País. Outro mercado, ainda não expressivo, é o mercado de exportação de produtos florestais in natura, como toras, cavacos, madeira serrada e outros, e, nesse caso, a proximidade

As florestas plantadas atingem cerca de 5.000 municípios, planta mais de 1 milhão de árvores por dia, e o impacto que essas atividades geram, não somente nos aspectos financeiros, mas também na área social e ambiental, são importantes para todo mundo. "

Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Eldorado

de um porto passa a ser fundamental para se obterem bons retornos. Ainda notadamente incipiente quando comparado ao consumo da madeira por grandes indústrias de celulose, projetos florestais para produção de energia, secagem de grãos e energia elétrica ou plantio de floresta, exclusivamente para venda de CO2 em mercados regulados e não regulados, começam a participar da lista dos investidores do setor. Mas qual será o futuro do setor de florestas plantadas? Plantar floresta ainda será um bom negócio daqui a 30 anos? O Brasil tem perto de 10 milhões de florestas plantadas que sustentam mais de 90% de todo o consumo brasileiro de madeira para diversos fins. É o maior exportador de celulose no mundo atendendo a mercados asiático, americano, europeu e oriente médio. Possui florestas plantadas em cerca de 5.000 municípios, planta mais de 1 milhão de árvores por dia, e o impacto que essas atividades geram, não somente nos aspectos financeiros, mas também na área social e ambiental, são importantes ; para todo mundo.


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editorial de abertura Apesar de não se ter conhecimento detalhado do consumo futuro de produtos oriundos da floresta no Brasil e no mundo, creio que ainda teremos um mercado maduro por muitos anos para os produtos existentes e um novo mercado para produtos ainda em desenvolvimento, cujo potencial é extremamente vasto e aplicado à realidade das necessidades mundiais. O País precisa de energia para continuar avançando em seu desenvolvimento, e o Governo Federal focará esforços na promoção de energia alternativa como forma de aumentar a oferta e reduzir o preço da energia. Existe uma oportunidade crescente para o uso de fontes de energia renováveis à medida que o governo abre também espaço para a participação de tais fontes em seus leilões, e o mundo busca fontes sustentáveis de geração de energia. Dos 1.528 projetos cadastrados no leilão A-4/2020, 21 foram de termelétricas a biomassa, totalizando uma oferta de 1.145 MW. Se 20% dessa oferta vier da biomassa florestal, estamos falando em um consumo adicional aproximado de 1,5 milhão de metros cúbicos de madeira. A energia de biomassa passará a ganhar importância cada vez maior em termos de consumo de madeira. Outro ponto importante a se pensar é que, em 2030, a expectativa é que o Brasil atinja a marca de 230 milhões de pessoas. Com quase 5 bilhões de pessoas, a Ásia terá, aproximadamente, 58% da população mundial, e o mundo terá cerca de 8,5 bilhões de habitantes; isso terá um impacto enorme na demanda de energia limpa e de produtos de base florestal, e essa demanda, com certeza, irá para o país que consegue ser mais eficiente e oferecer esses serviços e produtos mais baratos e de forma social e ambientalmente responsável. E é claro que o Brasil, com o seu know-how em produção florestal, será um dos grandes beneficiados nesse aspecto, por já atender a todos os requisitos de um país produtor e fornecedor de matérias-primas globais. No entanto, devemos estar atentos aos insumos necessários para a formação dos maciços florestais, cada vez mais caros, como também às condições climáticas, cada vez menos hospitaleiras, para garantir altas produtividades florestais. Nos últimos 5 anos, o valor da terra mais que duplicou

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Opiniões em algumas regiões produtoras de florestas no Brasil; os insumos, como fertilizantes e agroquímicos, tiveram seu preço fortemente impactados pela variação cambial e escassez de matéria-prima; máquinas e equipamentos também sofreram um desiquilíbrio na sua cadeia de produção, causando falta de equipamentos e aumento de preços. Com os recursos humanos também não foi diferente, o êxodo rural tornou escasso esse recurso, principalmente no interior do país. Para fazer frente a esses grandes desafios de continuar produzindo florestas lucrativas, está sendo necessário investir muito em conhecimento de silvicultura, genética e manejo da floresta, assim como desenvolver equipamentos com maior tecnologia capaz de aumentar a produtividade e melhorar cada posto de trabalho no campo. Isso, no entanto, começa pelas grandes organizações, que possuem equipes de desenvolvimento, bem como capacidade de investimento para dar suporte a esses projetos, ficando o pequeno e médio produtor com o dever de estarem atentos para seguir os passos dos grandes. É claro que várias tecnologias e inovações apareceram nos últimos anos e estão ajudando o silvicultor na sua luta para fazer a melhor floresta; ainda assim, as alterações estão sendo muito mais drásticas do que se imaginava. O conhecimento florestal está tendo que mudar de patamar para garantir bons resultados nos projetos florestais, que, atualmente, sofrem bastante com anos seguidos de déficit hídricos e aparecimento de muitas pragas exóticas. Materiais genéticos mais bem adaptados, manejo integrado de pragas e doenças, mecanização das atividades de preparo de solo e plantio, fertilização cada vez mais bem calibrada para cada solo e para cada material genético, uso de toda tecnologia disponível para garantir a melhor precisão nas atividades são conhecimentos absolutamente necessários para a nova silvicultura. Sendo assim, volto à pergunta, plantar floresta: pra quê? E a resposta fica cada vez mais evidente que se trata de um bom negócio, agora e no futuro, sendo necessário para a fabricação de produtos importantes para a civilização, mas, como todo negócio, tem fundamentos específicos e continuará não sendo para amadores. n



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ensaio especial

uma nova abordagem para a governança do

setor florestal brasileiro

O único país do planeta com nome de árvore e que, ainda hoje, detém um terço das florestas tropicais do mundo no seu território, não pode aceitar um tratamento periférico à sua importância e à magnitude do papel que representa no plano nacional e no exterior. Essa indiferença é recorrente na esfera governamental, mas também está instalada no seio da sociedade. O poder não funciona com base em combustão espontânea, ele é configurado pelas pressões e contrapressões que nascem dos embates políticos, da mobilização e do engajamento da cidadania. Logo, se o setor não tem o reconhecimento que julgamos merecedor, há de se perguntar sobre o que estamos fazendo para dar-lhe visibilidade e inseri-lo nas mais altas esferas onde ocorrem os processos de tomada de decisão. Dito isso, introduzo uma questão provocativa: o setor florestal realmente existe, organicamente falando? Quais as atividades florestais o compõem? Por que sua importância política é tão desproporcional à sua importância econômica e social? Não são perguntas de respostas simples, até porque, dependendo da visão dos diversos segmentos que o integram, serão dadas respostas distintas para cada um desses questionamentos.

se o setor não tem o reconhecimento que julgamos merecedor, há de se perguntar sobre o que estamos fazendo para dar-lhe visibilidade e inseri-lo nas mais altas esferas onde ocorrem os processos de tomada de decisão."

José Carlos Carvalho Ex-Ministro do Ministério do Meio Ambiente

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Entre tantas causas e argumentos que podem ser esgrimidos para apontar a debilidade institucional do que chamamos de setor florestal, esta é uma que considero relevante: a sua excessiva fragmentação. A pulverização dos interesses acarreta a diluição da representação política e institucional do setor, o que enfraquece seu papel político na interlocução com os governos e nas suas relações com a própria sociedade, já que um setor excessivamente fragmentado e pulverizado não adquire identidade própria, mostra uma cara multifacetada e vive mergulhado numa permanente crise identitária. Assim é, no meu entendimento, o setor florestal brasileiro. A debilidade institucional na esfera pública começa com a falta de representatividade de alto perfil no âmbito privado, incluindo o terceiro setor.


Opiniões Hodiernamente, há outra questão que merece reflexão dos atores que atuam na área florestal: os novos conceitos que vêm se desenvolvendo sobre as florestas, desde a Rio-92, que aprovou uma declaração de princípio específica sobre florestas, culminando com a COP25, realizada em Paris, e, mais recentemente, o Acordo de Florestas, aprovado na COP26, em Glasgow. Ora, essas mudanças de paradigmas têm o poder de influenciar a formulação das políticas domésticas dos países no mundo inteiro, mas o Brasil, o grande protagonista de Paris, tem preferido agir em dissintonia com os novos paradigmas internacionais. Vale lembrar que o Acordo de Florestas, que vinha sendo tentado desde 1992, na wConferência do Rio, constitui decisão histórica, porquanto colocou as florestas no topo da agenda global, dando às atividades florestais uma dimensão sem precedentes, tornando-se necessário que países como o Brasil, nos quais as florestas têm papel estratégico, haja em consonância com os novos arquétipos, levando em conta os mais altos interesses nacionais. Para quem acompanha o desenrolar dos debates internacionais sobre florestas, travados no âmbito das Nações Unidas, incluindo a atuação do Fórum de Florestas da ONU, são notórias as mudanças institucionais que ocorreram desde a Rio-92, que levaram a novos arranjos organizacionais da gestão florestal púbica em vários países, notadamente na América Latina, tendo como primeira consequência o deslocamento da administração florestal da agricultura para o meio ambiente, como ocorreu no Brasil, embora, em nosso país, as atividades de reflorestamento tenham permanecido com o Ministério da Agricultura, desde a criação do Programa Nacional de Florestas, em 2000, e, mais recentemente, com a transferência do Serviço Florestal Brasileiro, do MMA para o MAPA. Esse é ponto central sobre o qual gostaria de tratar neste artigo. É comum verificar, nos meios especializados que regem o setor, uma discussão recorrente, uma disputa se o setor florestal deve ser gerido na esfera da agricultura ou do meio ambiente. Está aí uma discussão e uma disputa inócuas. As mudanças conceituais às quais me refiro deixaram para trás o velho conceito de uma gestão florestal monotemática, de políticas florestais singulares, como era no passado. Não por acaso, o Acordo de Florestas celebrado em Glasgow foi negociado numa Conferência de Clima. Vejam bem, não foi numa conferência de meio ambiente, nem numa conferência de agricultura. Não surgiu dentro da FAO, nem dentro do Pnuma. Sequer

no âmbito da Conferência da Diversidade Biológica, onde o tema florestal pontua as discussões. Não sendo mais uma questão monotemática, definida por políticas singulares, a gestão florestal deixa de ser SETORIAL para tornar-se SISTÊMICA. Eis aí o novo paradigma, o novo grande desafio a ser enfrentado, principalmente em países como o Brasil, no qual as florestas exercem múltiplas funções: floresta é madeira; são recursos não madeireiros; é água; é fauna; é biodiversidade, já que, com exceção da biodiversidade marinha e dulcícola, a biodiversidade terrestre brasileira está associada em sua quase totalidade aos ecossistemas florestais; e, por fim, floresta é carbono, razão pela qual é considerada a principal estratégia mundial de sequestro dos gases de efeito estufa. É relevante anotar que, em todas as suas funções, as florestas têm importância econômica e social. Diante dessa nova realidade, o modelo de gestão florestal na administração pública caminha para uma governança sistêmica. E com razão: uma política florestal moderna não será efetiva situada numa única esfera de poder, através de decisões monolíticas e monocráticas de uma só autoridade, embora seja fundamental que haja uma autoridade no mais elevado nível de decisão para coordenar as ações das várias alçadas de decisão. Senão, vejamos. A pesquisa florestal depende do Ministério da Ciência e Tecnologia; o ensino florestal de nível médio e superior, incluindo a pós-graduação, está no Ministério da Educação; os mecanismos de fomento, o CAR, o PRA, o SFB e a Embrapa Floresta estão no Ministério da Agricultura; o poder de polícia administrativa para controle do desmatamento, as Unidades de Conservação, o acesso à biodiversidade e a restauração florestal e mudança climática estão no Ministério de Meio Ambiente; a interação com os recursos hídricos está no Ministério de Desenvolvimento Regional, para onde foi a ANA; mecanismos vitais para o desenvolvimento do setor, como os instrumentos fiscais, tributários e creditícios, o Bndes, o Basa, o BNB, os Fundos Constitucionais do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste estão no Ministério da Economia, além de outras ações não lembradas aqui, que estão em outras instâncias de decisão. Diante desse contexto, somente uma Governança Sistêmica e Transversal, com coordenação empoderada para articular as ações, será capaz de criar as condições de sucesso para a formulação e a implementação de uma política florestal consentânea com a realidade e o potencial da silvicultura no País. n

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entidades

árvores:

conservação ambiental e produção sustentável

rumo a um horizonte verde

Mitigar os efeitos das mudanças climáticas é um desafio global, e precisamos enfrentar essa questão como um desafio civilizacional. Todas as ações são importantes, mas a adoção de soluções com repercussões globais é decisiva, uma vez que tais medidas ajudam a gerar impactos de proporção macro, como a consolidação de um modelo de economia verde. Esse cenário abre uma janela de oportunidades para o Brasil. O País tem enorme potencial para ser protagonista nessa transição para uma nova economia. Temos a maior biodiversidade e a maior floresta tropical do planeta, 12% de água doce do mundo e detentor de uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, com quase metade oriunda de fontes renováveis, segundo a EPE. Mas, para transformar essas potencialidades em chances reais de desenvolvimento verde, antes de qualquer coisa, precisamos combater, com energia, as ilegalidades em nossas florestas, como desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo, especialmente na Amazônia.

Durante a COP-26, em Glasgow, o País mandou um importante sinal ao mundo, mostrando que está em busca de retomar seu papel de cooperação internacional na questão ambiental. O Brasil faz parte de diversos compromissos globais, como as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), com anúncio de neutralidade de carbono até 2050 e fim do desmatamento até 2028, e o Acordo das Florestas e Uso de Solo. Isto é, o País tem um compromisso de reduzir emissões, restaurar áreas degradadas e ajudar o mundo nessa transição. O Brasil tem cases de sucesso de cadeias de valor que utilizam recursos biológicos e inovações tecnológicas na produção de itens e processos mais sustentáveis em prol do benefício social e ambiental coletivo. Como é o trabalho da gigante mundial brasileira Natura, que une pesquisas e ciência para gerar bons resultados e produtos para a sociedade; do cacau da Amazônia; o mundialmente conhecido açaí; e do etanol, que coloca

São plantadas 1 milhão de árvores para fins industriais todos os dias. Ao todo, são 9,55 milhões de hectares, no Brasil, destinados para fins produtivos nesse segmento.

Paulo Hartung Presidente da Ibá - Indústria Brasileira de Árvores


Opiniões o País como segundo maior produtor do biocombustível do planeta, a partir de cana-de-açúcar. Tudo isso aliado ao meio ambiente e com potencial de ampliar a produção agrícola significativamente, sem precisar desmatar, recuperando áreas degradadas. Nosso país possui significativa área de pasto com baixa produtividade e altos níveis de degradação. Segundo o Atlas Digital de Pastagens Brasileiras, da Universidade Federal de Goiás (UFG), são 44 milhões de hectares de áreas em estado severo de degradação e são quase 100 milhões de hectares com algum tipo de degradação. Tendo em vista que a importante produção de alimento no Brasil é feita em uma área de cerca de 80 milhões de hectares, e temos essa ampla área degradada, o País pode ampliar produção e relevância na economia mundial sem derrubar árvores ─ pelo contrário, recuperando áreas, tornando-as produtivas, gerando emprego e renda, provendo produtos sustentáveis e ajudando no combate às mudanças climáticas. O setor de árvores cultivadas é um dos faróis a iluminar o caminho da bioeconomia e traz à prática o discurso de produzir aliado com sustentabilidade. São plantadas 1 milhão de árvores para fins industriais todos os dias. Ao todo, são 9,55 milhões de hectares, no Brasil, destinados para fins produtivos nesse segmento. Esse é um setor que conserva 6 milhões de hectares em áreas entre RPPNs (Reserva de Proteção do Patrimônio Natural), APPs (Área de Preservação Permanente) e RLs (Reserva Legal). A indústria de base florestal é benchmark mundial no sistema de plantio em mosaico. Modelo que permite equilíbrio no uso dos recursos naturais e dá refúgio para os animais. Por meio dessa técnica, os cultivos comerciais se intercalam com as áreas de conservação, criando verdadeiros corredores ecológicos. Isso auxilia na preservação da biodiversidade, na regulação do fluxo hídrico e na manutenção de um solo fértil. O trabalho do setor ainda preza pela restauração. Somente em 2020, foram mais de 30 mil hectares recuperados ou em processo de recuperação. Com o manejo sustentável no campo, conservação e preservação, as florestas do setor estocam ou removem 4,55 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. As empresas associadas à Indústria Brasileira de Árvores – Ibá, são voluntariamente certificadas pelos principais selos internacionais, algumas há mais de 20 anos, como o FSC – Forest Stewardship Council, e o PEFC/Cerflor.

O setor tem os dois pés na bioeconomia, provendo mais de 5.000 produtos ou subprodutos essenciais, como embalagens de papel, livros, cadernos, papel higiênico máscaras cirúrgicas, pisos laminados, painéis de madeira, carvão vegetal para produção de aço verde, entre tantos outros. Itens que são fundamentais, têm origem renovável e são recicláveis e biodegradáveis, em sua maioria. O setor possui R$ 43,2 bilhões de investimentos em andamento, até 2024, para florestas, novas fábricas, expansões, ciência e tecnologia. Os avanços em novas aplicações são constantes. Um exemplo é a nanotecnologia. A conhecida celulose, originada das fibras, chegou à escala nanométrica, sendo potencial substituta de itens de origem fóssil. A Suzano, em uma joint venture com a startup finlandesa Spinnova, está trabalhando para produzir, em escala comercial, fios têxteis com o uso de até 90% menos de água e químicos. Nesse segmento de tecidos, o setor já atua com a solução sustentável oriunda da celulose solúvel, a viscose. Atualmente, o material já responde por 6% do market share global de tecido. Tratando-se de embalagens de papel, a Klabin investiu na startup israelense chamada Melodea, com foco em embalagens, em que a nanocelulose é objeto de pesquisas aprofundadas. A matéria-prima para barreiras em caixas de leite ou de suco, por exemplo, permitirá a substituição de camadas de plástico ou alumínio, tornando o produto ainda mais reciclável e biodegradável. A madeira é composta basicamente por 75% de fibras e 25% de lignina, que funciona como uma cola para que as fibras fiquem juntas e dê a rigidez que conhecemos. A partir do processo industrial, a lignina é separada das fibras, mas não é descartada. Com isso, é utilizada como produção de energia limpa. O setor gera 77% da energia que consome. A partir de pesquisas, a lignina está entre os materiais promissores e também tornará mais verdes o concreto, resinas, bio-óleos e termoplásticos convencionais, como peças de carro. O setor de árvores cultivadas desponta como um dos exemplos que podem contribuir para que o Brasil seja uma referência nessa caminhada da bioeconomia. A luta pela transição rumo um planeta habitável para as próximas gerações passa por plantar árvores, seja para preservação ambiental, com efeitos diretos no clima, seja para produção ecologicamente correta. Afinal, um horizonte sustentável tem a cor das florestas. n

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produtores de florestas

plantar floresta, pra quê? A produção de madeira, assim como a produção de alimentos, é um dos pilares de sustentação da sociedade. Ao longo da história, a madeira desempenhou papel fundamental no estabelecimento da civilização. O calor gerado pela madeira tornou habitáveis regiões de clima muito frio; possibilitou que cereais não comestíveis fossem transformados em importantes fontes de alimentação e viabilizou a conversão do barro em cerâmica, tijolos e telhas, utilizados na construção de habitações. A madeira também impulsionou o transporte com a construção de navios e, com o uso de dormentes, ferrovias. A maior parte da madeira utilizada no processo de estabelecimento das civilizações foi obtida em florestas nativas. Ao longo do tempo, alguns desses usos originais da madeira foram substituídos, principalmente em relação à geração de energia primária. Entretanto, a pressão atual de parte da sociedade para substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis torna novamente relevante o uso da madeira para energia.

outras formas de utilização da madeira e seus derivados têm se multiplicado, e suas demandas, potencializadas pelo elevado crescimento da população mundial, com cerca de 8 bilhões de habitantes " Kazuhiko Kamada Presidente da Cenibra

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Além disso, outras formas de utilização da madeira e seus derivados têm se multiplicado, e suas demandas, potencializadas pelo elevado crescimento da população mundial, com cerca de 8 bilhões de habitantes. Com o emprego de novas tecnologias, fibra têxtil, etanol, corantes e remédios, por exemplo, podem ser produzidos a partir da madeira. Para atender a todas essas demandas, o plantio de florestas de modo sustentável e o uso inteligente de seus produtos são os caminhos naturais a serem seguidos. Investimentos em pesquisa levaram a ganhos significativos na produtividade, o que possibilita a garantia do suprimento de madeira e resulta em um


Opiniões aproveitamento mais sustentável dos recursos naturais, otimizando o uso da terra, água, luz e nutrientes por unidade de madeira produzida. Ou seja, ao longo dos anos, aprendemos a produzir mais madeira por unidade de área plantada, com menor gasto de recursos naturais. Ainda assim, projeções da Ibá – Indústria Brasileira de Árvores, para o ano de 2050 apontam a necessidade adicional de 250 milhões de hectares de florestas plantadas em todo o mundo para atingirmos uma economia global de baixo carbono. Além dos múltiplos benefícios advindos do aproveitamento da madeira, o plantio de florestas, quando realizado de modo adequado, também tem gerado benefícios adicionais não menos importantes, como a preservação das florestas nativas existentes nas propriedades onde as florestas comerciais são cultivadas, a manutenção da biodiversidade, a conservação da qualidade da água nas bacias e a contribuição para o sequestro de carbono, fatores essenciais para minimizar a magnitude das mudanças climáticas em todo o mundo. Ou seja, além de continuar suprindo a madeira essencial para os vários usos demandados pela sociedade moderna, o plantio de florestas também contribui com a oferta de serviços ambientais cada vez mais exigidos pela sociedade. É nesse cenário de investimento em produtividade, com o uso racional dos recursos e promoção de benefícios à sociedade, que a Cenibra se situa. Então, quando perguntamos: “plantar florestas: pra quê?”, a nossa resposta está na própria missão da empresa, que é “transformar árvores plantadas, gerando e distribuindo riqueza de forma sustentável”. No decorrer de seus quase 50 anos de existência, a atividade florestal da Cenibra contribuiu para a geração de empregos, investimentos em infraestrutura e para a formação de áreas verdes nos municípios de atuação, sem concorrer com áreas agricultáveis, ao priorizar a vocação florestal que as montanhas de Minas Gerais possuem. É importante destacar que, diferente para recursos não renováveis, a Cenibra pode manter rotações de florestas plantadas para sempre no mesmo local. Para ser uma empresa perene e admirada por todos, as plantações da Cenibra coexistem com a flora, fauna e comunidades locais, seguindo todos os princípios éticos, legais e morais que regem a nossa sociedade. Para finalizar, quero compartilhar um lindo poema que nossa Técnica em Planejamento Florestal, Francineia Pereira, fez em relação ao tema. n

Plantar florestas pra quê? Plantar florestas para nascer do solo o que vamos colher Florestas para crescer A cultura que não pode morrer Renasce a floresta e a humanidade E renova a esperança de um mundo sem disparidade Plantar florestas para ter sentimento de merecer E habilidade para suprir o que a necessidade exigir Encher o coração de orgulho e satisfação E elevar os sonhos do chão Plantar florestas para ser melhor a cada dia e colher Fazer isso acontecer pertence a mim e a você Da terra vem a força E o suor vem das mãos Quem planta florestas rega e sente o verdadeiro valor da ação Alcançar a plenitude de saber que sem plantar florestas é difícil colher E toda uma vida sonhada sem renovação poderá morrer Plante florestas para viver. Francineia Pereira


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produtores de florestas

eucalipto: novas perspectivas à luz da nova conjuntura Hoje, segundo o último relatório da Ibá - Industria Brasileira de Árvores, o Brasil tem 9 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 77,4% de eucalipto, destinados à indústria de papel, ao carvão vegetal, às serrarias, aos produtos de madeira sólida e processada. O gênero Eucalyptus têm ocorrência natural na Austrália, Papua Nova Guiné e Indonésia. Possui mais de 600 espécies e variedades de ocorrência natural, porém, comercialmente, 9 espécies florestais (chamadas big nine) constituem mais de 95% das florestas plantadas de eucalipto do mundo; são elas: E. grandis, E. urophylla, E. globulus, E. camaldulensis, E. nitens, E. pellita, E. saligna, E. tereticornis, E. dunnii, todas elas pertencentes ao subgênero Symphyomyrtus. É de fácil percepção a evolução da produtividade florestal, quando se observa que, na década de 1960/1970, os plantios realizados com sementes, sem definição explícita da espécie, fertilização e manejo adequados, produziam florestas com 18 m³/ha/ano, e, atualmente, é possível encontrar florestas com produtividade variando de 30 m³/ha/ano (em ambientes marginais, de elevado déficit hídrico) a 50 m³/ ha/ano. De acordo com o último relatório Ibá, a produtividade média de eucalipto no Brasil (2019) foi de 35,3 m³/ha/ano. Contudo é interessante salientar que os ganhos de produtividades vão ficando cada vez menores, ou tendem a se estabilizar, a partir da evolução de um programa de implementações de melhoramento genético com gerações avançadas, estudos de solos, nutrição de plantas, manejo florestal e fitossanidade.

Para atenuar esse efeito, é sempre necessário agregar novas ferramentas biológicas, estatísticas mais apuradas, tecnologias de precisão em aplicação e monitoramento das necessidades de insumos “mais inteligentes”, modelagens ecofisiológicas, e um arrojado programa de inovação tecnológica para implementação de tecnologias, almejando ganhos constantes e sustentáveis da produtividade. O aumento das áreas plantadas, na última década, ocorreu principalmente nas chamadas “fronteiras florestais” (termo muito utilizado nos anos 2010), com destaque para o estado do Mato Grosso do Sul. Nessas regiões, temos predominantemente o bioma cerrado, com solos tropicais, altamente intemperizados, baixa fertilidade natural e, em sua maior parte, com textura arenosa ou franco-arenosa. Portanto, são solos que dependem da aplicação de boas práticas de fertilização e monitoramento nutricional para garantia de produtividade. Esse fato já é bastante conhecido e estudado, com importantes contribuições da Embrapa na “domesticação dos solos do cerrado” e também de universidades e centros de pesquisa com a criação e o aprimoramento de softwares e sistemas para recomendações de adubações. O desafio relacionado a este tema é o fato de o Brasil ser um grande importador de fertilizantes (80% da demanda) e, atualmente, responsável por 8% do consumo global, ocupando a quarta posição, atrás da China, Índia e EUA. As adversidades são ainda maiores considerando os engargalamentos logísticos causados pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, afetando significativamente a oferta dos fertilizantes, em especial o potássio (Rússia e Belarus estão entre os principais fornecedores de K para o Brasil).

Se os cenários são adversos e de incertezas, o setor deve responder com ciência, conhecimento e tecnologia para mitigação dos possíveis impactos. "

Sharlles Christian Moreira Dias Gerente de Tecnologia e Competitividade da Eldorado Brasil


Opiniões As variações climáticas representam, provavelmente, um dos principais desafios para a produção florestal. De acordo com informações do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, a última década foi a mais quente registrada no País. O levantamento analisou os dados de 1961 a 2020 e constatou que 9 dos 10 anos mais quentes registrados ocorreram a partir de 2005. Como consequências, é possível a ocorrência de aumento de eventos extremos, como chuvas mais volumosas em um curto período, secas mais severas e ondas de calor mais intensas. Existe ainda a possibilidade de mais danos causados por rajadas de ventos e tempestades. Em condições mais adversas de clima, além da possibilidade da redução da produtividade, existem efeitos na sanidade florestal. Plantas estressadas apresentam maior susceptibilidade ao ataque de pragas e doenças, com a possibilidade de surtos e desequilíbrios populacionais. Exemplos recentes da interação entre clima e pragas infelizmente já foram experimentados por empresas florestais no sul da Bahia em 2015/2016 e, mais recentemente, no Mato Grosso do Sul, em 2021, ambas com ocorrências significativas de lagartas-desfolhadoras. Se os cenários são adversos e de incertezas, o setor deve responder com ciência, conhecimento e tecnologia para mitigação dos possíveis impactos. Esses trabalhos são desenvolvidos internamente pelas equipes de P&D das empresas, ou através de parcerias com programas cooperativos junto a universidades e institutos de pesquisa, em níveis pré-competitivos entre as empresas. O Programa de Melhoramento Genético, além de oferecer clones para o upgrade da produtividade e qualidade da madeira, tem como objeto fundamental garantir a sustentabilidade em face dos eventuais estresses de materiais genéticos em decorrência de variações edafoclimáticas, distúrbios fisiológicos e fatores bióticos (pragas e doenças).

+++ BRANDO Definição de Unidades de Manejo Definição dos Materiais Genéticos Definição dos espaçamentos adequados Monitoramentos Nutricionais Aumento Eficiência Fertilizantes Monitoramentos Climáticos Preparo de Solo e Cultivo mínimo Manejo Integrado de Pragas e Doenças Controle Biológico e Inimigos Naturais Manejo de Plantas Daninhas

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Com as variações climáticas já discutidas, temos, no melhoramento, uma importante ferramenta para antecipação e agregação de estratégias para mitigação dos possíveis efeitos, inclusive com espécies não tradicionais para o setor de celulose, como E. brassiana, E. pellita, E. camaldulensis, E. tereticornis, E. longirostrata, seus híbridos, além dos híbridos do gênero Corymbia. O manejo florestal é determinante para o sucesso das florestas e, diante das incertezas, deve ser dinâmico e levar em consideração as informações mais atualizadas. Atualmente, as empresas têm investido em desenvolvimentos de modelos de predição que visam simular possíveis cenários sobre a produtividade florestal. Esse tipo de abordagem permite aos silvicultores avaliarem possíveis impactos e antecipar estratégias para mitigação dos efeitos ou perdas. A depender dos graus das mudanças, principalmente das climáticas, as práticas de manejo são ajustadas para enfrentamento das condições, podendo envolver desde ajustes mais simples até ajustes de maiores complexidades, custos e riscos. Nesse contexto, a figura abaixo propõe algumas etapas e ações, de curto, médio e longo prazo, em função dos cenários de mudanças (mais brando ou mais severo) e levando em consideração o nível de riscos, custos e incertezas. São ações que devem ser consideradas pelo setor na definição das estratégias de pesquisa, de planejamento e com alto potencial para mitigação dos cenários de incertezas. Cada uma delas mereceria um artigo à parte aqui na Revista Opiniões, mas a minha intenção é pontuá-las como oportunidades de novas pesquisas, investimentos e de aprofundamento pelo setor. Os desafios são ainda mais intensificados quando consideramos que, nos últimos anos, a inflação florestal, sistematicamente, tem sido maior que inflação do País, pressionando ainda mais os custos de produção. n

+++ SEVERO

CENÁRIO DE MUDANÇAS

Seleção e recomendação de clones tolerantes Janelas de Plantio (evitar épocas extremas) Abertura do espaçamento de plantio Plantio em mosaico e multiclonais Conhecimentos ecofisiológicos dos clones Metagenômica Microbiologia do solo Fertilizantes alternativos (Reativos / Naturais) Prospecção de Novos Inimigos Naturais Análises de riscos de pragas e doenças

Plantio apenas de espécies tolerantes Utilização de espécies não-tradicionais Desmobilização de áreas inaptas Fertilizantes não convencionais (remineralizadores) Diversificação de uso do solo e da floresta Técnicas Inovadoras de Melhoramento de Precisão (TIMP’s) Edição gênica Utilização de OGM’s

DIFICULDADES, RISCOS, CUSTOS E INCERTEZAS

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ATENÇÃO: ESTE PRODUTO É PERIGOSO À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AO MEIO AMBIENTE. USO AGRÍCOLA; CONSULTE SEMPRE UM AGRÔNOMO; INFORME-SE E REALIZE O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS; SIGA AS ORIENTAÇÕES DA BULA PARA O DESCARTE CORRETO DAS EMBALAGENS E RESTOS OU SOBRAS DE PRODUTOS; LEIA ATENTAMENTE E SIGA AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO RÓTULO E BULA OU FAÇA-O A QUEM NÃO SOUBER LER; UTILIZE OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.


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produtores de florestas

as florestas plantadas e seu protagonismo no

tripé da sustentabilidade

No atual momento, presenciamos eventos adversos, como o da pandemia da Covid-19, a invasão da Rússia à Ucrânia, a crise energética mundial, a pressão inflacionária, o mundo politicamente polarizado, contextos que geram rupturas no modo em que vivemos. Em todos esses eventos, é recomendável uma reflexão: esses conflitos - no campo das ideias ou das batalhas - estão nos direcionando a algo novo? Vivenciamos, hoje, o término de um ciclo e o início de uma nova era? Diante de tantos desafios que se apresentam com velocidade diferenciada, esperamos que esteja em formação um novo mindset positivo aprendido. A humanidade possui, hoje, uma oportunidade para construir um mundo melhor, especialmente direcionado às novas e futuras gerações. Mais empatia entre os homens, conservação irrestrita dos recursos naturais, acesso incondicional à informação e ao direito, liberdade de expressão, com respeito e tolerância à rica diversidade de opiniões, de forma a proporcionar a integração e a inclusão, transformações nas relações e no modo de trabalho, chegando, assim, a uma nova forma de viver a sociedade. Entretanto, diante desse sonhado propósito mundial, estamos otimistas em relação a tudo isso? Como atuamos para, ao menos, alcançar as condições citadas? Proponho, aqui, fazermos essa reflexão relacionando esse contexto com o ciclo da indústria florestal. Considerando nosso ciclo produtivo, ouso dizer que estamos no preparo de solo para um novo plantio. Um tempo de oportunidades para se fazer melhor, cuidar conscientemente do nosso mundo e da

Durante a pandemia, somente o setor de florestas plantadas doou às cidades brasileiras mais de R$ 170 milhões em equipamentos hospitalares, materiais de higiene, máscaras de proteção, alimentos e outros. "

Edimar de Melo Cardoso Presidente do Conselho da AMIF (Associação Mineira da Indústria Florestal) e COO Aperam BioEnergia

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humanidade, buscar recursos renováveis e meios sustentáveis de produção. Nesse cenário, as florestas plantadas podem demonstrar todo o seu potencial e protagonismo, contribuindo para melhorar e tornar mais sustentável o planeta em que vivemos. De qualquer forma, podemos apontar para as novas oportunidades que vêm surgindo e se apresentando como excelentes estratégias para o setor de florestas plantadas. Se fizermos o dever de casa, temos todos os artifícios para sermos os principais protagonistas do fortalecimento da sustentabilidade dos diversos negócios, hoje representado pelo tripé ESG (Meio ambiente, Social e Governança). Penso que, dessa vez, está soando diferente o comprometimento. As práticas se materializam por meio dos vários acordos firmados por mais setores da economia, que focam prioritariamente em metas de redução das emissões e também no consumo consciente e reduzido dos recursos naturais. O que está sendo citado permeará um novo ciclo, mais sustentável em todos os seus aspectos, especialmente ao olhar para a nossa história. A área estimada de florestas plantadas no Brasil totalizou, em 2020, 9,3 milhões de hectares, dos quais 70,6% concentrados nas regiões Sul e Sudeste. As áreas com cobertura de eucalipto corresponderam a 80,2% das florestas plantadas para fins comerciais no País, com 7,9


Opiniões milhões de hectares certificados, gerando 7,9 bilhões na balança comercial e empregando mais de 1,4 milhão de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Árvores - Ibá. Diante dos números, é nítido ver o potencial que o setor de florestas plantadas tem apresentado ao mundo, especialmente pelo estoque de CO2, que chega a aproximadamente 1,88 bilhão de tonCO2eq, e que contribui diretamente para um planeta mais sustentável. A descarbonização é, hoje, um dos principais objetivos das empresas que estão engajadas com a sustentabilidade. A neutralidade de emissões só será alcançada por meio de florestas, e, nesse quesito, somos especialistas. O potencial energético do nosso país é tão grande que saltam aos olhos as oportunidades quando observamos a participação de renováveis em nossa matriz energética. A nossa utilização de fontes renováveis é maior que o índice mundial (Brasil: 46% x Mundo: 14%).

É evidente a constatação do quanto a indústria de florestas plantadas pode contribuir para o fortalecimento das fontes renováveis na matriz energética nacional e mundial, ao participar diretamente das metas de descarbonização. Com certeza, a gestão de meio ambiente, representada pelo “E“ do tripé da sustentabilidade ESG, está no DNA da indústria de florestas plantadas. As plantações florestais e suas respectivas indústrias, espalhadas por todo o País, tem o Eucaliptus como o principal gênero plantado,

ocupando áreas importantes em diversos municípios e comunidades rurais. Quando observamos os impactos sobre essas localidades, notamos um aumento positivo no Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, na geração de empregos e renda, que promove e oportuniza melhorias no acesso a serviços sociais, além de tantos outros benefícios. Nesse tom, a indústria florestal cria um ciclo de desenvolvimento e traz para a responsabilidade corporativa o real comprometimento com o “S“, de Social, no tripé de sustentabilidade proposto pelo ESG. Durante a pandemia, somente o setor de florestas plantadas doou às cidades brasileiras mais de R$ 170 milhões em equipamentos hospitalares, materiais de higiene, máscaras de proteção, alimentos e outros. O setor fez sua parte e continua atento às necessidades das regiões, mesmo em meio à crise que estamos enfrentando. Se temos bons exemplos junto às comunidades, quando olhamos para dentro das empresas, nos orgulhamos do que foi feito, através de ações responsáveis, que colocam o bem-estar e a saúde das pessoas em primeiro lugar. No quesito “segurança nas operações”, vimos que foi e é possível atuar de forma segura e saudável, através de protocolos eficientes e responsáveis com a vida, bem planejados e geridos, mostrando, aqui, o alicerce “G”, de Governança, do tripé ESG. Existem também desafios que nos motivam e nos impulsionam a fazer mais e melhor. Recentemente, a publicação da Rede Mulher Florestal mostrou o dado de que somente 19% da força de trabalho no setor é ocupado por mulheres, e, destes, apenas 11% estão em cargos de liderança. Observamos uma evolução, mas ainda é muito tímida. Podemos e iremos fazer mais. É sabido que uma empresa inclusiva e diversificada potencializa a inovação e amplia a geração de riqueza social e financeira. Empresas que geram riquezas estimulam novos ciclos, e, com isso, desejo que o “G” seja a base desse tripé da sustentabilidade, como gerador de riquezas e, consequentemente, prosperidade. Enfim, a indústria florestal brasileira pode mostrar ao mundo que é protagonista e tem em seu DNA esse novo ciclo do ESG, que veio para qualificar. Se construirmos parcerias reais com os múltiplos atores da cadeia de valor, sejam eles públicos ou privados, aproveitando de maneira sustentável o nosso potencial edafoclimático e territorial, sempre em busca de práticas cada vez mais sustentáveis, responderemos com maior assertividade sobre nossa contribuição para a construção de um novo mundo, em constante aprendizado e respeito ao plural, que é o pilar da nossa sociedade. n

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cientistas

Opiniões

como as florestas estarão no nosso futuro? Via de regra, as universidades e os institutos de pesquisa se preocupam com o futuro das florestas. Isso ocorre porque, no caso dessas instituições, é necessário um planejamento de longo prazo, pois essas pesquisas demandam muitos recursos financeiros, humanos e de infraestrutura, que, em geral, são muito caros e apresentam resultados lentos e demorados. Desse modo, não podemos desperdiçar todos esses recursos para, apenas quando o futuro chegar, percebermos que empregamos mal os investimentos feitos no presente. No caso das universidades, devemos, ainda, considerar um outro importante papel por ela desempenhado: a formação de recursos humanos aptos a lidar com questões complexas que se apresentarão daqui a 10, 20, 30 anos ou mais. No mundo corporativo das empresas privadas, a visão de futuro com os seus mais variados cenários é de capital importância, pois isso pode significar a diferença entre crescimento econômico e o fim do empreendimento. De uma maneira didática, as universidades e os institutos de pesquisa da área florestal teorizaram três grandes vertentes para a área florestal. A primeira delas, sem dúvida, é atender

à sociedade com produtos por ela demandados, mas, agora, com um componente muito importante, que é o socioambiental. Segunda, as florestas ocupam uma posição de destaque no cenário da conservação do nosso meio ambiente e na qualidade de vida das pessoas. A terceira, que tem sido relegada a segundo plano, é o turismo florestal. No Brasil, em particular, o turismo fica restrito às áreas dos sistemas agroflorestais, plantios mistos de árvores com outras culturas do agronegócio e até com animais. Geralmente, trata-se de pequenas propriedades ou associações de produtores familiares. É difícil encontrarmos exemplos brasileiros de grandes empreendimentos voltados para o turismo na área florestal. O planejamento feito pelas universidades e institutos de pesquisa, considerando essas três grandes vertentes, é bem antigo, mas podemos dizer que ainda continua na moda. O que realmente vem mudando e que deve fazer uma grande diferença no futuro é o sistema agroindustrial de processamento da biomassa florestal como matéria-prima. Há bem pouco tempo, essa biomassa era usada tão somente para geração de polpa de celulose e de energia, carvão vegetal e madeira maciça ou reconstituída para a construção civil de um modo geral. Agora, estamos juntando esses setores ou essas vertentes ambientais e de produção num só. A sociedade está exigindo produtos advindos dessa biomassa florestal que sejam mais verdes, ambientalmente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis. A biomassa florestal deverá gerar, além daquilo que produz atualmente, muitos outros produtos para substituir os de origem fóssil.

temos na biomassa, carbono, oxigênio e hidrogenio, e esses átomos podem ser rearranjados nas mais diferentes moléculas e substâncias, o que permite produzirmos absolutamente tudo que o petróleo nos oferece "

Washington Luiz Esteves Magalhães Pesquisador da Embrapa Florestas


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Estamos ainda no início da era da bioeconomia, e a ferramenta mais apropriada para o setor florestal adentrar esse novo mundo é a biorrefinaria. Nesse novo conceito, o setor deverá produzir várias substâncias e produtos que já são produzidos usando uma matriz fóssil, numa substituição simples e direta. Mas, também, deveremos propor substâncias e produtos novos. As florestas plantadas crescem no Brasil com taxas até dez vezes maiores quando comparadas a de diversas outras regiões do mundo. Essa vantagem competitiva não se restringe apenas às florestas, mas também a outras biomassas vegetais. E, em última análise, temos, nessa biomassa, carbono, oxigênio e hidrogênio, e esses átomos podem ser rearranjados nas mais diferentes moléculas e substâncias, o que permite produzirmos absolutamente tudo que o petróleo nos oferece. A questão primordial são os custos, ainda proibitivos, mas, quando questões internacionais elevam o preço do barril de petróleo acima de 100 dólares, muitos produtos podem se tornar competitivos. O agronegócio brasileiro, incluindo o setor florestal, que nos enche de orgulho como um dos pilares de nossa economia, não foi capaz de prever a alta dos preços de um de seus mais

importantes insumos, os fertilizantes, nem fez movimentos significativos para diminuir nossa dependência externa. Pois bem, o setor florestal deveria, num futuro próximo, se empenhar para ajudar o País no esforço para diminuir a importação de nutrientes. A nanocelulose e a nanolignina, por exemplo, podem ser usadas com sucesso na produção de fertilizantes de liberação lenta, a custos competitivos. Essa tecnologia permite a redução do uso de fertilizantes convencionais com muito pouco desperdício desse insumo para o solo e corpos d’água. A biomassa de origem florestal, que gera energia, elétrica e térmica, emite gás carbônico no processo de combustão. Devemos capturar esse gás e usá-lo para produzir fertilizantes, como a ureia (usando nitrogênio do ar) e carbonatos (como o de potássio). Dessa maneira, ao invés de o setor ser considerado neutro na emissão de carbono, pois as árvores usam o CO2 do ar para crescerem, no processo chamado fotossíntese, passaríamos a ter emissão negativa, ou seja, consumiríamos mais carbono do que emitimos. O momento de crise internacional nos mostrou a importância de pensarmos sobre o futuro e agirmos com responsabilidade e patriotismo e, mais ainda, a importância de pensarmos, todos juntos, o futuro do setor florestal. n

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INOVAÇÃO

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s

no


O, TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE

Nossas raízes mais profundas estão na floresta, elas são a origem do nosso negócio e sabemos que são o futuro para um mundo melhor. Por isso, o propósito da Ponsse é entregar soluções sustentáveis para o benefício dos nossos clientes e meio ambiente.

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cientistas

Opiniões

o papel das universidades na formação de profissionais cientes do papel das florestas Trago uma perspectiva pautada apenas pela minha experiência de vida numa única escola, a Esalq-USP. Trata-se, portanto, de uma reflexão que, se estendida para outras escolas, pode não ser 100% válida. Pela “pegada” histórica da reflexão, entretanto, acho que tem algum potencial para servir de modelo e pode ser que inspire outras escolas e universidades. Em 1895, sob o título "Appello ao Governo e ás Camaras – Destruição das Matta", na Revista Agrícola da Sociedade Pastoril e Agrícola da cidade de São Paulo, Luiz de Queiroz escreveu o artigo retratado no facsimile ao lado: Luiz de Queiroz começou a sua educação formal com 8 anos de idade, na França, o país mais inovador daquela época. Retornou ao Brasil com 24 anos. Herdeiro de boa fortuna, encontrou em Piracicaba, no interior do estado de São Paulo, um ambiente propício para colocar em prática os dogmas básicos da educação iluminista que recebeu. Deve ter pensado: “A ciência e a tecnologia são o esteio do progresso, e o Brasil, rico em terras, recursos naturais e clima, precisa de uma escola que as coloque em prática”. E, assim, fez nascer a Esalq em 1901. No artigo reproduzido, que escreveu aos 46 anos de idade, e na sua obstinada dedicação à criação de uma boa escola, Luiz de Queiroz revela grande sensibilidade ao equilibrar tecnologia e ciência. Vemos nele a clara percepção dos limites

impostos pelo meio ambiente e a evidente certeza de que clima e florestas se conectam. Escrito há exatos 127 anos, é surpreendente a atualidade desse texto. Hoje, com muito mais evidências factuais e científicas, sabemos que florestas, clima e produtividade agrícola estão intrinsicamente conectados. Esses sábios conselhos do final do século XIX ecoaram e viraram lei no primeiro Código Florestal Brasileiro. Promulgado em janeiro de 1934, pelo presidente Getúlio Vargas, o código surgiu para "regulamentar a exploração florestal, de forma a manter os benéficos efeitos da natureza ... suas influências na umidade, na temperatura, na proteção dos solos, rios etc., bem como impor sanções ao homem que ... transgredisse as normas ...". Os seus preceitos, entretanto, eram complexos e inexequíveis, como a da reposição no mesmo local com as mesmas espécies. Essa primeira tentativa de proteger as florestas como provedoras de serviços ecossistêmicos, portanto, acabou tornando-se “letra morta”. Trinta anos depois, um novo consenso leva a uma reformulação do código florestal de 1934. A mudança começou bem longe da recém-criada Brasília, como conta Regina Leão, na página 234, do seu imperdível livro "A floresta e o homem". Um ex-diretor da escola idealizada por Luiz de Queiroz, na época já cinquentenária, o então ministro da Agricultura do governo Castelo Branco, Prof. Hugo de Almeida Leme, costumava retornar nos fins de semana a Piracicaba para hospedar-se na "casa do diretor" e reunir-se com outros professores. ;

Os professores de visão empreendedora estão mais habilitados para preparar bons e hábeis profissionais, capazes de garantir a continuidade do vital e intrincado papel das florestas nas nossas relações de produção e de desenvolvimento social. "

Luiz Carlos Estraviz Rodriguez Professor de Economia e Planejamento Florestal da Esalq-USP

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cientistas Numa dessas reuniões, reuniu-se com o Professor Helladio do Amaral Mello para discutir a necessidade de alterar o código florestal vigente, tornando-o mais exequível. Isso criaria condições para as empresas trabalharem dentro da lei. As conversas levaram ao decreto presidencial 4.771 de setembro de 1965, que revogou o código florestal de 1934. A nova versão, atendendo às orientações da comissão integrada pelo Prof. Helladio, criou as Áreas de Proteção Permanente e as Reservas Legais e incluiu dispositivos que definiram com mais clareza as regras da reposição florestal obrigatória e a possibilidade, normatizada anos mais tarde, de as empresas privadas poderem investir parte do seu imposto devido em reflorestamento. Essas modificações acabaram levando às condições e aos incentivos que criaram a nossa competitiva indústria florestal atual. Meio século depois, novas demandas forçaram novos ajustes. Dessa vez, as mudanças no Código Florestal visavam tornar o uso da propriedade agrícola para fins de produção mais compatível com o uso para fins de preservação ambiental. O novo Código Florestal, de abril de 2012 (Lei 12.651), e uma série de desdobramentos posteriores, contou novamente com uma forte participação da Academia, mas, dessa vez, o aporte foi mais difuso, e a busca por um difícil consenso teve que ser resolvido no Congresso, onde passou, mas com uma votação de apenas 274 votos a favor e 184 votos contra. De fato, foram necessários mais sete anos para que, do ponto de vista legal, o "papel das florestas e a sua importância" fossem totalmente regulamentados. Somente em 2019, quando um acordão do STF derrubou todas as ações diretas de inconstitucionalidade e uma lei específica (a 13.887) definiu as datas máximas para a regularização ambiental das propriedades, é que passamos a sentir mínima segurança jurídica capaz de atribuir às florestas um claro papel na paisagem rural brasileira e de ver reconhecida a sua importância. Essa percepção da importância das florestas foi, aos poucos, forjando no Brasil uma paisagem na qual convivem a produção e as florestas, num mosaico rico e diverso. Há uma outra questão, entretanto, que parece transitar por uma dimensão que vai além do científico e do legal. Quando plantadas para o abastecimento industrial, o papel como fonte de matéria-prima fica evidente, mas, quando mantidas e restauradas para prover serviços ecossistêmicos, a sua importância ainda não é perfeitamente tangível. Para atuar nessa dimensão, é que a educação e as universidades entram novamente em cena. No coletivo, as árvores são per-

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Opiniões cebidas como elementos difusos e abundantes. É o que acontece com o ar e a água, que, por serem abundantes, só percebemos a sua real importância quando faltam. No caso das florestas, entretanto, os danos ao nosso bem-estar e à nossa própria vida acontecem de forma mais sutil e com um certo atraso. A sua ausência só é percebida quando, asfixiados, famintos ou sedentos, nos damos conta de que eliminamos, deterioramos ou contaminamos, de forma irreversível, a própria fonte de ar, água e alimentos. Plantar e cuidar de florestas é garantir a nossa própria vida e, para isso, devem se apresentar os cursos de engenharia florestal. Cabe, portanto, refletir se, no Brasil, estamos formando bons engenheiros florestais nas escolas que já temos. Bem, a resposta está na própria razão de existência dessas escolas, e será “sim” se essas escolas perceberem a sua nobre missão. Será “sim” se estiverem formando profissionais conscientes do seu papel como provedores de sistemas florestais sadios e permanentemente capazes de purificar o ar, circular a água e fornecer produtos essenciais para a nossa existência. A visionária capacidade empreendedora de Luiz de Queiroz, que, além de exemplar como pioneiro no uso da tecnologia, nos deixou também a sensibilidade humanista de criar uma escola para formar bons profissionais, é um atributo que deveria ser obrigatório quando renovarmos os quadros das nossas universidades. Os professores de visão empreendedora estão mais habilitados para preparar bons e hábeis profissionais, capazes de garantir a continuidade do vital e intrincado papel das florestas nas nossas relações de produção e de desenvolvimento social. Vivemos um novo momento em que profundas crises tornam as nossas escolhas muito difíceis. É nossa obrigação equilibrar o acesso universal à educação de qualidade, enquanto mantemos a estabilidade das instituições democráticas, garantimos as nossas liberdades, mitigamos os efeitos das mudanças climáticas, transitamos para uma economia descarbonificada de menor impacto sobre os nossos limitados recursos naturais e garantimos o direito à vida e à diversidade de todas as espécies da flora e da fauna. As universidades, se bem financiadas e providas de bons professores e competentes administradores, têm a obrigação de formar profissionais que entendam o essencial papel das florestas. Papel esse que, pela sua essencialidade, se mantém inalterado há mais de um século e que, em muitos casos, inspirou a fundação de ótimas escolas ... como o fez Luiz de Queiroz ao nos deixar o seu legado e o seu “desabafo” de 1895 na Revista Agrícola. n


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cientistas

Opiniões

a real energia da árvore O setor de florestas plantadas de Eucalyptus spp. e Pinus sp., com mais de 9,5 milhões de hectares em áreas produtivas e respeitando integralmente as exigências legais e ambientais nacionais e internacionais (mais de 6 milhões de hectares de área conservada), produz, de maneira sustentável e certificada internacionalmente, matéria-prima e produtos derivados relevantes para o Brasil. A nossa silvicultura é reconhecida pela sua alta produtividade, qualidade em seus produtos e derivados, sustentabilidade, tecnologias e inovações nas operações florestais, desde o preparo de solo, passando pelo plantio e irrigação, até a colheita da madeira. A produção e a exportação dos principais produtos da silvicultura nacional, em 2020, representaram 8,9% das exportações mundiais. Os produtos tradicionais do agronegócio nacional, como soja, açúcar, café, carne (bovina e de aves), milho e algodão, ainda lideram nosso ranking de exportação que seguem para China (32,4%), União Europeia (14,5%) e Estados Unidos da América (6,4%), superando R$ 2 trilhões – 27% do PIB nacional. Nesse contexto, as florestas plantadas contribuem com 4,8% dos produtos da cadeia de exportação do agronegócio, ou seja, 2,7% do PIB nacional, com cifras

que somam mais de US$ 11 bilhões em 2020. Os principais produtos florestais são celulose, papel, painéis e pisos laminados, madeira serrada e compensados, colocando o Brasil na posição de maior exportador de celulose do mundo. Mas, além da participação e representatividade internacional, as florestas plantadas contribuem de forma relevante na matriz energética nacional, sendo a biomassa florestal uma fonte renovável, contribuindo pelo fornecimento de 9% da eletricidade consumida em todo o País. O Brasil possui menos de 1% do território ocupado pelas florestas plantadas, que é responsável por atender 91% de toda a demanda de madeira para fins industriais no País, e 1 milhão de hectares é destinado aos plantios energéticos. Nesses plantios, a biomassa florestal, importante material orgânico sintetizado pelas árvores na fotossíntese, que abrange componentes acima do solo (folhas, galhos, fuste, casca e toco) e abaixo dele (raízes), pode ser convertida em energia térmica ou elétrica. O mesmo vale para a biomassa morta ou residual, que é caracterizada pelo resíduo de lenho, raízes e tocos e restos da colheita remanescente no campo. Tradicionalmente utilizada no velho continente desde os anos 1600, exportada durante os anos de 1800 pelos países nórdicos, a biomassa residual florestal

as florestas plantadas contribuem de forma relevante na matriz energética nacional, sendo a biomassa florestal uma fonte renovável, contribuindo pelo fornecimento de 9% da eletricidade consumida em todo o País. "

Saulo Philipe Guerra Diretor da Agência UNESP de Inovação - AUIN e Líder Científico do Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal – PCMAF/IPEF


A melhor escolha para o desenvolvimento de negócios baseado em Ativos Florestais Conte com a IMA como sua parceira para desenvolver novos negócios. • Parcerias nacional e internacional para o desenvolvimento de negócios para diferentes cadeias de produção • Parceria técnica e operacional com a empresa VOA - Especialistas em aplicações com Drones • Acesso a gestores de fundos de investimentos florestal no Brasil e no exterior • Desenvolvimento de negócios nas áreas de madeira serrada, energia elétrica e exportação de madeira • Consultoria e treinamento para a otimização de custos e maximização de resultados

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Gestão Florestal retomou posição de destaque nos anos 2000, na Europa, e, mais recentemente, no Brasil. A biomassa é considerada uma das principais alternativas para redução da dependência e importação dos combustíveis e seus derivados fósseis, sendo, hoje, a terceira fonte mais utilizada no País. Hoje, temos grandes investimentos em operação, convertendo tocos e raízes de eucalipto em energia elétrica, como a termoelétrica da Eldorado Brasil - Onça Pintada, Três Lagoas-MS, com capacidade para gerar e entregar mais de 50 MW de energia limpa e sustentável junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). É a maior usina termoelétrica a biomassa florestal em operação no País! Na esteira do aproveitamento integral da biomassa florestal, novos investimentos em usinas termoelétricas são aprovados no Brasil, como em Uruguaiana-RS e Lençóis Paulista-SP, para citar apenas dois exemplos. A planta do Rio Grande do Sul terá capacidade de gerar energia para atender a uma cidade com 100 mil habitantes. Já a usina paulista terá capacidade de produzir até 80 MW de energia limpa, suficiente para abastecer uma cidade com 1 milhão de habitantes, e início das operações previsto para 2024. A contribuição da energia de biomassa florestal é importante para o País, com forte

perspectiva de crescimento. Nos momentos de crise econômica, ou de crise sanitária, ou de restrição de fornecimento de energia fóssil importada, o tema ganha força. Agora, num cenário onde as três situações acima ocorrem conjuntamente, a pergunta “Plantar florestas: pra quê?” se torna uma questão estratégica de Estado. Nosso setor deve ser apoiado pela sociedade civil e pelos governos federal, estadual e municipal, considerando o enorme potencial de geração energética, os compromissos assumidos na COP26, a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade das suas atividades na produção de matéria-prima florestal. Os investidores e empresários terão o desafio de produzir produtos inovadores derivados da madeira, como lignina, etanol, bioplásticos, nanofibras, tall oil e bio-óleos, dentre outros, que estarão em nossas vidas e nas mais diversas indústrias, num curto espaço de tempo, graças aos investimentos em P,D&I realizados pelas indústrias de base florestal, universidades e institutos de pesquisa. Dessa forma, vamos capacitar profissionais e gestores para lidar com os desafios da silvicultura de florestas plantadas, tornando-as mais tecnificadas e produtivas, em um ambiente cada vez mais digitalizado e sustentável. n

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cientistas

como manter a produtividade frente ao aumento das pragas? As florestas plantadas brasileiras, principalmente as baseadas em eucalipto e pinus, são reconhecidas mundialmente pela sua produtividade, baseada em sólidas pesquisas em melhoramento e manejo florestal. Entretanto, nos últimos anos, essa produtividade estagnou e, em alguns casos, até reduziu. O que tem acontecido? Uma das suposições está relacionada com os anos da crise econômica, iniciada em 2008, que fez alguns setores realizarem cortes nos investimentos, e mesmo em algumas operações, para sobreviver a esse período. Isso é verdadeiro para o setor de siderurgia, demandante de carvão vegetal de eucalipto, e o setor de madeira sólida, chapas e painéis. Na área de proteção florestal, esses cortes aconteceram no controle de formigas cortadeiras e de pragas de parte aérea, como psilídeo-de-concha e percevejo-bronzeado, para o eucalipto. Entretanto, o setor de papel e celulose foi o menos afetado, pois a demanda mundial por esses produtos e os preços internacionais se mantiveram altos, além do câmbio, com a desvalorização do real, e rapidamente as despesas com controle de pragas e doenças se mantiveram. Porém, mesmo esse setor apresentou estagnação da produtividade na última década. Pelo levantamento anual de pragas e doenças florestais, realizada pelo PROTEF (Programa de Proteção Florestal), do IPEF, começamos a ter uma série histórica, com 11 anos de dados.

De 2010 a 2017, a área média afetada por pragas em florestas de eucalipto tem sido de 10% a 15% da área de efetivo plantio, excluindo formigas cortadeiras e cupins. De 2018 a 2020, a área atacada por pragas tem atingido média de 30% da superfície plantada, ou seja, praticamente dobrou o tamanho do problema, mesmo controlando essas áreas. Esse aumento se deve basicamente a três pragas: psilídeo-de-concha, percevejo-bronzeado e lagartas-desfolhadoras. Por que essas pragas, mesmo com programas de controle biológico e uso de inseticidas químicos, têm aumentado seus danos (que podem reduzir o IMA entre 10% e 30%)? Uma das possíveis explicações está relacionada com as mudanças climáticas. A interação entre as mudanças climáticas e a ocorrência de pragas e doenças florestais já vem sendo evidenciada há quase dez anos, principalmente nos EUA e no Canadá. Porém, nas regiões tropicais, tem sido mais difícil evidenciar as mudanças climáticas. Por outro lado, os fenômenos climáticos mais estudados, como o El Niño e La Niña, têm abrangência global e afeta diretamente o Brasil. Cruzando os dados dos levantamentos de pragas florestais e o histórico de ocorrência de El Niño/La Niña, verificamos que, durante os anos de La Niña, que se caracteriza por invernos e primaveras mais secas e com temperaturas mais amenas nas regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste, ocorreram mais surtos das pragas de eucalipto,

Por que essas pragas, mesmo com programas de controle e uso de inseticidas, têm aumentado seus danos (que podem reduzir o IMA entre 10% e 30%)? "

Caroline Dias de Souza e Carlos Frederico Wilcken Coordenadora do Programa Cooperativo sobre Proteção Florestal do IPEF e Professor de Entomologia Florestal da FCA/UNESP-Botucatu, respectivamente


Opiniões como lagartas-desfolhadoras, psilídeo-de-concha e percevejo-bronzeado. Nos anos de El Niño, em que as secas ocorrem com maior intensidade nas regiões Norte e Nordeste, verificamos surtos de lagartas-desfolhadoras na Bahia. Essas evidências ainda carecem de análises estatísticas para serem confirmadas, mas permitem que as empresas e os produtores florestais possam se preparar melhor para um possível aumento de surtos durante a vigência desses fenômenos climáticos. Os efeitos de secas mais intensas e prolongadas, associados ao aumento da frequência de eventos extremos, como ondas de calor ou frio, por vezes intercaladas por diferença de duas a três semanas, como ocorreu durante os meses de agosto (geada) e setembro (onda de calor com máximas acima de 40oC) nos estados do MS e São Paulo em 2021, intensificam os estresses em árvores de eucalipto. Esses estresses podem aumentar a predisposição das florestas plantadas à ocorrência das pragas citadas e afetar as populações dos seus inimigos naturais, por ação direta sobre eles, que são menos resistentes que as pragas, e, por ação indireta, afetando o sub-bosque e fragmentos florestais, onde os parasitoides buscam seu alimento (pólen e/ou néctar). Portanto, o cenário no campo é complexo, e, só com mais estudos e dados de séries históricas, é que poderemos compreender melhor os problemas com pragas que vêm ocorrendo no Brasil. Frente a isso, o que fazer? As empresas florestais sempre consideraram as formigas-cortadeiras como praga-chave para as florestas plantadas, independente da espécie plantada, e o controle de formigas é parte obrigatória em qualquer planejamento florestal, inclusive quantificando os custos de controle e incluindo nos orçamentos anuais.

Entretanto, as demais pragas florestais geralmente são deixadas em segundo plano e poucas vezes são incluídas na planificação dos novos plantios. Os dados dos levantamentos do PROTEF evidenciam que, desde 2018, as pragas de copa de árvores também precisam ser consideradas pragas-chave e devem ter seu controle previsto e orçado, para facilitar a tomada de decisão, caso seu controle seja necessário. O segredo do sucesso no controle de pragas reside, em parte, na rapidez das decisões e das operações de controle e, na outra parte, na previsibilidade do risco de ocorrência de surtos e no planejamento do uso de controle biológico, que é de efeito mais lento, porém mais duradouro. Outro caminho é considerar, dentro dos programas de melhoramento florestal, a avaliação de novos clones ou genótipos quanto à suscetibilidade/resistência às pragas florestais. A seleção de clones mais adaptados regionalmente auxilia na redução dos efeitos dos estresses abióticos e, sendo possível agregar a resistência às pragas ou, pelo menos, evitar o plantio de clones suscetíveis, permitirá reduzir sobremaneira os danos das pragas e manter os altos níveis de produtividade florestal. Os avanços tecnológicos, como uso de drones na aplicação de inseticidas químicos e biológicos e na liberação de inimigos naturais, e científicos, como pesquisas de uso de RNAi (RNA de interferência) para controlar as pragas de forma mais específica e seletiva, também ajudarão a manejar melhor as pragas. As soluções para os problemas de pragas e doenças florestais só avançarão considerando uma abordagem multidisciplinar, com o esforço de pesquisas conjuntas entre as áreas de proteção, melhoramento e manejo florestal e a rapidez na transferência dos melhores resultados para o setor produtivo. n

PROPORÇÃO ÁREA PLANTADA X INFESTADA POR PRAGAS EM EUCALIPTO Proporção área plantada x infestada por pragas em eucalipto 2010-2020

2010-2020

4.000.000

ÁREA - HECTARES

3.500.000 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 -

2010 Área infestada 206.648 Area plantada 1.500.000

2011 213.464,7 2.331.215

2012 272.795,7 1.183.257

2013 221.435,9 1.630.267

2014 214.301,2 1.755.122

2015 184.174,8 1.386.168

2016 237.730,0 2.402.476

2017 458.364,1 2.516.234

2018 741.592,9 2.482.494

2019 514.190,2 2.710.337

2020 836.257,6 2.749.710

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cientistas

Opiniões

pronto: tá aí ! Quando a Revista Opiniões me convidou para escrever um artigo com um título singelo ─ “Plantar Floresta: pra quê?” ─, achei que seria fácil. Passaram-se uns dias e me apavorei: dar razões para que se plantem florestas em um veículo cujos leitores são especialistas em florestas é listar platitudes. Entrei em um parafuso bipolar, que só acabou quando lembrei que o Plano Nacional de Desenvolvimento de Florestas Plantadas se autointitula Plantar Florestas. Minha confusão mental acabou quando fui ao documento do Plantar Florestas e vi que ele próprio diz a que veio e o que é e, de quebra, fala por que plantar florestas: “É um esforço articulado do governo, coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o envolvimento de representantes setoriais da área florestal e agrícola. Seu objetivo é definir linhas de ações para todos os atores setoriais, de forma que florestas plantadas gerem emprego e renda; e contribuam com o desenvolvimento humano e a qualidade ambiental do espaço rural brasileiro”. Pronto, tá aí: o plantar florestas é importante porque põe todos os atores florestais para

que andem para um mesmo lado, para que vejam os mesmos problemas e criem soluções. E, de quebra, está aí a descrição da importância de se plantar florestas: geração de empregos e renda, melhoria da vida das pessoas e da qualidade rural e ambiental. Parar por aqui atenderia à minha missão, mas, por desconfiar que o editor queria algo mais, resolvi pensar no que se diz da importância de florestas plantadas e resumir o que penso sobre alguns pontos. • Florestas plantadas removem a pressão sobre florestas naturais e evitam o desmatamento pela diminuição da demanda de produtos florestais. Não concordo com isso. Pode até acontecer em situações específicas, mas, no geral, não. Madeiras serradas e placas de pínus e eucalipto não substituem a madeira tropical; geram produtos diferentes, mais homogêneos, mais leves e são vendidos em mercados diferentes. Não é por plantarmos pínus e eucalipto no sul de São Paulo que vamos salvar florestas com Araucária, matas de peroba ou a Amazônia. Os produtos florestais de florestas plantadas convivem com os provenientes de florestas naturais manejadas de forma sustentável e geram os mesmos benefícios. Manejar florestas evita desmatamento. Plantar florestas não evita desmatamentos.

Não é interessante ter florestas que só gerem renda. Nem florestas que só protejam. Temos que ter florestas de uso múltiplo e de serviços múltiplos. E daí apresentar os pra quês de boca cheia. "

Erich Schaitza Chefe-geral da Embrapa Florestas


Qual é o diâmetro do seu problema?

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cientistas • Gera emprego e renda, com produtos madeireiros ou não. Essa afirmativa eu assino embaixo. Basta a gente ler o relatório anual da Ibá e ver que das florestas plantadas saem 5.000 produtos diferentes, de chá mate a nanocelulose de pínus e eucaliptos. Telhados, portas, mesas, cadeiras, papel ou produtos com aquele cheirinho de eucalipto que nos lembram sauna e nos dão uma sensação de limpeza. São 3,8 milhões de trabalhadores e uma renda anual de 100 bilhões de reais. Voltando ao plantar florestas, o plano governamental e sua importância, ele nos fala da oportunidade de aumentarmos a produção de madeira para a construção civil, usarmos mais madeira para gerar energia sustentável e desenvolver novos produtos verdes para o mundo. Aborda também nosso potencial competitivo, mostrando que temos vantagens comparativas para a produção florestal inerente a sermos um enorme patropi, com potencial para crescer ocupando áreas de pastagem e de agricultura de baixo rendimento. • Proteger solos, água e biodiversidade. Uma afirmativa que ouvimos muito quando se fala de plantios de restauração, de proteção de matas ciliares e encostas de morros, mas que também deve ser verdadeira nos plantios para geração de renda. Trabalhei em um projeto do governo do Paraná, o Paraná Biodiversidade. Nele fazíamos escambo por serviços ambientais. Facilitávamos o acesso a bebedouros de gado em troca de restauração de matas ciliares. Melhorávamos o estábulo de vacas leiteiras, recebendo o plantio de reservas legais em troca. Nessa toada, recuperamos 15 mil quilômetros de matas ciliares e plantamos uma boa área, uns milhares de hectares de reservas legais. Um dia, levamos uma missão do Banco Mundial e o Presidente do GEF para ver nosso trabalho em São José das Palmeiras, numa microbacia onde 100 produtores recuperaram suas nascentes e matas ciliares, um do ladinho do outro. Antes da missão, fomos visitar os agricultores e industriá-los: “falem da biodiversidade sempre, que ela aumentou e tal”. No dia da missão, vimos as matas e conversamos com os agricultores e eles não cansavam de dizer que a água voltou, que os rios estavam mais regulados, não tinha enchente, não tinha seca. E eu nervoso, pensando: eles não vão falar de biodiversidade, o foco de nosso projeto. Chegou uma hora, não resisti e perguntei da biodiversidade, e responderam: está cheio de bicho também. Mas não estavam nem aí para os bichos.

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Opiniões Tudo isso para dizer que concordo com a afirmação e a floresta plantada, principalmente as de restauração, tem uma importância enorme para regimes hídricos, conservação de solos e biodiversidade. Para fechar, florestas com exóticas também têm uma relação muito grande com fauna e proveem proteção de solos e água. Há estudos de fauna em plantios que mostram uma grande interação e capacidade de suporte até para onças, bichos no topo da cadeia alimentar. Poderia falar ainda de várias outras razões para plantar, como promoção de beleza cênica; um plantio é tão mais bonito que um morro careca, sombra e conforto térmico para pessoas e animais, descarbonização de sistemas de produção por substituição de derivados de petróleo e mais um monte de pontos, mas vou fechar o artigo com a mais gasosa das razões: • Capturar gases de efeito estufa. Outro dia, um artigo no Estadão falava que o principal inimigo da agricultura, hoje, é o desmatamento. Plantar florestas é a antítese do desmatamento. É o “matamento”. Desmatar emite carbono, plantar florestas captura carbono. E isso ocorre mesmo que ela seja cortada, especialmente se for manejada de forma sustentável e com produções reguladas. Para termos mil metros de madeira e atendermos a um ano do funcionamento de uma fábrica, precisamos ter no campo árvores suficientes para a produção de mil metros no ano seguinte e no seguinte e no seguinte. Se fosse um sistema ordenado em pínus, todo ano cortaríamos 1/20 de nossa área e manteríamos outros 19/20 crescendo no campo. Ao final do 20o ano, voltaríamos a cortar aquela mesma área que cortamos no ano um, e o ciclo de cobertura do solo com florestas se perpetua. Os plantadores de árvore têm um potencial enorme para serem os grandes mocinhos da área de carbono. No entanto, precisam entender bem como seus sistemas de produção se relacionam a ciclos de carbono. O mercado de carbono ainda é desregulado, voluntário, afeto a arroubos de pessoas mais agressivas, mas a filosofia de processos sustentáveis e de baixo carbono veio para ficar. Finalizando, precisamos plantar florestas que atendam a todos esses pontos comentados e a mais tantos outros. Não é interessante ter florestas que só gerem renda. Nem florestas que só protejam. Temos que ter florestas de uso múltiplo e de serviços múltiplos. E daí apresentar os pra quês de boca cheia. n


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cientistas

engenharia do futuro: convergência de visões deve formar o profissional que a sociedade precisa

O mundo precisa de árvores! Não de espécies exóticas, melhoradas geneticamente, que são altamente produtivas e garantem o abastecimento sustentável de uma cadeia industrial. Nem de espécies nativas da Mata Atlântica que compõem o habitat para fauna, sob risco de extinção. O mundo precisa de todas as árvores, de todos os tipos, não importa se exóticas, nativas, se crescem mais rápido ou devagar, se possuem madeira nobre ou não, se estão em talhão de produção, na área urbana ou em uma mata ciliar. Todas as árvores são importantes para o planeta, e a sociedade não quer escolher entre uma ou outra, ela precisa de todas! Neste momento, é fundamental integrar as visões sobre a importância das árvores (e das florestas) para o mundo. Somente o engenheiro florestal pode fazer isso. A engenharia florestal foi concebida na Alemanha, no início do século XIX, sob a visão utilitária da floresta para o homem, principalmente visando à produção de madeira e a seu processamento, para obtenção de bens e produtos que estão na vida cotidiana de todas as pessoas.

Sob esse propósito, nesses 200 anos, um pouco mais da metade deles foram dedicados ao desenvolvimento tecnológico da exploração, produção ou processamento dos produtos oriundos da floresta. No Brasil, por exemplo, o final do século XX foi marcado por grande avanço tecnológico na área da silvicultura, envolvendo desde a tecnologia de sementes e mudas até processos de digestão da celulose e reengenharia de novos bioprodutos. Todo esse desenvolvimento da engenharia propriamente dita foi acompanhado, principalmente, nos últimos 50 anos, de grande evolução na sustentabilidade dos processos produtivos, desde a redução de impactos diretos das operações no campo, aumento de eficiência em todos os níveis, atendimento de diferentes regulações de mercado ou governamentais, até o ponto de a silvicultura industrial no Brasil se tornar um exemplo de investimento em ESG para a indústria e o setor agrícola. Por outro lado, ainda existem desafios a serem vencidos na adoção dos avanços socioambientais e das tecnologias já existentes em pequenas propriedades, tanto na área de silvicultura como na exploração de florestas nativas tropicais.

o mundo precisa de mais árvores e de quem saiba manejá-las, e não há mais espaço para visões estreitas no mundo moderno "

Silvio Frosini de Barros Ferraz Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP


Opiniões No mesmo período, o surgimento de bases teóricas para a conservação e a preocupação da sociedade com a sustentabilidade se intensificaram devido ao aumento de problemas ligados à poluição, à redução das florestas nativas, às mudanças climáticas, à crise hídrica, à perda de biodiversidade, etc. Dessa forma, a perda dos outros serviços ecossistêmicos em detrimento da provisão de bens elevou a importância das florestas nativas para o equilíbrio do planeta. A defesa dos biomas florestais ganhou força, sistemas de monitoramento e grande apoio da sociedade, que passa a se interessar mais sobre o tema. O desenvolvimento da área de conservação também passou por um amadurecimento em que o radicalismo inicial da preservação de per si vem sendo substituído por uma visão de conservação, que contempla o uso dos recursos naturais e entende o homem como parte da natureza. Se, por um lado, a visão original da profissão mais ligada à produção agora contempla a necessidade de maior equilíbrio ambiental e entende a importância dos demais serviços ecossistêmicos, por outro, a visão mais conservacionista também consegue olhar para a importância da produção florestal sustentável, até mesmo como instrumento de substituição e, por consequência, de conservação de florestas nativas. Dessa forma, neste momento, é nítido o caminho de fusão das duas perspectivas para uma visão única: toda floresta é importante, tem seu lugar e precisa ser manejada de forma adequada para oferecer os serviços ecossistêmicos fundamentais para a vida e o equilíbrio do planeta. É um momento de convergência, em que não há mais espaço para visões estreitas de produção ou conservação, sendo necessária uma visão intermediária, integrada, holística, que entende o componente florestal como essencial para o equilíbrio do planeta e para a vida cotidiana da sociedade. O engenheiro florestal necessário no momento presente é aquele profissional que consegue manter a visão intermediária; para isso, pode utilizar uma ampla caixa de ferramentas, incluindo desde o planejamento da conservação em áreas naturais, a restauração de florestas nativas, a manutenção de sistemas de produção/conservação até a introdução de plantios mistos e/ou plantios homogêneos. As ferramentas são adequadas de acordo com as condições socioambientais locais para uma ampla gama de serviços ecossistêmicos, como

técnicas de conservação de florestas nativas para a produção de água ou fixação de carbono, até o manejo de florestas monoclonais de alta produtividade para a indústria de celulose e seus bioprodutos derivados. Somada a essa visão holística desmistificada da floresta, que deve ser o foco dos cursos, assim como toda escola de engenharia moderna, a preparação dos alunos deverá focar em três aspectos principais: um forte embasamento teórico (não tecnológico), amplas oportunidades para vivência prática e exercício da realidade e estrutura de ensino, dentro e fora da sala de aula, que possibilite o fortalecimento das habilidades pessoais (soft skills). Para atingir esse modelo, os cursos precisam ter excelência no conteúdo essencial, propiciar oportunidades para treinamento, especialização, estágios, vivências dos problemas reais da sociedade, além de criar um ambiente universitário para o autodesenvolvimento pessoal em termos de iniciativa, liderança, independência, comunicação e inteligência emocional. A estrutura dos cursos no Brasil é baseada nas diretrizes curriculares do MEC, mas também influenciada pelos conselhos regionais de engenharia, limitando um pouco as possibilidades de alterações do currículo. No entanto, é possível atender a todos os requisitos da legislação e conselhos profissionais, ajustando o foco dos cursos, enfatizando os aspectos essenciais e, principalmente, reformulando a forma de ensino e as oportunidades oferecidas extraclasse aos alunos. A reformulação do currículo da engenharia florestal da Esalq-USP vem sendo realizada nessa direção após uma ampla discussão entre alunos, professores, egressos e profissionais de mercado. Finalmente, parece que se está aproximando do que o nosso maior patrono e visionário Luiz de Queiroz já enxergava mais de 100 anos atrás (ver artigo do Prof. Luiz Carlos Estraviz Rodrigues nesta edição). As universidades precisam se preparar para formar esse profissional, que poderia, até mesmo hoje, ser denominado engenheiro de serviços ecossistêmicos, pois não enxerga a floresta somente sob uma perspectiva e entende suas múltiplas funções, não carrega preconceitos e vieses de professores formados em outras realidades do passado, mas entende seu papel ativo no futuro como o profissional das florestas, sejam quais forem, para quaisquer finalidades, pois o mundo precisa de mais árvores e de quem saiba manejá-las, e não há mais espaço para visões estreitas no mundo moderno. n

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Índice

consultores e especialistas

plantios florestais é negócio só para

grandes produtores?

O tamanho das propriedades – pequena, média ou grande - não é fator determinante para uso e sucesso de plantios florestais. São apontadas como características importantes na seleção de áreas para plantios: relevo, estradas de acessos e distância do mercado consumidor. Nos dias atuais, no entanto, algumas empresas dão preferência às grandes propriedades e planas, tanto para parcerias, quanto para negociações de florestas. Tudo por causa das sofisticadas máquinas e equipamentos de colheita e transporte. Há de se incrementar pesquisas para mudar esse foco. De maneira geral, o proprietário quer retorno financeiro dos investimentos em floresta. Pequena propriedade bem planejada e com orientação técnica poderá ser viável e trazer retornos financeiros, enquanto a grande propriedade, só pelo tamanho, mas sem planejamento e sem tecnologia, é certeza de fracasso. O apoio técnico é imprescindível ao sucesso de qualquer empreendimento florestal.

O resgate dos produtores rurais pode significar uma nova alavancagem à silvicultura e prestar excelente contribuição social às comunidades do entorno dos centros industriais. "

Nelson Barboza Leite Diretor da Teca, Daplan e Administrador da www.facebook.com.br/comunidadeDeSilvicultura

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E há muitas terras disponíveis para plantios de florestas. Considerando-se o raio de atuação dos grandes consumidores – 150 a 200 km –, nota-se que há considerável quantidade de propriedades para plantios florestais. São oportunidades a serem trabalhadas. E mal aproveitadas face à dificuldade de acesso a recursos financeiros. O grande proprietário ainda encontra alternativas, mas, para a maioria de pequenos e médios, a falta de recursos financeiros é limitante. E não há nenhuma política pública para facilitar esse acesso. No entanto, há empresas necessitando de mais florestas e dispostas a desenvolver parcerias. E disso resulta uma indagação: quais as dificuldades que limitam a evolução dessas parcerias? Aparentemente, os produtores encontram-se assustados com o “sobe e desce” no valor da madeira e as incertezas do mercado, que podem transformar sonhos em pesadelos. As alternativas de plantios para os mais diversos fins podem ser usadas em qualquer propriedade, desde que haja apoio tecnológico.


Opiniões O maior interesse, no entanto, está voltado aos plantios comerciais, com técnicas consagradas e garantia de retorno financeiro. Essa cultura florestal tem tudo a ver com as dificuldades do mercado de madeira dos últimos anos. Mudanças nesse paradigma vão depender, acima de tudo, do sucesso e da visibilidade de novas alternativas. O pagamento de serviços ambientais e a comercialização de carbono, sem burocracia e “a cheiro de dinheiro” poderão se constituir em importantes atrativos aos proprietários rurais. Tomara que não se transformem em privilégio só para os grandes. São desafios que podem dar novos rumos à silvicultura brasileira. Mas, por enquanto, estamos sob a influência do passado recente, com madeira a ”preço de banana”. E que deixou marcas indeléveis no setor e nos produtores florestais. Lá atrás, por ocasião dos incentivos fiscais – 1967 a 1988 –, o proprietário – pequeno, médio ou grande – não se preocupava com o destino das florestas. Para muitos, bastava captar recursos, cumprir o mínimo de exigências e estavam asseguradas ricas sobras. Um negócio que nascia com as contas pagas e lucro certo. Essa liberdade originou abusos, com danos à imagem da silvicultura. Rigorosas intervenções governamentais salvaram a política de incentivos, resultando no início do rico patrimônio industrial dos dias atuais. Com a extinção dos incentivos, em 1988, as coisas mudaram. Fazer floresta passou a exigir investimentos e riscos. Era o fim dos aventureiros. E as boas empresas florestais deram sustentação às indústrias, que se ampliavam, continuamente. E o consumo de madeira exigia mais florestas, e a aquisição de terras passou a onerar, sobremaneira, os novos plantios. Crescia, no entanto, a disposição dos proprietários vizinhos em participar da nova atividade. Os interesses se somaram, e surgiram os programas de fomento florestal – plantios sem aquisição de terras, garantia de mais madeira, além de política de boa vizinhança com as comunidades do entorno. A Revista Opiniões, em sua edição florestal de setembro/novembro de 2014, abordou esse tema, através de vários profissionais, trazendo uma riqueza de informações. Ainda nessa edição, numa leitura atenciosa, observa-se uma unanimidade: o fomento florestal, bem executado, é a melhor alternativa

para aumentar os plantios florestais e promover benefícios econômicos, sociais e ambientais a todos que participam do processo produtivo. No final dos anos 1990, surgiram os primeiros abalos no mercado de madeira, como consequência de mudanças nas programações industriais. Foram anos difíceis, com madeira a preços muito baixos. Momentos de muita insatisfação. Por volta dos anos 2000, alheias à insatisfação dos produtores, as indústrias continuavam crescendo. As parcerias minguaram, e muitos parceiros se tornaram inimigos da silvicultura. Nessa época, uma importante novidade surgia no setor: as TIMOs - empresas com investimentos estrangeiros, com visão de longo prazo e acreditando na valorização da madeira. Trouxeram novo alento à silvicultura e promoveram salto expressivo na profissionalização do setor e, acima de tudo, no trato das negociações de madeira. Em curto prazo, o mecanismo se multiplicou. Muitos ativos florestais foram adquiridos, e estabeleceram-se novas referências para o mercado. Segundo dados da Ibá, a entidade representativa do setor, estima-se em 10 milhões de hectares a área ocupada com florestas plantadas no Brasil. Desse total, cerca de 1,5 milhão de hectares em parceria com terceiros, dos quais 750.000 hectares sob gestão das TIMOs e 750.000 hectares nas mãos de produtores independentes. Estima-se que mais de 1,5 milhão de pessoas se encontram ligadas a essas florestas. Uma grande responsabilidade social e, para muitos, a mais efetiva contribuição que as indústrias podem dar às comunidades vizinhas. Nos dias atuais, há excelentes programas de fomento em desenvolvimento. Há grande esperança de que esses programas resgatem o crédito e a importância estratégica dessas parcerias. Esse desafio mereceria atenção especial dos empreendedores industriais. Há muito a se ganhar – produtores, indústrias e a própria silvicultura. O resgate dos produtores rurais pode significar uma nova alavancagem à silvicultura e prestar excelente contribuição social às comunidades do entorno dos centros industriais. E há espaço para todos na cadeia produtiva – pequeno, médio ou grande produtor. Assim, com certeza, estaremos na direção de uma silvicultura, de fato, sustentável. n

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consultores e especialistas

Opiniões

quem irá viabilizar o mercado spot? Ter clara a razão de plantar florestas é condição necessária, mas não suficiente, para aumentar a nossa base florestal produtiva. Considerando o perfil de nossos leitores, não precisamos “gastar muita tinta”, mesmo digital, para fundamentar a necessidade de aumentar a nossa área florestal. Acredito que os dois parágrafos a seguir sintetizam as razões estratégicas e de contexto. Estrategicamente, precisamos plantar novas florestas porque a demanda por produtos agrosilvipastoris aumenta pari passu com o crescimento populacional e, principalmente, devido à inquestionável importância da silvicultura para a economia do País e para o meio ambiente. Seria chover no molhado verbalizar os prós da silvicultura, como a competitividade global de nossas indústrias, as contribuições para a balança comercial, o potencial de expansão de nossas exportações, a significativa geração de empregos, a captura de carbono, o desmatamento evitado, os serviços ambientais, as sinergias com a agricultura e pecuária, entre outros “prós”. No que se refere ao contexto setorial, as principais razões para aumentarmos a base florestal são a demanda reprimida, os recentes projetos industriais com déficits estruturais de suprimento e a queda de produtividade florestal verificada ao longo da última década.

A questão-chave não é 'para que plantar florestas', mas sim 'como tornar a silvicultura um negócio viável'. "

Jefferson Bueno Mendes

Diretor da BM2C - Business Management Consulting

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Por que, então, nossa base florestal não tem crescido de acordo com o potencial estratégico e o contexto de mercado? Parar responder adequadamente a essa questão, seria necessário um time de experts, muita tinta e muito tempo. Contudo, gostaria de destacar a seguir alguns pontos que considero relevantes. A silvicultura difere da maioria dos demais segmentos produtivos por ser altamente intensiva em tempo, terra e capital. Em função disso, demanda visão e ação estratégica para operar adequadamente. Infelizmente, isso não ocorre há muito tempo. A crise de suprimento que vivemos hoje nos principais clusters industriais decorre principalmente do modelo de mercado, do desalinhamento entre o crescimento da produção industrial e da oferta de madeira e, em menor grau, das adversidades climáticas verificadas ao longo da última década. A previsão é que o déficit de madeira se torne mais crítico no curto ; prazo e somente seja corrigido no médio prazo.



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consultores e especialistas Os segmentos industriais de maior valor agregado, principalmente o de celulose e painéis reconstituídos, estão equacionando, a duras penas, seus desafios de suprimento devido à expressiva base florestal que possuem e à enorme capacidade de investimentos e compra de madeira que detêm. Já as indústrias de produtos sólidos de madeira estão mais vulneráveis por dependerem significativamente do mercado spot de madeira. Em consequência, empresas desses segmentos, muito provavelmente, terão dificuldades para manter a produção e a rentabilidade de seus negócios em níveis minimamente adequados – os preços da madeira aumentaram entre 50% e 120% ao longo de 2021, os preços de terras entre 20% e 30%, e os custos florestais entre 30% e 70% (arrendamento, silvicultura, colheita e transporte). E tanto os preços como os custos ainda estão em movimento ascendente. Se os diagnósticos e prognósticos acima estiverem corretos, o plantio intensivo de florestas é mandatório para a sobrevivência do atual parque industrial. Se considerarmos as oportunidades de crescimento e de inovação industrial, o grau de urgência é ainda maior. Emergem, aqui, as questões de quem deveria plantar e de quanto? Começando pela última, uma análise preliminar do balanço de madeira nos principais clusters do Brasil aponta para um déficit estrutural da ondem de 500 K a 700 K de hectares. Já a questão de quem deveria plantar é mais complexa. Duas estratégias não excludentes se apresentam: plantios integrados (autossuprimento) e plantios independentes (mercado spot). Em relação à primeira estratégia, as grandes empresas produtoras de celulose e painéis reconstituídos não têm, no curto e no médio prazo, outra opção a não ser o autossuprimento, uma vez que reduzir a produção industrial não é uma opção. O aumento de suas bases florestais estão ocorrendo de forma intensiva, via plantios próprios, compra de ativos florestais, sociedades com investidores silviculturais e contratos de suprimento de longo prazo. Em decorrência, estamos vendo o encolhimento dos mercados spot, e os preços de ativos, madeira, terras e arrendamentos, em alta significativa – escalando da esfera econômica para a estratégica. Esse contexto torna a opção de autossuprimento uma não opção para as empresas industriais pouco ou não verticalizadas, devido tanto aos custos envolvidos quanto à longa e íngreme curva de aprendizagem.

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Opiniões A estratégia de tornar os mercados spot uma fonte importante de madeira, na teoria, é uma solução ganha-ganha para todos os atores. Contudo, ouso dizer que a maior parte dos produtores rurais e investidores institucionais não vão entrar nessa canoa. A silvicultura, hoje, como negócio, é uma loteria. Plantar para vender daqui a 7 ou 15 anos para clientes com alto poder de barganha é uma aposta de alto risco, com baixa probabilidade de dar certo, isso para não dizer que é totalmente incerta. Então, o mercado spot é uma impossibilidade, e a ideia de viabilizá-lo deve ser abandonada? Sim, se mantivermos as atuais regras do jogo. Investimentos em projetos greenfield vinculados a mercados spot têm se mostrado de alto risco e reduzido o retorno econômico, seja no Brasil ou em outros países. Investidores institucionais têm condicionado seus empreendimentos a contratos de longo prazo, com preços e rentabilidades pré-definidos. Quanto aos produtores rurais, eles estão descrentes na silvicultura em função de experiências negativas ao longo dos últimos vinte anos. Em regiões com potencial agrícola, têm convertido seus plantios em “bois” e “soja” e somente estão mantendo os plantios florestais em áreas marginais. Apesar dos desafios estruturais apontados acima, tenho a convicção de que o mercado spot é uma necessidade para o setor florestal crescer de forma saudável. Viabilizar esse mercado vai exigir muito foco, disciplina e tempo. Como reflexão inicial, pontuo que teremos que reconquistar os produtores rurais, tratando-os como investidores, oferecendo contratos de compra com preço e rentabilidade pré-acordados, disponibilizando linhas de crédito e regimes tributários “adequados” e provendo suporte à curva de aprendizado técnico e de gestão. No caso do Eucalyptus, criar clusters industriais com mais segmentos, semelhantes ao do Pínus, será uma necessidade. Em suma, transformar um mercado quase totalmente imperfeito em mercado competitivo. Muito provavelmente, o custo da madeira do mercado spot será maior do que os das demais opções devido a produtividades menores e custos de colheita e transporte maiores. Contudo, vale lembrar que a madeira mais cara é aquela que não temos. Em síntese, a questão-chave não é “para que plantar florestas”, mas sim “como tornar a silvicultura um negócio viável”. E, para finalizar, fica aqui outra questão importante: quem irá viabilizar o mercado spot? n


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sonhos, oportunidades e inquietudes Plantar, manejar, usar e conservar florestas são atividades vitais para a sustentabilidade do planeta, de muitos negócios e da própria humanidade. Pelo fato de a sustentabilidade ser um conceito temporal, as exigências para ela irão sendo renovadas conforme mudam as condições econômicas e socioambientais e também pelos novos conhecimentos gerados pelos avanços das ciências. Assim, espera-se que os requisitos para se manter com o rótulo de sustentável tenderão a se tornar cada vez mais rígidos com a intensificação dos conflitos pelo uso dos recursos naturais (solo, água, ar, energia, etc.). O ser humano tem uma relação de milhares de anos com as florestas, por terem sido elas suas primeiras fontes de alimento e abrigo nos primórdios do homem no planeta. Até hoje, as florestas representam importantes fontes de matérias-primas e produtos para nossa sobrevivência e bem-estar em consonância com os modelos praticados para desenvolvimento. Ao mesmo tempo que temos que preservar florestas para garantir sustentabilidade ambiental, temos que produzir bens florestais para nosso conforto e melhoria na qualidade de vida. Em última instância, somos consumidores de florestas.

Florestas plantadas e florestas naturais são importantes fontes de recursos para a sociedade. As árvores renovam e revigoram a saúde física e mental das pessoas, bem como a qualidade do ambiente onde exercem suas influências benéficas. Elas nos suprem com uma infinidade de produtos, até mesmo difícil de relacionar, tantos são eles. As florestas naturais nos oferecem frutos, sementes, folhas, fármacos, madeiras nobres, biodiversidade, etc. Já as florestas plantadas para finalidades industriais permitem fabricação de móveis, habitações, celulose, papel, biocombustíveis, produtos químicos, etc. O setor brasileiro de base florestal mantém extensas áreas de plantações de árvores com espécies dos gêneros Pinus, Eucalyptus, Acacia, Tectona e Araucaria, dentre outras. Esse mesmo setor planta e renova grandes áreas de florestas naturais com espécies da flora brasileira em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. Essas áreas de mata nativa podem também colaborar na oferta de produtos e serviços para os humanos, desde que manejadas adequadamente. Com o crescimento da população e as demandas cada vez maiores por bem-estar e qualidade de vida, as necessidades de produtos florestais são crescentes para quase todos eles. Mesmo que práticas de consumo consciente sejam adotadas pelos cidadãos, não existe outra alternativa que não seja plantar mais áreas florestais. No Brasil, o setor florestal tem tido papel importante no desenvolvimento de produtos comerciais e industriais a partir de suas florestas plantadas.

Ao mesmo tempo que temos que preservar florestas para garantir sustentabilidade ambiental, temos que produzir bens florestais para nosso conforto e melhoria na qualidade de vida. Em última instância, somos consumidores de florestas. "

Celso Foelkel Consultor e Escritor Especialista em Floresta


Opiniões Em 1992, durante a consagrada reunião ECO-92, evento de magnitude global promovido pela Organização das Nações Unidas no Rio de Janeiro, eu tive a oportunidade de apresentar em um evento paralelo organizado pela Biosfera (Forest 92), uma reflexão futurística que denominei “A nova floresta plantada” ou “Florestas do amanhã” (http://www.celso-foelkel.com.br/artigos/outros/ANAVE_Floresta_Amanha.pdf). Procurei refletir muito para ousar propor modelos de florestas plantadas com as quais a sociedade pudesse não apenas aceitar, mas se encantar. Muita coisa aconteceu nesses 30 anos que se seguiram. Apesar de muitas de minhas reflexões terem sido concretizadas no setor, ainda existem sugestões que permanecem em aberto, à espera de maior interesse. Muito do que evoluiu se deve às pesquisas e às integrações florestas-fábricas-universidades e florestas-agricultura, bem como ao desenvolvimento dos sistemas de certificação florestal e rotulagem ambiental. Floresceram e foram vetores desse desenvolvimento as indústrias de celulose e papel, chapas de madeira, móveis, materiais de construção em base madeira, bioenergia (carvão vegetal e biomassa energética), resinas, óleos essenciais, etc. Outros produtos de origem florestal estão surgindo atualmente e com interessantes potenciais de crescimento: gás combustível, gás de síntese, bio-óleo, nanoceluloses, biogás, lignina, etanol de segunda geração, etc. Alguns darão certo, e outros, nem tanto. O conceito de biorrefinarias integradas a unidades produtoras de celulose e do setor sucroalcooleiro começou a crescer a partir de 2010 e gradualmente está sendo implantado pelas empresas brasileiras. Os avanços tecnológicos têm sido significativos nessas recentes três décadas. Ocorreram tanto no setor florestal, com incrementos nas produtividades e qualidades dos produtos florestais, bem como nas fábricas usuárias de matérias-primas florestais. Os processos se tornaram mais ecoeficientes, mais automatizados, com aumentos em escala de produção e reduções importantes nos custos e na geração de desperdícios. Isso tem acontecido em praticamente todos os setores da base florestal plantada e para quase todos os tipos de produtos derivados das florestas plantadas. Fomos capazes de produzir enormes ganhos em rendimentos e eficiências, embora com menor criação de tecnologias disruptivas. Mas isso tem acontecido em alguns dos produtos em desenvolvimento nas biorrefinarias de biomassa e em novas utilizações das celuloses solúveis e das nanoceluloses para compósitos.

Não há dúvida alguma de que evoluímos muitíssimo como setor industrial de produção a partir da base florestal. Mas alguns dos sonhos de 1992 para a floresta do futuro ainda não foram convertidos em realidade. Algumas expectativas daquela época ainda aguardam o momento oportuno na história, como a adoção de plantações mistas (eucalipto e acácia, por exemplo); a rotação de culturas deixando áreas que durante anos receberam plantios florestais para descansar, recebendo o plantio de alguma leguminosa como adubação verde; a maior adoção do conceito ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) envolvendo produtores rurais das cercanias das plantações florestais, etc., etc. A próxima era do setor brasileiro de florestas plantadas para produção comercial e industrial de bens de consumo deverá, certamente, tratar da ampliação da integração entre parceiros, tanto na área florestal como na industrial. Minhas expectativas são para muito maior grau de adoção de arranjos produtivos industriais, englobando não apenas empresas do setor florestal, mas também de outros setores, como químico, alimentício, têxtil, energético, sucroalcooleiro, saneamento, etc. Na área florestal, o modelo de aglomerados produtivos deverá tornar os mosaicos agroflorestais mais complexos e mais fragmentados, dando maior sustentabilidade e reduzindo a concentração no uso de recursos naturais por uma única atividade em um mesmo local. Teremos, assim, uma época de maior nível de sustentabilidade, com mosaicos produtivos cada vez mais ecoeficientes dentro dos objetivos da bioeconomia e da economia circular. As biomassas agrícolas e florestais bem como os seus usos industriais sendo integradas por planos estratégicos de desenvolvimento, que podem ser de natureza pública (originada pelos incentivos dos governos) ou privada (desenvolvida pelas parcerias entre empresas com foco em cooperações estratégicas dentro e entre setores produtivos). Sonhos? Nem tanto, pois os resultados atingidos pelo setor nas recentes décadas são provas de que “tudo que é bom pode ser possível”, desde que haja integração, conhecimento, coragem, boa vontade, apoio e gente determinada. É uma questão de tempo, que pode ser abreviada se houver força de vontade de querer fazer e que vale a pena correr algum risco. Ganham com isso as nossas florestas, nossos recursos naturais, nossas empresas e nossas comunidades. n

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Opiniões

as florestas de carbono brasileiro Florestas nativas e plantações florestais são sistemas orgânicos constituídos por carbono, não só nas suas madeiras e partes vivas, mas também nas serapilheiras, partes mortas e no solo. São reconhecidas como sumidouros de carbono, ou seja, sistemas que retiram carbono da atmosfera e os fixam em suas estruturas. As florestas mundiais têm potencial de retirar da atmosfera entre 3 e 27 gigatoneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano, dependendo do manejo florestal e dos modelos de recuperação e restauração ambiental florestal que for concebido. A superfície da Terra livre de gelo é de 130 MKm². 38% dessa superfície, ou seja, 49,4 MKm² são formados de florestas ou ecossistemas naturais. Desse valor, 9% é composto por florestas primárias, 7% por ecossistemas naturais não florestais e de baixa interferência humana, 20% é formado por florestas naturais manejadas para uso da madeira e somente 2% corresponde a florestas plantadas. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima – UNFCCC é um tratado internacional resultante da Rio-92 e tem como objetivo buscar soluções para a esta-

Há muitas possibilidades para o setor florestal, seja de plantadas ou de manejo de nativas, tanto para sequestro de carbono quanto para carbono evitado e redução de emissões, gerando créditos de carbono e grandes oportunidades para todos os seus atores sociais. "

Marcelo Langer Diretor da ESG Tech

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bilização das concentrações dos gases de efeito de estufa (GEE) presentes na atmosfera. Em 1995, na cidade de Berlin, foi realizada a primeira UNFCC, ou a Conferência das Partes – COP. A COP estabeleceu três grupos de países. Os países do Anexo I (industrializados), países do Anexo II (países desenvolvidos que pagam custos para os países em desenvolvimento) e os países em desenvolvimento. Em 1997, na COP3, foi estabelecido o Protocolo de Quioto (PQ), com prazo de reavaliação de suas bases em 2012. O PQ reconheceu as florestas como o sistema mais importante para retirar o CO2 da atmosfera, por meio da fotossíntese, e fixá-lo na forma de carbono orgânico total nas suas estruturas, sendo assim, o sistema mais eficaz para o combate às mudanças climáticas. Buscando conter o aumento das temperaturas registradas nos últimos séculos desde a Revolução Industrial, o PQ estabeleceu como meta mundial a redução de emissões antrópicas de GEE em 5,2% ao nível de 1990, com metas diferenciadas para cada país parte do PQ. Essas reduções poderiam acontecer por mudanças tecnológicas, redução do consumo de ;


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consultores e especialistas derivados fósseis, tecnologias de baixo carbono, alterações dos padrões de produção e pelo sequestro de CO2 da atmosfera por meio de projetos florestais. Com compromissos e regras diferenciadas entre os países partes do PQ, este estabeleceu o Mecanismo Cap and Trade e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) para a construção de ação conjuntas entre seus países signatários. Em 2007, o PQ incorporou o mecanismo REDD para evitar a emissão de carbono por meio da conservação de florestas e biomas especiais. Essas ações conjuntas de redução das emissões e sequestro de carbono passaram a ser contabilizadas na forma de crédito de carbono. Para a comercialização dos créditos de carbono, o PQ previu dois tipos de mercados, o regulado e o voluntário. No regulado, são registrados os projetos oficializados pelas partes e têm seus créditos de carbono reconhecidos para os compromissos dos países para a redução das suas emissões, podendo ser projetos de redução de emissão, sequestro de carbono e carbono evitado. Nesse mercado, as regras e os procedimentos são mais rígidos para a validação dos projetos e de seus créditos de carbono. Já no mercado voluntário, os mesmos tipos de projetos podem ser comercializados, porém com regras menos rígidas, pois ainda não estão registrados e oficializados pelos países onde foram estabelecidos. Em 2015, o PQ foi substituído pelo Acordo de Paris, que manteve os mecanismos estabelecidos pelo PQ, porém definiu metas individuais mais claras aos países partes, as Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). Em 2021, na COP26, o Brasil reiterou sua NDC para o Acordo de Paris, na qual tem como meta a redução das emissões de GEE em 37% para 2025 e 43% para 2030, em relação às suas emissões no ano de 2005. E se comprometeu com a meta de longo prazo de neutralidade climática até 2060. O Brasil, no Acordo de Paris, em 2015, se comprometeu com o plantio de 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Passados 25 anos, observa-se que ocorreram muitas evoluções, com alterações tecnológicas e implantação de padrões de produção de baixo carbono, porém, o consumo de derivados fósseis não foi reduzido como esperado, e os projetos florestais para sequestro de carbono também não foram implantados como deveriam. Talvez esses resultados ainda pouco expressivos possam advir da própria estrutura dos documentos, que estabelecem apenas intenções e não obriga os países a cumprirem com seus

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Opiniões compromissos, ou com as NDC. Assim, o que se vê são alterações, flexibilizações às metas e poucos resultados significativos para a redução das emissões de GEE. No Brasil, alguns projetos foram implantados, ou entre partes brasileiras ou em parcerias internacionais, mas a grande maioria deles na área energética. Mesmo com todo o potencial para projetos florestais de sequestro de carbono, eles são poucos. Mesmo no mercado voluntário, os projetos florestais são ainda pouco expressivos. Talvez isso seja devido a vários fatores, como metodologias complexas para as quantificações de CO2 sequestrado, variações edafoclimáticas e tipologias que geram incertezas aos sistemas de confirmação e validação dos números de carbono florestal. Ou porque a representação brasileira na COP se dá por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI, com baixa participação do Ministério do Meio Ambiente, e, por isso, os assuntos florestais nunca tiveram grande atenção. Ao longo desses anos, não se observou, de forma efetiva e organizada, a participação do setor florestal nas COP, nos eventos pré-COP, paralelos e outros, com posição discutida e determinada para buscar o reconhecimento e valor do carbono florestal brasileiro. Pelo contrário, viram-se outras formas de organização civil participando efetivamente e garantindo benefícios para as florestas e biomas brasileiros, e o setor florestal, sempre aquém do seu papel estratégico nesse tema. Apesar de o Governo Brasileiro ainda não ter lançado sua plataforma de mercado de carbono, o Mato Grosso já lançou a sua, e o Rio de Janeiro anunciou que lançará a sua em breve. Ações como a do Fundo Clima do BNDES, que comunicou que adquirirá R$ 10 milhões em créditos de carbono, e as estimativas de um mercado mundial de carbono em torno de 1 trilhão de US$/ano até 2050. O mercado brasileiro tem potencial de 10 milhões anuais de t de créditos de carbono e previsão de receitas líquidas anuais de US$ 16 a 72 bilhões/ano até 2030. Há muitas possibilidades para o setor florestal, seja de plantadas ou de manejo de nativas, tanto para sequestro de carbono quanto para carbono evitado e redução de emissões, gerando créditos de carbono e grandes oportunidades para todos os seus atores sociais. O mercado está aí, os recursos estão aí. Porém, é preciso organização, ação conjunta do setor florestal e não deixar essa oportunidade passar. n


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a plantação de mogno-africano

e seus desafios

No Brasil, os plantios comerciais de mogno-africano são todos do gênero Khaya. Hoje, o gênero Khaya possui 8 espécies, mas, no Brasil, plantamos apenas 4 delas e temos 5 espécies desse gênero. As primeiras sementes de mogno-africano chegaram ao Brasil em 1976. Foram dadas de presente ao professor Ítalo Falesi, que as plantou na sede da Embrapa no estado do Pará. O professor recebeu essas sementes como sendo de Khaya ivorensis, mas, com o tempo, a CVRD – Vale do Rio Doce importou sementes de Khaya ivorensis, que foram plantadas na Reserva Natural da Vale do Rio Doce em Linhares, no estado do Espírito Santo, e, à medida que essas árvores foram crescendo, o mestre Gilberto Terra, que, na época trabalhava nessa reserva, percebeu que o mogno Khaya ivorensis que estava plantado na Reserva da Vale era completamente diferente do mogno Khaya ivorensis plantado na Embrapa em Belém, no estado do Pará. Esse foi um imbróglio que durou cerca de 5 a 6 anos, até o dia em que a ABPMA – Associação Brasileira dos Produtores de Mogno-africano trouxe o maior especialista em Khaya no mundo, que é o Dr. Bouka Dipelet Ulrich Gaël, para que essas árvores fossem classificadas botanicamente in loco e, assim, fosse identificado o nome real das duas espécies diferentes do gênero Khaya. O Gaël é natural da República do Congo, foi graduado na Universidade de Montppelier na França, que, recentemente, reclassificou, de forma científica e incontestável, todas as espécies do gênero Khaya.

As primeiras sementes de mogno-africano chegaram ao Brasil em 1976. Foram dadas de presente ao professor Ítalo Falesi, que as plantou na sede da Embrapa no estado do Pará. "

Milton Dino Frank Junior

Diretor da Associação Brasileira de Produtores de Mogno Africano

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Devido a essa visita, hoje sabemos que as árvores que estão na Embrapa-PA são de Khaya grandifoliola e que as árvores que estão na Reserva da Vale são Khaya ivorensis. A Khaya grandifoliola ocorre em florestas semidecíduas, especialmente em tipos mais secos e em savanas, mas, nesse último caso, geralmente ao longo de cursos de água, em áreas com precipitação anual de 1200-1800 mm e uma estação seca de 3 a 5 meses. Ocorre até 1400 m de altitude. Às vezes, pode ser encontrada em partes rochosas e montanhosas de florestas semidecíduas úmidas. No Sudão e em Uganda, ocorre na floresta de várzea, particularmente na floresta de galeria. Prefere solos úmidos, mas bem drenados, e é comum localmente, em solos aluviais em vales. A Khaya senegalensis ocorre na floresta da savana, geralmente em locais úmidos e ao longo de cursos de água, em áreas com 650 a 1300 mm de precipitação anual e uma estação seca de 4-7 meses. Ocorre até 1500 m de altitude. Às vezes, é encontrada na floresta ripária. Prefere solos aluviais profundos e bem drenados



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consultores e especialistas e montes de cupins, mas também pode ser encontrada em solos rasos e rochosos, onde geralmente permanece muito menor. Ela tolera inundações na estação chuvosa. A Khaya anthotheca ocorre na floresta semidecídua, tanto do tipo mais úmido quanto do mais seco, e na zona de transição entre a floresta semidecídua seca e a savana, em áreas com precipitação anual de 1200 a 1800 mm e uma estação seca de 2 a 4 meses. A Khaya anthotheca geralmente ocorre espalhada nas encostas, ao longo dos cursos de água. No leste e sul da África, é encontrada em florestas tropicais e ribeirinhas de até 1500 m de altitude. Nas florestas comerciais, ela exige solos profundos férteis e muita água. Khaya ivorensis é mais abundante em florestas sempre verdes, mas também pode ser encontrada em florestas semidecíduas úmidas, em áreas com precipitação anual de 1600 a 2500 mm e uma estação seca de 2 a 3 meses, até 700 m de altitude. Prefere solos aluviais úmidos, mas bem drenados, mas também pode ser encontrada em declives, em solos lateríticos. As sementes podem germinar em pleno sol, bem como na sombra, mas a regeneração natural é aparentemente escassa em grandes lacunas. As mudas podem sobreviver na sombra densa, mas, para um bom crescimento, é necessária a abertura do dossel da floresta. A cultura do mogno-africano: Para plantar uma floresta de mogno-africano, é necessário ter uma área numa região onde a altitude seja a recomendada para a espécie, onde, de preferência, não ocorram geadas, e a pluviosidade anual atinja a necessidade de cada espécie por ano, mesmo porque, abaixo desse índice de pluviosidade, o plantio deverá ser irrigado, o que significa maior custo de implantação, e que tenha também o tipo de solo adequado para cada espécie do gênero. Khaya senegalensis aprecia a maioria dos tipos de solos existentes; já a Khaya anthotheca e a Khaya grandiofoliola vão se adaptar bem em locais com 1600 mm de chuva por ano e solos com pelo menos 16% de argila. A Khaya ivorensis vai acompanhar o solo das espécies grandifoliola e anthotheca, porém, como essa espécie suportará apenas 4 meses de seca no período das estiagens, o índice de pluviosidade para adaptação dessa espécie deve ser de, no mínimo, 1800 mm por ano. Nada impede de se plantar Khaya sem um sistema de irrigação, porém precisa realizar irrigação de sobrevivência com um pipa na época das secas, quando necessário.

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Opiniões Um grande desafio para ciência e produtores de mogno: até hoje, no meio dos produtores de mogno-africano, o tema “espaçamento” é debatido. Existem pessoas que defendem o plantio adensado e existem produtores que defendem o plantio mais espaçado. Se você visitar algumas fazendas onde a cultura de Khaya foi implementada, vai constatar que o plantio de Khaya senegalensis é feito mais adensado, e as outras espécies de Khaya são plantadas mais espaçadamente. Principais espaçamentos observados por espécie: • Khaya senegalensis: 3x3, 3x4, 3x6, 4x4, 5x5, 6x6, 8x8. A maioria dos plantios de senegalensis que visitei eram 3x3 ou 6x6. • Khaya grandifoliola e Khaya anthotheca andam juntas, e seus espaçamentos vistos são: 3x6, 4x4, 5x5, 6x6, 8x8, 10x10, 2x8, 5x6 e 12x12. A maioria dos produtores utilizam, para essa espécie, o espaçamento 6x6, mas o plantio que visitei, que apresentou até então o melhor resultado, foi o do associado da ABPMA, Michel, em Paragominas, no Pará, que foi implantado com o espaçamento 12x12. Preparo de solos: É necessária a elaboração de covas para o plantio, e o uso da grade e do subsolador não está descartado, mas tudo isso dependerá do tipo de solo do sítio do plantio. Khaya grandefoliola, anthotheca e ivorensis vão apreciar um solo onde a calagem foi realizada, já a Khaya senegalensis gosta de solos ácidos. Adubação: Geralmente, se faz adubação NPK nos plantios de Khaya. Porém alguns micronutrientes, como boro, cobre, zinco e manganês, são bem-vindos. Aqui, vale a pena ser realizada uma análise de solos, e, através dela, com a orientação de um profissional capacitado, realizar a adubação. Poda: É necessário podar o mogno-africano, uma vez que o desejo final de todo produtor são toras retas e perpendiculares ao solo. Outros desafios da cultura: A cultura de Khaya no Brasil ainda é recente, e existem vários desafios a serem determinados: • melhoramento genético; • nutrição; • estudo e combate a pragas e doenças da cultura; • padrões finais de qualidade da madeira serrada de mogno-africano; • manejos que podem ser feitos durante a cultura visando a qualidade final da madeira; • espaçamento de plantio; • e outras. n

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consultores e especialistas

é preciso “furar a bolha” Há um bom tempo, quando comecei a trabalhar na Embrapa Florestas e a descobrir esse mundo gigante e fascinante que é o setor florestal, umas das coisas que mais me incomodavam era receber e-mails – de diferentes empresas, fornecedores e organizações – com uma frase que dizia mais ou menos assim: “Não imprima este e-mail. Desta forma, você ajuda a salvar árvores”. Outra velha máxima (e que ainda persiste em um canto ou outro): “Papel é feito de eucalipto? Mas eucalipto seca o solo!”. Isso sem falar do manejo de nativas, em especial na Amazônia: “isso não é possível, é desmatamento!”. E, quando comentava esses erros com conhecidos, as discussões eram calorosas, pois estavam contaminados com informações equivocadas, ou mesmo manchetes sensacionalistas, que pouco espaço davam para o saber científico ou para entender as formas de produção dos produtos de base florestal e o quanto têm de sustentabilidade nisso. Por aí, comecei a perceber que tínhamos enormes desafios de comunicação com o público leigo.

Não tenho dados e números sobre engajamento de posts e conteúdos, mas, ao olhar “para fora”, para o público leigo, percebo que ainda existe muito desconhecimento. "

Katia Pichelli

Supervisora do Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Florestas Coautoria: Paula Saiz da Comunicação da Embrapa Florestas e Juliane Ferreira da Interact Comunicação

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Algum tempo depois, em 2011, a ONU celebrou o Ano Internacional das Florestas. Um ano antes, aproveitando esse gancho, a equipe de comunicação da Embrapa Florestas, com o importante apoio da empresa Berneck, resolveu sonhar alto: elaborar uma estratégia de comunicação para ser realizada em 2011 que mostrasse à sociedade como as florestas estão presentes em seu dia a dia. Muito mais do que estimular as pessoas a perceberem o uso do papel, a presença da madeira em diferentes formas e o impacto positivo gerado pelas florestas na qualidade do ar, a ideia era


Opiniões atingir diferentes faixas etárias, com ações de comunicação, educação e engajamento apresentando a esses diferentes públicos a imensidão de produtos florestais presentes no nosso dia a dia. Por diversos motivos, o projeto não avançou, mas a semente de que algo a mais precisava ser feito para nos comunicarmos com outros públicos, que não apenas o próprio setor, foi plantada. Na mesma época, a pauta sobre “como comunicar o setor” começou a ser levantada em diversos espaços, com uma mudança de “nosso setor precisa ser mais conhecido” para “o que vamos fazer”. Comunicação em constante transformação: Mais de dez anos depois da data celebrada pela ONU, muita coisa mudou quando falamos em comunicação. E não somente nos formatos, nos meios utilizados para se comunicar e na velocidade – e urgência – com a qual passamos a disseminar informação. O setor também evoluiu ao perceber a comunicação – e os profissionais que atuam nessa área – como importantes para a operação dos negócios, para a manutenção das relações com os diferentes públicos e para estabelecer um diálogo transparente com a sociedade, investidores, poder público e outros. A impressão que tenho é de que a comunicação e os profissionais envolvidos (jornalistas, relações públicas, publicitários e outros especialistas que atuam nessa área), se tornaram aliados de CEOs, presidentes de entidades e líderes dentro das organizações. Se ainda não conseguimos avançar em um grande projeto conjunto para engajar e informar a sociedade de forma geral sobre as contribuições do setor florestal, é preciso reconhecer o esforço e as conquistas de empresas e associações, cada uma dentro do seu escopo de trabalho. São ações para levar seus resultados, conteúdos e a importância do setor para fora da “nossa bolha”. Ibá, Apre, ACR, Ageflor, Abaf, Amif, Reflore, Abimci – para citar as que tenho contato mais diretamente –, por

exemplo, têm trabalhado em diferentes níveis e escalas. São conteúdos para seus sites, redes sociais, imprensa, cartilhas, estudos, promoção de eventos e outras tantas ações para dar voz a um segmento pujante. As empresas – dos mais diversos portes – também apostam em estratégias de comunicação para ampliar a presença na imprensa em veículos de expressão nacional, em especial nas editorias de economia. Um ótimo exemplo foi durante a pandemia, em que o setor conseguiu não somente dar uma resposta rápida às necessidades da sociedade, mas criar conteúdo, mostrando o que estava sendo feito e o impacto no bem-estar das pessoas. Mas (e sempre tem um “mas”) acredito que podemos ir além. Partindo de uma análise muito pessoal, percebo que todos esses esforços ainda encontram muito mais eco em quem já é ligado ao setor. Não tenho dados e números sobre engajamento de posts e conteúdos, mas, ao olhar “para fora”, para o público leigo, percebo que ainda existe muito desconhecimento. E isso me mostra que temos muito ainda a avançar. Seria como “furar a bolha”: são produzidos materiais e campanhas de qualidade, conteúdo superinteressante, mas que ainda são compartilhados somente entre nossos próprios pares do setor florestal. Ou seja, ainda não viralizaram a ponto de gerar mudança de percepção e alcançar outros níveis de engajamento para que a mensagem passe a fazer parte, de fato, do dia a dia das pessoas. Por isso, fica o meu convite: ao receber materiais de comunicação, compartilhe com sua rede pessoal de contatos também. Com filhos, cônjuges, pais, primos, tios, amigos… Leve a discussão para a escola das crianças, apresente o material, coloque nos famosos “grupos de pais e mães” nos aplicativos de mensagens, converse na mesa do bar e em tantos outros espaços. É um trabalho de formiguinha, mas que pode despertar a curiosidade e o interesse das pessoas. Claro que essa não é a única solução. Dentro do universo das estratégias de comunicação, existe muito mais a ser feito, e, certamente, as equipes de comunicação de empresas e associações estão, a cada dia, se desafiando a entender os diferentes públicos de interesse, a criar campanhas, a inovar. São esses esforços que temos que tomar para cada um de nós e ajudar a amplificar para “furar a bolha”. n

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a m i x o ó Pr içã ed

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FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 19 • número 68 • Divisão F • jun-ago 2022

a silvilcutura do carbono


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Milton Dino Frank Junior, ABPMA

6min
pages 62-63

Nelson Barboza Leite, Teca, Daplan e ComunidadeDeSilvicultura

5min
pages 50-51

Marcelo Langer, ESG Tech

7min
pages 58-61

Celso Foelkel, Consultor e Escritor

5min
pages 56-57

Jefferson Bueno Mendes, BM2C

7min
pages 52-55

Erich Schaitza, Embrapa Florestas

6min
pages 42-45

Silvio Frosini de Barros Ferraz, Esalq-USP

6min
pages 46-49

Caroline Dias de Souza e Carlos Frederico Wilcken, IPEF-UNESP

6min
pages 38-41

Saulo Philipe Guerra, UNESP-AUIN e PCMAF/IPEF

4min
pages 36-37

Sharlles Christian Moreira Dias, Eldorado

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pages 22-25

Washington Luiz Esteves Magalhães, Embrapa Florestas

4min
pages 28-31

Germano Aguiar Vieira, Eldorado

6min
pages 10-13

Paulo Hartung, Ibá

5min
pages 16-19

Edimar de Melo Cardoso, AMIF e Aperam BioEnergia

5min
pages 26-27

Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, Esalq-USP

6min
pages 32-35

José Carlos Carvalho, Ex-Ministro do Ministério do Meio Ambiente

5min
pages 14-15

Kazuhiko Kamada, Cenibra

4min
pages 20-21
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