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Rodrigo Gomes Madeira e Daniel Petreli da Silva, Jacto

O coeficiente de sorção padronizado para carbono orgânico (koc) também precisa ser observado na lista de herbicidas. Essa característica permite ao profissional conhecer a disponibilidade dos herbicidas no solo. Geralmente, dentre os herbicidas usados em cana-de-açúcar, valores de koc inferiores a 600 mg g-1 indicam que a retenção das moléculas nos coloides do solo é fraca. Com isso, o processo de dessorção para a solução do solo é facilitado e garante o residual para controle.

O coeficiente octanol-água (kow) também é necessário ser observado, pois herbicidas que possuem kow >10 (log kow >1) são indicativos de que a molécula possui afinidade com lipídeos. Como são constituintes de membranas, a capacidade de penetração nos tecidos e nas células vegetais é maior, sendo indicativos de herbicidas de ação também em pós-emergência.

Finalizadas as três etapas iniciais e em posse do levantamento das plantas daninhas de maior predominância (etapa 1), o produtor deve retomar a listagem de herbicidas que tenham eficácia de controle (informação disponível na bula dos produtos ou com o fabricante). Dessa lista, devem ser descartados os herbicidas que não são compatíveis com a época da aplicação almejada (etapa 2) e, para auxiliar, basta ter identificada a solubilidade da molécula (etapa 3). Os herbicidas restantes, na listagem inicial, serão os que possuem solubilidade adequada à época de aplicação e às plantas daninhas levantadas.

Definidas as moléculas de herbicidas que comporão o manejo, as informações sobre o koc e kow podem ser utilizadas. Respectivamente, indicarão se a molécula terá residual no solo (efeito pré-emergência sobre as plantas daninhas) e se poderá ser aplicada também em pós-emergência.

Para finalizar todo o processo, analisa-se a dose a ser aplicada (etapa 4). A quantidade do herbicida deve ser aplicada de acordo com a textura do solo: solos argilosos exigem doses mais elevas e solos de textura média ou arenosa, doses menores de herbicidas. As doses para cada tipo de solo são preconizadas pelos fabricantes e estão na bula do produto.

Os solos argilosos necessitam de maiores doses, porque parte das moléculas ficará retida nos coloides e parte permanecerá disponível na solução do solo. Ao contrário, solos médios e arenosos precisam receber menores quantidades de herbicidas, pois possuem menores quantidades de coloides, e os processos de retenção são diminuídos.

O processo de retenção aos coloides do solo e de dessorção (desprendimento) à solução do solo é fundamental para manter a capacidade pré-emergente do herbicida e ocorre durante a meia vida do herbicida (período em que as moléculas ainda não foram degradas por microrganismos). Enquanto houver molécula de herbicidas na solução do solo, o controle em pré-emergência está garantido.

Quando as sementes das plantas daninhas iniciam seu processo de germinação, absorvem água da solução do solo. Como em meio à água, há moléculas herbicidas (desorvidas), o efeito do produto inicia-se logo nas primeiras células do processo mitótico de desenvolvimento das sementes. O resultado é a morte das plantas daninhas ainda no estágio de plântula.

Considerações finais:

Ao identificar a flora daninha, a época da aplicação, a físico-química (solubilidade, pka, koc e kow) e a dose dos herbicidas, o profissional do agronegócio abrange critérios técnico-científicos que o auxiliarão no posicionamento do herbicida na cultura cana-de-açúcar. Com isso, as moléculas proporcionarão controles eficazes e seletividade sobre o desenvolvimento da cana-de-açúcar, além amenizar sua lixiviação e volatização e, assim, contribuir para a preservação dos recursos ambientais. n

a evolução do manejo agrícola

O novo patamar nos pede uma produtividade acima de 100 t/ha e uma vida média ponderada de mais de 3 anos, com o objetivo de alongar para mais anos (com produtividades boas) e canaviais com mais cortes. Em tecnologia de aplicação, temos que obter o melhor resultado ou eficácia da aplicação com o menor custo e impacto possível. A seguir, trataremos de algumas tecnologias que poderão ajudar nisso.

Mapeamento de ervas: No passado, era necessário deixar pontos sem aplicação dos herbicidas para fazer os levantamentos das ervas presentes em uma área. Hoje, com as imagens via drones e sistemas usando inteligência artificial, podemos fazer levantamentos de grandes áreas medindo a variação espacial (reboleiras) de diversas ervas daninhas.

Com essa metodologia, podemos decidir melhor a escolha dos herbicidas e a forma mais adequada de controle. Esses processos estão em grande evolução e serão uma grande ferramenta de apoio no controle de problemas diversos dentro do canavial.

Hoje, podemos identificar, com uma precisão maior que 90%, as reboleiras de mucuna, a mamona, o complexo das ervas trepadeiras, as gramíneas de grande porte na cana alta (colonião), entre outros exemplos de análises.

Devemos trabalhar com 2 épocas de levantamentos das ervas daninhas na área, mas cada um poderá começar no momento que achar mais adequado.

O ideal é que façamos um voo antes da colheita para identificar se existem grandes problemas com ervas trepadeiras ou gramíneas de grande porte. Quando necessário, se faz uma aplicação antes da colheita, usando drones ou até mesmo automotrizes, dependendo da altura da cana. Nessas aplicações com drones, devemos tomar mais cuidado com o uso de herbicidas (exemplo: 2,4-D), devido a culturas sensíveis vizinhas. Usando esse mapeamento, podemos fazer um plano de controle de ervas no talhão, realizando a aplicação dos herbicidas pré-emergentes, ajustando produtos e doses mais indicados, de acordo com a necessidade.

O cuidado na seleção do equipamento e da técnica é fundamental, mas precisamos sair da ideia 'da moda' e buscar o que entrega a eficácia necessária, a custo adequado, com segurança do pessoal e ambiental. "

Luís César Pio

Diretor da Herbicat

Mapa de ervas daninhas

TREPADEIRAS

Devemos realizar mais um levantamento, próximo de 60 dias após a aplicação ou depois da chuva (busca por ervas escape da aplicação convencional). Com esses dados, é possível tomar a melhor decisão da necessidade da catação no talhão. Essa regra pode ser alterada de acordo com o departamento técnico do usuário, mas tem se mostrado eficiente na racionalização das aplicações de herbicidas.

Aplicação de taxa variável: Utilizando os dados de argila e matéria orgânica do solo, realizados nos levantamentos de ambiente de produção e pedologia, podemos fazer aplicações de doses diferentes dos herbicidas. Muitos controladores de pulverização que equipam os pulverizadores atuais podem realizar aplicações em taxa variável.

No passado recente, testes realizados não tiveram o sucesso desejado, pois a decisão da dose do herbicida não se baseia unicamente nas características do solo, é necessário ter maior conhecimento das ervas presentes na área, com a visão da sua distribuição espacial.

Assim, se somarmos a distribuição espacial das ervas e os dados das características do solo, os resultados serão melhores. Esse é um caminho para controlar o uso racional dos insumos.

Ciclo de controle das ervas daninhas:

Nas aplicações dos herbicidas pré-emergentes, o uso de controladores ou sistemas que possam fazer o reforço nas áreas de maior banco de sementes é uma alternativa, como já foi tratado. Com a segunda avaliação pós-aplicação, podemos verificar a necessidade de reaplicações em catação.

A segunda aplicação não deveria existir, porém, em alguns talhões, devido ao clima, problemas dos pulverizadores, falhas nas aplicações e mesmo pelo comportamento de algumas espécies de ervas, é necessário e obrigatório, para alongar a vida útil de um talhão.

Pela dificuldade de mão de obra, a catação passou a ser feita em diversos níveis e de formas diferentes. No caso de gramínea em pós-emergente, precisa ser feita localizada, com aplicações manuais, veículos especiais com sensores ou outro processo de localização. Na maioria das vezes, as ervas remanescentes estão na linha da cana, o que dificulta o uso de sensores de verde. No caso das folhas largas, normalmente se encontram formando reboleiras. Dessa forma, uma aplicação específica em faixa pode ser mais eficiente. A escolha da técnica e do equipamento de aplicação é fundamental. Para ervas como grama-seda, as reaplicações deverão ser com maior frequência e podem se beneficiar de todas as técnicas apresentadas.

Controle de outras pragas: Hoje, temos à disposição métodos de aplicação que se adaptam a várias condições. Porém existe a cigarrinha, Sphenophurus, a broca, outras pragas e problemas nutricionais que precisam ser controlados. Em canaviais de maior porte, o uso dos equipamentos automotrizes passou a ser uma realidade. Se quisermos chegar aos patamares de produtividade almejados, as aplicações precisam gerar resultados. Isso depende de uma visão mais ampla relacionando cultura, problema, momento da aplicação, produto, entre outras condicionantes para seleção da técnica e do equipamento em uso. As misturas de adubos foliares com os inseticidas para cigarrinha, em canas de maior porte, aplicados sobre a lavoura, não apresentam as melhores condições para acertar o foco da aplicação para cigarrinha. Aqui é necessário o uso dos pingentes localizando essa aplicação na base da cana.

O cuidado na seleção do equipamento e da técnica é fundamental, mas precisamos sair da ideia "da moda" e buscar o que entrega a eficácia necessária, a custo adequado, com segurança do pessoal e ambiental.

Conectividade e gestão de máquinas:

A evolução dos equipamentos permitiu ter relatórios das operações, onde conseguimos analisar se o realizado estava de acordo com o planejado. Precisamos saber, em tempo real, a operação e poder interferir caso seja necessário. A conectividade das máquinas com gestores em tempo real ajudará nessa evolução. O 5G poderá ser uma boa opção, porém demandará uma enormidade de torres para formar uma rede no campo que possa suportar esse trabalho. O 4G/ Lte 700 poderá ser uma opção viável, exclusiva para trafegar dados de máquinas, usando uma banda especial para enviar sinais de alerta críticos em pontos de baixa capacidade de sinal. n

FOLHAS LARGAS

GRAMÍNEAS DE PORTE BAIXO

DANINHAS NÃO DEFINIDAS

BUFFER TREPADEIRAS (10 METROS)

BUFFER GRAMÍNEAS DE PORTE BAIXO (10 METROS)

BUFFER FOLHAS LARGAS (10 METROS) ORTOMOSAICO _ FAZ SÃO JOÃO _ T 17 _ 18 E 19

TREPADEIRAS

FOLHAS LARGAS

GRAMÍNEAS DE PORTE BAIXO

DANINHAS NÃO DEFINIDAS

BUFFER TREPADEIRAS (10 METROS)

BUFFER GRAMÍNEAS DE PORTE BAIXO (10 METROS)

BUFFER FOLHAS LARGAS (10 METROS) ORTOMOSAICO _ FAZ SÃO JOÃO _ T 17 _ 18 E 19

o manejo integrado das operações

O manejo na agricultura deve integrar todas as áreas dentro do negócio para buscar o máximo dentro de cada uma. Atualmente, olhar o manejo somente do ponto de vista agronômico já não é o suficiente. Devemos entender o manejo global da operação, e, para isso, a inovação nas soluções dos equipamentos deve ser o foco das indústrias produtoras de máquinas. A visão da indústria deve ter como foco a visão do produtor agrícola, pois são as operações agrícolas que devem ditar o correto uso das tecnologias.

Peso dos equipamentos: O peso dos equipamentos, atualmente, é um dos principais problemas a serem resolvidos dentro do setor sucroenergético. São várias as operações realizadas que envolvem máquinas e, com isso, temos um grande efeito de compactação no solo que afeta a produtividade das lavouras. Máquinas maiores também consomem mais combustível e tendem a afetar mais o meio ambiente. Os projetos das máquinas devem contemplar o uso de diferentes tecnologias em materiais e diferentes soluções estruturais que permitam minimizar o efeito do peso no solo. As máquinas, hoje, utilizam uma seleção da materiais para cada parte do equipamento em função da sua localização.

O peso do equipamento também afeta na definição do tipo de pneu e na pressão de trabalho, pois quanto menor a pressão do pneu, menor será a compactação do solo. A pressão também tem um papel fundamental no conforto do equipamento. Dessa forma, o novo patamar de máquinas vai exigir máquinas cada vez mais leves e com menor gastos energéticos. Com isso, a tecnologia de novos materiais e soluções estruturais das máquinas são aspectos importantes na definição do equipamento de pulverização ideal à cultura.

Atualmente,' é possível acompanhar o trabalho da máquina on-line usando simplesmente um celular e até integrar diversas máquinas de diferentes fabricantes dentro da mesma operação. "

Rodrigo Gomes Madeira

Gerente de Pulverização Automotriz da Jacto

Coautor: Daniel Petreli da Silva, Especialista em Tecnologia de Aplicação da Jacto

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