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cientistas e especialistas
milho: vivemos o momento-chave A perspectiva de crescimento da indústria de etanol em 2021 está ameaçada pelo alto preço da matéria-prima, que vem frustrando produtores não só no Brasil como também nos Estados Unidos, os dois principais produtores de etanol de cereal no mundo. O principal desafio da indústria é conseguir a máxima rentabilidade que justifique os custos de operação mesmo nesse cenário. Eu, que acompanhei o surgimento e desenvolvimento das usinas flex e de milho no Brasil, identifico nas leveduras o investimento mais importante atualmente para aumentar rendimento, acelerar a fermentação e reduzir custos. Avanços científicos e tecnológicos na microbiologia da fermentação tornaram possível o aprimoramento de cepas industriais de leveduras, que foram e continuam sendo essenciais para a evolução da indústria do etanol no Brasil. Essas novas tecnologias permitem ao produtor de etanol de primeira geração aprimorar o controle das condições de fermentação e conseguir melhores resultados em condições de estresse e contaminação.
Para entender o porquê, explico do que se trata a fermentação e como atuam as leveduras. A fermentação alcoólica é o processo por meio do qual leveduras (normalmente, Saccharomyces cerevisiae) convertem glicose em etanol e CO2. Esse tipo de fermentação é conhecido há milhares de anos por produzir uma variedade de bebidas alcoólicas. Recentemente, a fermentação alcoólica também tem sido usada para a produção industrial de etanol combustível. O sucesso de uma fermentação de álcool combustível depende das complexas e dinâmicas interações de uma variedade de condições de fermentação, que devem ser bem compreendidas e monitoradas de perto. Teoricamente, uma fermentação produz 511 g de etanol e 489 g de CO2 a partir de 1000 g de glicose. No entanto, a equação de Gay Lussac usada para esse cálculo não nos dá o número real de um processo industrial, porque desconsidera o açúcar desviado para a produção de biomassa celular e vários subprodutos, como glicerol, succínico, ácido málico e óleo fúsel, entre outros. Leveduras industriais mais robustas permitem fermentações com menor produção de subprodutos e maior rendimento de etanol. Além disso, cepas de alto rendimento têm o potencial de diminuir o impacto do estresse na fermentação, condição relacionada a fatores como aumento na concentração de etanol, temperatura, estresse osmótico e contaminação bacteriana. Selecionar uma cepa robusta de leveduras, proporcionar nutrição adequada e operar com condições ótimas de crescimento pode aliviar possíveis impactos associados ao estresse e reduzir o número de fermentações “ruins” e, por consequência, caras.
identifico nas leveduras o investimento mais importante atualmente para aumentar rendimento, acelerar a fermentação e reduzir custos "
Mario Cacho Líder Regional de Grain Processing da Divisão de Health & Biosciences da IFF
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