Especial de Natal

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O MIRANTE | 17 Dezembro 2009

O MIRANTE NATAL ESPECIAL

faz parte integrante da edição n.º

S E M A N Á R I O

R E G I O N A L

Na Ucrânia as prendas chegam no Ano Novo e o Pai Natal chama-se Avô do Frio Na ceia com doze pratos não entra carne nem qualquer gordura animal 4

Natal brasileiro com peru, pernil de porco e arroz à grega Festa até de madrugada como se fosse passagem de ano com família e vizinhos 12

Depois da consoada vai-se de porta em porta ao ritmo do batuque Na ilha de Santiago em Cabo-Verde almoça-se bacalhau e janta-se carne no Natal 8

910 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

Quando a família manda mais que os munícipes Presidentes de câmara contam como vivem a festa


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Na Ucrânia as prendas chegam no Ano Novo e o Pai Natal chama-se Avô do Frio Na ceia com doze pratos não entra carne nem qualquer gordura animal

RECORDAÇÃO. LyudmylaBelmega não esquece a caixa de lápis de cor e a caixa de chocolates que recebeu quando frequentava a 2ª classe

Quando Lyudmyla Belmega era criança as cerimónias religiosas estavam proibidas e a única igreja da terra servia como armazém da cooperativa agrícola.

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Alberto Bastos

Natal celebra-se na Ucrânia a 7 de Janeiro, de acordo com o calendário da Igreja Ortodoxa, mas é um Natal sem prendas porque o Pai Natal continua a ser o mesmo dos tempos da União Soviética. Chama-se Did Moroz, Avô do Frio, é ajudado pela sua neta Snihurochka, Menina da Neve, e distribui presentes, apenas às crianças, na madrugada do primeiro dia do Ano Novo, como foi imposto pelo regime de outrora que não permitia celebrações religiosas. Lyudmyla Belmega, a viver em Portugal há seis anos, nasceu na pequena aldeia de Barvinkovo, nos Cárpatos, Distrito de Ivano-Frankivsk, zona ocidental do país. Recorda que as suas melhores prendas de

Ano Novo lhe foram oferecidas quando andava na segunda classe. Uma caixa de chocolates e uma caixa de lápis de cor. “Eram doze lápis. Nunca mais me esqueço da alegria que senti. Geralmente as caixas de lápis de cor eram de três ou seis lápis. A caixa de chocolates tinha a imagem de uma menina a estudar matemática e ao lado a nota que ela teve na escola. Um cinco, que era o máximo”. Naquele tempo a única igreja da aldeia servia de armazém à cooperativa agrícola local, o Kolhosp. Mas o Natal ortodoxo era celebrado de forma semi-clandestina por quase todas as famílias, na noite de 6 para 7 de Janeiro. “Mesmo na casa dos militantes comunistas com responsabilidades, como era o caso da minha mãe”, refere. Quando aconteceu a independência da Ucrânia, a 24 de Agosto de 1991, Lyudmyla já vivia em Kobaky, uma outra aldeia a 40 quilómetros da sua terra, onde o Natal é agora celebrado livremente, como em todo o país. Na terra há três igrejas. Duas ortodoxas e uma greco-católica. Dia 7 de Janeiro é feriado nacional.

foto O MIRANTE

“Eu posso falar do Natal da minha aldeia. A Ucrânia é um país muito grande e não sei como é o Natal noutras regiões”. Em Kobaky, zona próxima das florestas, a árvore de Natal ainda não é de plástico. É uma árvore de Natal a sério. “Chama-se yalenka e não é como os pinheiros aqui de Portugal. Mas é enfeitada como aqui, com bolas coloridas, chocolates, fitas, bonecos e lâmpadas. A neve carbónica em spray veio substituir o algodão que espalhávamos pelos ramos a fingir neve”. A ceia de Natal é composta por doze pratos diferentes. Em nenhum deles entra gordura animal. Também não há nenhum prato de carne. O prato principal e imprescindível é Kutya. Grãos de trigo cozidos que se servem com sementes de papoila trituradas e nozes picadas. Quem gosta adiciona-lhe mel. “É servida uma pequena porção deste prato a todos os animais da casa, para lhes dar saúde para todo o ano”. Antes de ser colocada a tradicional toalha branca, o tampo da mesa é coberto com erva seca que ainda mantém o aroma

do campo (tráuka). Depois é feita uma cruz com linha vermelha a todo o comprimento e largura, antes de serem colocados os pratos e talheres. Há sempre um lugar reservado para os que já partiram. No centro da mesa acende-se uma vela. Para além do Kutya é servido o Uzvar, uma espécie de compota de frutas secas cozidas (maçãs, peras e ameixas), com açúcar); o Perohé, uma espécie de rissóis redondos cozidos com recheios que podem ser de couve ácida estufada, puré de batata com refogado de cebola ou sementes de papoila trituradas e o peixe no forno, pechéna rêba, geralmente pescada com cenoura ralada, cebolas às rodelas e cogumelos secos. Na maior parte das casas a comida é confeccionada em forno de lenha. A bebida que acompanha a refeição é vodka. Para as crianças há sumos e refrigerantes. A família senta-se à mesa quando surge no céu a primeira estrela. Todos envergam as suas melhores roupas. Em alguns lares usam-se ainda as roupas tradicionais da região. No fim da ceia não se levanta a mesa. Fica tudo como está. O Natal é frio na aldeia de Lyudmyla Belmega. Geralmente as temperaturas variam entre os 10 e os 15 graus negativos. Por vezes descem aos 20. Neva quase sempre naquela altura do ano. Apesar disso as crianças saem para a rua em grupos e vão de porta em porta cantar canções de Natal, kólyadnekê, sendo recompensadas com bolos, chocolates, nozes e pequenas quantias de dinheiro. No dia de Natal à tarde, também há canções de porta em porta, mas aí quem canta são grupos de adultos. O próximo Natal de Lyudmyla, dia 7 de Janeiro de 2010, vai ser passado na extensão de saúde de Alcoentre, concelho de Azambuja, onde está a fazer uma parte do estágio para a concessão de equivalência ao grau de licenciado em enfermagem da Escola Superior de Saúde de Santarém. Tal facto não a afecta. “Em Portugal o Natal é celebrado de 24 para 25 de Dezembro. É nessa altura que se sente aquele ambiente próprio da época. Muitos ucranianos que estão cá continuam a juntar-se na noite de 6 para 7 mas já há aqueles que celebram o Natal nas duas datas”. Uma outra coisa que vai ser diferente é a saudação entre os dias 7 e 14 de Janeiro. Em Portugal continuará a dizer bom dia. Se estivesse em Kobaky diria: “ Jesus Nasceu! Viva Jesus!”


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O presidente da Câmara de Benavente é de origens humildes e brincava com as prendas dos amigos Imprescindível no Natal de António José Ganhão é a presença do neto que mora no Algarve

RITUAL. Quando os filhos eram pequenos António Ganhão ia à charneca arranjar um pinheiro verdadeiro para enfeitar em casa

Em termos de compras natalícias o autarca confessa-se um típico português. Guarda tudo para a última hora.

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Patrícia Cunha Lopes

atal é a festa da família. É assim que o Presidente da Câmara de Benavente define esta quadra. Neste dia, tenta compensar os que lhe são mais próximos dos horários exigentes que tem na Câmara. “É uma altura em que tentamos corrigir as deficiências que notamos durante o ano, na nossa vida, como a absorção excessiva ao trabalho. Neste dia entendemos que há que dar um pouco mais àqueles que estão mais próximos de nós”, diz. Por isso mesmo, António José Ganhão

“O meu melhor presente foi uma bola de borracha” O Natal mais especial para António José Ganhão foi quando recebeu a sua primeira prenda. Era criança ainda e como os pais não tinham posses, não estava habituado a receber presentes na noite de Consoada. “Foi uma grande surpresa. Um tio meu, que mais tarde me iria ajudar muito ao longo da vida, apareceu no Natal e ofereceu-me uma

aproveita o Natal para estar com a mulher, os irmãos, filhos e o único neto, que mora no Algarve. “Procuro estar sempre com ele no Natal e viver a alegria de uma criança que precisa deste mundo de magia e de fantasia que criámos e que eu não tive”, explica. Nascido numa família com privações económicas, muito cedo deixou de acreditar no Pai Natal. “Havia amigos meus que tinham prendas e eu brincava com as prendas deles, porque nós não tínhamos. Havia por isso um Pai Natal que visitava uns e não visitava outros. Muito cedo entendi que era porque os meus pais trabalhavam duro no campo e apenas durante períodos sazonais. Por isso para mim foi fácil desmistificar o Pai Natal”, confessa. António Ganhão explica que a vida

bola de borracha. Era o meu maior sonho de criança”, diz, com um brilho no olhar. A bola de borracha ficou sempre na memória como a prenda mais significativa, mas também associada ao assumir das responsabilidades. “Tive muito azar! Ao segundo dia de andar a jogar à bola, parti um vidro da vizinha e com isso arranjei um sarilho muito grande. Nessa altura quando fazíamos asneira não fugíamos. Tínhamos de assumir a responsabilidade e repor o vidro partido. Por isso tive de enfrentar essa situação perante a minha mãe, que tinha poucas posses para pagar o vidro”, confessa.

foto O MIRANTE

era bastante difícil nessa época mas que apesar de não haver prendas, havia sempre uns doces para as crianças. “Éramos todos muito pobres neste país, e os doces eram a prenda que todos nós recebíamos. Era junto ao alguidar onde se faziam os velhoses, que as crianças aguardavam

o momento da fritura para os poderem provar antes de irem para a cama. As maiores prendas eram esses miminhos que tínhamos”, conta. Hoje em dia, na noite da Consoada, junta a família em Benavente, num jantar que confessa ser simples mas muito tradicional. À mesa está sempre o bacalhau, seguido das filhoses e outros doces. Faz questão de ter sempre na sala a árvore de Natal, que nos dias que correm é artificial, mas que em tempos já foi um verdadeiro pinheiro de Natal. “Quando os meus filhos eram pequenos eu procurava ir à charneca, arranjar um pinheirinho. Fazia a árvore de Natal com eles e enchia-a de pequenas decorações. Era um ritual. Depois de eles terem crescido, passei a ter aquelas árvores de Natal que se compram nos supermercados, artificiais. Também a decoro, mas é muito mais no sentido de acolher os filhos ou o neto quando vêm cá a casa, para poderem ter o ambiente e o espírito de Natal”, sublinha. As compras natalícias, confessa que são feitas sempre à última da hora. “Sou o típico português. A vida não me dá muito tempo nem muita oportunidade para fazer compras. Mas faço uma lista na minha cabeça e nos últimos dois ou três dias consigo dar resposta àquilo que é a necessidade de demonstrar amizade pelos mais próximos”, diz satisfeito. O espírito de Natal também é mantido na Câmara de Benavente. “Dia 18 realizase um almoço de Natal, onde oferecemos uma lembrança a todos os trabalhadores e um brinquedo às crianças com menos de 12 anos. Segue-se depois uma tarde de convívio para os mais velhos e momentos de diversão para as crianças

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O carro da polícia que veio de Moçambique e que trabalhava a corda O presidente da câmara de Coruche ia para o baile depois da consoada

MEMÓRIA. Dionisio Mendes guarda o presente oferecido pelo tio em casa dos seus pais

Havia a Missa do Galo e a Missada. Um convívio masculino em torno de comes e bebes que decorria numa adega ou no anexo da casa de um deles.

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Ricardo Carreira

m carro da polícia que funcionava a corda, foi a melhor prenda de Natal recebida pelo presidente da Câmara de Coruche. Na altura Dionísio Mendes tinha oito anos e o brinquedo era uma réplica dos carros utilizados pelas forças policiais da África do Sul. Foi um tio que estava a cumprir o Serviço Militar em Moçambique que se lembrou de lho oferecer. “Era feito de lata, branco e preto, tinha luzinhas que acendiam. Fiquei deliciado com aquele presente”, conta. O carrinho ainda está no baú de memórias do autarca em casa dos pais. O mesmo

não acontece com o comboio que também recebeu num outro Natal da sua infância, a que se dava corda para pôr em movimento. Desse apenas ficou a lembrança. O Natal do menino Dionísio Mendes era vivido no seio de uma família humilde – o pai era motorista e a mãe trabalhadora rural. “Recordo um Natal muito mais simples do que aquilo que é hoje mas havia grande expectativa em relação à passagem do dia 24 para 25. Montava-se a árvore de Natal que apanhava na charneca, fazíamos o presépio e colocávamos o sapatinho pendurado na chaminé. Embora não acreditássemos no Pai Natal, eu e a minha irmã acordávamos sempre cedo no dia de Natal, para ver que prendas estavam no sapatinho”, conta. As prendas não variavam muito. Um ou outro brinquedo, roupa e calçado. Camisolas, peúgas, umas botas novas e anos mais tarde, um fato de lã.

foto O MIRANTE

Toda a ornamentação natalícia de casa era montada por Dionísio Mendes e pela irmã, a começar pelo pinheiro. Anos mais tarde surgiram as luzinhas de Natal. Para o presépio o musgo era apanhado nas zonas mais sombrias do Bairro da Areia e dos Foros de Coruche. Ainda se compunha o presépio com pequenas pedras, areia e até um espelho a fazer de lago. À mesa mandava a tradição. Na véspera de Natal, bacalhau com batatas e couves, comida vulgar na casa dos pobres. Os fritos também tinham lugar com os coscorões, filhós, velhoses e arroz doce. No dia de Natal era costume fazer galinha corada, ou peru assado. Apesar do clima religioso, os Natais eram tempo de festa e diversão. “Lembrome dos bailes na Sociedade Recreativa do Bairro da Areia, que se realizavam na véspera de Natal, há cerca de 40 anos. Ceávamos em casa e íamos para o baile

que, apesar de ser só para sócios e familiares, estava repleto de gente. E no dia de Natal ainda havia matiné”, recorda com um sorriso. Tradição era também a missada. Designação dada ao convívio masculino em torno de comes e bebes. Era um petisco ou jantar que reunia homens num anexo de casa ou adega com pratos de coelho, galo ou vaca, cozinhados por eles e regado com vinho novo. Dionísio Mendes não escapa à tradição de ofertar e receber prendas. “Dantes não se tinha esta perspectiva consumista nem se falava no Natal um ou dois meses antes, como agora”, diz. Os presentes que costuma dar são simbólicos e dirigidos aos familiares e às suas crianças. Reúne-se com os pais, filhos, irmã, sobrinhos, cunhado e primos. O local da reunião familiar vai alternando entre a sua casa, a dos pais e a da irmã. “Costumo ir para casa a partir das 16h00 ou 17h00 da véspera de Natal e estou com os familiares no dia 25”, explica. Como presidente de câmara tem diversas solicitações para participar em festas de associações e colectividades do concelho. “Dia 12 tivemos a festa dos trabalhadores da câmara, um almoço com baile com grande parte dos trabalhadores e os seus filhos. Homenageámos trabalhadores que se aposentaram no último ano e fizémos uma troca simbólica de prendas através de sorteio. Há também prendas adquiridas para os filhos dos trabalhadores até aos 12 anos”, conta. Apesar de ainda receber e dar prendas, Dionísio Mendes garante que nunca se vestiu de Pai Natal. Não por que não gostasse. “Os fatos é não me servem!”, assegura

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Depois da consoada vai-se de porta em porta ao ritmo do batuque Na ilha de Santiago em Cabo-Verde almoça-se bacalhau e janta-se carne no Natal

foto O MIRANTE

COMPARAÇÃO. Júlia Correia considera que o Natal na sua terra é mais alegre e festivo

Uma das festas mais animadas e alegres do ano que dura horas e horas ao som das músicas tradicionais do país.

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Jorge Afonso da Silva

empero a carne de cabra e ponho ao lume para refogar. Quando está quase cozida junto água, tiro um pouco do caldo para uma tigela e ponho farinha de milho. Depois de amassar faço rolos e coloco na sopa. Não se desfaz e fica tipo uma batata macia”. A receita é de um dos pratos cozinhados no Natal em Cabo-Verde. A receita é de Júlia Correia, 56 anos, que há 9 deixou a Ilha de Santiago e imigrou para Portugal. A residente no Bairro da Icesa, freguesia de Vialonga, concelho de Vila Franca

de Xira revela que o Natal é uma das festas mais importantes vividas no seu país. É a altura do ano em que a família aproveita para se juntar e passar uns momentos de confraternização e alegria. Enquanto a família não chega avizinhase um dia cheio de trabalho à volta das panelas. Primeiro há que fazer o almoço para as pessoas da casa. Por norma é bacalhau cozido com batatas e couves. “Para quem não gosta faz-se congro, cachupa ou feijão pedra – depois de cozido põe-se repolho ou couve. Junta-se carne já refogada, deixa-se ferver e acrescenta-se batata, chouriço, orelha, chispe. O que se quiser”, explica Júlia Correia. Durante a tarde vai chegando o resto da família mas o jantar já está bem adiantado. “Cozinha-se carne de cabra, vaca, massa de milho e mandioca. Para sobremesa confeccionam-se muitos doces caseiros e de fruta como coco e papaia. Para beber compram-se sumos e quando é possível vinho, já que é muito caro”, confessa a cabo-verdiana. A celebração religiosa do Natal começa à meia-noite de 24 de Dezembro com a Missa do Galo. O objectivo é celebrar o nascimento de Jesus Cristo, que a Igreja Católica atribui a este dia. É nas ilhas mais religiosas, como Santiago, que se regista maior adesão ao aspecto religioso desta quadra. Os fiéis deslocam-se à Igreja para a cerimónia, voltando em seguida para casa onde comem a ceia e abrem os presentes. A designação de Missa do Galo deve-se à lenda que afirma que um galo cantou a essa hora para anunciar o nascimento de Jesus Cristo, o Menino Jesus. “Na noite de consoada ninguém dorme. Só as crianças. É festa até de manhã com a família e os amigos e que se prolonga ao longo do dia 25. Vamos de casa em casa para conversamos e convivermos. Ao som do batuque, que é tradição na nossa terra, dançamos e cantamos”, conta Júlia Correia que, na despedida do jornalista, ainda o presenteou com uma pequena demonstração do vigor com que toca o batuque, batendo na tradicional almofada cheia com esponja ou trapos e revestida de napa, em conjunto com uma das três filhas que estão consigo, para espanto de um dos seus netos. Júlia Correia considera o Natal português muito diferente do de Cabo-Verde. Sente muitas saudades do seu país – onde tem duas filhas – e no seu entender o Natal na sua terra é “mais alegre e festivo”

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TRADIÇÃO. Fernanda Asseiceira diz que nesta altura do ano está totalmente dedicada à família

“Um bom Natal tem que ser frio para sentirmos o aconchego da família” A presidente da câmara, Fernanda Asseiceira, lamenta não ter podido iluminar as ruas de Alcanena A melhor prenda de Natal foi-lhe oferecida pelos pais quando a autarca já não era criança há muito tempo. Foi comprada com sacrifício e ocupa um lugar especial no seu coração.

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Fernando Vacas

Natal da presidente da câmara de Alcanena, Fernanda Asseiceira, é em casa, com a família. Sempre em casa e sempre com a família. “Sou católica e para mim o Natal é a festa do nascimento de Jesus e a festa da união das famílias. É uma altura do ano em que eu estou inteiramente dedicada à família. Cumpro religiosamente a tradição. Nunca passo

Um Carnaval inesperado na noite da consoada Fernanda Asseiceira tem duas irmãs com pouca diferença de idade. Na juventude quando estavam juntas eram naturalmente irreverentes. Numa noite

o Natal fora do meu lar ou do dos meus pais. Quer a véspera quer o dia de Natal são passados em comunhão total com a família, em casa. Adoro até que esteja muito frio porque assim sabe melhor estar à lareira ”. Este ano há uma sombra no Natal da autarca. “Sinto uma grande tristeza por no meu primeiro Natal como presidente da Câmara Municipal de Alcanena não ter conseguido embelezar as ruas com uma iluminação condigna. Não tive alternativa. Não havia dinheiro nem tempo para resolver o problema. Vamos fazer aqui na frontaria da autarquia e no largo, uma coisita muito pequena, mas garanto que no futuro Alcanena irá ser iluminada no Natal, de forma condigna”. Mas para além da iluminação, qualquer coisa vai ser feita. “Oferecemos

de Natal, muito depois da consoada, quando os pais e os avós cochilavam junto à lareira, as três traquinas foram ao baú das roupas velhas e trataram de vestir com tudo o que encontraram. Depois acordaram a família e foi uma grande animação com o inesperado Carnaval antecipado. “É a história mais divertida de que me recordo, até porque nos tiraram uma fotografia, que tenho emoldurada na sala de estar da minha casa”.

bilhetes duplos aos funcionários para o espectáculo que vai ter lugar no cine-teatro. E vamos fazer uma festa destinada aos filhos dos funcionários e dos bombeiros, com oferta de prendas”, explica. Fernanda Asseiceira, recorda os natais passados. A grande azáfama vivida em casa com ela e as irmãs a ajudarem a mãe a preparar a Consoada. “Lembro-me especialmente dos coscorões. A minha mãe tinha que ter uma especial atenção ao alguidar da massa porque eu gostava muito e sempre que podia roubava bo-

cadinhos para comer, assim crua. Eram outros tempos em que tudo era feito em casa. Agora somos muito comodistas compramos tudo já feito. Tem menos gosto mas dá menos trabalho”. Diz que nunca ligou muito a prendas mas há uma que a marcou bastante. E não a recebeu na infância. “Foi há uns seis ou sete anos. Os meus pais ofereceram-me uma pulseira de ouro, que está guardada no cofre-forte do meu coração. Sei que foi comprada com um grande esforço, mas a minha mãe fez questão de ma oferecer. É sem dúvida a prenda que guardo com mais amor”. Quando era criança a vida dos pais e avós não era um mar de rosas. Nunca passou grandes dificuldades mas as prendas tinham que ser coisas úteis. “Normalmente as nossas prendas de Natal ou aniversário iam sempre no sentido do vestuário. Ofereciam-nos roupas ou calçado. Era um grande entusiasmo. Era a oportunidade de nós ‘nos produzirmos’ um pouco mais, estreando a roupa nova que nos davam. Eram outros tempos. Hoje compramos roupa nova quase todos os dias”. Fernanda Asseiceira nasceu na Chamusca, mas foi viver para Alcanena aos três anos de idade, por isso os natais passados com os seus avós na sua terra natal não têm relevo na sua memória. “Viemos para Alcanena e a mudança criou um grande afastamento porque na altura não se viajava com tanta facilidade como hoje. Ainda me recordo, quando os meus pais conseguiram comprar um carro e fomos todos à Chamusca. Foi como se fossemos fazer uma grande viagem”, diz a sorrir. Mas apesar da distância a família estava unida. “Os meus pais iam buscar os meus avós à Chamusca e eles passavam alguns dias connosco. Sempre gostámos de ter uma casa cheia. Era uma alegria ter os avós connosco, naqueles dias”, refere

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Pai Natal chega mais cedo a famílias carenciadas do concelho de Santarém Presidente da câmara apelou à ajuda a quem mais sofre com a crise

foto O MIRANTE

FESTA. A pintura facial foi a actividade mais procurada pelas crianças

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presidente da Câmara Municipal de Santarém voltou a pedir a todos os que habitualmente enviam presentes de Natal ao município que os transformem em bens alimentares e brinquedos para oferecer às famílias carenciadas do concelho cujo número, segundo Francisco Moita Flores, aumentou “de forma acentuada no último trimestre”. O autarca fez o pedido durante a festa de Natal organizada pela Casa Solidária das Artes e Ofícios da Câmara de Santarém realizada na tarde de 9 de Dezembro nas instalações da antiga Escola Prática de Cavalaria de Santarém. O município dispõe de uma tenda colocada à porta dos Paços do Concelho

onde se podem deixar os contributos. Os donativos serão entregues ao Banco Alimentar Contra a Fome. A sala onde crianças e adultos convivem no seu Natal antecipado é pequena para tanta gente. O local das pinturas faciais é o espaço mais concorrido com meninos e meninas a fazerem fila para colorir a cara enquanto entoam as músicas infantis que se ouvem na sala. João é o rosto do entusiasmo. Os bonecos Rick e Rock também apareceram para brincar com a criançada. O menino de 7 anos diz nunca ter participado numa festa “tão gira”. Mais ao lado, as pessoas aconchegam o estômago com uma sandes ou um bolo. Para alguns esta é a principal refeição do dia. O momento alto da festa é a chegada do Pai Natal que vai distribuir prendas a todos os meninos presentes. Por idades, e ordenadamente, todos recebem um brinquedo. Sofia pula de alegria ao ver a boneca que recebeu. “Tão bonita. Não a posso estragar porque a outra já está velhinha”, diz sob o olhar atento da avó. A Casa Solidária das Artes e Ofícios é a resposta criada pelo município de Santarém para apoiar as famílias mais carenciadas do concelho nesta época de crise. A nova estrutura distribui roupa, mobiliário, alimentos, brinquedos, materiais didácticos e outros artigos pelos agregados mais necessitados e ainda proporciona formação profissional a pessoas desempregadas, designadamente em actividades a cair em desuso, como calceteiros, carpinteiros, costureiras ou canalizadores. Segundo Raquel Henrique, assistente social da autarquia, desde a inauguração da Casa Solidária, em Agosto deste ano, estão a ser acompanhadas cerca de 160 famílias, das quais 60 são novas famílias que ficaram carenciadas porque um dos elementos perdeu o emprego devido à crise. “Quando inauguramos a Casa Solidária nunca pensámos que o número de novas famílias carenciadas fosse tão elevado”, explica a assistente social

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Natal brasileiro com peru, pernil de porco e arroz à grega Festa até de madrugada como se fosse passagem de ano com família e vizinhos Na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, de onde é natural Ludmila Silva, a consoada é em família ou no meio da rua em conjunto com os vizinhos.

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Jorge Afonso da Silva

acalhau no Brasil é muito caro e não é tão bom quanto o daqui. Só se come na Páscoa”, garante Ludmila Silva. A jovem, 28 anos, há 11 que decidiu atravessar o Atlântico e tentar a sorte em solo luso. Actualmente é cozinheira num restaurante em Castanheira do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira. Apesar da distância, de dois em dois anos, faz questão de regressar a Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, para passar o Natal em família. Uma época “mágica”, de “muita fraternidade”, em que os centros da cidade ficam “em chamas” e a animação é garantida. As pessoas enfeitam as casas e colocam a árvore de Natal para à meia-noite receberem os presentes do homem da barba comprida e branca. “Temos uma uva pequena e docinha que só se consome nessa época porque apenas se cultiva no Rio Grande do Sul. Parece que toda a cidade cheira a essa uva”, relata a jovem com um brilho nos olhos que denunciam a saudade. O dia 24 de Dezembro é passado quase todo ele a cozinhar e a limpar. Tudo para que quando forem oito ou nove da noite esteja tudo pronto para receber a restante família. A casa dos pais de Ludmila acolhe os seis irmãos a que se juntam as esposas ou maridos, filhos e namorados. Fica um lar bem composto e animado. Mas a noite da família também pode ser comemorada de uma forma bem diferente. “As famílias do bairro decidem-se juntar e comem todas reunidas numa mesa grande

colocada no meio da rua”, conta a jovem. Em ambos os casos está assegurada a presença do belo peru de Natal – caso não haja, come-se frango, que é o mais parecido – do pernil de porco ou o arroz à grega (feito com frutas e uvas passas), que são os três manjares clássicos e típicos da noite de consoada. Reza a história que é sempre abençoada pela chuva, mesmo que durante o dia tenham estado 40 graus. Torta de frango com pão de forma, muita fruta e poucos doces – apenas uma mousse parecida com gelatina – completam a ementa que é acompanhada com um “suco de uva” e o champanhe é cidra. Antes do jantar é habitual assistir-se à missa do galo e fazer-se uma oração. Depois da meia-noite começa a verdadeira animação. Os presentes, colocados junto da árvore de Natal são abertos e todos rumam ao exterior. “ Toda a gente se abraça. As crianças vão para a rua andar na bicicleta nova, chutar na bola que acabou de receber. No fundo mostram os presentes uns aos outros. Os jovens ficam na esquina a namorar. Ao contrário de Portugal todas as pessoas se misturam e ninguém fica sentado à mesa. Vive-se um clima de passagem de ano ou de campeonato do mundo de futebol”, assegura Ludmila Silva que concluiu. “A festa dura até o dia clarear. Da última vez deitei-me às duas da tarde de 25 que é mais um dia para ressacar e de preguiça”

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COSTUME. Antes do jantar de Natal é habitual assistir-se à missa do galo

foto O MIRANTE


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“No meu tempo de criança o Menino Jesus era mais conhecido que o Pai Natal” Corvêlo de Sousa teve Natais frios e com neve até aos seis anos na Serra de Leomil É um homem tranquilo que vive a quadra natalícia sem grande paixão mas que faz questão de participar nos seus rituais.

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Elsa Ribeiro Gonçalves

e todas as prendas de Natal que recebeu Corvêlo de Sousa, 62 anos, actual presidente da Câmara Municipal de Tomar, elege como favorita uma caneta “de qualidade” que a mãe lhe ofereceu há vinte anos. É com ela que assina os inúmeros despachos e documentos no exercício das suas funções. “É uma caneta muito bonita. A minha mãe sabia que eu gostava dela porque se aconselhou com a minha mulher antes de a comprar”, explica. Casado mas sem filhos, o Natal para Corvêlo de Sousa é, sobretudo, uma paragem de calendário que aproveita para o reencontro com a família e amigos. “É interessante juntarmo-nos com um grupo mais alargado no Natal”, diz. A noite de Natal é passada em casa. Janta e depois de jantar assiste e participa no cerimonial da troca de prendas. A festa termina pouco depois da meia-noite. “Não temos tido o hábito de ir à missa da meianoite mas é uma coisa que eventualmente vou retomar”, revela o autarca numa conversa que decorreu no seu gabinete de trabalho. O frio que se faz sentir nesta altura leva-o a ficar à lareira, aproveitando a pausa para ler. O autarca não liga muito à ementa natalícia nem faz questão de comer o bacalhau com todos ou o peru assado. Mas há algo que não falta em cima da mesa e que até ajuda a confeccionar acompanhando o momento da cozedura: as Fatias de Tomar.

A árvore de Natal que tem em casa consiste numa pernada (ramo) de um pinheiro que sobrou de uma operação de limpeza e confessa que “não se mete” na decoração, preferindo deixar essa missão para a esposa. As prendas são compradas em cima da hora mas tenta saber o que as pessoas querem para comprar coisas adequadas ao seu gosto. Corvêlo de Sousa viveu até aos seis anos na Serra de Leomil, Moimenta da Beira, e diz que nunca acreditou no Pai Natal. “Na altura havia o menino Jesus e os Reis Magos e era isso que contava”, admite confessando que ainda hoje faz o presépio lá em casa. Nunca foi uma criança de pedir brinquedos e preferia ser surpreendido no momento em que desembrulhava o seu. Dos Natais passados na serra recorda sobretudo que eram frios e que havia quase sempre neve. “Com nove graus negativos íamos todos à missa do galo”, lembra. O autarca veio viver para Tomar quando entrou na segunda classe. No dia 25 de Dezembro, Corvêlo de Sousa não trabalha mas diz que o telemóvel não pára de tocar. O ano passado perdeu a conta ao número de mensagens de Natal - “mais de cem de certeza” - e faz questão de responder, também por escrito, às mensagens que recebe. Gosta das iluminações de Natal mas não fica mais

Boas Festas

- CLÍNICA GERAL - GINECOLOGIA/OBSTETRICIA - PEDIATRIA (d.crianças) - PSICOLOGIA;(orientação escolar, testes) - CARDIOLOGIA (d. coração) - UROLOGIA (d. urinárias) - ORTOPEDIA (d. ossos) - REUMATOLOGIA (d. reumático) - GASTROENTROLOGIA - MEDICINA DE TRABALHO - NEUROLOGIA (Dores de cabeça) - NUTRIÇÃO/OBESIDADE (emagrecimento) - DIABETES E DISLIPIDÉMIAS - CIRURGIA GERAL - OTORRINO (ouvidos, nariz e garganta) - CIRURGIA VASCULAR (varizes) - PSIQUIATRIA (D. Nervos) - NEUROCIRURGIA (Hérnias discais) - PSICÓLOGA CLÍNICA (Acompanhamento Psicológico) - DERMATOLOGIA (Doenças de Pele) - ENDOCRINOLOGIA (Doenças da Tiróide e diabetes) - OFTALMOLOGIA (Doenças dos Olhos) - ALERGOLOGIA (Doenças Alérgicas - Asma e Testes de alergia) - Pneumologia ELECTROCARDIOGRAMAS / ANÁLISES / ENFERMAGEM (CONTROLO A DIABETES. DOMICÍLIOS)

Horário - 8.30 às 20.30 horas - Telef.: 243 570 660/2 - Fax: 243 570661 Rua Moinho de Vento - Edifício Sintra D’Inverno - Bloco A - R/C 2080 Almeirim - Tel./Fax: 243 570 660

foto O MIRANTE

CONVÍVIO. Corvêlo de Sousa aproveita quadra natalícia para reencontrar familiares e amigos emotivo nesta época. “O Natal dentro do ano litúrgico é um momento muito sensível e ligado à família mas não me deixa,

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de todo, nostálgico”, aponta. Até porque subscreve o conhecido ditado: “Natal é quando um homem quiser”


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“Aldeia de Natal” embeleza o Largo Vasco da Gama na Chamusca Na tenda os visitantes podem comprar artesanato e doces caseiros

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a tenda da Aldeia de Natal montada no Largo Vasco da Gama, junto à Igreja Matriz da Chamusca, vendem-se doces feitos a partir de receitas caseiras dos anos em que as pessoas de poucas posses tinham que dar largas à imaginação para na noite de Natal terem alguma coisa de diferente para dar aos filhos. Sábado, logo pela manhã, Francisco Pirinhas entrou na tenda e foi até à banca dos doces e exclamou “olha estão aqui uns sonhos tão pequeninos. Serão bons ?” A

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jovem que estava a vender respondeu-lhe com uma gargalhada. “Não são sonhos. Isso era doce dos ricos. São velhoses. É uma receita da minha avó, que misturava um pouco de farinha com a abóbora e um pouco de fermento de padeiro, amassava tudo muito bem amassado e deixava a levedar antes de os fritar. Francisco Pirinhas comeu e gostou. Como gostou da alegria que a Aldeia de Natal, trouxe ao Largo. “Foi uma boa ideia, isto está bonito e traz alguma alegria a esta parte central da vila. A árvore de Natal luminosa também é muito bonita”. No largo que foi recentemente remodelado, em frente ao edifício construído para albergar a Biblioteca Municipal da Chamusca, a tenda, a grande árvore de Natal e o presépio vieram, efectivamente, dinamizar a zona. “Não há dúvida de que os responsáveis tiveram uma excelente ideia, e pelo que parece nem foi preciso gastar uma fortuna. Isto está bonito e dinamiza até o comércio aqui da zona, que estava praticamente parado desde que tiraram daqui o mercado semanal”, referiu a O MIRANTE, António José Ferreira. No átrio da futura biblioteca estão em exposição alguns presépios. Música de Natal, grupos corais e outras actividades, vão entretendo os visitantes, principalmente ao fim-de-semana, altura em que a aldeia funciona durante todo o dia. Nos dias úteis a tenda só funciona das 17h00 às 19h00, mas a beleza do largo pode ser vista a qualquer hora

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NATAL. Árvore gigante ajuda a embelezar Largo Vasco da Gama

foto O MIRANTE


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Francisco Moita Flores*

foto arquivo O MIRANTE

Um natal, qualquer natal N

um dos seus poemas Fernando Pessoa diz-nos que todas as cartas de amor são ridículas, e se não fossem ridículas não eram cartas de amor. Posso transferir esta ideia para o espírito de Natal e dizer, evocando Pessoa, que todos os Natais são ridículos, mas se não fossem ridículos deixariam de ser aquilo que são. Uma onda crescente de expectativas afectivas que culmina numa noite de encontros com gente de quem gostamos e pratos ritualísticos, tão vulgares quanto um bacalhau, mas que naquela mesa ganham uma carga simbólica que se desvanece no instante em que se consome. Dezembro é ridículo pois caminha inexoravelmente entre desejos de boas festas para uma apoteose que se desvanece numa noite. O que significará isso? Boas Festas? Haverá festas más?

Que queremos dizer quando desejamos um Natal feliz. É certo que estamos a dizer que não queremos que seja infeliz. Mas porquê só o Natal? E porque não repetimos todos os dias, todas as semanas os mesmos desejos de felicidade àqueles que cumprimentamos? E agora, que a secularização da família foi, aos poucos, dissolvendo a importância da missa do galo e dos presépios; agora que se multiplicam

exércitos de desempregados, a quem emprestam fatiota de Pai Natal, e por alguns trocos oferecem seduções, telemóveis com 20% de desconto, televisões digitais a preços imbatíveis, viagens a Varadero a preços da alface, cartões de crédito com vantagens de excepção, uma delas até oferece uma varinha eléctrica!; agora que estamos aqui, convertido esse espírito que interpelava a paz, numa audácia que convida ao consumo desenfreado, ao endividamento, mas oferece prazer, é verdade que efémero, o que significa Feliz Natal? Uma viagem a Cancún? Mais dez jogos de ‘playstation’? Meia dúzia de insignificâncias elevadas à sacralidade de uma jóia eterna? Se calhar começa a ser ridículo desejar paz, muita paz, cada vez mais paz, e outra vezes recordando Pessoa, a ‘paz dos cemitérios’ e, durante os outros meses do ano, mandar às urtigas todos os sonhos românticos jurados, desejados durante estes parcos dias de Dezembro para tornar ao cinismo, ao egoísmo, a todas as formas de não viver com esse sorriso com que se deseja ‘Feliz Natal’. Neste psicodrama de encenações voláteis, prefiro o ridículo ao cínico, a intenção de acreditar que as Festas são boas, ainda que esvaídas no ápice da dentada de bacalhau ou de qualquer prato de sonhos servido com muito açúcar. E regresso às origens do meu presépio de menino, feito com musgo, feito com bonecos que imaginávamos vivos, tão vivos que o Natal surgia pela chaminé, directo ao sapatinho, trazido pelo Menino Jesus. Gosto de voltar a ser ridículo, acreditando que o Natal

Vale a pena acreditar que dizer ‘amo-te’ meu irmão, minha amiga, meu companheiro é muito menos ridículo do que a farsa com que enroupamos os dias em que não nos consideramos ridículos se multiplica, embora saiba que esta multiplicação é ridícula. Gosto de imaginar que os putos de Santarém, os putos do nosso país, os putos do mundo inteiro, estão inteiros e intensos, nesse desejo de Paz sem paz. Da Paz que interpela a vida e nos devolve a afeição, a fraternidade, o amor pelos outros. É verdade. O Natal tem de ser ridículo, e se não o for, não é Natal. Mas é melhor assim. Pelo menos há um dia, uma hora que seja desse dia, em que acreditamos que tudo pode ser um grande e forte abraço comovido que nos envolve docemente, quentinhos, como se regressássemos ao colo da mãe. Das nossas mães. Um Natal Feliz! Um ano de 2010 que repita muitos dias de Natal. Mesmo que seja ridículo, acreditem, vale a pena acreditar que dizer ‘amote’ meu irmão, minha amiga, meu companheiro é muito menos ridículo do que a farsa com que enroupamos os dias em que não nos consideramos ridículos. * Presidente da Câmara Municipal de Santarém


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TRADIÇÃO. Isaura Morais garante que não falha a missa do galo

foto O MIRANTE

“Gostava que no Natal me oferecessem um dia com 48 horas mas já me contento com muita saúde” Isaura Morais, presidente da câmara de Rio Maior e o ritual do passeio até ao mar Um dia vestiu-se de Pai Natal e distribuiu as prendas às crianças. Até fez o tradicional “Oh!Oh!Oh!” mas foi denunciada pelos sapatos.

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e o Pai Natal não fosse uma fantasia, a presidente da Câmara de Rio Maior gostava que este lhe deixasse no sapatinho a prenda que mais precisa neste momento: um dia com 48 horas. Porque nas novas funções de Isaura Morais, que já foi presidente da junta de freguesia da cidade, com tanta coisa para fazer, com reuniões atrás de reuniões, o tempo não lhe chega e chega ao fim do dia com muitas coisas que ficaram por resolver. A autarca é uma mulher que pouco liga aos bens materiais, ao ponto de nem saber bem a poucos dias do Natal o que gostaria de receber como presente. Por isso diz que a melhor prenda que se pode ter é saúde. Todos os anos, Isaura Morais promete a si mesma que não vai deixar para os últimos dias a compra das prendas que oferece à família e amigos mas nunca consegue cumprir a promessa,

o que faz com que gaste sempre mais dinheiro que o previsto. Não lamenta tal facto porque na altura em que está a escolher as prendas imagina os sorrisos de quem as vai receber. Isaura Morais não falha a Missa do Galo na igreja de Rio Maior mas são raras as vezes que consegue arranjar quem a acompanhe. Durante o dia começa a perguntar aos familiares mais próximos

que vão passar a consoada em casa dos seus pais se querem ir à missa. A meio da tarde todos aceitam. À noite já só metade diz estar disponível. E quando se aproxima a hora já não consegue convencer ninguém. No ano passado o namorado acompanhou-a, mais por simpatia do que por gosto. A presidente da câmara diz que nunca beijou a imagem do Menino Jesus, apesar de respeitar quem o

faz. Este ano, provavelmente, o facto de não ir beijar a imagem passará mais despercebido porque há igrejas onde o receio do contágio da gripe A eliminará essa tradição. Para a ceia de Natal combina-se previamente quem faz os bolos, o bacalhau, o polvo. As tarefas são divididas. Com crianças em casa há sempre alguém que se veste de Pai Natal para distribuir os presentes. Já lhe coube essa tarefa uma vez e até gostou de encarnar a personagem, ou não fosse uma mulher com a paixão pela representação e pelo teatro em particular. Dessa vez empenhou-se a fundo e até soltou os sonoros “oh, oh, oh…” do homem das barbas brancas. “Tiveram direito a tudo”, diz divertida. Isaura Morais não estava à espera era de ser denunciada pelos sapatos. Houve logo uma das crianças que a identificou. Dos tempos de criança recorda-se que ia ao campo com o pai recolher musgo para o presépio. Agora já não o faz, mas o presépio continua a ser uma tradição. A mãe faz um todos os anos com a particularidade de todos os dias mover os Reis Magos uns centímetros no caminho e de o menino Jesus só ser colocado no dia do nascimento. Também costumava acompanhar o progenitor pelos pinhais para cortar o pinheiro. Só há dois anos a árvore passou a ser artificial. Na consoada come o bacalhau com couves com todo o gosto. Mas recorda que em criança era um sacrifício mastigar o peixe. “Enrolava-se muito na boca. As couves até comia bem, mas o bacalhau era um problema” descreve. Inesquecíveis são as correrias com a irmã, para a chaminé a fim de abrir as prendas. “Um dia a minha irmã bateu com um pé numa mesa e aleijou-se. Então, já com a prenda nas mãos ela chorava de dores e ria ao mesmo tempo de felicidade”. Outra tradição desse tempo que continua a cumprir é o passeio até ao mar, geralmente na Nazaré, depois do almoço de Natal. Para Isaura Morais o Natal significa a partilha, simbolizada pela troca de prendas. É também a altura em que a solidariedade enche mais os corações e se sente uma paz maior. A autarca considera-se uma pessoa solidária, mas ressalva que não é só nesta altura. “Durante todo o ano costumo oferecer presentes aos que mais precisam”

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Fantasma da Gripe A interfere com tradições religiosas de Natal Pastoral da Saúde desaconselha beijo na imagem do Menino Jesus Entre padres da região há quem considere um exagero, quem deixe a decisão ao critério dos fiéis e quem aconselhe que o beijo seja trocado por uma vénia ou por uma festa.

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padre José Luís Borga considera “um absurdo” a posição tomada pela Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, que desaconselha, do ponto de vista sanitário, o tradicional beijo nos pés do Menino Jesus dado pelos fiéis nas celebrações religiosas de Natal. Uma recomendação que pretende contribuir para evitar a propagação da Gripe A mas que nem todos os sacerdotes vão acatar, deixando a decisão ao livre arbítrio dos crentes. O mediático pároco de Nossa Senhora de Fátima, no Entroncamento, considera que a postura da Pastoral da Saúde é “um exagero” e garante que na sua igreja os fiéis vão poder beijar os pés da figura do Menino Jesus, se assim o quiserem fazer. “Parece que somos os culpados pela propagação da Gripe A”, observa José Luís Borga, lembrando que não se trata de um rito obrigatório. “Não vou proibir ninguém de beijar o Menino Jesus. Se fosse para evitar a propagação da Gripe A não se fazia também a celebração, não se distribuía a comunhão…”, declara, concluindo: “Cada

um cuida de si e queira Deus que todos os contágios sejam por essa via”. Menos cáustico, o padre António Pereira, pároco de Abrã e Amiais de Baixo (Santarém), diz que o beijo ao Menino Jesus fica ao critério de cada um. “Normalmente digo às pessoas que o gesto vale tudo. Uma vénia ou um toque na imagem têm o mesmo significado. Mas não vou impedir ninguém de beijar a imagem”. O padre Ricardo Mónica, pároco de Várzea (Santarém), também acredita nas virtudes do gesto e vai aconselhar o seu rebanho a deixar o beijo ao Menino Jesus para ocasião mais propícia e a optar pela vénia. O padre Joaquim Ganhão, chefe de gabinete do bispo de Santarém, alinha pelo mesmo pensamento e diz que sendo essa uma questão que mexe com o hábito das pessoas não faz sentido impor uma mudança de comportamentos. “Aconselhamos cautelas, mas sem alarmismos. Muitos fiéis até já nem beijam a imagem, preferindo tocar com a mão ou fazer uma vénia”, revela. “Há uma tradição popular de beijar o DeusMeninoporalturadoNatal,masnunca se impôs qualquer rito em especial. Nada impede que se venere simplesmente tocando ou tendo outro gesto de veneração”, reforça o cónego João Canilho, pároco de Azambuja, acrescentando que “está a gerar-se um certo alarmismo sem necessidade” e “começam já a fazer-se

“O Menino Jesus fica muito contente se lhe fizerem uma festa” A polémica foi levantada após o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, padre Vítor Feytor Pinto, ter considerado errado do ponto de vista da saúde o tradicional beijo no pé do Menino Jesus, aconselhando as pessoas a não o fazerem. “De facto, todas as pessoas a beijarem o mesmo pé do Menino [Jesus] em termos de saúde é errado e é daí que é um conselho que damos”, afirmou. Sustentando que “como a Comissão Nacional da Pastoral da Saúde” pode dar este conselho, o sacerdote referiu não ser “necessário recorrer ao episcopado para dar esta orientação”, que classificou

como de “educação para a saúde”. O responsável explicou que na paróquia que dirige “há muito tempo” que os fiéis são convidados a não cumprirem esta tradição nas missas de Natal. “Dizemos com muita beleza ‘O Menino Jesus fica muito contente se lhe fizerem uma festa’. Então, façam a festa ao Menino e com essa festa vai toda a ternura que era transmitida por um beijo”, explicou o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, salientando que “há muita maneira de dizer ao Menino Jesus, na língua gestual, que efectivamente Lhe queremos bem”.

POLÉMICA Padres têm opiniões diferentes sobre o conselho de não beijar a imagem do Menino Jesus grandes especulações” sobre a questão da gripe A. “Não vou dizer nada. Tal como em relação à comunhão. As pessoas continuam a fazê-lo pacificamente. Uns comungam na mão, outros na boca. Deixo ao critério das pessoas”. Manuel Lopes, sacerdote que exerce nas freguesias do Cercal e Gondemaria (Ourém) há 10 anos, ri-se quando é confrontado com a questão. Diz que deixa a forma de adoração ao critério de cada um e passa a bola para o campo da classe médica. “Ainda não pensei nisso! A Pastoral de Saúde apenas sugeriu que não fosse feita a adoração de forma tradicional, apenas

foto O MIRANTE

a reverência. Não sou médico, não sei se há perigo. Julgo que a nível nacional os médicos se deviam pronunciar e ainda não disseram nada”. O vizinho padre Fernando Varela, que dirige a paróquia da freguesia de Atouguia, concelho de Ourém, há 13 anos, diz que nada vai mudar relativamente a anos anteriores, quando não se falava de Gripe A, até porque, diz, “a maior parte das pessoas, cerca de 99 por cento, cumpre o ritual tradicional”, embora reconheça que “existem muitas formas de venerar a imagem”

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TV digital no sapatinho do Centro de Dia de Benfica do Ribatejo A Associação de Solidariedade Social de Benfica do Ribatejo (concelho de Almeirim) realiza quarta-feira, 23 de Dezembro, pelas 15h00, a festa de Natal para os utentes do Centro de Dia e Apoio Domiciliário de Benfica do Ribatejo. Este Natal, o Centro de Dia da freguesia do concelho de Almeirim será presenteada

com uma televisão digital para os utentes da instituição verem programas e notícias com maior e melhor qualidade de imagem. Uma oferta da empresa Lena Agregados S.A que será entregue durante a festa de Natal. Actualmente a Associação de Solidariedade Social de Benfica do Ribatejo presta apoio

a idosos, crianças e pessoas carenciadas da freguesia e está a desenvolver diversas parcerias com outras entidades. O objectivo é integrar os membros da comunidade e satisfazer as suas necessidades criando sinergias que possibilitem e valorizem a dignidade e potencial dos utentes.

Câmara de Ourém corta nas iluminações de Natal Devido à difícil situação financeira em que se encontra a Câmara Municipal de Ourém, este ano o executivo liderado por Paulo Fonseca (PS) decidiu reduzir as despesas nas habituais iluminações decorativas de Natal. Mesmo assim a autarquia já tem em exibição um presépio, em tamanho real, na varanda do edifício dos Paços do Concelho. Vão também ser elevadas duas árvores de Natal luminosas, uma na cidade de Ourém, em frente aos Paços do Concelho, e outra em Fátima, na Praça Paulo VI. No Castelo, serão colocadas duas estrelas de Natal, uma virada para a cidade de Ourém e outra virada a oeste, que será visível a partir da A1.


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O Natal é a Festa da Família e este ano o menino Jesus chama-se Manuel O Presidente da câmara do Entroncamento, Jaime Ramos, não perde a Missa do Galo

FAMÍLIA. Jaime Ramos, a esposa Amélia e o menino Jesus deste Natal, o neto Manuel

Polvo em vez de bacalhau na consoada, o ritual de felicitar um amigo que faz anos no dia de Natal e a lembrança das primeiras botas Adidas que vieram da Dinamarca.

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Alberto Bastos

este Natal o presidente da Câmara do Entroncamento vai estar particularmente atento ao neto Manuel. “Como já tem um ano e meio e já percebe melhor o que se passa à sua volta, este Natal deverá ser marcante para ele. Vamos procurar que ele sinta o espírito desta quadra e que saiba que se trata de um dia especial”. A conversa decorre no gabinete de trabalho do autarca. Não há qualquer enfeite que lembre o Natal. Ele confessa que anda ocupado mas não lhe escapam alguns sinais. “Hoje vesti pela primeira vez um sobretudo. A chegada do frio faz-me lembrar o Natal. Para mim um Natal tem

que ter algum frio, ou chuva”. Jaime Ramos passou quase todos os Natais da sua vida no Entroncamento desde que para ali foi viver com os pais aos 2 anos de idade. As excepções foram os dois Natais passados em Angola quando cumpriu o serviço militar. Talvez venha dessa altura a necessidade de sentir que é Inverno e faz frio, para se impregnar do espírito de Natal. “Não me queixo do tempo que estive em África. O único problema eram as saudades porque não havia contactos telefónicos nem internet, como agora. Fui para lá com

foto O MIRANTE

19 anos. No primeiro ano não havia couves para a consoada. Mas criámos condições para isso. No segundo Natal já tínhamos uma horta cultivada por pessoal aqui do Ribatejo. Jovens do campo que sabiam daquilo. Não houve árvore de Natal e a RTP não foi ao nosso quartel gravar as mensagens de Natal que passavam cá na metrópole. Ninguém tinha lá a família e isso fez de nós uma família”, conta. Jaime Ramos diz que o Natal é a festa da família. “ Com excepção do tempo de África passei sempre o Natal em família. Com os meus avós, os meus tios… éramos

uma família grande. Desde que tenho uma casa com condições é ali que nos reunimos. Os meus pais, os meus sogros, cunhados, sobrinhos. Toda a gente. O único vazio é olharmos para os lugares que eram habitualmente ocupados pelos que já partiram. O meu pai, o meu sogro”. Na consoada Jaime Ramos não alinha no bacalhau. Nem ele nem a filha Cláudia. “Caras de bacalhau, gosto. Do bacalhau não sou grande adepto. Nem eu nem a minha filha. Temos feito polvo cozido como se faz em Trás-os-Montes”. Depois da ceia há dois rituais familiares. A Missa do Galo – ora na Igreja da Sagrada Família ora na igreja de Nossa Senhora de Fátima – e uma segunda celebração num espaço menos religioso. “Vamos a casa de um particular amigo nosso que faz anos no dia de Natal, felicitálo e passar algum tempo com ele”. As prendas que vai oferecer ainda não estão todas compradas mas diz que já tem tudo “alinhavado”. Das prendas que recebeu quando era jovem lembra uma mais marcante. “Não éramos ricos mas tive uma infância privilegiada. Não me posso queixar das prendas que sempre me deram mas houve uma que foi especial. As primeiras botas de futebol da Adidas que vieram para o Entroncamento foram-me enviadas por um tio meu quando eu tinha 16 anos. Vieram da Dinamarca onde ele estava emigrado. Tinham pitons de borracha para jogar em relvado, embora nós jogássemos em campos pelados”. Na altura as botas da Adidas não devem ter aparecido no sapatinho junto à árvore de Natal. “Agora lá em casa temos uma árvore artificial mas lembro-me, quando era miúdo irmos buscar o pinheiro ali naquela zona a caminho do Casal do Grilo. Ainda não havia lá nenhuma casa. E também apanhávamos musgo para o presépio. Preparávamos tudo e deixávamos sempre o sapato maior que encontrávamos na esperança que o Pai Natal fosse generoso”. A nível institucional o presidente da Câmara diz-se atento aos problemas dos seus concidadãos, todo o ano e de um modo especial nesta quadra. Temos a tradição dos cabazes de Natal para as famílias carenciadas, fazemos a Festa de Natal para funcionários, filhos e familiares e agora, com o programa Entroncamento Solidário, temos conseguido detectar e procurado fazer o que é possível para ajudar pessoas que estavam bem na vida e que agora passam por dificuldades

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O MIRANTE | 17 Dezembro 2009

COSTUME. José Sousa Gomes têm o hábito de comprar prendas de Natal apenas uma semana antes

foto O MIRANTE

O deslumbramento provocado pelo cavalinho de madeira deixado no sapatinho Presidente da câmara de Almeirim tenta oferecer prendas úteis mas não pode fugir às novidades Sousa Gomes lamenta que o presépio tenha sido trocado pela árvore de Natal e que o Pai Natal tenha substituído o Menino Jesus na distribuição de prendas.

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Ana Isabel Borrego

presidente da Câmara de Almeirim, José Sousa Gomes, 69 anos, ainda recorda aquele Natal como se fosse hoje. Não tinha mais de seis anos. As crianças aguardavam, ansiosas, na sala, a chegada do Pai Natal que descia pela chaminé da cozinha. O barulho vindo dessa divisão chamou-lhe à atenção fazendo-o correr para o local para ver o que se tinha passado. O Pai Natal tinha-lhe deixado como prenda um cavalinho de madeira que o deixou deslumbrado. “Recebi muitos

presentes depois desse Natal, mas não sei porquê, este brinquedo tão simples ficou na minha memória”, recorda. Sousa Gomes nasceu em Almeirim onde ainda hoje reside. O Natal era passado em família na casa da sua avó paterna com os tios e primos. Dias antes, com a ajuda de uma espátula, recolhia-se musgo para fazer o presépio onde não faltavam os três Reis Magos, São José, a Virgem Maria, os pastores, o burro e a vaca e o Menino Jesus deitado nas palhinhas. “Quando eu era criança o presépio era o principal símbolo do Natal ao contrário de agora onde a árvore de Natal de plástico e o Pai Natal são as figuras principais da quadra”, explica. Nessa altura, também era tradição assistir à missa do Galo. Algo que Sousa Gomes até gostava porque quem assistia à mis-

“Infelizmente não existe um Natal ideal” Há vários anos que o município de Almeirim organiza a festa de Natal para os seus funcionários, normalmente a sextafeira antes do dia 25 de Dezembro. Este ano, o jantar de Natal realiza-se dia 18, no salão Moinho de Vento. Uma oportunidade para antigos e actuais funcionários se juntarem e conviverem aproveitando o espírito natalício. Durante o jantar a autarquia oferece um brinquedo a todas as crianças, filhos de funcionários com menos de 12 anos, e os colaboradores do município levam para casa um bolo-rei

e uma garrafa de licor. Questionado sobre qual será o Natal ideal, Sousa Gomes responde prontamente que infelizmente não existe. “O Natal ideal seria aquele em que todos pudessem gozar a quadra natalícia de forma semelhante. Um Natal em que ninguém tivesse necessidades sobretudo as crianças. É nesta altura do ano que se notam as maiores diferenças e as crianças sentem muito o facto de não terem uma família com quem partilhar o Natal”, afirma o autarca.

sa do Galo já não ia à missa do dia de Natal “Sempre podíamos ficar mais um bocadinho na cama no dia 25”, conta com um sorriso. À semelhança de anos anteriores, este Natal vai ser passado em sua casa junto da família nomeadamente dos filhos e dos dois netos, de nove e seis anos, que ainda acreditam no Pai Natal. São os mais novos que dão outra cor e alegria ao Natal. E o avô prepara-se convenientemente. “Tento oferecer-lhes prendas úteis mas não posso deixar de estar a par das novidades para eles não ficarem desiludidos na hora de as desembrulharem”. O autarca lamenta o facto de, actualmente, se viver a quadra natalícia de forma muito consumista. “Existe uma infiltração de um espírito em todos nós que não faz parte do Natal. Deixou de se pensar no verdadeiro significado do Natal que é uma festa religiosa e começou a pensar-se na parte consumista. Prefiro o Natal da minha infância em que só as crianças recebiam presentes. E se ganhássemos um saquinho de bombons ou rebuçados era muito bom”, relembra. Diz-se pessoa de gostos simples, no que diz respeito aos pratos da época natalícia. Na sua mesa há filhós e broas de mel. Na noite de Consoada não pode faltar o tradicional bacalhau com couves e batatas. E no dia de Natal delicia-se com um peru no forno, uma tradição mais recente. “Antigamente comer frango era considerado um luxo. Só se comia frango quando alguém estava doente e no Natal”, conta

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17 Dezembro 2009 | O MIRANTE

Concerto de Natal no sábado dia 19 no Entroncamento A Orquestra Filarmonia das Beiras, sob a direcção do Maestro Paulo Lourenço e o Coro Regina Coelli de Lisboa, actuam dia 19 de Dezembro, sábado, a partir das 21h30 na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Entroncamento, num concerto de Natal. Do programa constam a obra “Chichester Psalms” de Leonard Bernstein e duas composições de Felix Mendelssohn: “Salmo 42 – Wie der Hirsch schreit nach frischem Wasser” e “Verleih uns Frieden”. Leonard Bernstein (1918 – 1990) foi o primeiro compositor nascido e educado nos Estados Unidos a ser mundialmente reconhecido. Foi, durante muitos anos, o director musical da Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, tendo aparecido muitas vezes em televisão, dirigindo as maiores orquestras do

Mundo. Apesar de ter composto várias obras, a banda sonora do musical “West Side Story” continua a ser o seu trabalho mais conhecido. Felix Mendelssohn (1809 – 1847) é considerado um dos maiores compositores do período Romântico. Nascido na Alemanha, no seio de uma família judia, demonstrou, desde tenra idade, um talento especial para a música. Compôs sinfonias, oratórias, música de câmara e foi muito bem recebido nos países europeus por onde viajou, em especial, na Inglaterra. Apesar de ser considerado um compositor conservador, e não “aventureiro”, como Liszt, Wagner ou Berlioz, Mendelssohn deixou a sua marca pessoal, que se perpetuou no Conservatório de Música por ele criado em Leipzig.

Exposição com mais de 500 presépios em Almeirim Uma exposição com mais de 500 presépios nacionais e de diversos países do mundo pode ser vista em Almeirim até dia 6 de Janeiro. A mostra está patente numa adega na Rua dos Charcos, na cidade. Os presépios fazem parte da colecção particular do casal Teresa Isabel Filipe e José Luís Cruz. Ela é secretária da Assembleia Municipal de Almeirim e ele já foi vereador da câmara e é veterinário com clínica na cidade. Muitas das peças da colecção foram adquiridas nas várias viagens do casal e de amigos que se lembraram da paixão do casal e que lhes traziam várias peças. Para além dos presépios da colecção

particular podem ainda ser apreciados presépios do OM’ ATELIER (Isabel Lacerda) e os presépios em lã e em secos da natureza, duas variantes da CRIATIVA (Teresa Filipe e Ludovina Filipe). Estão também em exposição obras de arte em madeira do artesão José Costa. O horário da exposição é durante os dias úteis das 14h00 às 19h00 e aos fins-de-semana das 11h00 às 20h00.


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O MIRANTE | 17 Dezembro 2009

A presidente da câmara que é apaixonada por presépios Maria da Luz Rosinha prefere as figuras da natividade ao tradicional pinheiro É a presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que prepara a ceia de natal para a família. Bacalhau à “Maria da Luz Rosinha”. As azevias e os sonhos ficam para quem tem mais tempo.

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Ana Santiago

pinheiro de Natal nunca foi tradição na casa de Maria da Luz Rosinha, mas a presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira confessa-se uma apaixonada por presépios. Este ano já tem três em sua casa. “Um dos presépios montei-o com o meu neto que partiu logo a figura de Nossa Senhora”, comenta com humor. O presépio da casa dos pais era feito com musgo natural que Maria da Luz Rosinha apanhava na zona de Santa Sofia. Eram figuras muito rústicas e pequenas que compunham o presépio. Os seus presépios são agora mais sofisticados e limitam-se às figuras principais. A figura do Pai Natal também nunca fez parte do seu imaginário infantil. “Quando era pequena achava que as prendas vinham pela chaminé. Não sabia quem as trazia, mas a figura do Pai Natal nunca esteve associada. Era mais o menino Jesus”. Maria da Luz Rosinha tinha que esperar até à meianoite para ver a prenda. O presente era apenas um, mas a felicidade não era menor por isso. Recorda o Natal mais longínquo da sua memória em Vila Franca de Xira. A mãe a preparar as filhós. Maria da Luz Rosinha à espera que a meia-noite batesse para ver se caía qualquer coisa no sapatinho que tinha posto na chaminé. E caiu: “O que tive foi uma panelinha de chapa de alumínio para fazer as minhas brincadeiras de cozinha”. Ao contrário da maioria não guarda

Bacalhau à Maria da Luz Rosinha É presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, mas nem por isso abdica de preparar a ceia de Natal para a família de doze elementos que reúne todos os anos à volta da mesa. O prato eleito não é o bacalhau cozido com

as compras para o fim. Compra lembranças durante o ano inteiro. “Sou capaz de comprar presentes de Natal em Janeiro. Às vezes nas viagens de trabalho. Há sempre um momento em que vejo qualquer coisa que penso que alguém gostaria de receber. No dia a dia não tenho tempo”. Para o neto, de 20 meses, quer comprar muitos presentes. “Não interessa muito o quê. Interessa que tenha muito para desembrulhar”. Cozinhar é uma paixão por isso não abdica de preparar a ceia de Natal (ver caixa). Por questões de tempo os doces são entregues a outras pessoas da família. Cada um faz aquilo que sabe fazer melhor. Comprar doces feitos também não é política lá em casa. “Perde um bocadinho a graça. Fazer a comida também faz parte da festa”. Fatias douradas, bolo-rei, sonhos e azevias têm lugar cativo. “Tinha uma tia que fazia azevias maravilhosamente. Pelava o grão para passar e fazer o doce”. Durante anos a fio confeccionou o pudim de pão inglês. “Um dia vou voltar a fazer”, promete. O Natal é uma época em que é invadida por alguma tristeza. Se neste período as pessoas estão muito disponíveis para ajudar o mesmo não acontece no resto do ano. “Há muita gente que não tem nada. Tanto faz ser Natal como não ser. Devíamos alongar este espírito ao ano inteiro”. Tem por hábito distribuir bolo-rei a cada um dos trabalhadores do município que se ocupam da recolha do lixo. Há 12 anos que o faz. “Normalmente são trabalhadores ignorados que se esforçam muito para que tenhamos as coisas em ordem e a quem as pessoas não dão muita importância, o que é mau”. Fora do contexto do orçamento municipal também são distribuídos cabazes de Natal. Para isso Rosinha conta com pessoas amigas com boa situação

económica. Os apoios alimentares que a câmara atribui todos os meses também chegam mais cedo, a tempo do Natal. A título pessoal Maria da Luz Rosinha colabora com algumas instituições do concelho. Este ano vai voltar a fazer, mas com discrição. “Esta minha condição de presidente de câmara permiteme receber imensas coisas, mas também ajudar muitas pessoas”

couves, mas uma receita especial a que se rendeu nos últimos anos: “bacalhau à Maria da Luz Rosinha” que deixa a receita sabendo de antemão que “quem experimentar vai ficar contente”. O bacalhau é assado e desfiado. Reserva-se num sítio onde se mantenha quente. Por esta altura já se cozeram as batatas aos quadradinhos pequeninos, tal como a cabeça de nabo, mas tudo em separado. O feijão branco é pré cozido

mas deve aquecer-se. A broa partida prepara-se também aos quadradinhos. Tal como os grelos. Tudo isto se põe em camadas numa travessa, rega-se com bom azeite – português - e leva-se ao forno. Os gostos penetram uns nos outros e sai uma excelente ceia de natal, garante. “O prato não tem sempre um nome específico. Na minha família cada um lhe atribui um nome, mas está sempre associado a mim”.

COZINHA. Preparar a ceia de Natal é uma paixão de Maria da Luz Rosinha

O presépio da casa dos pais era feito com musgo natural que Maria da Luz Rosinha apanhava na zona de Santa Sofia. Eram figuras muito rústicas e pequenas que compunham o presépio. Os seus presépios são agora mais sofisticados e limitam-se às figuras principais

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Quando recebeu as primeiras botas de futebol dormiu com elas na cama Mário Pereira, presidente da Câmara de Alpiarça não se entusiasma com o Natal

CURIOSIDADE. Mário Pereira confessa que em criança descobriu o local onde a família guardava as prendas e tirava a fita-cola para ver o que lhe iam oferecer

Vive o Natal porque não há meio de lhe escapar. Há a família, principalmente os filhos e os amigos. E essas razões sobrepõem-se às convicções.

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António Palmeiro

presente de Natal que mais marcou na infância Mário Pereira, o novo presidente da Câmara de Alpiarça, eleito pela CDU, foi umas botas de futebol com pitons. Porque naquela altura eram poucos os que podiam dar-se ao luxo de as ter. O militante comunista, que na altura devia ter uns 10 anos de idade, lembra-se que estava tão feliz com a oferta que nessa noite dormiu com o presente ao lado. “Era uma coisa que pedia há muito tempo. Hoje parece uma coisa insignificante, mas naqueles tempos era uma grande prenda”. O autarca considera que era uma criança privilegiada porque recebia sempre muitos presentes. Em parte porque havia a tradição na escola José Relvas, onde a mãe era funcionária, de

cada trabalhadora oferecer uma prenda aos filhos das colegas. Mário Pereira não acredita em Deus e por isso as tradições religiosas passam-lhe ao lado. Nunca foi a uma missa do galo. Mas ressalva que isso não tem a ver com a ideologia partidária, porque até há militantes comunistas que são católicos. Em casa costuma ter o pinheiro de Natal, mais pela mulher e pelos filhos, do que propriamente por gostar. E arranja sempre uma desculpa para não participar na tarefa de enfeitar a árvore. Dos dias de Natal da sua infância recorda-se também dos tradicionais bailes que existiam no Grupo Desportivo “Os Águias” e na Sociedade Filarmónica, que hoje já não se realizam. Era um

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participante assíduo, “mais para ver o ambiente, conversar e conviver com os amigos”, porque para dançarino não tinha e continua a não ter grande jeito. Quando já era mais velho a ida à discoteca deu lugar aos bailes. O dia mais importante era o 25 de Dezembro, quando os familiares e os amigos mais

próximos faziam questão de passar pela sua casa. Deixou de acreditar no Pai Natal não se lembra com que idade, mas foi muito cedo, porque descobriu onde se guardavam as prendas. E nos anos seguintes, às escondidas, tirava a fita-cola dos embrulhos com todo o cuidado para ver o que lhe iam oferecer. Os seus filhos, uma rapariga de oito anos e um rapaz de sete anos já começam a pôr em causa a existência dessa figura imaginária. “Agora dou por mim a defender que o Pai Natal existe mesmo, mas acho que já não os convenço”, sublinha. Nos últimos anos tem passado o Natal em casa dos sogros, em Ponte de Lima. Come o bacalhau com couves na consoada, mais por gostar deste prato do que propriamente pela tradição. Até porque enquanto viveu com a mãe nunca houve essa tradição. Confessa que, talvez por ser filho único, é um bocado egoísta. Gosta mais de receber presentes do que de dar. “Fui muito mal habituado!”, confessa. Apesar disso participa na escolha das prendas e tenta sempre acompanhar a esposa nas compras de Natal. Apesar de os afazeres lhe deixarem pouco tempo, o autarca não perde o encontro nesta época com um grupo de amigos. Em cada ano a festa realiza-se em casa de um. Nesse dia há sempre alguém que se veste de Pai Natal, tarefa que até agora nunca lhe coube, talvez por os amigos saberem que não seria do seu agrado

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Recolha de alimentos para a Obra das Mães em Alhandra Até ao dia 21 de Dezembro está a decorrer uma campanha solidária para dar um Natal mais aconchegado às famílias que são ajudadas pela Obra das Mães de Alhandra, no concelho de Vila Franca de Xira. Pode contribuir com géneros alimentícios, como leite, arroz, massas, bolachas, enlatados ou cereais, entre outros alimentos secos, assim como roupas de criança para quem mais precisa. Os donativos são deixados num barco,

uma estrutura que foi instalada no centro do Mercado Retalhista de Alhandra para receber as dádivas que se destinam aos mais carenciados. O resultado da recolha reverte a favor da Obra das Mães que distribuirá os donativos pelas famílias mais necessitadas. “Um Gesto Faz a Diferença” é o mote da campanha solidária. A iniciativa é da Comissão Social de Freguesias de Alhandra, S. João dos Montes, e do Sobralinho.

Junta do Cartaxo distribui cabazes de Natal a famílias carenciadas A Junta de Freguesia do Cartaxo vai distribuir 82 cabazes de Natal pelas famílias mais carenciadas da sua área geográfica. A acção, que costuma ser realizada anualmente durante a quadra natalícia, começou segunda-feira e estendeu-se até esta quarta-feira. São 82 cabazes com bens alimentares, todos de primeira necessidade. Um bacalhau, dois quilos de farinha, dois de açúcar, seis litros de leite, um litro de azeite e um de óleo, três quilos de arroz, três quilos de esparguete, sumo, café,

grão, feijão, miniaturas de bolos secos e uma garrafa de vinho do Porto. Para o presidente da Junta do Cartaxo, Manuel Luís Salgueiro, a palavra solidariedade ainda conta e dela se deve dar ênfase na época festiva que costuma aproximar as pessoas. “Esta acção é uma forma de minimizar as dificuldades de muitas famílias e de mostrar solidariedade nesta época com um gesto simbólico”, disse o autarca a O MIRANTE.


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“A alegria do Natal é a alegria das realidades simples e essenciais da vida” Bispo de Santarém usa imagem do presépio para apelar à defesa da família

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a sua mensagem de Natal, intitulada “A Alegria que Permanece”, o Bispo da Diocese de Santarém, D. Manuel Pelino Domingues, deseja que se faça Natal todos os dias. “O Natal anuncia-se próximo com iluminações e enfeites das ruas, cânticos, compras, prendas, gestos de solidariedade, convívio familiar. As pessoas e o ambiente parecem mais humanos e fraternos, a vida mostra mais encanto. Respira-se uma alegria interior, serena, contagiante. Num mundo frio e egoísta bem precisamos da mensagem do Natal. Por isso, muitas pessoas manifestam a vontade de que o Natal permaneça e não seja apenas uma data passageira”, escreve. Utilizando o simbolismo do presépio, apela à defesa da família e à partilha do afecto. “Vamos aprender na fonte a viver o Natal. Aproximemo-nos com renovada admiração do presépio para

colher a mensagem desta representação do acontecimento histórico: No centro, uma criança estende-nos os braços e sorri. Aprendamos a estender os braços e a sorrir, vencendo a desconfiança que nos fecha aos outros. A alegria do menino aparece associada ao acolhimento e dedicação dos pais. Dediquemo-nos e defendamos também a união estável da família, alicerçada no amor e santificada pelo sacramento do matrimónio, como berço e ambiente para o desenvolvimento harmonioso dos filhos. Ao presépio acorrem variadas personagens em atitude de louvor e de oferta de dons. Saibamos partilhar o nosso afecto, a nossa atenção e os nossos bens com os que nos rodeiam, sobretudo com os mais carentes.” A finalizar D. Manuel Pelino Domingues aponta a alegria da quadra como um antídoto contra os males do mundo actual. “A alegria do Natal é, portanto,

NATAL. D. Manuel Pelino Domingues afirma que alegria desta quadra é como um antídoto contra os males do mundo a alegria das realidades simples e essenciais da vida que resistem ao desgaste do tempo e unem as gerações: da simplicidade que denuncia uma cultura de fachada; da fraternidade que se traduz no acolhimento e no serviço e vence o individualismo; da paz que contraria a agressividade; do dom que renuncia ao egoísmo”

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Campanha de solidariedade recolhe alimentos e brinquedos em Santarém A Câmara Municipal de Santarém tem em curso nesta quadra natalícia uma campanha de recolha de alimentos e de brinquedos junto ao edifício dos Paços do Concelho, à semelhança do que aconteceu em 2008. A acção prolonga-se até dia 20 deste mês. Os alimentos recolhidos vão ser distribuídos pelo Banco Alimentar Contra a Fome de Santarém, enquanto os brinquedos serão entregues a crianças do concelho através da Casa

Solidária das Artes e Ofícios. Tal como no ano passado, o presidente da Câmara de Santarém, Francisco Moita Flores (PSD), lança o desafio para que “todos os presentes e ofertas que julguem por bem entregar à Câmara Municipal de Santarém sejam convertidos no mesmo valor em produtos adequados para serem recebidos pelo Banco Alimentar contra a Fome”.

Mostra de Presépios de Natal em Santarém O edifício da antiga Escola Prática de Cavalaria de Santarém recebe a mostra de Presépios de Natal das freguesias do concelho de Santarém. A exposição, que vai estar patente ao público até 6 de Janeiro de 2010, é organizada pelo projecto Santarém Solidário do muni-

“Os sorrisos do Menino Jesus” em exposição em Fátima Até 31 de Janeiro, o Museu de Arte Sacra e Etnologia, em Fátima, apresenta a exposição temporária “Os sorrisos do Menino Jesus”. “Composta por duas dezenas de esculturas de Meninos Jesus dos séculos XVII e XVIII, pretende-se chamar a atenção para os seus diferentes sorrisos, figurando a alegria com que encarou a missão que Lhe foi confiada”, informa o museu. A mostra pode ser visitada de terça-feira a domingo das 10h00 às 17h00.

cípio scalabitano. Os trabalhos expostos são da autoria das freguesias, associações e paróquias do concelho.

Recolha de agasalhos para associação “Os Companheiros da Noite” Tem cobertores, agasalhos, luvas, gorros, chachecóis e casacos (novos ou usados, em bom estado) que já não usa? Não deite fora! Ofereça a quem mais necessita. Este é o mote da campanha de Natal que o Centro Comercial Serra Nova está a desenvolver em Vila Franca de Xira. A entrega pode ser feita na banca da associação de apoio aos sem-abrigo do concelho de Vila Franca de Xira “Os Companheiros da Noite”, junto à entrada principal do Centro Comercial Serra Nova, que distribuirá depois por quem mais necessita. Além da roupa podem ser deixados também bens alimentares, como conservas, pacotes de sumo individuais e pacotes de leite individuais.


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A pista de automóveis que fez brilhar os olhos do menino Paulo Caldas O presidente da Câmara do Cartaxo aproveita o Natal para estar com a família A figura do Pai Natal fez parte do imaginário infantil do presidente da Câmara do Cartaxo, Paulo Caldas que aos cinco anos recebeu a mais mágica de todas as prendas: uma pista de automóveis.

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Ana Santiago

inha cinco anos. O Pai Natal deixou perto da chaminé uma pista de automóveis que fez brilhar os olhos do então menino Paulo Caldas, hoje presidente da Câmara Municipal do Cartaxo. O dia em que desembrulhou essa prenda mágica continua bem marcado na sua memória. “Foi um presente que partilhei depois com o meu irmão gémeo, Alexandre, e com o Quim, um grande amigo”, recorda. Paulo Caldas nasceu em Moçambique há 37 anos, mas as primeiras memórias do Natal são já de Vila Chã de Ourique, uma freguesia do concelho do Cartaxo, para onde foi viver com a família aos três anos de idade. As recordações são de um Natal em família envolto em músicas da época e na expectativa da chegada do senhor de barbas brancas. Recorda com carinho o tempo em que o avô materno ia com os dois gémeos – Paulo e Alexandre Caldas - comprar o famoso queijo da ilha à loja da D. Cristina, em Vila Chã de Ourique, para ter à mesa na ceia de Natal. Paulo Caldas diz que teve o privilégio de ter várias casas de Natal onde se vivia a tradição. Entre Vila Chã de Ourique e Cartaxo. Apesar da separação dos pais sempre conseguiu viver o espírito natalício de forma partilhada. “Tenho uma mãe espectacular que sempre geriu tudo muito bem”, explica. “Mas também tive a sorte de frequentar um

jardim-de-infância onde houve sempre muito carinho”. Hoje o Natal é sinónimo de festa de família com visita à aldeia da Maçussa, concelho de Azambuja, onde vivem os familiares da esposa, com passagem em casa do pai e da mãe e dos familiares mais próximos. Valoriza sobretudo o encontro das gerações. “O Natal é com a família. A passagem de ano com os amigos”. Mesmo em férias a vida é atribulada e é normalmente nesta época que consegue ter mais tempo para estar com a família. Não perde a cabeça por doces, mas por esta altura os excessos são incontornáveis. O arroz doce é obrigatório na mesa. “Costumo abusar no rolo, aquele que é feito em Vila Chã de Ourique pelas senhoras da terra”, confessa. As filhós e coscorões também se juntam à festa, entre outros doces típicos da quadra. O bacalhau com couves, como manda a boa tradição portuguesa, está presente. Tal como o peru, leitão e outras carnes. “Nesta altura do ano eu e a minha mulher aproveitamos para comprar presunto”. A preparação dos pratos fica por conta da família. Paulo Caldas é apenas provador, mas confessa que não é esquisito. “Gosto de tudo. Não rejeito qualquer tipo de comida”. A tradição de esconder os presentes de Natal mantém-se. Não se considera materialista, mas não abdica de trocar algumas lembranças, que muitas vezes são artigos para a casa. Na altura do Natal faz questão de almoçar com os 480 colaboradores da autarquia e com os filhos até aos 12 anos. Os bombeiros e as forças de segurança (PSP e GNR) também são convidados para um almoço natalício. “Já o fazemos há oito anos. É uma forma de agradecer a contribuição de pessoas que por vezes não podem estar junto das famílias nesta altura do ano”, explica. Também

O ano em que o Natal chegou mais cedo Em 1999 o Natal chegou mais cedo à casa da família Caldas, no Cartaxo. A pequena Sofia nasceu no dia 24 de Novembro e trouxe alegria um mês mais cedo que o costume. Paulo Caldas já estava casado e vivia num apartamento do centro da cidade. A menina dos olhos de Paulo e Catarina Caldas tem hoje 10 anos. “A família uniuse em torno da bebé que tinha apenas um mês”, diz com orgulho o pai, presidente da Câmara Municipal do Cartaxo. Em casa da família a árvore de Natal

não é natural, como nos tempos de infância dos pais de Sofia, mas artificial até porque a menina é a primeira a lembrar que outros valores mais ecológicos se levantam, como a necessidade de evitar a destruição das árvores. “Nestas matérias sou um aprendiz por completo. A minha filha está a anos-luz em termos de sensibilidade ambiental”. O pinheiro, decorado com a ajuda da filha, fica a enfeitar a casa até ao dia de reis, em Janeiro, como manda a tradição.

LEMBRANÇA. Paulo Caldas partilhou o seu presente favorito com o seu irmão gémeo o deveríamos fazer junto das escolas e com os profissionais da área de saúde, admite. Paulo Caldas já vestiu várias vezes a pele do Pai Natal. Para a filha e para o sobrinho. Até aos oito anos acreditou

foto O MIRANTE

nessa figura que concretiza os sonhos. A filha ainda mantém essa magia e por isso o presidente da câmara baixa a voz, ao telefone, para não desfazer o encantamento. “Está aqui uma menina que ainda acredita no Pai Natal”

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“O desafio para todos nesta época de abundância é partilhar com quem nada tem” Paulo Fonseca receia que o exagero das prendas transmita às crianças uma ideia errada da vida Paulo Fonseca, presidente da Câmara Municipal de Ourém, vive o Natal como uma oportunidade para, através da conversa amena à mesa, consolidar a ligação às pessoas que lhe são queridas.

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Cláudia Gameiro

os tempos de criança vibrava com o Natal. A prenda, apenas uma, vinha envolta em grande alegria e era-lhe conferido “um valor imenso”. Paulo Fonseca lembra que colocava o sapatinho debaixo da chaminé na noite de consoada e ia dormir com a esperança que o Pai Natal não se esquecesse dele. Hoje, comenta, os filhos já sabem com 15 dias de antecedência as prendas que, no plural, lhes cabem em sorte e estas não possuem mais aquele valor especial. Ao conversar sobre o significado actual do Natal e as suas tradições, o autarca sublinha constantemente os perigos da “super abundância”. Tudo isto, afirma, dá aos nossos filhos “uma ideia errada da vida”. Teria os seus cinco ou seis anos quando deixou de acreditar no Pai Natal. Decepção? “Não muita”, diz. No entanto, não deixa de salientar que “a ilusão do sonho é boa uma vez que dá alento à vida”. A realidade, aliás, “é filha do sonho” e “quem não sonha não está bem vivo. Está mais ou menos amorfo”. Não planeia a festa com antecedência. Vive “o dia no momento”, naquilo a que chama o “planeamento de circunstância”. “Carpe Diem” (Aproveita o dia), diz com entusiasmo. Até lá, vai cantarolando as músicas de Natal, sozinho ou com os filhos no caminho para a escola. E não se inibe de cantar no momento da entrevista, umas breves estrofes de alegria e paz numa entoação afinada. A ideia de esperança

ILUSÃO. Em criança, Paulo Fonseca colocava o sapatinho na chaminé e ia deitar-se na esperança que o Pai Natal não se esquecesse dele associada ao Natal só a sente na passagem de ano. “Nessa altura é que sinto aquela expectativa de “começar tudo de novo. Uma nova oportunidade de fazer melhor”. A árvore e o presépio são tradições que cumpre, considera-as componentes essenciais de um “conjunto de apetrechos para animar a criançada”. “Por um lado, há sempre uma imagem daquela criança que nasceu em grande humildade. Ao mesmo tempo, aquele colorido da época funciona actualmente como o sino que anuncia a chegada das prendas”. Paulo Fonseca destaca que seria “um desafio partilhar a mesa farta com quem não tem que comer”. E o que gosta de comer no Natal? “Um bom cabrito com grelos feito pela minha mãe que é a melhor cozinheira do mundo”, acompanhado por um bom tinto, responde prontamente. O dia de Natal, aliás, é passado em torno da mesa, numa “grande almoçarada em família”, a conversar até a noite chegar. No mundo actual, reflecte, conversa-se pouco, “há uma tentação de nos refugiarmos cá dentro. O diálogo ajuda-nos a consolidar a ligação às pessoas que estão à nossa volta”. Não vai à missa do galo. Paulo Fonseca hesita quando lhe perguntam o que gostaria de oferecer a si próprio. “Não sei, ainda não pensei nisso”, diz a sorrir. Depois pede algo

completamente irrealista. “Gostaria de ver resolvido neste Natal o problema financeiro da Câmara de Ourém”. Para os munícipes que vivem tempos difíceis deixa uma mensagem: “Outros tempos

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melhores vão chegar”. Sobre o que o poderia fazer chorar nesta época não hesita. “A ideia de uma criança ou de um idoso a serem maltratados ou a passarem fome”

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