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Luís César Pio, Herbicat
aplicação de herbicidas em cana-de-açúcar
Plantas daninhas são espécies vegetais dotadas de características de agressividade, que, quando estabelecidas em canaviais, interferem sobre seu desenvolvimento, podendo reduzir a produtividade agrícola, principalmente devido à elevada capacidade de competição pelos recursos do meio (nutrientes, água e luz) e pela produção de substâncias alelopáticas.
Nos cultivos com cana-de-açúcar Cynodon dactylon (grama-seda), Cyperus rotundus (tiririca), Ipomoea spp (cordas-de-viola), Merremia spp (cipós), Mucuna aterrima (mucuna-preta), Ricinus communis (mamona), Panicum maximum (capim-colonião), Urochloa decumbens (capim-braquiária), Urochloa plantaginea (capim-marmelada), Digitaria horizontalis (capim-colchão), Rottboelia cochinchinensis (capim-camalote) são as espécies mais frequentes. Quanto maior o tempo de convivência das infestantes com a cultura, maior será o impacto causado, sendo observados, em literatura, prejuízos de até 85% sobre as soqueiras e até 100% sobre a cana-planta.
Dentre as formas de controle, o químico, realizado pela aplicação de herbicidas, é amplamente utilizado devido ao baixo custo associado a benefícios interessantes. Nesse cenário, pesquisas com objetivo de apresentar herbicidas seletivos à cultura e direcionados ao controle das infestantes nos canaviais têm sido desenvolvidas no Instituto Agronômico (IAC). O conjunto de pesquisas culminou no desenvolvimento de um protocolo sobre o posicionamento correto de herbicidas nos canaviais.
O protocolo é sustentado sobre quatro importantes pilares: a identificação das plantas daninhas, a época da aplicação, a físico-química dos herbicidas e a dose a ser ministrada. Assim que entendida cada uma das etapas, por parte do produtor ou técnico, sua vivência de campo é enriquecida e a possibilidade de usar mais corretamente os herbicidas é evidente.
Informações técnicas:
Na primeira etapa, sugere-se que o produtor monitore, todos os anos, a infestação de seus canaviais, de modo a identificar as espécies mais representativas na comunidade infestante. Para isso, o produtor deve agrupar os canaviais em subáreas de 50 a 60 hectares.
Definidas as subáreas, deve-se eleger um talhão para representá-la, no qual serão alocados, aleatoriamente, 3 a 5 pontos sem a aplicação do herbicida. Cada ponto, será um tratamento testemunha, que deve ter dimensão de no mínimo 7 linhas de 10 a 15 m de comprimento.
Dentro de cada tratamento testemunha, é importante que seja identificado o número de espécies de plantas daninhas que representa entre 90 e 95% da infestação do canavial. Geralmente, 4 a 5 espécies serão predominantes na comunidade infestante e, juntas, representarão até 95% da infestação (Figura 1).
Plantas daninhas são espécies vegetais dotadas de características de agressividade, que interferem no desevolvimento dos canaviais, podendo reduzir a produtividade agrícola, principalmente devido à elevada capacidade de competição pelos recursos do meio "
Carlos Alberto Mathias Azania
Pesquisador Científico do Centro de Cana do IAC
1. IDENTIFICAÇÃO DAS PLANTAS DANINHAS

Figura 1: Modelo para levantamento da comunidade infestante em talhões de cana-de-açúcar. IAC, 2017
Sugere-se que o levantamento a campo seja feito com intervalos de 30 dias até o fechamento do canavial, que geralmente ocorre próximos aos 120 dias do plantio ou colheita. A forma de identificar as plantas daninhas é visual, seguindo adaptações feitas nas tabelas de cobertura vegetal existentes na literatura. Para cada parcela testemunha, o profissional deve caminhar pela área e aplicar notas sobre a cobertura das plantas daninhas presentes na superfície do solo, a partir de escala com variação de 0 (zero) a 100%, sendo 0% correspondente à ausência de plantas daninhas e 100% para a total cobertura do solo pelas infestantes.
Exemplo: 85% de cobertura de solo, representa que 85% da área da testemunha esteja coberta por plantas daninhas. Na sequência, devem ser observadas as 4 ou 5 plantas daninhas mais presentes na parcela testemunha, atribuindo-se uma nota de 0 a 100% para cada espécie, de modo que a soma das notas não supere 100%.
Na segunda etapa, o profissional deverá identificar a época em que será feita a aplicação dos herbicidas. Nesse caso, sugere-se observar o histórico de chuva referente aos três meses seguintes à data da aplicação almejada. A importância desse critério é porque os herbicidas, no solo (herbicidas residuais), têm sua dinâmica facilitada ou não em detrimento da água disponível. Há herbicidas que precisam de mais água e outros menos, para sua dinâmica ser facilitada no solo.
Na cana-de-açúcar, nas regiões Centro-Sul do Brasil, as épocas do ano são segmentadas em período úmido, semi seco, seco e semiúmido (Figura 2). Como a necessidade de água no solo é diferente entre as moléculas herbicidas, torna-se necessário identificar a disponibilidade de água, para, então, elencar os herbicidas.
2. ÉPOCA DA APLICAÇÃO

Figura 2. Esquema para representar as épocas de aplicação de herbicidas em canaviais ao longo do ano agrícola.
Figura 3. A solubilidade dos herbicidas (Sw) e sua aplicabilidade em relação à época de aplicação dos herbicidas no solo.
Finalizadas as duas primeiras etapas, o profissional deve confeccionar uma lista de herbicidas que têm eficácia de controle sobre as espécies levantadas e a época do ano em que se pretende aplicar os herbicidas.
A partir dessa listagem, se inicia a terceira etapa, que se resume em anotar as características físico-químicas dos herbicidas, particularmente a solubilidade em água (Sw), coeficiente de sorção padronizado para carbono orgânico (koc) e o coeficiente octanol-água (kow).
A solubilidade permite identificar se o herbicida precisa de maior ou menor quantidade de água no solo. No campo, herbicidas com menores solubilidades (até 350 ppm) precisam ser aplicados quando há maior umidade no solo (período semiúmido até o final do verão).
Moléculas com solubilidade intermediária (350 a 5000 ppm) são menos exigentes em água no solo (final do período de verão até o início do período semiúmido). Moléculas com solubilidade elevada (> 5000 ppm) precisam de menor quantidade de água para manter sua dinâmica no solo, geralmente aplicadas durante o período seco do ano (Figura 3). ;
3. CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS
