Especial 25 Abril 2014

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“Acredito que vamos retomar o Portugal solidário de Abril”

40 ANOS 25 DE ABRIL

Diamantino Duarte Administrador Delegado da Resitejo - Gestão e Tratamento dos Lixos do Médio Tejo Falar do 25 de Abril de 1974 é falar de algo que para a minha geração se tornou um marco nas nossas vidas. Para mim em especial é recordar um momento único que tive a felicidade de poder viver por dentro, minuto a minuto desde as 7 da manhã desse inesquecível dia. Era como militar da Armada e estava de serviço do centro de comunicações do Grupo Número Dois das Escolas da Armada no Alfeite. Quando tive a felicidade de ouvir as primeiras comunicações dos meus camaradas sobre o movimento que já decorria no Terreiro do Paço de imediato percebi que aquilo que para nós, militares com algum conhecimento da realidade e eu felizmente pude tê-la, há muito pressentíamos, estava finalmente a acontecer. Esse foi o dia que mudou o curso da história não só em Portugal, mas que também veio a ter importância noutros países como a Espanha e a Grécia. Infelizmente para Portugal os tempos que se seguiram não foram tempos fáceis. Muita gente aproveitou essa janela para ajustar contas com o passado. As expropriações que então ocorreram são disso um mau exemplo, assim como outros factos que em nada se justificavam. Relembro só algumas: a célebre manifestação silenciosa, as agressões físicas registadas na reforma agrária, as perseguições pessoais, etc. Felizmente que muita gente da sociedade civil e muitos dos militares de Abril nunca se deixaram embriagar por esta onda e conseguiram ter a sensatez necessária para que Abril se cumprisse até hoje. É verdade que o Portugal de hoje já muito pouco tem a ver com o meu Portugal de Abril, pois esse Portugal era e foi durante alguns anos um Portugal fraterno, onde o princípio da solidariedade social era a sua principal marca, onde foi possível construir um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde e se criaram as condições para que ricos e pobres tivessem o mesmo direito à sua educação. Onde foi possível criar um poder local que sempre soube estar ao serviço das suas populações, criando de uma forma, que hoje podemos considerar excepcional, as condições básicas para um melhor bem-estar das sua populações. Para ilustrar esse facto recordo só duas medidas levadas a efeito por este poder local: o fornecimento da energia eléctrica e o abastecimento de água que em 1974 ainda não eram um bem ao alcance de todos os portugueses.

“Hoje temos um Portugal onde a ganância e o oportunismo têm a primazia e onde impera o ‘chico espertismo’ e não a competência”

O MIRANTE 17/ABR/14

“Continuo a ter a esperança que esta crise nos vai obrigar, a todos, a repensar a nossa sociedade e que esse repensar nos traga o conhecimento, a lucidez e a humildade para retomar o Portugal de Abril” Hoje temos um Portugal onde impera o “eu” e onde pouco importa o “vizinho”, onde a ganância e o oportunismo tem a primazia, onde impera o “chico espertismo” e não a competência, onde os que têm a responsabilidade de gerir os destinos do País não são os mais competentes mas são aqueles que fazendo da vida política a sua profissão vão ocupando os lugares de acordo com a sua filiação partidária, onde temos uma justiça cada vez mais desigual. Todos os dias somos confrontados com notícias de uma justiça para pobres e uma justiça para ricos. Este não é o Portugal que Salgueiro Maia e Melo Antunes sonharam quando, conjuntamente com muitos homens bons, fizeram Abril. Apesar do momento difícil que vivemos continuo a ter a esperança que esta crise nos vai obrigar, a todos, a repensar a nossa sociedade e que esse repensar nos traga o conhecimento, a lucidez e a humildade para retomar o Portugal de Abril, o Portugal solidário, o Portugal onde o problema do meu semelhante também é o meu, o Portugal onde não exista desemprego, não exista a pobreza, onde não existam crianças que pelo facto dos seus pais não terem condições financeiras, ficam impedidas de aceder ao conhecimento, à educação e à saúde, onde os mais velhos, depois de uma longa vida dura de trabalho, possam gozar merecidamente a sua reforma e onde possamos continuar a VIVER ABRIL e celebrar aqueles que o proporcionaram.

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