O Jornalzão, edição 1233

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O JORNALZÃO - ED. 1.233 - 11/01/2020

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IMPRENSA ANTIGA

MÉDICO DE FAMÍLIA

Novo nome do município

Na falta de hospital, doutor Primo internava pacientes na pensão

Santa Rosa de Viterbo (3) - Regozijando-se com a nova denominação do nosso município, aliás seu antigo nome de Santa Rosa, acrescido de Santa Rosa de Viterbo, a comissão pré-festejos da denominação fez realizar, a 1º de janeiro do ano corrente, grandes manifestações de apreço: às 4 hs, alvorada com a participação da Rádio Propaganda (S.R. - 3), e salva de tiros de fogos artificiais; 9 hs, na igreja Matriz, missa de confraternização à padroeira de Santa Rosa de Viterbo que teve como paraninfo o fr. Manuel Escalada; às 10 hs, no salão nobre da Prefeitura Municipal realizouse expressiva reunião de caráter solene, à qual compareceu um grande número de pessoas, autoridades civis, militares e religiosas. Após a execução do Hino Nacional pela corporação "Santa Cecília", da cidade de Porto Ferreira, o sr. Antônio Guimarães, prefeito municipal, falando como representante do governador do Estado, declarou, oficialmente, a instalação do nome de Santa Rosa de Viterbo, concretizando-se assim, o pensamento unânime do seu povo que desde há muito desejou, reciprocamente, que tão sublimado nome fosse de per si uma realidade para a nossa cidade. O chefe do executivo municipal recebeu dos seus administrados, efusivos aplausos.

Reúnem-se os vereadores A fim de legislar poderes competentes da nova denominação ao Executivo local, reuniram-se na sala da Câmara os vereadores José Dilermando Ribeiro, presidente; Moacyr Cintra, vice-presidente; Francisco de Paula Nogueira; 1º secretário; José Massaro, 2º secretário; Paschoal Cagliari, Ângelo Mônici, Vergínio Melloni, Antônio Sério, A. Franzói do Nascimento, João Norberto Villas Boas, Luiz Nogueira, Afonso Sério e Gilberto Chitero. Foi, depois, pelos secretário da Câmara, lavrada a respectiva ata. Procedida a sua leitura, foi depois assinada por todos os presentes. Finda a cerimônia, foram promovidos nos salões dos Grêmios Operário e Santo Antônio, animados bailes. (Jornal de Notícias, 12/01/1949)

Se ainda estivesse vivo, o médico Primo Cunalli completaria 121 anos no primeiro dia deste ano. Ele nasceu em 1899, e chegou a Santa Rosa com a revolução de 30, para ser o "Doutor Primo". Naquele tempo, nem o hospital Santo André, da Fazenda Amália, existia, e, cuidar dos doentes locais, exigia muita criatividade. - Ele internava pacientes na pensão de Tereza Cagliari, e era o único que dava injeção na veia assegura Moacyr José Carmello, 90 anos. Ferreiro e marceneiro profissional, Moacyr, quando teve os dedos da mão esquerda mutilados por máquina de sua oficina, em 1958, foi encaminhado para o consultório do médico, na praça Guido Maestrello. No atendimento, Fernando, filho dele - radiologista ainda na ativa em Ribeirão Preto -, foi ajudar o pai, mas não suportou ver tanto sangue. Dona Zenaide teve que continuar o assessoramento ao marido naquela emergência. Recusou participação da junta de 30 - A casa do doutor Primo era assombrada, e seu motorista era Orlando Pedreschi, asseguram algumas testemunhas. No dia 26 de outubro de 1930 ele recusou o privilégio de participar da 'junta governativa', aclamada pelos presentes ao prédio da Câmara (que ocupava o terreno onde hoje está o Fórum), que

tomou nas mãos o destino do município, com Thomaz Eugênio de Abreu escolhido 'governador provisório' (prefeito). Com a redemocratização, em 1947, Primo Cunalli elegeu-se vereador, mas na quarta sessão ordinária, em fevereiro de 1948, exonerou-se do cargo, por 'incompatibilidade de funções' (era médico do Posto de Puericultura). Um pouco antes prestou - na companhia do colega Ulisses Von Otzingen - serviços à Sociedade Italiana de Benemerência, fundada, em 1935, por italianos dissidentes do Grêmio Operário. A SIB foi o primeiro convênio médico da cidade, mas durou pouco. A última notícia dela é de 1943. Era chegado a um garnisé - Na eleição de 1955, doutor Primo foi visto fazendo comício de apoio a Cássio de Assis Cunha na barraca da quermesse em Nhumirim. Cássio, apesar do apoio da Fazenda Amália, foi derrotado por João Baptista Garcia (Zizico) que contou com o respaldo de Jânio Quadros, na figura de seus simpatizantes locais. Natural de Mococa, o médico chegou também a ser proprietário de terras em Santa Rosa. - A fazenda que ele tinha aqui, vendeu pro Waldemar Sobreira. Vendeu aqui pra comprar em Mococa, e levava gente daqui pra cortar cana lá - recorda Sebastião Bazon, 82 anos, que destaca outra

O médico entre o farmacêutico Iracy Leme e o padre Celestino, em meados dos anos 40 paixão do médico - Ele comprava tudo que é garnisé que encontrava. Ele não deu conta do cavaco de esmeril Com 93 anos de idade, Nelson Menta ainda se lembrava do acidente que o levou ao consultório de Primo Cunalli. Um 'cavaco de esmeril' entrou em seu olho quando amolava uma ferramenta, nos idos de 1952/53. - Deu aquela faísca, e garrou no meu zóio. O bicho sai fervendo, garra na menina do zóio e não sai de jeito nenhum - contou o motorista aposentado - Foi uma semana de dor, olho com tampão! Dr. Primo tentou com agulha, a mulher dele segurando o farolete, mas não conseguiu. Na época Nelson Menta tinha 'carro de praça' (hoje, taxi), aproveitou viagem em que levou um passageiro a Casa Branca, e foi ao hospital daque-

la cidade. - Pingaram um remédio, esperaram 10 minutos, pinça, e pronto - descreveu, sobre o alívio que sentiu. Carpideiras locais foram ao enterro em Mococa - O sepultamento do doutor Primo, em Mococa, tornou-se uma epopeia para os santa-rosenses que para lá viajaram. Ele faleceu no dia 16 de fevereiro de 1967, um dia de muita cguva. Os veículos foram encravando na estrada de terra, os motoristas e passageiros se emporcalhando no barro. Muitos foram vistos lavando os pés na torneira de um posto de combustíveis, na chagada a Mococa. Um grupo de mulheres santa-rosenses viajou para prantear o admirado profissional que cuidou da saúde da cidade inteira por mais de 30 anos. Elas choraram ao lado do seu caixão como se fossem carpideiras.


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